O documento discute a importância da terra e da natureza para os povos originários. Ele enfatiza que a terra é sagrada e deve ser tratada com respeito, não como uma mercadoria. Também critica as ações destrutivas dos não-indígenas e a exploração dos recursos naturais sem considerar seus impactos. Finalmente, defende a autodeterminação dos povos originários e seu direito de viver de acordo com suas tradições e conexão espiritual com a terra.
A Mãe terra é preciosa e feri-la é desprezar a sua criadora
1. Mallku Chanez Willka Kallawaya
INCÊNDIO TEMPORAL
MARCO TEMPORAL
Tempestades burocratas sem
limites são abusos criminosos
4. A Mãe terra, terra-território, é
uma repetição de ciclos e ritmos
sincronizados e harmonizados, em
total inter-relação com a Pessoa
Paisagem, Alí
3. Era Luqiqaman Tink’u
o valor energético para uso próprio
Originário da transcendência energética do
Tiowayaku no Kollasuyo, Bolívia.
4. Ensinem às suas crianças o que ensinamos às nossas, que a terra é nossa Mãe.
Tudo que acontecer à terra-Mãe acontecerá aos filhos e às filhas da terra.
5. Os povos originários não podem ser despejados de suas
terras-territórios por tempestades pontuais
As Pessoas Paisagens (nativas) bem feitoras
supõem instinto, vontade e coerência.
A ação benéfica delas supõe sensitividade
e virtude, atitudes próprias das que
5. conservaram, nutriram a terra-território
por milênios deliberadamente,
com o propósito, desejo de preservação.
Tudo o que Alí produziu de bom com a
Mãe Terra não foi só por abnegação,
10. foi pela qualidade natural da harmonia e
sincronia das partes para a
sustentabilidade e o benefício de ambos,
ao contrário das máquinas mortíferas dos
produtores rurais brasileiros (AGRO não é tudo!).
15. A vida é todo.
6. Tudo o que usurpam através de
incêndios temporais tem negação a
reciprocidade e a redistribuição de terras.
A consciência malfeitora que produziram, além de
20. trazer o desejo de enriquecimento e de exterminação
dos povos originários, vem acompanhada
do desejo de ESTERILIZAR e SECAR a
vida na Mãe Terra, através de agrotóxicos,
ações contaminantes como desmatamentos
25. e a queima de extensões de
terras férteis, as quais desejam usufruir
para satisfazer seus lucros abomináveis.
Não respeitam a Pacha, o movimento, o tempo,
o espaço vital energético, do presente e do futuro.
30. O futuro é uma repetição de ciclos e ritmos energéticos.
No momento em que aparecem obstáculos naturais,
o movimento retorna à sua origem, às fontes
energéticas ao conhecimento primitivo, às
estratégias de sobrevivência aprovadas pela
35. sabedoria das Pessoas Paisagens no passado.
7. A Mãe terra é preciosa e feri-la é desprezar a sua criadora e o seu sustento
8. O ar é precioso para os povos originários, pois todas as coisas compartilham o mesmo sopro: os ‘Honis’
(nossos mascotes-parentes), as árvores, as pessoas, todos compartilham o mesmo sopro. Parece que o homem e a
mulher branca não sentem o ar que respiram. Como homens e mulheres agonizantes há vários dias, são
insensíveis ao mau cheiro.
2. Portanto, vamos refletir sobre a essência de sua oferta, o limite temporal. Se decidirmos aceitar, imporemos
condições: os homens devem tratar os honis destas terras- território como seus irmãos e suas irmãs.
3. O que é o homem e a mulher sem os seus parentes, os honis (mascotes) Se os honis se fossem, os homens e as
mulheres morreriam de uma grande solidão.
4. O que ocorre com as mascotes, nossos parentes, em breve acontecerá com o homem e com a mulher branca. Há
uma ligação em tudo.
5. Vocês devem ensinar às suas crianças que o solo a seus pés são a cinza de nossos antepassados. Para que
respeitem a terra, digam a suas filhas e seus filhos que ela foi enriquecida com a vida dos povos originários.
6. Ensinem às suas crianças o que ensinamos às nossas, que a terra é nossa Mãe. Tudo que acontecer à terra-Mãe
acontecerá aos filhos e às filhas da terra.
9. 7. Se os homens brancos cospem no solo, estão cuspindo em si mesmos. A terra não pertence ao homem branco;
o homem branco é que pertence à terra. Devem devolver tudo aquilo que dela receberam. Assim, será reintegrada à
natureza aquilo que se desmembrou dos povos originários.
8. Todas as coisas estão ligadas, como o sangue que une a família. Há uma ligação em tudo. Entre o prazer e a dor,
entre a verdade e o erro, entre a memória e o esquecimento, entre o amor e o ódio, entre a virtude e o vício, entre a
beleza e a indignidade, entre o robô e a pobreza.
9. O que ocorrerá com a terra-Mãe recairá sobre os filhos e as filhas da terra. O homem branco não teceu o tear da
vida energética, ele é simplesmente um de seus fios. Tudo o que fizer ao tecido fará a si mesmo. Distanciou-se de
sua dimensão original, da grandeza de sua virtude, da maravilhosa grandiosidade do seu temperamento.
10. Mesmo o homem branco, cujo Deus caminha e fala com ele de amigo para amigo, não pode estar livre do
destino comum. É possível que sejamos irmãos e irmãs, apesar de tudo. Veremos a sua responsabilidade perante o
incêndio temporal criado pelas suas leis.
11. De uma coisa estamos certos e o homem branco poderá vir a descobrir um dia. Nossa Mãe terra não é o mesmo
Deus do homem branco.
12. Vocês podem pensar e desejar possuir nossa terra, mas não é possível. Ela é a Mãe e é igual para o homem
branco e para os povos originários. A Mãe terra é preciosa e feri-la é desprezar a sua criadora e o seu sustento.
10. Ensinem às suas crianças o que ensinamos às nossas, que a terra é nossa Mãe.
11. 13. Os homens e as mulheres brancas também passarão, talvez mais cedo que todas as outras tribos. Contaminem
suas camas, e uma noite serão sufocados pelos próprios dejetos e por outros vírus letais feitos nos laboratórios ou
reproduzidos pela natureza. Não sejamos ignorantes até o cúmulo de fazer cair fleuma, mucosidade, de nossa boca.
14. Mas quando desaparecerem, vocês brilharão intensamente, iluminados pela força de seu Deus que os trouxe a
esta terra e por alguma razão especial lhes deu o domínio material sobre a terra e sobre os povos originários.
15. Esse destino é um mistério para nós, pois não compreendemos que todos sejam ignorados, discriminados,
dominados, usurpados, assassinados, que os recantos secretos da floresta densa estejam impregnados pelo cheiro
fétido de muitos homens, mulheres e crianças mortas, e que os morros estejam obstruídos por fios que falam.
16. Quantos outros se enriqueceram através do sangue dos povos originários? Foram carregando ouro e prata à
‘santa sede do sádico inferno católico’, o Vaticano. Onde está a justiça branca? Por que não foram julgar os
bispos, as coroas sacerdotais e outros, por crimes perante os povos originários? Eles hipocritamente clamam pelos
direitos humanos para sua própria conveniência. Onde está a justiça de seu deus perante os povos originários?
Nunca existiu. Desapareceu.
17. Onde está a água? Desapareceu! É o fim da vida para eles e o início da sobrevivência. Como se pode comprar e
vender o céu dos sádicos católicos, o inferno na terra? O demônio sádico católico é como o espírito obscuro do
inferno. Quando um mau instinto os cega (pedofilia), quando uma posição vulgar os ofusca, dizem que os tenta o
diabo, pode-se dizer que a simbiose com o demônio os alucina.
12. 18. Essa ideia e prática nos parece um pouco estranha. Se não possuímos o céu, o frescor do ar e o brilho da água,
como é possível vendê-los e comprá-los?
19. Cada pedaço desta terra é sagrada para meu povo. Cada ramo e folha brilhante de uma árvore, cada punhado de
areia das praias, a penumbra na floresta densa, cada clareira, cada inseto a zumbir é sagrado na memória e
experiência do meu povo.
20. A seiva que percorre o corpo das árvores carrega consigo as lembranças dos povos originários. Essa água
brilhante que corre nos rios não é apenas água, mas o sangue de nossos antepassados.
21. Se confiscarem nossa terra-território, devem se lembrar de que ela é sagrada, devem ensinar as crianças que ela
é sagrada e que cada reflexo nas águas límpidas dos lagos fala dos acontecimentos e das lembranças da vida de
meu povo. O murmúrio das águas é a voz e o sentimento de meus ancestrais.
22. Os rios são nossos parentes, irmãos e irmãs que saciam nossa sede. Os rios carregam nossas canoas e
alimentam nossas crianças. Os rios são a primeira e a última grandeza cósmica. Preservá-los é a oferenda de nossa
existência, de nosso carinho, de nossa consciência, de nossa vida.
23. Se embargarem nossa terra-território devem se lembrar e ensinar a suas filhas e seus filhos que os rios são
nossos parentes. E que, portanto, vocês devem dar aos rios a importância que dedicariam a qualquer parente de
seu sangue.
13. Devem tratar os honis, mascotes, destas terras- território como seus irmãos e suas irmãs
14. 24. Sabemos que o homem e a mulher branca não compreendem a essência de nossos costumes. Mesmo assim
abaixamos nossa cabeça para sondar as profundezas do nosso ‘divino’. Mas levantamos nossos olhos para nos
deleitar com os cantos dos pássaros criados no grandioso universo, que parece ser a vestimenta com que a
supremacia se oculta da nossa vista.
25. Uma porção de terra-território, para eles, tem o mesmo significado que qualquer coisa, pois são forasteiros que
vem à noite e extraem o “sangue” da Mãe terra. Não pensam, não compreendem e não respeitam o compreendido.
Eles e elas não comtemplam, não vêem, não admiram e não adoram o admirado. Em seus ânimos abstratos só
cabem a “soberba”. Por essa abstração penetra a sua miséria podendo expor a sua ruindade. Ao contrário deles, a
nossa contemplação sente a grandeza da Mãe terra.
26. A terra não é sua mãe nem sua irmã, mas é sua inimiga; quando eles a conquista, arrasam-na, e prosseguem
seu caminho maligno. Os povos originários comtemplam o arco do céu semeado pelas flechas e as estrelas, para
levantar um sublime pensamento à Mãe terra.
27. Deixam para trás os túmulos de seus antepassados e não se incomodam. Extraem da Mãe terra aquilo que seria
de suas filhas e de seus filhos e não se importam com a escassez, carência provocada por seus atos malignos.
Abandonam ao mesmo tempo o sentimento, a crença e a sua fé. Os colonizadores fazem com que não sobre um
mísero diamante na natureza em toda a terra. Seu apetite devorará a Mãe terra, deixando-a como um deserto.
28. A visão de suas cidades fere os olhos do povo originário. Talvez porque sejamos diferentes e não compreendamos
sua solidão, sua ansiedade, sua depressão, seu estresse. No entanto nos sentimos solidários
15. 29. Não há um lugar silencioso nas cidades do homem branco. Nenhum lugar onde se possa ouvir e ver o
desabrochar das flores na primavera ou o bater das asas dos insetos.
Talvez seja porque eu seja uma pessoa diferente e não compreenda. O ruído parece apenas insultar os
meus ouvidos.
30. O que restará na vida das pessoas originárias se não podem ouvir o choro solitário de uma ave ou o debate dos
sapos ao redor de uma lagoa à noite?
31. As Pessoas Paisagens preferem o suave murmúrio dos ventos encrespando as faces dos lagos, e o próprio
vento, limpo por uma chuva diurna e perfumado pelas folhas e flores das árvores.
Assim, refletimos sobre a essência da nossa vida e dizemos não a seus incêndios e terrorismos
midiáticos temporais.
Haylli, Jallallay, haylli, Jallallay
Pela nossa vida, pela nossa identidade …
MallKu Chanez Willka Kallawaya
16. Nascemos Phawary, livres, para
alçar voo, e Phawantaj, livres
queremos continuar ...
MARA WATA
A Ciência Étnica e a
Astronomia Solar do Kollasuyo
O solstício de inverno 2021
associado ao útero, piraguaçu
21 de Junio Ano Novo Andino e
Amazônico