O primeiro poema descreve a natureza tranquila com o sol brilhando e as aves voando, mas expressa sentimentos de incerteza sobre o futuro e sobre como todas as coisas na vida são passageiras e mutáveis. O segundo poema fala sobre a tristeza de estar longe da terra natal e sobre como a saudade e a dor se estendem sem fim ao se encontrar em uma terra estranha sob céus desconhecidos.
2. O Sol é Grande
O sol é grande, caem co’a calma as aves,
do tempo em tal sazão, que sói ser fria;
esta água que d’alto cai acordar-m’-ia
do sono não, mas de cuidados graves.
Ó cousas, todas vãs, todas mudaves,
qual é tal coração qu’em vós confia?
Passam os tempos vai dia trás dia,
incertos muito mais que ao vento as naves.
Eu vira já aqui sombras, vira flores,
vi tantas águas, vi tanta verdura,
as aves todas cantavam d’amores.
Tudo é seco e mudo; e, de mestura,
também mudando-m’eu fiz doutras cores:
e tudo o mais renova, isto é sem cura!
Sá de Miranda, in 'Antologia Poética'
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32. Por estes Campos sem Fim
Por estes campos sem fim,
onde a vista assim se estende,
que verei, triste de mim,
pois ver-vos se me defende?
Todos estes campos cheios
são de saudade e pesar,
que vem para me matar,
debaixo de céus alheios.
Em terra estranha e em ar,
mal sem meio e mal sem fim,
dor que ninguém não entende,
até quão longe se estende
o vosso poder em mim!
Sá de Miranda, in 'Antologia Poética'