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1
GISELE REGINA FURTADO
TRADIÇÕES AÇORIANAS
E
SUAS GRANDES TRANSFORMAÇÕES
FLORIANÓPOLIS, 2010
2
ESCOLA DE TURISMO E HOTELARIA CANTO DA ILHA
TRADIÇÕES AÇORIANAS E SUAS GRANDES TRANSFORMAÇÕES
Trabalho de conclusão de curso
apresentada à Escola de Turismo e
Hotelaria Canto da Ilha - CUT, como
requisito parcial à obtenção do diploma do
Curso Técnico de Hotelaria sob orientação
dos profs.
FLORIANÓPOLIS, 2010
3
GISELE REGINA FURTADO
BANCA EXAMINADORA
_____________________________
ANA CAROLINA HERRERA
Orientadora/Educadora ETHCI
_____________________________
MARIA LEDA C. SILVEIRA
Pedagoga/Especialista em EJA/ Coord. Ensino IFSC São José
_____________________________
ALTAIR LAVRATTI
Bacharel em Direito/Coord. MST/SC
4
Um pedacinho de terra,
perdido no mar!...
Num pedacinho de terra,
beleza sem par... Jamais a natureza
reuniu tanta beleza
jamais algum poeta
teve tanto para cantar...
Num pedacinho de terra
beleas sem par!
Ilha da moça faceira,
da velha rendeira,
Tradicional.
Ilha da velha figueira
Onde em tarde fagueira
vou ler meu jornal.
Tua lagoa formosa
Ternura de rosa
Poema ao luar,
Cristal onde a lua
Vaidosa, sestrosa,
Dengosa,
Vem se espelhar...”
Rancho de amor à ilha - Zininho
5
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus por ter me iluminado durante essa trajetória de
muitas informações e por ter me ajudado a desenvolver meu psicológico.
Agradeço a minha mãe Nádia que me incentivou a fazer esse curso e também me
ajudou com informações que agreguei a este trabalho.
Agradeço a minha avó materna pela entrevista concedida sobre o mito das bruxas
e dos lobisomens, que segundo ela, presenciou juntamente com meu falecido avô.
Sou bastante grata à dona Lucila, moradora do bairro Rio Tavares por me ajudar
a descobrir mais um pouco da cultura açoriana e por ter me dado a oportunidade de
saber sua história de vida.
Agradeço a minha amiga Priscila, pela colaboração no conteúdo do meu trabalho
e ao tempo que dividiu comigo.
Este trabalho também não teria sido possível sem as sugestões da minha
orientadora Ana Carolina Herrera.
Sou grata a todos os educadores por todo o aprendizado que obtive.
Agradeço a minha família em geral de formas diferentes que ajudaram na
realização deste trabalho.
Agradeço aos meus colegas do curso, por terem sido companheiros durante a
vivência costumeira e compartilhamento de suas vidas.
6
RESUMO
Florianopolitanos: Cultura, costumes e tradições
Este trabalho busca trazer informações sobre a cultura florianopolitana e suas
grandes mudanças com o decorrer do tempo, através de pesquisas com os nativos da
região, internet, bibliografia, com o objetivo de analisar as transformações do município
como o atrativo turístico. E neste trabalho farei uma breve reflexão sobre o processo
dessas transformações.
RESUMEN
Florianopolitanos: cultura, costumbres y tradiciones
Este trabajo busca traer infomaciones sobre la cultura florianopolitana y sus
grandes cambios con el transcurrir del tiempo, a través de investigaciones con los
nativos de la región, internet, bibliografía, con el objetivo de analizar las
transformaciones en el municipio como el atractivo turístico. Y en este trabajo haré una
breve reflexíón acerca del proceso de esas transformaciones.
ABSTRACT
Florianopolitanos: Culture, Custom and folklore
This work search to bring information upon the Florianópolis’ culture his greats
changes with the course of the time, through of research with the natives from the
region, the internet, the bibliography, with the objective of analyze the transformation of
municipality with the attractive touristic. And this work will make a brief reflection
about the process of transformations.
7
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO................................................................................................ 09
INTRODUÇÃO..................................................................................................... 10
.
CAPÍTULO 1: IMIGRAÇÃO AÇORIANA – PROCESSO DE ADAPTAÇÃO ÀS
TRANSFORMAÇÕES................................................................................................ 12
1.1Percepção do passado dos açorianos e presente dos
Florianopolitanos................................................................................. 13
1.1.1 Açorianos na Vila de Nossa Senhora do
Desterro...........................................................................14
1.1.2 Desterro- A fundação......................................................14
1.1.3 Ocupação dos açorianos à nova fase...............................16
1.1.4 Atividades Produtivas dos luso-brasileiros.....................21
1.2 Resistência entre os nativos e “os de fora” e compreensão do
compartilhamento com diferentes
culturas.........................................................................................................26
1.2.1 Definindo o Multiculturalismo – Choque de
cultura...............................................................................32
CAPÍTULO 2: TRADIÇÕES FESTIVAS – DANÇAS, CANTIGAS E
FOLGUEDOS ...............................................................................................................35
2.1. Folia de Reis.....................................................................37
2.2. Pau de fita.........................................................................39
2.3. Ratoeira........................................................................... 40
2.4. Pão-por-Deus....................................................................41
2.5. Boi-de-mamão..................................................................43
2.6. Festa do Divino............................................................... 47
2.7. Farra do boi..................................................................... 51
CAPÍTULO 3: MITOS, LENDAS E CRENDICES AÇORIANAS: UMA
ANÁLISE SOBRE AS TRANSFORMAÇÕES DOS SEUS MOVIMENTOS
ATRAVÉS DO TEMPO.............................................................................................. 53
8
3.1. Lenda e contos sobre as bruxarias da ilha da magia...................55
3.2. Mitos sobre os lobisomens...........................................................58
3.3. Benzedeiras e Curadores............................................................. 60
3.4. Superstições................................................................................. 62
3.5. Outros mitos e lendas da ilha...................................................... 63
CAPÍTULO 4: MEIOS DE HOSPEDAGEM QUE VALORIZAM A CULTURA
FLORIANOPOLITANA: PROJETANDO UM LUGAR ACOLHEDOR QUE
SIMBOLIZE A CULTURA LOCAL........................................................................ 66
4.1. Aspectos da cultura local encontrados em um meio de hospedagem............67
4.2. Um meio de hospedagem acolhedor que represente a essência de
Florianópolis....................................................................................................................69
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................. 74
BIBLIOGRAFIA.................................................................................................... 76
ANEXOS................................................................................................................
ANEXO I – Entrevista a Edite Borba Farias .........................................................
ANEXO II - Entrevista a Priscila Pereira da Silva.................................................
ANEXO III - Entrevista a Lucila Fernandes Tavares............................................
9
APRESENTAÇÃO
O objetivo dessa pesquisa é criar um material para que as pessoas tenham
conhecimento da história de Florianópolis, tanto para os florianopolitanos e para os
visitantes terem conhecimento das histórias, mas também fazer com que elas apreciem
as tradições da cultura ancestral como danças, mitos, costumes, etc. Pois, depois com o
desenvolvimento da tecnologia, esta cidade se tornou turística e recebendo pessoas até
de fora do Brasil, fazendo com que a cidade se transformasse em um lugar multicultural.
A elaboração deste trabalho se baseia na pesquisa das tradições e costumes dos
nativos florianopolitanos, cuja algumas tradições, ainda são exercidas por algumas
comunidades e outras já foram esquecidas. Forma-se a nova geração de nativos e de
novos residentes em Floripa cujas culturas são diferentes, a modernidade influenciou os
jovens a se iludirem com as novidades e fazendo-os acreditar na possibilidade de
escolher fazer faculdade e obter o seu espaço profissional socialmente.
Neste sentido, a minha motivação em querer estudar essas manifestações
culturais, é com propósito de conhecer a fundo minhas raízes e também possibilitando
outras pessoas de conhecer toda a história que relatarei neste trabalho, toda essa
trajetória de inovações para quem se interessar em ler. Essas tradições que de fato
vieram dos portugueses, me faz viajar no tempo em que eu ainda na infância, vivenciava
junto com minha família, algumas destas tradições que por ventura é secular e que nos
tempos de hoje foi amenizada, cujos nativos mais antigos sentem saudade desse tempo.
O conteúdo deste trabalho construído no dia a dia resgata as possibilidades de
informações concretas, conforme os temas iam surgindo, com cenas e fatos observados,
inclusive com a opinião dos “Manézinhos da ilha” caracterizados pelo falar rápido e
cantante e que originalmente são chamados assim devido à sua descendência histórica
de populações das ilhas dos Açores e Madeira pertencentes a Portugal. Com eles vieram
às tradições que se implantaram na ilha e logo as novas gerações adotaram essas
tradições, e assim, sucessivamente, as tradições eram passadas pelos seus antecedentes
de acordo com seu tempo e seus hábitos.
Contudo, a experiência de uma vida não cabe entre as páginas de um livro, onde
se podem escrever detalhes sobre a história toda, ainda assim, nunca será completa, e
em nenhum tipo de material onde se possa estar visível, ela apenas está na jornada de
vida que cada um sabe o que passou e por mais que historiadores contem o que sabem,
no fundo só sabem o que gostariam de saber como fazendo parte do tema que escolhem
para abordar e assim, a história dos açorianos pode ser contada por qualquer pessoa que
tenha lido o que historiadores contam ou o que descendentes de açorianos dizem, cujas
tradições, já muito amenizadas diante desse século XXI, ainda perpetuam-se de pais a filhos.
10
INTRODUÇÃO
Neste presente trabalho, venho com o foco de estudar as transformações ocorridas
em relação ás manifestações culturais de acordo com a história de Florianópolis na ilha
de Santa Catarina, com o objetivo de aqui mostrar estas mesmas transformações
utilizando métodos de pesquisa de campo com os ilhéus, para destacar a visão dos
mesmos de diferentes aspectos construtivos, e assim permitindo compreender essa
modificações fazendo investigações resgatando a cultura açoriana e preservando a
mesma hoje transformada,
Com o tempo a geração principiante foi esquecendo-se do costume de antes,
preferindo ir á uma balada com os amigos, imaginando que os mesmos sentiriam
vergonha desse costume e o medo de serem ignorados, e pelo fato de achar “brega”,
pois quando Florianópolis foi crescendo, passaram a existir outras culturas e as mesmas
começaram a se anexar umas às outras. Contando com a convivência de pessoas de
“fora”, os manezinhos mais jovens foram deixando de recordar suas tradições,
começando a entrar no mundo mais moderno.
A cultura, é tão somente um modo de se expressar sem desrespeitar o próximo, é
toda a ação que o ser humano produz pra agregar a seu tipo de tradição ancestral que
cultiva. O objetivo desta pesquisa é identificar a manutenção desta identidade cultural, o
movimento dessa cultura, que se transforma e que varia , dá origem a novas formas de
expressão, que transformou nossa cidade e resultou na mudança de nossos hábitos e
costumes, novos sotaques fundiram-se uns aos outros, resultando em um lugar
multicultural, ou seja, Floripa já não é só dos manezinhos, a mesma tem variadas etnias.
Florianópolis desenvolveu-se rapidamente trazendo á mesma, pessoas de outros
lugares buscando aqui qualidade de vida e certamente passa- se muito tempo na cidade
para que a população aqui existente seja considerada menos “cliente” dela, como são os
turistas e também os novos moradores que fizeram mudanças com suas culturas.
Entretanto, com o desenvolvimento econômico-cultural, da ilha, o resultado foi
que, se obteve um choque de culturas, fazendo com que os nativos mudassem seus
hábitos e abrissem os braços para os novos moradores e os ensinassem as tradições
açorianas e que muitos deles participavam e outros achavam “brega” demais para se
envolver e por esse fato a nova geração de manézinhos foi seguindo o mundo moderno
e seus novos costumes, esquecendo suas origens e tendo iniciativa em fazer faculdade,
trabalhar, ser independente, se adaptando com as tecnologias, esquecendo-se de sua
tradição cultural preferindo fazer outras atividades de acordo com a modernidade.
As idéias que construí no desenvolvimento deste trabalho então aqui apresentado
no decorrer destes cincos capítulos assim estruturado:
- Capítulo 1 – “Imigração Açoriana – Processo de adaptação ás transformações” –
Busco relatar neste contexto a história desde a colonização açoriana e suas prováveis
transformações até os dias de hoje, através das considerações de alguns historiadores,
sobre os conceitos pertinentes ás questões mencionados neste capítulo, resgatando essa
tradição e fazendo uma percepção do passado e presente, resultando na construção
multicultural para as transformações da identidade cultural dos açorianos até os
florianopolitanos.
- Capítulo 2 - “Tradições Festivas Açorianas – Danças, Cantigas e Folguedos” –
Neste capítulo, apresento as festividades em que os açorianos se envolviam em cultos
religiosos e celebravam com sua comunidade, como faziam em sua terra de origem,
11
onde os padres que determinavam os horários das festas e era uma forma de todos os
religiosos católicos se encontrarem, pois antigamente, as “freguesias” eram distantes
umas das outras na ilha e existia um padre que era responsável pela comunidade e pela
alfabetização, logo mantinham a tradição religiosa na comunidade.
- Capítulo 3 – “Mitos, lendas e crendices açorianas – Uma análise sobre as
transformações de seus movimentos” - Trata-se de um levantamento de certas lendas do
imaginário dos açorianos que contavam histórias a seus filhos e outros que
mencionavam estes supostos acontecimentos, e que ficou marcado a ponto de fazer
Florianópolis ser conhecida como ilha da magia. Acreditando nesta análise, busco
visualizar as transformações que ocorreram, devido ás gerações que foram passando,
adotando no seu tempo a sua maneira de pensar em relação á este assunto, esses mitos e
crendices eram evidentes quando não existia a luz elétrica, mas depois da cidade receber
a luz elétrica, foi-se diminuindo a credibilidade nestas histórias e/ou estórias com o
passar do tempo.
- Capítulo 4 – “Meios de hospedagem que valorize a cultura Florianópolitana e
sugestões para um lugar acolhedor simbolizando a cultura local” – Neste capítulo, busca
exatamente investigar e refletir, a partir das considerações adquiridas em relação ao
crescimento da cidade, especificamente no desenvolvimento das redes hoteleiras
implantadas na ilha, com foco de identificar nos meios de hospedagens alguns aspectos
concretos e tangíveis, que simbolizem a cultura açoriana, devido á história da ilha de
Santa Catarina sobre a imigração dos portugueses e toda a tradição cultural
florianopolitana.
12
CAPÍTULO 1
IMIGRAÇÃO AÇORIANA:
PROCESSO DE ADAPTAÇÃO ÀS TRANSFORMAÇÕES
13
1.1.1.1.1.1.1.1. Percepção do passado dos açorianos e presente dos
florianopolitanos
“... A terra é mais que boa quem disser o contrário mente... Eu me contento
muito com a minha sorte...”
Dias velho.
Por mais que se aprenda sobre um determinado assunto do qual se possa vir a
adotar para a nossa vida e usufruí-lo, nunca se sabe sobre a profundidade que ele pode
ter, ou seja, de geração á geração, conceitos vão se modificando devido ao seu tempo e
por mais que saibamos sobre as nossas raízes podemos ter a opção de querer ser
diferente culturalmente.
Antigamente, cada um tinha a sua cultura, hábitos e costumes de acordo com a
sua tradição familiar, e sua descendência histórica, mas nos dias de hoje, podemos
conhecer e constatar outras culturas sem sair do lugar, pois pessoas se mudam o tempo
todo, troca de uma cidade para outra a fim de melhorar as condições de vida e obter
sucesso, e as culturas possivelmente são misturadas as quais podemos ter acesso devido
á convivência, o multiculturalismo presente nos faz de alguma forma aprender a lidar
com a modernidade.
Segundo o argumento do filósofo Marshall Bermam, onde Martinello (1992)
relata na sua tese e o mesmo comenta sobre a modernidade.
Ser moderno é encontrar-se em um ambiente que promete
aventura, poder, alegria, crescimento, autotransformação e
transformação, das coisas em redor – mas ao mesmo tempo ameaça
destruir tudo que sabemos tudo o que somos. A experiência ambiental da
modernidade anula todas as fronteiras geográficas e raciais, de classe e
nacionalidade, de religião e ideologia: nesse sentido, pode-se dizer que a
modernidade une a espécie humana.
No início do Séc. XX certas mudanças ocorreram com a modernidade, e com
isso a cidade se descaracterizou de sua forma original, com a implantação de novos
costumes a cidade foi perdendo a sua identidade cultural e Floripa cresceu de um modo
desordenado, resultando um desrespeito quanto à destruição do patrimônio histórico
cultural, destruindo a “figura florianopolitana” e construindo outra figura
multicultural.
Para algumas pessoas que se colocaram a disposição em aprender toda a sua
cultura, pessoas que antes quando vivia a sua mocidade ao ar livre, convivendo com
pessoas que tinham os mesmos costumes, hábitos de vida, sem ambições, eram mais
tranqüilos em relação ao pessoal que passava na rua, eram todos conhecidos e amigos
da igreja, ninguém fazia mal a ninguém, se ajudavam quando podiam trocando comida
ou objeto e passavam alguns sacrifícios que o adolescente de hoje nem chega perto
porque está tudo mais fácil e a tecnologia colabora muito.
Esta percepção destaca o passado dos açorianos, da vida ilhéus da ilha do
Açores e Madeira que emigraram para Desterro em meados do Séc. XVIII e os nativos,
descendentes dos mesmos, desenvolvendo famílias e com o passar do tempo, crescendo
uma população de florianopolitanos, logos esses portugueses que vieram aqui construir
um começo depois da indigência na ilhas de Portugal que causou a emigração de
14
milhares de casais com seus filhos para trabalhar a favor da coroa portuguesa, se
erguerem novamente. Nos próximos pontos deste capítulo, relato uma base da história
desses portugueses e dos descendentes, a sua rotina desde que se habituaram na nova
terra.
1.1.1 Açorianos na Vila de Nossa Senhora de Desterro
Para se ter uma história ampla e transparente a fim de entender a cultura açoriana
há tempos atrás, Florianópolis voltará á um passado em meados do Séc. XVII e
chegará até os dias de hoje, para apresentar uma percepção da vida desses colonos,
desde a fundação de Desterro e logo mais tarde a chegada de famílias vindas das ilhas
dos Açores e Madeira de Portugal.
Os açorianos imigraram para o Brasil por causa da decadência em Portugal a
mando da Coroa Portuguesa e pelo modo de vida intrigante que passavam a fim de
explorar terras novas para o cultivo das terras, logo implantaram a sua cultura nesta ilha,
vivendo de acordo com os costumes de Portugal e relacionar com a modernidade
surgida a partir do Séc. XX. Porém, os portugueses vieram povoar o sul sabendo que os
espanhóis queriam tomar posse dessas terras. O inicio desta história começa com a
fundação que se dá ao nome de Desterro.
1.1.2 Desterro – A fundação
A ilha era conhecida inicialmente como Meiembipe cuja palavra é de origem
carijó (indígena). Em meados do Séc. XVI por volta de 1514 a ilha passou a se chamar
Ilha dos Patos, batizada assim por navegantes espanhóis e europeus que ali passavam,
por sua grande quantidade de aves segundo relatos pesquisados, mas quem habitava na
ilha eram os índios tupi-guarani, praticavam a agricultura, mas tinham na pesca e coleta
de moluscos as atividades básicas para sua subsistência.
Após o descobrimento do Brasil1
de acordo com os registros históricos, a
chamada Ilha dos patos passa a receber muitos navegadores Europeus a caminho do Rio
da prata2
ou em viagens de circo navegação porque a ilha era basicamente um porto
seguro em alimentos e água. Um desses viajantes que aportou na ilha foi o Italiano
Sebastião Caboto. Em 1526 Caboto desembarcou e ficou aproximadamente 4 meses
para reformar uma de suas embarcações. Ergue uma pequena aldeia e muda o nome de
Ilha dos patos para Ilha de Santa Catarina, se o nome foi em homenagem a sua mulher
ou a Santa, não há certeza.
No Séc.XVII, a ilha de Santa Catarina obteve novos rumos, com a presença de
um paulista que toma para si a missão de povoar o local. Em 1662, Francisco Dias
Velho acompanhado de sua esposa, dois filhos e três filhas, mais uma família de cinco
pessoas, dois padres e índios domesticados, fundaram a ilha oficialmente com o
1
Dia 22 de Abril, o Português Pedro Álvares Cabral descobre o Brasil, tornando-se oficialmente
o primeiro europeu a chegar ao Brasil.
2
Chamada assim, pelos navegadores por causa de sua quantidade de prata na época, que fica
entre os rios Paraná e Uruguai formando sobre a Costa Atlântica da América do Sul com uma forma
triangular de 290 KM de largura.
15
objetivo de encontrar pedras preciosas. Este capitão-mor fez muito serviços à coroa real,
desempenhou um importante papel político na colonização da região e sua primeira
realização foi à construção da capelinha em homenagem á Nossa Senhora do Desterro
devido á sua religiosidade.
Segundo relatos históricos:
Com o avanço do tempo e o progresso da empresa agrícola de
Dias Velho, também o povoado cresceu, ganhando logo uma capela,
construída a mando do paulista, em homenagem á Nossa Senhora do
Desterro. As casas, contudo, continuavam simples e desprovidas de qual-
quer conforto. O desenvolvimento do povoado era lento, mas constante.
O ataque pirata de 1687, como assassinato de Dias Velho, interrompe
essa fase, provocando a fuga dos sobreviventes. Era o declínio dessa
etapa de povoamento, só retomado anos mais tarde.
A capela foi construída de pedra e cal, hoje sendo a catedral de Florianópolis,
Dias Velho era católico e muito religioso assim como toda a sua família. Segundo
relatos também mostram que Dias velho criou uma empresa agrícola e que segundo
pesquisadores, pelos documentos encontrados e preservados até hoje, sabe-se que já na
ilha os colonizadores plantavam mandioca, milho, feijão, cana-de-açúcar e fumo.
Também “pescavam em pequena canoas.” Eis abaixo a igreja depois de algumas
reformas por Silva Paes até o fim do XIX hoje com última reformada em 2005.
Ano de 1900 2010
Diz á história que, um capitão e seis tripulantes ingleses que se perderam do seu
caminho por causa de uma forte tempestade, com ventos fortes e correntes marítimas,
vieram parar na ilha para concertar as suas embarcações acreditando que a ilha era
desabitada. Mas, Francisco Dias velho foi avisado e não gostou, porque de certa forma a
ilha já estava povoada e foi fundada por ele e não mais havia necessidade de navegantes
se aproveitarem daquele lugar. Dias velho prendeu o capitão e sua tripulação e ficou
com todo o carregamento de prata que estes piratas deixaram em Canasvieiras e logo
foram enviando-os para a Vila de Santos para serem julgados, mas, juraram vingança
ao bandeirante.
16
A vida continuava, e tudo ocorria bem no dia a dia dos colonos, dois anos mais
tarde, em 1689, desembarcaram na ilha, piratas dotados de mosquetes3
e espadas, cujo
capitão, segundo a história se chamava Robert Lewis vindo com a missão de vinga-se
de Dias Velho e retomar com toda a prata que o português havia pegado de seus
colegas. Logo invadiram o povoado, roubando tudo o que era possível e incendiaram as
casas de palha.
Dias Velho tentou salvar sua família da maldade desses piratas os protegendo
dentro de sua capela, mas que não era forte o suficiente, então é atacado pelos
estrangeiros, ou seja, os piratas que invadem a ilha, sem conseguir evitar violências
contra sua mulher e filhas. Ele morre dentro da própria igreja que mandou construir e
logo os sobreviventes de desterro fogem, e a vila fica quase vazia e só volta a ser
ocupada á anos mais tarde.
Em 1726, Desterro é elevada a categoria de vila, Vila de Nossa Senhora de
Desterro. Depois de toda essa tragédia, e com a ilha vazia a família de Dias Velho
realiza a melhoria de sua capela e logo partem para São Paulo. Já no Séc. XVIII durante
um período que a ilha ficou vazia os espanhóis a tomaram, por um período aproximado
á 20 meses e quem comandava a tropa de 12 mil homens espanhola era o militar da
Espanha Pedro de Cevallos4
. No ano de 1739, José da Silva Paes5
que também foi um
militar e administrador colonial português, aporta na ilha e vem á intenção de preservar
a mesma, fazendo-se construir fortificações como São José da Ponta Grossa,
Anhatomirin e Ratones ao norte e ao sul a Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição de
Araçatuba, para defesa contra os invasores espanhóis, que costumavam aportar na ilha
com más intenções em procura de ouro e prata, até mesmo na presença de Dias Velhos,
que sozinho sendo um capitão-mor não dava conta de lutar contra esses invasores.
Foi mandado para a ilha tropas de sargentos, soldados, artilheiros e um capitão
de infantaria, para fortificar a ilha e proteger os moradores, assim Desterro estava mais
protegida e pronta para receber novos imigrantes vindos de Portugal a mando da Coroa
Portuguesa para o aumento da povoação.
1.1.3 Ocupação dos açorianos à nova fase
Em 1748, açorianos do arquipélago dos Açores e Madeira vieram em quatro mil
famílias, e não pararam de chegar em toda a ilha de Santa Catarina, pois segundo o rei
Dom João V de Portugal, comunicou aos habitantes das ilhas dos Açores que a Coroa
oferecia uma série de vantagens aos casais ilhéus nos quais um destes, era cultivar terras
que ainda não foram exploradas. Isso tudo aconteceu porque a ilha dos açores estava em
estado crítico economicamente. Ilustrado na figura 4 abaixo os açorianos vindo para o
Brasil.
3
Espingarda grossa e pesada
4
Um nobre militar da Espanha que foi governador da província de Buenos Aires de 1757 até
1766, foi nomeado vice-rei do Rio do Prata e mandava as suas tropas para disputar o território da região
do sul do Brasil com os portugueses, sendo o ele o Silva Paes.
5
Foi um militar e administrador colonial português e governou Santa Catarina de 1739 e 1743 e
depois em 1746 e 1749, esteve envolvido em diversas situações e localizações, nas disputas territoriais
entre portugueses e espanhóis no território que hoje é a região sul do Brasil
17
Por esse motivo, açorianos foram ordenados pelo rei D. João V a emigrar para o
Brasil, segundo historiadores, por pobreza extrema e superlotação nas ilhas. e deu-se o
processo para os açorianos emigrarem para o Brasil. Assim ilustrado na figura 4
abaixo:
Figura 6:
Imigrantes portugueses á espera do navio para imigrar para o Brasil no século XX.
Segundo D João V ele ordenava da seguinte forma:
“... haverá um grande alívio nas ilhas porque elas não mais verão
padecer os seus moradores, uma vez que vão diminuir os males da
indigência em que todos vivem..."
Um edital exposto prometia ferramentas para começarem sua vida na vila de
Nossa Senhora do Desterro, tais ferramentas como alqueires com 27,5 litros de
sementes, duas vacas e uma égua, um pedaço de terra, uma quantia em dinheiro,
enxadas, machados, facas, tesouras e outras coisas mais, para o começo da nova vida em
Desterro.
Segundo o Rei D. João V.
“Em que a fertilidade da terra, abundância de gados e grande
quantidade de peixes, conduzem muito para a comodidade e fartura
desses novos habitantes”
Logo, partiram para uma viagem longa com o objetivo de chegar até o novo país,
mas antes de chegarem ao local desejado, existiam certas regras a cumprir durante a
viagem marítima, mulheres e crianças eram destinadas a ser cuidadas e escondidas
dentro de alojamentos trancados, onde somente o comandante tinha a chave e o marido
da mulher a outra, assim durante toda a viagem algumas mulheres e crianças ficavam
desidratadas e doentes e às vezes até chegavam a falecer.
Os açorianos se habituaram à nova terra. Tinham um modo de vida rural, com
suas atividades, trouxeram sua experiência da ilha dos Açores e Implantaram em
Desterro a sua cultura, seus costumes, hábitos e religiosidade, eram muito católicos e
sempre freqüentavam a igreja com suas famílias, participavam de novenas e logo foram
18
se habituando cada vez mais, às vezes, nos encontros com parentes, amigos e vizinhos
lembravam-se da terra antiga e comentavam sobre a saudade que sentiam da terra de
origem.
Segundo Cardoso (2001) as primeiras casas que os açorianos construíram eram
de chão batido, com paredes de barro e teto de palha, só depois de algum tempo com a
chegada de pedreiros e carpinteiros, as casas foram sendo construídas de acordo com a
arquitetura de Portugal, com pedras e tijolos e telhas de barro, fortificando-as, como era
o estilo dos Açores.
Sacerdotes juntamente com seus vigários, eram responsáveis pela
alfabetização dos colonos e da comunidade que era líder, fazendo assim a tradição
religiosa se manter como era em Portugal, e cada freguesia tinha a sua igreja.
Naquele tempo, os encontros religiosos eram motivos para que os jovens se
encontrassem junto aos parentes, amigos, vizinhos, para também “prosear”, pois os
açorianos moravam longe um dos outros, cada um tinha a sua terra e algumas fazendas
eram distantes umas da outras, só se encontravam por motivos religiosos, como rezar
novena ou ir à missa que, na época era uma vez ao mês.
Os açorianos eram pessoas desprovidas6
, desregradas7
e iletradas8
, não possuíam
nenhum modo refinado e nem elegante, deixavam-se levar apenas pelo amor a
humanidade, ou seja, o amor pelas pessoas a sua volta e sempre rezando por tudo e por
todos, eram dotados de muita fé, caracterizavam-se pela cultura tão animadora e cheia
de sentimentos.
Os açorianos como de costumes, além de se encontrarem aos domingos para
conversar, também em ocasiões especiais, como os bailes religiosos eram organizados
pelos padres das comunidades, o mesmo determinava o início e o término do evento,
outra situação que decorria em momentos de encontros era em nascimentos, doenças,
casamentos ou falecimentos de alguém querido, entre outros, usavam sempre nessas
ocasiões sua fé.
Sua presença era sempre considerada, como a tradição mandava. Estes por
ventura investiram muito no seu esforço através do trabalho para ter uma estabilidade,
era uma forma de recompensar a ausência de sua terra de origem – Os Açores, por mais
que o tempo passasse nunca esqueceriam seu antigo lar, e certamente com essas
lembranças, fazia com que derramassem algumas lágrimas pela saudade que
sentiam.
A partir do Séc. XIX os açorianos passaram a cultivar frutas e legumes,
possuíam suas cabeças de gado em volta de sua casa, sendo isso a sua subsistência.
Segundo Martinello (1992), em 1817 os açorianos tinham o hábito do cultivo de milho,
de uma diversidade de hortaliças, e do cultivo da mandioca e cana de açúcar aqui na
ilha, segundo o ensinamento dos índios, também tiveram prosperidade a agricultura e a
indústria de fabricação de algodão e linho.
Em 1823, Desterro passa a ser capital de Santa Catarina, a cidade começou a
melhorar e a ser ocupada por migrantes e imigrantes vindos de outros lugares, que
buscavam aqui na cidade uma oportunidade para crescer e melhorar de vida. Muitos
6
Pessoas privadas de recursos
7
Sem regras
8
Que não sabe ler e nem escrever
19
vieram buscar emprego e outros, implantar sua empresa e gerar mais ofertas de
emprego, e assim, a cidade foi tendo super lotação de pessoas do mundo todo. Eis aqui
segundo historiadores.
No século XIX, Desterro foi elevada à categoria de cidade;
tornou-se Capital da Província de Santa Catarina em 1823 (...) Projetou-
se a melhoria do porto e a construção de edifícios públicos, entre outras
obras urbanas. A modernização política e a organização de atividades
culturais também se destacaram, marcando inclusive os preparativos
para a recepção ao Imperador D. Pedro II (1845).
Segundo Silva (1999) Em 1845, Com a visita do Imperador do Brasil
Dom. Pedro II juntamente com sua esposa Augusta Imperatriz Dona Thereza Christina
são recebidos com aplausos na Vila de Nossa Senhora do Desterro, a modernização
política e cultural fez mudar muitas coisas em benefício dos moradores. Na época
concentrava-se a maior freguesia no bairro Santo Antônio de Lisboa localizado no norte
da ilha onde Dom Pedro II fez uma visita, que segundo historiadores, ali
desembarcavam navios mercantes e de guerra, estrangeiros e nacionais, fazendo com
que aquela comunidade fosse bem conhecida.
Ainda em Santo Antônio de Lisboa, havia um porto o qual se tornou decisivo
para o baldeamento10
, ou seja, a passagem de mercadorias e passageiros de um navio
para o outro de produção local e outros lugares em Desterro, boa parte das mercadorias
começaram a ser produzidas ali e por esse motivo, surgiram casas comercias de acordo
com o produto específico.
Logo começam a surgir os transportes, e diminui muito a importância do
porto. Desterro passa a ser chamada de Florianópolis (cidade de Floriano) durante o
governo de Floriano Peixoto, o “Marechal de ferro” no término do Sec. XIX, no ano de
1894. Com a mudança de nome, Florianópolis passou a ter mais conhecimento e mais a
partir do século XX.
Logo no início deste Séc. o governador Hercílio Luz ordenou que construíssem
uma ponte que ligasse a ilha ao continente. A ponte foi inaugurada em 1926, em
homenagem ao governador do mesmo nome que cujo falecimento ocorreu dois anos
antes de ser inaugurada e depois da inauguração, vieram ônibus e automóveis. Eis
abaixo duas figuras 7 e 8 mostrando a evolução da ponte Hercílio Luz.
Figura 7: Figura 8:
A construção da ponte em 1922
20
Florianópolis desenvolve-se, mas, naquele tempo a vida ainda não era
fácil para alguns nativos da geração de descendentes de açorianos, pois, muitos não
tinham recursos para plantar, esse relato está presente no diálogo que estabeleci com
dona Lucila, nativa do Campeche, sul da ilha.
“ ‘Os outro’ plantava, o vizinho lá, plantavam o que eles tinham
engenho de farinha, né? Plantavam e a gente ganhava uns trocadinho
trabalhando com eles, mas a gente mesmo, a gente, não tinha.”
Mesmo assim a vida dos descendentes de açorianos era simples, de modo rural,
muitos tinham para plantar, outros já não tinham, Dona Lucila contou sobre a
dificuldade de emprego naquela época: tinham que fazer “bicos” e a mesma ajudava a
mãe a lavar “pra fora”, carregando roupas pesadas no alguidá (Vasilha circular feita de
barro) para ir lavar no rio além de fazer renda.
“O pai trabalhava na roça, pros otro, não tinha terra pra... pra
coisá, né? Nós Capinava na roça pros otro pra ganhá por dia né? E a
minha mãe lavava ropa pra fora e fazia renda e lavava pra fora.”
Esse era o modo de vida da dona Lucila quando ela já era moça, pois naquele
tempo as meninas já ajudavam as mães quando chegassem ao fim da infância entre 8 e
12 anos. A mãe ensinava a cuidar da casa, lavar roupa e fazer renda de bilro, cuja
atividade é uma tradição dos açorianos que vieram de Portugal, fazendo com que cada
geração seguisse com ela.
E também, as meninas “mocinhas” já eram encorajadas pela família a trabalhar
fora, ou seja, de empregada para famílias nobres que residiam pelas redondezas, e já que
as nativas não tinham alfabetização, era a única forma de ganhar dinheiro, cujo esforço
gastado às vezes era absurdo; Eram explorados, e não podiam escolher porque
precisavam ajudar a família.
Os meninos ajudavam os pais na pesca, vendiam para o sustento do dia, muitas
vezes comiam “tatuíra”9
para enganar a fome, ás vezes só tinha farinha pra comer e
mais nada, e outras vezes, o que ajudava era fazer trocas de alimentos para sobreviver,
segundo se exibe abaixo no diálogo com Dona Lucila.
Tinha cinco irmãos, eles trabalhavam com os amigos, ajudando ‘os
outro’, ia pra praia pescar, ir lá pro morro das pedra tirar marisco como
eu ia tamém, pegava aqueles mariscos, quando chegava em casa ainda ia
trocar por farinha pra cumê porque não tinha, aí ia nos engenhos....
trocá por marisco pra cumê com farinha, pa trocar pra pudê cumê né?
Aquela época era ruin, né, Não é como agora não! Era difícil, As
minhas pernas doíam a passar na areia dos morro das pedras todinha
9
Segundo o dicionário on-line Wikipédia: Tatuí (que significa pequeno tatu em tupi)
ou tatuíra (Emerita brasiliensis) é o nome dado ao crustáceo decápode que pode chegar a medir
37 centímetros, embora dificilmente passe dos 4 cm de comprimento, e que é encontrado fazendo
escavações de pouca profundidade nas praias arenosas brasileiras. Tem coloração branca. Sua semelhança
com os tatus valeu-lhe o nome comum. Sua importância econômica é a apreciação na culinária local e
na pesca. Sua presença em grande quantidade pode determinar o grau de limpeza nas praias. Praias
geralmente com um grau leve de poluição em diante podem ter uma população do crustáceo bem
reduzida, ou mesmo praticamente não a ter.
21
pela praia comprida, com aquele saco de marisco na cabeça, a chega em
casa, butá num balainho e trocar por farinha, pra pudê a gente cumê.
Esta outra geração de descendentes eram destinados a passar por uma série de
dificuldades pra se manter e tendo que passar por situações muito difíceis, a ponto de se
machucar fisicamente, para manter o sustento, todo mundo se arriscava, mas o que os
deixava felizes era saber que a família estava unida em qualquer situação, o ar era
tranqüilo, não existia a atrocidade que se tem hoje, e muito menos a existência da luz
elétrica, segundo Dona Lucila depois que novidades começaram a surgir.
Acabou com isso tudo né? Não fazia mais as coisas antigas, só vinham
essas coisas novas, vinha muitas coisas erradas né? Ah! Isso ai mudou
demais né? Lembro que nós morava num lugar onde não tinha luz
elétrica, nós ia na venda, passava as coisas, nós ia tarde da noite, passava
naqueles caminhos estreitinho, perto daquelas vassouras, e não tinha
medo de nada.
E depois que a luz elétrica chegou, os nativos não se adaptaram tão cedo com a
novidade, e isso às vezes até assustava - os.
“(...) tinha muito pouquinha casa, uma casa ficava lá não sei aonde,
quando apareceu uma luz elétrica ali no Campeche, que era o avião que
pousava ali, né? As crianças ficavam tudo assustada, olhando!
Tadinhas.”
Eles se habituaram à energia elétrica só depois de um tempo, dize-se que
esqueciam que havia luz. Muitas existências novas no ar a ponto de confundir a cabeça
do ilhéu, que antes, estava acostumado com a luz de lamparina durante as noites.
Os luso-brasileiros10
se deparando com pessoas desconhecidas e de linguajar e
vestimentas diferentes, passavam um “ó-lho-lho” pela cabeça imaginando quem de fato
eram essas pessoas, que tinham dinheiro e outras nem tanto, mas que, já estavam
fazendo parte da vila Desterro.
1.1.4 Atividades produtivas dos luso-brasileiros
A imigração açoriana coincide com o desenvolvimento das armações de baleia.
Com isso, boa parte dos “colonos” acabou se empregando na atividade pesqueira e na
construção naval. Formando a grande maioria da população da Ilha, são heranças dos
filhos do Arquipélago dos açores, que ainda nos deixaram uma literatura oral e uma
mitologia riquíssima, forneceram a sua linguagem local e desenvolveram aqui o
engenho de farinha, a partir da combinação do moinho de vento que antes, em Portugal,
era o moinho de trigo.
Com a ocupação, já no século XVIII, tiveram prosperidade à agricultura e a
indústria manufatureira de algodão e linho permanecendo ainda hoje. Existem vestígios
10
Pessoas com origem ou nacionalidade brasileira e portuguesa.
22
desse passado no que se refere à confecção artesanal da farinha de mandioca e das
rendas de bilro.
Os açorianos viviam da pesca e da agricultura, exploraram integralmente as
pequenas extensões das terras que possuíam aqui na Vila de Nossa Senhora do Desterro,
e implantaram toda sua herança cultural portuguesa. As mulheres tradicionalmente
faziam renda, isso só depois de cuidar da casa e dos filhos, mulheres simples que
ensinavam suas filhas mulheres a fazer renda para que um dia pudessem elaborar seu
enxoval antes de casar. Os homens trabalhavam na pesca da baleia, faziam implantação
das "armações" para exercer as atividades da pesca, cujo óleo era comercializado pela
Coroa fora de Santa Catarina, não trazendo benefício econômico.
Os açorianos aumentaram sua produção e variedades de alimentos, pois já
tinham conhecimento no cultivo da terra, pois no arquipélago dos açores plantavam o
trigo cuja terra era bastante fértil. Os produtos existentes aqui eram grãos, legumes,
frutas, linho, algodão e outros, dando a eles vantagens e fazendo com que enriquecesse
seu alimento de cada dia.
Os colonos adquiriram novos conhecimentos na ilha, devido a alguns costumes
exercitados pelos índios, que ensinaram técnicas de pescas, hábitos alimentares e de
trabalho. Sendo assim, os mesmos adotaram tais costumes para sua vida.
Segundo Silva (1999):
Os açorianos ao chegar no litoral catarinense tentaram a princípio
cultivar o trigo, que era a principal fonte de alimentação no arquipélago
dos Açores. O trigo não vingou e acabaram adaptando-se ao alimento da
terra, a mandioca. O método indígena de fazer a farinha era bastante
rudimentar e pouco rendoso. Os açorianos, então, adaptaram a
tecnologia dos moinhos de trigo à produção da farinha.
Os açorianos trouxeram o conhecimento do moinho que utilizavam para produzir
o trigo para colocar em prática aqui na ilha, vieram com a intenção de continuar com a
mesma atividade de sua terra de origem, perceberam que a ilha de Santa Catarina não
aceitava muito bem o trigo por causa do clima e pelas condições do solo. Já em
Portugal, as terras eram vulcânicas e férteis e se aceitava bem a plantação de trigo.
Então começaram a plantar a mandioca, que originalmente era da cultura
indígena. A princípio, ocorreu uma mistura de cultura, a açoriana e a indígena, ambos
compartilharam seus conhecimentos e logo se construíram os engenhos de farinha, e
essa atividade resultou em um meio de subsistência bom e adequado. Na época da
“farinhada” (um tipo de comemoração, onde famílias e vizinhos exerciam a atividade de
fazer a farinha, dentro de um processo desde a colheita até a farinha ficar pronta, entre
maio e agosto) e os colonos gostavam de cantar versos e contar “causos”. Esses colonos
agrícolas, eram independentes em relação a sua auto-suficiência.
O processo da elaboração da farinha de mandioca era com técnicas manuais em
todo o seu procedimento, as próprias famílias que construíram os engenhos e
costumavam trabalhar juntos desde a colheita até á hora de a farinha ficar pronta, era
movida pela força dos bois. Segundo a história, já existia cerca de 450 engenhos
funcionando nos arredores de toda a ilha até meados do século XX. Segundo Cardoso
(2001).
23
Em épocas que o mar se encontrava “fértil”, de maio a agosto, os colonos
deixavam suas atividades no engenho aos cuidados da família, para
pescar. De agosto a novembro, por sua vez, os esforços se concentravam
na lavoura. Cabe, portanto, ressaltar que a forma de produção dos meios
de subsistência nas freguesias era familiar e comunitária.
Conforme a autora ressalta, os colonos sempre estavam ativos em suas
atividades, nesses momentos que os açorianos tiveram devido ás suas atividades,
antigamente feitas em conjunto, ou seja, toda comunidade ajudava no que podia e as
famílias eram muito unidas, dava maior prazer para a vida de trabalho pesado dos
açorianos, mas, que em muitas das ocasiões, havia sempre motivo para cantar,
principalmente em forma de versos, como era de costume naquela época.
Assim era antigamente a comercialização de peixes, exposta em bancadas. Como
ilustra a figura 6 abaixo entre 1898 e 1935.
Figura 9:
Os pescadores saíam para as suas atividades de pesca, na escuridão da
madrugada e voltavam à noite, e a ilha, neste período, era imensa por ter tão pouca
gente, a sensação era de vazio no sentido de não haver muitas casas, porque as
freguesias eram longes umas das outras, e a falta de estradas colaborava para o
isolamento das mesmas freguesias, apenas tinham contato com quem era da própria
comunidade e as outras, como eram distantes, dificultava que se encontrassem.
Vale ressaltar que os açorianos e madeirenses praticavam a pecuária também. Os
ilhéus exerciam atividades juntamente aos parentes, vizinhos e amigos, como a
pesqueira, a construção de suas casas, dos engenhos, e das igrejas, entre outros, e neste
momento de alegria também cantavam juntos.
Os luso-brasileiros eram muito religiosos, a vida social era baseada nas crenças e
nas manifestações religiosas, se reuniam em missas, batizados, casamentos, festividades
e óbitos e nestes eventos aproveitavam para fazer negócios, namorar e conversar.
Buscavam a proteção divina, tinham muita fé, eram trabalhadores de
caráter humildes. Os descendentes de açorianos e as gerações desses mesmos herdaram
24
essas características deles. Como pode-se ver no sotaque aportuguesado, nas
vestimentas simples e tradições como a pesqueira e outros.
Além da atividade da pesca, agricultura, pecuária e outras mais, os açorianos
trouxeram de Portugal a experiência em artesanatos e a tecelagem. Segundo Cardoso
(2001) “Os colonos confeccionavam suas próprias roupas, moveis, louças utilitárias e
decorativas e demais utensílios caseiros”
As mulheres produziam os fios, que em seguida eram transformados em tecido
para a fabricação de roupas com a utilização do algodão e do linho. As luso-brasileiras
bordavam e faziam renda de bilro, teciam rendas para sua vestimenta e assim, os
homens, pescadores artesanais, teciam suas redes de pesca, era um trabalho feito com as
mãos determinadas desses colonos esforçados.
Segundo Zaluar (1978) “A renda de bilro11
é uma das mais antigas artes açoriana
que se manifestou e tradicionalmente, ainda permanece desde séculos atrás. É feita por
mulheres humildes que verdadeiramente mostram sua criatividade e adoração; as mães
passavam para suas filhas de acordo com a tradição. Esse trabalho artesanal foi trazido
por mulheres portuguesas na época em que vieram emigrar para o litoral catarinense,
implantando aqui essa cultura”.
As açorianas são rendeiras por amor, por opção e tradição, fazendo os desenho
feitos a mão se transformarem em algo concreto, com movimentos ágeis e precisos.
Fixam os materiais necessários para começar a produzir a sua arte. A renda de bilro é
criada pela manipulação de numerosos fios, cada um deles preso a um bilro, sendo em
geral trabalhada sobre uma almofada.
Antes do século XIX ela costumava ser produzida em fios de linho, mas o
algodão tornou-se mais comum. Nunca desapareceu por completo da moda, pois os
vestidos de noivas e debutantes eram feitos com renda. A renda em si é feita por
milhares de rendeiras, sendo também produzida comercialmente. É usada para enfeitar e
dar acabamento a roupas, como blusas, vestidos, quimonos (roupões japoneses de
mangas largas), camisolas, roupinhas de bebê, toalha de mesa, lençóis, etc. Enfim, a
renda feita a mão é mais bem feita do que a de fábrica.
No processo da elaboração da renda é; Primeiramente por uma almofada, depois
o cartão ou uma espécie de papelão do tamanho da almofada, depois é feito um desenho
da renda que irá ser produzida no cartão, depois deste se formam rendas com agulhas ou
alfinetes em torno do desenho.
A renda era uma atividade que as mulheres antigas faziam com sua bondade, e
entusiasmo devido á uma tradição que se seguia, e também, era uma atividade lucrativa,
faziam rendas para vender e depois compravam sua vestimenta e outras coisas. O tempo
foi passando e a mulher tradicional começou a ganhar mais espaço no mercado de
trabalho, tendo oportunidades de se estabelecer profissionalmente, e também, o sistema
econômico atual não nos á opção de não trabalhar fora e isso fez com que a mulher
rendeira da ilha deixasse de fazer renda e suas atividades tradicionais e aos poucos
esquecendo-se da sua origem e se colocou a mercê do mercado, vendendo seu esforço
por troca de dinheiro para ajudar nas despesas da casa e na educação de seus filhos.
11
Espécie de fuso (forma torneada, redonda) de madeira de aproximadamente 7cm,
onde se colocam as linhas que seguem o papelão ou modelo de desenhos da renda, colocados
sobre a almofada.
25
É difícil ver hoje, uma mulher já idosa, que fez muitas rendas quando era moça,
tecer a renda de bilro por livre e espontânea vontade, porque desde sua adolescência
foram destinadas a trabalhar fora, e quase não tiveram tempo para alguma atividade de
lazer ou coisa assim.
Segundo Dona Lucila :
Comecei a fazê renda com 12 anos (...) pra mim comprá ropa pra mim
porque a mãe não podia dá, (...) e vendia aquela renda, a até depois de
moça continuei a fazê renda, eu ficava noite e dia, fazendo renda com a
luz de lamparina acesa, (...)até amanhecer o dia, pa pudê vendê aquela
renda e comprá vestidinho pra ir a festa, pra i no baile né? porque se
não, não tinha ropa pra vestir.
Assim era a forma que Dona Lucila fazia a renda, cujos recursos de antigamente
que não tinham, hoje mostra a diferença. E uma mostra desta atividade se destaca com a
mesma na figura abaixo.
Figura 10:
Dona Lucila também improvisava versos enquanto tecia as rendas:
“Faço renda e sou rendeira
Faço renda de biquinho
Pra butá na camisa
Do meu amor, meu Chiquinho”
Os trabalhos artesanais foram bem vistos aos olhos de turistas que vinham
aproveitar a ilha já “atualizada”, “moderna”, garantindo assim, o que é uma tradição, ir
se tornando mais uma fonte de renda para os descendentes, fazendo com que os ilhéus
comercializasse seus produtos no Mercado Público, no centro da cidade de
Florianópolis.
26
A figura 8 abaixo exibe o mercado público em sua estrutura interior, sem
nenhum recurso material para armazenar os produtos, e assim ficavam ao ar livre dentro
do mercado na próxima página.
Figura 11:
1.2 Resistência entre os nativos e “os de fora” na compreensão
e compartilhamento com outras culturas.
Quando se segue uma tradição, é difícil aceitar pessoas “estranhas” querendo
interferir na cultura que se segue á muito tempo, esse fato ocasiona uma transformação
em relação á cultura de outrem como se fosse normal ao entender delas, em
determinados aspectos culturais, de forma que isso reajuste algo que possa melhorar, é
válido! Porém, não atingindo em nada os valores que simbolizem a tradição cultivada,
quando se trata de desvalorizar já é outra visão a ser analisada.
Foi assim que Florianópolis se desenvolveu, interagindo com diversas pessoas de
costumes diferentes, as culturas se misturaram e devido ao modo de vida de cada um,
conhecendo regras e tentando compreender o que de fato “aquele” que parece
“estranho” é de verdade e o que se pode aprender com ele e que não interfira na própria
cultura tradicional.
Assim, desde o Séc. XX, quando Florianópolis passou a ganhar empreendedores
do setor imobiliário, começa uma série de construções, eram pessoas vendendo suas
terras por um preço de baixo valor. Ainda assim, mesmo com todo esse processo,
Florianópolis ainda não tinha recursos o suficiente para receber turistas em relação aos
transportes, mas, devido à evolução na construção de prédios, novos migrantes vieram
residir aqui.
Os Florianopolitanos tiveram que lidar com transformações as quais não tinham
conhecimento, e não acreditavam ter de passar por essa situação, foi difícil aceitar as
modificações da cidade com breves pensamentos da desvalorização dos edifícios
culturais centenários, a cidade estava crescendo aos poucos, de certa forma, alguns
nativos “assustados” com as mudanças não foram muito hospitaleiros com a chegada de
muitos moradores que vieram se estabelecer na cidade. Mas, de geração a geração
27
foram se adaptando as inovações do seu tempo e aprendendo a serem mais hospitaleiros
convivendo assim com outras culturas presentes, de fato, aceitando-as.
Segundo a autora Martinello (1992) falando do açoriano “ele cultiva sentimentos
que fazem com que ele resista ás inovações implantadas pela modernidade, aceitar o
novo exige mudança.
Segundo a fala da autora, a fase de modificação mexeu com conhecimento
desses nativos, pois eram acostumados ao silêncio, passavam pelas ruas e só viam gente
conhecida e da mesma classe, mas teve uma demonstração a resistência quanto à
aceitação dessas mudanças, essa modernidade chegava aos poucos ganhando espaço na
cidade, e com o tempo tiveram que disputar muitas das coisas como o trabalho, as terras
e até mesmo aumento no custo de vida.
Até os dias de hoje, os nativos disputam uma vaga de emprego com os que vêm
de fora, como por exemplo: Quando são abertas seleções para tal emprego, lá se
encontra dezenas de pessoas, o difícil é achar nativos entre eles, a concorrência é muito
grande e muitas vezes 80% são pessoas de fora que aparecem para concorrer á àquela
vaga, aqui em Floripa é constante isso, e por experiência própria, já participei de muitas
seleções, para cursos, oferta de emprego e sempre me deparava com pessoas que não
são daqui, e assim continua as disputas por uma oportunidade.
O jovem Florianópolitano tem uma visão muito diferente das que os mais velhos
tem, em relação á sociedade com quem compartilham o seu dia a dia, alguns reclamam
que por falta de qualificação não conseguem emprego, as exigências profissionais são
grandes e para o jovem ilhéu que sempre acompanhou o ritmo de seus pais, confiando
nos mesmos sobre os costumes na convivência, mesmo depois da cidade crescer e
ganhar culturas diferentes, continuaram com suas vidinhas simples e humildes,porém,
com uma diferença, grande parte deles mesmo vivendo de acordo com os costumes
herdado de seus avós para seus pais, não são diferentes no seu jeito humilde e simples,
mas querem uma oportunidade de ingressar no mercado de trabalho e conseguir um
espaço profissional nesta sociedade capitalista e exigente. Esta sociedade em que
vivemos trás muitas atrocidades e que de tal forma é muito visível em jornais, revistas,
internet, qualquer outro meio de comunicação.
Segundo Priscila, uma jovem nativa comenta:
Emprego... Eles não dão oportunidade para as pessoas que não tem
experiência, tipo assim, para consegui uma experiência numa firma tem
que experiência daqui e dali, se eles não dão oportunidade a gente não
vai ter o emprego que a gente quer pra trabalhar.
Ela fala que as oportunidades são poucas por causa da falta de qualificação, e até
mesmo de experiência na área, não é somente uma experiência técnica que conta muito,
a prática que é mais exigida, e para alguns recém-formados essa realidade é difícil, o
sonho realizado, mas, não praticado! E isso também faz que com que profissionais de
uma área procurem outras mais fáceis de os fazer ingressarem no mercado de trabalho.
28
Segundo Melo (2009):
(...) Nós agimos com certa intencionalidade. Ao mesmo tempo, todas as
nossas vivências anteriores interferem nas nossas ações. Nós, como seres
que vão se constituindo historicamente, partimos sempre do já vivido,
por nós ou pelas gerações anteriores. Ou seja, somos frutos da história
da humanidade e da nossa própria história (...)
Segundo as expressões do autor, de certa forma, conhecimento gera mais
conhecimento, devido ao nosso processo histórico de vida, a história que se tem é a
experiência que se adquiriu para ser anexada ao presente para eventuais acontecimentos
que precisem do conhecimento dessa história. O conhecimento que se tem diante da
trajetória de vida seja ela qual for, são resquícios das “vivências anteriores” que
interferem nas nossas ações “somos guiados por uma certa intenção” de querer realizar
algo colocando essa experiência em prática.
Segundo o autor Melo (2009):
(...) Quando temos que realizar um trabalho nós o fazemos levando em
conta esses conhecimentos adquiridos anteriormente. Assim, quando
atuamos sobre o mundo para satisfazer nossas necessidades somos
guiados por uma certa intenção pelos nossos conhecimentos e pelas
respostas que damos às resistências encontradas nessa tentativa de
apropriação da natureza.
De acordo com Melo, todas as nossas ações, são conforme os conhecimentos que
adquirimos no decorrer das nossas vidas, isto é, tradições que envolvem valores,
princípios, e os aprendizados fora deste da tradição familiar , agimos com propósitos, de
acordo com nossos conhecimento.
Florianópolis tem diversas pessoas culturalmente diferentes e cada uma atua de
acordo com suas vivências anteriores e também com as que aprenderam devido à
convivência com pessoas de outros costumes no decorrer de suas vidas.
Com idas e vindas de pessoas desconhecidas passando pelas ruas, rostos
diferentes, vestimenta, costumes, começa á chamar a atenção do nativo que não era
acostumado a lidar com pessoas que não fosse da mesma cultura. Certas vezes eram
vistos como “carrancudos” por não saberem ser receptivos, e não abrirem mão de sua
tradição cultural devido ao choque cultural, os nativos achavam que estes estranhos
vieram com o propósito de invadir seu território mudando os aspectos da cultura local
de forma, não simpatizavam com esses, pois bagunçavam suas cabeças com tanta
modernidade no qual não estavam acostumados. Existia um modo de vida comum entre
eles e que a cada dia se renovava nas ruas da cidade.
Para muitos nativos, antigamente, os “de fora” eram apenas amigos de “Bom
dia” e ”Boa noite” e de vez em quando alguns assuntos em comum, mas meio cortados.
Porém, embora dividissem espaços tão próximos, criando um ambiente para quem sabe
gerar oportunidade para alguma conversa não havia muita sociabilidade e segundo
Fantin (2000) sequer nem se conheciam e, antigamente eles se encontravam por causa
dos filhos que brincavam na rua juntos, como brincadeiras de ruas, jogando futebol,
andando de bicicleta, etc. E isso fazia de algum modo que ambos se encontrassem,
29
fazendo com que eles se submetessem a tentar terem algum tipo de relação por causa
dos filhos e também das diferenças.
Com o passar do tempo os de fora começaram a conviver com os nativos,
conhecendo a cultura local, tradições e costumes, fazendo então com que o eu original
deles se transformasse de alguma forma por causa da convivência, devido aos nativos
que para os que chegaram eram “estranhos” com sotaques diferentes, falar rápido e
cantante, com vestimentas tão simples e jeito despreocupado. Muitos tiveram que se
adaptar à cultura açoriana, mas outros vieram com suas culturas e agregaram junto aos
nativos fazendo mudanças com a aceitação de alguns mais compreensivos.
Com o crescimento populacional de Floripa, o cenário da cidade foi se
modificando devido ao novo ritmo na urbanização, nos bairros, nas ruas, nos morros.
Logo começaram a vir pessoas de todos os lugares, e assim a cidade começou a ter
outros donos, outros que encontraram na cidade o lugar ideal pra buscar qualidade de
vida, alguns pra realizar seu sonho buscando um pedaço de chão pra sobreviver e
outrem pelo encantamento da cidade.
Esta cidade, com sua popularidade à mercê das oportunidades foi atraindo
profissionais especialmente depois da fundação da UFSC (Universidade Federal de
Santa Catarina). Pessoas de todos os lugares, tais como funcionários públicos e muitos
estudantes para ingressar na faculdade, e outros já formados buscando aqui a sua
estabilidade profissional, logo depois, segundo Fantin (2000) com a instalação da
Eletrosul, Celesc e Telesc, as vagas de emprego ganharam mais força, dando
oportunidade para todas as pessoas residentes desta cidade, inclusive para os nativos.
Novas oportunidades estavam se desenvolvendo e socialmente se agregando ao novo
ritmo de Floripa, Chamando a atenção de engenheiros e arquitetos por causa do
crescimento imobiliário. Nativos venderam suas terras para empreendedores do setor
imobiliário
Segundo Fantin (2000) Os novos moradores da cidade fizeram suas casas,
muitos se alojaram próximos do local de trabalho, a mudança de valores era visível à
atitude dos ‘de fora sendo estranha para os nativos, sentiam que tinham que conviver
socialmente com os costumes que eles não tinham conhecimento, porém eram
reservados demais e desconfiados para algum tipo de conversa. Tinha que estabelecer
um convívio com estudantes, turistas, e pessoas que residiam ali que ganhavam bastante
dinheiro como paulistas, gaúchos, cariocas, paranaenses o que provocava o aumento do
custo de vida da cidade. Mas, embora os nativos não gostassem deles, essa “gente de
fora” possibilitou uma rede de serviços para os mesmos.
As pessoas olham pra cá com a idéia de viver bem, de que aqui é o lugar para se
estar, motivado de um lado, pela oferta de emprego, e por outro pelo charme que a
cidade oferece com sua beleza exuberante. Profissionais de outros lugares vieram
estacionar aqui, marcando presença e deixando sua bagagem pra construir sua moradia
no decorrer de sua permanência na cidade e lançando-se no mercado de trabalho ou
fazendo empreendimentos e gerando mais oferta de emprego, assim atraindo mais
pessoas de fora pra morar aqui e sucessivamente. Segue abaixo o percentual de
habitantes, desde a década de 50 antes da fundação da UFSC até hoje.
30
Este gráfico apresenta o número de habitantes que colaboraram para o
crescimento de Florianópolis. Desde a década 50 com 67.630 habitantes na grande
Florianópolis e depois da fundação da UFSC a partir da década de 60, o número de
novos moradores foi aumentando cada vez mais e sempre pelos mesmos motivos,
melhoria de vida.
Segundo o dicionário online Wikipédia,
A cidade soma cerca de 10 mil novos moradores por ano, além de dobrar
sua população durante a temporada de verão. Tal incontestável
crescimento desordenado gera, algumas vezes, transtornos a uma parte
da população, que manifesta sua insatisfação através de comportamento
segregador, por vezes de forma violenta.
Percebe-se que a partir da década de 80 se obteve mais que 60 mil habitantes
equivalentes a 187.871 como mostra o gráfico. A tendência é só aumentar cada vez
mais, pelo fato da cidade ser prioridade para fazer turismo. E hoje, a cidade, se
baseia na mistura de culturas. Quando os turistas visitam a cidade, aproveitam e muito,
porque muitos conhecem muito mais lugares do que alguns nativos, pelo fato de
gostarem de ficar com suas famílias e não terem o hábito de ir à praia com a intenção de
aproveitar, de fato porque sempre viveram na praia.
Porém, segundo Fantin (2000) nas ruas da cidade já não se encontra aquela
mesma familiaridade de olhares amigos, daquelas pessoas que costumavam se ver com
freqüência sem ter a presença de pessoas estranhas. Hoje já se encontra muitos nativos
antigos entre os “de fora” e isso é muito normal. Já não se consegue enxergar quem é
quem. Antigamente o lugar era grande, os nativos não tinham estudo, mas tinham
trabalho e dava pra se viver.
Hoje há novas técnicas de regulamentação de trabalho e quem estuda na nova
geração e se for procurar emprego enfrenta dificuldades, segundo (Bárbara, 2008)
comenta:
31
O desemprego cresce em todas as faixas de escolaridade. Entretanto, o
discurso dominante prega que a causa é a falta de qualificação (Formal
ou Informal) do trabalhador, vinculando assim a falta de trabalho à
escolaridade deficiente.
O desemprego é constantemente encontrado, as pessoas não se qualificam para a
determinada função que quer exercer, hoje até mesmo um papel comprovando a
qualificação que se tem ainda não é suficiente para que portas abram para o mercado de
trabalho, pois, a qualificação padronizada que o empregador exige para admitir um
funcionário.
A autora fala a pura realidade de hoje, mesmo que uma pessoa tenha o 2° grau
completo, um curso superior ou técnico, o mercado muitas vezes exige a experiência na
prática e não técnica, como por exemplo: Nos classificados de jornais, na página de
empregos e oportunidades, é destacado no anúncio as exigências e depois os benefícios,
assim, quando se lê primeiramente as exigências não é preciso terminar de ler se as
mesmas não foram do perfil da pessoa. É uma forma de “enxugar” a concorrência.
Antigamente as pessoas comiam do que plantavam e era uma forma de
subsistência, devido ao conhecimento ancestral passado á gerações, um exemplo disso,
segundo Neves (2008) com a fala de seu Maneca no seu texto:
Seu Maneca, encafifado, pergunta:
- Oh José, me ajuda a entender. A gente tinha todas essas terras
desde meus bisavós. Usávamos pra plantar de tudo(...)mandioca no
areião(...)café nas encostas do morro. A gente produzia quase tudo o que
precisava pra viver desde a fiação e confecção dos tecidos de roupas até
as ferramentas de trabalho na lavoura. A gente tecia as redes e pescava
de tudo (...). Consumia o necessário. Escalava para consumo e vendia o
que sobrava. A gente construía os engenhos para produzir farinha.(...) A
terra só tinha valor para as plantações que a gente precisava(...)
Já não se planta mandioca como antes e por causa disso os engenhos foram
fechando, terras foram vendidas a preço baixo, para o povo de fora ou para as
empreiteiras, virando terreno para construção de prédios e mais prédios.
Na época de temporada, por exemplo:
Turistas, visitantes, excursionistas, enchem a cidade, principalmente as praias,
para alguns nativos é difícil ainda a convivência com alguns turistas por se sentirem
“desrespeitados” ou “atropelados”. Segundo Alves ( 2003), “a única coisa que perturba
a harmonia do ambiente são os turistas” e segundo essa afirmação ele diz:
(...) Alguns . Eles não viajam a fim de ver o mar, ouvir o vento, sentir a
areia. Eles só querem mudar o cenário para fazer as coisas que fazem
sempre.
32
1.2.1 Definindo o multiculturalismo - Choque cultural
Constata-se aqui na ilha o multiculturalismo12
, de fato se convive com a
existência de muitas culturas na mesma localidade, ou seja, “Floripa” passou a ser um
“mosaico cultural”, pois ao passar por ela, turistas, visitantes, excursionistas, e nós
moradores da capital de santa Catarina, temos oportunidades de nos envolver e conhecer
diversas culturas e um bom exemplo está nos serviços gastronômicos não se esquecendo
dos bons frutos do mar de origem açoriana.
Aqui se mostra a diversidade de ideias, como a linguagem, danças, vestuário e
tradições e se englobam junto às outras culturas. Diferentes angulos de visão, referentes
a crenças, comportamentos, valores, instituições, regras morais que permeiam e
"preenchem" a sociedade.
Segundo historiadores:
Multiculturalismo (...) é a mistura de culturas. Trata-se da miscigenação
dos credos e culturas que ocorrem (...) desde os tempos da colonização. E
uma das principais características da cultura brasileira é esta
diversidade. O processo imigratório teve grande importância para a
formação desta cultura. O Brasil incorpora em seu território
culturas de todas as partes do mundo. (...) este processo de
imigração começou em 1530 quando os portugueses deram início à
colonização do Brasil. Os primeiros imigrantes não-portugueses que
vieram para o Brasil foram os africanos, que eram utilizados como
escravos nas lavouras de café. (...) para cá vieram imigrantes de fora
de Portugal à procura de oportunidades. Vieram suíços, alemães,
eslavos, turcos, árabes, italianos, japoneses, entre outros.
O choque cultural é constante e antigamente não era fácil lidar com essa
modernidade, mas hoje já é normal as pessoas se encontrarem nas ruas, e não se
estranharem mais, a modernidade aderiu uma aceitação devido a este tempo e também
porque é visível e não se pode fingir que não vê.
Segundo Carvalho (2008) em relação á mistura de cultura.
(...) um enorme contingente populacional desloca-se entre as regiões do
planeta, abandonando a sua terra natal. Ao estabelece-se em novos
territórios em meio a culturas diferentes esses imigrantes se defrontam
com hábitos e costumes desconhecidos e estranhos. Dessa forma a
preservação constituía-se numa estratégia de não diluir suas raízes (...)
12
Segundo o site de enciclopédia livre, Wikipédia: “E uma das principais características da
cultura brasileira é esta diversidade. O processo imigratório teve grande importância para a
formação desta cultura. O Brasil incorpora em seu território culturas de todas as partes do mundo.
Podemos dizer ue este processo de imigração começou em 1530 quando os portugueses deram início
à colonização do Brasil. Os primeiros imigrantes não-portugueses que vieram para o Brasil foram os
africanos, que eram utilizados como escravos nas lavouras de café.”
33
A autora destaca o enfraquecimento das raízes do lugar em que é povoado por
pessoas de outras culturas, e que ao se deparar com os costumes locais, estranham e isso
se chama choque cultural, algo freqüente depois que começou as imigrações e
migrações direcionadas á ilha de Santa Catarina, várias culturas se misturando, pessoas
de hábitos diferentes causando pontos de interrogação na cabeça de outrem.
O motivo dessa mudança de um lugar para outro, eram muitas vezes por
questões financeiras, oportunidade de crescimento, ás vezes era difícil a adaptação,
dependendo da época. Nos dias de hoje devido á tecnologia, por exemplo: a internet,
por esse meio de comunicação se pode viajar e conhecer qualquer lugar sem sair do
espaço que se encontra, ou seja, virtualmente.
A televisão é outro exemplo, segundo Larentes (2007) fala o seguinte:
Desde que surgiu pela primeira vez no Brasil, em 1951, a televisão tem
sido objeto de polemicas. Para alguns foi um avanço, pois permitiu a
visualização dos programas que antes só se podia ouvir através do rádio.
Porém, possibilitou a integração nacional e o acesso a novas informações.
Dessa forma, as pessoas tinham acesso a televisão que trazia conhecimentos de
culturas diferentes devido as propagandas, e por causa desse meio de comunicação, as
pessoas passaram a ficar mais em casa. Como conta Dona Lucila, um episódio que ela
presenciou:
Uma vez eu tinha uma televisão no Campeche, a minha vizinha olhou
pra televisão, e da-lhe a tocar música né? Ela assim ó: “vou lá dentro” .
Fazê o que? “ Vou lá dentro fazer um cafézinho, porque os homi ali
coitado, eles ficam cansado” Os homi na televisão e ela queria fazê café
pra dá pra eles. “Fazê um cafézinnho ‘pra queles’ coitado tomá, porquê
eles tão com fome”.
É isso que acontece, no momento que uma pessoa se coloca na frente de algo que
não sabe o seu verdadeiro uso, se defronta com a dificuldade. E nesta época a TV
transmitia os canais em preto e branco. E por causa desta tecnologia, as comunidades
passaram a ficar mais em casa, assistindo as novelas, programas, se entretendo com o
novo a atração e sedução.
Os moradores da cidade de Florianópolis têm uma maneira simples de se vestir;
morando na praia o pessoal vive andando de sandália de dedo e bermuda, não ligam
para o que os outros pensam principalmente se for alguém que não é da localidade. Ás
vezes aquele que acredita em si mesmo é muito melhor do que aquele que acredita só na
sua aparência. Os nativos são pessoas assim, reservadas, mas humildes e simples, apesar
de serem conhecidos como pessoais difíceis.
Hoje, conta com 88 bairros espalhados pelo norte, sul e parte continental, com
moradores de todos os lugares, etnias, raças, classe social, etc. Segundo Wikipédia:
Florianópolis tem sua economia alicerçada basicamente nas atividades
do comércio, prestação de serviços públicos, indústria de transformação
e turismo. Ultimamente, a indústria do vestuário e a informática vêm-se
tornando também setores de excepcional desenvolvimento. A construção
civil também é outra importante atividade econômica da cidade
34
E assim, a cidade é dotada por uma diversidade de culturas, cheia de histórias
baseadas na sua arquitetura, cultura pelas ruas, onde se encontram, museus, pontos
históricos que se vê principalmente no centro de Florianópolis, pontos turísticos,
fortalezas, boas universidades, públicas e particulares, Shoppings, casas noturnas para
se curtir uma balada, a qual agrada qualquer turista na temporada, e não menos
importantes às praias que lotam no verão.
Porém, certas desordens são frutos da lotação de pessoas vindas de outras
cidades e também das construções em lugares indevidos, no sentido de que,
empreendedores do setor imobiliário, não verificaram se era uma zona a ser explorada
de acordo com normais ambientais, respeitando a infra-estrutura básica. A cidade
passou a estar mais poluída, devido ao “monte de pessoas” que sujam os lugares e não
se preocupam em preservar a natureza, cuja beleza às vezes passa a sensação de ser
artificial aos olhos de outrem, e essa situação é encontrada diariamente, não só em
questão de sujeiras visíveis, mas invisíveis também, a ponto de ser sentida pelos ares
desta cidade.
Diversos transtornos acabam ocorrendo, a cidade tem que estar pronta para
atender tanta gente, um exemplo disso é quando as pessoas sem recursos para pagar um
médico ficam doentes e correm para as filas dos postos de saúde para ser atendidas
horas depois; esperam tanto para se consultar e às vezes nem chegam a ser atendidas.
Apesar de Florianópolis ser uma ilha muito bela, cujos turistas procuram
suas praias todos os verões, não é só flores. É uma cidade qualquer, que também sofre
com seus períodos de transformação.
35
CAPÍTULO 2
TRADIÇÕES FESTIVAS -
DANÇAS, CANTIGAS E FOLGUEDOS
36
A herança das festividades culturais que foram exercidas pelos açorianos, índios
e negros é muito presente na ilha, porém com algumas modificações, sendo estas
festividades a tradição que mais se segue, um bom exemplo é o Boi-de-mamão, a Festa
do Divino, Folia de Reis e outros. Com a ajuda do governo da cidade, essa tradição
continuou nas novas gerações, tendo espaços para serem divulgadas, e um destes é na
UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e com a ajuda de historiadores da ilha,
que ajudam a manter essa tradição, passando para as pessoas a história.
Estas festividades, que envolvem as danças, cantigas e brincadeiras, foram
agregadas aos florianopolitanos, preservada devido à origem de seus ancestrais. As
pessoas se reuniam para celebrar na intenção de festejar cantando alegremente. Estes
costumes ressaltam na vivência não só entre os descendentes, a cultura. Essa cultura
chama a atenção de quem vem visitar e quem vem fazer turismo sendo que alguns
mostram encantamento por essas manifestações culturais dos ilhéus. Eis aqui,
demonstrado no enredo do samba de 2009 do bloco “baiacu de alguém” de Santo
Antônio de Lisboa, que na sua letra resgata as tradições com muito carinho.
Vai buscar o tipiti que hoje tem farinhada
Festa da cruz lá no sambaqui
Em Santo Antônio começou a batucada
É o baiacu que vem por aí
Pescadores! Pescadores de cultura já é hora de
lançar
Nossa rede pelo mar da cultura popular
Pão-Por-Deus, Terno de Reis o Divino e a
Chamarrita
Te alevanta boi dourado
Vem dançar o Pau-de-Fita
Não podemos esquecer as nossas tradições
O presente sem passado é um mundo de ilusões
Vamos todos aprender com os seres fantásticos
e reias
A lição do mestre Franklin Joaquim Cascaes
No balanço da bruxa quero balançar
Vigiar pelos ares com o boitatá
Recolher estrelas pra uma rede tecer
E a bela ilha proteger
Pescadores de cultura – Autoria de Denise de Castro
Neste enredo, a manifestação da cultura popular se destaca na busca das
tradições antigas e as recentes ainda vividas, para que o esquecimento da mesma não
seja grande e que a história seja lembrada por todos que residem aqui na ilha, pois não
se pode esquecer um passado que resultou numa transformação cultural tão imensa.
A seguir, o contexto apresentará a descrição e algumas considerações sobre cada
uma destas danças.
37
2.12.12.12.1 Folia de Reis
É uma festa de origem portuguesa para comemorar o nascimento de Jesus, ligada
às comemorações do culto católico do Natal durante 12 dias até seis de janeiro, dia dos
reis magos sendo eles denominados Melchior, Baltazar e Gaspar, os quais passaram a
ser referenciados como santos. Seu enredo lembra a viagem que os três reis magos
fizeram a Belém para encontrar o Menino Jesus. Anunciava-se o acontecimento com
foliões caminhando pelas ruas com seus instrumentos, fantasiados de reis cujas roupas
na maioria são de cetim de cores vivas, ao som do violão, pandeiro, cavaquinho e
tambores com o propósito de recitar versos como estes abaixo, segundo os foliões:
“- A esmola que vóis dá / Nois viemo arrecebê / O glorioso
santo Reis / É quem vai agradecê.
- Santo Reis pede esmola / Não é ouro nem dinhêro / Ele
pede um agitoru (adjutório) / Um alimento pros festero.
- Ó de casa, ó de casa / Alegra esse moradô / Que o glorioso
santo Reis / Na sua porta chegô.
- Aqui está o santo Reis / Meia-noite foras dora / Procurou
vossa morada / Pedino a sua ismola.
- Sôr dono da casa / Vem abri as portaria / Recebê santo
Reis / Com sua nobre folia.
- Sôr dono da casa / Alegra o seu coração / Arreceba santo
Reis / Com todos os seus folião.
- Concluímo este canto / Fazeno o siná da cruz / Pade, Fio,
Esprito Santo / Para sempre, amém Jesus.
- Santos Reis vai despedindo / Deixando muita saudade. /
Vai deixando muita benção / Pro povo desta cidade. “
A manifestação cultural Folia de Reis, era dotada por bandeiras coloridas
carregadas pelos foliões e diziam que era abençoada e que protegia contra as más
influências, enfeitada com fitas e santinhos. O grupo muitas vezes se compõe também
de dançarinos, palhaços e outras figuras folclóricas devidamente caracterizadas segundo
as lendas e tradições locais. Dize-se que os foliões pediam esmolas, com a arrecadação
sendo gasta depois em comes e bebes para todos, uma festa popular que ainda sobrevive
em cidadezinhas brasileiras.
Mas, com o tempo as cantigas de origem natalina se modificaram trazendo em
suas letras o tema de “visita em residências” com o mesmo objetivo, o de recitar versos.
E como as pessoas não esquecem coisas... Lembro quando era criança, em uma
tarde pré-natalina quando minha mãe e eu estávamos em casa, no bairro João Paulo,
ouvimos o barulho de tambores e cantorias, acompanhando o ritmo dos instrumentos
tocados no decorrer da caminhada que faziam, pois o barulho se aproximava cada vez
mais e então, vinham subindo a minha rua e cada vez mais próximo e eu nem tinha idéia
do que era quando minha mãe me explicou: era o pessoal da igreja, vestiam fantasias e
38
vinham pedir dinheiro nas casas cujas portas das salas teriam que estar abertas com a
intenção de já receber os mesmos.
Então, eles entravam pela porta da sala, diziam algumas palavras pegavam sua
recompensa e agradeciam e logo continuavam em busca de mais casas com portas das
salas abertas, para assim, continuarem a sua tradição cultural.
Hoje em dia tudo já mudou, e verifiquei isso pessoalmente: certo dia eu
caminhando no centro da cidade com minha mãe, e avistei um caminhão enorme com
uma de suas laterais abertas virada para o público que vinha de trás do camelô, ao lado
do mercado público, certamente era um palco com uns homens vestidos de brando com
chapéu de palha e uns instrumentos, cantando uma daquelas músicas antigas sertanejas
em versos e que tinha a atenção de muitas pessoas que no qual a faixa etária era mais de
idosos e logo em baixo do caminhão, estava escrito: - Folia de reis até seis de janeiro.
Dize-se que, uma das formas de sobrevivência da manifestação folclórica,
especialmente nas grandes cidades, foi à incorporação nos Ternos de elementos
figurativos, com a finalidade de promover apresentações para turistas, sendo chamado
de Terno de Reis cujo significado é o mesmo, o de Folia de Reis. Eis abaixo duas
figuras 9 e 10, demostrando a folias de reis.
Figura 12:
Figura 13:
39
2.2 Pau de fita
É afirmado por historiadores que, esse tipo de dança já era existente antes que
descobrissem a América. Em algumas tribos indígenas o pau de fita significava a dança
da fertilidade, a qual era executada em torno de um toten, ou seja, em torno de algo que
era um símbolo que os indígenas tinham a mesma adoração que tem por Deus. E que em
torno desse objeto às mulheres estéreis realizavam um culto com intenção de invocar a
atenção dos DEUSES para que pudessem pôr fim à esterilidades das mesmas.
A dança organiza um grupo de “damas” e “cavalheiros” contando com 10 á 12
integrantes. A dança pode ser ao ar livre ou em um salão, ficando um mastro (pau) no
centro, com fitas coloridas, amarradas em seu topo. Cada par pega a fita da mesma cor e
assim começa a dança, cantando ao redor do pau de fita no qual as mulheres giram para
um lado e os homens para outro formando uma trança complicada e, assim que a trança
é feita, os participantes giram para o lado ao contrário do que dançavam para que a
trança seja desfeita sem errar com a continuação do canto. Outros que participam por
fora, acompanhando com instrumentos musicais que tocam pra dar ritmo à cantoria.
Segundo Volpatto (2009).
Nos países de origem portuguesa, ela geralmente está associada à Dança
dos arcos e flores e à Jardineira. A apresentação desta dança é uma das
mais bonitas do folclore catarinense. Para o seu desenvolvimento é
necessário um mastro com cerca de três metros de comprimento,
encimado por um conjunto de largas fitas muilticoloridas. Os
dançadores, sempre em número par, seguram na extremidade de cada
fita e, ao som de músicas características, giram em torno do mastro,
revezando os pares de modo a compor trançados no próprio mastro, com
variados e coloridos desenhos.
Segundo historiadores, o pau de fita é de múltipla origem portuguesa, alemã e
hispânica. Em Florianópolis é originário dos Açores, é também chamada Jardineira ou
Dança dos Arcos e Flores, Dança-do-mastro, Dança-das-fitas e Dança-das-tranças.
Costuma-se praticá-la como recreação infantil nas escolas, enquanto se dá a cantoria em
verso com a execução da apresentação. Sendo o trançamento o centro das
apresentações, na Ilha desenvolveram-se várias formas, possuindo denominações
tradicionais, como o Tramadinho, a Rede-de-pescador, o Trenzinho e a Trança-
feiticeira. E assim, foi-se transformando, Porém não foi esquecida e ainda continua
sendo exercida. A figura 14 demonstra um pouco desta dança no Mercado Público.
Figura 14:
40
2.3 Ratoeira
A Ratoeira é a ciranda brasileira, legitimamente enraizada na cultura açoriana,
uma espécie de jogo que era praticado na época da “farinhada” segundo historiadores e,
que desapareceu, quando os engenhos de farinha pararam de funcionar.
A cantiga é semelhante à “Ciranda Cirandinha”. A Ratoeira tinha o propósito de
fazer todas as pessoas expressarem o que sentiam (amor, carinho, satisfação, amizade,
tristeza, raiva, etc.). Antigamente, os homens também participavam, não era só de
mulheres como se apresenta hoje, mas com o tempo deu-se a extinção dos mesmos na
participação dessa brincadeira. Era geralmente brincada nos feriados, aos domingos à
tarde, nas festas, nas reuniões de famílias e também em bailes onde os rapazes pediam
permissão aos pais das moças que gostariam de flertar e assim levá-las ao baile e dançar
a ratoeira.
A brincadeira começava quando os casais se encontravam e formavam uma
roda, e cada par era chamada para ir ao centro e recitar versos de acordo com o
sentimento daquele momento. A brincadeira era tão prazerosa de fazer que, naquela
época, por vezes a roda ficava tão grande que era necessário montar outra e assim
continuar a brincadeira.
Começava com o verso de entrada:
“Ratoeira bem cantada
Faz chorar, faz padecer
Também faz triste o amante
De seu amor esquecer ”
Depois os participantes tinham que improvisar com sua inteligência e sentimento
do momento, o verso que falariam na roda para a pessoa desejada, sendo que todos
saberiam de seus sentimentos. E Dona Lucila Cantava:
“Botei cravo na janela
Pro meu amor cherá
Meu amor foi tão ingrato
Que deixou o cravo secar”
E assim, com uma explosão de alegria para aqueles que participavam na época e
que hoje trazem boas lembranças, são recordações simbolizando a saudade antiga na
maneira de viver, fazendo com que os “manezinhos da ilha” e pessoas de outras cidades
que tiveram conhecimento dessa cantiga, lembrem da sua juventude e sintam saudade
daquele tempo tão calmo, sereno e prazeroso por não ter a atrocidade que hoje tem.
Dona Lucila também brincou muito de ratoeira e na época não havia muitos homens que
gostavam de brincar e assim a roda era pequena, as mulheres se reuniam e brincavam
juntas e assim recitavam versos.
41
“Brincava muito de ratoeira, quando nós ia pas festas assim,
chegava lá, combinava ia brincá mas não tinha muito visinho pra ter
colega né? Era poco, não dava de fazê a roda
E assim se fazia a roda e cada uma recitava um verso.
Eis abaixo na figura 15, a roda da ratoeira. Mulheres e homens recitando versos
espontâneos.
Figura 15:
2.4 Pão-por-Deus
Era uma forma de “pedir aos reis” amor, carinho e amizade, por jovens em
meados do Séc. XVII de origem açoriana e se baseia na comunicação das pessoas que se
sentiam apaixonados.
O Pão por Deus era um recorte de papel em forma de coração bordado na
maioria das vezes com um tipo de fio da renda de bilro. Feito o coração com o papel de
seda, bordado com fio de renda, no centro do coração se escrevia versos, dentro de um
envelope, destinado à pessoa amiga, namorada ou namorado. Servia também como
“correio” ás pessoas se comunicarem com aqueles que despertassem a dedicação do seu
amor.
Naquela época o rapaz não podia falar diretamente com a moça, por isso
utilizava o Pão-por-Deus, era questão de respeito, então, ele mandava o seu Pão-por-
Deus destinado àquela pelo qual seu coração batesse mais forte e a moça correspondia
com gestos como sorrisos ou piscadas e até mesmo com outro Pão-por-Deus.
Vai um trecho de um Pão-por-Deus:
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“Lá vai meu coração
Meu querido visitar
Vai pedir o pão-por-Deus
Perdoe o amigo, incomodar.”“Aqui
vai meu coração
Nos arquipélago dos Açores geralmente esse costume acontecia entre 1 e 2 de
novembro e a tradição consistia em que as crianças pediam pão e guloseimas e aqui no
Brasil cuja dinâmica do folclore passou a ser utilizada pelos namorados para pedir amor
e logo por todas as pessoas, com a finalidade de se conhecer, pedindo amor, carinho e
amizade. Abaixo uma demonstração do Pão-por-Deus nas figuras 16 e 17.
2.5 Boi de mamão
Este folguedo tem algumas interpretações, cujos participantes entendem o
fundamento da brincadeira de acordo com a sua cultura, devido aos seus ensinamentos.
Segundo a pesquisadora Cavalcanti (2009):
Antigamente o folguedo do boi era conhecido como bumba-meu-boi,
depois boi-de-pano, mas, com a pressa de se fazer uma cabeça, foi usado
um mamão verde, e quando foi apresentado recebeu o nome de boi-de-
mamão. Nome este mantido até a época atual, onde se vêem bois com
43
cabeças de todos os tipos, até mesmo de boi. Há quem contrarie essa
versão dizendo vir o nome “boi-de-mamão” do boi que mama.
Então, eis aqui algumas versões segundo historiadores.
Em uma das versões, diz-se que o nome Boi de mamão veio através da
brincadeira de fazer a cabeça do boi com o mamão verde, e que inicialmente foi criada
para as crianças brincarem, e que mais tarde os adultos entraram na brincadeira. Em
outra versão, dizem que o Boi-de-mamão, vem da palavra “mamado”, que seria um
bêbado, pois as pessoas consumiam muita bebida alcoólica durante o folguedo. E esta
brincadeira expandiu-se com o decorrer dos anos ganhando mais figuras
Segundo o dicionário on-line de enciclopédia Wikipédia (1996):
O boi-de-mamão inerentemente usa voluntários para protagonizarem o
festejo, sendo que estes são postos sob as fantasias, que são feitas por
uma armação de metal ou madeira e por pano. Entre as figuras que
aparecem no boi-de-mamão estão: o boi, o proprietário do boi, a
bernuncia e seu filhote, a Maricota, o doutor, a viúva, o cavalinho, os
outros bois, os corvos, podendo faltar algumas delas. Lembrasse isso e
um mito.
Mas aqui na ilha a versão atual só aparece no Séc. XX. Até esses tempos era
somente o boi, a cabrinha, o cavalinho, o vaqueiro e o pai Matheus. Segundo
pesquisadores, nos anos que se seguiram até os dias atuais, foram acrescentados outros
elementos a este folguedo, bem como a batida sofreu influência de ritmos africanos. Os
novos elementos incorporados ao folguedo foram a Maricota e a Bernúnçia. A
Bernúncia, cujo tamanho é o mesmo na horizontal da Maricota tem uma aparência
assustadora. E assim, a Bernúncia passou a fazer parte da folguedo representando o
bicho-papão, que a maioria das crianças tinha muito medo.
A origem da Bernúncia segundo pesquisadores do assunto:
A Bernúnçia teria sido inventada na praia do estaleirinho quando
aquela localidade ainda pertencia a Itajaí. Dizem que o bicho foi
inventado por um indivíduo daquelas paragens que procurou fazê-lo o
mais grotesco possível. Antes dele exibir o bicho na dança do Boi de
Mamão foi mostrar para sua velha tia e, ao abrir a boca do bicho para a
velha senhora ver, o susto dela foi tão grande que tremendo
de nervosa ela esconjurou, repetindo o sinal da cruz varias vezes
dizendo: "Abrenúncio!, Abrenúncio!"Não sabia a velha senhora que
estava nomeando o bicho "Bernúnça.
Já a Maricota passou a fazer parte do folguedo nos anos 60, segundo afirmam
historiadores. Ela simboliza a figura de uma mulher livre de opressões, trajando roupas
coloridas, que se maquia com extravagância, se movimenta e dança sem preconceitos.
Ela é feita de madeira com aproximadamente três metros de altura, a cabeça é uma
máscara com cara de mulher, exagerada, os braços são soltos, uma das mãos porta uma
pequena bolsa e nas orelhas, brincos grandes.
Eis aqui uma versão do surgimento da Maricota, conforme pesquisadores:
Acredita-se ter sido baseada num componente circense, durante a
apresentação de um circo na Ilha-capital. Era esta uma mulher muito
alta, que interagia com palhaços. Essa interação acontecia de uma forma
bem violenta. A mulher ficava distribuindo bofetadas nos dois palhaços,
e esses tentavam fugir de seus golpes.
44
Ela era “um componente circense”, conforme historiadores, ela era agredida e
por isso também batia nos palhaços do circo. O cavalinho também como figura nova.
O Cavalinho, embora a maioria das pessoas não perceba, é a figura mais
compenetrada em seu papel, apresentando movimentos perfeitos. Seus
rodopios são calculados, seus movimentos são rápidos, boleando ou em
volta do boi ou investindo contra a platéia. O ponto culminante desse
folguedo é a cena do laço. Quando o Vaqueiro laça o boi, após sua
ressurreição, toda a platéia aplaude. Já o boi, que pressente o laço,
corcoveia, mas o Vaqueiro deve envolver as aspas do boi , para fazer sua
retirada, antes que machuque alguém.
Já os restantes dos componentes como o urso preto, o urso branco e o macaco, já
eram elementos para que as crianças brincassem, em roda. O cachorro e o Urubu são
criaturas que só aparecem na hora em que o boi morre; tem a intenção de atrapalhar o
vaqueiro. Assim, essa brincadeira continua perpetuando na ilha de Santa Catarina,
contando com crianças dessa geração que participam nas escolas e em sua comunidade.
O Boi de Mamão é manifestado em festas juninas aqui na ilha e também em
festas relacionadas á cultura açoriana, onde se desenvolve também em projetos sociais e
culturais. No Município de Florianópolis, concretamente, o folguedo alcançou,
contemporaneamente, maior expressão do que qualquer outra manifestação da cultura
local. O movimento de sua coreografia é mais alegria, com sua música e o colorido do
seu figurino que são ingredientes de bondade, a que é acrescida ainda a característica de
um forte apelo tradicional que encanta especialmente o público infantil, são vários os
motivos suficientes para atraírem incentivos à sua montagem.
Segundo historiadores:
Sobre o Boi-de-mamão há quem fale de que, nas representações desses
autos populares, há muitos anos atrás, usava-se de mamão verde para a
confecção da cabeça do boi, de onde teria surgido o termo local, que logo
se teria espalhado por todo o litoral catarinense. Nada há, porém, de
positivo. Tal origem, como a da própria formação dessas danças
populares, deve estar perdida nas sombras de infra-história e só um
acaso poderá fazer luz sobre o assunto.
O Boi de mamão se tornou uma brincadeira especial. Ao longo dos
anos foi se diversificando o figurino, os integrantes, e nos versos cantados, umas
alterações com novos versos. Muitos florianopolitanos que na infância aprenderam a
cantar o tema do boi de mamão, não se esqueceram! A música é mais extensa porque
ganhou mais versos devido às novas figuras que foram surgindo dando asas à
imaginação e à criatividade.
Nessa brincadeira, em meio a cantorias, é contada uma história: diz-se
que começa com uma mulher grávida que tem desejo de comer língua de boi ou
coração. Na casa dessa moça não tinha boi, então seu marido acaba encontrando um boi
e o mata. Antes desta mulher realizar seu desejo, aparece do nada o dono do boi e já
sabendo do que aconteceu diz que seu boi era de estimação, comentando furiosamente e
que de qualquer jeito gostaria de ter seu boi de volta. Logo é chamado o curandeiro (na
ilha eles chamam o médico também, mas os dois fazem parte da história: ou é um ou é
outro.) que o benzendo consegue ressuscitar o boi.
45
Em seguida começa as brincadeiras ao redor do boi. Esta versão é do
Bumba-meu-boi, que tem influência, indígena, européia e negra. O folguedo na verdade
é um drama, onde se relata a morte e a ressurreição do boi. E segundo pesquisadores:
Tradicionalmente representado durante o ciclo de Natal, hoje já se exibe
até no carnaval, o Bumba-meu-boi é associado às representações que,
desde a Idade Média, eram dadas por ocasião da Festa da Igreja
Apesar das transformações ocorridas com o tempo, a verdadeira história
ainda é contada, cujo integrante Matheus sendo a figura principal, relata muitos
acontecimentos durante o folguedo, e nessa etapa da apresentação, curandeiros
participam na cura do boi.
Eis aqui o folguedo do boi como é conhecido em Florianópolis segundo as
pesquisas de Ribeiro (2000). O Matheus trás o boi e o coro canta:
Vaqueiro, traz o boi
Não me queira demorá.
Vem cá meu boi, vem cá.
Quero ver Mateus
dançando,
Pra fazer o boi dançá,
Vem cá meu boi, vem cá.
Quero ver boi de mamão,
Vir dançá, rentinho ao chão,
Vem cá meu boi, vem cá.
Atravessa no caminho,
E não deixa ninguém passá.
Vem cá meu boi, vem cá.
Atravessa numa lagoa,
Onde nunca ninguém passo.
Vem cá meu boi, vem cá.
Sete corrente que tinha,
todas sete arrebentô.
Vem cá meu boi, vem cá.
Dá uma volta em roda,
De todo este salão
Vem cá meu boi vem cá
O boi começa a se movimentar entre os figurantes que vão chegando e depois dá
um sinal de cansaço, Matheus vai certificar o que aconteceu com o boi, e percebe que
ele não levanta, a dança pára e as cantorias também. Em seguida o urubu chega e bica o
boi caído, mas logo o curandeiro chega para acudir o boi, ver qual o seu problema,
segundo o chamado de Matheus e o urubu some aos pulos. O boi é benzido pelo
curandeiro.
Eu benzo o meu boi,
Com um galho de alecrim,
Senhor dono da casa,
Não se esqueça de mim!
46
Nesse momento da cura do boi, por vezes Matheus arrecada dinheiro do público,
enquanto isso o boi vai se recuperando aos poucos e começa a levantar, e assim
continua o canto:
Alevanta boi dourado,
Alevanta devagar.
Já te disse uma vez,
Não te torno a mandar.
Te apronta e vai embora,
Que tua dança tá na hora.
Logo entra a cena do cavalinho com o canto cuja versão também sofreu
alterações . E assim segue com mais cantos, até o final desta dança, e pouco a
pouco os cantores e dançarinos se retiram carregando seus instrumentos cantando:
Chamador: Ô senhor mestre da sala / Olê lê escutai o meu
cantar.
Coro: Nosso boi vai embora olê lê / Ou brinca ou meu boi ôi á.
Chamador: Ô senhor me dá licença / Olê lê que quero me
retirar.
Coro: Nosso boi vai embora olê lê / Ou brinca ou meu boi ôi á.
Chamador: No meio de tanta gente / Olê lê agora quero cantar.
Coro:O nosso boi vai embora / Olê lê ou brinca ou meu boi ôi á.
(...)
Assim, ilustrado abaixo o folguedo mais popular de Florianópolis na
figura
Figura 18:
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  • 1. 1 GISELE REGINA FURTADO TRADIÇÕES AÇORIANAS E SUAS GRANDES TRANSFORMAÇÕES FLORIANÓPOLIS, 2010
  • 2. 2 ESCOLA DE TURISMO E HOTELARIA CANTO DA ILHA TRADIÇÕES AÇORIANAS E SUAS GRANDES TRANSFORMAÇÕES Trabalho de conclusão de curso apresentada à Escola de Turismo e Hotelaria Canto da Ilha - CUT, como requisito parcial à obtenção do diploma do Curso Técnico de Hotelaria sob orientação dos profs. FLORIANÓPOLIS, 2010
  • 3. 3 GISELE REGINA FURTADO BANCA EXAMINADORA _____________________________ ANA CAROLINA HERRERA Orientadora/Educadora ETHCI _____________________________ MARIA LEDA C. SILVEIRA Pedagoga/Especialista em EJA/ Coord. Ensino IFSC São José _____________________________ ALTAIR LAVRATTI Bacharel em Direito/Coord. MST/SC
  • 4. 4 Um pedacinho de terra, perdido no mar!... Num pedacinho de terra, beleza sem par... Jamais a natureza reuniu tanta beleza jamais algum poeta teve tanto para cantar... Num pedacinho de terra beleas sem par! Ilha da moça faceira, da velha rendeira, Tradicional. Ilha da velha figueira Onde em tarde fagueira vou ler meu jornal. Tua lagoa formosa Ternura de rosa Poema ao luar, Cristal onde a lua Vaidosa, sestrosa, Dengosa, Vem se espelhar...” Rancho de amor à ilha - Zininho
  • 5. 5 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus por ter me iluminado durante essa trajetória de muitas informações e por ter me ajudado a desenvolver meu psicológico. Agradeço a minha mãe Nádia que me incentivou a fazer esse curso e também me ajudou com informações que agreguei a este trabalho. Agradeço a minha avó materna pela entrevista concedida sobre o mito das bruxas e dos lobisomens, que segundo ela, presenciou juntamente com meu falecido avô. Sou bastante grata à dona Lucila, moradora do bairro Rio Tavares por me ajudar a descobrir mais um pouco da cultura açoriana e por ter me dado a oportunidade de saber sua história de vida. Agradeço a minha amiga Priscila, pela colaboração no conteúdo do meu trabalho e ao tempo que dividiu comigo. Este trabalho também não teria sido possível sem as sugestões da minha orientadora Ana Carolina Herrera. Sou grata a todos os educadores por todo o aprendizado que obtive. Agradeço a minha família em geral de formas diferentes que ajudaram na realização deste trabalho. Agradeço aos meus colegas do curso, por terem sido companheiros durante a vivência costumeira e compartilhamento de suas vidas.
  • 6. 6 RESUMO Florianopolitanos: Cultura, costumes e tradições Este trabalho busca trazer informações sobre a cultura florianopolitana e suas grandes mudanças com o decorrer do tempo, através de pesquisas com os nativos da região, internet, bibliografia, com o objetivo de analisar as transformações do município como o atrativo turístico. E neste trabalho farei uma breve reflexão sobre o processo dessas transformações. RESUMEN Florianopolitanos: cultura, costumbres y tradiciones Este trabajo busca traer infomaciones sobre la cultura florianopolitana y sus grandes cambios con el transcurrir del tiempo, a través de investigaciones con los nativos de la región, internet, bibliografía, con el objetivo de analizar las transformaciones en el municipio como el atractivo turístico. Y en este trabajo haré una breve reflexíón acerca del proceso de esas transformaciones. ABSTRACT Florianopolitanos: Culture, Custom and folklore This work search to bring information upon the Florianópolis’ culture his greats changes with the course of the time, through of research with the natives from the region, the internet, the bibliography, with the objective of analyze the transformation of municipality with the attractive touristic. And this work will make a brief reflection about the process of transformations.
  • 7. 7 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO................................................................................................ 09 INTRODUÇÃO..................................................................................................... 10 . CAPÍTULO 1: IMIGRAÇÃO AÇORIANA – PROCESSO DE ADAPTAÇÃO ÀS TRANSFORMAÇÕES................................................................................................ 12 1.1Percepção do passado dos açorianos e presente dos Florianopolitanos................................................................................. 13 1.1.1 Açorianos na Vila de Nossa Senhora do Desterro...........................................................................14 1.1.2 Desterro- A fundação......................................................14 1.1.3 Ocupação dos açorianos à nova fase...............................16 1.1.4 Atividades Produtivas dos luso-brasileiros.....................21 1.2 Resistência entre os nativos e “os de fora” e compreensão do compartilhamento com diferentes culturas.........................................................................................................26 1.2.1 Definindo o Multiculturalismo – Choque de cultura...............................................................................32 CAPÍTULO 2: TRADIÇÕES FESTIVAS – DANÇAS, CANTIGAS E FOLGUEDOS ...............................................................................................................35 2.1. Folia de Reis.....................................................................37 2.2. Pau de fita.........................................................................39 2.3. Ratoeira........................................................................... 40 2.4. Pão-por-Deus....................................................................41 2.5. Boi-de-mamão..................................................................43 2.6. Festa do Divino............................................................... 47 2.7. Farra do boi..................................................................... 51 CAPÍTULO 3: MITOS, LENDAS E CRENDICES AÇORIANAS: UMA ANÁLISE SOBRE AS TRANSFORMAÇÕES DOS SEUS MOVIMENTOS ATRAVÉS DO TEMPO.............................................................................................. 53
  • 8. 8 3.1. Lenda e contos sobre as bruxarias da ilha da magia...................55 3.2. Mitos sobre os lobisomens...........................................................58 3.3. Benzedeiras e Curadores............................................................. 60 3.4. Superstições................................................................................. 62 3.5. Outros mitos e lendas da ilha...................................................... 63 CAPÍTULO 4: MEIOS DE HOSPEDAGEM QUE VALORIZAM A CULTURA FLORIANOPOLITANA: PROJETANDO UM LUGAR ACOLHEDOR QUE SIMBOLIZE A CULTURA LOCAL........................................................................ 66 4.1. Aspectos da cultura local encontrados em um meio de hospedagem............67 4.2. Um meio de hospedagem acolhedor que represente a essência de Florianópolis....................................................................................................................69 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................. 74 BIBLIOGRAFIA.................................................................................................... 76 ANEXOS................................................................................................................ ANEXO I – Entrevista a Edite Borba Farias ......................................................... ANEXO II - Entrevista a Priscila Pereira da Silva................................................. ANEXO III - Entrevista a Lucila Fernandes Tavares............................................
  • 9. 9 APRESENTAÇÃO O objetivo dessa pesquisa é criar um material para que as pessoas tenham conhecimento da história de Florianópolis, tanto para os florianopolitanos e para os visitantes terem conhecimento das histórias, mas também fazer com que elas apreciem as tradições da cultura ancestral como danças, mitos, costumes, etc. Pois, depois com o desenvolvimento da tecnologia, esta cidade se tornou turística e recebendo pessoas até de fora do Brasil, fazendo com que a cidade se transformasse em um lugar multicultural. A elaboração deste trabalho se baseia na pesquisa das tradições e costumes dos nativos florianopolitanos, cuja algumas tradições, ainda são exercidas por algumas comunidades e outras já foram esquecidas. Forma-se a nova geração de nativos e de novos residentes em Floripa cujas culturas são diferentes, a modernidade influenciou os jovens a se iludirem com as novidades e fazendo-os acreditar na possibilidade de escolher fazer faculdade e obter o seu espaço profissional socialmente. Neste sentido, a minha motivação em querer estudar essas manifestações culturais, é com propósito de conhecer a fundo minhas raízes e também possibilitando outras pessoas de conhecer toda a história que relatarei neste trabalho, toda essa trajetória de inovações para quem se interessar em ler. Essas tradições que de fato vieram dos portugueses, me faz viajar no tempo em que eu ainda na infância, vivenciava junto com minha família, algumas destas tradições que por ventura é secular e que nos tempos de hoje foi amenizada, cujos nativos mais antigos sentem saudade desse tempo. O conteúdo deste trabalho construído no dia a dia resgata as possibilidades de informações concretas, conforme os temas iam surgindo, com cenas e fatos observados, inclusive com a opinião dos “Manézinhos da ilha” caracterizados pelo falar rápido e cantante e que originalmente são chamados assim devido à sua descendência histórica de populações das ilhas dos Açores e Madeira pertencentes a Portugal. Com eles vieram às tradições que se implantaram na ilha e logo as novas gerações adotaram essas tradições, e assim, sucessivamente, as tradições eram passadas pelos seus antecedentes de acordo com seu tempo e seus hábitos. Contudo, a experiência de uma vida não cabe entre as páginas de um livro, onde se podem escrever detalhes sobre a história toda, ainda assim, nunca será completa, e em nenhum tipo de material onde se possa estar visível, ela apenas está na jornada de vida que cada um sabe o que passou e por mais que historiadores contem o que sabem, no fundo só sabem o que gostariam de saber como fazendo parte do tema que escolhem para abordar e assim, a história dos açorianos pode ser contada por qualquer pessoa que tenha lido o que historiadores contam ou o que descendentes de açorianos dizem, cujas tradições, já muito amenizadas diante desse século XXI, ainda perpetuam-se de pais a filhos.
  • 10. 10 INTRODUÇÃO Neste presente trabalho, venho com o foco de estudar as transformações ocorridas em relação ás manifestações culturais de acordo com a história de Florianópolis na ilha de Santa Catarina, com o objetivo de aqui mostrar estas mesmas transformações utilizando métodos de pesquisa de campo com os ilhéus, para destacar a visão dos mesmos de diferentes aspectos construtivos, e assim permitindo compreender essa modificações fazendo investigações resgatando a cultura açoriana e preservando a mesma hoje transformada, Com o tempo a geração principiante foi esquecendo-se do costume de antes, preferindo ir á uma balada com os amigos, imaginando que os mesmos sentiriam vergonha desse costume e o medo de serem ignorados, e pelo fato de achar “brega”, pois quando Florianópolis foi crescendo, passaram a existir outras culturas e as mesmas começaram a se anexar umas às outras. Contando com a convivência de pessoas de “fora”, os manezinhos mais jovens foram deixando de recordar suas tradições, começando a entrar no mundo mais moderno. A cultura, é tão somente um modo de se expressar sem desrespeitar o próximo, é toda a ação que o ser humano produz pra agregar a seu tipo de tradição ancestral que cultiva. O objetivo desta pesquisa é identificar a manutenção desta identidade cultural, o movimento dessa cultura, que se transforma e que varia , dá origem a novas formas de expressão, que transformou nossa cidade e resultou na mudança de nossos hábitos e costumes, novos sotaques fundiram-se uns aos outros, resultando em um lugar multicultural, ou seja, Floripa já não é só dos manezinhos, a mesma tem variadas etnias. Florianópolis desenvolveu-se rapidamente trazendo á mesma, pessoas de outros lugares buscando aqui qualidade de vida e certamente passa- se muito tempo na cidade para que a população aqui existente seja considerada menos “cliente” dela, como são os turistas e também os novos moradores que fizeram mudanças com suas culturas. Entretanto, com o desenvolvimento econômico-cultural, da ilha, o resultado foi que, se obteve um choque de culturas, fazendo com que os nativos mudassem seus hábitos e abrissem os braços para os novos moradores e os ensinassem as tradições açorianas e que muitos deles participavam e outros achavam “brega” demais para se envolver e por esse fato a nova geração de manézinhos foi seguindo o mundo moderno e seus novos costumes, esquecendo suas origens e tendo iniciativa em fazer faculdade, trabalhar, ser independente, se adaptando com as tecnologias, esquecendo-se de sua tradição cultural preferindo fazer outras atividades de acordo com a modernidade. As idéias que construí no desenvolvimento deste trabalho então aqui apresentado no decorrer destes cincos capítulos assim estruturado: - Capítulo 1 – “Imigração Açoriana – Processo de adaptação ás transformações” – Busco relatar neste contexto a história desde a colonização açoriana e suas prováveis transformações até os dias de hoje, através das considerações de alguns historiadores, sobre os conceitos pertinentes ás questões mencionados neste capítulo, resgatando essa tradição e fazendo uma percepção do passado e presente, resultando na construção multicultural para as transformações da identidade cultural dos açorianos até os florianopolitanos. - Capítulo 2 - “Tradições Festivas Açorianas – Danças, Cantigas e Folguedos” – Neste capítulo, apresento as festividades em que os açorianos se envolviam em cultos religiosos e celebravam com sua comunidade, como faziam em sua terra de origem,
  • 11. 11 onde os padres que determinavam os horários das festas e era uma forma de todos os religiosos católicos se encontrarem, pois antigamente, as “freguesias” eram distantes umas das outras na ilha e existia um padre que era responsável pela comunidade e pela alfabetização, logo mantinham a tradição religiosa na comunidade. - Capítulo 3 – “Mitos, lendas e crendices açorianas – Uma análise sobre as transformações de seus movimentos” - Trata-se de um levantamento de certas lendas do imaginário dos açorianos que contavam histórias a seus filhos e outros que mencionavam estes supostos acontecimentos, e que ficou marcado a ponto de fazer Florianópolis ser conhecida como ilha da magia. Acreditando nesta análise, busco visualizar as transformações que ocorreram, devido ás gerações que foram passando, adotando no seu tempo a sua maneira de pensar em relação á este assunto, esses mitos e crendices eram evidentes quando não existia a luz elétrica, mas depois da cidade receber a luz elétrica, foi-se diminuindo a credibilidade nestas histórias e/ou estórias com o passar do tempo. - Capítulo 4 – “Meios de hospedagem que valorize a cultura Florianópolitana e sugestões para um lugar acolhedor simbolizando a cultura local” – Neste capítulo, busca exatamente investigar e refletir, a partir das considerações adquiridas em relação ao crescimento da cidade, especificamente no desenvolvimento das redes hoteleiras implantadas na ilha, com foco de identificar nos meios de hospedagens alguns aspectos concretos e tangíveis, que simbolizem a cultura açoriana, devido á história da ilha de Santa Catarina sobre a imigração dos portugueses e toda a tradição cultural florianopolitana.
  • 12. 12 CAPÍTULO 1 IMIGRAÇÃO AÇORIANA: PROCESSO DE ADAPTAÇÃO ÀS TRANSFORMAÇÕES
  • 13. 13 1.1.1.1.1.1.1.1. Percepção do passado dos açorianos e presente dos florianopolitanos “... A terra é mais que boa quem disser o contrário mente... Eu me contento muito com a minha sorte...” Dias velho. Por mais que se aprenda sobre um determinado assunto do qual se possa vir a adotar para a nossa vida e usufruí-lo, nunca se sabe sobre a profundidade que ele pode ter, ou seja, de geração á geração, conceitos vão se modificando devido ao seu tempo e por mais que saibamos sobre as nossas raízes podemos ter a opção de querer ser diferente culturalmente. Antigamente, cada um tinha a sua cultura, hábitos e costumes de acordo com a sua tradição familiar, e sua descendência histórica, mas nos dias de hoje, podemos conhecer e constatar outras culturas sem sair do lugar, pois pessoas se mudam o tempo todo, troca de uma cidade para outra a fim de melhorar as condições de vida e obter sucesso, e as culturas possivelmente são misturadas as quais podemos ter acesso devido á convivência, o multiculturalismo presente nos faz de alguma forma aprender a lidar com a modernidade. Segundo o argumento do filósofo Marshall Bermam, onde Martinello (1992) relata na sua tese e o mesmo comenta sobre a modernidade. Ser moderno é encontrar-se em um ambiente que promete aventura, poder, alegria, crescimento, autotransformação e transformação, das coisas em redor – mas ao mesmo tempo ameaça destruir tudo que sabemos tudo o que somos. A experiência ambiental da modernidade anula todas as fronteiras geográficas e raciais, de classe e nacionalidade, de religião e ideologia: nesse sentido, pode-se dizer que a modernidade une a espécie humana. No início do Séc. XX certas mudanças ocorreram com a modernidade, e com isso a cidade se descaracterizou de sua forma original, com a implantação de novos costumes a cidade foi perdendo a sua identidade cultural e Floripa cresceu de um modo desordenado, resultando um desrespeito quanto à destruição do patrimônio histórico cultural, destruindo a “figura florianopolitana” e construindo outra figura multicultural. Para algumas pessoas que se colocaram a disposição em aprender toda a sua cultura, pessoas que antes quando vivia a sua mocidade ao ar livre, convivendo com pessoas que tinham os mesmos costumes, hábitos de vida, sem ambições, eram mais tranqüilos em relação ao pessoal que passava na rua, eram todos conhecidos e amigos da igreja, ninguém fazia mal a ninguém, se ajudavam quando podiam trocando comida ou objeto e passavam alguns sacrifícios que o adolescente de hoje nem chega perto porque está tudo mais fácil e a tecnologia colabora muito. Esta percepção destaca o passado dos açorianos, da vida ilhéus da ilha do Açores e Madeira que emigraram para Desterro em meados do Séc. XVIII e os nativos, descendentes dos mesmos, desenvolvendo famílias e com o passar do tempo, crescendo uma população de florianopolitanos, logos esses portugueses que vieram aqui construir um começo depois da indigência na ilhas de Portugal que causou a emigração de
  • 14. 14 milhares de casais com seus filhos para trabalhar a favor da coroa portuguesa, se erguerem novamente. Nos próximos pontos deste capítulo, relato uma base da história desses portugueses e dos descendentes, a sua rotina desde que se habituaram na nova terra. 1.1.1 Açorianos na Vila de Nossa Senhora de Desterro Para se ter uma história ampla e transparente a fim de entender a cultura açoriana há tempos atrás, Florianópolis voltará á um passado em meados do Séc. XVII e chegará até os dias de hoje, para apresentar uma percepção da vida desses colonos, desde a fundação de Desterro e logo mais tarde a chegada de famílias vindas das ilhas dos Açores e Madeira de Portugal. Os açorianos imigraram para o Brasil por causa da decadência em Portugal a mando da Coroa Portuguesa e pelo modo de vida intrigante que passavam a fim de explorar terras novas para o cultivo das terras, logo implantaram a sua cultura nesta ilha, vivendo de acordo com os costumes de Portugal e relacionar com a modernidade surgida a partir do Séc. XX. Porém, os portugueses vieram povoar o sul sabendo que os espanhóis queriam tomar posse dessas terras. O inicio desta história começa com a fundação que se dá ao nome de Desterro. 1.1.2 Desterro – A fundação A ilha era conhecida inicialmente como Meiembipe cuja palavra é de origem carijó (indígena). Em meados do Séc. XVI por volta de 1514 a ilha passou a se chamar Ilha dos Patos, batizada assim por navegantes espanhóis e europeus que ali passavam, por sua grande quantidade de aves segundo relatos pesquisados, mas quem habitava na ilha eram os índios tupi-guarani, praticavam a agricultura, mas tinham na pesca e coleta de moluscos as atividades básicas para sua subsistência. Após o descobrimento do Brasil1 de acordo com os registros históricos, a chamada Ilha dos patos passa a receber muitos navegadores Europeus a caminho do Rio da prata2 ou em viagens de circo navegação porque a ilha era basicamente um porto seguro em alimentos e água. Um desses viajantes que aportou na ilha foi o Italiano Sebastião Caboto. Em 1526 Caboto desembarcou e ficou aproximadamente 4 meses para reformar uma de suas embarcações. Ergue uma pequena aldeia e muda o nome de Ilha dos patos para Ilha de Santa Catarina, se o nome foi em homenagem a sua mulher ou a Santa, não há certeza. No Séc.XVII, a ilha de Santa Catarina obteve novos rumos, com a presença de um paulista que toma para si a missão de povoar o local. Em 1662, Francisco Dias Velho acompanhado de sua esposa, dois filhos e três filhas, mais uma família de cinco pessoas, dois padres e índios domesticados, fundaram a ilha oficialmente com o 1 Dia 22 de Abril, o Português Pedro Álvares Cabral descobre o Brasil, tornando-se oficialmente o primeiro europeu a chegar ao Brasil. 2 Chamada assim, pelos navegadores por causa de sua quantidade de prata na época, que fica entre os rios Paraná e Uruguai formando sobre a Costa Atlântica da América do Sul com uma forma triangular de 290 KM de largura.
  • 15. 15 objetivo de encontrar pedras preciosas. Este capitão-mor fez muito serviços à coroa real, desempenhou um importante papel político na colonização da região e sua primeira realização foi à construção da capelinha em homenagem á Nossa Senhora do Desterro devido á sua religiosidade. Segundo relatos históricos: Com o avanço do tempo e o progresso da empresa agrícola de Dias Velho, também o povoado cresceu, ganhando logo uma capela, construída a mando do paulista, em homenagem á Nossa Senhora do Desterro. As casas, contudo, continuavam simples e desprovidas de qual- quer conforto. O desenvolvimento do povoado era lento, mas constante. O ataque pirata de 1687, como assassinato de Dias Velho, interrompe essa fase, provocando a fuga dos sobreviventes. Era o declínio dessa etapa de povoamento, só retomado anos mais tarde. A capela foi construída de pedra e cal, hoje sendo a catedral de Florianópolis, Dias Velho era católico e muito religioso assim como toda a sua família. Segundo relatos também mostram que Dias velho criou uma empresa agrícola e que segundo pesquisadores, pelos documentos encontrados e preservados até hoje, sabe-se que já na ilha os colonizadores plantavam mandioca, milho, feijão, cana-de-açúcar e fumo. Também “pescavam em pequena canoas.” Eis abaixo a igreja depois de algumas reformas por Silva Paes até o fim do XIX hoje com última reformada em 2005. Ano de 1900 2010 Diz á história que, um capitão e seis tripulantes ingleses que se perderam do seu caminho por causa de uma forte tempestade, com ventos fortes e correntes marítimas, vieram parar na ilha para concertar as suas embarcações acreditando que a ilha era desabitada. Mas, Francisco Dias velho foi avisado e não gostou, porque de certa forma a ilha já estava povoada e foi fundada por ele e não mais havia necessidade de navegantes se aproveitarem daquele lugar. Dias velho prendeu o capitão e sua tripulação e ficou com todo o carregamento de prata que estes piratas deixaram em Canasvieiras e logo foram enviando-os para a Vila de Santos para serem julgados, mas, juraram vingança ao bandeirante.
  • 16. 16 A vida continuava, e tudo ocorria bem no dia a dia dos colonos, dois anos mais tarde, em 1689, desembarcaram na ilha, piratas dotados de mosquetes3 e espadas, cujo capitão, segundo a história se chamava Robert Lewis vindo com a missão de vinga-se de Dias Velho e retomar com toda a prata que o português havia pegado de seus colegas. Logo invadiram o povoado, roubando tudo o que era possível e incendiaram as casas de palha. Dias Velho tentou salvar sua família da maldade desses piratas os protegendo dentro de sua capela, mas que não era forte o suficiente, então é atacado pelos estrangeiros, ou seja, os piratas que invadem a ilha, sem conseguir evitar violências contra sua mulher e filhas. Ele morre dentro da própria igreja que mandou construir e logo os sobreviventes de desterro fogem, e a vila fica quase vazia e só volta a ser ocupada á anos mais tarde. Em 1726, Desterro é elevada a categoria de vila, Vila de Nossa Senhora de Desterro. Depois de toda essa tragédia, e com a ilha vazia a família de Dias Velho realiza a melhoria de sua capela e logo partem para São Paulo. Já no Séc. XVIII durante um período que a ilha ficou vazia os espanhóis a tomaram, por um período aproximado á 20 meses e quem comandava a tropa de 12 mil homens espanhola era o militar da Espanha Pedro de Cevallos4 . No ano de 1739, José da Silva Paes5 que também foi um militar e administrador colonial português, aporta na ilha e vem á intenção de preservar a mesma, fazendo-se construir fortificações como São José da Ponta Grossa, Anhatomirin e Ratones ao norte e ao sul a Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição de Araçatuba, para defesa contra os invasores espanhóis, que costumavam aportar na ilha com más intenções em procura de ouro e prata, até mesmo na presença de Dias Velhos, que sozinho sendo um capitão-mor não dava conta de lutar contra esses invasores. Foi mandado para a ilha tropas de sargentos, soldados, artilheiros e um capitão de infantaria, para fortificar a ilha e proteger os moradores, assim Desterro estava mais protegida e pronta para receber novos imigrantes vindos de Portugal a mando da Coroa Portuguesa para o aumento da povoação. 1.1.3 Ocupação dos açorianos à nova fase Em 1748, açorianos do arquipélago dos Açores e Madeira vieram em quatro mil famílias, e não pararam de chegar em toda a ilha de Santa Catarina, pois segundo o rei Dom João V de Portugal, comunicou aos habitantes das ilhas dos Açores que a Coroa oferecia uma série de vantagens aos casais ilhéus nos quais um destes, era cultivar terras que ainda não foram exploradas. Isso tudo aconteceu porque a ilha dos açores estava em estado crítico economicamente. Ilustrado na figura 4 abaixo os açorianos vindo para o Brasil. 3 Espingarda grossa e pesada 4 Um nobre militar da Espanha que foi governador da província de Buenos Aires de 1757 até 1766, foi nomeado vice-rei do Rio do Prata e mandava as suas tropas para disputar o território da região do sul do Brasil com os portugueses, sendo o ele o Silva Paes. 5 Foi um militar e administrador colonial português e governou Santa Catarina de 1739 e 1743 e depois em 1746 e 1749, esteve envolvido em diversas situações e localizações, nas disputas territoriais entre portugueses e espanhóis no território que hoje é a região sul do Brasil
  • 17. 17 Por esse motivo, açorianos foram ordenados pelo rei D. João V a emigrar para o Brasil, segundo historiadores, por pobreza extrema e superlotação nas ilhas. e deu-se o processo para os açorianos emigrarem para o Brasil. Assim ilustrado na figura 4 abaixo: Figura 6: Imigrantes portugueses á espera do navio para imigrar para o Brasil no século XX. Segundo D João V ele ordenava da seguinte forma: “... haverá um grande alívio nas ilhas porque elas não mais verão padecer os seus moradores, uma vez que vão diminuir os males da indigência em que todos vivem..." Um edital exposto prometia ferramentas para começarem sua vida na vila de Nossa Senhora do Desterro, tais ferramentas como alqueires com 27,5 litros de sementes, duas vacas e uma égua, um pedaço de terra, uma quantia em dinheiro, enxadas, machados, facas, tesouras e outras coisas mais, para o começo da nova vida em Desterro. Segundo o Rei D. João V. “Em que a fertilidade da terra, abundância de gados e grande quantidade de peixes, conduzem muito para a comodidade e fartura desses novos habitantes” Logo, partiram para uma viagem longa com o objetivo de chegar até o novo país, mas antes de chegarem ao local desejado, existiam certas regras a cumprir durante a viagem marítima, mulheres e crianças eram destinadas a ser cuidadas e escondidas dentro de alojamentos trancados, onde somente o comandante tinha a chave e o marido da mulher a outra, assim durante toda a viagem algumas mulheres e crianças ficavam desidratadas e doentes e às vezes até chegavam a falecer. Os açorianos se habituaram à nova terra. Tinham um modo de vida rural, com suas atividades, trouxeram sua experiência da ilha dos Açores e Implantaram em Desterro a sua cultura, seus costumes, hábitos e religiosidade, eram muito católicos e sempre freqüentavam a igreja com suas famílias, participavam de novenas e logo foram
  • 18. 18 se habituando cada vez mais, às vezes, nos encontros com parentes, amigos e vizinhos lembravam-se da terra antiga e comentavam sobre a saudade que sentiam da terra de origem. Segundo Cardoso (2001) as primeiras casas que os açorianos construíram eram de chão batido, com paredes de barro e teto de palha, só depois de algum tempo com a chegada de pedreiros e carpinteiros, as casas foram sendo construídas de acordo com a arquitetura de Portugal, com pedras e tijolos e telhas de barro, fortificando-as, como era o estilo dos Açores. Sacerdotes juntamente com seus vigários, eram responsáveis pela alfabetização dos colonos e da comunidade que era líder, fazendo assim a tradição religiosa se manter como era em Portugal, e cada freguesia tinha a sua igreja. Naquele tempo, os encontros religiosos eram motivos para que os jovens se encontrassem junto aos parentes, amigos, vizinhos, para também “prosear”, pois os açorianos moravam longe um dos outros, cada um tinha a sua terra e algumas fazendas eram distantes umas da outras, só se encontravam por motivos religiosos, como rezar novena ou ir à missa que, na época era uma vez ao mês. Os açorianos eram pessoas desprovidas6 , desregradas7 e iletradas8 , não possuíam nenhum modo refinado e nem elegante, deixavam-se levar apenas pelo amor a humanidade, ou seja, o amor pelas pessoas a sua volta e sempre rezando por tudo e por todos, eram dotados de muita fé, caracterizavam-se pela cultura tão animadora e cheia de sentimentos. Os açorianos como de costumes, além de se encontrarem aos domingos para conversar, também em ocasiões especiais, como os bailes religiosos eram organizados pelos padres das comunidades, o mesmo determinava o início e o término do evento, outra situação que decorria em momentos de encontros era em nascimentos, doenças, casamentos ou falecimentos de alguém querido, entre outros, usavam sempre nessas ocasiões sua fé. Sua presença era sempre considerada, como a tradição mandava. Estes por ventura investiram muito no seu esforço através do trabalho para ter uma estabilidade, era uma forma de recompensar a ausência de sua terra de origem – Os Açores, por mais que o tempo passasse nunca esqueceriam seu antigo lar, e certamente com essas lembranças, fazia com que derramassem algumas lágrimas pela saudade que sentiam. A partir do Séc. XIX os açorianos passaram a cultivar frutas e legumes, possuíam suas cabeças de gado em volta de sua casa, sendo isso a sua subsistência. Segundo Martinello (1992), em 1817 os açorianos tinham o hábito do cultivo de milho, de uma diversidade de hortaliças, e do cultivo da mandioca e cana de açúcar aqui na ilha, segundo o ensinamento dos índios, também tiveram prosperidade a agricultura e a indústria de fabricação de algodão e linho. Em 1823, Desterro passa a ser capital de Santa Catarina, a cidade começou a melhorar e a ser ocupada por migrantes e imigrantes vindos de outros lugares, que buscavam aqui na cidade uma oportunidade para crescer e melhorar de vida. Muitos 6 Pessoas privadas de recursos 7 Sem regras 8 Que não sabe ler e nem escrever
  • 19. 19 vieram buscar emprego e outros, implantar sua empresa e gerar mais ofertas de emprego, e assim, a cidade foi tendo super lotação de pessoas do mundo todo. Eis aqui segundo historiadores. No século XIX, Desterro foi elevada à categoria de cidade; tornou-se Capital da Província de Santa Catarina em 1823 (...) Projetou- se a melhoria do porto e a construção de edifícios públicos, entre outras obras urbanas. A modernização política e a organização de atividades culturais também se destacaram, marcando inclusive os preparativos para a recepção ao Imperador D. Pedro II (1845). Segundo Silva (1999) Em 1845, Com a visita do Imperador do Brasil Dom. Pedro II juntamente com sua esposa Augusta Imperatriz Dona Thereza Christina são recebidos com aplausos na Vila de Nossa Senhora do Desterro, a modernização política e cultural fez mudar muitas coisas em benefício dos moradores. Na época concentrava-se a maior freguesia no bairro Santo Antônio de Lisboa localizado no norte da ilha onde Dom Pedro II fez uma visita, que segundo historiadores, ali desembarcavam navios mercantes e de guerra, estrangeiros e nacionais, fazendo com que aquela comunidade fosse bem conhecida. Ainda em Santo Antônio de Lisboa, havia um porto o qual se tornou decisivo para o baldeamento10 , ou seja, a passagem de mercadorias e passageiros de um navio para o outro de produção local e outros lugares em Desterro, boa parte das mercadorias começaram a ser produzidas ali e por esse motivo, surgiram casas comercias de acordo com o produto específico. Logo começam a surgir os transportes, e diminui muito a importância do porto. Desterro passa a ser chamada de Florianópolis (cidade de Floriano) durante o governo de Floriano Peixoto, o “Marechal de ferro” no término do Sec. XIX, no ano de 1894. Com a mudança de nome, Florianópolis passou a ter mais conhecimento e mais a partir do século XX. Logo no início deste Séc. o governador Hercílio Luz ordenou que construíssem uma ponte que ligasse a ilha ao continente. A ponte foi inaugurada em 1926, em homenagem ao governador do mesmo nome que cujo falecimento ocorreu dois anos antes de ser inaugurada e depois da inauguração, vieram ônibus e automóveis. Eis abaixo duas figuras 7 e 8 mostrando a evolução da ponte Hercílio Luz. Figura 7: Figura 8: A construção da ponte em 1922
  • 20. 20 Florianópolis desenvolve-se, mas, naquele tempo a vida ainda não era fácil para alguns nativos da geração de descendentes de açorianos, pois, muitos não tinham recursos para plantar, esse relato está presente no diálogo que estabeleci com dona Lucila, nativa do Campeche, sul da ilha. “ ‘Os outro’ plantava, o vizinho lá, plantavam o que eles tinham engenho de farinha, né? Plantavam e a gente ganhava uns trocadinho trabalhando com eles, mas a gente mesmo, a gente, não tinha.” Mesmo assim a vida dos descendentes de açorianos era simples, de modo rural, muitos tinham para plantar, outros já não tinham, Dona Lucila contou sobre a dificuldade de emprego naquela época: tinham que fazer “bicos” e a mesma ajudava a mãe a lavar “pra fora”, carregando roupas pesadas no alguidá (Vasilha circular feita de barro) para ir lavar no rio além de fazer renda. “O pai trabalhava na roça, pros otro, não tinha terra pra... pra coisá, né? Nós Capinava na roça pros otro pra ganhá por dia né? E a minha mãe lavava ropa pra fora e fazia renda e lavava pra fora.” Esse era o modo de vida da dona Lucila quando ela já era moça, pois naquele tempo as meninas já ajudavam as mães quando chegassem ao fim da infância entre 8 e 12 anos. A mãe ensinava a cuidar da casa, lavar roupa e fazer renda de bilro, cuja atividade é uma tradição dos açorianos que vieram de Portugal, fazendo com que cada geração seguisse com ela. E também, as meninas “mocinhas” já eram encorajadas pela família a trabalhar fora, ou seja, de empregada para famílias nobres que residiam pelas redondezas, e já que as nativas não tinham alfabetização, era a única forma de ganhar dinheiro, cujo esforço gastado às vezes era absurdo; Eram explorados, e não podiam escolher porque precisavam ajudar a família. Os meninos ajudavam os pais na pesca, vendiam para o sustento do dia, muitas vezes comiam “tatuíra”9 para enganar a fome, ás vezes só tinha farinha pra comer e mais nada, e outras vezes, o que ajudava era fazer trocas de alimentos para sobreviver, segundo se exibe abaixo no diálogo com Dona Lucila. Tinha cinco irmãos, eles trabalhavam com os amigos, ajudando ‘os outro’, ia pra praia pescar, ir lá pro morro das pedra tirar marisco como eu ia tamém, pegava aqueles mariscos, quando chegava em casa ainda ia trocar por farinha pra cumê porque não tinha, aí ia nos engenhos.... trocá por marisco pra cumê com farinha, pa trocar pra pudê cumê né? Aquela época era ruin, né, Não é como agora não! Era difícil, As minhas pernas doíam a passar na areia dos morro das pedras todinha 9 Segundo o dicionário on-line Wikipédia: Tatuí (que significa pequeno tatu em tupi) ou tatuíra (Emerita brasiliensis) é o nome dado ao crustáceo decápode que pode chegar a medir 37 centímetros, embora dificilmente passe dos 4 cm de comprimento, e que é encontrado fazendo escavações de pouca profundidade nas praias arenosas brasileiras. Tem coloração branca. Sua semelhança com os tatus valeu-lhe o nome comum. Sua importância econômica é a apreciação na culinária local e na pesca. Sua presença em grande quantidade pode determinar o grau de limpeza nas praias. Praias geralmente com um grau leve de poluição em diante podem ter uma população do crustáceo bem reduzida, ou mesmo praticamente não a ter.
  • 21. 21 pela praia comprida, com aquele saco de marisco na cabeça, a chega em casa, butá num balainho e trocar por farinha, pra pudê a gente cumê. Esta outra geração de descendentes eram destinados a passar por uma série de dificuldades pra se manter e tendo que passar por situações muito difíceis, a ponto de se machucar fisicamente, para manter o sustento, todo mundo se arriscava, mas o que os deixava felizes era saber que a família estava unida em qualquer situação, o ar era tranqüilo, não existia a atrocidade que se tem hoje, e muito menos a existência da luz elétrica, segundo Dona Lucila depois que novidades começaram a surgir. Acabou com isso tudo né? Não fazia mais as coisas antigas, só vinham essas coisas novas, vinha muitas coisas erradas né? Ah! Isso ai mudou demais né? Lembro que nós morava num lugar onde não tinha luz elétrica, nós ia na venda, passava as coisas, nós ia tarde da noite, passava naqueles caminhos estreitinho, perto daquelas vassouras, e não tinha medo de nada. E depois que a luz elétrica chegou, os nativos não se adaptaram tão cedo com a novidade, e isso às vezes até assustava - os. “(...) tinha muito pouquinha casa, uma casa ficava lá não sei aonde, quando apareceu uma luz elétrica ali no Campeche, que era o avião que pousava ali, né? As crianças ficavam tudo assustada, olhando! Tadinhas.” Eles se habituaram à energia elétrica só depois de um tempo, dize-se que esqueciam que havia luz. Muitas existências novas no ar a ponto de confundir a cabeça do ilhéu, que antes, estava acostumado com a luz de lamparina durante as noites. Os luso-brasileiros10 se deparando com pessoas desconhecidas e de linguajar e vestimentas diferentes, passavam um “ó-lho-lho” pela cabeça imaginando quem de fato eram essas pessoas, que tinham dinheiro e outras nem tanto, mas que, já estavam fazendo parte da vila Desterro. 1.1.4 Atividades produtivas dos luso-brasileiros A imigração açoriana coincide com o desenvolvimento das armações de baleia. Com isso, boa parte dos “colonos” acabou se empregando na atividade pesqueira e na construção naval. Formando a grande maioria da população da Ilha, são heranças dos filhos do Arquipélago dos açores, que ainda nos deixaram uma literatura oral e uma mitologia riquíssima, forneceram a sua linguagem local e desenvolveram aqui o engenho de farinha, a partir da combinação do moinho de vento que antes, em Portugal, era o moinho de trigo. Com a ocupação, já no século XVIII, tiveram prosperidade à agricultura e a indústria manufatureira de algodão e linho permanecendo ainda hoje. Existem vestígios 10 Pessoas com origem ou nacionalidade brasileira e portuguesa.
  • 22. 22 desse passado no que se refere à confecção artesanal da farinha de mandioca e das rendas de bilro. Os açorianos viviam da pesca e da agricultura, exploraram integralmente as pequenas extensões das terras que possuíam aqui na Vila de Nossa Senhora do Desterro, e implantaram toda sua herança cultural portuguesa. As mulheres tradicionalmente faziam renda, isso só depois de cuidar da casa e dos filhos, mulheres simples que ensinavam suas filhas mulheres a fazer renda para que um dia pudessem elaborar seu enxoval antes de casar. Os homens trabalhavam na pesca da baleia, faziam implantação das "armações" para exercer as atividades da pesca, cujo óleo era comercializado pela Coroa fora de Santa Catarina, não trazendo benefício econômico. Os açorianos aumentaram sua produção e variedades de alimentos, pois já tinham conhecimento no cultivo da terra, pois no arquipélago dos açores plantavam o trigo cuja terra era bastante fértil. Os produtos existentes aqui eram grãos, legumes, frutas, linho, algodão e outros, dando a eles vantagens e fazendo com que enriquecesse seu alimento de cada dia. Os colonos adquiriram novos conhecimentos na ilha, devido a alguns costumes exercitados pelos índios, que ensinaram técnicas de pescas, hábitos alimentares e de trabalho. Sendo assim, os mesmos adotaram tais costumes para sua vida. Segundo Silva (1999): Os açorianos ao chegar no litoral catarinense tentaram a princípio cultivar o trigo, que era a principal fonte de alimentação no arquipélago dos Açores. O trigo não vingou e acabaram adaptando-se ao alimento da terra, a mandioca. O método indígena de fazer a farinha era bastante rudimentar e pouco rendoso. Os açorianos, então, adaptaram a tecnologia dos moinhos de trigo à produção da farinha. Os açorianos trouxeram o conhecimento do moinho que utilizavam para produzir o trigo para colocar em prática aqui na ilha, vieram com a intenção de continuar com a mesma atividade de sua terra de origem, perceberam que a ilha de Santa Catarina não aceitava muito bem o trigo por causa do clima e pelas condições do solo. Já em Portugal, as terras eram vulcânicas e férteis e se aceitava bem a plantação de trigo. Então começaram a plantar a mandioca, que originalmente era da cultura indígena. A princípio, ocorreu uma mistura de cultura, a açoriana e a indígena, ambos compartilharam seus conhecimentos e logo se construíram os engenhos de farinha, e essa atividade resultou em um meio de subsistência bom e adequado. Na época da “farinhada” (um tipo de comemoração, onde famílias e vizinhos exerciam a atividade de fazer a farinha, dentro de um processo desde a colheita até a farinha ficar pronta, entre maio e agosto) e os colonos gostavam de cantar versos e contar “causos”. Esses colonos agrícolas, eram independentes em relação a sua auto-suficiência. O processo da elaboração da farinha de mandioca era com técnicas manuais em todo o seu procedimento, as próprias famílias que construíram os engenhos e costumavam trabalhar juntos desde a colheita até á hora de a farinha ficar pronta, era movida pela força dos bois. Segundo a história, já existia cerca de 450 engenhos funcionando nos arredores de toda a ilha até meados do século XX. Segundo Cardoso (2001).
  • 23. 23 Em épocas que o mar se encontrava “fértil”, de maio a agosto, os colonos deixavam suas atividades no engenho aos cuidados da família, para pescar. De agosto a novembro, por sua vez, os esforços se concentravam na lavoura. Cabe, portanto, ressaltar que a forma de produção dos meios de subsistência nas freguesias era familiar e comunitária. Conforme a autora ressalta, os colonos sempre estavam ativos em suas atividades, nesses momentos que os açorianos tiveram devido ás suas atividades, antigamente feitas em conjunto, ou seja, toda comunidade ajudava no que podia e as famílias eram muito unidas, dava maior prazer para a vida de trabalho pesado dos açorianos, mas, que em muitas das ocasiões, havia sempre motivo para cantar, principalmente em forma de versos, como era de costume naquela época. Assim era antigamente a comercialização de peixes, exposta em bancadas. Como ilustra a figura 6 abaixo entre 1898 e 1935. Figura 9: Os pescadores saíam para as suas atividades de pesca, na escuridão da madrugada e voltavam à noite, e a ilha, neste período, era imensa por ter tão pouca gente, a sensação era de vazio no sentido de não haver muitas casas, porque as freguesias eram longes umas das outras, e a falta de estradas colaborava para o isolamento das mesmas freguesias, apenas tinham contato com quem era da própria comunidade e as outras, como eram distantes, dificultava que se encontrassem. Vale ressaltar que os açorianos e madeirenses praticavam a pecuária também. Os ilhéus exerciam atividades juntamente aos parentes, vizinhos e amigos, como a pesqueira, a construção de suas casas, dos engenhos, e das igrejas, entre outros, e neste momento de alegria também cantavam juntos. Os luso-brasileiros eram muito religiosos, a vida social era baseada nas crenças e nas manifestações religiosas, se reuniam em missas, batizados, casamentos, festividades e óbitos e nestes eventos aproveitavam para fazer negócios, namorar e conversar. Buscavam a proteção divina, tinham muita fé, eram trabalhadores de caráter humildes. Os descendentes de açorianos e as gerações desses mesmos herdaram
  • 24. 24 essas características deles. Como pode-se ver no sotaque aportuguesado, nas vestimentas simples e tradições como a pesqueira e outros. Além da atividade da pesca, agricultura, pecuária e outras mais, os açorianos trouxeram de Portugal a experiência em artesanatos e a tecelagem. Segundo Cardoso (2001) “Os colonos confeccionavam suas próprias roupas, moveis, louças utilitárias e decorativas e demais utensílios caseiros” As mulheres produziam os fios, que em seguida eram transformados em tecido para a fabricação de roupas com a utilização do algodão e do linho. As luso-brasileiras bordavam e faziam renda de bilro, teciam rendas para sua vestimenta e assim, os homens, pescadores artesanais, teciam suas redes de pesca, era um trabalho feito com as mãos determinadas desses colonos esforçados. Segundo Zaluar (1978) “A renda de bilro11 é uma das mais antigas artes açoriana que se manifestou e tradicionalmente, ainda permanece desde séculos atrás. É feita por mulheres humildes que verdadeiramente mostram sua criatividade e adoração; as mães passavam para suas filhas de acordo com a tradição. Esse trabalho artesanal foi trazido por mulheres portuguesas na época em que vieram emigrar para o litoral catarinense, implantando aqui essa cultura”. As açorianas são rendeiras por amor, por opção e tradição, fazendo os desenho feitos a mão se transformarem em algo concreto, com movimentos ágeis e precisos. Fixam os materiais necessários para começar a produzir a sua arte. A renda de bilro é criada pela manipulação de numerosos fios, cada um deles preso a um bilro, sendo em geral trabalhada sobre uma almofada. Antes do século XIX ela costumava ser produzida em fios de linho, mas o algodão tornou-se mais comum. Nunca desapareceu por completo da moda, pois os vestidos de noivas e debutantes eram feitos com renda. A renda em si é feita por milhares de rendeiras, sendo também produzida comercialmente. É usada para enfeitar e dar acabamento a roupas, como blusas, vestidos, quimonos (roupões japoneses de mangas largas), camisolas, roupinhas de bebê, toalha de mesa, lençóis, etc. Enfim, a renda feita a mão é mais bem feita do que a de fábrica. No processo da elaboração da renda é; Primeiramente por uma almofada, depois o cartão ou uma espécie de papelão do tamanho da almofada, depois é feito um desenho da renda que irá ser produzida no cartão, depois deste se formam rendas com agulhas ou alfinetes em torno do desenho. A renda era uma atividade que as mulheres antigas faziam com sua bondade, e entusiasmo devido á uma tradição que se seguia, e também, era uma atividade lucrativa, faziam rendas para vender e depois compravam sua vestimenta e outras coisas. O tempo foi passando e a mulher tradicional começou a ganhar mais espaço no mercado de trabalho, tendo oportunidades de se estabelecer profissionalmente, e também, o sistema econômico atual não nos á opção de não trabalhar fora e isso fez com que a mulher rendeira da ilha deixasse de fazer renda e suas atividades tradicionais e aos poucos esquecendo-se da sua origem e se colocou a mercê do mercado, vendendo seu esforço por troca de dinheiro para ajudar nas despesas da casa e na educação de seus filhos. 11 Espécie de fuso (forma torneada, redonda) de madeira de aproximadamente 7cm, onde se colocam as linhas que seguem o papelão ou modelo de desenhos da renda, colocados sobre a almofada.
  • 25. 25 É difícil ver hoje, uma mulher já idosa, que fez muitas rendas quando era moça, tecer a renda de bilro por livre e espontânea vontade, porque desde sua adolescência foram destinadas a trabalhar fora, e quase não tiveram tempo para alguma atividade de lazer ou coisa assim. Segundo Dona Lucila : Comecei a fazê renda com 12 anos (...) pra mim comprá ropa pra mim porque a mãe não podia dá, (...) e vendia aquela renda, a até depois de moça continuei a fazê renda, eu ficava noite e dia, fazendo renda com a luz de lamparina acesa, (...)até amanhecer o dia, pa pudê vendê aquela renda e comprá vestidinho pra ir a festa, pra i no baile né? porque se não, não tinha ropa pra vestir. Assim era a forma que Dona Lucila fazia a renda, cujos recursos de antigamente que não tinham, hoje mostra a diferença. E uma mostra desta atividade se destaca com a mesma na figura abaixo. Figura 10: Dona Lucila também improvisava versos enquanto tecia as rendas: “Faço renda e sou rendeira Faço renda de biquinho Pra butá na camisa Do meu amor, meu Chiquinho” Os trabalhos artesanais foram bem vistos aos olhos de turistas que vinham aproveitar a ilha já “atualizada”, “moderna”, garantindo assim, o que é uma tradição, ir se tornando mais uma fonte de renda para os descendentes, fazendo com que os ilhéus comercializasse seus produtos no Mercado Público, no centro da cidade de Florianópolis.
  • 26. 26 A figura 8 abaixo exibe o mercado público em sua estrutura interior, sem nenhum recurso material para armazenar os produtos, e assim ficavam ao ar livre dentro do mercado na próxima página. Figura 11: 1.2 Resistência entre os nativos e “os de fora” na compreensão e compartilhamento com outras culturas. Quando se segue uma tradição, é difícil aceitar pessoas “estranhas” querendo interferir na cultura que se segue á muito tempo, esse fato ocasiona uma transformação em relação á cultura de outrem como se fosse normal ao entender delas, em determinados aspectos culturais, de forma que isso reajuste algo que possa melhorar, é válido! Porém, não atingindo em nada os valores que simbolizem a tradição cultivada, quando se trata de desvalorizar já é outra visão a ser analisada. Foi assim que Florianópolis se desenvolveu, interagindo com diversas pessoas de costumes diferentes, as culturas se misturaram e devido ao modo de vida de cada um, conhecendo regras e tentando compreender o que de fato “aquele” que parece “estranho” é de verdade e o que se pode aprender com ele e que não interfira na própria cultura tradicional. Assim, desde o Séc. XX, quando Florianópolis passou a ganhar empreendedores do setor imobiliário, começa uma série de construções, eram pessoas vendendo suas terras por um preço de baixo valor. Ainda assim, mesmo com todo esse processo, Florianópolis ainda não tinha recursos o suficiente para receber turistas em relação aos transportes, mas, devido à evolução na construção de prédios, novos migrantes vieram residir aqui. Os Florianopolitanos tiveram que lidar com transformações as quais não tinham conhecimento, e não acreditavam ter de passar por essa situação, foi difícil aceitar as modificações da cidade com breves pensamentos da desvalorização dos edifícios culturais centenários, a cidade estava crescendo aos poucos, de certa forma, alguns nativos “assustados” com as mudanças não foram muito hospitaleiros com a chegada de muitos moradores que vieram se estabelecer na cidade. Mas, de geração a geração
  • 27. 27 foram se adaptando as inovações do seu tempo e aprendendo a serem mais hospitaleiros convivendo assim com outras culturas presentes, de fato, aceitando-as. Segundo a autora Martinello (1992) falando do açoriano “ele cultiva sentimentos que fazem com que ele resista ás inovações implantadas pela modernidade, aceitar o novo exige mudança. Segundo a fala da autora, a fase de modificação mexeu com conhecimento desses nativos, pois eram acostumados ao silêncio, passavam pelas ruas e só viam gente conhecida e da mesma classe, mas teve uma demonstração a resistência quanto à aceitação dessas mudanças, essa modernidade chegava aos poucos ganhando espaço na cidade, e com o tempo tiveram que disputar muitas das coisas como o trabalho, as terras e até mesmo aumento no custo de vida. Até os dias de hoje, os nativos disputam uma vaga de emprego com os que vêm de fora, como por exemplo: Quando são abertas seleções para tal emprego, lá se encontra dezenas de pessoas, o difícil é achar nativos entre eles, a concorrência é muito grande e muitas vezes 80% são pessoas de fora que aparecem para concorrer á àquela vaga, aqui em Floripa é constante isso, e por experiência própria, já participei de muitas seleções, para cursos, oferta de emprego e sempre me deparava com pessoas que não são daqui, e assim continua as disputas por uma oportunidade. O jovem Florianópolitano tem uma visão muito diferente das que os mais velhos tem, em relação á sociedade com quem compartilham o seu dia a dia, alguns reclamam que por falta de qualificação não conseguem emprego, as exigências profissionais são grandes e para o jovem ilhéu que sempre acompanhou o ritmo de seus pais, confiando nos mesmos sobre os costumes na convivência, mesmo depois da cidade crescer e ganhar culturas diferentes, continuaram com suas vidinhas simples e humildes,porém, com uma diferença, grande parte deles mesmo vivendo de acordo com os costumes herdado de seus avós para seus pais, não são diferentes no seu jeito humilde e simples, mas querem uma oportunidade de ingressar no mercado de trabalho e conseguir um espaço profissional nesta sociedade capitalista e exigente. Esta sociedade em que vivemos trás muitas atrocidades e que de tal forma é muito visível em jornais, revistas, internet, qualquer outro meio de comunicação. Segundo Priscila, uma jovem nativa comenta: Emprego... Eles não dão oportunidade para as pessoas que não tem experiência, tipo assim, para consegui uma experiência numa firma tem que experiência daqui e dali, se eles não dão oportunidade a gente não vai ter o emprego que a gente quer pra trabalhar. Ela fala que as oportunidades são poucas por causa da falta de qualificação, e até mesmo de experiência na área, não é somente uma experiência técnica que conta muito, a prática que é mais exigida, e para alguns recém-formados essa realidade é difícil, o sonho realizado, mas, não praticado! E isso também faz que com que profissionais de uma área procurem outras mais fáceis de os fazer ingressarem no mercado de trabalho.
  • 28. 28 Segundo Melo (2009): (...) Nós agimos com certa intencionalidade. Ao mesmo tempo, todas as nossas vivências anteriores interferem nas nossas ações. Nós, como seres que vão se constituindo historicamente, partimos sempre do já vivido, por nós ou pelas gerações anteriores. Ou seja, somos frutos da história da humanidade e da nossa própria história (...) Segundo as expressões do autor, de certa forma, conhecimento gera mais conhecimento, devido ao nosso processo histórico de vida, a história que se tem é a experiência que se adquiriu para ser anexada ao presente para eventuais acontecimentos que precisem do conhecimento dessa história. O conhecimento que se tem diante da trajetória de vida seja ela qual for, são resquícios das “vivências anteriores” que interferem nas nossas ações “somos guiados por uma certa intenção” de querer realizar algo colocando essa experiência em prática. Segundo o autor Melo (2009): (...) Quando temos que realizar um trabalho nós o fazemos levando em conta esses conhecimentos adquiridos anteriormente. Assim, quando atuamos sobre o mundo para satisfazer nossas necessidades somos guiados por uma certa intenção pelos nossos conhecimentos e pelas respostas que damos às resistências encontradas nessa tentativa de apropriação da natureza. De acordo com Melo, todas as nossas ações, são conforme os conhecimentos que adquirimos no decorrer das nossas vidas, isto é, tradições que envolvem valores, princípios, e os aprendizados fora deste da tradição familiar , agimos com propósitos, de acordo com nossos conhecimento. Florianópolis tem diversas pessoas culturalmente diferentes e cada uma atua de acordo com suas vivências anteriores e também com as que aprenderam devido à convivência com pessoas de outros costumes no decorrer de suas vidas. Com idas e vindas de pessoas desconhecidas passando pelas ruas, rostos diferentes, vestimenta, costumes, começa á chamar a atenção do nativo que não era acostumado a lidar com pessoas que não fosse da mesma cultura. Certas vezes eram vistos como “carrancudos” por não saberem ser receptivos, e não abrirem mão de sua tradição cultural devido ao choque cultural, os nativos achavam que estes estranhos vieram com o propósito de invadir seu território mudando os aspectos da cultura local de forma, não simpatizavam com esses, pois bagunçavam suas cabeças com tanta modernidade no qual não estavam acostumados. Existia um modo de vida comum entre eles e que a cada dia se renovava nas ruas da cidade. Para muitos nativos, antigamente, os “de fora” eram apenas amigos de “Bom dia” e ”Boa noite” e de vez em quando alguns assuntos em comum, mas meio cortados. Porém, embora dividissem espaços tão próximos, criando um ambiente para quem sabe gerar oportunidade para alguma conversa não havia muita sociabilidade e segundo Fantin (2000) sequer nem se conheciam e, antigamente eles se encontravam por causa dos filhos que brincavam na rua juntos, como brincadeiras de ruas, jogando futebol, andando de bicicleta, etc. E isso fazia de algum modo que ambos se encontrassem,
  • 29. 29 fazendo com que eles se submetessem a tentar terem algum tipo de relação por causa dos filhos e também das diferenças. Com o passar do tempo os de fora começaram a conviver com os nativos, conhecendo a cultura local, tradições e costumes, fazendo então com que o eu original deles se transformasse de alguma forma por causa da convivência, devido aos nativos que para os que chegaram eram “estranhos” com sotaques diferentes, falar rápido e cantante, com vestimentas tão simples e jeito despreocupado. Muitos tiveram que se adaptar à cultura açoriana, mas outros vieram com suas culturas e agregaram junto aos nativos fazendo mudanças com a aceitação de alguns mais compreensivos. Com o crescimento populacional de Floripa, o cenário da cidade foi se modificando devido ao novo ritmo na urbanização, nos bairros, nas ruas, nos morros. Logo começaram a vir pessoas de todos os lugares, e assim a cidade começou a ter outros donos, outros que encontraram na cidade o lugar ideal pra buscar qualidade de vida, alguns pra realizar seu sonho buscando um pedaço de chão pra sobreviver e outrem pelo encantamento da cidade. Esta cidade, com sua popularidade à mercê das oportunidades foi atraindo profissionais especialmente depois da fundação da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). Pessoas de todos os lugares, tais como funcionários públicos e muitos estudantes para ingressar na faculdade, e outros já formados buscando aqui a sua estabilidade profissional, logo depois, segundo Fantin (2000) com a instalação da Eletrosul, Celesc e Telesc, as vagas de emprego ganharam mais força, dando oportunidade para todas as pessoas residentes desta cidade, inclusive para os nativos. Novas oportunidades estavam se desenvolvendo e socialmente se agregando ao novo ritmo de Floripa, Chamando a atenção de engenheiros e arquitetos por causa do crescimento imobiliário. Nativos venderam suas terras para empreendedores do setor imobiliário Segundo Fantin (2000) Os novos moradores da cidade fizeram suas casas, muitos se alojaram próximos do local de trabalho, a mudança de valores era visível à atitude dos ‘de fora sendo estranha para os nativos, sentiam que tinham que conviver socialmente com os costumes que eles não tinham conhecimento, porém eram reservados demais e desconfiados para algum tipo de conversa. Tinha que estabelecer um convívio com estudantes, turistas, e pessoas que residiam ali que ganhavam bastante dinheiro como paulistas, gaúchos, cariocas, paranaenses o que provocava o aumento do custo de vida da cidade. Mas, embora os nativos não gostassem deles, essa “gente de fora” possibilitou uma rede de serviços para os mesmos. As pessoas olham pra cá com a idéia de viver bem, de que aqui é o lugar para se estar, motivado de um lado, pela oferta de emprego, e por outro pelo charme que a cidade oferece com sua beleza exuberante. Profissionais de outros lugares vieram estacionar aqui, marcando presença e deixando sua bagagem pra construir sua moradia no decorrer de sua permanência na cidade e lançando-se no mercado de trabalho ou fazendo empreendimentos e gerando mais oferta de emprego, assim atraindo mais pessoas de fora pra morar aqui e sucessivamente. Segue abaixo o percentual de habitantes, desde a década de 50 antes da fundação da UFSC até hoje.
  • 30. 30 Este gráfico apresenta o número de habitantes que colaboraram para o crescimento de Florianópolis. Desde a década 50 com 67.630 habitantes na grande Florianópolis e depois da fundação da UFSC a partir da década de 60, o número de novos moradores foi aumentando cada vez mais e sempre pelos mesmos motivos, melhoria de vida. Segundo o dicionário online Wikipédia, A cidade soma cerca de 10 mil novos moradores por ano, além de dobrar sua população durante a temporada de verão. Tal incontestável crescimento desordenado gera, algumas vezes, transtornos a uma parte da população, que manifesta sua insatisfação através de comportamento segregador, por vezes de forma violenta. Percebe-se que a partir da década de 80 se obteve mais que 60 mil habitantes equivalentes a 187.871 como mostra o gráfico. A tendência é só aumentar cada vez mais, pelo fato da cidade ser prioridade para fazer turismo. E hoje, a cidade, se baseia na mistura de culturas. Quando os turistas visitam a cidade, aproveitam e muito, porque muitos conhecem muito mais lugares do que alguns nativos, pelo fato de gostarem de ficar com suas famílias e não terem o hábito de ir à praia com a intenção de aproveitar, de fato porque sempre viveram na praia. Porém, segundo Fantin (2000) nas ruas da cidade já não se encontra aquela mesma familiaridade de olhares amigos, daquelas pessoas que costumavam se ver com freqüência sem ter a presença de pessoas estranhas. Hoje já se encontra muitos nativos antigos entre os “de fora” e isso é muito normal. Já não se consegue enxergar quem é quem. Antigamente o lugar era grande, os nativos não tinham estudo, mas tinham trabalho e dava pra se viver. Hoje há novas técnicas de regulamentação de trabalho e quem estuda na nova geração e se for procurar emprego enfrenta dificuldades, segundo (Bárbara, 2008) comenta:
  • 31. 31 O desemprego cresce em todas as faixas de escolaridade. Entretanto, o discurso dominante prega que a causa é a falta de qualificação (Formal ou Informal) do trabalhador, vinculando assim a falta de trabalho à escolaridade deficiente. O desemprego é constantemente encontrado, as pessoas não se qualificam para a determinada função que quer exercer, hoje até mesmo um papel comprovando a qualificação que se tem ainda não é suficiente para que portas abram para o mercado de trabalho, pois, a qualificação padronizada que o empregador exige para admitir um funcionário. A autora fala a pura realidade de hoje, mesmo que uma pessoa tenha o 2° grau completo, um curso superior ou técnico, o mercado muitas vezes exige a experiência na prática e não técnica, como por exemplo: Nos classificados de jornais, na página de empregos e oportunidades, é destacado no anúncio as exigências e depois os benefícios, assim, quando se lê primeiramente as exigências não é preciso terminar de ler se as mesmas não foram do perfil da pessoa. É uma forma de “enxugar” a concorrência. Antigamente as pessoas comiam do que plantavam e era uma forma de subsistência, devido ao conhecimento ancestral passado á gerações, um exemplo disso, segundo Neves (2008) com a fala de seu Maneca no seu texto: Seu Maneca, encafifado, pergunta: - Oh José, me ajuda a entender. A gente tinha todas essas terras desde meus bisavós. Usávamos pra plantar de tudo(...)mandioca no areião(...)café nas encostas do morro. A gente produzia quase tudo o que precisava pra viver desde a fiação e confecção dos tecidos de roupas até as ferramentas de trabalho na lavoura. A gente tecia as redes e pescava de tudo (...). Consumia o necessário. Escalava para consumo e vendia o que sobrava. A gente construía os engenhos para produzir farinha.(...) A terra só tinha valor para as plantações que a gente precisava(...) Já não se planta mandioca como antes e por causa disso os engenhos foram fechando, terras foram vendidas a preço baixo, para o povo de fora ou para as empreiteiras, virando terreno para construção de prédios e mais prédios. Na época de temporada, por exemplo: Turistas, visitantes, excursionistas, enchem a cidade, principalmente as praias, para alguns nativos é difícil ainda a convivência com alguns turistas por se sentirem “desrespeitados” ou “atropelados”. Segundo Alves ( 2003), “a única coisa que perturba a harmonia do ambiente são os turistas” e segundo essa afirmação ele diz: (...) Alguns . Eles não viajam a fim de ver o mar, ouvir o vento, sentir a areia. Eles só querem mudar o cenário para fazer as coisas que fazem sempre.
  • 32. 32 1.2.1 Definindo o multiculturalismo - Choque cultural Constata-se aqui na ilha o multiculturalismo12 , de fato se convive com a existência de muitas culturas na mesma localidade, ou seja, “Floripa” passou a ser um “mosaico cultural”, pois ao passar por ela, turistas, visitantes, excursionistas, e nós moradores da capital de santa Catarina, temos oportunidades de nos envolver e conhecer diversas culturas e um bom exemplo está nos serviços gastronômicos não se esquecendo dos bons frutos do mar de origem açoriana. Aqui se mostra a diversidade de ideias, como a linguagem, danças, vestuário e tradições e se englobam junto às outras culturas. Diferentes angulos de visão, referentes a crenças, comportamentos, valores, instituições, regras morais que permeiam e "preenchem" a sociedade. Segundo historiadores: Multiculturalismo (...) é a mistura de culturas. Trata-se da miscigenação dos credos e culturas que ocorrem (...) desde os tempos da colonização. E uma das principais características da cultura brasileira é esta diversidade. O processo imigratório teve grande importância para a formação desta cultura. O Brasil incorpora em seu território culturas de todas as partes do mundo. (...) este processo de imigração começou em 1530 quando os portugueses deram início à colonização do Brasil. Os primeiros imigrantes não-portugueses que vieram para o Brasil foram os africanos, que eram utilizados como escravos nas lavouras de café. (...) para cá vieram imigrantes de fora de Portugal à procura de oportunidades. Vieram suíços, alemães, eslavos, turcos, árabes, italianos, japoneses, entre outros. O choque cultural é constante e antigamente não era fácil lidar com essa modernidade, mas hoje já é normal as pessoas se encontrarem nas ruas, e não se estranharem mais, a modernidade aderiu uma aceitação devido a este tempo e também porque é visível e não se pode fingir que não vê. Segundo Carvalho (2008) em relação á mistura de cultura. (...) um enorme contingente populacional desloca-se entre as regiões do planeta, abandonando a sua terra natal. Ao estabelece-se em novos territórios em meio a culturas diferentes esses imigrantes se defrontam com hábitos e costumes desconhecidos e estranhos. Dessa forma a preservação constituía-se numa estratégia de não diluir suas raízes (...) 12 Segundo o site de enciclopédia livre, Wikipédia: “E uma das principais características da cultura brasileira é esta diversidade. O processo imigratório teve grande importância para a formação desta cultura. O Brasil incorpora em seu território culturas de todas as partes do mundo. Podemos dizer ue este processo de imigração começou em 1530 quando os portugueses deram início à colonização do Brasil. Os primeiros imigrantes não-portugueses que vieram para o Brasil foram os africanos, que eram utilizados como escravos nas lavouras de café.”
  • 33. 33 A autora destaca o enfraquecimento das raízes do lugar em que é povoado por pessoas de outras culturas, e que ao se deparar com os costumes locais, estranham e isso se chama choque cultural, algo freqüente depois que começou as imigrações e migrações direcionadas á ilha de Santa Catarina, várias culturas se misturando, pessoas de hábitos diferentes causando pontos de interrogação na cabeça de outrem. O motivo dessa mudança de um lugar para outro, eram muitas vezes por questões financeiras, oportunidade de crescimento, ás vezes era difícil a adaptação, dependendo da época. Nos dias de hoje devido á tecnologia, por exemplo: a internet, por esse meio de comunicação se pode viajar e conhecer qualquer lugar sem sair do espaço que se encontra, ou seja, virtualmente. A televisão é outro exemplo, segundo Larentes (2007) fala o seguinte: Desde que surgiu pela primeira vez no Brasil, em 1951, a televisão tem sido objeto de polemicas. Para alguns foi um avanço, pois permitiu a visualização dos programas que antes só se podia ouvir através do rádio. Porém, possibilitou a integração nacional e o acesso a novas informações. Dessa forma, as pessoas tinham acesso a televisão que trazia conhecimentos de culturas diferentes devido as propagandas, e por causa desse meio de comunicação, as pessoas passaram a ficar mais em casa. Como conta Dona Lucila, um episódio que ela presenciou: Uma vez eu tinha uma televisão no Campeche, a minha vizinha olhou pra televisão, e da-lhe a tocar música né? Ela assim ó: “vou lá dentro” . Fazê o que? “ Vou lá dentro fazer um cafézinho, porque os homi ali coitado, eles ficam cansado” Os homi na televisão e ela queria fazê café pra dá pra eles. “Fazê um cafézinnho ‘pra queles’ coitado tomá, porquê eles tão com fome”. É isso que acontece, no momento que uma pessoa se coloca na frente de algo que não sabe o seu verdadeiro uso, se defronta com a dificuldade. E nesta época a TV transmitia os canais em preto e branco. E por causa desta tecnologia, as comunidades passaram a ficar mais em casa, assistindo as novelas, programas, se entretendo com o novo a atração e sedução. Os moradores da cidade de Florianópolis têm uma maneira simples de se vestir; morando na praia o pessoal vive andando de sandália de dedo e bermuda, não ligam para o que os outros pensam principalmente se for alguém que não é da localidade. Ás vezes aquele que acredita em si mesmo é muito melhor do que aquele que acredita só na sua aparência. Os nativos são pessoas assim, reservadas, mas humildes e simples, apesar de serem conhecidos como pessoais difíceis. Hoje, conta com 88 bairros espalhados pelo norte, sul e parte continental, com moradores de todos os lugares, etnias, raças, classe social, etc. Segundo Wikipédia: Florianópolis tem sua economia alicerçada basicamente nas atividades do comércio, prestação de serviços públicos, indústria de transformação e turismo. Ultimamente, a indústria do vestuário e a informática vêm-se tornando também setores de excepcional desenvolvimento. A construção civil também é outra importante atividade econômica da cidade
  • 34. 34 E assim, a cidade é dotada por uma diversidade de culturas, cheia de histórias baseadas na sua arquitetura, cultura pelas ruas, onde se encontram, museus, pontos históricos que se vê principalmente no centro de Florianópolis, pontos turísticos, fortalezas, boas universidades, públicas e particulares, Shoppings, casas noturnas para se curtir uma balada, a qual agrada qualquer turista na temporada, e não menos importantes às praias que lotam no verão. Porém, certas desordens são frutos da lotação de pessoas vindas de outras cidades e também das construções em lugares indevidos, no sentido de que, empreendedores do setor imobiliário, não verificaram se era uma zona a ser explorada de acordo com normais ambientais, respeitando a infra-estrutura básica. A cidade passou a estar mais poluída, devido ao “monte de pessoas” que sujam os lugares e não se preocupam em preservar a natureza, cuja beleza às vezes passa a sensação de ser artificial aos olhos de outrem, e essa situação é encontrada diariamente, não só em questão de sujeiras visíveis, mas invisíveis também, a ponto de ser sentida pelos ares desta cidade. Diversos transtornos acabam ocorrendo, a cidade tem que estar pronta para atender tanta gente, um exemplo disso é quando as pessoas sem recursos para pagar um médico ficam doentes e correm para as filas dos postos de saúde para ser atendidas horas depois; esperam tanto para se consultar e às vezes nem chegam a ser atendidas. Apesar de Florianópolis ser uma ilha muito bela, cujos turistas procuram suas praias todos os verões, não é só flores. É uma cidade qualquer, que também sofre com seus períodos de transformação.
  • 35. 35 CAPÍTULO 2 TRADIÇÕES FESTIVAS - DANÇAS, CANTIGAS E FOLGUEDOS
  • 36. 36 A herança das festividades culturais que foram exercidas pelos açorianos, índios e negros é muito presente na ilha, porém com algumas modificações, sendo estas festividades a tradição que mais se segue, um bom exemplo é o Boi-de-mamão, a Festa do Divino, Folia de Reis e outros. Com a ajuda do governo da cidade, essa tradição continuou nas novas gerações, tendo espaços para serem divulgadas, e um destes é na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e com a ajuda de historiadores da ilha, que ajudam a manter essa tradição, passando para as pessoas a história. Estas festividades, que envolvem as danças, cantigas e brincadeiras, foram agregadas aos florianopolitanos, preservada devido à origem de seus ancestrais. As pessoas se reuniam para celebrar na intenção de festejar cantando alegremente. Estes costumes ressaltam na vivência não só entre os descendentes, a cultura. Essa cultura chama a atenção de quem vem visitar e quem vem fazer turismo sendo que alguns mostram encantamento por essas manifestações culturais dos ilhéus. Eis aqui, demonstrado no enredo do samba de 2009 do bloco “baiacu de alguém” de Santo Antônio de Lisboa, que na sua letra resgata as tradições com muito carinho. Vai buscar o tipiti que hoje tem farinhada Festa da cruz lá no sambaqui Em Santo Antônio começou a batucada É o baiacu que vem por aí Pescadores! Pescadores de cultura já é hora de lançar Nossa rede pelo mar da cultura popular Pão-Por-Deus, Terno de Reis o Divino e a Chamarrita Te alevanta boi dourado Vem dançar o Pau-de-Fita Não podemos esquecer as nossas tradições O presente sem passado é um mundo de ilusões Vamos todos aprender com os seres fantásticos e reias A lição do mestre Franklin Joaquim Cascaes No balanço da bruxa quero balançar Vigiar pelos ares com o boitatá Recolher estrelas pra uma rede tecer E a bela ilha proteger Pescadores de cultura – Autoria de Denise de Castro Neste enredo, a manifestação da cultura popular se destaca na busca das tradições antigas e as recentes ainda vividas, para que o esquecimento da mesma não seja grande e que a história seja lembrada por todos que residem aqui na ilha, pois não se pode esquecer um passado que resultou numa transformação cultural tão imensa. A seguir, o contexto apresentará a descrição e algumas considerações sobre cada uma destas danças.
  • 37. 37 2.12.12.12.1 Folia de Reis É uma festa de origem portuguesa para comemorar o nascimento de Jesus, ligada às comemorações do culto católico do Natal durante 12 dias até seis de janeiro, dia dos reis magos sendo eles denominados Melchior, Baltazar e Gaspar, os quais passaram a ser referenciados como santos. Seu enredo lembra a viagem que os três reis magos fizeram a Belém para encontrar o Menino Jesus. Anunciava-se o acontecimento com foliões caminhando pelas ruas com seus instrumentos, fantasiados de reis cujas roupas na maioria são de cetim de cores vivas, ao som do violão, pandeiro, cavaquinho e tambores com o propósito de recitar versos como estes abaixo, segundo os foliões: “- A esmola que vóis dá / Nois viemo arrecebê / O glorioso santo Reis / É quem vai agradecê. - Santo Reis pede esmola / Não é ouro nem dinhêro / Ele pede um agitoru (adjutório) / Um alimento pros festero. - Ó de casa, ó de casa / Alegra esse moradô / Que o glorioso santo Reis / Na sua porta chegô. - Aqui está o santo Reis / Meia-noite foras dora / Procurou vossa morada / Pedino a sua ismola. - Sôr dono da casa / Vem abri as portaria / Recebê santo Reis / Com sua nobre folia. - Sôr dono da casa / Alegra o seu coração / Arreceba santo Reis / Com todos os seus folião. - Concluímo este canto / Fazeno o siná da cruz / Pade, Fio, Esprito Santo / Para sempre, amém Jesus. - Santos Reis vai despedindo / Deixando muita saudade. / Vai deixando muita benção / Pro povo desta cidade. “ A manifestação cultural Folia de Reis, era dotada por bandeiras coloridas carregadas pelos foliões e diziam que era abençoada e que protegia contra as más influências, enfeitada com fitas e santinhos. O grupo muitas vezes se compõe também de dançarinos, palhaços e outras figuras folclóricas devidamente caracterizadas segundo as lendas e tradições locais. Dize-se que os foliões pediam esmolas, com a arrecadação sendo gasta depois em comes e bebes para todos, uma festa popular que ainda sobrevive em cidadezinhas brasileiras. Mas, com o tempo as cantigas de origem natalina se modificaram trazendo em suas letras o tema de “visita em residências” com o mesmo objetivo, o de recitar versos. E como as pessoas não esquecem coisas... Lembro quando era criança, em uma tarde pré-natalina quando minha mãe e eu estávamos em casa, no bairro João Paulo, ouvimos o barulho de tambores e cantorias, acompanhando o ritmo dos instrumentos tocados no decorrer da caminhada que faziam, pois o barulho se aproximava cada vez mais e então, vinham subindo a minha rua e cada vez mais próximo e eu nem tinha idéia do que era quando minha mãe me explicou: era o pessoal da igreja, vestiam fantasias e
  • 38. 38 vinham pedir dinheiro nas casas cujas portas das salas teriam que estar abertas com a intenção de já receber os mesmos. Então, eles entravam pela porta da sala, diziam algumas palavras pegavam sua recompensa e agradeciam e logo continuavam em busca de mais casas com portas das salas abertas, para assim, continuarem a sua tradição cultural. Hoje em dia tudo já mudou, e verifiquei isso pessoalmente: certo dia eu caminhando no centro da cidade com minha mãe, e avistei um caminhão enorme com uma de suas laterais abertas virada para o público que vinha de trás do camelô, ao lado do mercado público, certamente era um palco com uns homens vestidos de brando com chapéu de palha e uns instrumentos, cantando uma daquelas músicas antigas sertanejas em versos e que tinha a atenção de muitas pessoas que no qual a faixa etária era mais de idosos e logo em baixo do caminhão, estava escrito: - Folia de reis até seis de janeiro. Dize-se que, uma das formas de sobrevivência da manifestação folclórica, especialmente nas grandes cidades, foi à incorporação nos Ternos de elementos figurativos, com a finalidade de promover apresentações para turistas, sendo chamado de Terno de Reis cujo significado é o mesmo, o de Folia de Reis. Eis abaixo duas figuras 9 e 10, demostrando a folias de reis. Figura 12: Figura 13:
  • 39. 39 2.2 Pau de fita É afirmado por historiadores que, esse tipo de dança já era existente antes que descobrissem a América. Em algumas tribos indígenas o pau de fita significava a dança da fertilidade, a qual era executada em torno de um toten, ou seja, em torno de algo que era um símbolo que os indígenas tinham a mesma adoração que tem por Deus. E que em torno desse objeto às mulheres estéreis realizavam um culto com intenção de invocar a atenção dos DEUSES para que pudessem pôr fim à esterilidades das mesmas. A dança organiza um grupo de “damas” e “cavalheiros” contando com 10 á 12 integrantes. A dança pode ser ao ar livre ou em um salão, ficando um mastro (pau) no centro, com fitas coloridas, amarradas em seu topo. Cada par pega a fita da mesma cor e assim começa a dança, cantando ao redor do pau de fita no qual as mulheres giram para um lado e os homens para outro formando uma trança complicada e, assim que a trança é feita, os participantes giram para o lado ao contrário do que dançavam para que a trança seja desfeita sem errar com a continuação do canto. Outros que participam por fora, acompanhando com instrumentos musicais que tocam pra dar ritmo à cantoria. Segundo Volpatto (2009). Nos países de origem portuguesa, ela geralmente está associada à Dança dos arcos e flores e à Jardineira. A apresentação desta dança é uma das mais bonitas do folclore catarinense. Para o seu desenvolvimento é necessário um mastro com cerca de três metros de comprimento, encimado por um conjunto de largas fitas muilticoloridas. Os dançadores, sempre em número par, seguram na extremidade de cada fita e, ao som de músicas características, giram em torno do mastro, revezando os pares de modo a compor trançados no próprio mastro, com variados e coloridos desenhos. Segundo historiadores, o pau de fita é de múltipla origem portuguesa, alemã e hispânica. Em Florianópolis é originário dos Açores, é também chamada Jardineira ou Dança dos Arcos e Flores, Dança-do-mastro, Dança-das-fitas e Dança-das-tranças. Costuma-se praticá-la como recreação infantil nas escolas, enquanto se dá a cantoria em verso com a execução da apresentação. Sendo o trançamento o centro das apresentações, na Ilha desenvolveram-se várias formas, possuindo denominações tradicionais, como o Tramadinho, a Rede-de-pescador, o Trenzinho e a Trança- feiticeira. E assim, foi-se transformando, Porém não foi esquecida e ainda continua sendo exercida. A figura 14 demonstra um pouco desta dança no Mercado Público. Figura 14:
  • 40. 40 2.3 Ratoeira A Ratoeira é a ciranda brasileira, legitimamente enraizada na cultura açoriana, uma espécie de jogo que era praticado na época da “farinhada” segundo historiadores e, que desapareceu, quando os engenhos de farinha pararam de funcionar. A cantiga é semelhante à “Ciranda Cirandinha”. A Ratoeira tinha o propósito de fazer todas as pessoas expressarem o que sentiam (amor, carinho, satisfação, amizade, tristeza, raiva, etc.). Antigamente, os homens também participavam, não era só de mulheres como se apresenta hoje, mas com o tempo deu-se a extinção dos mesmos na participação dessa brincadeira. Era geralmente brincada nos feriados, aos domingos à tarde, nas festas, nas reuniões de famílias e também em bailes onde os rapazes pediam permissão aos pais das moças que gostariam de flertar e assim levá-las ao baile e dançar a ratoeira. A brincadeira começava quando os casais se encontravam e formavam uma roda, e cada par era chamada para ir ao centro e recitar versos de acordo com o sentimento daquele momento. A brincadeira era tão prazerosa de fazer que, naquela época, por vezes a roda ficava tão grande que era necessário montar outra e assim continuar a brincadeira. Começava com o verso de entrada: “Ratoeira bem cantada Faz chorar, faz padecer Também faz triste o amante De seu amor esquecer ” Depois os participantes tinham que improvisar com sua inteligência e sentimento do momento, o verso que falariam na roda para a pessoa desejada, sendo que todos saberiam de seus sentimentos. E Dona Lucila Cantava: “Botei cravo na janela Pro meu amor cherá Meu amor foi tão ingrato Que deixou o cravo secar” E assim, com uma explosão de alegria para aqueles que participavam na época e que hoje trazem boas lembranças, são recordações simbolizando a saudade antiga na maneira de viver, fazendo com que os “manezinhos da ilha” e pessoas de outras cidades que tiveram conhecimento dessa cantiga, lembrem da sua juventude e sintam saudade daquele tempo tão calmo, sereno e prazeroso por não ter a atrocidade que hoje tem. Dona Lucila também brincou muito de ratoeira e na época não havia muitos homens que gostavam de brincar e assim a roda era pequena, as mulheres se reuniam e brincavam juntas e assim recitavam versos.
  • 41. 41 “Brincava muito de ratoeira, quando nós ia pas festas assim, chegava lá, combinava ia brincá mas não tinha muito visinho pra ter colega né? Era poco, não dava de fazê a roda E assim se fazia a roda e cada uma recitava um verso. Eis abaixo na figura 15, a roda da ratoeira. Mulheres e homens recitando versos espontâneos. Figura 15: 2.4 Pão-por-Deus Era uma forma de “pedir aos reis” amor, carinho e amizade, por jovens em meados do Séc. XVII de origem açoriana e se baseia na comunicação das pessoas que se sentiam apaixonados. O Pão por Deus era um recorte de papel em forma de coração bordado na maioria das vezes com um tipo de fio da renda de bilro. Feito o coração com o papel de seda, bordado com fio de renda, no centro do coração se escrevia versos, dentro de um envelope, destinado à pessoa amiga, namorada ou namorado. Servia também como “correio” ás pessoas se comunicarem com aqueles que despertassem a dedicação do seu amor. Naquela época o rapaz não podia falar diretamente com a moça, por isso utilizava o Pão-por-Deus, era questão de respeito, então, ele mandava o seu Pão-por- Deus destinado àquela pelo qual seu coração batesse mais forte e a moça correspondia com gestos como sorrisos ou piscadas e até mesmo com outro Pão-por-Deus. Vai um trecho de um Pão-por-Deus:
  • 42. 42 “Lá vai meu coração Meu querido visitar Vai pedir o pão-por-Deus Perdoe o amigo, incomodar.”“Aqui vai meu coração Nos arquipélago dos Açores geralmente esse costume acontecia entre 1 e 2 de novembro e a tradição consistia em que as crianças pediam pão e guloseimas e aqui no Brasil cuja dinâmica do folclore passou a ser utilizada pelos namorados para pedir amor e logo por todas as pessoas, com a finalidade de se conhecer, pedindo amor, carinho e amizade. Abaixo uma demonstração do Pão-por-Deus nas figuras 16 e 17. 2.5 Boi de mamão Este folguedo tem algumas interpretações, cujos participantes entendem o fundamento da brincadeira de acordo com a sua cultura, devido aos seus ensinamentos. Segundo a pesquisadora Cavalcanti (2009): Antigamente o folguedo do boi era conhecido como bumba-meu-boi, depois boi-de-pano, mas, com a pressa de se fazer uma cabeça, foi usado um mamão verde, e quando foi apresentado recebeu o nome de boi-de- mamão. Nome este mantido até a época atual, onde se vêem bois com
  • 43. 43 cabeças de todos os tipos, até mesmo de boi. Há quem contrarie essa versão dizendo vir o nome “boi-de-mamão” do boi que mama. Então, eis aqui algumas versões segundo historiadores. Em uma das versões, diz-se que o nome Boi de mamão veio através da brincadeira de fazer a cabeça do boi com o mamão verde, e que inicialmente foi criada para as crianças brincarem, e que mais tarde os adultos entraram na brincadeira. Em outra versão, dizem que o Boi-de-mamão, vem da palavra “mamado”, que seria um bêbado, pois as pessoas consumiam muita bebida alcoólica durante o folguedo. E esta brincadeira expandiu-se com o decorrer dos anos ganhando mais figuras Segundo o dicionário on-line de enciclopédia Wikipédia (1996): O boi-de-mamão inerentemente usa voluntários para protagonizarem o festejo, sendo que estes são postos sob as fantasias, que são feitas por uma armação de metal ou madeira e por pano. Entre as figuras que aparecem no boi-de-mamão estão: o boi, o proprietário do boi, a bernuncia e seu filhote, a Maricota, o doutor, a viúva, o cavalinho, os outros bois, os corvos, podendo faltar algumas delas. Lembrasse isso e um mito. Mas aqui na ilha a versão atual só aparece no Séc. XX. Até esses tempos era somente o boi, a cabrinha, o cavalinho, o vaqueiro e o pai Matheus. Segundo pesquisadores, nos anos que se seguiram até os dias atuais, foram acrescentados outros elementos a este folguedo, bem como a batida sofreu influência de ritmos africanos. Os novos elementos incorporados ao folguedo foram a Maricota e a Bernúnçia. A Bernúncia, cujo tamanho é o mesmo na horizontal da Maricota tem uma aparência assustadora. E assim, a Bernúncia passou a fazer parte da folguedo representando o bicho-papão, que a maioria das crianças tinha muito medo. A origem da Bernúncia segundo pesquisadores do assunto: A Bernúnçia teria sido inventada na praia do estaleirinho quando aquela localidade ainda pertencia a Itajaí. Dizem que o bicho foi inventado por um indivíduo daquelas paragens que procurou fazê-lo o mais grotesco possível. Antes dele exibir o bicho na dança do Boi de Mamão foi mostrar para sua velha tia e, ao abrir a boca do bicho para a velha senhora ver, o susto dela foi tão grande que tremendo de nervosa ela esconjurou, repetindo o sinal da cruz varias vezes dizendo: "Abrenúncio!, Abrenúncio!"Não sabia a velha senhora que estava nomeando o bicho "Bernúnça. Já a Maricota passou a fazer parte do folguedo nos anos 60, segundo afirmam historiadores. Ela simboliza a figura de uma mulher livre de opressões, trajando roupas coloridas, que se maquia com extravagância, se movimenta e dança sem preconceitos. Ela é feita de madeira com aproximadamente três metros de altura, a cabeça é uma máscara com cara de mulher, exagerada, os braços são soltos, uma das mãos porta uma pequena bolsa e nas orelhas, brincos grandes. Eis aqui uma versão do surgimento da Maricota, conforme pesquisadores: Acredita-se ter sido baseada num componente circense, durante a apresentação de um circo na Ilha-capital. Era esta uma mulher muito alta, que interagia com palhaços. Essa interação acontecia de uma forma bem violenta. A mulher ficava distribuindo bofetadas nos dois palhaços, e esses tentavam fugir de seus golpes.
  • 44. 44 Ela era “um componente circense”, conforme historiadores, ela era agredida e por isso também batia nos palhaços do circo. O cavalinho também como figura nova. O Cavalinho, embora a maioria das pessoas não perceba, é a figura mais compenetrada em seu papel, apresentando movimentos perfeitos. Seus rodopios são calculados, seus movimentos são rápidos, boleando ou em volta do boi ou investindo contra a platéia. O ponto culminante desse folguedo é a cena do laço. Quando o Vaqueiro laça o boi, após sua ressurreição, toda a platéia aplaude. Já o boi, que pressente o laço, corcoveia, mas o Vaqueiro deve envolver as aspas do boi , para fazer sua retirada, antes que machuque alguém. Já os restantes dos componentes como o urso preto, o urso branco e o macaco, já eram elementos para que as crianças brincassem, em roda. O cachorro e o Urubu são criaturas que só aparecem na hora em que o boi morre; tem a intenção de atrapalhar o vaqueiro. Assim, essa brincadeira continua perpetuando na ilha de Santa Catarina, contando com crianças dessa geração que participam nas escolas e em sua comunidade. O Boi de Mamão é manifestado em festas juninas aqui na ilha e também em festas relacionadas á cultura açoriana, onde se desenvolve também em projetos sociais e culturais. No Município de Florianópolis, concretamente, o folguedo alcançou, contemporaneamente, maior expressão do que qualquer outra manifestação da cultura local. O movimento de sua coreografia é mais alegria, com sua música e o colorido do seu figurino que são ingredientes de bondade, a que é acrescida ainda a característica de um forte apelo tradicional que encanta especialmente o público infantil, são vários os motivos suficientes para atraírem incentivos à sua montagem. Segundo historiadores: Sobre o Boi-de-mamão há quem fale de que, nas representações desses autos populares, há muitos anos atrás, usava-se de mamão verde para a confecção da cabeça do boi, de onde teria surgido o termo local, que logo se teria espalhado por todo o litoral catarinense. Nada há, porém, de positivo. Tal origem, como a da própria formação dessas danças populares, deve estar perdida nas sombras de infra-história e só um acaso poderá fazer luz sobre o assunto. O Boi de mamão se tornou uma brincadeira especial. Ao longo dos anos foi se diversificando o figurino, os integrantes, e nos versos cantados, umas alterações com novos versos. Muitos florianopolitanos que na infância aprenderam a cantar o tema do boi de mamão, não se esqueceram! A música é mais extensa porque ganhou mais versos devido às novas figuras que foram surgindo dando asas à imaginação e à criatividade. Nessa brincadeira, em meio a cantorias, é contada uma história: diz-se que começa com uma mulher grávida que tem desejo de comer língua de boi ou coração. Na casa dessa moça não tinha boi, então seu marido acaba encontrando um boi e o mata. Antes desta mulher realizar seu desejo, aparece do nada o dono do boi e já sabendo do que aconteceu diz que seu boi era de estimação, comentando furiosamente e que de qualquer jeito gostaria de ter seu boi de volta. Logo é chamado o curandeiro (na ilha eles chamam o médico também, mas os dois fazem parte da história: ou é um ou é outro.) que o benzendo consegue ressuscitar o boi.
  • 45. 45 Em seguida começa as brincadeiras ao redor do boi. Esta versão é do Bumba-meu-boi, que tem influência, indígena, européia e negra. O folguedo na verdade é um drama, onde se relata a morte e a ressurreição do boi. E segundo pesquisadores: Tradicionalmente representado durante o ciclo de Natal, hoje já se exibe até no carnaval, o Bumba-meu-boi é associado às representações que, desde a Idade Média, eram dadas por ocasião da Festa da Igreja Apesar das transformações ocorridas com o tempo, a verdadeira história ainda é contada, cujo integrante Matheus sendo a figura principal, relata muitos acontecimentos durante o folguedo, e nessa etapa da apresentação, curandeiros participam na cura do boi. Eis aqui o folguedo do boi como é conhecido em Florianópolis segundo as pesquisas de Ribeiro (2000). O Matheus trás o boi e o coro canta: Vaqueiro, traz o boi Não me queira demorá. Vem cá meu boi, vem cá. Quero ver Mateus dançando, Pra fazer o boi dançá, Vem cá meu boi, vem cá. Quero ver boi de mamão, Vir dançá, rentinho ao chão, Vem cá meu boi, vem cá. Atravessa no caminho, E não deixa ninguém passá. Vem cá meu boi, vem cá. Atravessa numa lagoa, Onde nunca ninguém passo. Vem cá meu boi, vem cá. Sete corrente que tinha, todas sete arrebentô. Vem cá meu boi, vem cá. Dá uma volta em roda, De todo este salão Vem cá meu boi vem cá O boi começa a se movimentar entre os figurantes que vão chegando e depois dá um sinal de cansaço, Matheus vai certificar o que aconteceu com o boi, e percebe que ele não levanta, a dança pára e as cantorias também. Em seguida o urubu chega e bica o boi caído, mas logo o curandeiro chega para acudir o boi, ver qual o seu problema, segundo o chamado de Matheus e o urubu some aos pulos. O boi é benzido pelo curandeiro. Eu benzo o meu boi, Com um galho de alecrim, Senhor dono da casa, Não se esqueça de mim!
  • 46. 46 Nesse momento da cura do boi, por vezes Matheus arrecada dinheiro do público, enquanto isso o boi vai se recuperando aos poucos e começa a levantar, e assim continua o canto: Alevanta boi dourado, Alevanta devagar. Já te disse uma vez, Não te torno a mandar. Te apronta e vai embora, Que tua dança tá na hora. Logo entra a cena do cavalinho com o canto cuja versão também sofreu alterações . E assim segue com mais cantos, até o final desta dança, e pouco a pouco os cantores e dançarinos se retiram carregando seus instrumentos cantando: Chamador: Ô senhor mestre da sala / Olê lê escutai o meu cantar. Coro: Nosso boi vai embora olê lê / Ou brinca ou meu boi ôi á. Chamador: Ô senhor me dá licença / Olê lê que quero me retirar. Coro: Nosso boi vai embora olê lê / Ou brinca ou meu boi ôi á. Chamador: No meio de tanta gente / Olê lê agora quero cantar. Coro:O nosso boi vai embora / Olê lê ou brinca ou meu boi ôi á. (...) Assim, ilustrado abaixo o folguedo mais popular de Florianópolis na figura Figura 18: