1. 28/01/2016 Será que a banca ainda faz sentido?
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Será que a banca
ainda faz sentido?
00:05 Marco Rodrigues Dias
Vivemos, sem margem para qualquer dúvida, tempos absolutamente
singulares. Não afirmo, de todo, que sejam funestos ou favoráveis,
mas apenas que são únicos, invulgares.
Todos sabemos que há sectores económicos que, pela sua natureza,
são transversais à economia e que essa característica de manterem
interrelações os coloca à parte dos restantes. A banca é um destes
casos. Aliás, é por ser parte de uma rede de relações consideradas
fundamentais para o sistema que nos explicaram a necessidade de
resgate dos bancos, com os custos que foram alocados ao domínio
público.
Para nós, contribuintes, o que releva aqui é sabermos se o tal papel
fundamental da banca ainda existe, se é adequado e se vale o que
temos pago por ele. Para a banca, a questão é diferente. É procurar
saber até que ponto estes tempos são de uma ressaca financeira dos
anos dourados de Wall Street e do dinheiro fácil ou se, porque o
mundo mudou, já não existe um negócio como antes. E esta segunda
hipótese pode ser fundamentada.
O negócio bancário baseava-se, essencialmente, na recolha de
poupanças que eram emprestadas, depois, para investimento. Isso
era antes. A realidade alterou-se e, com alguma probabilidade,
definitivamente: o aforro não estará interessado em ser remunerado
com taxas de juro negativas ou a assumir o risco que as autoridades
decidiram atribuir aos depósitos bancários, tendendo a procurar
alternativas como a participação em fundos ou o investimento em
dívida (obrigações, certificados); quem procura financiamento, como
a banca, também não pode assumir risco como o fazia antes, sendo
obrigado a procurar alternativas, como os particulares, os fundos e,
aos que tiverem essa possibilidade, os mercados.
Num país em que o tecido económico é composto em 99,9% por
micro, pequenas e médias empresas, que representam cerca de 79%
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do emprego e mais de 60% do volume de negócios das não
financeiras, a incapacidade da banca cumprir o seu papel de
financiador da actividade económica pode ser mortal, porque
condiciona o desenvolvimento. Aliás, impede-o.
É neste ponto em que nos encontramos, com a banca debilitada, com
uma muito menor capacidade de captar poupanças, por não ser
atractiva, e com uma incapacidade visível de financiar a economia –
a tal função fundamental que justifica os sucessivos ‘bailouts’.
Sem ter negócio e sem cumprir expectativas, começa a ser difícil
aceitar esta insistência das autoridades em proteger um sector que já
nos custou o equivalente a 10% do PIB.