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No dia em que chegar o dia, nem é preciso que eu esteja pronto,  Enfatiotado para viagem de rumo incerto E com bagagem feita, além de minha nudez.
Na hora em que chega a hora, a hora incerta, a que não tem seguinte, pretendo apenas estar sóbrio e lúcido, para me servir de boa companhia, pois longa será a travessia e não haverá a chance de chamar alguém.
Quando chegar a visita que não se espera,  não lhe servirei café na xícara nem terei palavras pra lhe saudar a entrada. quero estar mudo como a matéria, que serei de novo, pois quanto mais houver silêncio num adeus, mais comovido será o momento.
Não importa quanto o tempo vivido, pois será sempre escasso. Nem a saudade que fica conta, Pois sempre haverá o vazio imenso...
Quando o dia chegar, sem aviso,  não haverá testamentos a assinar nem encontros combinados a confirmar, muito menos o testemunho de minha ausência.
Será, como sempre, numa hora precária, pois, afinal, precárias são todas as horas e, pelo menos para quem fica, ela terá a vaga importância que tem todas as horas.
Reservo-me apenas o direito de sonhar sozinho o sonho definitivo do último sono,  o delírio final da razão partindo e o último da visão, que escapa.
Não é lícito escrever tanto sobre estas coisas Nem cabe aqui descrever o não sabido,  que, no entanto, é só o que se sabe. Sei apenas que sou pó  E, quando voltar ao pó, de onde venho, Gostarei de ter passado como um cometa, Não apenas um meteorito tonto e esmagar as pedras que rolam no caminho.
Quando eu passar, definitivamente,  Mesmo tendo sido em vão o meu desfile,  quero que meu amor guarde de mim os doces instantes e os inimigos eventuais tenham cebolas a cortar.
Quando hoje houver, mas amanhã nem talvez, Quem tiver cruz a transportar nas costas Que a fixe sobre o chão que me abrigar E meus filhos me possam lembrar Como a semente que teimou em germinar.
Quando mergulhar no mar vazio,  De onde vim, também sem o saber,  Estarei, como nunca, melado Da placenta pastosa das palavras, Berrando ou urro primevo e primal  De todo inexistente que alguma vez tenha existido. São Paulo, madrugada de 7 de março de 1998.
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  • 2. No dia em que chegar o dia, nem é preciso que eu esteja pronto, Enfatiotado para viagem de rumo incerto E com bagagem feita, além de minha nudez.
  • 3. Na hora em que chega a hora, a hora incerta, a que não tem seguinte, pretendo apenas estar sóbrio e lúcido, para me servir de boa companhia, pois longa será a travessia e não haverá a chance de chamar alguém.
  • 4. Quando chegar a visita que não se espera, não lhe servirei café na xícara nem terei palavras pra lhe saudar a entrada. quero estar mudo como a matéria, que serei de novo, pois quanto mais houver silêncio num adeus, mais comovido será o momento.
  • 5. Não importa quanto o tempo vivido, pois será sempre escasso. Nem a saudade que fica conta, Pois sempre haverá o vazio imenso...
  • 6. Quando o dia chegar, sem aviso, não haverá testamentos a assinar nem encontros combinados a confirmar, muito menos o testemunho de minha ausência.
  • 7. Será, como sempre, numa hora precária, pois, afinal, precárias são todas as horas e, pelo menos para quem fica, ela terá a vaga importância que tem todas as horas.
  • 8. Reservo-me apenas o direito de sonhar sozinho o sonho definitivo do último sono, o delírio final da razão partindo e o último da visão, que escapa.
  • 9. Não é lícito escrever tanto sobre estas coisas Nem cabe aqui descrever o não sabido, que, no entanto, é só o que se sabe. Sei apenas que sou pó E, quando voltar ao pó, de onde venho, Gostarei de ter passado como um cometa, Não apenas um meteorito tonto e esmagar as pedras que rolam no caminho.
  • 10. Quando eu passar, definitivamente, Mesmo tendo sido em vão o meu desfile, quero que meu amor guarde de mim os doces instantes e os inimigos eventuais tenham cebolas a cortar.
  • 11. Quando hoje houver, mas amanhã nem talvez, Quem tiver cruz a transportar nas costas Que a fixe sobre o chão que me abrigar E meus filhos me possam lembrar Como a semente que teimou em germinar.
  • 12. Quando mergulhar no mar vazio, De onde vim, também sem o saber, Estarei, como nunca, melado Da placenta pastosa das palavras, Berrando ou urro primevo e primal De todo inexistente que alguma vez tenha existido. São Paulo, madrugada de 7 de março de 1998.
  • 13. Música: Nando Cordel – Pai Nosso – Instrumental Imagens: Internet [email_address] www.mensagensvirtuais.com.br