2. Sumário
Sexo X gênero X sexualidade........................................3;
1.
•Sexo.........................................................4;
•Sexualidade/Orientação sexual..6;
•Gênero...................................................7;
2. Os estudos de gênero......................................................20;
3. Personalidades transgressoras...........................,,,,,,,,,29;
•Willian Dorsey Swann...................30;
•Claude Cahun...................................35;
•David Bowie.......................................40;
•Grace Jones........................................42;
3. Sexo x Gênero x
Sexualidade
S
E
G
UE MAIS INFORMAÇÃO A SE
G
U
I
R
4. SEXO
seria a definição da condição biológica categorizadas em
macho, fêmea e intersexo (sendo este não tão comum),
definido pelos cromossomos XX e XY, XXX, XXY, XYY;
S
E
G
UE MAIS INFORMAÇÃO A SE
G
U
I
R
5. Sexo
O sexo apresenta-se como uma
categoria protegida pelo discurso
científico, mas Judith Butler
problematiza essa suposta
neutralidade do termo e aponta o
sexo, assim como o gênero, como uma
construção discursiva em seu livro
“problemas de gênero”. Poderíamos
constatar essa afirmação, além do
fato da patologização e com a
definição de anormalidade que o
corpo intersexo sofre,
mas também pelos diversos
casos de mutilação de pessoas
intersexos para se adequarem
nas categorias do sexo feminino
ou masculino sem seu
consentimento (outro fato a se
pontuar é a forte ligação da ideia
de sexo masculino com o gênero
homem e o feminino com
mulher).
6. A orientação sexual de uma pessoa é
o desejo e a intensidade que se sente
por outra pessoa, que pode ser
independente do seu gênero e do seu
sexo biológico que foram impostos.
Existem diversas orientações sexuais,
como a homossexualidade,
heterossexualidade, bissexualidade,
pansexualidade, assexualidade
e etc.
A sigla utilizada para comportar as
diversas sexualidades e identidades
divergentes da cis heteronormatividade
imposta é variada: alguns utilizam LGBT,
outros utilizam LGBTQ, outros, LGBTTT,
LGBTQIA+, mas para nós, independente
da forma que se desejar utilizar a sigla,
recomendamos a utilização do sinal +,
para assim não excluir a diversas
sexualidades e identidades que existem e
poderão existir. Ultimamente têm se
utilizado mais LGBTQIA+ e LGBTQ+.
Orientação
Sexual
7. Gênero
Para melhor compreender o gênero, dividiremos em 3
características constituintes, que seriam: gênero, identidade
de gênero e papéis de gênero
S
E
G
UE MAIS INFORMAÇÃO A SE
G
U
I
R
8. Joan Scott classifica o gênero como historicamente
determinado que não somente se constrói sobre a diferença
sexual, mas também dá sentido a ela; o gênero enquanto uma
ferramenta de análise começa a se construir no interior do
feminismo na década de 70.
Podemos entender gênero então como uma construção
social, ou seja, uma ideia que comporta comportamentos e
definições difundidas por uma determinada sociedade.
Entendemos gênero, então. enquanto relação social e
conjunto de práticas.
Gênero
9. Gênero
Gênero é uma categoria histórica, e como
Scott explica em seu artigo “gênero: uma
categoria útil para análise histórica”, é algo
mutável, pode variar dependendo da
localidade e contexto histórico.
Butler aponta uma característica da noção
de gênero enquanto ferramenta utilizada e
exigida por um sistema heterossexual
compulsório que constrói a ideia de um
sistema binário oposicional, construindo
assim uma suposta coerência e a unidade dos
gêneros binários. Tal concepção, pressupõe
uma relação casual entre sexo, gênero e
desejo, onde o gênero reflete o desejo
e vice-versa; resumindo nas
palavras de Butler: “[...] A
instituição de uma
heterossexualidade compulsória e
naturalizada exige e regula o
gênero como uma relação binária
em que o termo masculino
diferencia-se do termo feminino,
realizando-se essa diferenciação
por meio das práticas do desejo
heterossexual”.
10. Scott vai dizer que (em seu artigo
supracitado) o gênero é uma das
primeiras formas de significação das
relações de poder (uma das referências
pela qual o poder foi concebido, ou seja, "
[...]Desta forma, a oposição binária e o
processo social das relações de gênero
tornam-se, os dois, parte do sentido do
poder, ele mesmo.”) e para manter seu
poder utiliza-se do mito de uma noção
natural e divina (onde não haveria um
construto humano) do gênero em relação
ao corpo sexuado (ao mesmo tempo cria
seu sentido a ele [o corpo sexuado]);
entendendo que as relações de gêneros
seriam estruturais, pode-se perceber as
relações de gênero em diversos aspectos, Scott
dá exemplos como: a articulação do conceito
de classe do século XIX baseava-se no conceito
de gênero, onde na França, por exemplo, a
classe operária era mencionada pelos
reformadores burgueses como sexualmente
explorados como as prostitutas, ou seja, em
termos codificados como femininos. Em
relação a guerras, sua legitimação se faz em
termos de masculino e feminino, dando apelo
à virilidade e a associação entre masculinidade
e a potência nacional, e também podemos
pensar, ainda sobre a guerra, em relação aos
Gênero
11. fatos que a antropóloga e pesquisadora Adriana Piscitelli
enforma em seu capítulo na obra “Diferenças, igualdade”: a
utilização do estupro enquanto arma, como ocorreu no Peru
em 1980 entre o governo e a organização Sendero Luminoso,
ou como ocorreu em 1990 com os estupros sistemáticos entre
mulheres e meninas mulçumanas na Bósnia. Outro exemplo
dado por Scott foi a alta política, sendo ela mesma um
conceito de gênero e estabeleceu a importância de seu poder
através da exclusão das mulheres; “Em certo sentido a
história política foi encenada no terreno do gênero.”
Gênero
12. Identidade de Gênero
esse termo foi cunhando pelo psicanalista e professor Robert
Stoller, nos ajudando a conceber o gênero enquanto uma
identidade subjetiva e um modo de subjetivação.
Entendendo o gênero enquanto uma construção (depois de
tudo que falamos até aqui) e que não está necessariamente
ligado às características do corpo biológico, podemos
conceber o fato da identidade de gênero ser bem ampla;
basicamente, identidade de gênero é como a pessoa se
identifica e se percebe e como se sente em relação aos papéis
de gênero vigentes, independentemente de seu sexo
determinado ao nascimento. Essa visão muda de pessoa para
pessoa, podendo demonstrar mais traços
13. femininos ou masculinos e essas
características podem mudar ao longo de
sua vida.
Judith Butler contribui muito nesse
entendimento ao apontar o gênero enquanto
construção discursiva e constrói a ideia de
gênero enquanto performatividade, nos
ajudando a perceber a identidade enquanto
a preferência ou repulsa às performances
femininas e masculinas formadas a partir de
nossa socialização;
Identidade de Gênero
14. Identidade de
Gênero
Cisgênero- pessoas que se identificam
com o gênero imposto ao nascer.
Transgênero- pessoas que não se
identificam com o gênero imposto ao
nascimento.
ao se falar de identidade de gênero, existem
2 conceitos importantes para se entender:
15. Identidades de Gênero no Ocidente
Homem (podendo ser homem cis ou homem trans).
Mulher (podendo ser mulher cis ou mulher trans).
Travesti: normalmente há uma grande dúvida em relação a diferença
entre mulheres trans e travestis, mas basicamente podemos entendê-las
como a mesma coisa, a diferença é que algumas pessoas preferem esse
termo como um ato político, pois “travesti” seria um termo vindo da
comunidade e foi usado por muito tempo como um insulto pelas outras
pessoas, diferente do termo “transgênero” que surgiu primeiramente
como uma forma de patologizar o corpo trans e hoje possui uma imagem
mais higienizada no imaginário popular, onde imagina-se uma mulher
trans com um nível de passibilidade maior (ou seja, que se assemelha
mais ao padrão estético cisgênero), e a travesti muitas vezes
16. Não-binárie(a/o): não-binário é um termo guarda-chuva que
comporta diversos gêneros que não se encaixam dentro da binaridade
vigente em nossa sociedade ocidental, tendo surgido pelo fato da
invisibilidade que ganha dentro da categoria transgênero (onde
imagina-se mais as questões trans-binárias normalmente). Dentre esse
termo existem os gêneros: bigênero, agênero, gênero fluído e etc.
é imaginada como uma mulher com menos passibilidade e racializada
(normalmente com o estereótipo de barraqueira). Entretanto, essa
identidade para algumas travestis não seria uma mulher e sim um terceiro
gênero para elas, mas independente disso, continua sendo uma identidade
feminina e deve-se utilizar os pronomes femininos para se referirem a elas.
Identidades de gênero presentes no
ocidente
17. Papéis de Gênero
papéis de gênero são todas as características e ideias associadas
culturalmente ao corpo sexuado, como macho e fêmea, ou seja,
os papéis a serem desempenhados por eles. Como por exemplos,
as ideias que algumas pessoas possuem de que “mulher é
naturalmente mais delicada”, “que o lugar de mulher é na
cozinha” ou que “homens são naturalmente mais agressivos”.
A obra “sexo e temperamento” de Margaret Mead foi muito
importante para essa esfera dos estudos de gênero pois nessa
obra ela estuda três povos de uma mesma ilha da Nova Guiné
(os Arapesh, os Mundugumor e os Tchambuli) e nota que esses
três povos possuem papéis de gênero distintos, onde, inclusive,
18. Papéis de Gênero
em um deles as mulheres (ou pelo menos os corpos
como nós ocidentais lemos dessa forma) eram mais
agressivas e os homens mais dóceis. Essa obra mostra
sua importância nos mostrando que os papéis de gênero
mudam dependendo da cultura e não são
necessariamente biologicamente determinados.
19. Resumindo
entendemos gênero enquanto relação social, papéis de
gênero enquanto funcionamento e práticas sociais dos corpos
e identidade de gênero enquanto percepção subjetiva do eu.
21. ara entendermos melhor a principal área
interdisciplinar que nos ajudou na
formulação dos diversos conhecimentos que
temos em relação ao gênero hoje, faz-se
necessário uma pequena história em torno
dos estudos de gênero.
OS ESTUDOS DE GÊNERO
22. Antes da consolidação dessa área enquanto
conhecemos hoje, sua história começa-se a se traçar com
as lutas libertárias dos anos 60, como as revoltas
estudantis de maio em Paris, os Black Panters, as lutas
contra a guerra no Vietnã nos Estados Unidos, no Brasil
com a luta contra a ditadura militar entre outros. Nessas
lutas, as mulheres começaram a perceber que mesmo
lutando, permaneciam em papeis secundários, como diz
a antropóloga Miriam Pillar Grossi em seu artigo
“Identidade de gênero e sexualidade”; além desses
movimentos podemos destacar principalmente o
movimento feminista e gay da época.
23. Outro fator importante ocorrido paralelamente a essas
lutas foi a comercialização da pílula anticoncepcional,
questionando assim o suposto destino natural de dar à
luz da mulher e do sexo enquanto algo para procriação
e reprodução humana (onde, no ocidente, o sexo
começa a ser visto como fonte de
prazer). Também se questiona a
virgindade da mulher enquanto algo
essencial para o casamento; essas lutas e
acontecimentos irão influenciar o
campo acadêmico.
24. No Brasil, esse campo iniciou-se na
década de 70 e 80 através dos estudos da
condição feminina, onde somente
mulheres produziam conhecimento
entorno dessa temática (sendo essa uma
forma adotada para evitar o
silenciamento das mulheres), onde se
inicia pela tese de Heleieth Safiotti “A
mulher na sociedade de classes”.
Os Estudos
de Gênero
A corrente dessa época esteve muito
ligada pelo marxismo, influenciada
pelo livro “A origem da família, da
propriedade privada e do estado” de
Engels, onde defende que a mulher
foi a primeira propriedade do
homem, marcando assim a passagem
do matriarcado para o patriarcado.
25. Os Estudos de Gênero
Nos anos 80 os estudos da condição feminina muda para estudo
sobre as mulheres, onde percebe-se que não há uma condição única
feminina (podendo haver intersecções como raça, regionalidade e
etc.) e se começa a desenvolver estudos em torno das mulheres
brasileiras. Ainda nessa época havia uma unanimidade do
pensamento de que todas as mulheres se reconheciam pela sua
condição biológica, o que será questionado nos estudos de gênero.
É então nos anos 90 que se consolida no Brasil os estudos de
gênero, uma ampla área interdisciplinar (na psicanálise, nas teorias
feministas, na biologia, na filosofia e etc.); o termo gênero será
apropriado através das pesquisadoras norte-americanas que
passam a utilizar o termo “gender”.
26. Os Estudos de Gênero
Nesse contexto, a categoria gênero se tornará uma ferramenta
crítica importante para rebater as problemáticas do suposto caráter
natural de suas condições (determinismo biológico) postas no
interior das lutas femininas e no mundo, e denunciar a operação
ideológica da naturalização dos gêneros para assim justificar
comportamentos sociais entre homens e mulheres feita através das
ciências que supostamente seriam neutras e objetivas (como a
biologia, onde o seu status de ciência e seu discurso como verdade
são uma de suas ferramentas). Ou seja, foi preciso construir uma
crítica epistemológica para poder marcar a epistemologia vigente
que estruturava a produção de conhecimento como masculina.
27. Os Estudos de Gênero
Outro aspecto pontuado por Joan em relação aos estudos de gênero é a
maior amplitude que ele permite, diferente dos estudos sobre mulheres que
se restringem somente às mulheres. Essa metodologia permitiria uma
compreensão maior das relações de gênero uma vez que a condição das
mulheres se faz no mesmo mundo que os homens, ou seja, ambos são
construídos numa mesma relação significante. Nathalie Davis dizia em 1975:
“Eu acho que deveríamos nos interessar pela história tanto dos homens
quanto das mulheres, e que não deveríamos trabalhar unicamente sobre o
sexo oprimido, do mesmo jeito que um historiador das classes não pode fixar
seu olhar unicamente sobre os camponeses. Nosso objetivo é entender a
importância dos sexos dos grupos de gênero no passado histórico. Nosso
objetivo é descobrir a amplitude dos papéis sexuais e do simbolismo sexual
nas várias sociedades e épocas, achar qual o seu sentido e como
funcionavam para manter a ordem social e para mudá-la”.
28. Entende-se a importância da discussão em relação ao gênero
devido ao fato da utilização do gênero enquanto forma de poder e
controle social, e enquanto poder, ele utiliza-se de ferramentas
violentas de punição e correção de identidades e sexualidades
desviantes para tentar manter uma pretensa coerência e unidade
dos corpos, por isso percebe-se tristemente o fato do Brasil ser um
dos países que mais mata mulheres trans e travestis no mundo;
através da socialização que apreendemos as normas e signos
sociais, através de instituições como a família, a escola, a sociedade
e a religião, esses ambientes de socialização torna-se hostis e
perigosos aos corpos desviantes e transgressores.
Gênero enquanto construção histórica
30. Willian Dorsey Swann
William Dorsey Swann, nasceu em Maryland por volta de 1858, e
durante sua vida suportou a escravidão, a Guerra Civil, o racismo, a
violência policial, a tortura atrás das grades e muitas outras
injustiças.
Em 1880, ele se tornou a primeiro ativista norte americano a liderar
um grupo de resistência Queer, além disso, nessa mesma época
também ficou conhecido por ser a primeira pessoa a se chamar de
“Queen of Drag”, termo que se tornou o que conhecemos hoje por
“drag queen”, e esse nome traduzido no sentido literal significa
"rainha do arrasto", ela se autodenomina dessa forma por arrastar o
vestido em uma dança tipicamente africana.
31. Willian Dorsey Swann
Swann organizava vários bailes privados, em que ele e outros homens
colocavam vestidos e performavam, ele era conhecido pelos amigos como
“Queen”, esses bailes tinham uma estrutura muito similar com as de hoje em
dia, como uma família, liderada pelas “mães” e “rainhas” onde fazem
concursos de dança com trejeitos exagerados.
Em 1896 ele foi condenado e sentenciado a 10 meses de prisão pela falsa
acusação de “administrar um bordel”, Swann exigiu (e foi negado) um perdão
do presidente Grover Cleveland por manter um baile Drag. Esse também foi
um ato histórico: fez de Swann o primeiro americano registrado a tomar
decisões legais e medidas políticas para defender o direito da comunidade
Queer de se reunir sem a ameaça de criminalização, repressão ou violência
policial
32. Willian Dorsey Swann
Um dos registros que temos de Willian Swann e sua luta é uma notícia do
jornal da época do dia 13 de abril de 1888, onde estava na capa estampado
“Invasão de Negros. Treze Homens Pretos Vestidos de Mulher Surpreendido
na e Preso”. Esse é o primeiro registro da invasão policial em seu baile Drag,
de acordo com a notícia, muitos conseguiram escapar enquanto o Swan
tentava parar os oficiais que invadiam, em um ato de resistência. Essa luta foi
um dos primeiros atos defesa dos direitos LGBTQ+ registrados na história.
Essa não foi a primeira invasão policial, e nem seria a última.
33. Willian Dorsey Swann
Uma invasão similar ocorreu no dia 14 de
janeiro de 1887 em que o jornal reportou
“Seis homens de cor, vestidos em um traje
feminino elegante, foram indiciados no
banco dos réus no Tribunal de Polícia esta
manhã sob a acusação de serem pessoas
suspeitas... Quase todos usavam vestidos de
seda de gola baixa e manga curta”, após essa
invasão, Swan e seus bailes Drag ficaram
conhecidos em vários lugares, deixando as
pessoas curiosas sobre o assunto, tentando
decifrar as complexidades da sexualidade
humana, antes mesmo de existir o termo
“transgênero” ou “travesti”.
Apesar de ganhar visibilidade, o
conhecimento dos bailes deixou mais difícil
de Swann e seus amigos ficarem escondidos
das pessoas que buscavam machucá-los. Os
bailes Drag eram um segredo e
permaneceram assim durante muitos anos,
eles eram um risco para os convidados de
Swann, podendo afetar suas reputações e
vidas, pois os que não conseguiam fugir das
invasões policiais tinham seus nomes
divulgados, tornando-os alvos do desprezo do
público. E apesar de ganhar visibilidade, o
conhecimento dos bailes deixou mais difícial
de Swann e seus amigos ficarem escondidos
das pessoas que buscavam machucá-los.
34. Willian Dorsey Swann
Após Willian se aposentar da cena Drag, em 1900, seu irmão mais novo Daniel J.
Swann continuou a tradição da família, até a sua morte em 1954.
Hoje, mais de um século após o último baile conhecido de Willian Swann, as
casas do salão de baile contemporâneo mantêm o mesmo formato básico da
casa de Swann. Os bailes apresentam danças competitivas com gestos
exagerados e são organizados em torno de frupos familiares liderados por
“mães e “rainhas”. O exemplo corajoso de Swann nos obriga a repensar a
história do movimento LGBTQ: quando começou, de onde veio e quem eram
seus líderes. Chegando à uma época em que uma forma inteiramente nova de
liberdade e autodeterminação estava se desenvolvendo para os afro-
americanos, os primeiros a fazerem bailes de drag e os primeiros a lutar pelo
direito de fazê-lo, sem dúvida se tornou a base de celebração e protesto queer
contemporâneos.
35. Claude Cahun
Lucy Renee Mathilde Schwob
Claude Cahun (1894, Nantes, França – 1954, Jersey)
trabalhou com fotógrafia, escrita e escultura e integrou o
movimento surrealista, onde buscou principalmente
retratar a ambiguidade do gênero. Cahun desenvolveu
diversas obras, produziu textos e ensaios, mas ganhou
principalmente conhecimento pelos seus autorretratos,
que ironicamente foram produzidos para si e sua parceira e
não para consumo público; seu nome original é Lucy Renée
Mathilde Schwob, mas seu pseudõnimo foi escolhido por
causa da neutralidade do nome, assim como sua parceira
romântica e criativa Suzanne Malherbe, que adota o nome
Marcel Moore.
36. Originalmente nomeada como Lucy Renée Mathilde Schwob, sua família já
possui grande contato com a literatura francesa, onde seu pai, Maurice, era
dono do jornal de sua família Le Phare de la Loire, onde também produzia
artigos. Seu tio era o bem conhecido escritor simbolista Marcel Schwob;
Cahun questionava os construtos de gênero, onde em seus autorretratos, por
exemplo, há brincadeiras, zoeiras e desdém com os signos femininos e
masculinos, onde Cahun apresenta-se com fluidez (hora feminina, hora
masculina, hora totalmente fantasiada e andrógena), pois para ela a
identidade era algo mutável e instável. Inclusive Com sua participação no
teatro avant-garde de Paris, Cahun foi desenvolvendo novas identidades em
suas fotografias, como um marinheiro e um aviador (“Sob essa máscara, outra
máscara. Nunca irei parar de remover esses rostos.”, assim disse); entrando
mais na esfera da escrita, após traduzir para o francês o livro The Task of
Claude Cahun
37. Claude
Cahun
Social Hygiene (1912) do renomado
psicólogo de sexualidade humana
britânico Havelock Ellis, Cahun
influenciou-se a tentar se definir e
criou uma de suas obras mais
importantes, uma autobiografia
intitulada “Aveux non avenus” onde
transmite suas dúvidas, ânsias e
incoerências, mostrando-nos sua
dificuldade em se identificar e seu
lugar no mundo.
Cahun também teve uma forte parti-
pação no ativismo, onde desde
sua infância precisou conviver
com o antissemitismo devido ao
fato da família de seu pai ser
judia, levando até seu pai a
enviar para Inglaterra por dois
anos, aonde retorna em 1909
para a França (momento em que
encontra Moore, agora sua meia-
irmã); cria junto de George
38. Bataille o grupo cultural e político Contre-Attaque, e posteriormente, em
1939 juntou-se a uma organização anti-facista e anti-stalinista, Fédération
Internationale de L’Artistes Révolutionnaires Indépendents (FIARI), fazendo
parte de uma resistência francesa. Infelizmente Cahun teve de deixar seu país
com Moore após a ascensão do nazismo ao poder em 1938 para Jersey, uma
ilha sob influência britânica, entretanto Jersey também foi invadida pelos
nazistas, mas Cahun e Moore não desistiram e juntas disfarçavam-se e
disseminavam panfletos antinacionalista e que zombavam da ideologia
nazista confeccionados por elas mesmas em locais estratégicos, chegando até
a invadir eventos de soldados nazistas; elas são pegas pela gestapo
posteriormente, que descobrem que não apenas Cahun era judia, mas
formavam um casal que fora lido como lésbico na época, e ambas são
condenadas à morte. Mas como se fosse um sinal divino, no dia de sua
Claude Cahun
39. execução a ilha foi libertada do controle nazista e Cahun tira
uma foto com um distintivo nazista entre os dentes como
forma de zombaria após ser libertada e passa os últimos dias
de sua vida com Moore em Jersey e falece em 1954.
Cahun passou despercebida na história durante um tempo,
tanto pelo fato de o movimento surrealista ser dominado
predominantemente por homes, mas principalmente após
sua companheira se suicidar em 1972 e todo seu trabalho ser
leiloado. Mas felizmente, Cahun ressurge na história após a
publicação de sua bibliografia escrita por François Leperlier
em 1992, ganhando a atenção de muitos principalmente por
suas ideias a frente de seu tempo e hoje muitas pessoas a
veem como um ícone não-binário.
Claude Cahun
“Neutro
é
o
único
gênero
que
me
convém”
40. David Bowie
David Robert Jones
David Bowie deixou-nos em 2016, mas a sua presença
continua bem atual, sendo, por isso, uma referência no
mundo das artes. É um dos cantores mais completos de
todo o sempre. Do art rock ao rock pop, Bowie reinventa-se
a cada álbum, hit e atuação. Conhecido como o “Camaleão
do Rock” lançou vários singles, entre eles “Ashes to Ashes”,
“Heroes” e “Let’s Dance”, que percorreram o mundo de lés a
lés. A influência de David Bowie é impactante a vários níveis.
Na produção musical, permitiu a introdução de novos
estilos, como também de sonoridades. No departamento
do intelectual, ajudou ao desenvolvimento artístico e
cultural com as suas letras e composições. E, por fim, no
que diz respeito à sociedade, apoiou a libertação gay.
41. No mês em que celebraria 75 anos, o
álbum "perdido" de David Bowie, Toy, foi
finalmente lançado depois de ter sido
arquivado em 1999. Com novas canções e
novas versões de canções menos
conhecidas dos anos 1964-71, este álbum
pode agora ser ouvido em três CDs.
David Bowie reinventava-se na música,
Moda e Beleza. Na maquilhagem, usava
sombras coloridas, glitter e batom - e,
claro, não nos esqueçamos do seu raio
vermelho com uma pitada de azul no
olho e o círculo pintado
meticulosamente na testa. A verdade é
que não tinha medo de arriscar e de
experimentar novas técnicas no que
diz respeito à maquiagem. Já nos
cabelos, usou e abusou da tonalidade
vermelha e no loiro encontrou o seu
lugar seguro. Do mullet ao repicado,
experimentou vários e diversos cortes.
David Bowie foi não só o “Camaleão do
Rock”, como o “Camaleão da Beleza”.
David
Bowie
42. Grace Jones
Jamaicana, foi uma das modelos mais
conhecidas dos anos 70. Tornou-se
cantora, compositora e atriz, e
destacou-se como “a diva” que desde
sempre desafiou estereótipos. Hoje
celebra 73 anos e nós trazemos-lhe os
seus melhores looks de Beleza.
As pernas esguias, o rosto angular e o
estilo excêntrico foram os ingredientes
para Grace Jones se tornar um ícone
43. de Moda — e de Beleza — na década de 70 do
século passado. Ao trabalhar com Yves Saint Laurent,
Kenzo e Azzedine Alaïa, tornou-se uma referência da
época e foi, ainda, capa de revistas como a 'Elle', a
'Vogue' e a 'Playboy'. Iniciou o seu percurso musical
em 1977, com o álbum 'Portfolio', dando início
àquela que seria a carreira da sua vida.
Aos 18 anos, assinou um contrato com a Wilhelmina
Models, em Nova Iorque, mas foi em Paris — onde
vivia com a manequim e mulher de Mick Jagger, Jerry
Hall — que despertou a atenção de alguns dos
maiores estilistas e fotógrafos. Grace Jones foi ainda
uma das musas de Andy Warhol – o pintor e cineasta
norte-americano que reinventou o movimento pop
art nos EUA a retratou inúmeras vezes.
Grace Jones
44. Grace Jones
De cabelo curto, maquiagem e outfits extravagantes,
eventual chapéu ou cigarro na boca, foi uma figura
emblemática na noite de Nova Iorque, marcando presença em
diversos clubes da cidade que nunca dorme, mas mantendo
sempre a sua preferência pelo Studio 54. Criou-se a imagem
de um ícone na cena queer nova-iorquina, onde era admirada
por Drag Queens e pela comunidade LGBT, pela sua
ambivalência entre géneros e a sua constante quebra de
tabus; na indústria musical, manteve a sua típica presença
forte — que transportou das passarelas para os palcos — e os
seus hits passam por sonoridades como o disco e a new wave
dos anos 80 (apesar de se ter lançado com uma versão
inovadora do clássico 'La Vie en Rose', de Edith Piaf, em 1977).
45. Grace Jones
Até hoje, as suas atuações mantêm a
irreverência, através de mudanças constantes de
figurinos, passando pela interpretação de
homens, mulheres, tribos ou, até mesmo,
insetos: Grace Jones é a cool grandma que todos
desejamos ter e que, com certeza, continuará a
surpreender-nos através da sua arte.