O documento analisa a função dos provérbios na sabedoria judaica tradicional e no ensino de Jesus. Discute como os provérbios de Salomão e de Jesus tinham como objetivo principal educar os homens e conduzi-los a uma vida plena e agradável a Deus. Também examina as semelhanças e diferenças entre os usos dos provérbios no Antigo e Novo Testamento. Conclui que a sabedoria proverbial continua importante para fundamentar princípios que ensinam a viver sob o temor de Deus.
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
A função dos provérbios na sabedoria judaica e no ensino de Jesus
1. PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TEOLOGIA
MESTRADO
CARLOS KLEBER MAIA
A FUNÇÃO DOS PROVÉRBIOS NA SABEDORIA JUDAICA, DE SALOMÃO A
JESUS
CURITIBA
2019
2. 2
A FUNÇÃO DOS PROVÉRBIOS NA SABEDORIA JUDAICA, DE SALOMÃO A
JESUS
Carlos Kleber Maia1
Resumo
O presente artigo tem o objetivo de analisar a finalidade com que os provérbios
foram utilizados na sabedoria judaica tradicional e seu aproveitamento no ensino de
Jesus, com uma função destacada de educação destinada à formação do caráter do
homem. Serão analisadas as principais formas de utilização dos provérbios no Antigo
e no Novo Testamento, para conduzir os homens à escolha do caminho ideal para a
vida, verificando-se as similaridades e diferenças encontradas entre os provérbios do
rei de Israel e de Jesus de Nazaré, no cumprimento de suas funções. A questão da
utilidade da sabedoria proverbial continua sendo importante, como fundamentação de
princípios que ensinam os homens a viverem sob o temor de Deus. Os provérbios,
iniciando com a sabedoria de Salomão e tendo prosseguimento na sabedoria de
Jesus, têm a função de ensinar aos homens o caminho para uma vida plena, feliz e
agradável a Deus e ao seu próximo.
Palavras-chave: Provérbios. Sabedoria judaica. Salomão. Jesus. Ensino.
Introdução
A busca pela sabedoria para um viver melhor sempre foi um empreendimento
a que todas as grandes civilizações se aplicaram. No Antigo Oriente, se destacaram
grandes centros de sabedoria, como o Egito e a Mesopotâmia, tendo florescido
também em Israel, especialmente no período do reinado de Salomão.
1
Mestrando em Teologia (FABAPAR) e Pós-graduado em Teologia do Novo Testamento Aplicada (FTBP),
ministro da Convenção Geral da Assembleia de Deus no Brasil. E-mail: ckmaia@hotmail.com.
3. 3
Coleções de sentenças ou provérbios constituem a base da literatura sapiencial
oriental. Estudos neste campo mostraram que, com poucas exceções, as culturas,
desde os primórdios, produziram declarações ou observações sobre a vida que são
classificadas como provérbios.
Os provérbios originados nestes centros de sabedoria continham, pois,
“exemplos de vida, regras de prudência e cortesia, conselhos vocacionais,
admoestações morais e orientações religiosas”, conforme atesta Sant´Anna (2010, p.
61).
Na cultura do Israel antigo, a literatura de sabedoria foi altamente privilegiada,
tendo produzido textos que são conhecidos em todo o mundo, como o livro de
Provérbios, além de outros como Eclesiastes, Cantares de Salomão, Jó e porções dos
Salmos.
O livro de Provérbios, como os demais livros da literatura sapiencial judaica, é,
no geral, um produto da antiga sabedoria tradicional do Oriente Médio e da tradição
da sabedoria de Israel, em particular, que utiliza tipos literários proverbiais
encontrados na literatura de outros países, como o Egito e Babilônia, conforme afirma
House (2005, p. 563).
A sabedoria do Oriente Antigo, segundo assevera Shreiner (2004, p. 334),
embora baseada na observação e experiência, não pode ser entendida como
puramente humana, pois as leis que se descobrem no mundo são leis divinas, às
quais todo homem deve obedecer. Embora se dirija ao homem mais como conselho
do que como preceito, House (2005, p. 564) atesta que esta sabedoria tem o caráter
de uma ética que obriga a todos, com suas sentenças sendo vistas como um manual
para o viver apropriado sob o comando de Deus.
Em Israel, ao lado da revelação profética, Shreiner (2004, p. 339) diz que a
sabedoria é uma revelação “horizontal”, que procura descobrir a vontade de Deus
mediante observações da natureza, da história e da vida humana, com o escopo
principal caracterizado pelo temor de Deus e pela justiça.
Havia, portanto, pelo menos três maneiras de obter sabedoria de acordo com
os sábios hebreus, segundo a afirmação de Witherington III (2000, p. 12): o escrutínio
cuidadoso da natureza e do comportamento humano, aprendendo com as tradições
dos mais velhos (a sabedoria acumulada das gerações anteriores) e através do
4. 4
encontro com Deus ou de uma revelação especial que chegou a uma pessoa através
de tal encontro.
Os provérbios tinham uma função especial na sabedoria do povo judeu: por
servir ao conhecimento dos princípios que levam à segurança para a vida, têm como
objetivo a formação humana debaixo do temor a Deus.
O conceito de provérbio
A palavra de abertura do livro de Provérbios classifica seu gênero como mishlê2
(construto plural de māshāl), que é traduzido por “provérbios”. Um provérbio é, no
senso popular, uma frase ou um ditado curto que resume um conceito moral. Aparece,
na maioria dos dicionários, com uma definição semelhante à de aforismo, dito, ditado,
dizer, adágio, sentença, apotegma, sendo as fronteiras entre estes termos pouco
definidas, pois todas elas contêm o sentido de uma proposição ou frase breve, clara,
evidente e de ensino profundo e útil. Neste trabalho, estes termos serão tomados
como tendo um significado similar.
Sant´Anna (2010, p. 53) afirma que o māshāl é “um dito que indica um tipo de
declaração que tem algo por detrás de si”, que este termo começou por indicar um
provérbio popular e, posteriormente, passou a designar os ditos do círculo de sábios
do Antigo Oriente e, especificamente, dos de Salomão, no contexto bíblico (p. 136).
Hamilton (in HARRIS, 1998, p. 889) apresenta o senso comum de provérbio
como “um dito breve, conciso, às vezes satírico, que pressupõe a condição de máxima
moral”. Berger (1998, p. 60) chama de “sentenças” os ditados ou provérbios, “em que
se expressa uma experiência universal, geralmente em forma descritiva e em frases
curtas”. Pestana (2002, p. 15) apresenta uma definição de provérbio atribuída a Miguel
de Cervantes: “Um provérbio é uma frase curta baseada numa experiência longa.”
Uma definição mais técnica, segundo o estudo da paremiologia3, conforme
apresentam Xatara e Succi, estabelece o provérbio como:
2
A transliteração do hebraico para o português seguirá as regras de HARRIS, R. Laird (org). Dicionário
Internacional de Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1998.
3
Paremiologia, do grego paroimia (provérbio, parábola), é a área da linguística que se preocupa especialmente
com a coletânea e a classificação dos provérbios, dentre outros aspectos.
5. 5
Uma unidade léxica fraseológica fixa e, consagrada por determinada
comunidade linguística, que recolhe experiências vivenciadas em comum e
as formula como um enunciado conotativo, sucinto e completo, empregado
com a função de ensinar, aconselhar, consolar, advertir, repreender,
persuadir ou até mesmo praguejar (XATARA; SUCCI, 2008, p. 35).
Os provérbios, segundo Wiersbe (p. 364), “são declarações incisivas que
resumem em poucas palavras cuidadosamente selecionadas verdades práticas
relacionadas a certos aspectos da vida diária”, mas na literatura poética bíblica,
segundo afirma Waltke (2011, v.1, p. 100), refere-se a “um apotegma4 aceito entre
aqueles que temem ao Senhor”.
Ceresko (2004, p. 42,43) atesta que o antigo Israel não detinha o monopólio da
sabedoria proverbial e que o estudo deste tipo de expressão sapiencial tem
demonstrado o seu papel na educação e integração da nova geração nos valores e
na visão de mundo de sua cultura nativa, em todos os povos.
Percebe-se que o provérbio, como expressão do conhecimento sapiencial,
apresenta as características seguintes: é uma sentença breve e inspirativa, que se
baseia na experiência e na observação da vida, e que é usado com propósitos
educativos, nas mais diversas culturas, inclusive na cultura judaica.
Os provérbios de Salomão
Líndez (2014, p. 65) considera o Livro dos provérbios como o “mais
representativo” dos livros sapienciais da Bíblia, por encontrar nestes livros as
expressões mais simples e refinadas do estilo literário sapiencial e as mais antigas,
tanto da sabedoria popular como da sabedoria de escola.
Embora o Livro dos Provérbios seja atribuído ao rei Salomão (950 a C.), devido
à sua fama de sábio, a verdade é que os provérbios pertencem a diversas coleções
diferentes, compiladas e escritas durante vários séculos. Waltke (2011, p. 102) afirma
4
Apotegma é uma frase breve de carácter aforístico, geralmente de alcance universal, que aparece quase
sempre com linguagem figurativa e na forma de uma máxima ou sentença. Ceia distingue apotegma do
aforismo e do provérbio “por ser mais prático e focalizado”, e afirma que “a autoria do apotegma é também,
regra geral, reservada a figuras notáveis da cultura, ao passo que o aforismo e o provérbio podem ter origem
popular”. CEIA, Carlos (org): s.v. “Apotegma”, E-Dicionário de Termos Literários (EDTL), ISBN: 989-20-0088-9,
http://edtl.fcsh.unl.pt/, consultado em 29/05/2019. Neste trabalho, contudo, provérbio, aforismo, apotegma,
dito ou sentença serão tomados com um significado similar.
6. 6
que o livro de Provérbios faz distinção entre duas formas em seu conteúdo: os
provérbios e os ditos dos sábios, onde os primeiros se referem aos apotegmas de
Salomão, nas coleções II (10.1-22.16)5 e V (25.1-29.27) e os ditos referem-se às
coleções III e IV (22.17; 24.23), VI e VII (30.1; 31.1), embora conclua que “não existe
uma distinção uniforme formal entre ‘provérbios’ e ‘ditos’”.
A primeira coleção de provérbios atribuídos a Salomão contém 375 sentenças
proverbiais, e a segunda contém 128 sentenças proverbiais que foram transcritas
pelos sábios do rei Ezequias, totalizando 503 provérbios. No entanto, o texto bíblico
afirma em 1 Rs 4.29-34 que o rei de Israel era mais sábio do que todos os sábios do
Oriente e do Egito, que o mesmo era “ainda mais sábio do que todos os homens” e
que este compôs três mil provérbios.
Principalmente, encontra-se no livro de Provérbios, conforme assevera
Witherington III (2000, p. 19), o que pode ser chamado de instruções gerais, por um
lado, ou provérbios (ditos de uma ou duas linhas, muitas vezes em algum tipo de
paralelismo), por outro.
Waltke (2011, v.1, p. 79) atesta que em Provérbios, o sábio ensina a verdade
“por meio de aforismos (uma formulação sucinta de uma verdade), que também são
epigramas (um dito sucinto, sábio, espirituoso e, com frequência, paradoxal)”. Os ditos
de sabedoria do “filho de Davi, rei de Israel” têm o propósito de educar e também de
desafiar os homens a uma reflexão.
A função dos provérbios de Salomão
Os provérbios eram usados, essencialmente, para ensinar aos homens a
maneira correta de viver. Logo no início do livro evidencia-se a intencionalidade
educacional do autor, pois os primeiros versos de Provérbios anunciam a sua função:
Provérbios de Salomão, filho de Davi, rei de Israel, para aprender a sabedoria
e o ensino; para entender as palavras de inteligência; para obter o ensino do
bom proceder, a justiça, o juízo e a equidade; para dar prudência aos simples
e conhecimento e discernimento aos jovens. Que o sábio ouça e cresça em
prudência; e que o instruído adquira habilidade para entender provérbios e
5
Waltke (2011, p. 45-67) divide o livro de Provérbios em sete coleções: coleção I, incluindo título, propósito e
princípios do livro (1.1-9.18), coleção II, com provérbios de Salomão (10.1-22.16), coleção III, com ditos do
sábio (22.17-24.22), coleção IV, com mais ditos do sábio (24.23-24), coleção V, com mais provérbios de
Salomão (25.1-29.27), coleção VI, com ditos de Agur (30.1-33) e coleção VII, com ditos de Lemuel (31.1-31).
7. 7
parábolas, as palavras e os enigmas dos sábios. (BÍBLIA SAGRADA,
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Observa-se que a intenção do autor é permitir ou conduzir seus ouvintes à
sabedoria, e isso se evidencia “pela presença da preposição hebraica, representada
pela letra lâmed, inferindo propósito, destino, objetivo e intenção”, associada à palavra
daát, cuja raiz é o verbo yadá, “com o sentido de ‘conhecer’, ou mais profundamente,
‘desvendar’ ou ‘desnudar’”, segundo afirmam AMARAL e MIGUEL (2008, p. 67).
Waltke (2011, v.1, p. 243) atesta que essa construção com a preposição le
serve para declarar os “dois lados inseparáveis do seu propósito”, a saber, conhecer
a essência da “sabedoria” e entender sua expressão. Os provérbios, portanto,
segundo a declaração autoral, foram escritos para dar aos homens sabedoria,
instrução, entendimento, prudência, conhecimento, juízo, saber e conselho. Waltke
(2011, p. 243) assevera que o conceito visado nestes primeiros versos de Provérbios
‘é a internalização ou experiência pessoal da sabedoria”.
A instrução dá a ideia de disciplina, uma correção dos pais que resulta na
construção do caráter do filho. O entendimento é a capacidade de compreender a
verdade com critério e discernimento. A prudência é o tipo de inteligência que vê as
motivações por trás das coisas; as pessoas prudentes conseguem pensar com clareza
sobre questões difíceis e ver o que há por trás delas, tomando, desse modo, decisões
sábias a respeito de tais questões. O juízo é a capacidade de elaborar planos sábios
depois de compreender uma questão. O conselho é a orientação sábia que coloca a
vida de uma pessoa no rumo certo. O termo traduzido por conselho é relacionado ao
verbo “pilotar uma embarcação”, segundo afirma Wiersbe (2006, p. 367). Esses
conceitos são repetidos com frequência ao longo de Provérbios e, quando reunidas,
resumem aquilo que o autor de Provérbios entende por sabedoria.
O princípio desta sabedoria, ou “a coisa mais essencial”, é o “temor do Senhor”
– yir´at YHWH, que é o “fundamento teológico e epistemológico do livro”, conforme
declara Waltke (2011, p. 250). Ele afirma, ainda, que o livro mistura ditos
aparentemente mundanos, que podem ter se originado em outras culturas, com ditos
distintivamente referentes ao Senhor, com o propósito de oferecer “uma concepção
holística e uma interpretação teológica” da sabedoria peculiar a Israel (p. 112).
Líndez (2014, p. 91) assevera que este temor é sinônimo de reverência e
respeito e significa “o reconhecimento do senhorio e da sabedoria de Deus sobre tudo
8. 8
e sobre todos, a confissão de sua grandeza e transcendência acima de toda realidade
e acontecimento”.
Uma análise destes provérbios revelará que o ideal educativo do povo Hebreu,
na época em que o livro de Provérbios foi escrito, acentua a obediência à palavra dos
pais, dos mais velhos e dos mestres, o respeito pela tradição, o valor da disciplina e
da obediência e a preponderância da inteligência face à força física.
A sabedoria refere-se tanto à habilidade nas atividades manuais, sendo o sábio
aquele que domina uma arte ou ofício, como ao bom desempenho nas relações inter-
humanas, sendo referida como astúcia, sagacidade, discrição, prudência, conforme
afirma Líndez (2014, p. 57). O provérbio estimula o homem a capacitar-se para exercer
bem sua profissão e realizar-se profissional e socialmente, quando afirma, em textos
como Pv 12.27: “o bem precioso do homem é ser esforçado” (BÍBLIA, 2017, p. 939) e
em muitos textos condena a preguiça e o ócio (12.11; 13.4; 19.24; 21.25; 26.14).
O sentido prático da sabedoria em Provérbios também é descoberto pela
conexão entre sabedoria e comportamento adequado, conforme atesta Crotts (2013,
p. 15). Amaral e Miguel (2008, p. 67) asseveram que, no pensamento hebraico, a
sabedoria “está profundamente vinculada a um tipo de práxis comportamental, e não
somente ao acúmulo de informações. Ser sábio é se comportar habilmente e ter uma
ética condizente com a vida”.
Encontram-se também nos provérbios as formas valorativas, que expressam
estima ou repulsa por uma conduta ou coisa, revelando a escala de valores vigente
em determinado ambiente ou contendo um juízo moral sobre certa conduta, segundo
atesta Líndez (2014, p. 68). A boa fama, por exemplo, é mais valorizada do que as
riquezas em Pv 22.1: “Mais vale o bom nome do que as muitas riquezas; ser estimado
é melhor do que a prata e o ouro.” (BÍBLIA, 2017, p. 951), e o homem pobre é melhor
do que o mentiroso (19.22).
As comparações são muito comuns neste livro, quando uma proposição
confronta dois ou mais termos por meio da partícula “como”. Quando esta partícula
não está presente, têm-se uma metáfora, quando o predicado é atribuído diretamente
ao sujeito em sentido figurado. O repertório destas comparações em Provérbios é
abundante, conforme aponta Líndez (2014, p. 69). O māshāl usa a comparação com
elementos conhecidos dos ouvintes para esclarecer ou estabelecer conceitos ainda
não alcançados por eles.
9. 9
O texto de Pv 26.11 oferece um bom exemplo de comparação usado pelo sábio:
“Como o cão que volta ao seu próprio vômito, assim é o insensato que repete a sua
tolice.” (BÍBLIA, 2017, p. 958), onde o sábio observa o animal e, ao voltar-se para o
mundo humano, vê que o insensato realiza ação igualmente repulsiva, conforme
expõe Ceresko (2004, p. 46,47).
Há nos provérbios de Salomão uma grande concentração de paralelismo
antitético (cerca de 90% deles), que expressam bem o contraste entre o sábio justo e
o tolo perverso, como afirmam Dillard e Tremper III (2006, p. 229,230). Por serem
compactos, estes provérbios expressam observações sobre a experiência humana
com uma intensidade que exige longa reflexão, ampliada ainda mais pelo uso
extensivo de metáforas e símiles.
Encontram-se também nos provérbios de Salomão as perguntas retóricas,
aquelas das quais já se sabe, antecipadamente, a resposta, usadas para expressar
uma convicção generalizada, como vê-se em Pv 20.9: “Quem pode dizer: ‘Purifiquei o
meu coração; estou limpo do meu pecado?’” (BÍBLIA, 2017, p. 949).
O provérbio, segundo Ceresko (2004, p. 47), também lembra uma adivinhação,
porque desafia a mente; ele leva a pessoa na direção da verdade ou da percepção
sem enuncia-la de maneira explícita. Assim, o sábio “desafia a argúcia e a imaginação
do leitor ou ouvinte e provocando a discussão e o debate”.
Lindéz (2014, p. 84) afirma que uma das principais funções dos mestres de
sabedoria é “prevenir os jovens contra os perigos graves que surgem por todas as
partes”, mostrando valor da experiência. Provérbios previne os jovens contra as más
companhias, como a da mulher estranha (7.25), do tolo (14.7), dos beberrões (23.20),
dos homens agressivos (22.24) e de todo tipo de pessoa que trará má influência.
Nesta literatura de sabedoria, a conduta ou o estilo de vida é frequentemente
referido metaforicamente como um “caminho”. Em uma sociedade que viajava
principalmente a pé, a metáfora do caminho ou estrada funcionava como uma
ilustração da vida cotidiana. A importância de fazer boas escolhas em uma jornada
através do deserto era óbvia. A escolha errada poderia, na melhor das hipóteses, levar
a atrasos até que o caminho correto pudesse ser realocado e, na pior das hipóteses,
tornar-se irremediavelmente perdido e vitimado por predadores ou bandidos e,
possivelmente, chegar à morte.
10. 10
A sabedoria exposta nos provérbios de Salomão é tida como capaz de livrar o
jovem do “mau caminho”, do “caminho das trevas”, das “veredas tortuosas”, e de
conduzi-lo nas “veredas da retidão”, nas “veredas da vida”, no “caminho dos bons” e
nas “veredas dos justos” (Pv 2.10-20).
Percebe-se, no ensino dos provérbios, que a sabedoria não pode ser possuída
sem instrução para corrigir as falhas morais, e o discípulo deve sujeitar-se a ela,
moldando seu caráter, o que ressalta a função e a necessidade destes ditos sábios.
A educação visada nestes ditos é, portanto, adquirida por meio da repreensão
verbal: a sabedoria e a instrução não podem ser obtidas a menos que o ouvinte seja
capaz de entender as palavras do sábio. A forma concisa dos provérbios tem a função
de facilitar a memorização e aplicação da sua sabedoria à vida do ouvinte.
Nos provérbios de Salomão percebe-se, pois, uma função educativa bem
estabelecida, que faz uso de diversas formar poéticas para revelar aos homens o
caminho para uma vida excelente e feliz, que se estabelece sob a soberania divina,
para preveni-lo contra as escolhas erradas que o levarão à ruína, e para desafia-los a
considerar racionalmente sua conduta diante de todos.
O livro de Provérbios é, portanto, um livro de educação. Pode ser mais preciso,
no entanto, referir-se a ele como um manual de treinamento para a vida, em vez de
um livro-texto de uma escola de educação formal. A intenção pedagógica é marcar
claramente as diferenças entre o comportamento do sábio / justo e do tolo / perverso
e as consequências de cada um.
Portanto, verifica-se que parte dos propósitos didáticos dos sábios era ver os
jovens desenvolvendo habilidades para a vida e, para empreender uma atividade tão
complicada quanto viver com sucesso, deve-se começar com o simples e
gradualmente passar para o complexo. Com este fim, Provérbios apresenta regras
simplificadas de um bom viver, não pretendendo definir categorias rígidas, mas a sua
intenção é levar o homem a tomar a escolha certa, escolher o caminho certo para a
prosperidade. O livro coloca as questões em declarações em preto e branco para que
aqueles que estão sendo treinados possam iniciar o processo de vida bem-sucedida,
sempre com o relacionamento deles com o Senhor em mente.
Os provérbios de Jesus
11. 11
Nos evangelhos, vê-se Jesus como um mestre de sabedoria e como um profeta
escatológico, segundo Ceresko (2004, p. 186,187), que também afirma (p. 190,191)
que é claro o fato de Jesus ter suas raízes fincadas na sabedoria do Antigo
Testamento. Witherington III (2000, p. 155) igualmente afirma que não é difícil
demonstrar que, de uma forma em geral, Jesus utilizou-se de material da tradição
judaica de sabedoria.
Em seu ensino, Jesus fez uso de uma linguagem de sabedoria. Winton (1990,
p. 26) afirma que parábolas, bem-aventuranças e ais estão associados com sabedoria
e profecia no Velho Testamento e na literatura judaica, e também são encontrados na
mensagem de Jesus registrada nos evangelhos sinóticos6.
As analogias mais próximas dos provérbios de Jesus encontram-se na literatura
sapiencial judaica, segundo afirma Berger (1998, p. 61). Numa estimativa
conservadora, cerca de 70% do ensino de Jesus está em forma de algum tipo de
palavra de sabedoria, como provérbios ou parábolas, conforme afirma Witherington III
(2000, p. 156).
Boa parte do discurso atribuído a Jesus é moldado em uma forma que tem
óbvias afinidades com formas de discurso proverbiais encontradas principalmente na
literatura sapiencial, segundo afirma Winton (1990, p. 27)7.
Piper (1989, p. 1) também afirma que muitos ditos do tipo "proverbial" ou
"aforístico" podem ser encontrados entre as palavras de Jesus registradas nos
evangelhos sinóticos, e que tais provérbios são, de fato, muito mais numerosos do
que as suas parábolas.
Witherington III (2000, p. 156) assevera, também, que, normalmente, ditos ou
provérbios de sabedoria tradicional são usados para defender as normas, rituais,
crenças e instituições da sociedade existente, o que contrasta, em geral, com a forma
como Jesus usa seus ditos da sabedoria, pois ele os usava como veículo de uma
mensagem nova.
Há uma diferença decisiva entre o tipo de material que encontramos em
Provérbios e na tradição de Jesus. No primeiro trabalho encontramos quase
6
“Parable, beatitude and woe are associated with both wisdom and prophecy in the Old Testament and Jewish
literature, and also, we shall find, in the Synoptic presentation of Jesus' message.” (WINTON, 1990, p. 26).
7
“A good deal of the speech attributed to Jesus is cast in a form which has obvious affinities with proverbial
forms of speech found principally in the wisdom literature.” (WINTON, 1990, p. 27).
12. 12
exclusivamente os produtos da voz coletiva, falando por meio de generalizações. Em
contraste, na tradição de Jesus, encontramos em geral uma voz individual.
A função dos provérbios de Jesus
Jesus, assim como Salomão e os demais sábios judeus, utilizava o māshāl para
ensinar seus discípulos sobre a maneira correta de viver, igualmente para desafiá-los
a uma auto avaliação e mesmo para ocultar a revelação mais ampla daqueles que
rejeitavam seu ensino.
Jesus fez uso de muitos provérbios e também de muitas narrativas parabólicas.
Berger (1998, p. 50) destaca que os provérbios, como as parábolas (ambos sendo
expressões do māshāl), “resumem experiências humanas universais em formulações
breves”, por isto apresentam uma estreita relação entre si.
Alguns provérbios formulam a conclusão de parábolas narrativas, geralmente
como breve aplicação de uma narração mais comprida (BERGER, 1998, p. 50).
Vemos alguns exemplos:
Jesus concluiu a Parábola dos Talentos, registrada por Mateus (Mt 25.14-30) e
a Parábola das Minas, registrada por Lucas (19.12-27) com um provérbio (Mt
25.29; Lc 19.26): “Pois eu declaro a vocês que a todo o que tem será dado
ainda mais; mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado.” (BÍBLIA, 2017,
p. 1507).
Jesus concluiu a Parábola do Fariseu e do Publicano, registrada por Lucas
(18.9-14) também com um provérbio: “Porque todo o que se exalta será
humilhado; mas o que se humilha será exaltado.” (BÍBLIA, 2017, p. 1505).
Jesus concluiu a Parábola dos Trabalhadores da Vinha, registrada por Mateus
(Mt 20.1-16) com um provérbio: “Assim, os últimos serão primeiros, e os
primeiros serão últimos.” (BÍBLIA, 2017, p. 1411).
Jesus concluiu a Parábola das Bodas, registrada por Mateus (Mt 22.1-14) com
um provérbio: “Porque muitos são chamados, mas poucos são escolhidos.”
(BÍBLIA, 2017, p. 1415).
Outras ocorrências de provérbios com esta função estão em outras parábolas:
A Parábola do Servo Vigilante (Lc 12.35-48), A Parábola da Ovelha Perdida (Lc
15.1-7), a Parábola da Dracma Perdida (Lc 15.8-10), A Parábola do
13. 13
Administrador Infiel (Lc 16.1-8, também nos v.10 e 13), conforme aponta
Winton (1990, p. 203).
Outras sentenças estão na proximidade de parábolas mais curtas, como um
esclarecimento num outro plano de linguagem, conforme afirma Berger (1998, p. 50).
Temos alguns exemplos:
Jesus condenou a blasfêmia dos fariseus, que o acusavam de expelir demônios
pela força de Belzebu, maioral dos demônios (Mt 12.31-34), e reforça a
advertência aos discípulos com um provérbio: “Porque a boca fala do que está
cheio o coração.” (v.34) (BÍBLIA, 2017, p. 1396).
Jesus reforçou o que havia ensinado na Parábola da Candeia, registrada por
Marcos (4.21,22) com um provérbio: “Porque não há nada oculto, senão para
ser manifesto; e nada escondido, senão para ser revelado.” (v.22) (BÍBLIA,
2017, p. 1436).
Provérbios foram usados por Jesus no final de discursos contendo instruções
aos seus discípulos, como uma síntese extremamente didática, curta e clara, como
ocorre na instrução registrada em Lucas 12.22-34, finalizada com o provérbio: “Onde
estiver o tesouro de vocês, aí estará também o seu coração.” (BÍBLIA, 2017, p. 1495),
conforme mostra Winton (1990, p. 128).
Berger (1998, p. 63) também ressalta que os provérbios “estão muitas vezes
no fim de uma unidade ou como comentário na conclusão”, ou ainda como
fundamentação de uma admonição, como em Mt 6.34b: “Basta ao dia o seu próprio
mal.” (BÍBLIA, 2017, p. 1385), onde o provérbio fundamenta a admoestação sobre não
se preocupar com o amanhã.
Jesus fez uso de seus provérbios em diálogos, geralmente com doutores da lei
judaica, onde o uso de linguagem proverbial reforçava a autoridade de ensino de
Jesus, como vemos na controvérsia sobre comer com gentios, registrada em Mt 9.10-
13, quando Jesus encerra sua defesa com o provérbio: “Os são não necessitam de
médicos, e sim os doentes.” (BÍBLIA, 2017, p. 1389). Winton (1990, p. 128) aponta
outros textos onde Jesus usou os provérbios em diálogos, como Mc 7.24-30 e Mt
19.16-26.
14. 14
Jesus usou o mesmo provérbio mais de uma vez, pois isto “ajudava o povo a
gravar o seu ensino, e demonstrava a versatilidade dos ditados que ele cunhou”,
segundo Pestana ressalta (2002, p. 17). O provérbio “Porque todo o que se exalta
será humilhado; mas o que se humilha será exaltado.” é citado em Lc 18, também no
final da parábola dos primeiros Lugares (Lc 14.8-11) e no centro de um longo discurso
de repreensão aos fariseus em Mt 23 (v.12), aspectos destacado também por Winton
(1990, p. 136). Jesus, com este mesmo fim, usou diversas vezes provérbios fazendo
um contraste entre “primeiros” e “últimos”, como em Mateus 19.30; 20.26 e Marcos
9.35, 43, 44.
Cada provérbio deve ser visto, contudo, em seu próprio contexto, para uma
correta interpretação. Winton (1990, p. 137) ressalta o uso do provérbio “Quem não é
por mim é contra mim” em Mt 12.30 com um sentido inverso em Mc 9.40, sendo seu
uso apropriado em cada contexto. Pestana (2002, p. 59) também destacado estes
mesmos textos e seus usos diferentes. Jesus também fez uso das expressões “mau”
e “bom” em contextos diferentes, como está registrado em Mt 5.45 (onde a oposição
entre os termos está dissolvida) e em Mt 7.15-20 e 12.33-35 (onde há a denúncia e
rejeição do que é mau).
Ainda segundo Berger (1998, p. 50), outros provérbios funcionam em seu
contexto como curtas parábolas, Como exemplos, temos o provérbio em Lucas 23.31:
“Porque, se isto é feito com a madeira verde, o que será da madeira seca?” (BÍBLIA,
2017, p. 1517), outro em Lucas 17.37: “Onde estiver o corpo, aí se ajuntarão também
os abutres.” (BÍBLIA, 2017, p. 1504), o mesmo em Mateus 24.28 e outro em Lucas
14.34: “O sal é certamente bom; mas, se o sal se tornar insípido, como lhe restaurar
o sabor?” (BÍBLIA, 2017, p. 1499). Este autor afirma também que “os princípios gerais
baseados na experiência funcionam em seu contexto como axiomas indiscutíveis” (p.
64). Alguns provérbios de Jesus são verdadeiros “ditos parabólicos”, como afirma
Pestana (2002, p. 17).
Pode-se perceber que os provérbios foram amplamente utilizados por Jesus
em conexão com outras formas de instruções aos seus discípulos: conectados aos
discursos, reforçando a sua autoridade nas controvérsias, finalizando ou resumindo o
ensino das narrativas parabólicas e até mesmo como parábolas curtas.
Um aspecto característico do ensino de Jesus é que está fundamentado no
pressuposto de que ele viera para proclamar a verdade de Deus, de que ele tinha
15. 15
autoridade completa para fazer isso e de que o homem era obrigado a seguir o seu
ensino. Assim, os provérbios de Jesus vão além de serem máximas de sabedoria e
conselhos, para se mostrarem como preceitos para uma vida no Reino de Deus.
Os provérbios de Jesus não pretendem apenas ensinar lições gerais e morais,
mas constituem, ao lado das parábolas, na essência do seu ensino sobre a natureza
do Reino de Deus, e acerca dos requisitos necessários para pertencer a este reino.
Em seu ensino parabólico, Jesus revela aos seus seguidores que há uma
mudança no comportamento, na motivação e na conduta daqueles que decidam se
tornar seus discípulos.
O fato constatado da brevidade do provérbio confere a essa modalidade a
facilidade de poder ser contado em diálogos interpessoais e em discursos públicos.
Esta característica está ligada a esta função parabólica, de estabelecer uma estratégia
de comunicação usando linguagem indireta e figurativa, tanto em contextos
conversacionais mais íntimos e pessoais, quanto em situações públicas de prédica.
Este método de comunicação revela-se eficaz para o ensino de Jesus,
provocador de reflexão e mudanças de atitudes e prescritivo para todo aquele que
deseja fazer parte do Reino de Deus. Rejeitar o ensino parabólico de Jesus é rejeitar
o próprio Rei e seu reino, trazendo para si mesmo a condenação resultante desta
escolha.
Considerações finais
A questão da função da sabedoria proverbial continua sendo importante. Na
sabedoria judaica, os provérbios tinham uma função muito especial e própria, como
fundamentação de princípios que deveriam ensinar os homens a viverem sob o temor
de Deus. Eram curtos e fáceis de serem gravados, o que facilitava sua disseminação
numa cultura onde a oralidade prevalecia sobre a escrita.
Os provérbios de Salomão estão permeados de terminologias educativas, o
que evidencia as profundas raízes da educação hebraica, onde educar seria preparar
para a vida, conduzir o homem às ferramentas necessárias para que ele interaja com
o mundo, com uma ética bem estabelecida, buscando virtudes que o protejam e que
lhe deem condições de responder de forma eficiente às demandas de sua existência.
16. 16
É possível arrematar a análise deste livro, levando-se em conta as suas
características, seu riquíssimo repertório linguístico, e concordando-se com a
afirmação de Amaral e Miguel (2008, p. 69), que esse livro bíblico se apresenta “como
um excelente instrumento de mediação cultural e de transmissão de valores éticos.
Ele conduz o leitor a silogismos e trocadilhos de uma fertilidade intelectual formidável
para conduzir educandos à sabedoria”.
Salomão e outros sábios do Antigo Testamento usavam as palavras de
sabedoria para expressar conceitos antigos de uma sabedoria internacional e de
conhecimento popular. Jesus, entretanto, usou os provérbios para revelar algo novo:
o mistério do Reino de Deus, desconhecido dos homens e revelado aos seus
seguidores.
Se Salomão é visto como o fundador da tradição proverbial, Jesus pode ser
visto como o fundador de uma tradição sapiencial diferente, que alia a palavra do sábio
à do profeta que anuncia as palavras de Deus e a manifestação do Seu Reino.
Provérbios aponta ao homem o “caminho da sabedoria”, que deve ser seguido.
Jesus, porém, não aponta um caminho, apenas, mas refere-se a si mesmo como
sendo “O caminho” (Jo 14.6), e apresentou-se como um sábio “maior do que Salomão”
(Lc 11.31). Na verdade, Jesus revela-se aos homens como sendo, ele próprio, a
sabedoria de Deus (Lc 11.49, cf. Mt 23.34).
Nos ditos de Salomão, o homem prudente é o que age com sabedoria, que
busca o conhecimento e que não despreza a correção; nos ditos de Jesus, o prudente
é aquele que ouve e pratica as suas palavras (Mt 7.24), estabelecendo as suas
palavras como a verdadeira sabedoria a ser aplicada à vida.
Witherington III (2000, p. 161) afirma que se pode também se surpreender ao
descobrir quantos dos principais temas da Sabedoria proverbial estão totalmente
ausentes da tradição de Jesus8.
Não há, nos provérbios de Jesus, orientações sobre pedir a sabedoria, ou
sugerindo que a aquisição dela seja difícil. Nem Jesus afirma que o temor de Deus
seja o começo da sabedoria. Até mesmo comentários sobre mulheres estranhas ou
estrangeiras sendo moralmente perigosas ou sedutoras são notavelmente deficientes
na tradição de Jesus. De fato, Jesus parece localizar a fonte do perigo sexual para os
8
“One may also surprised to discover how many of the major themes of proverbial Wisdom are totally absent
from the Jesus tradition.”
17. 17
homens em sua própria luxúria e desejos. Os provérbios de Salomão orientam os
homens especialmente quanto ao comportamento, enquanto os de Jesus visam
mudar suas motivações.
Jesus usou o māshāl em toda a sua extensão: Ele ensinou por meio de
narrativas parabólicas, reforçou ou resumiu este ensino por meio de ditos parabólicos
(provérbios) e, algumas vezes, até representou este ensino por meio de ações
parabólicas (parábolas dramatizadas)9, o que faz dele o Mestre do māshāl por
excelência.
Os provérbios, iniciando com a sabedoria de Salomão e, especialmente, na
sabedoria de Jesus, têm uma função muito importante, de ensinar aos o caminho para
uma vida plena, feliz e agradável a Deus e ao seu próximo.
REFERÊNCIAS
BERGER, Klaus. As Formas Literárias do Novo Testamento. Tradução Fredericus
Antonius Stein. São Paulo: Loyola, 1998.
BÍBLIA. Traduzida por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada no Brasil.
Edição Revista e Atualizada no Brasil, 3ª ed. (Nova Almeida Atualizada). Barueri/SP:
SBB, 2017.
CERESKO, Anthony R. A Sabedoria no Antigo Testamento: espiritualidade
libertadora. Tradução Adail Ubirajara Sobral e Maria Stela Gonçalves. São Paulo:
Paulus, 2004.
CROTTS, John. Homens Sábios – A sabedoria dos provérbios para homens.
Tradução Ingrid Rosane de Andrade Fonseca. São José dos Campos: Fiel, 2013.
DILLARD, Raymond. B.; LONGMAN III, Tremper. Introdução ao Antigo Testamento.
Tradução Sueli da Silva Saraiva. São Paulo: Vida Nova, 2006.
HARRIS, R. Laird (org). Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento.
Tradução Márcio Loureiro Redondo, Luiz A. T. Sayão e Carlos Osvaldo C. Pinto. São
Paulo: Vida Nova, 1998
HOUSE, Paul R. Teologia do Antigo Testamento. Tradução Sueli Silva Saraiva. São
Paulo: Vida Nova, 2005.
LÍNDEZ, José Vílchez. Sabedoria e Sábios em Israel. Tradução José Benedito Alves.
3ª. Edição. São Paulo: Loyola, 2014.
9
Há diversas ocasiões nos evangelhos onde o ensino de Jesus foi apresentado por meio de ações, chamadas de
ações parabólicas, onde o ensino estava contido na própria ação. Ver mais em KUNZ, Claiton. Ações Parabólicas
de Jesus no Evangelho de Marcos. Curitiba: AD Santos, 2018.
18. 18
PESTANA, Álvaro César. Os Provérbios de Jesus – Frases poderosas de Jesus de
Nazaré. 2ª. Edição. São Paulo: Vida Cristã, 2002.
PIPER, Ronald A. Wisdom in The Q-Tradition: the aphoristic teaching of Jesus.
(Monograph series / Society for New Testament Studies: 61). Cambridge: Cambridge
University Press, 1989.
SANT´ANNA, Marco Antônio Domingues. O Gênero da Parábola. São Paulo: Ed.
Unesp, 2010.
SHREINER, Josef. Palavra e Mensagem do Antigo Testamento. Tradução Benôni
Lemos. 2ª. Edição. São Paulo: Teológica, 2004.
WALTKE, Bruce K. Provérbios – Comentário do Antigo Testamento. Tradução Susana
Klassen. São Paulo: Cultura Cristã, 2011.
WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo - Antigo Testamento – Vol. III.
– Poéticos. Tradução Susana E. Klassen. Santo André/SP: Geográfica, 2006.
WINTON, Alan P. The Proverbs of Jesus: Issues of History and Rhetoric. Journal for
The Study of The New Testament Supplement Series, 35. Sheffield: JSOT Press,
1990.
WITHERINGTON III, Ben. Jesus the Sage: The pilgrimage of wisdom. Minneapolis:
Fortress Press, 2000.
Artigos
AMARAL, Emerson Santos; MIGUEL, Igor da Silva. Provérbios de Salomão: conceitos
educacionais e mediacionais. Arquivo Maaravi: Revista Digital de Estudos
Judaicos da UFMG. Belo Horizonte/MG, v. 2, n. 2, p. 60-70, mar. 2008. ISSN: 1982-
3053.
XATARA, Claudia Maria; SUCCI, Thais Marini. Revisitando o Conceito de
Provérbio. Revista de Estudos Linguísticos Veredas – Atemática. Juiz de Fora/MG,
v. 12, n. 1, p. 33-48, jan. 2008 - ISSN 1982-2243.
Mt 6.28,29 — Se nenhuma outra palavra de Jesus tivesse sobrevivido além das que
se acham nestes versículos, teríamos ficado sabendo pelo menos duas coisas a
respeito dele — primeiro, que Ele olhava a natureza com olhos de poeta, e segundo,
que conhecia bem a história da fabulosa riqueza do rei Salomão. Humanamente
falando, o mundo da natureza e as tradições do povo judeu eram as únicas fontes da
sua “ cultura”, e é notável como ambas se fundiram nesta passagem inesquecível.