Este documento apresenta o circuito dos grupos de teatro em Curitiba, descrevendo suas principais características. O circuito engloba diversos grupos que se apresentam no Festival de Teatro de Curitiba, um dos maiores eventos do gênero no país, e em outros eventos como o Fringe e o Festival de Teatro Estudantil. Apesar da falta de dados precisos, percebe-se a grande variedade de grupos existentes na cidade, de diferentes estéticas e propostas.
3. ALISON GABRIEL MOREIRA GUERREIRO
ANDERSON FABIANO PEREIRA
AUGUSTO DE PAULA SOUZA
DHANDARA EMMANUELY MESSIAS
GABRIELA DE ANDRADE NUNES
GABRIELE MELO LEONARDI DOS SANTOS
ISABELA NIZER
LARISSA FERREIRA DE FRANÇA
LUCAS JOSÉ NEVES
Circuito dos Grupos de Teatro em Curitiba
Trabalho apresentado ao Curso de Comunicação Organizacional da Universidade
Tecnológica Federal do Paraná como
requisito parcial para aprovação na
disciplina de Projeto Integrador 2, sob a
orientação geral da Prof.ª Dra. Valéria
Oliveira Santos.
Curitiba, 2018
6. Lista de abreviaturas e siglas
CCCEP Corpo Cênico do Colégio Estadual do Paraná
CEP Colégio estadual do Paraná
CEEP Colégio Estadual de Ensino Profissional
CIA Companhia
DANCEP Grupo de Dança Contemporânea do Colégio Estadual do
Paraná
DJ Disc Jockey (em inglês) ou “disco-jóquei” (em
português)
FAP Faculdade de Artes do Paraná
GTCC Grupo de Teatro do Clube Curitibano
G.A.T.A Grupo Adulto de Teatro Amador
GRUTA Grupo de Teatro Amador do Colégio Estadual do Paraná
GRUTUN Grupo de Teatro do UniBrasil Centro
Universitário
IBB Igreja Batista do Bacacheri
ITECNE Instituto Tecnológico Educacional de Curitiba
PIB Primeira Igreja Batista de Curitiba
S.E.M CIA de teatro Sentimento, Estéticas e Movimento
TETEF Teatro da Escola Técnica Federal
TECEFET Teatro do CEFET
TGCEP Teatro Grego do Colégio Estadual do Paraná
TUT Teatro da Universidade Tecnológica Federal do Paraná
USP Universidade de São Paulo
UTFPR Universidade Tecnológica Federal do Paraná
11. Capítulo 1 – Apresentação do Circuito
1.1 Apresentação da Categoria Circuito
Para entender o contexto deste trabalho, é primeiramente preciso
compreender o significado da categoria circuito. Como explica Magnani, o conceito
está relacionado às pessoas:
Trata-se de uma categoria que descreve o exercício de uma prática ou a oferta de determinado
serviço em estabelecimentos, equipamentos e espaços que não mantêm
entre si uma relação de contiguidade espacial, sendo reconhecido em seu
conjunto pelos usuários habituais: por exemplo, o circuito gay, o circuito
dos cinemas de arte, o circuito neoesotérico, dos salões de dança e shows
black, do povo-de-santo, dos clubbers, dos evangélicos gospel e tantos
outros (MAGNANI, 2012 p. 97).
Circuito está também relacionado ao espaço – não somente como local ou
cenário, mas como parte de um compartilhamento de certas práticas e de
atribuição de sentido entre um grupo e uma localidade. Nesses espaços,
determinadas pessoas se permitem criar relações, permitem-se falar, agir e
expressar suas similaridades de maneira mais profunda, ou seja, o circuito é um
espaço de sociabilidade.
No entanto, um circuito não está delimitado fisicamente por um ou mais
estabelecimentos ou espaços; pode mudar geograficamente, de maneira dinâmica,
a depender das pessoas, sazonalidade, entre outras variáveis. Mesmo não havendo
proximidade, as pessoas se reconhecem dentro do circuito de maneira orgânica. Ou
seja, o circuito acaba não sendo um território demarcado em um mapa ou a área
de uma construção; cada um abrange inúmeros lugares diferentes e separados
fisicamente.
Sendo assim, é importante entender o circuito como algo vivo e em
constante mutação, por ação dos atores que o constituem. É também válido
ressaltar sua permeabilidade: um circuito pode englobar sub-circuitos e dividir
12. espaços e características uns com os outros – ou seja, são reconhecidos pelas
similaridades e fazem sentido dentro de um circuito maior, único.
1.2 Apresentação das Características Gerais do Circuito
O circuito que será estudado neste trabalho é o dos Grupos ou Companhias
de Teatro em Curitiba. A cidade abriga diversas atividades relacionadas ao
universo teatral, como escolas, montagens de espetáculos e ainda entre os
meses de março e abril é palco do tradicional Festival de Teatro de Curitiba . O
1
evento conta com a participação de artistas de todo o país e com espetáculos
dos mais variados gêneros, porém os elementos mais importantes para a sua
realização são justamente os grupos de teatro curitibanos.
A edição de 2019 trouxe cerca de 400 espetáculos de treze estados
brasileiros e cinco países diferentes, totalizando mais de 1700 apresentações
que mobilizaram 2500 artistas, para um público estimado de 200 mil pessoas,
sendo 40 mil turistas. As apresentações ocorreram em 80 espaços diferentes,
como teatros, praças, parques ruas etc. Em decorrência do festival, foram
criados aproximadamente 1700 postos de trabalho, sendo 700 diretos e 1000
indiretos (ROSA, 2019a). O festival é dividido em vários segmentos, dentre eles
a Mostra Oficial e o Fringe.
A Mostra Oficial conta com espetáculos selecionados por uma curadoria,
com o objetivo de trazer o que há de mais relevante e diverso no cenário
nacional e internacional. A edição de 2019 contou com a curadoria dos atores e
diretores Guilherme Weber e Marcio Abreu, que selecionaram 27 espetáculos
diferentes (FESTIVAL DE CURITIBA, 2019b).
O Fringe é um festival alternativo de teatro, presente em diversos lugares
do mundo, que ocorre sempre de forma paralela aos festivais oficiais . O Fringe
2
1
Criado em 1992, o Festival de Teatro de Curitiba tem como fonte de inspiração o Festival Internacional de Edimburgo, que é considerado
o maior e mais antigo festival teatral do mundo. Em 2019, o Festival de Teatro de Curitiba completou a sua 28º edição em 2019, e de
acordo com seu diretor, Leandro Knopfholz, é o maior evento nacional dedicado às artes cênicas, levando em conta “a oferta de
espetáculos, a quantidade de público, o número de artistas que movimenta e a duração” (MOSER, 2018).
2
Surgiu de forma espontânea no ano de 1947, na cidade de Edimburgo, na Escócia, criado por companhias que não estavam na
programação do Festival Internacional de Edimburgo (CIA AMADEUS, 2010)
13. Curitiba nasceu no ano de 1998, na sétima edição do Festival de Teatro de
Curitiba, como um espaço aberto e sem curadoria. Qualquer grupo ou
companhia que tenha interesse pode participar, desde que 80% dos seus
integrantes possuam o DRT, que é o registro profissional da categoria (FESTIVAL
DE CURITIBA, 2019a) .
3
Na edição de 2019, centenas de peças estiveram na programação do
Fringe: espetáculos de diversas linguagens e gêneros, realizados em vários
locais de Curitiba. Sua divulgação sempre está presente no guia oficial da
programação do Festival de Teatro de Curitiba e atualmente ele é considerado
uma de suas frentes.
O teatro de rua também está presente no Fringe. Nessa modalidade, os
atores encenam o espetáculo em espaço aberto. Segundo o produtor Fábio de
Souza, essa prática reforça a ideia de democratização e acessibilidade da arte,
pois atinge um público variado, “aqueles que não tem o costume de ir ao
teatro, estão na correria o dia todo, passam aqui, esquecem a rotina, e se
divertem um pouquinho, nem que seja por 20 minutos” (ROSA, 2019b). Segundo
o produtor, as pessoas que estão passando e se deparam com o teatro de rua se
interessam e pedem informações sobre os locais de outras apresentações.
Curitiba também é sede, desde o ano de 2016, do Festival de Teatro
Estudantil. O evento é realizado pela Cia Teatral Jully Grisbach, com o apoio
do Centro Cultural Teatro Guaíra, através do Teatro Zé Maria. Em sua terceira
edição, contou com a participação de 14 instituições de ensino, entre públicas
e privadas, de Curitiba, Região Metropolitana e de fora do estado (BEM PARANÁ,
2018). O grande objetivo do festival é incentivar e promover as aulas de teatro
em instituições de ensino, além de promover o debate no âmbito educacional
sobre a importância das artes cênicas para a juventude (FESTIVAL DE TEATRO
ESTUDANTIL, 2019).
3
A ideia desse festival é proporcionar espaço para grupos que não estão na Mostra Oficial, além de democratizar a arte, levando-a para
mais perto do público e com bilheteria acessível. São apresentadas peças gratuitas, com modelo “pague quanto vale” e com valores de no
máximo R$ 60,00.
14. Não foram localizados dados estatísticos que apontassem um número
preciso de grupos de teatro existentes em Curitiba, porém através do
levantamento de dados realizado na internet, verificamos que há uma grande
variedade de grupos, de diferentes gêneros, estéticas e propostas.
De acordo com a doutora em Artes Cênicas pela USP, Verônica Gonçalves
Veloso, um grupo de teatro não é apenas um “amontoado” de gente, é um
coletivo com um interesse em comum. O termo “grupo” ganhou destaque em
meados da década de 1960, e é entendido como uma união de longo prazo, em
que a vivência dos seus membros não está ligada apenas à execução de um ou
dois projetos (VELOSO, 2008).
O conjunto de pessoas com interesses comuns que caracteriza o grupo teatral tem como modelo
de estruturação grupos de longa vida, aqueles que
permanecem juntos vinte, trinta anos. Talvez a principal
característica desses agrupamentos seja sua relação com o
tempo, sua formatação duradoura. Esse modelo de grupo
estável, com atestado de qualidade garantido pelo tempo de
trabalho tem um papel muito importante na organização dos
artistas enquanto classe de trabalhadores. (VELOSO, 2008, p.2)
Por outro lado, coletivo de teatro está mais ligado à ideia de uma união
menos estável, focada em projetos específicos, e por isso, não possui a vivência
de grupo. Segundo Veloso, “o coletivo sobrevive o tempo que dura a
empreitada, tem hora de começar e de acabar”. Veloso compara grupo a um
casamento, e coletivo a um namoro (VELOSO, 2008)
No levantamento realizado, podemos destacar alguns grupos teatrais
curitibanos que apostam em diferentes linguagens. Dentre esses grupos, uma
parcela é formada por profissionais, outra mescla atores profissionais e artistas
amadores, e outras são exclusivamente de grupos amadores.
O Estábulo de Luxo é um grupo profissional, criado em 2011 pelos
artistas Danielle Campos e Ricardo Nolasco, filiado à Selvática Ações Artísticas
(MACHADO, 2014). É um dos vários grupos que ocupam o Espaço Cultural Casa
Selvática, localizado na rua Nunes Machado, 950, no bairro do Rebouças. O
15. grupo discute temas como gênero, identidade, desconstrução da padronização
dos corpos, e busca o desenvolvimento de uma linguagem particular, por meio
de experimentações. Tem como referências artísticas as vanguardas do início
do séc. XX, a antropofagia, a literatura e dramaturgia clássica, o teatro de
revista. O grupo tem uma pesquisa contínua sobre o formato cabaré. Os
espetáculos “Momo – Para Gilda com Ardor” e “Cabaret Macchina”, foram
destaques, e integraram a Mostra Oficial do Festival de Teatro de Curitiba, nas
edições de 2017 e 2018 (SELVÁTICA, 2019).
O grupo Antropofocus existe desde o ano 2000. O grupo tem como
objetivo criar um humor criativo, que fuja do lugar comum, e com criações
coletivas, em que todos os membros possam contribuir com ideias, através de
coautoria. Nesses quase 20 anos de existência, o Antropofocus já realizou
estudos das mais diversas linguagens, como esquetes, improvisações, formatos
lineares, dramaturgia sem uso de som, voltado ao público cego, entre outros.
Possui sua sede na rua Sete de Setembro, 2620, sala 05, no centro. O local,
além de abrigar o espaço de criação, também é uma escola de teatro, onde são
oferecidos diversos cursos (ANTROPOFOCUS, 2019).
A Comparsaria Cênica é um grupo de circo-teatro curitibano formado por
atores profissionais e amadores, atualmente sediado na rua Camões, no bairro
Alto da XV. Tem como objetivo levar bem-estar e qualidade de vida por meio
do teatro e pelo uso da linguagem circo-teatral. Quem dirige os comparsas
(como são chamados seus integrantes) é o professor e diretor Helio de Aquino.
O início de suas atividades foi em 2013, no bairro Bom Retiro. No ano seguinte,
o grupo se mudou para uma casa no bairro Vista Alegre. Na nova sede,
montaram espetáculos em que convidava o público a acompanhá-los pelos
diversos cômodos da residência, com o objetivo de aproximar o espectador da
narrativa da peça (COMPARSARIA CÊNICA, 2019) .
4
4
O grupo oferece também o Teatro-escola, que é a montagem adaptada do seu repertório em espaços escolares e peças de cunho
pedagógico, com temas relacionados à infância e adolescência. Há também o projeto “Clownparsas”, que são intervenções com palhaços
em eventos de empresas e confraternizações. Outra atividade é o “Playback”, que consiste na improvisação e criação de cenas a partir de
histórias contadas pela plateia. Esse projeto visa à reflexão de situações e problemas que podem ocorrer em uma organização, e para isso
contam com a assessoria de um profissional da psicologia. Além disso, ministram oficinas e cursos de circo-teatro, os quais disponibilizam
16. O Grupo Lanteri possui mais de 40 anos de existência. Foi fundado em
1978, na Paróquia São Paulo Apóstolo, no bairro São João em Curitiba. O grupo
é responsável pela montagem da já tradicional encenação “Paixão de Cristo”,
que ocorre todos os anos na páscoa. O grupo também encena diversas outras
peças com temáticas religiosas, de viés católico. As apresentações sempre são
abertas ao público e são realizadas, em grande parte, em locais de grande
circulação – como terminais, ruas da cidadania e praças. Define-se como um
grupo de “teatro feito pelo povo e para o povo”. Conta com atores profissionais
e amadores. Os seus integrantes são voluntários, e apesar das temáticas
católicas, aceita pessoas de todas as religiões (GRUPO LANTERI, 2019).
Em Curitiba, existem ainda grupos teatrais que são organizados por
instituições de ensino. Além de envolver os estudantes das escolas,
universidades e faculdades responsáveis, esses grupos, em sua maioria, incluem
também a comunidade.
Dentre os grupos, estão incluídos o TUT (Teatro da Universidade
Tecnológica Federal do Paraná), o GRUTA (Grupo de Teatro Amador do Colégio
Estadual do Paraná), o GRUTUN (Grupo de Teatro do UniBrasil Centro
Universitário), o Grupo de Teatro da FAE e a PalavrAção (Companhia de Teatro
da UFPR) os quais terão suas principais informações – como datas, locais de
funcionamento e formas de ingresso – apresentadas a seguir:
O TUT foi fundado em 1972. Ao longo dos anos, o grupo teve vários nomes
diferentes, sempre acompanhando as alterações da própria instituição, a qual
faz parte. Até o ano de 1978, se chamava TETEF (Teatro da Escola Técnica
Federal), posteriormente passou a se chamar TECEFET (Teatro do CEFET), e
apenas em 2005, adotou o atual nome, quando se firmou como um grupo de
teatro universitário (UTFPR, 2018). Sediado no Campus Curitiba, na Av. Sete de
Setembro, 3165, Rebouças, o grupo abre seleções de elenco para toda a
comunidade, com prioridades para estudantes e servidores da UTFPR, em forma
inscrições pelo site que mantém com notícias e informações sobre o grupo. No Festival de Teatro de Curitiba de 2019, o grupo participou
do Fringe, apresentando onze espetáculos em parceria com outros grupos de circo-teatro (COMPARSARIA CÊNICA, 2019).
17. de extensão universitária. Realiza as suas principais atividades durante a
semana, nas segundas e quartas-feiras das 18h30 às 22h (EVEN3, 2019).
Localizado na Av. João Gualberto, 250, Alto da Glória o GRUTA realiza
suas atividades nas sextas-feiras das 13h50 às 17h30 e nas terças e
quartas-feiras das 18h35 às 21h15. Não é exclusivo para estudantes: a
comunidade também pode fazer parte, sendo necessário realizar a inscrição,
ter no mínimo 15 anos e estar cursando o segundo ano do ensino médio (CEP,
2017).
Criado em 2007, o grupo GRUTUN, que realiza suas atividades aos sábados
na Rua Konrad Adenauer, 442, Tarumã das 13h30 às 16h, possui mais de 20
peças realizadas. O grupo é exclusivo para alunos, egressos e funcionários do
Centro Universitário UniBrasil (UNIBRASIL, 2018).
Em 2009, foi criado o Grupo de Teatro da FAE, o grupo já se apresentou
em eventos e festivais, e para melhorar suas técnicas utiliza adaptações de
textos dramatúrgicos nacionais e internacionais. Suas atividades ocorrem aos
sábados, das 9h ao 12h no Colégio Bom Jesus Lourdes, Rua Fioravante Dalla
Stella, 90, Cristo Rei. O grupo é aberto tanto para alunos da instituição quanto
para a comunidade, para participar é necessário passar por um processo
seletivo (FAE, 2019).
A Companhia PalavrAção foi fundada no ano de 1995 e tem como
principal objetivo a formação e preparação do ator. Os ensaios da Companhia
ocorrem de segunda a quinta das 19h às 22h, na Rua XV de Novembro, 695,
Centro. Para integrar a equipe, é necessário passar por um processo seletivo
(COMPANHIA DE TEATRO DA UFPR, 2019).
1.3 Apresentação de Dados Secundários Levantados
Inicialmente, o grupo mobilizou-se para reunir conhecimentos a respeito do
grupo social “estudantes de teatro em Curitiba”, no entanto, nesse processo de
investigação, concluímos que o projeto seria muito mais enriquecedor, tanto do
ponto de vista de volume informativo disponível, quanto de interesse pelo assunto
18. por parte dos integrantes, se o tema principal fosse alterado para
“grupos/companhias de teatro em Curitiba”. Para que o leitor possa compreender
como essa alteração se mostra mais proveitosa, o grupo concordou em manter,
apenas neste tópico, os resultados da pesquisa inicial, sobre os estudantes. Nesse
levantamento, nosso grupo deparou-se com artigos de diversas perspectivas.
O artigo “Teatro de grupo contra o deserto do mercado” de Iná Camargo
Costa (2007) reflete sobre os motivos pelos quais os teatros de grupo no Brasil
perderam força nas últimas décadas em comparação com seu início, já que, desde
que o país adotou a linha neoliberal, a arte passou a ser mero produto comercial.
Na década de 90, surgiu o movimento “Arte contra a Barbárie”, formado por grupos
teatrais e personagens atuantes da arte em São Paulo, a fim de contestar a
instauração da Lei Rouanet (estavam inconformados com os critérios de seleção
para a obtenção de recursos) e propor outras críticas, como ao baixo orçamento
destinado ao Ministério da Cultura, além de lutar por políticas públicas para a
cultura (COSTA, 2007).
No artigo “Investigando a recepção em um projeto de teatro na
comunidade”, Beatriz Ângela Vieira Cabral e Dan Olsen analisaram o projeto de
pesquisa “Teatro em Trânsito – formas interativas de teatro em comunidade”. Os
autores avaliaram a recepção do espetáculo por três grupos distintos de
participantes: atores com experiência anterior (alunos e professores de teatro),
atores sem experiência anterior (participantes da comunidade) e espectadores.
(CABRAL; OLSEN, 2005).
Com os resultados da pesquisa, notou-se que os estudantes de teatro e os
atores com e sem experiência concordaram com o aspecto que causou mais
impacto na montagem: a dramaturgia, considerando as situações inesperadas como
característica mais importante da narrativa. Os espectadores também acharam que
o maior impacto foi causado pela dramaturgia, mas apontaram como primeira
opção a variável “possibilidade de interpretações distintas” – contrariando a
expectativa inicial de que haveria uma distinção significativa entre a recepção por
parte dos alunos de teatro e por parte dos espectadores. (CABRAL; OLSEN, 2005).
19. No artigo “Teatro, corpo, experiência e sentido: análise de protocolos
teatrais verbo-visuais”, Jean Carlos Gonçalves (2015) apresenta uma nova
abordagem educacional para teatro de maneira que desse voz para os alunos, para
que pudessem expressar as experiências vivenciadas nas aulas, preparar-se para a
experiência cênica e exercer sua criatividade. Essa nova proposta envolveu a
metodologia de “protocolos”, entendida como espécie de registro de
aula/depoimento. Gonçalves reconheceu que o trabalho com os protocolos se
mostrou útil para instigar o diálogo entre professor e alunos sobre as experiências
cênicas vivenciadas e todos os alunos-autores concordaram que a corporeidade é
um dos aspectos mais importantes durante a aula de teatro e durante a execução
da peça. O contato com o próprio corpo e com os demais corpos facilita e
possibilita a interação entre os atores e entre o ator e o público, sendo o teatro um
ato vivo (GONÇALVES, 2015).
Dois dos artigos estudados destacam o teatro como “ação pedagógica”, em
“Avaliação em Teatro: Reflexões a Partir das Vozes do Aluno”, também de Jean
Carlos Gonçalves, é repensado o relacionamento entre professor e aluno de teatro
no contexto de avaliador e avaliado. Gonçalves afirma que o professor está
interligado com a criação dos alunos, agindo de maneira similar a um diretor
cênico, que está ao mesmo tempo avaliando e ensinando os atores. Gonçalves
conclui que “em teatro, a melhor forma de avaliação acontece em meio ao
diálogo” (GONÇALVES, 2014, p.90).
Já Vera Lúcia Bertoni Dos Santos fomenta, em seu artigo “Formação docente
em Teatro: pesquisa aliada à ação pedagógica”, uma reflexão sobre as questões e
problemas acerca dos interesses pessoais dos estudantes de graduação. Ao analisar
os resultados obtidos, Dos Santos pôde observar os impactos práticos na formação
da identidade do docente de maneira crítica: tais como a importância da
espontaneidade na prática e no ensino teatral, as práticas pedagógicas empregadas
e sua efetividade, e demais questões de ensino. Além disso, também foi observada
a importância da troca de conhecimentos e experiências durante o estudo
20. empírico, que mudaram a visão de mundo dos atores sociais envolvidos e
possibilitaram um ganho de referenciais (SANTOS, 2018).
Ao buscar mais informações sobre a saúde dos estudantes de teatro, o grupo
encontrou o artigo “Atores profissionais e estudantes de teatro: aspectos vocais
relacionados à prática” escrito por Juliana Richinitti Vilanova, Jair Mendes
Marques, Vanessa Veis Ribeiro, Amanda Gabriela de Oliveira, Lídia Teles e Kelly
Cristina Alves Silverio, que apresenta um estudo comparativo entre a prática
teatral e suas implicações na voz de atores profissionais e estudantes de teatro.
Foram analisados os resultados de uma pesquisa quantitativa, feita através de
aplicações de quatro questionários onde foram divididos em quatro tópicos:
aspectos relacionados à prática profissional; aspectos relacionados à voz; hábitos
vocais, de saúde e condições ambientais; e cuidados com a voz (OLIVEIRA;
MARQUES; RIBEIRO; SILVÉRIO; TELES; VILANOVA; 2016).
O estudo constatou que, entre os estudantes, houve menor incidência de
problemas na fala – como rouquidão, afonia e outros. Além disso, as estatísticas
desses dados mostraram maior incidência entre os profissionais de práticas
inadequadas em relação à saúde, uso da voz e condições ambientais, como o uso da
voz enquanto estavam gripados, com respiração inadequada e maior permanência
em locais fechados, com mofo, poluição ou pouca ventilação. Além disso, também
ensaiavam em locais com condições acústicas diferentes do local em que é
realizada a apresentação (OLIVEIRA; MARQUES; RIBEIRO; SILVÉRIO; TELES;
VILANOVA; 2016).
Já Edson Simões, no artigo “A Construção da Personagem no Teatro pelo
olhar da Psicologia Social”, afirma que o comportamento social é essencial para
que o ator execute seu trabalho, pois a partir da relação estabelecida entre o ator
e o outro é que o seu trabalho se concretiza. Simões conclui considerando que a
formação de um personagem, além da relação com o outro, dá-se também a partir
de relações sociais em que o ator, independentemente de seu personagem, está
inserido. Dessa maneira, ele reproduz a realidade em volta de si mesmo e de seu
personagem (SIMÕES, 2010).
21. Com o objetivo de melhorar o entendimento do conteúdo explorado, a partir
deste parágrafo, seguiremos apresentando somente referências encontradas pelo
grupo que abordam o objeto atual de nossa pesquisa: “grupos/companhias de
teatro em Curitiba”.
O artigo “Um novo cenário: conquistas e contradições do atual teatro de
grupo brasileiro” de Christina Streva apresenta características do teatro de grupo
no Brasil nas últimas décadas, além de informações sobre como é o cenário dos
grupos de teatro no Brasil. A autora afirmou que os grupos de teatros vêm
conquistando grande crescimento e fortalecimento nacional, já que, devido à “boa
fase” da economia a partir de 2000, os grupos foram obtendo conquistas em
relação ao Estado. Pode-se citar – novamente – como um grande exemplo o
movimento “Arte contra a Barbárie”, que resultou na Lei de Fomento ao Teatro
(Lei 13.279/02) (STREVA, 2014).
Segundo Streva, encontram-se no país diversos grupos de teatro estáveis e
consolidados, porém ainda é grande o número de grupos brasileiros que não
possuem condições de manter plenamente o grupo de teatro em atividade. Para
que houvesse uma continuidade dos grupos teatrais e para diminuir o número de
“desistentes”, foram adotadas estratégias, como: turnês, apresentações em
festivais, vendas de produtos relacionados à peça, além de tudo o que envolvesse a
parte administrativa de um grupo teatral (STREVA, 2014).
Já em “Reflexões sobre os vinte anos de experiência do grupo de teatro Tá
na Rua” de Amir Haddad (2001), é refletido a importância do teatro de
manifestação pública em oposição ao teatro formal de recinto fechado. Haddad
notou que, quando o grupo Tá na Rua partiu para a prática teatral pública, o teatro
havia conquistado uma nova linguagem, praticando uma interação mais direta com
a plateia – algo bastante incomum na época, quando lugar de teatro era no palco e
não nas ruas (HADDAD, 2001).
Essa forma de teatro popular foi a maneira de os grupos de teatro se
rebelarem contra o estabelecido. Assim, eles romperam seus laços com os
“procedimentos éticos da burguesia capitalista protestante” (2001, p. 157),
22. focando-se em dar às pessoas comuns a chance de participar da festa, permitindo
que a plateia se sentisse mais à vontade e sem medo de interferir no show. Pelo
fato de o teatro estar na rua, os indivíduos poderiam sair da rotina de trabalho e
esboçar seu lado criativo e lúdico, como um ser humano pleno e livre – e isto
reforça a cidadania. (HADDAD, 2001).
A respeito da participação dos grupos e companhias de teatro no cenário
curitibano e, pelo estudo da história, percebeu-se que o teatro se tornou uma
forma de resistência política, conforme aborda a dissertação “Arte e política: O
teatro como prática de liberdade – Curitiba (1950-1978)” de Reinaldo Cerqueira
Sousa. Conforme é relatado pelo autor, no período de regime militar, a arte e a
cultura se mantiveram firmes e constantes em volume e abundância: mesmo com a
proposta política de que a ordem e o progresso viriam por meio da força, da
violência e de variadas técnicas de torturas, o teatro era um divisor de águas para
a cultura, para a política e para os livres pensadores. Foi um espaço para a
compreensão da arte da cultura e da política, um lugar para os desabafos sociais e
de renovação das forças. Na década de 50, Curitiba teve seus espaços públicos e
teatros tomados pela população de artistas, músicos e eruditos. (SOUSA, 2010).
Em “Visões de Curitiba em Cena”, Costa relata que, quando inaugurado o
Auditório Bento Munhoz Neto – o Guairão – em 12 de dezembro de 1974, estava
presente o então presidente da República: Ernesto Geisel. Nesse período, foram
criados e produzidos textos e musicais com discursos ufanistas, em tentativa de
silenciar as vozes das Revistas (peças teatrais que aliavam a sátira política e social
ao cômico e modismos em uma composição capaz de reproduzir, sob uma ótica
crítica, o cotidiano da realidade social) que eram levadas aos palcos, e que até
então, eram críticas políticas em tons humorísticos (como, por exemplo, a peça
“Maria Bueno”, de Oraci Gemba, que trazia a narrativa da mulher que luta contra a
opressão e a favor da liberdade) (DA COSTA, 1998).
Nos textos e encenações dramatúrgicos teatrais, Curitiba não era tida só
como lugar de palco, mas também como cenário ou tema central. Foram criados
enredos de peças que tinham como intuito evidenciar a Curitiba hipócrita, sem
23. virtudes, mordaz ou a capital da perdição. Outras peças representavam uma
Curitiba ingênua, lírica, com belas paisagens, retratando pontos da cidade e
costumes tipicamente curitibanos. Essas batalhas idealistas por meio de palavras se
davam, na maior parte das vezes, graças a uma rivalidade que existia na época em
que foram escritas entre a capital e cidades interioranas (COSTA, 1998).
Sendo assim, após o levantamento de dados, conclui-se que, a respeito do
nosso objetivo de pesquisa em si (grupos/companhias de teatro em Curitiba): os
grupos de teatro são, na verdade, mais que um “amontoado” de gente e sim
pessoas que se juntam para expressarem seus desejos, angústias e críticas por meio
da arte, trazendo diversão, lazer e reflexão a todos envolvidos no espetáculo. No
entanto, ainda há diversos grupos que não têm a oportunidade de se estabilizar. A
prática teatral tornou-se mais democrática ao começar a ser realizada também em
espaços públicos, nas ruas, tornando essa arte de todos, influenciando e sendo
influenciada por todos.
24.
25.
26. Capítulo 02 – Panorama, atores e regras
Este capítulo tem como objetivo destacar alguns aspectos que compõem uma
pequena amostra do universo dos Grupos de Teatro em Curitiba, identificados pela
nossa equipe. Sua realização se deu a partir dos dados coletados durante a pesquisa
de campo ocorrida no mês de abril de 2019, período no qual a equipe visitou 9
grupos de teatro vinculados a escolas, clubes, igrejas (de caráter religioso) ou
independentes. Destacamos o fato de que todas as análises foram realizadas a
partir de um brevíssimo contato com os grupos, pois eles só puderam ser visitados
uma única vez.
Durante esse mês de pesquisa, totalizaram-se 7 espetáculos e 5 ensaios
acompanhados, e, dentre eles, estão:
Espetáculo do Grupo Adulto de Teatro Amador - G.A.T.A.
Assistimos à apresentação da peça “A Neovida contemporânea como ela é” do
grupo G.A.T.A. (que surgiu a partir do processo de criação e produção da peça) no
dia 3 de abril, às 20h, no miniauditório da Universidade Tecnológica Federal do
Paraná. Ao final, participamos de um bate-papo com o diretor Diego Monteiro Von
Ancken, com o elenco e com a equipe de apoio a respeito do processo de criação.
O acesso ao evento e à conversa foi fácil, pois a programação fazia parte do
Festival de Teatro de Curitiba 2019 e nas dependências de nossa própria
universidade. O elenco era pequeno. O grupo é independente
27. .
Figura 1 - A NeoVida contemporânea como ela é - Fonte: Acervo Próprio, 2019.
Espetáculo da Comparsaria Cênica
Assistimos à apresentação da peça “O Craque do Futebol” no próprio espaço
da Comparsaria Cênica no Alto da XV dia 3 de abril às 20h. Fizemos contato e
conversamos com o diretor Hélio de Aquino e o ator Felipe Baluta. O grupo é
pequeno, no dia apresentava em torno de 7 atores, além do diretor e mais 2
assistentes. O grupo é independente.
Espetáculo do Grupo S.E.M Cia de Teatro (Sentimento, Estéticas e Movimento)
Fomos assistir à apresentação da peça “A Mulher Monstro” do Grupo S.E.M
Cia de Teatro que ocorreu de modo improvisado nas ruínas do São Francisco às 20h
do dia 04 de abril. O grupo, formado em Recife, esteve na capital paranaense para
apresentar-se no Festival de Teatro de Curitiba. O contato foi feito por meio do
ator e fundador do grupo José Neto, tendo sido um acesso fácil; fomos bem
recebidos. Na apresentação, o grupo era pequeno, com apenas 4 pessoas. O grupo
é independente.
28. Figura 2 - S.E.M Mulher Monstro - Fonte: Acervo Próprio, 2019.
Ensaio e Espetáculo do Grupo de Teatro Amador do Colégio Estadual do Paraná
– GRUTA
Acompanhamos o ensaio do musical “Now It Goes” do GRUTA no Colégio
Estadual do Paraná (CEP), no dia 11 de abril às 19h45, e assistimos à apresentação
no Teatro Guairinha, dias 21 às 16h30 e 20h00 e 22 de abril às 20h30. O espetáculo
era inspirado em musicais da Broadway, com texto inédito, canto, dança e
atuação. Nosso principal contato foi com o diretor Lau Bark, que recepcionou-nos
calorosamente desde a troca de mensagens até nos dias de ensaio e apresentação.
Deste modo, o grupo é vinculado a uma escola, ao CEP.
29. Figura 3 - GRUTA - Fonte: Acervo Próprio, 2019.
Espetáculo do Grupo de Teatro do Clube Curitibano – GTCC
Assistimos à apresentação da peça “Sherazade” do grupo de teatro amador
do Clube Curitibano na sede Concórdia no dia 30 de março, às 20h30. Em cartaz
durante o Fringe do Festival de Teatro de Curitiba, o espetáculo foi inspirado nas
histórias de “As Mil e Uma Noites”. O grupo de teatro adulto do Clube Curitibano
recebe os associados do clube na sede Concórdia para montagem, pré-produção e
ensaios de peças teatrais. A equipe da apresentação era composta por 11 atores,
sendo que um deles era o diretor. Além dos atores, havia três músicos e a equipe
técnica. O grupo é, portanto, vinculado a um clube. Por ter sido anterior ao
trabalho de campo em si, a análise feita foi muito mais da perspectiva de um
espectador do que de um pesquisador e não foi feito contato direto com nenhum
dos integrantes do GTCC.
Ensaio: Cia de Teatro IBB (“Cena”)
Acompanhamos o ensaio-geral do musical de Páscoa “Eu Encontrei” da Cia
de Teatro da Igreja Batista do Bacacheri (Cia de Teatro IBB ou “Cena”), que faz
parte do evento anual da igreja conhecido como “Pazcoa Cidade”. A peça era
ambientada na Alemanha Nazista no período da Segunda Guerra Mundial. O ensaio
30. foi no dia 16 de abril, na própria igreja e teve início às 20h. O contato foi
estabelecido por meio da ex-professora de Ed. Física de uma integrante do nosso
grupo: Simone Daldin, que fazia parte do elenco e foi com quem mais conversamos
devido à correria do ensaio. O acesso foi fácil, mas não foi possível conversar com o
diretor ou com o elenco sem atrapalhar o andamento.
Figura 4 - IBB - Pazcoa - Fonte: Acervo Próprio, 2019.
Ensaio do Grupo A Tua Ação
Fomos ao ensaio-geral e à apresentação do musical de Páscoa “Ressurreto”
com o tema “Amor Real” do Grupo A Tua Ação vinculado à Primeira Igreja Batista
de Curitiba (PIB Curitiba). Ambos aconteceram na sede da igreja, sendo que o
ensaio ocorreu no dia 17 de abril às 20h e a apresentação dia 20 às 19h30. O grupo
é um dos grupos de teatro amador da PIB e é formado por membros da igreja,
sendo a maioria dos integrantes adolescentes. Conversamos com o diretor do Grupo
A Tua Ação, Marlon Valério, e fomos muito bem recebidos; ele respondeu a todas
as nossas dúvidas a respeito do grupo. O elenco para esse espetáculo reuniu 16
pessoas, sendo apenas 14 do grupo de teatro.
31. Figura 5 - Tua Ação - Fonte: Acervo Próprio, 2019.
Ensaio do Grupo Lanteri
Visitamos um ensaio da peça “A Paixão de Cristo” do Grupo Lanteri no CEEP
– Colégio Estadual de Ensino Profissional, no bairro Boqueirão de Curitiba. Ela é
encenada todos os anos e conta a história da morte e ressurreição de Cristo, mas,
apesar disso, há novidades a cada vez em que é apresentada. Neste ano, a
inovação foi que a história foi contada pelo apóstolo João – considerado, nas
escrituras cristãs, o discípulo mais próximo de Jesus. A encenação do Grupo Lanteri
é considerada a segunda maior ao ar livre do Brasil (CULTURA 930, 2019). O ensaio
ocorreu dia 06 de abril e teve início às 19h45. Conversamos com Aparecido Massi, o
fundador do grupo, e com alguns dos integrantes, que foram todos bem receptivos.
O grupo apresenta caráter religioso.
32. Figura 6 - Lanteri - Fonte: Acervo Próprio, 2019.
Ensaio e Espetáculo do Grupo Arte e Vida
O Grupo Arte e Vida tem como foco principal a realização de peças em datas
comemorativas cristãs. Assistimos ao ensaio e à apresentação do espetáculo
“Paixão de Cristo” e ambos aconteceram na Rua da Cidadania do Bairro Novo. O
ensaio foi dia 6 de abril às 16h e a apresentação às 20h do dia 19 de abril. No dia 6,
havia algo próximo de 200 pessoas compondo toda a equipe. O contato foi fácil,
com a coordenadora geral Claudia Barreto, com o coordenador adjunto Gilberto
Silva e com o idealizador e líder vereador Marcos Vieira. O espetáculo, que teve
duração de aproximadamente 3 horas, foi assistido por cerca de 8 mil pessoas na
Rua da Cidadania, local onde a peça é encenada, tradicionalmente, há 20 anos. O
grupo apresenta caráter religioso.
33. Figura 7 - Arte e vida - Fonte: Acervo Próprio, 2019.
2.1 PANORAMA: uma análise geral dos Grupos de Teatro em Curitiba
Com a finalidade de garantir uma melhor compreensão a respeito do circuito
pesquisado, traçaremos um panorama geral dos grupos de Teatro em Curitiba
visitados.
À grosso modo, os grupos independentes (G.A.T.A., Grupo S.E.M. Cia de
Teatro e Comparsaria Cênica), com exceção da Comparsaria, apresentaram-se
trabalhando em situações provisórias e utilizando espaços e elementos cedidos. Os
atos das peças teatrais dos grupos G.A.T.A. e S.E.M. Cia de Teatro foram
apresentados em um único cenário durante todo o decorrer da encenação – cenário
com mesas espalhadas pelo palco e cenário com uma jaula, respectivamente. No
caso do G.A.T.A., a apresentação aconteceu num espaço cedido pelo professor
Ismael Scheffler do Teatro da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (TUT), e
no do Grupo S.E.M. Cia de Teatro, a apresentação teve de ser realocada para um
local público. O espaço que a Comparsaria Cênica utiliza é alugado (um local atrás
de um café no Alto da XV) e arrecadam dinheiro por meio de programações, como
oficinas, e também por meio do incentivo público.
34. Os grupos vinculados a escolas e a clubes se resumem ao GRUTA e ao GTCC,
e ambos utilizavam espaços próprios. Normalmente, o primeiro utiliza uma sala
própria e o auditório do Colégio Estadual do Paraná para seus ensaios e
apresentações, mas esses espaços estavam em reforma. Portanto, o grupo estava
utilizando uma sala compartilhada com outras áreas (de desenho e de pintura) e
que possui condições precárias, improvisadas e inadequadas à prática teatral. O
GRUTA é sustentado por meio do colégio, mas também através de patrocínios,
contando com um amplo apoio da comunidade teatral. Já o GTCC é um grupo que
utiliza as diferentes sedes do Clube Curitibano para apresentar-se e se mantém
pelo dinheiro do clube.
Os grupos religiosos analisados (Cia de Teatro IBB, Grupo A Tua Ação, Grupo
Lanteri e Arte e Vida) mostraram receber amplo apoio da comunidade, tendo em
vista o número de dias de apresentação e a participação que era, geralmente,
aberta a quem quisesse – com um viés mais amador. A Cia de Teatro IBB e o Grupo
A Tua Ação pertencem a igrejas e, por isso, elas são seus espaços próprios para os
ensaios, mas o Lanteri e ao Arte e Vida emprestaram locais ou utilizaram locais
públicos.
2.2 ATORES
Tendo em vista que estamos aqui tratando do circuito composto pelos grupos
de teatro de Curitiba e região metropolitana, chamamos de “atores” todos aqueles
que participam da prática em questão. Tratamos, portanto, dos atores sociais que
contrapõem o circuito dos grupos de teatro e contemplamos, entre eles, atrizes e
atores que encenam os espetáculos, interpretando determinados papéis. Seguindo
esse conceito, os atores que compõem o cenário teatral em Curitiba podem e, no
presente trabalho, serão subdivididos em: Diretores; Atores (elenco); e Equipe de
Apoio.
Diretores
De um modo geral, os diretores (e, às vezes, os produtores) dos grupos
independentes analisados participavam das peças também como atores. No caso
35. do grupo S.E.M. Cia de Teatro, a peça “A Mulher Monstro” era um monólogo sendo
interpretado pelo próprio diretor José Barbosa. A respeito da Comparsaria Cênica,
o produtor Hamilton Maia também é ator e participa de todas as peças da
companhia. Entre os grupos pesquisados, apenas o diretor do grupo G.A.T.A. (Diego
Monteiro Von Ancken) não fez parte do elenco da peça assistida “A NeoVida
contemporânea como ela é”.
Nos grupos vinculados a escolas e clubes, observou-se que os diretores
também tiveram participação direta no elenco dos espetáculos. O Lau Bark, diretor
do grupo GRUTA, foi o idealizador do musical “Now It Goes”, mas também atuou. A
peça “Sherazade” do GTCC – Grupo de Teatro do Clube Curitibano contou com a
atuação de Enéas Lour, que também realizou a dramaturgia, cenografia, texto e
direção.
A maioria dos 4 diretores dos grupos de teatro religiosos tiveram a grande
tarefa de dirigir elencos compostos por mais de cem pessoas. Nem todos os atores
eram personagens principais, mas todos os integrantes do elenco precisavam ser
instruídos pelo diretor – o que atribuiu a esse cargo muita responsabilidade. Nestes
casos, os diretores não participaram do elenco. A respeito dos diretores de cada
grupo teatral, o diretor da Cia de Teatro IBB (ou “Cena”) era Rodrigo Lara e o do
musical “Ressurreto 2019” apresentado pelo grupo A Tua Ação era Samuel Barros.
Na peça “A Paixão de Cristo” do Grupo Lanteri, a direção artística geral foi
realizada pelo fundador Aparecido Izabel Massi, que, na fundação do grupo, era
seminarista e gostava de trabalhar com projetos voltados para jovens adolescentes
de sua comunidade – e o Lanteri nasceu a partir desse sentimento. Massi continua
na liderança do grupo e na direção artística dos espetáculos até hoje.
Atores
A maior parte dos elencos estudados era composto por atores amadores. No
caso dos grupos independentes, havia uma mescla entre atores profissionais e
amadores. Uma parte do elenco do grupo G.A.T.A. iniciou a carreira teatral no TUT
(Teatro da Universidade Tecnológica Federal do Paraná) e outra através do curso
36. técnico de teatro subsequente ofertado no Colégio Estadual do Paraná (CEP). O
grupo englobava também pessoas das mais variadas formações: advocacia,
medicina, engenharia civil, educação física, economia etc. O grupo Comparsaria
Cênica é formado por, aproximadamente, dez integrantes fixos, entre eles atores
profissionais e amadores. O conjunto das pessoas que fazem parte do grupo é
denominado “Os Comparsas”. O diretor Hélio de Aquino também é professor
graduado em Artes Cênicas pela FAP (Faculdade de Artes do Paraná) e
pós-graduado em Ensino da Arte pelo ITECNE (Instituto Tecnológico Educacional de
Curitiba). Uma das figuras mais marcantes do grupo é o palhaço “Borracha”,
interpretado pelo ator Felipe Baluta. O Borracha aparece em todas as peças
interpretando diversos personagens e é considerado a estrela do grupo.
Os elencos dos grupos vinculados a escolas e clubes eram pequenos, com no
máximo 15 atores, sendo que, no caso do GTCC - Grupo de Teatro do Clube
Curitibano, alguns atores interpretaram mais de um personagem. Uma das atrizes
do musical “Now It Goes!” do GRUTA interpretou, também, uma personagem
“ninfeta” da peça “A NeoVida contemporânea como ela é”, do Grupo G.A.T.A..
Com isso, percebemos que os grupos de teatro se relacionam e migram atores entre
si.
Os grupos religiosos apresentaram elencos enormes, com mais de cem
pessoas, e das mais variadas faixas etárias (tendo como única exceção o grupo A
Tua Ação, com um elenco de 16 pessoas): desde crianças e pré-adolescentes até
adultos e idosos. Em especial, no caso da Cia de Teatro IBB (ou “Cena”), o coral
era inteiramente completo por pessoas entre 50 e 85 anos e os personagens
principais foram interpretados por pré-adolescentes e por adultos.
Equipe de Apoio
Os grupos independentes apresentaram equipes de apoio compostas por
amigos dos integrantes e por alguns dos próprios integrantes que, além de
participar dos grupos na condição de atores, também realizam outras atividades. A
maquiagem dos atores do G.A.T.A. foi feita gratuitamente por uma amiga do
37. elenco e a montagem do palco pelo professor Ismael Scheffler do TUT (Teatro da
Universidade Tecnológica Federal do Paraná). A sonoplastia do grupo S.E.M. Cia de
Teatro foi feita por um DJ e um ator – que não atuou na peça assistida – ficou
responsável pela iluminação. Na Comparsaria Cênica, uma das atrizes cuida do
figurino e um dos atores da assessoria de imprensa. O grupo valoriza muito o
trabalho colaborativo entre eles e até mesmo os alunos das oficinas oferecidas
participam de algumas peças quando é necessário substituição.
A equipe de apoio dos grupos vinculados a escolas ou clubes era diversa e
mais profissionalizada. A subdivisão para o espetáculo “Now It Goes!” do GRUTA
era: publicidade e assessoria técnica, fotografia, operação, gravação e mixagem de
som, adereços e figurino, iluminação e cenografia, preparação musical e vocal,
direção musical e coreografia. Além dos atores do GTCC, havia quatro músicos e a
equipe técnica. Essa equipe de apoio era subvividida em: maquiagem, composições
musicais, iluminação, figurino etc.
A respeito dos grupos religiosos, as equipes de apoio eram mais visíveis, com
forte presença nos ensaios e com responsabilidades bem divididas. Na Cia de
Teatro IBB, a equipe de produção envolvia os responsáveis pela gravação, pela
projeção das letras de música, pelo som, luz e pela tradução em Libras. No grupo A
Tua Ação, havia a equipe de multimídia, de sonoplastia, de efeitos especiais,
tradutores de libras etc. A equipe de apoio do Grupo Lanteri é organizada em
núcleos: o de atuação, que é liderado por uma pessoa; maquiagem, que se divide
em subnúcleos de envelhecimento, penteados e geral; produção, que se divide em
subnúcleos de cenários, adereços e esculturas; figurino; sonoplastia; e
comunicação. No caso do grupo Arte e Vida, a equipe se organizava através de
orientações passadas por membros mais antigos. Oficialmente, o grupo é
coordenado por um coordenador geral, oito coordenadores de texto, seis de
maquiagem e figurino, cinquenta pessoas responsáveis pela iluminação,
manutenção de som e equipamentos, além de vinte pessoas dando apoio de palco.
38. 2.3 REGRAS
Os aspectos aqui abordados e analisados serão relacionados às regras e
convenções observadas durante o trabalho de campo. Essas regras serão
organizadas nos seguintes tópicos: interação; dificuldades; e outros aspectos que
caracterizam o circuito de grupos de teatro em Curitiba.
Interação
Ao considerarmos o tema interação, foi possível caracterizá-lo em 2 tópicos,
sendo eles: autoridade/hierarquia e afetividade/amizade. Ambos estão presentes
nas relações entre os integrantes dos grupos de teatro e na maneira como são
organizados.
Autoridade/Hierarquia
De modo geral todos os grupos, sendo eles os independentes (G.A.T.A.,
Grupo S.E.M. Cia de Teatro e Comparsaria Cênica), grupos vinculados a escolas e
a clubes (GRUTA e GTCC) ou os religiosos (Cia de Teatro IBB, Grupo A Tua Ação,
Grupo Lanteri e Arte e Vida) demonstraram que possuíam sim uma hierarquia, e
ela era caracterizada pela presença dos diretores de cada grupo. Porém, em todos
os grupos era perceptível que os ensaio/espetáculos eram constituídos pela união
das ideias e opiniões de todos que participavam do grupo.
O diretor do grupo G.A.T.A (Diego Monteiro) contou, durante a roda de
conversa que participamos após a apresentação, que a construção da peça “A
NeoVida contemporânea como ela é” foi realizada em parceria com os atores
(principalmente atrizes, pois o tema abordava as diversas lutas que a mulher
enfrentou e ainda enfrenta na sociedade ao longo dos anos). Ele contou que muitas
cenas foram baseadas em experiências vividas pelas atrizes e que essa troca de
informações, assim como a criação e inserção de falas e ações, fez com que a peça
se tornasse mais condizente com a realidade. Isso demonstrou que, apesar de haver
uma “autoridade” do diretor sobre as tomadas de decisão, o processo de criação da
peça era bem democrático e aberto para contribuições.
39. A relação marcante entre os integrantes do grupo S.E.M Cia de Teatro era de
trabalharem juntos para a melhoria e o aperfeiçoamento da peça, por isso, os
integrantes tinham liberdade para contribuir dentro de sua função – o que
demonstrava a confiança que o diretor José Barbosa tinha nos integrantes. Porém,
sempre que era necessário realizar alguma mudança, eles pediam a opinião do
diretor. Isso evidenciou que, mesmo com a liberdade que os integrantes do grupo
tinham, havia uma hierarquia, pois as decisões do diretor (e também ator) José
Barbosa predominavam, tornando-o essencial na produção da peça.
Quanto ao grupo GRUTA, a hierarquia estava presente em relação às
decisões a respeito do funcionamento da peça (como músicas selecionadas e falas)
e durante o ensaio, que era comandado e controlado pelo diretor, produtor e pelas
professoras de canto e de jazz. Tanto os atores quanto o diretor e as professoras
atuavam no musical, o que tornou a hierarquia praticamente não perceptível. No
entanto, a professora de jazz era tão próxima dos atores (em suas conversas e
práticas) que uma pessoa de fora não perceberia a relação professor-aluno; parecia
ser algo “de igual para igual”.
Os grupos religiosos Cia de Teatro IBB e A Tua Ação eram integrados por
pessoas que frequentam, respectivamente, a Igreja Batista do Bacacheri e Primeira
Igreja Batista de Curitiba e isso faz com que os membros da equipe possuam uma
relação forte de amizade dentro e fora dos palcos. Porém, durante o ensaio do
grupo Cia de Teatro IBB, essa intimidade que existia entre os integrantes do grupo
destacou, em determinado momento, a hierarquia existente na equipe, pois o
maestro usou a ironia para chamar a atenção de algumas pessoas, mostrando sua
superioridade em relação às outras que estavam ali. Ele disse: “vamos fingir que eu
sou o maestro e vocês olham para mim?” e em seguida o ensaio fluiu de uma
melhor maneira, pois os integrantes do musical passaram a prestar mais atenção no
andamento do ensaio.
Afetividade/Amizade
40. A relação interpessoal dos grupos visitados se destacava pela cumplicidade
entre os integrantes. Dentre os grupos independentes, o G.A.T.A destacou-se, pois
a relação entre os integrantes durante a roda de conversa aparentou ser de grande
respeito: todos os integrantes tiveram a oportunidade de responder às perguntas a
partir de seus pontos de vista, contando sempre com o respeito e apoio dos
companheiros de equipe.
Nos grupos vinculados a escolas e a clubes, podemos citar o GRUTA como
exemplo dessa cumplicidade, pois seus integrantes demonstraram possuir uma
grande liberdade e amizade entre si. Antes e durante o ensaio ocorreram
brincadeiras e piadas que evidenciaram a grande parceria que há entre os atores
tanto dentro quanto fora dos palcos. Todos pareciam se conhecer e estarem
confortáveis uns com os outros. Algo que se destacou foi que, durante o ensaio, os
integrantes do grupo se abraçavam muito e essa demonstração de afeto não era
“exclusiva” aos atores, mas houve momentos em que eles permaneciam abraçados
também com o produtor do musical, diretores e outros integrantes da equipe.
Notamos que a interação foi crescendo conforme o ensaio, pois, no início, os
integrantes estavam mais divididos e depois mais próximos, com muita risada e
carinho fora do ensaio e com muito contato visual dentro dele. No entanto, em um
determinado momento a professora de canto chamou a atenção: “interajam mais!”
e então o contato físico tornou-se mais forte nas cenas.
Quanto aos grupos religiosos, na Cia de Teatro IBB os integrantes possuíam
grande amizade proveniente da vivência fora dos palcos nos cultos da Igreja Batista
do Bacacheri. Durante o ensaio, eles chamavam uns aos outros de “irmãos”. O
diretor Rodrigo Lara, que também era o maestro responsável pelo comando do
ensaio, conhecia todas as centenas de pessoas que estavam ali presentes e as
chamava pelo nome. As pessoas no ensaio aparentavam estar bem confortáveis,
muitas vezes fazendo piadas internas e ajudando uns aos outros. No grupo Lanteri,
muitos membros se conhecem há muitos anos e mantém, entre si, um vínculo forte
de amizade. Há membros que participam do grupo há mais de 30 anos, levando
seus filhos e até netos para participarem também. Durante o ensaio, era fácil
41. perceber o clima de cumplicidade entre os membros do grupo. A familiaridade foi
um aspecto positivo para que a interação teatral fosse mais profunda e real.
Dificuldades
Dentre os grupos de teatro analisados, as maiores dificuldades apresentadas
foram: a falta de verba para a montagem e apresentação dos espetáculos e peças,
o que limitava as ações dos grupos e fazia com que eles passassem a depender de
empréstimos (de roupas, cenários e lugares para ensaio e apresentações), e da
ajuda de amigos e dos próprios integrantes do grupo para a confecção de figurinos,
cenários e maquiagens dos espetáculos; falta de tempo para ensaios, pois por
serem, em sua maioria, compostos por voluntários, os grupos de teatro acabam
ficando em segundo plano na rotina dos atores, que só podem ensaiar em horários
limitados, além disso, ocorre que muitas vezes os horários de disponibilidade dos
integrantes para os ensaios não coincidem, o que dificulta a sua organização; a
grande rotatividade de atores, que muitas vezes desistem meses antes da estréia
ou apresentam-se por apenas uma temporada e depois se desligam do grupo; e
falta de espaço para o ensaio e para a quantidade de pessoas envolvidas na
produção do espetáculo (atores e equipes de produção criando cenários e
figurinos). Isso faz com que os grupos ensaiem em locais inadequados (pequenos)
para a prática teatral ou emprestem locais maiores.
Em relação às dificuldades encontradas pelos grupos vinculados a escolas e a
clubes, pode-se destacar o fato de o Colégio Estadual do Paraná (CEP) estar
passando por uma reforma e, como o GRUTA está vinculado a ele, as dependências
onde normalmente ocorrem os ensaios do grupo também estão sendo reformadas.
Dessa forma, a equipe está ensaiando em uma sala pequena que é dividida com
outros setores do CEP e, durante o ensaio, os atores batiam, chutavam e
esbarravam em coisas. O diretor sempre buscava conseguir bons locais de ensaio,
pois o CEP não era suficiente. Para a apresentação, o grupo conseguiu o Teatro
Guairinha. Lá, diferentemente do local onde estava ocorrendo o ensaio, era
excelente para a prática teatral.
42. Alguns grupos entram como exceção às dificuldades apresentadas: os grupos
religiosos Cia de Teatro IBB e Grupo A Tua Ação possuíam um local grande e
adequado para os ensaios. Por serem provenientes de igrejas, esses grupos
possuíam um grande aparato de luz e som para serem utilizados durante os ensaios,
além de conseguirem bancar seus ensaios e apresentações com a ajuda de todos os
membros.
Outros aspectos: relação entre os grupos e o público
Em sua maioria, os grupos de teatro estudados apresentaram grande
interação e abertura para o público. Como destaque, pode-se citar os grupos:
G.A.T.A, GRUTA e Arte e Vida.
Como já comentado, após a apresentação da peça “A NeoVida
contemporânea como ela é” do grupo G.A.T.A, houve uma roda de conversa em
que a equipe de atores e diretores responderam questionamentos feitos pelo
público. Eles tiraram as dúvidas das pessoas que ali estavam de maneira próxima e
acessível. Algumas perguntas faziam fortes críticas à peça, mas, mesmo assim, eles
responderam de forma educada e respeitosa.
O grupo GRUTA, durante seu ensaio, demonstrou grande interesse em
responder aos questionamentos que realizávamos – como pesquisadores – em
relação ao trabalho deles. Muitas vezes, o Lau (diretor) parava o ensaio e vinha até
onde estávamos e perguntava se tínhamos algum questionamento sobre o grupo, o
ensaio ou sobre sua história.
O ensaio do grupo Arte e Vida ocorreu em uma Rua da Cidadania e, por isso,
era visível para as pessoas que passavam a pé, de carro e de ônibus. A interação
que ganhou destaque foi aquela entre os atores e os transeuntes na rua, pois a Rua
da Cidadania não foi interditada para a peça até o dia da apresentação e, por isso,
o contato com os passantes era direto e constante. Muitos paravam admirados para
assistir ao ensaio da peça e até mesmo dar opiniões sobre o andamento do ensaio,
e os atores tinham que lidar com isso em meio à prática.
43. Durante o trabalho de campo, observou-se uma situação delicada em relação
à apresentação do espetáculo “Sherazade” encenado pelo Grupo de Teatro do
Clube Curitibano. O grupo, de certa forma, dificultou o acesso do público à
apresentação de sua peça, pois o clube informou no guia do Festival de Teatro que
a apresentação seria gratuita naquele dia, porém, quando o público tentava fazer a
retirada dos ingressos gratuitamente, os balconistas do local queriam cobrar o valor
de R$ 15,00. Os ingressos só foram cedidos de forma gratuita após provar que
estava anunciada no guia do Festival a gratuidade do espetáculo. E, após o
ocorrido, pediram para que as pessoas que tinham percebido o equívoco não
divulgassem a informação (a gratuidade informada no guia) para outras pessoas.
44.
45.
46.
47. Capítulo 03 – Análise da cultura organizacional do G.R.U.T.A.
3.1 Contextualização sobre Cultura Organizacional e Memória Organizacional
O tópico inicial desta seção tem a intenção de apresentar uma breve
contextualização do que se entende, dentro dos estudos de Comunicação
Organizacional, por Cultura Organizacional, Memória Organizacional e por Formas
da Gestão do Trabalho, a fim de embasar teoricamente os demais conteúdos
desenvolvidos no capítulo. Após a realização da pesquisa de campo e, tendo em
vista a recepção e tempo de vida organizacional, o grupo decidiu focar os estudos
de modo mais específico no Grupo de Teatro Amador do Colégio Estadual do
Paraná (GRUTA). Nesse sentido, esforçamo-nos inicialmente pela construção de
uma explicação clara a respeito desses termos que fazem parte do universo da
Comunicação Organizacional.
Antes de tudo, é preciso compreender “cultura” sob a perspectiva
antropológica do termo. Não levando em consideração o entendimento do senso
comum de que o indivíduo é passível de ser mais ou menos dotado de cultura, mas
sim a percepção encontrada na literatura científica, em que a cultura é
apresentada como sendo algo intrinsicamente humano, como tudo aquilo que o ser
humano consegue aprender, fazer, usar, produzir e conhecer nos grupos sociais aos
quais pertence (DIAS, 2013).
Sendo assim, compreende-se que todos os indivíduos e grupos sociais
possuem sua própria cultura que as distinguem dos demais. Essa bagagem cultural
perpassa pelas gerações desses grupos através da herança social e dos processos de
socialização. Logo, como explicita Dias:
(...) o ser humano é o resultado cultural do meio em que foi socializado. Ele é o herdeiro de um
longo processo acumulativo que reflete todo conhecimento e experiências
adquiridas pelas numerosas gerações que o antecederam (DIAS, 2013,
p.42).
48. A respeito disso, Bronislaw Malinowski (1970) foi quem introduziu a ideia de
existirem “subculturas” dentro de culturas, como, por exemplo: as culturas
regionais, em comparação com as nacionais, conferem subculturas.
Toda cultura possui membros que compartilham significados comuns. Isso
facilita a convivência, a comunicação e a sobrevivência. Para conhecer uma
cultura, é preciso observar suas relações interpessoais, a vida material, o idioma, a
visão estética, a religião, a força da identidade cultural, as manifestações
folclóricas etc. (DIAS, 2013).
Em suma, a área de Comunicação Organizacional adota o conceito
antropológico do termo: cultura é toda produção humana transmitida pela
socialização. Isto é, compreende a totalidade das criações humanas (tanto os
aspectos tangíveis/materiais como os intangíveis/imateriais), é uma característica
exclusiva dos humanos (excluindo os animais), e é transmitida pela herança social
(e não pela biológica) (DIAS, 2013).
Partindo dessas interpretações, Cultura Organizacional passa a ser
entendida, basicamente, como a composição das culturas locais, regionais e
nacionais dos contextos sociais onde as organizações estão inseridas e também das
culturas individuais – levando em consideração que as organizações se constituem
por pessoas. Por esse motivo, não há apenas uma definição única disponível, mas,
no geral, Cultura Organizacional é entendida como um sistema de valores e crenças
compartilhadas que geram efeitos sobre os comportamentos em uma organização.
É ela quem guia as escolhas e dá significado às atividades. (DIAS, 2013)
Dentre as funções da Cultura Organizacional, é possível identificar:
transmitir sentimento de identidade aos membros; facilitar com que as pessoas
assumam um compromisso com algo maior do que si mesmas; contribuir para
fortalecer a estabilidade do sistema social; e oferecer normas que facilitem a
tomada de decisão. (DIAS, 2013)
Didaticamente, existem alguns elementos que dão sustentação à Cultura
Organizacional e que facilitam e conduzem ao enfrentamento de problemas, sendo
49. chamados de “elementos estruturantes”. Eles podem ser analisados tanto no nível
organizacional como em grupos ou subculturas. Edgar Schein foi um dos autores
que classificou esses elementos entre aqueles que fazem parte do Núcleo Central
(Crenças, Valores e Pressupostos Básicos) e os que conferem Formas Visíveis e
Expressíveis (Artefatos, Condutas, Heróis, Linguagem, Ritos e Rituais, Símbolos e
Slogans). As Formas Visíveis e Expressíveis determinam os elementos do Núcleo
Central (DIAS, 2013).
É possível pensar uma organização como uma entidade que possui “vida”
própria, afinal, ela é constituída por pessoas. Através da celebração e valorização
de experiências passadas e marcos históricos próprios, uma organização é capaz de
formar uma identidade institucional, por meio da relação com seus variados
públicos.
Segundo a autora Lucia Santa Cruz (2014), ao se analisar os materiais
disponíveis que tratam sobre a temática de memória nos estudos de Comunicação
Organizacional, é perceptível que existe uma tendência à instrumentalização do
tema, como uma estratégia de comunicação. Essa chave conceitual, de memória
como estratégia, é apenas uma dentre as cinco existentes, sendo elas: memória
como cultura organizacional, como auxiliar na formação da identidade
organizacional; memória como gestão do conhecimento; memória como trajetória
institucional; e memória como saber coletivo. É fundamental reforçar o fato de que
memória organizacional não se trata de um sinônimo para os instrumentos e
ferramentas de memória.
A memória de uma organização, com seus elementos e significados, é um
importante recurso adotado pela Comunicação Organizacional como protagonista e
intermediadora das diversas relações das organizações, para auxiliar na tomada de
decisões assertivas. Além da identidade institucional, a memória perpetua valores,
sentidos e outros elementos intangíveis, ou seja, não se restringe a datas
comemorativas e a celebrações vazias. (COSTA, 2006)
3.1.1 Dados Gerais da Organização
50. O GRUTA (Grupo de Teatro Amador) é um projeto da Escolinha de Arte no
CEP (Colégio Estadual do Paraná) na Avenida João Gualberto, Nº 250, Alto da Glória
de Curitiba. É possível entrar em contato com o grupo através do e-mail
escolinhadearte@cep.pr.gov.br, assim como através do telefone (41) 3234-5665.
Também é possível conseguir mais informações através do site institucional do
grupo: http://www.cep.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=99.
O GRUTA oferece aulas de teatro amador desde às crianças, aos
adolescentes e até aos adultos, permitindo-os que subam no palco e realizem sua
primeira peça. O grupo se divide em subgrupos focados em idades diferentes,
sendo eles:
● Grutinha, para crianças de até 14 anos
● Gruta Adolescente, de 15 a 17 anos
● Gruta, de 15 a 40 anos
5
Apesar de fazer parte do Colégio Estadual do Paraná, não há a necessidade
de ser estudante do CEP para se participar do GRUTA. As aulas ocorrem de segunda
à sexta nos horários mais variados, dependendo do grupo e da peça sendo ensaiada.
3.1.2 Elementos da Cultura e da Memória Organizacional
O GRUTA (Grupo de Teatro Amador do Colégio Estadual do Paraná) foi
fundado em 1966, porém, sua história inicia-se no ano de 1952, quando o professor
Norberto Teixeira criou o CCCEP (Corpo Cênico do Colégio Estadual do Paraná).
Sete anos depois, Silvio Jair Kormann criou o Teatro Experimental do Colégio
Estadual do Paraná, e em 1963 foi formado outro grupo: o TGCEP (Teatro Grego do
Colégio Estadual do Paraná), pela professora Maria Lambros Comninos (COLÉGIO
ESTADUAL DO PARANÁ, 2010).
A pedido de alunos e de ex-alunos do TGCEP, o professor e então diretor
geral Ernani Straub convocou o ator Telmo Faria (primeiro ator profissional do
5
O gruta é o único grupo que possui atores não amadores em conjunto com os amadores. Além disso, devido
às especificidades de shows musicais, eles pretendem criar um novo grupo chamado Gruta Musical.
51. Paraná) para tomar a criação e direção artística do GRUTA em 1966. Logo em
seguida, Telmo convidou o dentista e amante da arte Aluízio Cherobim para
participar do grupo e essa parceria, que tinha como intuito levar à cena uma
dramaturgia eclética, gerou “O Julgamento de Joana”, de Eddy Franciosi e “A
Moratória”, de Jorge Andrade (COLÉGIO ESTADUAL DO PARANÁ, 2010).
Na década de 80, Aluízio e Luciana Cherobim criaram o Curso Técnico de
Teatro e Ator e, a partir desse momento, o teatro no CEP passou a ser
profissionalizante, sendo possível habilitar-se de duas maneiras diferentes: como
ator ou como técnico de teatro. O curso foi coordenado pelos professores Armando
Maranhão, Luís Afonso Burigo e Guaraci Martins. Mas, no início dos anos 2000,
formou-se a última turma; nela, formaram-se a atriz Marjorie Estiano e o ator
Leonardo Miggiorin (COLÉGIO ESTADUAL DO PARANÁ, 2010).
Grande parte da história do teatro paranaense passou pelas salas do Colégio
Estadual do Paraná, mas também outras histórias por ali passaram. Do curso de
formação de atores da instituição, formaram-se profissionais dos palcos (como o
iluminador Beto Bruel, a atriz Odelair Rodrigues, Luís Melo e Ranieri González) e
também aqueles que se consagraram na televisão, como Ary Fontoura (COLÉGIO
ESTADUAL DO PARANÁ, 2010).
Depois de quase uma década sem os cursos técnicos, somente com as
produções do grupo amador, em 2009 os cursos técnicos retornaram por meio da
diretora Maria Madselva que, com a ajuda da professora Raquel Júlio Mastey, deu
início ao ingresso dos novos cursos técnicos em teatro no CEP. Desde então, o grupo
vem formando atores, atrizes e plateia regularmente. O Teatro Experimental e a
Pesquisa Teatral são ramificações do ensino do teatro amador presentes até hoje
no ensino do CEP (COLÉGIO ESTADUAL DO PARANÁ, 2010).
O ano de 2018 foi marcado pelo início das obras para a ampliação e melhoria
da estrutura do CEP e essas obras se estendem até o ano de 2019. As aplicações das
aulas estão sendo de maneira improvisada na sala emprestada pelo Dancep (Grupo
de Dança Contemporânea do Colégio Estadual do Paraná) e no saguão do CEP. Esse