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¹Estudante do Instituto Esperança de Ensino Superior/IESPES. Curso de Psicologia – E-mail:
fctambara@gmail.com.
Estudante do Instituto Esperança de Ensino Superior/IESPES. Curso de Psicologia – E-mail:
thainananjos@outlook.com.
2Mestra em Teoria e Pesquisa do Comportamento - UFPA, Docente do Departamento de Psicologia do Instituto
Esperança de Ensino Superior/IESPES, Pará – Brasil. E-mail: liviacristinne@gmail.com.
FUNDAÇÃO ESPERANÇA
INSTITUTO ESPERANÇA DE ENSINO SUPERIOR – IESPES
Portaria Ministerial nº 476 de 15/03/01 – D.O.U. de 20.03.01
CURSO DE PSICOLOGIA
Fernanda Camargo Silva¹
Thainan Oliveira dos Anjos¹
Lívia Arrelias²
CASO CLÍNICO – TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO (TOC)
1. PESSOA
Nome: Carla
Idade: 29 anos
Escolaridade: Ensino Superior
Identidade de Gênero: Mulher
Identidade étnico-Racial: Negra
Situação econômica e funcional: Tem uma situação financeira razoavelmente boa, com
condições de viver bem com sua família. É administradora em uma empresa de produtos
agrícolas.
Bairro: Aldeia
Município: Santarém
Zona: Urbana
Com quem reside: Marido e Sogra
Orientação sexual (se for o caso): Heterossexual
2. ASPECTOS SOCIAIS
Histórico familiar: Vem de uma família de classe média baixa, os pais eram brasileiros. O pai
era militar e muito exigente e a mãe trabalhava o dia todo como secretária em uma
concessionária. É filha única e na maior parte do tempo ficava sozinha ou com uma empregada.
Tinha uma rotina bem controlada quando o pai estava em casa, devia ter horários para se
¹Estudante do Instituto Esperança de Ensino Superior/IESPES. Curso de Psicologia – E-mail:
fctambara@gmail.com.
Estudante do Instituto Esperança de Ensino Superior/IESPES. Curso de Psicologia – E-mail:
thainananjos@outlook.com.
2Mestra em Teoria e Pesquisa do Comportamento - UFPA, Docente do Departamento de Psicologia do Instituto
Esperança de Ensino Superior/IESPES, Pará – Brasil. E-mail: liviacristinne@gmail.com.
alimentar e ir dormir, não podia estar fora de casa depois das 17:00 horas e nem receber visitas.
Sua mãe era carinhosa, mas muito ocupada.
Carla era uma aluna muito aplicada, e gostava muito de ler. Sua vida social na infância não era
muito movimentada. Tinha poucos amigos, e por várias vezes foi vítima de piadas por causa da
cor de sua pele, em sua trajetória. Os pais de Carla nunca souberam ou desconfiaram do
ocorrido, a escola tinha conhecimento mas optou por ignorar as situações de bullying. Embora
nunca diagnosticado, a mãe de Carla apresentava sinais de ansiedade generalizada e Transtorno
obsessivo-compulsivo (TOC), identificados por um clínico geral, que o encaminhou a um
psiquiatra, porém ela nunca procurou esse profissional. Lidava com os sinais da forma que
podia, sem nenhum acompanhamento médico ou psicológico.
Quando se formou Carla mudou de cidade em busca de emprego, passou a morar
sozinha e seu círculo de amizade ainda era relativamente pequeno. No mesmo ano, conheceu
João, um contator que trabalha em tempo integral no escritório de contabilidade, qual é sócio.
Namoraram por dois anos e se casaram. Relata que seu casamento como qualquer outro, não é
perfeito, mas que o marido é seu ponto de apoio primário. Pouco antes de completar 30 anos
Carla descobriu que estava gravida de seu primogênito. Sua gravidez foi tranquila, porém
quando sua filha nasceu teve problemas respiratórios e ficou na UTI neonatal por alguns dias,
onde acabou contraindo uma infecção bacteriana generalizada vindo a óbito 13 dias depois do
seu nascimento.
Após a morte de sua filha, Carla entrou em processo de luto e começou a apresentar
alguns sinais de TOC, como pensamentos repetitivos e persistentes de que tudo estava sujo e
contaminado, comportamentos obsessivos de lavar as mãos a toda hora, andar sempre de luvas
e com um álcool em gel na bolsa, evitava contato físico com outras pessoas por medo de adquirir
alguma bactéria ou fungo. Essas obsessões e compulsões estavam tomando bastante tempo do
seu dia a dia, começando a causar um sofrimento clinicamente significativo em sua vida pessoal
e profissional.
Rede social de apoio (heterossuporte): Como rede de apoio, afirma que tem o marido e a
sogra. No entanto, seu marido trabalha bastante, chega em casa só a noite geralmente frustrado
e com pouca paciência para conversar. Seu relacionamento com a sogra sempre foi de grande
afetividade, descreve-a como uma segunda mãe, porém os cuidados diários que Maria demanda
¹Estudante do Instituto Esperança de Ensino Superior/IESPES. Curso de Psicologia – E-mail:
fctambara@gmail.com.
Estudante do Instituto Esperança de Ensino Superior/IESPES. Curso de Psicologia – E-mail:
thainananjos@outlook.com.
2Mestra em Teoria e Pesquisa do Comportamento - UFPA, Docente do Departamento de Psicologia do Instituto
Esperança de Ensino Superior/IESPES, Pará – Brasil. E-mail: liviacristinne@gmail.com.
decorrente da sua idade avançada, 95 anos, acamada, acabam por deixa-la sobrecarregada.
Quando questionada sobre seus pais como apoio, afirmou que a correria do dia a dia restringia
ainda mais o contato distante que se estabeleceu entre eles desde a infância.
Atividades Sociais e/ou de lazer: Raramente sai sozinha ou com sua família, nas poucas vezes
que praticam alguma atividade de lazer, é indo à orla da cidade. Tem poucas amigas e pouco
contato com elas, pois na maior parte do tempo está trabalhando ou cuidando de sua sogra.
Carla se intitula católica, conta que desde pequena ia a igreja aos domingos de manhã, hábito
que não perdeu, durante a faculdade e depois de casada. Porém, afirma que depois da perca da
sua filha parou de frequentar as missas e de fazer suas rezas diárias, diz que não deixou de
acreditar em Deus, mas que teve sua fé abalada, “se Ele pode tudo, por que não me ajudou a
salvar minha filha? ”, (sic).
3. ASPECTOS INTERSUBJETIVOS:
Percepção sobre a própria história pessoal e familiar (situações inacabadas): Carla
descreve sua história como de muita luta e superação. Apesar da infância solitária, conseguiu
chegar onde queria e se realizar profissionalmente. Apesar de terem pouco tempo juntos, o
relacionamento com o seu marido é bom, ele a apoia em suas decisões e escolhas, além de ser
atencioso e participativo sempre que pode. No entanto, considera que fracassou no seu maior
sonho, a maternidade, que para ela seria a oportunidade para vivenciar e construir a infância
que nunca teve, dando à sua filha a atenção e o carinho que ela merecia. Culpa a si mesma pela
morte da filha. Para Carla, ela deveria, de alguma forma, ter impendido a morte da filha, "como
mãe eu deveria ter feito alguma coisa, eu tinha que salvá-la, ela era minha e eu não me esforcei
o suficiente, com certeza é culpa minha, eu devo ter contaminado ela, insisti muito para pegá-
la no colo algumas vezes". Devido a infância solitária e rígida, Carla tem pouco contato com os
pais, visitando-os apenas uma vez no ano, mas descreve essa relação como bem resolvida.
Autopercepção de capacidade e habilidades (autossuporte): Para Carla, seu ponto forte é a
sua bravura e perspicácia no trabalho. Também relata que sua fé já a impediu de tirar sua própria
vida. Um outro ponto forte é a capacidade de falar sobre suas dores, não silencia seu sofrimento,
reconhece-o, apesar de ainda não ter tratado. Demonstra habilidade de comunicação.
¹Estudante do Instituto Esperança de Ensino Superior/IESPES. Curso de Psicologia – E-mail:
fctambara@gmail.com.
Estudante do Instituto Esperança de Ensino Superior/IESPES. Curso de Psicologia – E-mail:
thainananjos@outlook.com.
2Mestra em Teoria e Pesquisa do Comportamento - UFPA, Docente do Departamento de Psicologia do Instituto
Esperança de Ensino Superior/IESPES, Pará – Brasil. E-mail: liviacristinne@gmail.com.
Autoimagem: Carla tem uma percepção de si bem paradoxa. Afirma ser realizada
profissionalmente e se emociona ao contar com orgulho sua trajetória para chegar na posição
que ocupa hoje e conquistar o respeito dos colaboradores da empresa. Como mulher, afirma
sentir-se impotente e falha, incapaz de cuidar de outro ser humano. Afirma que não tem controle
sobre sua vida pessoal, que tudo está sujo o tempo todo o que a deixa extremamente angustiada.
Alega que costumava ser vaidosa, mas depois da perda de sua filha, desgostou-se totalmente de
si, não se olha mais no espelho, não se arruma mais, deixando sua autoestima lá embaixo.
Quando sente vontade de se maquiar, encontra grandes obstáculos, pois fica de segundo em
segundo lavando sua mão, os pincéis e os instrumentos de maquiagem, o que dificulta o
processo e acaba desistindo.
Perspectiva de futuro: Deseja algum dia tentar ter outro filho, porém tem medo de passar pelo
mesmo ocorrido. A única certeza que tem no momento é de buscar ajuda profissional, pois sabe
que sua angústia diária, obsessões e compulsões já prejudicaram bastante sua vida.

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  • 2. ¹Estudante do Instituto Esperança de Ensino Superior/IESPES. Curso de Psicologia – E-mail: fctambara@gmail.com. Estudante do Instituto Esperança de Ensino Superior/IESPES. Curso de Psicologia – E-mail: thainananjos@outlook.com. 2Mestra em Teoria e Pesquisa do Comportamento - UFPA, Docente do Departamento de Psicologia do Instituto Esperança de Ensino Superior/IESPES, Pará – Brasil. E-mail: liviacristinne@gmail.com. alimentar e ir dormir, não podia estar fora de casa depois das 17:00 horas e nem receber visitas. Sua mãe era carinhosa, mas muito ocupada. Carla era uma aluna muito aplicada, e gostava muito de ler. Sua vida social na infância não era muito movimentada. Tinha poucos amigos, e por várias vezes foi vítima de piadas por causa da cor de sua pele, em sua trajetória. Os pais de Carla nunca souberam ou desconfiaram do ocorrido, a escola tinha conhecimento mas optou por ignorar as situações de bullying. Embora nunca diagnosticado, a mãe de Carla apresentava sinais de ansiedade generalizada e Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), identificados por um clínico geral, que o encaminhou a um psiquiatra, porém ela nunca procurou esse profissional. Lidava com os sinais da forma que podia, sem nenhum acompanhamento médico ou psicológico. Quando se formou Carla mudou de cidade em busca de emprego, passou a morar sozinha e seu círculo de amizade ainda era relativamente pequeno. No mesmo ano, conheceu João, um contator que trabalha em tempo integral no escritório de contabilidade, qual é sócio. Namoraram por dois anos e se casaram. Relata que seu casamento como qualquer outro, não é perfeito, mas que o marido é seu ponto de apoio primário. Pouco antes de completar 30 anos Carla descobriu que estava gravida de seu primogênito. Sua gravidez foi tranquila, porém quando sua filha nasceu teve problemas respiratórios e ficou na UTI neonatal por alguns dias, onde acabou contraindo uma infecção bacteriana generalizada vindo a óbito 13 dias depois do seu nascimento. Após a morte de sua filha, Carla entrou em processo de luto e começou a apresentar alguns sinais de TOC, como pensamentos repetitivos e persistentes de que tudo estava sujo e contaminado, comportamentos obsessivos de lavar as mãos a toda hora, andar sempre de luvas e com um álcool em gel na bolsa, evitava contato físico com outras pessoas por medo de adquirir alguma bactéria ou fungo. Essas obsessões e compulsões estavam tomando bastante tempo do seu dia a dia, começando a causar um sofrimento clinicamente significativo em sua vida pessoal e profissional. Rede social de apoio (heterossuporte): Como rede de apoio, afirma que tem o marido e a sogra. No entanto, seu marido trabalha bastante, chega em casa só a noite geralmente frustrado e com pouca paciência para conversar. Seu relacionamento com a sogra sempre foi de grande afetividade, descreve-a como uma segunda mãe, porém os cuidados diários que Maria demanda
  • 3. ¹Estudante do Instituto Esperança de Ensino Superior/IESPES. Curso de Psicologia – E-mail: fctambara@gmail.com. Estudante do Instituto Esperança de Ensino Superior/IESPES. Curso de Psicologia – E-mail: thainananjos@outlook.com. 2Mestra em Teoria e Pesquisa do Comportamento - UFPA, Docente do Departamento de Psicologia do Instituto Esperança de Ensino Superior/IESPES, Pará – Brasil. E-mail: liviacristinne@gmail.com. decorrente da sua idade avançada, 95 anos, acamada, acabam por deixa-la sobrecarregada. Quando questionada sobre seus pais como apoio, afirmou que a correria do dia a dia restringia ainda mais o contato distante que se estabeleceu entre eles desde a infância. Atividades Sociais e/ou de lazer: Raramente sai sozinha ou com sua família, nas poucas vezes que praticam alguma atividade de lazer, é indo à orla da cidade. Tem poucas amigas e pouco contato com elas, pois na maior parte do tempo está trabalhando ou cuidando de sua sogra. Carla se intitula católica, conta que desde pequena ia a igreja aos domingos de manhã, hábito que não perdeu, durante a faculdade e depois de casada. Porém, afirma que depois da perca da sua filha parou de frequentar as missas e de fazer suas rezas diárias, diz que não deixou de acreditar em Deus, mas que teve sua fé abalada, “se Ele pode tudo, por que não me ajudou a salvar minha filha? ”, (sic). 3. ASPECTOS INTERSUBJETIVOS: Percepção sobre a própria história pessoal e familiar (situações inacabadas): Carla descreve sua história como de muita luta e superação. Apesar da infância solitária, conseguiu chegar onde queria e se realizar profissionalmente. Apesar de terem pouco tempo juntos, o relacionamento com o seu marido é bom, ele a apoia em suas decisões e escolhas, além de ser atencioso e participativo sempre que pode. No entanto, considera que fracassou no seu maior sonho, a maternidade, que para ela seria a oportunidade para vivenciar e construir a infância que nunca teve, dando à sua filha a atenção e o carinho que ela merecia. Culpa a si mesma pela morte da filha. Para Carla, ela deveria, de alguma forma, ter impendido a morte da filha, "como mãe eu deveria ter feito alguma coisa, eu tinha que salvá-la, ela era minha e eu não me esforcei o suficiente, com certeza é culpa minha, eu devo ter contaminado ela, insisti muito para pegá- la no colo algumas vezes". Devido a infância solitária e rígida, Carla tem pouco contato com os pais, visitando-os apenas uma vez no ano, mas descreve essa relação como bem resolvida. Autopercepção de capacidade e habilidades (autossuporte): Para Carla, seu ponto forte é a sua bravura e perspicácia no trabalho. Também relata que sua fé já a impediu de tirar sua própria vida. Um outro ponto forte é a capacidade de falar sobre suas dores, não silencia seu sofrimento, reconhece-o, apesar de ainda não ter tratado. Demonstra habilidade de comunicação.
  • 4. ¹Estudante do Instituto Esperança de Ensino Superior/IESPES. Curso de Psicologia – E-mail: fctambara@gmail.com. Estudante do Instituto Esperança de Ensino Superior/IESPES. Curso de Psicologia – E-mail: thainananjos@outlook.com. 2Mestra em Teoria e Pesquisa do Comportamento - UFPA, Docente do Departamento de Psicologia do Instituto Esperança de Ensino Superior/IESPES, Pará – Brasil. E-mail: liviacristinne@gmail.com. Autoimagem: Carla tem uma percepção de si bem paradoxa. Afirma ser realizada profissionalmente e se emociona ao contar com orgulho sua trajetória para chegar na posição que ocupa hoje e conquistar o respeito dos colaboradores da empresa. Como mulher, afirma sentir-se impotente e falha, incapaz de cuidar de outro ser humano. Afirma que não tem controle sobre sua vida pessoal, que tudo está sujo o tempo todo o que a deixa extremamente angustiada. Alega que costumava ser vaidosa, mas depois da perda de sua filha, desgostou-se totalmente de si, não se olha mais no espelho, não se arruma mais, deixando sua autoestima lá embaixo. Quando sente vontade de se maquiar, encontra grandes obstáculos, pois fica de segundo em segundo lavando sua mão, os pincéis e os instrumentos de maquiagem, o que dificulta o processo e acaba desistindo. Perspectiva de futuro: Deseja algum dia tentar ter outro filho, porém tem medo de passar pelo mesmo ocorrido. A única certeza que tem no momento é de buscar ajuda profissional, pois sabe que sua angústia diária, obsessões e compulsões já prejudicaram bastante sua vida.