O documento descreve a "Embaixada Suicida" do Santa Cruz em 1943, quando o time viajou de navio para realizar amistosos em meio à Segunda Guerra Mundial. A delegação enfrentou medo de ataques de submarinos alemães durante a viagem e dois jogadores morreram de tifo após o retorno. Apesar dos perigos, o Santa Cruz realizou vários jogos para arrecadar dinheiro e retornou em segurança, embora esfacelado fisica e emocionalmente pela longa jornada.
Compromisso público com a sociedade e deputados estaduais
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DOMINGO
Recife, 15 de dezembro de 2013
Recife, 15 de dezembro de 2013
O
VÁRIOS submarinos alemães
U-boats aterrorizaram o
Atlântico Sul
JORNAL
da Tarde dá
destaque à
vitória dos
tricolores
sobre o Remo
janelas fechadas, com luzes apagadas
à noite, e informavam quais medidas
adotar em caso de ataques nazistas.
Foi neste clima que, na madrugada
do dia 2 de janeiro de 1943, a delegação do Santa Cruz embarcou no Vapor
Pará, no Porto do Recife, para o que
viria a ser chamada de “Embaixada
Suicida”.
“Embaixada” era o mesmo que excursão e feita normalmente entre as
disputas dos campeonatos a fim de ar-
1934
O início da terceira década coral foi atropelando os adversários. No Campeonato Pernambucano, os jogadores do Santa Cruz fizeram história. Em 15 de agosto
daquela temporada, o Tricolor alcançou a maior goleada da história dos Clássicos
das Multidões. O Mais Querido aplicou 7x0 no Sport.
Em outubro, a Seleção Brasileira fez excursão a Pernambuco. E o Santa Cruz
conseguiu algo que ninguém imaginava ser possível. No Campo da Malaquias, em
10 de outubro, o Mais Querido venceu a temida equipe comandada por Leônidas
da Silva. O placar foi 3x2, com dois gols de Zezé Fernandes e um de Sidinho.
recadar dinheiro. O Santa devia salários e luvas aos jogadores e, mais do
que nunca, precisava arrecadar os 25
contos de réis contratados pelo Tranviário, de Belém do Pará, por cinco
jogos.
De acordo com o relato do jornalista
Aristófanes da Trindade, que chefiava
a delegação coral, o Vapor Pará, de
luzes apagadas e comboiado por dois
navios da Marinha, chegou a Natal em
dois dias. A parada abriu a brecha para
1935
Depois de deixar escapar o tetra na temporada anterior, os tricolores voltaram a ser campeões. Na primeira fase do Pernambucano, o
Santa disputou 13 jogos. Foram nove vitórias,
dois empates e duas derrotas. Com destaque
para o grande jogo diante do Náutico, no dia 4
de agosto. O time coral venceu por 5x3.
que o Santa realizasse o primeiro
amistoso. Os jogadores deixaram o
navio já uniformizados e foram direto
para o estádio Juvenal Lamartine,
abarrotado de torcedores que queriam
ver o time pernambucano que desafiara a guerra. Os tricolores não decepcionaram e meteram 6x0 num
combinado potiguar.
O medo de um ataque alemão fazia
com que os integrantes da delegação
não dormissem nas respectivas cabines, mas no convés da embarcação,
devidamente armados de facas e foices, afinal, era guerra. A delegação do
Santa chegava ao Pará festejada no
cais. Nos gramados, duas vitórias,
dois empates e uma derrota. 21 gols
marcados, 12 sofridos. Saldo positivo
dentro de campo e nas finanças ao
final da temporada contratada.
1938
Em 8 de dezembro de 1938, o Santa Cruz deu mais
uma prova de força. Na ocasião, os tricolores venceram a
Seleção Pernambucana, ou seja, o que havia de melhor
de todos os adversários juntos. E não foi apenas uma
simples vitória. O placar de 4x1 não deixava dúvida do
grau de superioridade da equipe tricolor.
O problema foi que a fama da Embaixada Suicida se estendeu até o extremo Norte e o clube tricolor recebeu
convite para fazer uma temporada em
Manaus. A delegação embarcou num
vapor-gaiola e subiu o rio Amazonas.
Foram seis dias de viagem. Mais uma
vez, festa e homenagens na chegada
do time, que perdeu uma e ganhou
duas diante dos amazonenses.
Mas antes da despedida contra o Rio
Negro, cinco atletas adoeceram, com
disenteria. Entre eles, King e Papeira,
que não seguiram a dieta médica e
exageram nas comemorações após o
3x2. Ambos embarcaram para Belém
de volta com muita febre e foram internados assim que chegaram. King
não resistiu e faleceu no dia 4 de
março. Seis dias depois, foi a vez de Papeira. Uma espécie de tifo, comum na
região, foi a causa da morte da dupla.
À espera pela formação de um
comboio que pudesse deixar o porto
de Belém, os jogadores do Santa tiveram que superar a morte dos companheiros disputando amistosos a
fim de garantir alimentação e hospedagem. O grupo coral havia encolhido. Além dos óbitos, Sidinho, Pelado
e Omar haviam recebido proposta
para ficar em Manaus, que vivia o auge
do ciclo da borracha e os seus clubes
nadavam em dinheiro.
Por pouco o time do Santa não perdeu também Pedrinho, que chegou a
ser preso pelo chefe da polícia local
pouco depois da delegação desembarcar em terra firme sob alegação de
que o zagueiro pernambucano havia
feito mal a uma de menor. Dias depois
se chegou à conclusão de que tudo
não passava de uma armação a fim de
fazer com que Pedrinho, que não
havia aceito proposta como os seus
companheiros, ficasse num clube
amazonense.
Finalmente, o Santa pôde deixar
Belém. Mas longe de não ter de enfrentar problemas. Os jogadores haviam solicitado a troca das suas passagens de primeira para terceira clas-
1941
Após cinco anos, o Tricolor pernambucano
reencontrou o caminho dos títulos. No dia 4 de
maio, a equipe derrotou o Sport por 2x1, no
Campo da Jaqueira, e faturou mais um troféu
para a sua coleção. A conquista veio depois de
duas vitórias sobre os rubro-negros, em uma decisão de melhor de três partidas.
se, para que pudessem ficar com a diferença em dinheiro. A mudança, no
entanto, fez com que eles viajassem
ao lado de um grupo de presos que a
polícia paraense estava deportando
para São Luís, próxima parada do
navio. Desta vez, os facões ficaram em
punhos durante todo o trajeto por
outro motivo.
Em São Luís, o mesmo problema de
Belém. Mais dias de espera por um
novo comboio e amistosos marcados
de última hora. Na véspera de um
deles, a chefia da delegação foi avisada que naquela noite aconteceria a
partida do cais. E a delegação do
Santa embarcou e deixou o porto
juntamente com duas embarcações
mercantis e duas da Armada.
Isso por volta das 23h. Poucas horas
depois, em meio a uma tempestade,
passageiros e tripulantes perceberam
que o barco parecia deslizar em zingue-zague sobre o mar. No começo da
manhã, a embarcação estava de volta
ao porto de São Luís com a informação de que o radar do navio da Marinha havia detectado a presença de um
submarino alemão.
Em pânico, a delegação decidiu
não mais desafiar os U-boats alemães e voltar por via terrestre. De trem
até Teresina, com dois descarrilhamentos de vagões, e de ônibus para
Fortaleza e Recife. Esfacelados física
e emocionalmente, mas com dinheiro no bolso, os integrantes da Embaixada estavam de volta para casa.
1943
No dia 2 de janeiro, o Santa embarcou rumo a
Belém para uma excursão que ficaria conhecida
como Embaixada Suicida. Em plena Segunda Guerra, os tricolores encararam o medo de um mar coalhado de submarinos alemães. Mas as vítimas fatais
viriam a ser em função de um tipo de tifo: King e Papeira não voltaram com a delegação.
E o Santa metia
7x0 no Sport
Com 14
minutos, Carlos
cruzou e Lauro
meteu a
cabeça na
bola para
balançar a
rede do Sport
pela primeira
vez naquela
tarde do dia 15 de
agosto. Não demorou
e o artilheiro Tará fez o
segundo. O terceiro ficou a cargo de
Carlos. E ainda deu tempo para que
Limoeiro marcasse o quarto antes
do apito final do primeiro tempo.
Os tricolores não aliviaram no
segundo e o massacre continuou.
Com assistências de Estevam,
novamente Lauro e Tará voltaram a
balançar a rede de um atordoado
Leão. Quem fechou o caixão foi o
garçom Estevam.
Jogando na casa do adversário, na
época o Campo da Malaquias, o
tricampeão pernambucano metia
7x0 no seu rival e estabelecia a
maior goleada na história dos
confrontos entre o Santa e o Sport.
A bola (foto), a mesma que entrou
sete vezes no gol rubro-negro, foi
guardada como um souvenir
daquele clássico.
te
ano de 1942 marcou a
tomada de posição do
Brasil de Getúlio Vargas
na Segunda Guerra
Mundial. O ataque japonês à base norteamericana de Pearl Harbor, no final do
ano anterior, foi o primeiro passo
para por fim às relações com o Eixo
(Alemanha, Itália e Japão), com quem
o Estado Novo flertava, e abrir caminho
para acordos de cooperação militar
com os Estados Unidos. Foi o bastante para que os alemães retaliassem,
atacando navios mercantes brasileiros
com os temíveis submarinos U-boats
- até 1943, 31 embarcações foram à
pique vítimas de seus torpedos.
A tomada de Dacar, ponto mais
ocidental da África, pelo exército de Hitler fez com que o Brasil, mais especificamente o chamado Saliente Nordestino, se transformasse num ponto
estratégico para entrada na América.
Nunca a Alemanha estivera tão perto
do continente. Isso por terra. Pelo
mar, ou debaixo dele, a aproximação
era cada vez maior. Assim como o interesse, e necessidade, de os governos
de Franklin Roosevelt e Getúlio Vargas
darem as mãos.
Recife, sede do Comando Militar do
Nordeste, foi uma das cidades que
mais vivenciaram o pânico da guerra
neste período pós-rompimento varguista com o Eixo. “População do Recife vai conhecer o Black out”, chegou
a publicar “O Jornal”. Rádio e jornal
orientavam as pessoas a manterem as
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Excursão que desafiou a Segunda Guerra
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