Este documento é um resumo dos anais do 6o Encontro Estadual de História da ANPUH Amazonas sobre os 200 anos de independência e seus significados para a Amazônia. Contém resumos de trabalhos acadêmicos sobre diversos temas históricos relacionados à região, como a história indígena, de gênero, do trabalho e do ensino de história.
2. Texto integrando dos Anais 2022, do VI Encontro Estadual de História – ANPUH Amazonas
– Os 200 anos de Independência e seus significados para a Amazônia. Rafael Ale Rocha;
Leandro Coelho de Aguiar; e Wellington Bernardelli Silva Filho (Orgs.). - 1. ed. - Manaus:
ANPUH -AM; Universidade Federal do Amazonas, 2022.
Organizadores
Dr. Rafael Ale Rocha
Me. Leandro Coelho de Aguiar
Dr. Wellington Bernadelli Silva Filho
Promoção
ANPUH Amazonas
Apoio
ANPUH Brasil
Universidade do Estado do Amazonas
Universidade Federal do Amazonas
Instituto Federal do Amazonas
Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Amazonas
Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas
3. Texto integrando dos Anais 2022, do VI Encontro Estadual de História – ANPUH Amazonas
– Os 200 anos de Independência e seus significados para a Amazônia. Rafael Ale Rocha;
Leandro Coelho de Aguiar; e Wellington Bernardelli Silva Filho (Orgs.). - 1. ed. - Manaus:
ANPUH -AM; Universidade Federal do Amazonas, 2022.
Diretoria da ANPUH Amazonas - Gestão 2020-2022
Presidente: Anderson Vieira Moura (UFAM)
Vice-Presidente: Rafael Ale Rocha (UFAM)
1ª Secretária: Francisca Deusa da Costa
2ª Secretária: Kívia Mirrrana de Souza Pereira (UFAM)
1º Tesoureiro: Wanderlene de Freitas Barros (UFAM)
2º Tesoureiro: Marineide da Silva Ribeiro (UFAM)
Conselho Fiscal
Davi Avelino Leal
Hideraldo Lima da Costa
Maíra Chinelatto Alves
Comitê Organizador do Evento
Dr. Anderson Vieira Moura
Dr. Rafael Ale Rocha
Msc. Diego Omar da Silveira
Dra. Mônica Xavier de Medeiros
Dr. Júlio Cláudio da Silva
Dr. Deilson do Carmo Trindade
Dr. Yomarley Lopes Holanda
Msc. Francisca Deusa Sena da Costa
Msc. Kívia Mirrana de Souza Pereira
Msc. Marineide da Silva Ribeiro
Msc. Evelyn Marcele Campos Ramos
Graduanda Karen Paola C. Branco Gomez
Comitê Técnico-Científico do Evento
Dr. Anderson Vieira Moura
Dr. Rafael Ale Rocha
Dr. Davi Avelino Leal
Dra. Keith Valéria de Oliveira Barbosa
Dr. Hideraldo Lima da Costa
Msc. Diego Omar da Silveira
Dra. Mônica Xavier de Medeiros
Msc. Clarice Bianchezzi
Dr. Júlio Cláudio da Silva
Dr. Deilson do Carmo Trindade
Dr. Yomarley Lopes Holanda
Msc. Leandro Coelho de Aguiar
Comissão Editorial dos Anais
Dr. Rafael Ale Rocha - UFAM
Me. Leandro Coelho de Aguiar – UFAM
Dr. Wellington Bernadelli Silva Filho - UFAM
Equipe Técnica Editorial
Ana Rivick Lira Bernardo – graduanda UFAM
Monize Melo da Silva Chaves – graduanda UFAM
Stefany Menezes do Vale – graduanda UFAM
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– Os 200 anos de Independência e seus significados para a Amazônia. Rafael Ale Rocha;
Leandro Coelho de Aguiar; e Wellington Bernardelli Silva Filho (Orgs.). - 1. ed. - Manaus:
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E56a Encontro Estadual de História (6. : 2022 : Parintins - Amazonas)
Os 200 anos de Independência e seus significados para a Amazônia [Anais 2022 – Livro digital]
/ Rafael Ale Rocha; Leandro Coelho de Aguiar; Wellington Bernadelli Silva Filho (Orgs.). - 1. ed. -
Manaus: ANPUH -AM; Universidade Federal do Amazonas, 2022.
421p. : il., color.
ISBN: 978-65-5839-078-7
Disponível em: www.am.anpuh.org
1. Anais 2022: Encontro estadual de História – ANPUH –AM. 2. História - 200 anos de
Independência (2022). 3. História – Amazônia. 4. História e Regionalidade. I. Rafael Ale Rocha
(Org.). II. Leandro Coelho de Aguiar (Org.). III. Wellington Bernadelli Silva Filho. IV. Universidade do
Estado do Amazonas. IV. Anpuh Amazonas.
CDU 94(811.3)
Observações:
a) Todas as questões tratadas e abordadas nos textos que integram esta publicação são de
exclusiva responsabilidade dos respectivos autores.
b) Como critério de organização dos textos, foi utilizado a ordem alfabética dos autores.
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5. Texto integrando dos Anais 2022, do VI Encontro Estadual de História – ANPUH Amazonas
– Os 200 anos de Independência e seus significados para a Amazônia. Rafael Ale Rocha;
Leandro Coelho de Aguiar; e Wellington Bernardelli Silva Filho (Orgs.). - 1. ed. - Manaus:
ANPUH -AM; Universidade Federal do Amazonas, 2022.
SUMÁRIO
PREFÁCIO ………………………………………………………….……………………….…….................................. P. 08
APRESENTAÇÃO .……………………………………………………….…………………............................…....... P. 10
TEXTOS COMPLETOS
ADRIELLE CRISTINA MACIEL DE ARAUJO; ANDRÉ DAS CHAGAS SANTOS
PATRIMÔNIO MATERIAL NO ENSINO DE HISTÓRIA: O SOLAR DO BARÃO DE SANTARÉM ..............… P. 12
AIDA VASCONCELOS DO NASCIMENTO; GUSTAVO PAIVA DE CARVALHO
SABEDORIA DAS ÁGUAS: A LITERATURA INDÍGENA DE DANIEL MUNDURUKU NO ENSINO
FUNDAMENTAL I ...................................................................................................................... P. 22
ARCÂNGELO DA SILVA FERREIRA; THAIS STEFHANI DE OLIVEIRA LEAL
INDÍGENAS, MESTIÇAS E NEGRAS, NA AMAZÔNIA DO SÉCULO XIX: NUANCES DA TRAJETÓRIA HISTÓRICA
DAS MULHERES NA AMAZÔNIA A PARTIR DA ÓTICA DOS NATURALISTAS ALFRED RUSSEL WALLACE,
HENRY WALTER BATES E LOUIS E ELIZABETH AGASSIZ ................................................................. P. 37
ARTHUR FIGUEIRA DO NASCIMENTO
A TEMÁTICA INDÍGENA NAS LETRAS E SONORIDADES DAS TOADAS AMAZÔNICAS: NARRATIVAS DAS
TRADIÇÕES E LUTAS CONTADAS A PARTIR DE UM SOM ............................................................... P. 46
BÁRBARA HARIANNA BRITO DE CABRAL
PROFISSÕES PARA MULHERES EM MANAUS (1890-1930): REAÇÕES EXPRESSAS EM PERIÓDICOS LOCAIS
ÀS MUDANÇAS NOS PAPÉIS SOCIAIS DE GÊNERO......................................................................... P. 57
CEANE ANDRADE SIMÕES
ONDE NÃO CABEM PARÊNESES VAZIOS: CURRÍCULOS PRATICADOS, TERRITORIALIDADES
E MEMÓRIAS ........................................................................................................................... P. 70
DANIELA REBELO MONTE TRISTAN
OPERÁRIOS TÊXTEIS NA BUSCA POR DIREITOS: SANTARÉM (PA), 1964-1990 ........………................. P. 83
DEBORAH VILHENA TRINDADE
O JORNAL CORREIO DO NORTE E AS DISPUTAS OLIGÁRQUICAS NO AMAZONAS (1906-1912) …….... P. 93
DEILSON DO CARMO TRINDADE
A TRAJETÓRIA DE EDUARDO REPOLHO NO OFÍCIO DE FERREIRO NO BOI-BUMBÁ DE PARINTINS ....P. 103
6. Texto integrando dos Anais 2022, do VI Encontro Estadual de História – ANPUH Amazonas
– Os 200 anos de Independência e seus significados para a Amazônia. Rafael Ale Rocha;
Leandro Coelho de Aguiar; e Wellington Bernardelli Silva Filho (Orgs.). - 1. ed. - Manaus:
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FABIANE QUEIROZ DE FREITAS REBELO
DO ENSINO REMOTO AO PRESENCIAL: A JORNADA DE APRENDIZAGEM NA EXPERIÊNCIA DE ENSINO DE
HISTÓRIA NA E. E. NATHALIA UCHOA ……..…............................................................................. P. 121
FRANSOAR SOUZA DOS SANTOS
MENSURANDO AS PRERROGATIVAS REGIONAIS FRENTE AO PODER CENTRAL: UM ESTUDO SOBRE A
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA PROVINCIAL DO AMAZONAS (1852-1889) ...................................... P. 136
GEIZE VIEIRA DE ALMEIDA
A PREFEITA ESQUECIDA: HISTÓRIA ORAL E MEMÓRIA NA TRAGETÓRIA POLITICA DE MARIA DA
CONCEIÇÃO SILVA .............……………………………………………………..............….....…...................... P. 147
GIOVANNA MUNIZ BRELAZ; ALICE DE JESUS SILVA REIS; HAROLDO JOSÉ DE S. GODINHO
JUNIOR; IAGO CÉSAR O. PESSOA; JOANDREO BATALHA CAMPOS
A HISTÓRIA DO VOTO NO BRASIL: CONSIDERAÇÕES PARA O TRABALHO COM A TEMÁTICA EM SALA DE
AULA ..................................................................................................................................... P. 158
GISELE DA SILVA REZK
OS MÁGICOS DO AMOR: RITOS E ENCANTAMENTOS DOS CONFITETES PARAENSES DURANTE A
VISITAÇÃO DO SANTO OFÍCIO AO ESTADO DO GRÃO-PARÁ (1763-1769) ..................................... P. 168
GEOVANA NATIELY ALVES LINO; IRAND SANTIAGO; LUCAS ARAÚJO LEAL; VICTOR PAULO
AZEVEDO MARINHO
MOVIMENTO ESTUDANTIL E ENSINO DE HISTÓRIA: POSSIBILIDADES PARA O TRABALHO EM SALA DE
AULA ................................................................................………….......................................... P. 177
ISABEL CRISTINA SABOIA VARÃO
A JUSTIÇA DO TRABALHO EM TERRITÓRIO AMAZÔNICO: UMA INSTITUIÇÃO OCUPADA POR
TRABALHADORES (1941-1982) ..........…………………………………………...….................................…. P. 184
IZABEL CRISTINE SILVA DOS SANTOS
“SOU MAIS PROFUNDO RUMINANDO”: A QUESTÃO INTELECTUAL DE MACHADO DE ASSIS .......... P. 193
JÉSSICA DAYSE MATOS GOMES
NEGROS EM PARINTINS: PRESENÇA QUE RESISTE NO PÓS-ABOLIÇÃO ........……..…....................... P. 203
JUCINARA CABRAL DA SILVA
TRAJETÓRIA DE MARIA AMÉLIA DOS SANTOS CASTO (2011-2016) RIO ANDIRÁ-BARREIRINHA/AM P. 216
JÚLIO CÉZAR DA SILVA RIBEIRO; E ROSIMAY CORRÊA
HISTÓRIA E MEMÓRIA: PESCADORES DE CANIÇO DA BAIXA DO SÃO JOSÉ EM PARINTINS/AM ....... P. 225
JURANDIR PIMENTEL BRANCO FILHO
DALCÍDIO JURANDIR E O MODERNISMO NA ARENA POLÍTICA DOS ANOS 1930-1950 .................... P. 205
7. Texto integrando dos Anais 2022, do VI Encontro Estadual de História – ANPUH Amazonas
– Os 200 anos de Independência e seus significados para a Amazônia. Rafael Ale Rocha;
Leandro Coelho de Aguiar; e Wellington Bernardelli Silva Filho (Orgs.). - 1. ed. - Manaus:
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LADEME CORREIA DE SOUSA; DIEGO MARINHO DE GOIS
(RE)CONSTRUÍNDO AULAS POR MEIO DOS RELATÓRIOS DE ESTÁGIOS SUPERVISIONADOS EM
HISTÓRIA ............................................................................................................................... P. 249
MAIARA ANDRADE PAES
ENTRE MEMÓRIAS E NARRATIVAS: A LUTA PELOS ROYALTIES DA MINERAÇÃO EM JURUTI/PA ...... P. 259
MARCO AURELIO QUINTANILHA
MUSEU DO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO AMAZONAS: MEMÓRIA INSTITUCIONAL E DA
SOCIEDADE AMAZONENSE ...................................................................................................... P. 270
MATHEUS MENDONÇA AZEVEDO
ENTRE O PRESENTISMO NAUSEANTE E QUATRO PAREDES CLAUSTROFÓBICAS: DIÁLOGOS,
DIFERENÇAS E APROXIMAÇÕES ENTRE FRANÇOIS HARTOG E HANS ULRICH GUMBRECHT ….......… P. 279
MÔNICA CRISTINA SOUZA MELO
A TEMÁTICA AMBIENTAL DECORRENTE DA URBANIZAÇÃO NO ENSINO DE HISTÓRIA EM
PARINTINS/AM ...................................................................................................................... P. 288
NINA LAVAREDA PEREIRA; ROSIMAY CORRÊA
DEVOÇÃO E DIVERSÃO NOS CORDÕES DE PÁSSARO JAÇANÃ E PAVÃO MISTERIOSO NO DISTRITO DO
MOCAMBO EM PARINTINS, AMAZONAS ………………………………………………..…..……..................... P. 295
PAOLA DA CRUZ RODRIGUES
CRIME E CRIMINALIZAÇÃO DE MOVIMENTOS SOCIAIS, TRABALHADORES E VIDA URBANA
(MANAUS, 1978-1989) ………………………………………………………………..…..................................... P. 306
PAULO DE OLIVEIRA NASCIMENTO
BOVINOS PARA A CAPITAL: NOTAS SOBRE O ABASTECIMENTO DE “CARNES VERDES” NA PROVÍNCIA DO
AMAZONAS (1850 - 1860) ……………………………………….…………………........................…............... P. 317
PEDRO MARCOS MANSOUR ANDES
HISTÓRIA E MEMÓRIA DA 1ª JUNTA DE CONCILIAÇÃO E JULGAMENTO DE MANAUS: AS FONTES DA
JUSTIÇA DO TRABALHO DA MANAUS DO ESTADO NOVO ............................................................ P. 330
RAQUEL GRAÇA DE SOUZA
RELAÇÕES DE GÊNERO NA ESCOLA: ABORDANDO AS DIFERENÇAS HIERARQUIZADAS ENTRE MENINOS E
MENINAS EM UMA ESCOLA DO MUNICÍPIO DE PARINTINS – AM .............…….………………….....….. P. 343
RODOLFO ALMEIDA DE AZEVEDO; DAVI PINHEIRO DOS SANTOS; ANDRÉ SILVA JÚNIOR
POLÍTICA DE PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO DOCUMENTAL DO ESTADO DO AMAZONAS ...…..... P. 351
SAMUEL LUZEIRO LUCENA DE MEDEIROS
OS PRIMEIROS CARGOS MÉDICOS OFICIAIS DO ESTADO DO BRASIL (SÉC.XVI) ………..……............... P. 361
8. Texto integrando dos Anais 2022, do VI Encontro Estadual de História – ANPUH Amazonas
– Os 200 anos de Independência e seus significados para a Amazônia. Rafael Ale Rocha;
Leandro Coelho de Aguiar; e Wellington Bernardelli Silva Filho (Orgs.). - 1. ed. - Manaus:
ANPUH -AM; Universidade Federal do Amazonas, 2022.
SIDNEY BARATA DE AGUIAR
A CULTURA HIP HOP “INVADE” O CENTRO CULTURAL DOS POVOS DA AMAZÔNIA (CCPA) ….......… P. 371
TALITA GAMA DE MAGALHÃES
VIOLÊNCIA E PRÁTICA TUTELAR NA AMAZÔNIA: SERVIÇO DE PROTEÇÃO AOS ÍNDIOS – FUNDAÇÃO
NACIONAL DO ÍNDIO (1967-1969) ……….................................................................................… P. 379
THAÍS RODRIGUES ARAGÃO
ARQUIVOS UNIVERSITÁRIOS NO MEMORIAL INSTITUCIONAL NA UFAM ...................................... P. 390
VANESSA CRISTINA DA SILVA SAMPAIO
A CLASSE NOS TRIBUNAIS׃ REPRESENTATIVIDADE E DISPUTAS POLÍTICAS NO SINDICATO DOS
METALÚRGICOS DO AMAZONAS EM 1984 ………………………….…………………………...……................ P. 400
YOMARLEY LOPES HOLANDA; CRISTIANE DA SILVEIRA
A TESSITURA DE UM NOVO INDIANISMO NO FESTIVAL FOLCLÓRICO DE PARINTINS (2017) ........... P. 411
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9. Texto integrando dos Anais 2022, do VI Encontro Estadual de História – ANPUH Amazonas
– Os 200 anos de Independência e seus significados para a Amazônia. Rafael Ale Rocha;
Leandro Coelho de Aguiar; e Wellington Bernardelli Silva Filho (Orgs.). - 1. ed. - Manaus:
ANPUH -AM; Universidade Federal do Amazonas, 2022.
PREFÁCIO
Diante de todos os ataques à democracia brasileira vividos a partir de 2016, discutir o
bicentenário da Independência do Brasil se impunha como oportunidade de reflexão que a
profissão de historiador se compromete a promover. Impossível desconsiderar um contexto
conturbado, no qual distorções sobre o sentido da palavra liberdade e pactos de silêncio
vivenciados nas famílias, espaços de trabalho e lazer, e até mesmo em relacionamentos
amorosos expressam uma atmosfera onde o debate e a divergência de ideias exercida de forma
não violenta foi sequestrada. Para além da necessidade de entender pensamentos que
embasam discursos nacionalistas autoritários, vale também expandir olhares sobre ideários
políticos e projetos de nação dos ideólogos da Independência, suas transformações e
permanências. Assim o tema Os 200 anos de Independência e seus significados para a Amazônia
possibilitou discutir o passado e o presente de uma região cujo conhecimento histórico vem se
ampliando a cada dia, a partir de seus programas de pós-graduação. Recebemos 24 submissões
de propostas de simpósios temáticos e optamos por disponibilizá-los integralmente à
comunidade de historiadores regionais, objetivando estimular a adesão às diferentes temáticas,
até para mensurarmos o grau de adesão e amadurecimento desses debates localmente.
Realizaram-se em 16 simpósios temáticos 120 apresentações. Parte deles está disponibilizada
na presente obra. A Associação Nacional de História – Seção Amazonas (ANPUH-AM) agradece
a cada coordenador/a e apresentador/a de trabalho que colaborou com mais essa empreitada
da entidade.
Contamos com a participação de colegas historiadores e historiadoras do Acre,
Rondônia, Roraima, Pará, São Paulo, Minas Gerais, além de Tefé, Parintins e Manaus no
Amazonas. Também ficamos gratificados pela adesão e participação de graduados e graduandos
formados pelos colegas do Centro de Estudos Superiores de Parintins (CESP-UEA), oriundos dos
municípios de Itacoatiara, Boa Vista do Ramos e Barreirinha.
E aqui aproveitamos para registrar porque optamos por realizar o evento em Parintins.
Interiorizar as atividades da ANPUH-AM é um objetivo que vem se colocando nas cartas-
programa de gestões anteriores nesses últimos 12 anos. Há 10 anos atrás, em 2012, fez-se uma
tentativa de realizar o encontro estadual em Parintins, mas os parcos recursos financeiros foram
o principal fator impeditivo.
De lá para cá, a Universidade do Estado do Amazonas consolidou ações no interior do
Estado e os colegiados das duas graduações de História, disponibilizadas em Tefé (CEST) e
Parintins (CESP), alcançaram resultados animadores, não só em termos de formação, como de
10. Texto integrando dos Anais 2022, do VI Encontro Estadual de História – ANPUH Amazonas
– Os 200 anos de Independência e seus significados para a Amazônia. Rafael Ale Rocha;
Leandro Coelho de Aguiar; e Wellington Bernardelli Silva Filho (Orgs.). - 1. ed. - Manaus:
ANPUH -AM; Universidade Federal do Amazonas, 2022.
projetos. E o uso das videoconferências imposto como meio de dar continuidade às atividades
acadêmicas no contexto pandêmico acabou por nos proporcionar uma aproximação com os
colegas historiadores e historiadoras dos colegiados de Tefé e Parintins, resultando que a
ANPUH-AM promoveu, em formato remoto, a Jornada Científica “A formação de professores de
História no interior do Amazonas”, entre 19/08 e 02/09/21. Os quadros apresentados pelos dois
colegiados no evento nos convenceram de vez a buscar condições para realizar o VI Encontro
Estadual de História no interior, seja para aproximar a entidade desses colegas mais distantes
da capital e levar até lá o debate proposto nessa edição, seja para promover e intensificar
intercâmbios entre os colegas da capital, de Tefé e Parintins. Aproveitamos para agradecer a
franca disponibilidade do colegiado de Parintins, sob coordenação do colega Diego Omar da
Silveira, em recepcionar o evento e compartilhar a organização conosco.
Avaliamos exitoso o resultado dessa escolha de sediar o encontro estadual em Parintins, e vocês
podem conferir essa nossa percepção pela diversidade de debates contidos aqui nos anais do
evento.
À FAPEAM, nosso agradecimento especial. Sem o amparo financeiro obtido nos
programas POP e PAREV não teria sido possível realizá-lo com a grade de convidados locais e
nacionais.
Finalizamos agradecendo a todos os envolvidos nas atividades do VI Encontro Estadual
de História da ANPUH-AM: membros da diretoria, colegas de Tefé e Parintins, monitores, equipe
operacional de acadêmicos de História da UFAM.
Anderson Vieira Moura
Rafael Ale Rocha
Francisca Deusa Sena da Costa
Kívia Mirrana de Souza Pereira
Wanderlene de Freitas Barros
Marineide da Silva Ribeiro
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11. Texto integrando dos Anais 2022, do VI Encontro Estadual de História – ANPUH Amazonas
– Os 200 anos de Independência e seus significados para a Amazônia. Rafael Ale Rocha;
Leandro Coelho de Aguiar; e Wellington Bernardelli Silva Filho (Orgs.). - 1. ed. - Manaus:
ANPUH -AM; Universidade Federal do Amazonas, 2022.
APRESENTAÇÃO
Como qualquer escolha, não foi fortuita a eleição do tema do evento que deu base a
estes anais: o VI Encontro Estadual de História da ANPUH Amazonas, que, entre os dias 18 e 21
de outubro, na cidade de Parintins, discutiu Os 200 anos da Independência e seus significados
para a Amazônia. É sabido que, em âmbito nacional, no presente ano múltiplos eventos,
acadêmicos ou não, optaram por debater os contextos e as conjunturas que resultaram na
independência brasileira, historicamente convencionada como declarada em 07 de setembro de
1822. No caso da região então conhecida como Estado do Grão-Pará e Rio Negro, parte
integrante da chamada Amazônia Portuguesa, a adesão à emancipação ocorreu somente em
meados de agosto de 1823. Em outras palavras, a Amazônia e o Brasil coloniais, cujos respectivos
processos históricos possuem semelhanças e diferenças, complementaridades e
particularidades, antes apartados em unidades administrativas distintas – mas não isoladas –
passaram a integrar um mesmo Império do Brasil.
Atualmente, sabe-se que os debates acerca dos impactos da independência do Brasil
sobre a Amazônia destacam, além de sua relação com o restante do território nacional e com as
conjunturas e os contextos internacionais (especialmente no que se refere às fronteiras da
Amazônia brasileira com outras jovens nações americanas em contemporâneos processos
independentistas), envolveram múltiplos agentes, interesses, ideologias e, dentre outros
elementos, práticas. Enfim, tais discussões permitiram a abertura de diversos campos de
pesquisa sobre temáticas variadas. Nesse sentido, os trabalhos apresentados nos 16 simpósios
realizados durante os quatro dias de evento, resultando nos 38 artigos que compõem este anais,
refletem tal diversidade temática e, naturalmente (como um evento que não se fecha em sua
temática principal), cronológica. Nesse sentido, os textos abordam o ensino de história (campo
em franco crescimento nos IES brasileiros), a literatura, os estudos de gênero, a história indígena
(a partir de nuances diversos, em especial o protagonismo destes agentes) e indigenista, os
movimentos sociais, a atuação da justiça estatal, os trabalhadores do campo e das cidades, as
diversas manifestações da cultura popular e erudita, as ações políticas no interior das estruturas
institucionais do estado (especialmente a ação político-partidária), diversos aspectos da história
dos negros e da escravidão, o estudo da teoria da história, a temática ambiental e a urbanização,
os diversos aspectos relativos aos patrimônios materiais e imateriais.
Em âmbito especial, os trabalhos que integram este anais refletem a opção da ANPUH-
AM pela realização do evento presencial em município do interior do Estado do Amazonas,
12. Texto integrando dos Anais 2022, do VI Encontro Estadual de História – ANPUH Amazonas
– Os 200 anos de Independência e seus significados para a Amazônia. Rafael Ale Rocha;
Leandro Coelho de Aguiar; e Wellington Bernardelli Silva Filho (Orgs.). - 1. ed. - Manaus:
ANPUH -AM; Universidade Federal do Amazonas, 2022.
antiga ambição da associação. Destaque-se o caráter presencial do evento, passados cerca de
dois anos da pandemia da COVID 19 – que ceifou vidas e impactou sobre o andamento das
atividades acadêmicas (bem como sobre aspectos os mais diversos referentes às sociedades
brasileira e global) –, uma difícil decisão amplamente debatida pela diretoria da associação com
parceiros instalados na cidade sede do evento (com destaque para os professores da
Universidade do Estado do Amazonas), visto que a organização do simpósio iniciou-se em 2021
(quando não se sabia exatamente os rumos que a pandemia iria tomar). Assim sendo, os textos
que se seguem refletem tal opção, visto que muitos trabalhos abordam regiões interioranas da
Amazônia Portuguesa, da província do Amazonas e do Estado do Amazonas, mas, é importante
destacar, também estudam a capital (Manaus) e regiões e/ou agentes do Brasil e de outras
partes do mundo – em especial no que se refere aos trabalhos sobre os primeiros cargos
médicos do Brasil da era colonial, os naturalistas estrangeiros que atuaram na Amazônia durante
o século XIX e as obras de François Hartog e Hans Ulrich Gumbrecht. Por fim, em âmbito
cronológico, os textos que compõem este anais abordam do século XVI ao XXI.
Enfim, como se vê, as pesquisas debatidas durante o VI Encontro Estadual de História da
ANPUH-AM, em relação às temáticas e aos agentes históricos abordados, extrapolaram a ideia
de que um personagem específico ou um evento emblemático, por si sós, podem determinar o
devir da história – como, respectivamente, D. Pedro I, que em uma interpretação mais
nacionalista poderia encarnar o “herói” da independência (cujo coração, aliás, fora transportado
ao Brasil durante a “comemoração” do bicentenário), e o ato da emancipação propriamente
dita, que, conforme alguns, transformou-se num feriado nacional passível de apropriações
político-partidária no tenso ambiente eleitoral do ano de 2022.
Boa Leitura!
Leandro Coelho Aguiar
Rafael Ale Rocha
Wellington Bernardelli Silva Filho
13. 12
Texto integrando dos Anais 2022, do VI Encontro Estadual de História – ANPUH Amazonas
– Os 200 anos de Independência e seus significados para a Amazônia. Rafael Ale Rocha;
Leandro Coelho de Aguiar; e Wellington Bernardelli Silva Filho (Orgs.). - 1. ed. - Manaus:
ANPUH -AM; Universidade Federal do Amazonas, 2022.
PATRIMÔNIO MATERIAL NO ENSINO DE HISTÓRIA: O SOLAR DO BARÃO DE SANTARÉM
MATERIAL HERITAGE IN HISTORY TEACHING: THE BARON OF SANTARÉM’S OLD HOUSE
Adrielle Cristina Maciel de Araujo
André das Chagas Santos (orientador)
RESUMO: A relação entre patrimônio material e sociedade pode ser estabelecida por meio do
conhecimento e reconhecimento dos espaços históricos como portadores de uma memória coletiva.
Neste sentido, este texto tem como objetivo demonstrar o potencial informativo das construções
históricas e sua utilização para o ensino de História, tomando como exemplo o caso do Solar do Barão
de Santarém. Considera-se o conceito de memória de Pierre Nora (1993), o qual afirma que esses
lugares guardam a memória de seu tempo através de seus traços arquitetônicos. Para construção
deste texto, realizou-se uma pesquisa bibliográfica sobre o Solar do Barão em Nelson Papavero e
William L. Overal (2011). O uso didático dos casarões históricos contribui para a valorização da história
local e a formação da consciência histórica, tornando o aprendizado mais dinâmico e possibilitando
aos alunos aprenderem sobre aspectos gerais do conteúdo obrigatório ao mesmo tempo em que
estudam e reconhecem a própria História.
PALAVRAS-CHAVE: Patrimônio histórico; Santarém; Educação Patrimonial;
ABSTRACT: The relationship between material heritage and society can be established through the
knowledge and recognition of historical spaces as bearers of a collective memory. In this sense, this
text aims to demonstrate the informative potential of historical buildings and their use for teaching
History, taking as an example the case of the Baron of Santarem’s Old House. Pierre Nora's concept of
memory (1993) is considered, which states that these places keep the memory of their time through
their architectural features. For the construction of this text, a bibliographical research was carried out
on the Solar do Barão Nelson Papavero and William L. Overal (2011). The didactic use of historic
mansions contributes to the appreciation of local history and the formation of historical awareness,
making learning more dynamic and enabling students to learn about general aspects of the mandatory
content while studying and recognize History itself.
KEYWORDS: Historic heritage; Santarém; Heritage Education;
1. INTRODUÇÃO
A relação entre patrimônio e sociedade precisa ser estabelecida inicialmente através
do conhecimento e reconhecimento desses espaços como portadores de uma memória
coletiva. Nesse sentido, o Iphan aponta a prática da Educação Patrimonial como meio eficiente
para realizar a mediação entre a comunidade e os bens culturais locais, criando “espaços de
aprendizagem e interação que facultem a mobilização e reflexão dos grupos sociais em relação
ao seu próprio patrimônio” (IPHAN, 2014, p. 23).
A partir da possibilidade e da importância de se desenvolver a Educação Patrimonial
em diversas instituições públicas, veremos neste trabalho que as escolas regulares são
14. 13
Texto integrando dos Anais 2022, do VI Encontro Estadual de História – ANPUH Amazonas
– Os 200 anos de Independência e seus significados para a Amazônia. Rafael Ale Rocha;
Leandro Coelho de Aguiar; e Wellington Bernardelli Silva Filho (Orgs.). - 1. ed. - Manaus:
ANPUH -AM; Universidade Federal do Amazonas, 2022.
ambientes com potencial para inserção de recursos educativos capazes de estimular a
formação da consciência histórica nos indivíduos. O ambiente escolar se apresenta como um
dos espaços abertos ao desafio da Educação Patrimonial “e especialmente os professores de
História têm sido convocados e sensibilizados para essa tarefa” (BITTENCOURT, 2008, p. 277),
buscando discutir temas culturais a fim de gerar a valorização e preservação do patrimônio
histórico por meio reconhecimento e identificação com a cultura local.
Este texto tem como objetivo mostrar o potencial informativo das construções
históricas e as possibilidades de sua utilização no ensino de História, tomando como objeto de
estudo o Solar do Barão de Santarém. Empregaremos o conceito de “lugares de memória” de
Pierre Nora (1993) o qual afirma que esses espaços guardam a memória de seu tempo e, desse
modo, nos permite acessar aspectos de sociedades passadas através de seus traços
arquitetônicos. A escolha do Solar do Barão se deve ao fato de ser o segundo prédio mais
antigo de Santarém, de meados do século XIX, e por ter pertencido a uma das figuras mais
conhecidas da cidade, Miguel Antônio Pinto Guimaraes, o Barão de Santarém.
2. METODOLOGIA
Para construção deste trabalho, realizamos inicialmente uma pesquisa bibliográfica
sobre a questão do Patrimônio Cultural no Brasil, bem como consultamos fontes a respeito do
Solar do Barão com o objetivo de identificar informações sobre a construção, além de abordar
a vida do próprio Barão de Santarém e sua influência no meio social. Para isso, tomamos como
referência alguns trabalhos como a dissertação de Estefany Couto (2013) sobre o estilo
arquitetônico e características coloniais. Também citamos obras de autores locais como Wilde
Dias da Fonseca (1996) e Paulo Rodrigues dos Santos (1999), para informações sobre
Santarém no século XIX.
Para as informações referentes ao Barão de Santarém, utilizamos a obra de Nelson
Papavero e William L. Overal (2011). Analisamos ainda o Blog do Padre Sidney Canto: história,
memória e cultura da região Oeste do Pará e fontes primárias como jornais e registros
fotográficos. Os dados colhidos dessas fontes foram cruzados com outras bibliografias
referentes ao século XIX como Sobrados e Mucambos de Gilberto Freyre (1997) e Quintais
Urbanos: Funções e Papéis na Casa Brasileira e Amazônica, de Helena Tourinho e Maria Silva
(2016), que forneceram a base para discussões sobre os comportamentos sociais do período,
como as maneiras de morar da classe dominante.
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Texto integrando dos Anais 2022, do VI Encontro Estadual de História – ANPUH Amazonas
– Os 200 anos de Independência e seus significados para a Amazônia. Rafael Ale Rocha;
Leandro Coelho de Aguiar; e Wellington Bernardelli Silva Filho (Orgs.). - 1. ed. - Manaus:
ANPUH -AM; Universidade Federal do Amazonas, 2022.
A análise das informações obtidas sobre a vida do Barão de Santarém, por sua vez,
abriu espaço para tratar questões como a desigualdade socioeconômica crescente em
Santarém a partir do século XIX com o lucrativo comércio do cacau na região, criando abismos
econômicos entre os grupos sociais e fazendo com que figuras locais se tornassem cidadãos
“ilustres”, dotados de grande notoriedade.
3. PATRIMÔNIO MATERIAL E EDUCAÇÃO PATRIMONIAL
No Brasil, a ideia de patrimônio nasceu atrelada ao conceito de identidade, mais
precisamente identidade nacional. A criação do Sphan, em 1937, fez parte de uma política do
Estado Novo varguista que pretendeu valorizar a História Nacional, e para isso, buscou mapear
e patrimonializar espaços que gerassem identificação nos cidadãos. Nesse sentido, a
patrimonialização de casarões considerados históricos ganhou força. Desde o tombamento da
cidade de Ouro Preto, em Minas Gerais, foram tombadas diversas outras casas herdadas de
diferentes épocas do Brasil, como o Palacete do Batel (1914), no Paraná; o Palacete Pedro
Osório (1901), no Rio Grande do Sul ou a Casa da Ipiranga (1884), no Rio de Janeiro.
Casas, igrejas, teatros, engenhos, museus, templos, pontes e torres são exemplos de
patrimônio histórico arquitetônico, construções que devido suas durabilidades atravessam
épocas e costumes diferentes tornando-se testemunhos do passado. Assim, podemos dizer
que esses espaços guardam parte da memória de seu tempo em seus estilos artísticos, suas
técnicas de construção e no poder de representação cultural que possuem, podendo
contribuir para o entendimento da história local ao longo do tempo.
Para ser mais coerente, utilizamos o conceito do francês Pierre Nora que chama esses
espaços de “lugares de memória” e segundo ele:
Os lugares de memória são, antes de tudo, restos. A forma extrema onde
subsiste uma consciência comemorativa numa história que a chama, porque
ela a ignora. É a desritualização de nosso mundo que faz aparecer a noção. O
que secreta, veste, estabelece, constrói, decreta, mantém pelo artifício e
pela vontade uma coletividade fundamentalmente envolvida em sua
transformação e sua renovação. Valorizando, por natureza, mais o novo que
o antigo, mais o jovem que o velho, mais o futuro do que o passado. Museus,
arquivos, cemitérios e coleções, festas, aniversários, tratados, processos
verbais, monumentos, santuários, associações, são os marcos testemunhas
de uma outra era, das ilusões de eternidade (NORA, 1993, p. 12-13, grifo do
autor).
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Texto integrando dos Anais 2022, do VI Encontro Estadual de História – ANPUH Amazonas
– Os 200 anos de Independência e seus significados para a Amazônia. Rafael Ale Rocha;
Leandro Coelho de Aguiar; e Wellington Bernardelli Silva Filho (Orgs.). - 1. ed. - Manaus:
ANPUH -AM; Universidade Federal do Amazonas, 2022.
Assim, para Nora (1993) os “lugares de memória” são espaços reivindicados pela
História como detentores de uma memória coletiva e que através deles a própria História
constrói narrativas e representações daquilo que não mais existe. A constituição desses
espaços não é espontânea, mas surge da necessidade de preservação da memória. O conceito
de Nora é amplo e se estende a outros “lugares” além dos monumentos, mas sua discussão
em torno da valorização da memória vai de encontro ao atual processo de “patrimonialização”
desses espaços e daquilo que representam.
No caso de casarões históricos é importante levar em consideração que “normalmente
os monumentos históricos são marcos de pessoas poderosas ou do poder oficial e, portanto,
esses poderiam ser vistos como os construtores exclusivos da memória histórica”
(BITTENCOURT, 2008, p. 279), podendo representar uma minoria social e financeiramente
privilegiada. Porém, mesmo diante desse aspecto elitista, consideramos os casarões
testemunhos do tempo vivido e capazes de informar sobre sociedades passadas.
Portanto, ao mesmo tempo em que o patrimônio arquitetônico informa sobre o
passado também estabelece uma relação com o presente, por esse motivo, pode apresentar-
se como uma importante ferramenta para o ensino de História, pois é visto como um vestígio
da ação humana carregado de historicidade e em constante diálogo com outras
temporalidades. Dessa maneira, ao serem utilizadas como fontes históricas, essas construções
possibilitam o aprendizado e a compreensão dos períodos históricos nos quais estiveram
inseridas, promovendo identificação para com o bem cultural e o reconhecimento de seu valor
para a história local.
Assim, a Educação Patrimonial se apresenta como meio capaz de manifestar a
potencialidade dos monumentos através de um trabalho de análise de suas características
históricas. Mas como lidar com o patrimônio histórico em sala de aula? Segundo Helena Pinto
(2017), a educação patrimonial deve ser introduzida no ensino de História por meio de
critérios metodológicos que tornem a aprendizagem significativa, para isso deve-se
“selecionar conteúdos relacionados com a história local, introduzindo de forma interessante
e adequada ao currículo a abordagem do patrimônio” (p. 211), de modo que a investigação
das fontes patrimoniais propicie o desenvolvimento da consciência histórica.
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Leandro Coelho de Aguiar; e Wellington Bernardelli Silva Filho (Orgs.). - 1. ed. - Manaus:
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Bittencourt (2008, p. 281) aponta alguns procedimentos necessários para este tipo de
estudo do meio, são eles: reconhecimento do espaço social e listagem das fontes; estudo
bibliográfico prévio do local; definição da problemática/tema; estruturação de um roteiro;
preparação de um caderno de campo; execução do estudo do meio em si; e, por fim, a
avaliação dos dados coletados em campo. Em sala, o professor deve explorar as informações
disponíveis sobre a construção histórica em questão, como localização, primeiro proprietário,
formas de uso, data de início e término da obra, detalhes da arquitetura, influências artísticas,
engenheiro responsável (caso houver) e até mesmo a procedência dos materiais usados.
Depois de colhidos, esses dados precisam ser contextualizados para que o monumento
possa de fato “falar” sobre seu tempo e sobre a conjuntura social e política a que pertence.
Considerar a vida do proprietário é outro fator importante para o uso didático dos patrimônios
históricos. Por meio de uma breve análise podemos conhecer sua profissão, origem familiar,
poder aquisitivo, classe social e atuação pública. Com base nesses dados acessaremos o lugar
social da propriedade patrimonializada, ou seja, seus objetivos e representações no meio
social.
4. PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARQUITETÔNICO EM SANTARÉM: POSSIBILIDADES DE USO DO
SOLAR DO BARÃO NO ENSINO DE HISTÓRIA
Com o objetivo de demonstrar a potencialidade do patrimônio histórico arquitetônico
para o ensino de História, tomaremos como exemplo um dos casarões históricos da cidade de
Santarém, conhecido popularmente como Solar do Barão de Santarém, uma casa construída
no século XIX e que apresenta poucas intervenções em sua estrutura original. Buscaremos
analisar a capacidade desse monumento como fonte a ser utilizada em sala de aula, partindo
de seus traços arquitetônicos para compreender o contexto social da cidade em questão no
século XIX, ou seja, explorar seu potencial de informar sobre as relações sociais e econômicas
numa cidade amazônica daquele contexto e as representações que esse espaço carrega até o
presente como patrimônio local, mesmo que ainda não tombado pelo IPHAN.
O Solar do Barão de Santarém (Fig. 01) é o mais antigo, e talvez o mais imponente, dos
prédios oitocentistas da cidade de Santarém. Seu nome é uma referência a Miguel Antônio
Pinto Guimarães (filho), o Barão de Santarém, seu primeiro proprietário. O Solar é uma
construção com aspectos coloniais, composta por três pavimentos, sendo o térreo
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direcionado para atividades comerciais e os outros dois para fins residenciais; é composto por
sete portas no primeiro andar, sete janelões no segundo e outros três janelões no último
pavimento.
Estima-se que o Solar do Barão tenha sido construído no final da primeira metade do
século XIX, pois por volta de 1820 o viajante naturalista Von Martius em passagem por
Santarém nos conta que “fileiras de casas de um só pavimento formavam a rua principal e
outras laterais” (COUTO, 2013, p. 72). Já em 1848, segundo Paulo Rodrigues dos Santos, a
cidade de Santarém antes composta por “três ruazinhas da roça, cheias de casinhas baixas e
modestas, pintadas de branco, inclusive algumas cobertas de palha, no centro da Vila, agora
já ostentavam bons prédios de alvenaria, alguns com dois pavimentos” (SANTOS, 1999, p.
259), uma possível referência ao Solar do Barão.
O Solar do Barão possui uma das características mais marcantes da arquitetura do
século XIX por se tratar de um “sobrado”, ou seja, tipo de “habitações de dois pavimentos que
possuíam espaço ‘sobrado’ ou ‘ganho’ devido à presença de um soalho suspenso” (TOURINHO
e SILVA, 2016, p. 339) e não por acaso esse estilo arquitetônico carrega um significado em si.
Gilberto Freyre afirma em Sobrados e Mucambos (1977) que no século XIX a casa assobradada
se tornara a moradia urbana da aristocracia, representando uma espécie de “casa nobre” da
cidade, que assumira o papel da antiga casa-grande das propriedades rurais. Sendo assim,
podemos dizer que esse estilo de moradia se tornou o tipo de residência comum da elite nas
zonas urbanas.
Deste modo, este aspecto do Solar do Barão pode ser utilizado em sala de aula para
demonstrar o ideal de vida erudito europeu presente em Santarém no século XIX, já que se
constituía em uma casa pensada para atender as necessidades de uma família elitista que
buscava manifestar seu poder econômico, político e social através dos bens materiais, como
a própria casa e sua mobília, que apontam para referenciais europeus.
[...] a casa, à margem do Rio Tapajós, magnífica, apresentando no andar
térreo sete janelas de frente. Sucediam-se os aposentos limpos bem
mobiliados; na sala de visitas via-se até piano vertical. Tudo muito bem
arranjado: e sem a criadagem fusca na casa, julgar-se-ia não estar no Brasil,
para não falar no Tapajós (AVÉ-LALLEMANT apud FONSECA, 1996, p. 983).
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A partir do relato acima, feito em 1859 pelo viajante alemão Robert Christian Avé-
Lallemant, os alunos poderão ser estimulados a identificar os elementos presentes na casa
que refletiam esses ideais da cultura erudita oitocentista, como o piano na sala de estar. O
termo “criadagem fusca” também pode ser tomado como ponto de partida para um debate
sobre a escravidão doméstica em Santarém, instigando os alunos a reconhecerem a presença
dessa população negra escravizada no cotidiano da cidade e sua relação com o meio social,
chamando atenção inclusive para o tema do comércio escravista na Amazônia.
Outro ponto a ser problematizado é a fachada do Solar do Barão, em estilo
neoclássico1, aparentemente construída a imitar a fachada do então Palácio do Governo, em
Belém (Fig. 02), nos levando a associar essa atitude a uma busca do Barão em equiparar seu
poder político exercido em Santarém ao poder oficial exercido pela Província. Assim,
juntamente com os alunos, podemos analisar a representatividade desta casa tanto para a
sociedade santarena quanto para os viajantes que passavam pela cidade durante o século XIX,
como símbolo de riqueza e poder, possivelmente causando admiração e se destacando em
meio à paisagem de casas modestas.
1
O neoclassicismo é um estilo arquitetônico que se popularizou no Brasil a partir da chegada da família real
portuguesa em 1808. Tem origem na Europa e inspira-se na antiga cultura clássica greco-romana. No Brasil, a
busca pelo estilo neoclássico era feita por uma elite ascendente que pretendia imitar os padrões de ‘bom
gosto’ e ‘nobreza’ dos europeus.
Figura 01. Solar do Barão de Santarém.
Santarém, 2018. Fonte: Arquivo pessoal.
Figura 02. Palácio Lauro Sodré, antigo Palácio
do Governo. Belém, 2018. Fonte: IPHAN.
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Mas afinal, quem foi Miguel Antônio Pinto Guimarães, o Barão de Santarém? Nascido
na própria Vila de Santarém em 08 de janeiro2 de 1808, foi filho de Miguel Antônio Pinto
Guimarães e Tereza Joaquina de Jesus. Segundo Meira Filho, o futuro Barão teria:
[...] se transformando em dono de muitas embarcações pesqueiras, e mais
tarde em dono de fazendas em Prainha, em Monte Alegre, em Alenquer,
cacauais, engenhos de açúcar [Taperinha], plantações de borracha e
seringais nativos e silvestres, tornou-se um homem absolutamente rico, a tal
ponto de deixar para os filhos da esposa que teve da Baronesa, um bom
começo de vida, afora as joias da esposa que eram um sem número de pedras
preciosas que tocaram às seis filhas legítimas (MEIRA FILHO apud PAPAVERO
e OVERAL, 2011, p. 43).
Pinto Guimarães tornou-se um cidadão ilustre na região, conquistando o apreço de
figuras como o famoso naturalista inglês Henry Walter Bates, em 1851:
A pessoa mais importante, senhor Miguel Pinto de Guimarães, é natural do
lugar e exemplo da facilidade com que a inteligência e o trabalho encontram
recompensa no sábio 19overno do Brasil. [...] Quando cheguei a Santarém
era êle o delegado de polícia. (BATES apud PAPAVERO e OVERAL, 2011, p.
44).
Outro que muito se admirou do futuro Barão de Santarém foi Avé-Lallemant que foi
convidado a se hospedar em sua tão elogiada residência.
[...]Miguel Antônio Pinto Guimarães, um dos homens de grande prestígio na
província e o primeiro em Santarém. [...] Interessou-me especialmente o
velho comandante, [...] Chegara a acumular uma fortuna de 300.000 táleres,
com uma indústria tão simples, o que não é por certo fácil. Seu começo e seu
fim muito honram o velho, que me pareceu invejado por muitos (AVÉ-
LALLEMANT apud PAPAVERO e OVERAL, 2011, p. 45).
Segundo Fonseca (1996), Pinto Guimarães também foi “Juiz de Paz, Coletor de Rendas
Provinciais, Comandante da Guarda Nacional, Vereador e Presidente da Câmara entre 1848 e
1876, Deputado Provincial, Vice-Presidente da Província do Grão-Pará, chegando a Presidente
da Província” (FONSECA, 1996, p. 67). Recebeu o título de Barão de Santarém em 17 de maio
de 1871, agraciado pela Princesa Isabel durante o período da Regência do Império.
Diante dessas informações sobre a vida particular e pública do Barão, abre-se espaço
para uma ampla discussão sobre a estrutura social de Santarém no século XIX, considerando
2
As fontes consultadas apresentaram discordância em relação ao mês de nascimento de Miguel Antônio Pinto
Guimarães. FONSECA (1996) afirma que a data de nascimento do Barão seria 08 de janeiro de 1808; já em
PAPAVERO; OVERAL (2011) a data apresentada é 08 de junho de 1808.
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que, segundo as fontes, Pinto Guimaraes foi homem de grande poder aquisitivo e senhor de
muitos escravos, numa sociedade majoritariamente constituída por pescadores e pequenos
agricultores. Fica evidente o enorme abismo socioeconômico entre a elite a qual pertenceu o
Barão e a população menos favorecida de Santarém nesse período, comprovado inclusive pela
estrutura e arquitetura das casas da cidade, onde o Solar do Barão se destacava.
Além das questões socioeconômicas, a arquitetura do Solar do Barão revela ainda
costumes referentes ao ambiente doméstico, privacidade e gênero, muito valorizados pela
elite oitocentista. Construído segundo os padrões coloniais, percebemos que a arquitetura do
Solar reflete a preocupação de seu dono com a privacidade familiar, já que apresenta cômodos
que se abrem para a rua e outros mais ao fundo da casa, ocultos ao olhar externo, ficando as
mulheres a ocupar espaços menos visíveis, como as alcovas e a cozinha, enquanto os homens
circulavam nos espaços abertos.
O Solar do Barão recebeu ainda outro tipo de uso ao longo de sua história, foi palco de
grandes eventos sociais em Santarém. Canto (2015), através de trecho retirado do jornal
Tapajoense, conta que em dezembro de 1856 o prestigiado Coronel Pinto Guimarães ofereceu
um luxuoso baile em sua residência, onde compareceu a alta sociedade santarena para
desfrutar de “deliciosas bebidas” e músicas “divinas”, tendo a festa durado até a madrugada.
Canto (2017) cita outro baile realizado no Solar do Barão, que foi registrado no jornal A Cidade
em fevereiro de 1925, este descrito como um “baile de máscaras” em referência ao tema
carnavalesco da festa destinada à “nossa mocidade”.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através dos casarões é possível tratar temas muito recorrentes no século XIX, como a
questão do gênero e o papel social da mulher, tomando como exemplo a restrição delas à
espaços de grande exposição; a objetificação do negro escravizado; ou as formas de
entretenimento da alta sociedade que preferia divertir-se separada da massa popular.
Segundo Bittencourt, a Educação Patrimonial dentro das escolas visa “concorrer para
rememoração e preservação daquilo que tem significado para as diversas comunidades locais,
regionais e de caráter nacionais” (BITTENCOURT, 2008, p. 278).
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Assim, ao utilizar o potencial dos casarões históricos estamos contribuindo para
valorização da identidade cultural, além de tornar o aprendizado mais dinâmico, fazendo com
que os alunos aprendam sobre aspectos gerais do conteúdo obrigatório ao mesmo tempo em
que estudam a própria História. O uso didático do patrimônio arquitetônico no ambiente
escolar será capaz de construir a base para o desenvolvimento da Educação Patrimonial,
promover a valorização da história local e a formação da consciência histórica.
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_______, Sidney. Um Baile no casarão do Barão de Santarém – 1856. Blog do Padre Sidney
Canto: História, Memória e Cultura da Região Oeste do Pará. 7 dez. 2015. Disponível em:
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Instituto de Tecnologia, Universidade Federal do Pará, Belém.
FREYRE, Gilberto. Sobrados e Mucambos: decadência do patriarcado rural e o
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IPHAN. Decreto-lei nº 25, de 30 de novembro de 1937. Organiza a proteção do patrimônio
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SABEDORIA DAS ÁGUAS: A LITERATURA INDÍGENA DE DANIEL MUNDURUKU NO ENSINO
FUNDAMENTAL I
Aida Vasconcelos do Nascimento1
Gustavo Paiva de Carvalho2
RESUMO: Este artigo visa, em primeiro lugar, compreender de forma específica e dinâmica a grande
contribuição literária indígena do escritor paraense Daniel Munduruku para o processo de ensino-
aprendizagem dos alunos do ensino fundamental I, procurando valorizar a cultura indígena como
formas de pluralidade cultural na escola e no ambiente que estamos inseridos. Trata-se de um
trabalho bibliográfico e procura tornar as leituras de obras indígenas dentro do espaço e cotidiano
escolar. Também privilegiamos o conhecimento amplo dos trabalhos desenvolvidos pelo escritor
Daniel Munduruku, dando ênfase na importância do seu papel como educador indígena que ressalta
que o ensino das culturas indígenas são indispensáveis para a formação social do ser humano. Além
de pontuar as contribuições de autores que estejam de forma direta ou indireta ligados ao que se
escreve sobre a reflexões e discussões sobre valores de convivência democrática dentro da escola,
aspirando a minimização de xenofobias, preconceitos e diferenças no espaço escolar e na sociedade
contemporânea. Tendo em vista os aspectos observados, a Literatura Indígena contribui de forma
significativa para os discentes absorverem as mitologias, culturas e conhecimentos tradicionais.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura Indígena; Ensino Infantil; Munduruku, Escola.
ABSTRACT: This article aims, in the first place, to understand in a specific and dynamic way the great
indigenous literary contribution of the paraense writer Daniel Munduruku for the teaching-learning
process of the students of elementary school I, seeking to value the indigenous culture as forms of
cultural plurality in the school and in the environment that we are inserted in. It is a bibliographic work
and seeks to make the readings of indigenous works within the space and school routine. We also
privilege the broad knowledge of the works developed by the writer Daniel Munduruku, emphasizing
the importance of his role as an indigenous educator who emphasizes that the teaching of indigenous
cultures is indispensable for the social formation of human beings. In addition to punctuating the
contributions of authors who are directly or indirectly linked to what is written about reflections and
discussions on values of democratic coexistence within the school, aspiring to minimize xenophobia,
prejudice and differences in the school space and in contemporary society. In view of the aspects
observed, Indigenous Literature contributes significantly to students to absorb mythologies, cultures
and traditional knowledge.
KEYWORDS: Indigenous Literature; Kindergarten; Munduruku, School.
1
Discente do Curso de Pós-Graduação em Psicopedagogia da Faculdade Salesiana Dom Bosco - FSDB, Brasil.
Pedagoga formada pelo Centro Universitário do Norte (UNINORTE). Professora da rede privada de educação.
Brasil. E-mail: aidaaanasc@gmail.com
2
Doutor em Ciências do Comportamento - UnB; Mestre em Processos Comportamentais – UnB; Psicólogo;
Professor e Orientador de TCC no Curso de Pós-Graduação em Psicopedagogia da Faculdade Salesiana Dom
Bosco - FSDB, Brasil. E-mail: gustavopaivadecarvalho@gmail.com
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Texto integrando dos Anais 2022, do VI Encontro Estadual de História – ANPUH Amazonas
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1. INTRODUÇÃO
Educar é como catar piolho na cabeça da criança.
É preciso que haja esperança, abandono, perseverança.
A esperança é crença de que se está cumprindo uma missão; o abandono é a
confiança do educando na palavra; a perseverança é a perseguição aos mais
teimosos dos piolhos, é não permitir que um único escape, se perca.
Só se educa pelo carinho e catar piolho
é o carinho que o educador faz na cabeça do educando, estimulando-o, pela palavra e
pela magia do silêncio. Ser educador é ser confessor dos próprios sonhos e só
quem é capaz de oferecer um colo para que o educando repouse a cabeça e se
abandone ao som das palavras mágicas, pode fazer o outro construir seus
próprios sonhos. E pouco importa se os piolhos são apenas imaginários!
Daniel Munduruku
A Lei nº 9.394/1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) e as Leis nº 10.639/2003 e
11.645/2008 que torna obrigatório o ensino e o estudo da História da África e da Cultura Afro-
brasileira e Indígenas nos estabelecimentos de ensino em todo o país são avanços
importantes para a educação brasileira. Os conteúdos referentes a história e a cultura afro-
brasileira e dos povos indígenas deverão constar nos currículos escolares das instituições
públicas e privadas, além do ensino superior. Este debate legislativo e pedagógico promove
um compromisso dos entes e entidades executoras para a promoção de ações formativas e
afirmativas que pretendam garantir o estudo científico para e sobre um patamar de
importância das culturas indígenas, na formação da identidade cultural brasileira.
Esta legislação nacional está conectada com preceitos importantes da Organização das
Nações Unidas (ONU), que tem aprovado desde 2007, o que chamamos de sobre Declaração
os Direitos dos Povos Indígenas. Além da Convenção 169, Organização Internacional do
Trabalho (OIT), aprovada em 1989, e que versa sobre o respeito aos povos indígenas e tribais
por parte dos governos dos países signatários.
Com estes passos progressistas das lutas dos movimentos sociais organizados por uma
releitura e promoção das culturas africanas, afrodescendentes e indígenas em sala de aula,
foi significativo para reafirmar o papel de importância na construção do território e da
identidade do povo brasileiro.
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Texto integrando dos Anais 2022, do VI Encontro Estadual de História – ANPUH Amazonas
– Os 200 anos de Independência e seus significados para a Amazônia. Rafael Ale Rocha;
Leandro Coelho de Aguiar; e Wellington Bernardelli Silva Filho (Orgs.). - 1. ed. - Manaus:
ANPUH -AM; Universidade Federal do Amazonas, 2022.
No entanto, logo, outros obstáculos foram surgindo, como a não qualificação dos
professores e professoras para lecionar estas disciplinas e principalmente, a falta ou a quase
inexistência de materiais didáticos.
Nos últimos vinte anos vêm crescendo as publicações de obras e estudos que descrevem os
hábitos, as músicas, as lendas e uma chamada literatura indígena brasileira, voltada para as
crianças e jovens.
Apresenta-se como grande desafio para os educadores na tentativa de proporcionar
aos alunos o interesse em conhecer as culturas indígenas, essas que permeiam história do
antes, do agora e do amanhã, significa valorizar o que temos como raízes históricas do Brasil
(RIBEIRO, 2008).
Seguir estas orientações contribuem para uma tentativa de releitura da presença
indígena na cultura amazonense e amazônica. São obras e textos que conversam e podem
apoiar as educadoras na ação desconstrutora de conceitos estereotipados, imagens e ideias
empobrecidas em relação à rica e tradicional culturas dos povos originários da região norte
do país.
A citada região apresenta um grande número de povos indígenas e uma formação
étnica oriunda das raízes indígenas e por esta razão, fala-se pouco do assunto, ou em muitos
casos, até existe um processo de negação destes traços dos povos originários, principalmente
por parte do governo federal (ALMEIDA, 2010). Podemos afirmar, em nível de hipótese que
isto, se deve ao fato dos livros didáticos disponíveis solidificarem ideias que contribuem a
anulação destas culturas indígenas e daí a importância das orientações do Programa Nacional
do Livro Didático (PNLD) que refletem sobre a diversidade cultural (GOULARTE & MELO, 2013,
p. 35 - 36).
Mesmo enfrentando os conflitos que sempre rodearam as cultura indígenas no campo
ou na cidade, os conhecimentos milenares destes povos devem ser repassados paras as
próximas gerações e para quem se interessar em conhecê-las (PIMENTEL, 2012).
Neste estudo, desenvolveremos uma pesquisa bibliográfica profunda, que terá como ênfase
a Literatura Indígena exercitada pelo maior expoente deste gênero literário, o escritor
paraense Daniel Munduruku e de que forma, suas contribuições são importantes para o
processo de ensino-aprendizagem em sala de aula. Levando em consideração o
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Texto integrando dos Anais 2022, do VI Encontro Estadual de História – ANPUH Amazonas
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questionamento a seguir: Qual a importância do uso da Literatura Indígena do escritor Daniel
Munduruku nos processos de ensino e aprendizagem na educação fundamental I?
2. O QUE É LITERATURA INDÍGENA?
Para início de debate, temos que dar significados e colocar em seus devidos lugares
três tipos de escritas ou gêneros literários, que na maioria das vezes estas falas são mal
interpretadas que causam confusões de origem e não de importância. Há diferenças entre
Literatura Indianista, Literatura Indigenista e Literatura Indígena.
A literatura indianista é desenvolvida por escritores do movimento chamado
Romantismo, onde surge a imagem do “bom selvagem” e do exótico (CARVALHO, 2018, p.
171) expostos nas páginas e escritos de Gonçalves Dias e José de Alencar.
Gonçalves Dias nasceu em Caxias, município do Maranhão em 1823 e foi um
importante advogado e poeta. Quando estava em terras estrangeiras escreveu Canção do
Exílio. Foi importante introdutor do estilo do romantismo no Brasil. Estes escritos abrangem
dois aspectos fundamentais: o nacionalismo e a figura do indígena heroico.
O cearense José de Alencar nasceu em 1829, formado em direito e foi Deputado
Federal e Ministro da Justiça onde exerceu com competência até seu afastamento da política
partidária. Escreveu dois romances celebrados pela crítica e público, trata-se de O Guarani
(1857) e Iracema (1865). Obras consideradas essencialmente, indianistas.
A literatura indigenista é vista como técnica e produzida próxima e na convivência com
os próprios indígenas. O indigenismo está ligado à proteção ao índio (CARVALHO, 2018 p.
171). Produzida pelos chamados sertanistas que adentraram ao interior do Brasil, regiões
mais distantes do litoral brasileiro e produziram muitas obras sobre etnias e culturas
autóctones, mas quase sempre, ligados a pontos de vistas míopes e tratando este povos,
nações com o signo do primitivismo. Estes estudos foram formados no âmbito do antigo
Serviço de Proteção aos Índios (SPI), atualmente conhecida como Fundação Nacional do Índio
(Funai) e organizações não-governamentais locais e/ou estrangeiras.
A literatura indígena não pode ser vista como a literatura escrita por indígenas. Essa
concepção é rasa e incipiente. Estas escritas devem ser observadas pelo prisma de enfrentar
preconceitos desenvolvidos desde a chegada dos primeiros europeus nas terras brasileiras. É
importante para desmistificar e valorizar aspectos da culinária, mitológicos, artes, músicas,
comportamentais, políticos e sociais. Estes livros são registros da oralidade que é ensinada
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de geração em geração. São resgates gráficos das histórias dos antepassados e dos pajés que
possuem os conhecimentos tradicionais, considerados pelos menos avisados, não científicos.
Não seguem um modelo de racionalidade que modela a ciência, dita moderna, mesmo que
estes padrões epistemológicos, deem sinais de crise (SANTOS, 1987, p. 10). Com a literatura
indígena abre-se uma miríade de possibilidades de estudos e questões que podem ser
discutidas com os discentes, a saber: mitologias, fábulas, meio ambiente, jogos, brincadeiras,
ritos, rituais, velhice, idosos, sabedoria, culinária e saúde.
Podemos citar nomes de escritores e escritoras como: Yaguarê Yamã, Cristino
Wapichana, Davi Yanomami, Ailton Krenak, Olívio Jekupé, Roni Wasiry Guará, Marcelo
Manhuri Munduruku, Jeguaká Mirim, Lia Minapoty, Tiago Hakiy, Graça Graúna, Eliane
Potiguara, Auritha Tabajara, Kaká Werá Jecupé, Elias Yaguakãg, Ely Makuxi, Kanátyo Pataxó,
Luiz Karai, Sulami Katy e Ismael Tariano
Deixamos claro que é esta última literatura que vamos perseguir e apresentar neste
trabalho acadêmico.
3. DANIEL MUNDURUKU: O ESCRITOR DAS ÁGUAS
Daniel Munduruku, sem dúvida alguma, é um dos mais destacados escritores da
literatura indígena produzida no Brasil. Este profícuo autor de mais de cinco dezenas de livros
e agraciado com inúmeros prêmios nacionais e internacionais, entre eles, o Prêmio Jabuti
pelo livro, Coisas de Índio (2003) em 2004, é o protagonista neste estudo apresentado.
Daniel Munduruku é formado em História e Psicologia, além de possuir um doutorado
na área de Educação pela Universidade de São Paulo (USP). Munduruku cumpre um
fundamental papel de difusor, docente incansável e de contador de histórias para uma
população que tem pouco ou nenhum contato com as culturas indígenas.
Dentre suas diversas obras mais visitadas, podemos citar, neste momento, a coletânea
Contos Indígenas Brasileiros (2004). Este livro reúne oito histórias mitológicas de povos de
troncos linguísticos como os Tupi, Macro-Jê, Karib e Aruak.
Também temos, A caveira-rolante, a mulher-lesma e outras histórias indígenas de
assustar (2010). Estas histórias são permeadas de mistérios, muito medo e conseguem
prender a atenção dos mais jovens. Trazem em si, uma tentativa de reflexões entre os homens
e os seres da natureza, para muitos considerados “encantados”.
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Estes escritos foram organizados para facilitar a compreensão por aqueles menos
familiarizados com a forma de viver e de repassar estas sabedorias para os mais jovens em
suas aldeias de origem. São histórias de diferentes povos indígenas: Tukano, Ajuru, Macurap,
Tembé, Karajá.
4. A IMPORTÂNCIA DA LEITURA PARA A IMAGINAÇÃO DAS CRIANÇAS
No chamado mundo “civilizado”, onde os conceitos, a filosofia e a ciência são
essencialmente ocidentais, o peso da comprovação, medição e resultados, só podem ser
demonstrados e aceitos, a partir de números e principalmente, através da palavra escrita.
No nosso dia-a-dia as pessoas que não dominam a escrita e a leitura tem dificuldades
para fazer as coisas mais simples, como pegar um ônibus, assinar um documento ou ler a bula
de um medicamento. Para que as novas gerações possam dominar estas técnicas, elas devem
estar em um espaço escolar.
Estes processos de ensino e aprendizagem tradicionais vem falhando em muitos
aspectos. O que nos interessa é apresentaremos um novo olhar voltado para as culturas
indígenas. A transmissão de conhecimentos e saberes tradicionais são essencialmente orais
e por isto, a importância das histórias que os mais velhos contam.
São narrativas que quase sempre remetem a tempos imemoriais e são recontadas de
geração em geração. Estas narrativas são poéticas que tornaram- se mitos e por isto,
narrativas extraordinárias.
Mais do que isto, são conhecimentos, conhecimentos de uma ciência não
reconhecidos pelos “homens brancos” (NARBY, 2018). Podemos ressaltar que estas histórias
são reais (MUNDURUKU, 2001, p. 08).
Neste período em que a tecnologia está em todos os âmbitos da nossa vida cotidiana
estes mitos parecem aos menos avisados, histórias bobas de indivíduos “selvagens”. Um
momento em que os biomas do planeta inteiro estão sob ameaça e que a industrialização, o
aumento populacional e das cidades cinzas afetam diretamente a vida humana e dos animais
no planeta Terra (KRENAK, 2019), há a possibilidade de utilizarmos o conhecimento ancestral
para voltarmos para nós mesmos e “colorir” o mundo em nossa volta (MUNDURUKU, 2005,
p. 3).
Esta modernidade cria novas perspectivas culturais e tenta apagar outras,
principalmente suas tradições e seus modos de vida, há existência perceptível de uma
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homogeneização das culturas mundiais. Estas mudanças são percebidas a partir dos anos
1970 onde as economias dos chamados países em desenvolvimento experimentam as
“benesses” e os “privilégios” das chamadas integrações globais que aceleraram fluxos entre
as nações (HALL, 2003, p. 68-69).
Neste sentido, defendemos o estudo sobre estas literaturas indígenas para
transformar este mundo mais humano. Ao ler para uma criança uma história seja ela de
contos, de suspense ou drama, estamos dando a ela a oportunidade de entrar no mundo de
fantasia, onde a criança se imagina ser o protagonista da história narrada pelo adulto. Em
meio a muitos desafios professores e professoras trazem em sua personalidade o artista: que
busca de forma pedagógica introduzir os contos e histórias para vivenciar uma realidade em
busca de respostas para que a criança construa sua própria autonomia daquilo que está
buscando.
A leitura por se tratar da descoberta de novos mundos traz também a liberdade de se
expressar e desenvolver seu emocional social e cognitivo. Segundo Abramovich (1997),
quando as crianças ouvem histórias passam a visualizar de forma mais clara sentimentos que
tem em relação ao mundo.
A geração desses novos leitores vem oriundos de uma sociedade mais desenvolvida a
partir dos anos 2000, onde os pais já tem uma maturidade sobra a importância da leitura, que
procuram investir em uma educação social, construtiva e critica. Hoje as crianças vivem uma
realidade muito diferente a dos seus avos. Hoje vivemos na era digital, onde as crianças e
jovens tem acesso facilitado a aparelhos tecnológicos. Com o avanço dessas tecnologias não
perdemos a importância do processo de educação, que se dá por meio de valores, das ações
e por instrumentos que compõe o mundo letrado, contudo esses instrumentos podemos
gerar as práticas que nos levam a caminhos para se chegar no fator principal em desenvolver
a perspectiva de um ensino humanizado, valorizando o respeito acima de tudo. De acordo
com alguns objetivos do Parâmetro Curriculares Nacionais:
[...] conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sociocultural brasileiro, bem como aspectos
socioculturais de outros povos e nações, posicionando-se contra qualquer discriminação baseada em
diferenças culturais, de classe social, de crenças, de sexo, de etnia ou outras características individuais
e sociais (PCN’s, 1997).
No papel de professora do ensino fundamental em uma escola pública no município
de Manaus - AM, enfrentamos diversos obstáculos já citados anteriormente, lecionar sobre
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as culturas indígenas e alguns temas transversais como meio a ambiente, ética e pluralidade
cultural torna-se um desafio diário.
Para tanto, foi necessário materiais didáticos para trabalhar com estas crianças de
sete anos. Estas crianças, em tese, estão sendo alfabetizadas e possuem uma capacidade de
abstração, ainda em construção. As atividades neste momento, devem ter um caráter mais
dinâmico, atraente e lúdico.
Utilizamos dois livros, A sabedoria das águas (2004), que fala sobre a história vivida
pelo índio Koru. Este personagem persegue uma verdade. Koru caçava na floresta e
encontrou animais que falavam e brilhavam, no entanto apenas o seu pajé e sua esposa
acreditaram nessa narrativa
Logo, os guerreiros da tribo suspeitavam que Koru estava perdendo a consciência,
talvez atingido por um castigo divino e por isto, não faria mais parte de caçadas futuras que
reunia anualmente, os homens da aldeia. Neste momento inicia-se a odisseia do índio pelas
águas do rio Tapajós em busca de seus questionamentos.
As serpentes que roubaram a noite e outros mitos (2001); uma antologia de mitos do
povo Munduruku recolhidos e organizados por Daniel Munduruku. São narrativas e
simbolismos percebemos a importância sagrada da mitologia indígena. Os mitos são alicerces
da imaginação coletiva e dão significados à vida e criam um padrão cultural. Desta forma,
percebe-se a atenção das crianças para esta leitura e explicação destes temas.
Fig. 1: Capa da obra de Daniel Munduruku (Divulgação)
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Fig. 2: Frontispício da obra de Daniel Munduruku (Divulgação)
Sendo assim, vamos aprofundar nos estudos e na literatura indígena produzida pelo
Daniel Munduruku e em menor grau, outros autores. A tentativa de possibilitar a abertura de
novos caminhos de terra para contribuir com uma educação que valorize as culturas
indígenas em diversos âmbitos, como multiculturais e talvez, o fortalecimento e valorização
da sua própria história.
5. LITERATURA NA BEIRA DOS LAGOS, RIOS E IGARAPÉS
Defendemos a existência de uma literatura escrita por sujeitos autodeclarados
indígenas. Estes escritores vêm conquistando espaços disputados e importantes de discussão
sobre as culturas indígenas e o futuro destes povo originários. Através do conjunto de obras
escritas e “catalogadas” pelo historiador e antropólogo Daniel Munduruku poderemos ter
uma visão de como este gênero literário vem sendo construído pelos próprios indígenas.
Conhecer estas possibilidades literárias podem dar orientações para o enfrentamento
de problemas graves em nossa sociedade, que vão desde o preconceito quanto o assassinato
de índios nas áreas rurais ou nas ruas das cidade até a negação da existência desses povos
(violências simbólicas). Ensinar as crianças as práticas do respeito, ética e da solidariedade
podem ser a formação de verdadeiros cidadãos e cidadãs para um novo momento de viver
em comunidade.
Compreender a literatura como parte integrante da aprendizagem e um passo
indispensável para que o indivíduo desenvolva suas percepções de como se relacionar na
sociedade, tendo um ponto de vista de coerência que o levara a entender que seu
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pensamento social deve se desenvolver a partir do respeito a multiculturalidade. O
etnocentrismo, no entanto, permeia e orbita em nossa sociedade.
A literatura indígena ainda é assunto novo para muitos educadores, pois estão
presos ao que estar exposto nos livros didáticos, esses quase sempre retratando o índio no
passado, levando as crianças a pensar que o índio, é figura que surge somente, a partir do
Descobrimento do Brasil (GAMBINI, 2000).
Com o passar do tempo os índios lutaram e ainda lutam pra ter sua cultura e seus
direitos resguardados. A Funai foi criada em 1967, com a finalidade de promover e proteger
os direitos dos povos indígenas no território nacional, garantidos pela Constituição de 1988.
E na busca desses direitos estão propostos a busca de uma educação voltada ao
conhecimento e a propagação do saber indígena.
Os saberes indígenas como forma de aprendizagem vem sendo trabalhada com os
diferentes tipos de escritores sejam indígenas e/ou não-indígenas.
As teorias do Multiculturalismo são basilares e essenciais nas práticas pedagógicas em sala
de aula das séries iniciais do Ensino Fundamental para ampliar a visão sobre mitologia, poesia
e lendas amazônicas. Podemos apontar autores já consagrados como Hall (2003) e McLaren
(2000) no campo multicultural.
Em primeiro lugar, estamos esquadrinhando o maior número de obras e autores
considerados pertencentes a uma literatura indígena. Depois desta varredura bibliográfica
sistematizada, discutiremos sobre os processos de reflexão de pesquisadores, pesquisadoras
e docentes na construção de uma educação mais igualitária, inclusiva e democrática. Temos
a clareza, que os modos e as práticas de aprendizagem de uma criança indígena e não
indígena se dão por meios de diferentes convivências sociais e de construções pedagógicas
diferentes.
MITOLOGIAS DOS MUNDURUKUS
A humanidade na sua escala histórica foi fazendo perguntas sobre si própria. Para
estas perguntas foram desenvolvidas respostas para dar explicações aos questionamentos
que ainda hoje, fazem filósofos, teólogos, antropólogos e historiadores trabalharem
diuturnamente para estudar estas possibilidades explicativas.
Os mitos foram sendo articulados como resultante de várias perguntas. São estórias
contadas pelos mais velhos e contadas para os mais novos, principalmente pela oralidade. Na
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Grécia Antiga, os aedos (músicos e bardos que recitavam ao som da lira) eram famosos pelas
poesias que contavam aventuras, guerras e personalidades. Além das peripécias de deuses,
semideuses e monstros (NEIVA, 2006) que se imortalizaram pela cultura europeia. No
entanto, podemos dizer que em todo habitado, os mitos floresceram e inspiram vários
objetos produzidos pelas atividades do corpo e da mente humanos (CAMPBELL, 1997, p. 05).
Também há algum tempo que pesquisadores estudam os mitos indígenas brasileiros.
Podemos dar o exemplo do antropólogo francês Claude Lévi-Strauss. Lévi-Strauss no primeiro
volume das chamadas Mitológicas; debruçando-se sobre o que denomina de mito de
referência, no caso o mito indígena Bororo (LÉVI-STRAUSS, 2004, p. 20). Ou o trabalho Terra
Grávida de Beth Mindlim, onde há um compêndio de histórias que servem para definir
identidades, assim como a língua, o território e a cultura (MINDLIM, 2012). São registros de
sete grupos indígenas de Rondônia e escritas na língua portuguesa.
Neste trabalho, priorizamos os escritos de Daniel Munduruku, que nos alerta para a
leitura destes mitos, segundo o autor:
Mas existe uma maneira de compreender os mitos, um segredo que eu
gostaria de compartilhar com vocês: é preciso ler e ouvir os mitos não com
os ouvidos que ficam na cabeça, pois eles costumam nos enganar, mas com
os ouvidos que existem lá no fundo do coração – o ouvido da memória
(MUNDURUKU, 2001, p. 08).
Estes eventos memoráveis tornaram-se conhecimentos. Estes conhecimentos fazem
parte de uma tradição oriunda do passado através das narrativas mitológicas. Esta histórias
ajudam a manter unida a comunidade. Os mais velhos são responsáveis em passar aos mais
jovens todos estes conhecimentos. Os mais jovens respeitam muito a sabedoria dos anciãos
(MUNDURUKU, 2001, p. 52).
Um dos inúmeros mitos dos Mundurukus fala da escuridão.
Fazia pouco tempo que o mundo era mundo e que as garras da onça ainda
não haviam crescido e já reinava a insatisfação. E isso porque a noite nunca
chegava – ela, que iria permitir que as pessoas e animais repousassem um
pouco (MUNDURUKU, 2001, p. 28).
A narrativa prossegue:
O sol brilhava sem parar nos céus e nenhum daqueles infelizes conseguia
sequer tirar uma pequena soneca! Os raios ardentes do sol queimavam
tanto e durante tanto tempo que todos preferiam levantar. Apenas o
papagaio continuava a protestar, mas tão alto, que toda a floresta o ouvia,
porém o sol pouco se importava com toda aquela gritaria e seguia brilhando
tão alegremente como antes (MUNDURUKU, 2001, p. 28).
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O papagaio reclamou até ficar rouco e seus protestos não serem ouvidos mais por
ninguém. Reuniram-se em assembleia e destacaram o herói Karu Bempô para interrogar as
serpentes sobre o sumiço da noite. Segundo alguns participantes, havia sérios indícios que os
animais rastejantes estariam envolvidos neste imbróglio. Karu Bempô pôs-se na estrada ao
encontro do serpentário. Segundo o mito:
A morada da Surucucu ficava escondida no fundo da floresta virgem,
embaixo das folhas espalhadas pelo chão, e nem os macacos gostavam de
se aproximar daquele lugar misterioso. – Quem se atreve a me incomodar?
– Gritou a serpente, erguendo a cabeça.
- Sou eu, Karu Bempô, o grande guerreiro – respondeu o intrépido
representante dos índios e prosseguiu: - Dizem que as serpentes
esconderam a noite. Se me devolverem a noite, darei arco e flechas como
presente do meu povo (MUNDURUKU, 2001, p. 29 -30).
Posteriormente, Karu Bempô ofereceu uma matraca para a Surucucu, que logo ficou
insatisfeita com a promessa.
Karu Bempô tentou outro acordo, mas a Surucucu rejeitou de pronto. Alegou não
possuir membros superiores para manusear o arco e as flechas. Mas, houve uma contraposta
e como agrado enviou um saquinho com uma noite curta. A Surucucu pediu uma jarra do
veneno que os indígenas utilizavam para matar outros animais, pois segundo ela, as cobras
eram répteis fracas e desprotegidas.
Karu Bempô voltou para a aldeia e relatou a conversa com a líder das serpentes. O
intrépido indígena retornou com o recipiente repleto de líquido peçonhento. A Surucucu, já
o esperava com uma sacola fechada e o aconselhou: - Só abra quando estiver na sua terra
natal!
Ao chegar ouve na aldeia houve uma explosão de alegria e a onça não suportando
tanta impaciência, saltou sobre Karu Bempô e a noite longa foi solta.
Uma densa escuridão caiu sobre a selva, surpreendendo a todos. Animais e
pessoas procuravam caminhos para voltar a suas casas e colidiam uns com
os outros. Mas o pior foi aquilo que ocorreu com as serpentes da chefa
Surucucu: elas se atiraram sobre a jarra, empurrando-se umas às outras, e
cada uma delas passou nas presas tanto veneno quanto podia. Em vão
Surucucu tentava acalmá-las, dizendo que havia veneno para todas. Por fim,
acabaram derrubando a jarra (MUNDURUKU, 2001, p. 34).
Desta forma, explica a peçonha das serpentes, segundo o escritor:
Mas quando, ao final de uma longa noite, voltou o dia, todos puderam
perceber as consequências do que a onça havia feito: as serpentes tinham-
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se tornado inimigas poderosas e audaciosas que, com suas presas
envenenadas, matavam todos aqueles que se aproximavam. Apenas o povo
das Jibóias não foi atingido, e sempre avisava os índios com a sua matraca
(MUNDURUKU, 2001, p. 34).
Os Munduruku e todos os outros animais ficaram muito felizes. Alguns animais
utilizavam a noite para caçar e outros, descansavam até surgir um novo dia. Além de explicar
aos mais jovens porque existem serpentes venenosas e outras que não apresentam
peçonhas.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A metáfora utilizada por Daniel Munduruku que abre e orienta este trabalho
demonstra bem o papel do educador e das educadoras brasileiras. Catar piolho é saber que
precisamos ser pacientes e insistentes. Quem é da Amazônia conhece bem estas palavras do
autor indígena, está no nosso cotidiano, faz parte da nossa cultura. A floresta, os animais e a
água. São nossos referenciais de imagens e de memórias.
Os desafios são gigantes para a implementação da Lei nº 11.645 de 10 de março de
2008 nas escolas de forma efetiva e visível. Segundo o pesquisador Santomé (2009) estas
temáticas insistem em serem trabalhadas em currículos turísticos. Ou seja, estão ali apenas
para cumprir uma legislação vigente. Estão nos livros didáticos, na sua grande maioria,
superficialmente.
Por isto, a importância de utilizar as obras de Daniel Munduruku para contribuir com
o combate a escassez dos temas relacionados à cultura negra, afro-brasileira, africana e
indígena.
Dessa forma, poderemos sinalizar em direção de uma educação multidisciplinar e
multimodal para que nossa sociedade não seja paralisada em discriminações e haja uma
mudança na forma como pensamos e observamos o outro. Estes dias demonstram a
necessidade de manter conversas e comportamentos pacíficos como pauta e reflexões.
REFERÊNCIAS
ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 1997.
ALMEIDA, Maria Regina Celestino. Os índios na história do Brasil. Rio de Janeiro: FGV
Editora, 2010. (FGV de bolso, 15. Série História).
BRASIL. Lei nº 10.639 de 09 de janeiro de 2003. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2003/L10.639.htm, acesso em 15 de março de
2021.
BRASIL. Lei nº 11.645 de 10 de março de 2008. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11645.htm, acesso em 15
de março de 2021.
BRASIL. Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm, acesso em 14 de março de 2021.
BRASIL. Lei nº 11.654 de 15 de abril de 2008. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11654.htm, acesso em 13
de março de 2021.
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BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais:
introdução aos parâmetros curriculares nacionais / Secretaria de Educação Fundamental. –
Brasília: MEC/SEF, 1997.
CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. Tradução de Adail Ubirajara Sobral. São Paulo:
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ANPUH -AM; Universidade Federal do Amazonas, 2022.
INDÍGENAS, MESTIÇAS E NEGRAS, NA AMAZÔNIA DO SÉCULO XIX: NUANCES DA
TRAJETÓRIA HISTÓRICA DAS MULHERES NA AMAZÔNIA A PARTIR DA ÓTICA DOS
NATURALISTAS ALFRED RUSSEL WALLACE, HENRY WALTER BATES E LOUIS E
ELIZABETH AGASSIZ
Arcângelo da Silva Ferreira1
Thais Stefhani de Oliveira Leal2
Resumo: Como estão representadas as mulheres nos relatos dos naturalistas do século XIX? A partir
desta problematização buscamos investigar a trajetória histórica de indígenas, mestiças e negras na
Amazônia. Através do método da história cultural investigamos o lugar das mulheres no mundo
amazônico. O deslocamento do olhar historiográfico para seguimentos populares ganha um
significativo espaço, na conjuntura atual. Nessa perspectiva, o presente artigo pretende investigar o
cotidiano das mulheres amazônicas nos meios urbano e rural durante o século XIX. A pesquisa
pretende se inserir no campo da História Social das mulheres amazônicas no período oitocentista.
Utilizamos a perspectiva da "histórica vista de baixo" para conjecturar o protagonismo feminino no
contexto do Brasil imperial na Amazônia. Para tanto, o corpus de nossa análise consiste nos relatos
dos seguintes naturalistas Alfred Russel Wallace, Henry Walter Bates e Louis e Elizabeth Agassiz.
Concluímos que nas representações elaboradas pelos Naturalistas reside expressiva carga ideológica,
marcada pelo etnocentrismo, evolucionismo e racismo, teorias em voga no século XIX, além de
observar que as mulheres estiveram presentes na sociedade amazônica o problema seria a falta de
representatividade relacionada a elas.
Palavras-Chave: Amazônia, Mulheres, Naturalistas.
1. INTRODUÇÃO
A Amazônia do século XIX, foi associada a ideia de exuberância, diversidade e exotismo,
com isso, suas paisagens, assim como seus sujeitos povoaram o imaginário coletivo dos
europeus, dando ensejo para a chegada de inúmeros viajantes, cientistas, homens de
negócios e religiosos. Muitos dos que aqui aportavam buscavam não só as riquezas materiais
proporcionadas pelo imenso contingente de verde da floresta, mas também a imensa gama
de novos saberes científicos.
Naturalistas organizaram expedições científicas importantes, de acordo com os
governos que as financiavam. A intenção de conhecer, registrar e divulgar as observações
1
Doutor em História Social da Amazônia pelo Programa de Pós – Graduação em História Social da Amazônia
(PPHIST/UFPA), mestre em História Social da Amazônia, licenciado em História pela Universidade Federal do
Amazonas (UFAM), professor do curso de História CESP (UEA)
2
Graduanda do Curso de História do Centro de Estudos Superiores de Parintins (CESP) – Universidade do
Estado do Amazonas (UEA)
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Texto integrando dos Anais 2022, do VI Encontro Estadual de História – ANPUH Amazonas
– Os 200 anos de Independência e seus significados para a Amazônia. Rafael Ale Rocha;
Leandro Coelho de Aguiar; e Wellington Bernardelli Silva Filho (Orgs.). - 1. ed. - Manaus:
ANPUH -AM; Universidade Federal do Amazonas, 2022.
marcaram essa fase dos viajantes, que fazendo uso de seus relatórios de viagem (que mais
tarde seriam publicados), ajudavam as ideias a viajar com maior rapidez do novo para o velho
mundo e vice-versa, auxiliadas pela melhoria das tecnologias de transporte, publicação e
extensão do mercado editorial, em consequência da Revolução Industrial.
A ideia de Amazônia como Paraíso ou inferno verde marcou o pensamento daqueles
que se aventuraram a conhecê-la, essas ideias cruzaram o mundo em suas bagagens,
juntamente com expectativas, preconceitos e visão de mundo. De certa maneira, toda a
literatura produzida sobre a Amazônia, nesse período, carregava tal dicotomia.
Vale lembrar que por mais específicos que fossem os objetivos dessas viagens (como
a exploração da fauna e flora), cada relato também mostrava um pouco da vida social dos
indivíduos que aqui viviam. Dentro dessa perspectiva surge a indagação: Como estão
representadas as mulheres amazônicas nos relatos dos naturalistas do século XIX?
Por meio da leitura dos relatórios de pesquisa deixados pelos naturalistas: Alfred
Russel Wallace, Henry Walter Bates e Luiz e Elizabeth Agassiz pretendeu-se investigar o
cotidiano das mulheres amazônicas tanto no meio urbano quanto no meio rural durante o
século XIX.
A metodologia usou de pesquisa bibliográfica elaborada a partir de material já
publicado, por meio de livros e artigos que abordam sobre a temática da mulher no cenário
da Amazônia do século XIX a fim de se obter um panorama sobre o tema pesquisado e
destacar quais aspectos são abordados (social, familiar, trabalho).
Além da pesquisa bibliográfica, foi utilizado também o método indiciário que propõe
um modo interpretativo centrado sobre os resíduos e dados subsumidos, porém reveladores
aos propósitos da investigação histórica.
2. AFINAL, QUEM ERAM OS ESTUDIOSOS QUE PRODUZIRAM OS RELATOS SOBRE A
AMAZÔNIA?
Jean Louis Rodolphe Agassiz nasceu em Môtier (Vully) em 28 de maio de 1807, no
cantão de Friburgo, Suíça. O início da sua educação começou em casa, seguido de quatro anos
numa escola secundária em Bienne, completou os seus estudos elementares na academia de
Lausanne. Selecionando a medicina como a sua profissão, estudou nas universidades de