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DANÇA, COGNIÇÃO E AFETIVIDADE NA FORMAÇÃO DO FUTURO
                                 PROFISSIONAL DE FISIOTERAPIA

                                                          Flávia Pinheiro Della Giustina1/FACIPLAC-DF
                                                                        e-mail: flaviagiustina@terra.com.br


                                                                   Carla Chiste Tomazoli2/FACIPLAC-DF
                                                                e-mail: carlatomazolisantos@hotmail.com




Resumo: O objetivo desse estudo foi investigar, sob a visão do graduando em Fisioterapia, seu
processo de formação, a partir do Curso de Extensão em Dança e Movimento e seus recursos
mobilizadores, bem como suas contribuições ao despertar a afetividade e cognição dos alunos no
Ensino Superior. Participaram da amostra 6 alunas do 2°, 4° e 5° períodos, e 7 crianças com
patologias neurológicas, que tiveram papel fundamental para incitar a reflexão, tanto dos
atendimentos convencionais realizados na clínica, quanto dos encontros                          de dança. Os
instrumentos utilizados foram os registros escritos em Incidentes Críticos e relatos dos encontros
do grupo de Dança e Movimento, realizados na clínica-escola de Neuropediatria das Faculdades
Integradas da União Educacional do Planalto Central, situada no Gama/DF. Os dados desse
estudo piloto foram coletados, transcritos e encaixados em análise de conteúdo, tendo uma
abordagem qualitativa, descritiva dos fenômenos. Os resultados mostraram que, tanto nos
atendimentos convencionais quanto nos encontros de dança, as dimensões cognitivas e afetivas
estiveram presentes, contudo a estratégia utilizada na dança permitiu às alunas da Fisioterapia
maior expressão da afetividade e reflexão da prática, contribuindo para futuras pesquisas com
elucidações acerca da formação numa visão humanística a que se propõe a graduação.

Palavras-chave: dança; cognição e afetividade; formação humanística.



        1
            Mestre em Psicologia do Desenvolvimento Humano em Processos Educativos e Especialista em
Psicopedagogia Clínica pela Universidade Católica de Brasília (UCB-DF), formada em Dançaterapia pelo Método
María Fux, professora do curso de Extensão em Dança e Movimento do curso de Fisioterapia das Faculdades
Integradas da União Educacional do Planalto Central (FACIPLAC-DF), e dos cursos de Farmácia e Enfermagem;
atua como psicopedagoga clínica em consultório próprio.
        2
            Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília (UnB), Especialista em Fisioterapia Clínica
pela UNIPLAC (União Educacional do Planalto Central), professora do curso de Fisioterapia da FACIPLAC em
Estágio Supervisionado I – Pediatria/Neuropediatria.

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1 – Introdução

       A proposta do presente estudo sugere uma reflexão acerca da formação do profissional de
Fisioterapia ao considerar o aspecto humanístico da graduação como necessário para o
desenvolvimento pessoal e profissional. Sabe-se que não é somente a cognição a ser priorizada
num curso de graduação, mas também os aspectos afetivos decorrentes do próprio processo de
aprendizagem humana.

       O que se observa é uma tendência educacional prevista nos Parâmetros Curriculares
Nacionais dos cursos de graduação em não se focalizar os treinamentos do desenvolvimento
motor e práticas numa visão teórica ou tecnicista a ser utilizada pelo futuro profissional. Mas, na
prática do Ensino Superior, isso ainda ocorre de forma muito frequente.

       Essa necessidade do profissional de Fisioterapia em ligar os aspectos motores à
afetividade e à cognição advém da observação na própria clínica, no período de estágio dos
graduandos, quando se percebe que não somente os conteúdos apreendidos nas disciplinas do
curso superam a demanda ao trabalhar com o paciente de forma satisfatória, pois é necessário
algo a mais. Principalmente, quando se depara com algumas dificuldades nos atendimentos de
Fisioterapia, pois muitos pacientes necessitam de tratamento por longos períodos, o que torna as
ações repetitivas e exaustivas. Para crianças que não têm a consciência dos seus ganhos, a
continuidade do processo terapêutico nessa situação passa a ser desagradável e pouco proveitosa.
Por isso, colocar-se no lugar do outro é imprescindível.

       Conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais do curso (PCN/CES, 2002), os alunos
futuros profissionais deverão atuar sempre “sensibilizados e comprometidos com o ser humano,
respeitando-o e valorizando-o.” Assim, ao utilizar as estratégias da dança no Curso de Extensão
e relacioná-las com os atendimentos convencionais a pacientes portadores de deficiências
neurológicas, buscou-se a combinação de música, movimento, cognição, sentimentos e emoções,
para estabelecer conexões e a reflexão da atuação profissional nos atendimentos.

       O aspecto lúdico abordado pela dança espontânea, como elemento mobilizador para o
processo de aquisição de movimentos voluntários, respeita a individualidade da criança e seu
desenvolvimento, e seus recursos são diferenciados dos equipamentos utilizados na Fisioterapia
tradicional.

       2 – Referencial Teórico
       O estudo apoiou-se na teoria de desenvolvimento de Henri Wallon, na fase adulta, e no
desenvolvimento da afetividade de Vygotsky, como inseparável da cognição e da dimensão
social, tal qual as demais funções psicológicas superiores.

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Na visão de Vygotsky há uma interconexão funcional dos pensamentos e sentimentos, ou
seja, da cognição e dos afetos, que para ele um não ocorre sem o outro. Isso acontece devido aos
processos volitivos, ou seja, movidos pela vontade, que é inicialmente social. Para ele, essa
realização faz parte da condição do ser humano e não acontece sem a presença das relações
sociais que a potencializam. Ou seja, no contexto de formação do aluno, as conexões entre
cognição e afetividade serão observadas na realidade social, no próprio contexto das interações
de aprendizagem.

        Contribuindo para essa compreensão da dimensão social dos pensamentos e emoções, o
desenvolvimento da afetividade para Wallon tem papéis diferenciados em cada estágio da vida
do indivíduo, porém o enfoque diante o delineamento da pesquisa é a idade adulta, quando as
transformações ocorridas na vida estão focadas nas “suas necessidades, possibilidades e
limitações, seus sentimentos e valores, (...) escolhas em decorrência de seus valores. Há um
equilíbrio entre estar centrado em si e estar centrado no outro.” (MANOHEY & ALMEIDA,
2009)

        Loberto (2009), apoiado nos estudos de Wallon acredita que a afetividade desempenha
papel crucial no desenvolvimento pessoal e profissional do indivíduo em formação. Baseando-se
nessa tendência da formação do aluno na graduação, percebe-se que humanizar, quando se trata
de saúde, refere-se à possibilidade de uma transformação cultural da gestão e das práticas
desenvolvidas nas instituições, assumindo-se uma postura ética de respeito ao outro, de
acolhimento do desconhecido, de respeito ao usuário, o mesmo passando a ser entendido como
um cidadão e não apenas como um consumidor de serviços de saúde. (SILVA & SILVEIRA,
2011). Freire (1996) também já criticava o ensino puramente técnico-científico, pois para ele
"transformar a experiência educativa em puro treinamento técnico é amesquinhar o que há de
mais fundamentalmente humano no exercício educativo: o seu caráter formador".

        Conforme Buss & Niehues (2009), somente a formação técnica não basta, pois na
educação, o homem precisa entender seus semelhantes. Assim, o estudo torna-se de grande
relevância, pois reconhece o Ensino Superior como lugar para desenvolver pesquisas sobre seus
próprios atores, e no caso, especificamente sobre a percepção dos próprios alunos de
Fisioterapia, dando-lhes voz para reflexões contínuas acerca do processo de formação e do
desenvolvimento humano em processos educativos.

        Diante do objetivo proposto, houve a necessidade de redefinição do conceito de
humanizar para esse estudo, ao considerar que a afetividade do futuro profissional visa
reconhecer e aceitar o outro em sua totalidade, desde já na formação inicial, na graduação. Essa
visão leva em consideração o conceito de aprendizagem pautado no respeito ao bem-estar do

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sujeito e em suas possibilidades de adaptação para alcance dos objetivos propostos,
principalmente quando se trata de atendimentos às crianças.

       O estudo de Mizukami (2009) baseia-se na abordagem humanista de ensino-
aprendizagem, ou seja, também no processo de formação do aluno, sob a visão das interações
que são estabelecidas ao aprender. Tal estudo apresenta como características o aluno como um
ser único em processo de descoberta, sendo seu objetivo a auto-realização ou uso pleno de suas
potencialidades, quando se busca estabelecer qualidade nos relacionamentos interpessoais, e um
conhecimento dinâmico para uma aprendizagem que abranja conceitos e experiências resultantes
de um processo de aprendizagem pessoal.

       Com base nos estudos já realizados através da música e da dança, é importante ressaltar
Fux (1998), que sustenta a impossibilidade de compreender a música sem mover o corpo, pois
pelos sons o corpo é estimulado a produzir imagens, as quais se comunicam entre si na busca da
totalidade ao expressar-se. Para essa mesma autora, a música quando absorvida, produz o
movimento, ou seja, transforma-se em corpo-movimento e movimento pelo corpo. Assim,
também ocorrem com as cores, as palavras, os objetos que utiliza em seu método de
dançaterapia, os quais são observados e interpretados, segundo a experiência subjetiva de cada
um, e podem ser mobilizadores de novas possibilidades de movimentos corporais.

       Esse método de dançaterapia criado por essa autora surgiu com a necessidade dela
própria, bailarina e coreógrafa, buscar novas formas de se movimentar após uma queda e ruptura
da patela. Com a interrupção e impossibilidade de dançar como antes, descobriu como ativar as
partes sadias do corpo para mover-se de maneira prazerosa e integrando outras partes do corpo
em cada movimento.

       Nesse contexto de dança para a integração, totalidade do indivíduo e aprendizagem, que o
presente estudo baseou-se para utilizá-la como recurso para aprender e reaprender de forma
humanística. Condrade et. al (2010) revela a importância de incluir conhecimentos e práticas de
trabalho com foco na corporeidade e alteridade, na perspectiva da humanização em saúde, para
que se aprenda a lidar com emoções e subjetividades. E a dança nesse contexto, também em
Santos & Coutinho (2008), é considerada um veículo/instrumento que pode ser utilizado para
recreação e/ou reabilitação.

       3 – Metodologia e Procedimentos
       Para alcance dos objetivos, adotou-se o procedimento metodológico da pesquisa
experimental, de forma exploratória e descritiva dos fenômenos, com abordagem qualitativa. Os
resultados coletados dos registros escritos, dos momentos de observação na clínica-escola, e de

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vivência na dança foram analisados qualitativamente pelas pesquisadoras, encaixados em
categorias de análise de conteúdo.

       A amostra do estudo foi composta por 6 alunas de vários períodos do curso, que
participaram da inscrição e seleção para o Projeto de Extensão e hoje ainda se encontram no
estágio de treinamento e/ou observação de 7 crianças, escolhidas quanto à disponibilidade em
participar das sessões grupais de dança, em 8 encontros, nos meses de agosto a outubro, no
horário previamente estabelecido, com duração de 45 minutos aproximadamente, além de ter
idade compreendida entre 4 a 10 anos, e apresentarem cognitivo preservado em suas patologias.

       A proposta sugerida foi conduzida pela professora-pesquisadora, com formação em
Dançaterapia (Método Maria Fux), e acompanhada pela outra professora-pesquisadora
fisioterapeuta, a fim de observar o grupo assinalando as necessidades que percebia para um
melhor desenvolvimento das crianças sob aspecto motor, e das alunas, sob aspecto da formação
profissional. Todas as alunas-fisioterapeutas participaram das sessões, ora realizando
movimentos com a criança, ora realizando as propostas de movimento conjuntamente como
integrante participativo do grupo.

       As alunas responderam 3 (três) avaliações /investigações na forma de redação, Incidente
Crítico (IC), para levantar o componente afetivo ao trabalhar com crianças especiais. Esse
instrumento para coleta de dados foi baseado no estudo de Loberto (2009), e é um instrumento
muito utilizado em pesquisas qualitativas em Educação sobre formação de professores, pois
consiste em uma técnica de análise do cotidiano. Ao analisar o incidente, ou seja, um caso, o
indivíduo que faz a análise está falando de si mesmo, de suas crenças, concepções sobre o
assunto tratado, ao se referir às outras pessoas. (LOBERTO, 2009)

       Esse modelo de instrumento foi adaptado em casos que focavam as patologias
neurológicas de dados de anamneses da clínica-escola/FACIPLAC. As alunas-fisioterapeutas
analisaram os casos de forma espontânea, sempre no contexto de ensino-aprendizagem, na sala
de atendimento do Estágio Supervisionado ou na sala de atendimento da Fisioterapia adaptada
para os encontros de dança, escrevendo o que achavam pertinente ao tratamento com cada
criança sugerida nos Incidentes Críticos (IC-01, IC-02, IC-03):

       Incidente Crítico (IC-01)

       Márcia tem 11 anos é portadora de paralisia cerebral traqueleomalácia periventricular, e
realiza atendimentos de fisioterapia desde os três meses de idade. Sempre demonstrou interesse e
participação nas propostas terapêuticas, porém, a partir desse ano, revelou resistência na
continuidade do seu tratamento, e relatou aos pais que não quer mais frequentar as sessões. O


                                                                                                5
prejuízo da interrupção no tratamento é grande, pois perderia as funções motoras já adquiridas,
sendo que ainda não anda. Ela é uma criança feliz, respeitada pelos pais, que também estão
preocupados com essa decisão da filha. Ela tem dito a eles com freqüência: “Faço sempre as
mesmas coisas, mamãe!”, “Estou enjoada, não quero ir!”, “É chato, papai!”. A mãe se pergunta
se não haveria outras formas de conduzir o tratamento da filha e gostaria que ela continuasse
feliz na luta para alcançar seus desejos de ver um dia a filha andar.

          Incidente Crítico (IC-02)

       A criança tem 2 anos, é portadora de Epidermólise Bolhosa, uma doença cuja alteração
de pele é generalizada. A qualquer toque, gera-se uma ferida com sangue, de foco interno e
externo, com riscos de infecção. Sua alimentação é naso-parental, porque nada pode encostar-se
a sua pele, nem mesmo alimentos. Só pode ingerir um tipo de leite, e também, com cuidados
durante este momento, pois o leite não pode cair em contato com sua pele. Cada lata deste leite
custa R$300,00 (trezentos reais), e ela consome ao longo de um mês 21 latas. Sua família é
humilde, e seus pais somente agora conseguiram que o SUS arcasse com essa despesa em seu
tratamento. As feridas são tratadas com remédios de uso tópico que podem sair com água, para
que não haja necessidade de cobrir com gaze, ou mesmo de passar algodão, que vinha
ocasionando feridas ainda piores. O tratamento sugere, além de fonoaudiologia, atendimentos em
fisioterapia, visto que ainda não anda, sua motricidade encontra-se aquém para sua idade. Porém,
o profissional para atendê-la deve usar luvas, capote, máscara e touca. O local de contato dela
com o chão ou colchões necessita ser forrado com lençol para evitar contaminação, pois tem
muitas feridas pelo corpo. Já emite alguns sons, fala “mamãe”, “papai”, “dá”; ri e chora quando
frustrada. É uma criança que gosta de brincar, e faz um bom contato visual.

          Incidente Crítico (IC-03)

       A criança tem 8 anos e apresenta Amiotrofia Espinhal, uma lesão no corno posterior da
medula. Seu quadro motor é precário para sua idade, pois revela falta de controle do equilíbrio.
Quando colocada para sentar, e acontece qualquer inclinação do eixo de equilíbrio, perde o
controle e desarma. Para pegar um objeto na linha média, precisa apoiar o cotovelo sobre o
joelho realizando uma alavanca. Essa criança é insegura, tem medo de cair, e seus movimentos
ainda se tornam mais limitados perante esse aspecto emocional.

       4– Análise e Discussão dos Dados
       Para análise desses Incidentes Críticos, foram observadas as dimensões cognitivas e
afetivas das 6 alunas participantes (AL-01, AL-02, AL-03,, AL-04, AL-05, AL-06). (Tabela de
transcrição das redações). As alunas expressaram sentimentos, porém apenas 2 do grupo (AL-05

                                                                                              6
e AL-06) não explicitaram afetos, nem nos atendimentos da clínica convencional, nem nos
encontros da dança. Entretanto, vale ressaltar que embora não explicitam afetividade, estão
participando, realizando os atendimentos e observações na clínica, bem como dos comandos
solicitados nos encontros da dança.

       Para AL-01, a hidroterapia e a equoterapia são conhecidas e reconhecidas pelos
profissionais da Fisioterapia como atendimentos eficazes no tratamento com crianças com
patologias neurológicas, porém a dançaterapia não tem uma aplicação como as outras formas de
atendimento que não utilizam mesmos recursos e/ou estratégias tradicionais nos serviços da
Fisioterapia. Há um desconhecimento por parte da aluna sobre atuações abordando a dança como
recurso para os atendimentos com essas crianças. Ela percebe a necessidade de estimular as
crianças nos atendimentos da Fisioterapia tradicional, e sabe da importância da participação de
forma prazerosa do paciente, pois reconhece que isso contribui para o desenvolvimento dos
atendimentos.

       O olhar do futuro profissional nos encontros com a dança não romperam com a proposta
de formação, pois está presente quando observa as crianças e vivencia os movimentos
executados por todos. Essa observação traz conceitos próprios da Fisioterapia, e reconhecê-los
no corpo em movimento faz refletir a aplicabilidade dos recursos da dança.

       Essa utilização dos recursos da dança possibilitou a percepção do outro além dos
movimentos corporais. As observações, como compartilhar os movimentos, a simplicidade dos
materiais utilizados que despertam a movimentação e o prazer, os momentos agradáveis, o
aprender a conviver e respeito, estiveram presentes.

       Para AL-02, a dimensão afetiva também é priorizada no atendimento convencional, pois
para ela a interação é construída com cuidado. Mostra respeito pelo ritmo do paciente e dessa
própria interação. A partir do movimento da criança, percebe que o tratamento convencional tem
resultados significativos porque há colaboração dela. Prazer, curiosidade, respeito permeiam a
relação fisioterapeuta-paciente. E ao olhar para si, fisioterapeuta, percebe que também pode
trabalhar sua possibilidade de amplitude, mobilidade, graduação de força, assim como as
crianças.

Tabela 1 - Transcrição das redações




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Transcrições das redações
         Incidente Crítico                     Fisioterapia Tradicional                    Relato dos encontros da dança                Curso de Extensão
Alunas    Dimensão da Cognição                  Dimensão da Afetividade                     Dimensão da Cognição                         Dimensão da Afetividade
AL- 01   (IC/01)...levá-la ao conhecimento     (IC/01)... pois nada adianta no             ... estimula a flexibilidade, além de ser    A experiência de hoje com a dança
         da hidroterapia, equoterapia e até    tratamento se o próprio paciente não        um elemento de apoio,... exige força         foi muito boa....
         mesmo da dançaterapia e               acreditar ou estiver gostando.              muscular, mas não tão intensa a ponto de     ...compartilhamos os movimentos
         observar com qual ela mais se                                                     levar à fadiga.                              com o próximo.
         identifica e aproveitar isso...                                                    ...utilizamos a cadeira como ponto de       ...percebi que tinha criança
         (IC/02)...dar a essa criança                                                      apoio. Foi interessante o                    acanhada, no entanto curiosa em
         estímulos proporcionará um                                                        desenvolvimento da cada criança...           participar.     Acredito que a cada
         desenvolvimento melhor, ...                                                        ...a participação foi muito boa em          encontro mais interessante será o
         possibilitará um desenvolvimento                                                  relação ao último encontro, ela quase        resultado. Gostei da música...
         neuropsicomotor mais próximo                                                      não se movia.                                acredito que para as crianças
         do normal.                                                                        O uso do tambor trabalha o lado da           também foi bom.                  ....e a
                                                                                           coordenação e por ter... que usar os         reação das crianças foi a melhor
                                                                                           membros de forma simétrica.                  possível. Quanto mais diferente for o
                                                                                           Utilizar o papel celofane ... é uma forma    objeto utilizado, mais atrativo se
                                                                                           de agregar...motor e cognitivo da criança,   torna o encontro para as crianças.
                                                                                           tendo suas propriedades físicas como         A ideia do papel celofane abriu meus
                                                                                           aliado facilita e induz... a fazer           olhos...algo simples... e no entanto
                                                                                           movimentos.                                  trazer bom resultado. A interação
                                                                                           ....a criança faz alongamentos e trabalha    que nós alunos e professores
                                                                                           a musculatura de forma excêntrica,           tivemos deve continuar, foi um
                                                                                           concêntrica....                              momento agradável... entre as
                                                                                                                                        crianças, isso é importante...,
                                                                                                                                        aprender a conviver... Aqui é um
                                                                                                                                        local que não deve haver
                                                                                                                                        preconceito...porque a forma de
                                                                                                                                        funcionalidade dele é atípica, mas
                                                                                                                                        cabe a nós... incentivarmos o contato
                                                                                                                                        e respeito mútuo.




         Transcrições das redações
         Incidente Crítico                     Fisioterapia Tradicional                    Relato dos encontros da dança                Curso de Extensão
Alunas    Dimensão da Cognição                  Dimensão da Afetividade                     Dimensão da Cognição                         Dimensão da Afetividade
AL- 02   (IC/01)...com crianças é              (IC/02) O cuidado, delicadeza para          ...permite um trabalho...de tudo...força     ...recursos...devem ser criativos e
         importante ...o despertar da          desenvolver uma interação, é                muscular, respiração, equilíbrio,            atrativos, porque senão o corpo
         curiosidade... recursos...atrativos   fundamental.                                coordenação motora, mobilidade               simplesmente ignora o que é
         e prazerosos...permite uma            (IC/03) O movimento pode ser                articular... flexibilidade, alongamento.     proposto....comandos estimulam a
         colaboração maior do paciente e       construído pela criança.                    Foi proporcionado a todos... a               descoberta do corpo tanto do próprio
         ao mesmo tempo resultados                                                         possibilidade de amplitude, mobilidade,      como do outro. ...a expressão da
         significativos...                                                                 graduação da força... que o corpo muitas     liberdade pode ser sentida...
                                                                                           vezes realiza sem perceber.




AL- 03   (IC/03)... um cercado com ajuste,     (IC/01)O que é possível ser feito é         Pude perceber articulações antes quase       Eu estava ansiosa... senti-me
         permitindo que sua circunferência     descobrir a causa desse desânimo. ao        imóveis...                                   envolvida pela música, calma... mas
         aumentasse... com altura no           meu ver, essa criança precisa enfrentar o   O elástico me trouxe segurança,              que não me deixou dormir.
         abdômen da criança...                 medo.                                       equilíbrio e coordenação. Houve              Mas eu fiquei o tempo toda
                                               (IC/02)...é atenta a tudo, principalmente   movimento, equilíbrio, iniciativa própria.   preocupada com a criança. Eu
                                               aos sons... se embala...                                                                 esqueci que ela independe de mim,
                                               (IC/03) Ela perderia o medo, porque o                                                    que ela tem vontade própria. Talvez
                                               objeto de sua confiança não está longe.                                                  por querer o melhor para o paciente.
                                                                                                                                        Não é só o paciente que está
                                                                                                                                        aprendendo, mas os fisioterapeutas
                                                                                                                                        também.
                                                                                                                                        Eu estou aprendendo a confiar mais
                                                                                                                                        nos outros. Permitindo que a criança
                                                                                                                                        mostre o que ela é capaz.
                                                                                                                                        Trazer o tambor pra dança foi muito
                                                                                                                                        bom! Espontâneo. Era aquilo que eu
                                                                                                                                        queria. Mesmo sem saber qual
                                                                                                                                        movimento ou fala que eu faria,
                                                                                                                                        quando chegasse minha vez.




                                                                                                                                                                       8
Transcrições das redações
           Incidente Crítico                   Fisioterapia Tradicional   Relato dos encontros da dança                 Curso de Extensão
AL- 04     (IC/01)... O fisioterapeuta...tem                              Trabalhamos as articulações com o             ...é uma nova experiência para o
           que elaborar novas formas de                                   nosso limite, não promovendo uma coisa        conhecimento do nosso próprio
           continuar trabalhando, para que                                forçada ou impossível de se realizar.         corpo.
           as funções já adquiridas ao longo                              Para as crianças... será um benefício         A música te deixa leve e te
           desse período possa evoluir.                                   estimular aquilo que talvez na fisioterapia   possibilita a fazer os movimentos
           (IC/02) É preciso trabalhar sua                                não se perceba.                               sem sequer ser planejado...
           motricidade e usar do seu contato                              ...trabalhou a concentração porque tem        Esse encontro que utilizamos o
           visual como um "aliado" no                                     que esperar a batida do tambor.               próprio tambor foi muito divertido e
           tratamento.                                                                                                  envolvente. As crianças se soltaram,
           (IC/02) É preciso trabalhar o seu                                                                            sorriram, se sentiram mais seguras
           controle de equilíbrio para poder                                                                            pelo fato de estarem sentadas no
           desenvolver melhor outras                                                                                    chão. A força de vontade das
           funções.                                                                                                     crianças é notável em querer realizar
                                                                                                                        os movimentos iguais ou até mesmo
                                                                                                                        parecidos.
                                                                                                                        ...permitiu conhecer mais o nosso
                                                                                                                        corpo e também o corpo do outro...
                                                                                                                        ...espero que o grupo evolua cada
                                                                                                                        vez mais.



AL- 05     (IC/01) Deve-se incentivar os                                  ... o elástico trabalha a flexibilidade e a
           pais a buscarem uma nova forma                                 força do corpo.
           de tratamento para a filha, mas                                ...o trabalho vai sendo realizado de forma
           não abandonar a fisioterapia                                   tranquila e rítmica...
           tradicional, ressaltando sempre a                              ...foi trabalhado a força muscular, o
           ela a importância de continuar o                               equilíbrio para realizar os movimentos de
           tratamento.                                                    uma forma mais dinãmica e livre.
           (IC/02) Como o cognitivo ...é                                  ...a primeira experiência com as crianças
           preservado...é mais fácil buscar                               foi muito proveitosa, todas cooperaram ,
           alternativas como a dançaterapia                               dentro de seus limites...
           para auxílio na terapêutica da                                 ...mas aos poucos e com paciência
           criança...                                                     conseguiremos fazer que ele participe
                                                                          melhor da atividade.



           Transcrições das redações
           Incidente Crítico                   Fisioterapia Tradicional   Relato dos encontros da dança                 Curso de Extensão
Alunas      Dimensão da Cognição               Dimensão da Afetividade     Dimensão da Cognição                         Dimensão da Afetividade
AL- 06     (IC/01) O fisioterapeuta deve                                  ...movimentos fizeram com que as
           conscientizar a criança, e                                     crianças trabalhassem a concentração,
           principalmente os pais da                                      coordenação, amplitude de movimentos
           importância do tratamento e ...                                e equilíbrio.
           que não deixem a criança                                       Percebemos que a maioria se divertiu e
           desistir, mesmo que ela queira.                                fez os movimentos , na medida do
           O fisioterapeuta deve traçar um                                possível...
           tratamento mais dinâmico para
           despertar o interesse dela
           novamente.
           (IC/02) ...o tratamento deve ser
           mais específico ...




                   Aluna AL-03 percebe que o passo inicial para mudança da criança é descobrir os motivos
         que a levam a responder aos estímulos da maneira que apresenta. Isso a faz refletir as técnicas
         empregadas. Na fisioterapia convencional revela dúvida, esperança em suas ações. Na dança,
         mostra afetividade quando explicita ansiedade pelos momentos a serem realizados por ela
         mesma, preocupação com o outro, respeito pela criança, por si mesma. Os movimentos sugeridos
         revelaram a ela a descoberta de suas próprias articulações antes quase imóveis.

                   A criatividade é reconhecida como algo que pode ser desenvolvida pelo fisioterapeuta,
         tanto no atendimento convencional quanto na dança, porque o corpo realiza os movimentos
         quando há prazer, bem-estar e liberdade.

                   A necessidade do fisioterapeuta em buscar formas para garantir a evolução do paciente é
         revelada por AL-04 como um recurso que depende da formação do profissional nos

                                                                                                                                                        9
atendimentos convencionais. O paciente recebe as estimulações do profissional, e sua
participação nos atendimentos é a de executor. Já nos encontros da dança, também se observa
aspectos motores, como a articulação, mas nesse momento ela mesma percebeu que o
movimento não é forçado. E então reflete que tais movimentos, aqueles executados de forma
espontânea, podem passar despercebidos na fisioterapia tradicional. Os sentimentos nos
momentos de dança foram de alegria, descontração, segurança, prazer, entretanto no atendimento
convencional, a afetividade não é revelada.

       Tais sentimentos explicitados a partir dos recursos da dança, por AL-04, ressaltam a
importância de conhecer o próprio corpo e do outro, ter a liberdade de movimentar. Essas
observações mostram a afetividade representada não somente na relação com o outro, mas
também um respeito às próprias condições enquanto participante do grupo, diferentemente dos
atendimentos convencionais relatados por ela. O aluno-fisioterapeuta na dança coloca-se numa
posição de igualdade com as crianças, percebendo que possui dificuldades e limitações também.

       As dificuldades encontradas nos atendimentos pelo futuro fisioterapeuta podem ser
vivenciadas, mas nem sempre serão conduzidas pelo profissional respeitando as demandas do
próprio paciente, como observado nos relatos de AL-05. Há um desejo e expectativas de melhora
no tratamento por parte da aluna, uma expectativa e ansiedade, porém revela não saber como
conduzi-las, principalmente quando lhe exige compreensão/aceitação das emoções e sentimentos
do outro perante os atendimentos já realizados.

       O cognitivo preservado da criança possibilita buscar novas alternativas nos atendimentos
da fisioterapia tradicional, que podem auxiliar a condução terapêutica, porém essa mesma aluna
ainda não sabe como utilizá-las na prática. Embora participe dos encontros da dança, não revela
seus sentimentos e emoções, limita-se a reconhecer que os recursos trabalham flexibilidade,
ritmo, força muscular, porém não explicita afetividade, fica na observação das crianças enquanto
executoras de movimentos. Vale ressaltar que sua participação nas produções escritas, respostas
aos Incidentes Críticos e relatos, foi reduzida, pois não realizou todas as tarefas solicitadas.
Percebe-se que ainda não há maior compromisso e envolvimento pelo trabalho realizado no
Curso de Extensão em Dança e Movimento, talvez por ainda não reconhecer como importantes
outras estratégias que não sejam da Fisioterapia tradicional.

       O tratamento da criança é visto como importante, porém a aluna AL-06 não percebe que
depende também da relação que é estabelecida. Aqui, os pais e a criança puderam sentir,
expressar suas dificuldades, entretanto o fisioterapeuta pode ser mais criativo e afetivo nessas
situações. Essa aluna percebe que o atendimento pode ser mais específico como o caso
apresentado, porém ainda não consegue identificar quais seriam essas demandas.

                                                                                             10
5 – Considerações Finais
       Todas as 4 alunas revelaram compreensão da proposta e participação de forma singular,
visto que cada uma mostrou a sua maneira de movimentar, seu ritmo interno e exploração
diferenciada dos recursos mobilizadores utilizados, como elástico, cadeira, tambor, papel
celofane. Com base nos relatos das alunas após as vivências, ficou evidenciada a percepção delas
quanto à diferença de tempo de exploração dos materiais, originalidade na manipulação deles,
pois nenhum movimento era igual.

       Pode-se perceber que os momentos diferenciados em situação de aprendizagem na
formação puderam revelar as dimensões cognitivas e afetivas que foram acionadas nas interações
com as crianças. E as situações de aprendizagem vividas no Curso de Extensão despertaram no
futuro profissional um olhar diferente, focado não somente no movimento mecânico, mas
naqueles espontâneos que despertam prazer e bem-estar em quem realiza, além de compreender
que há expectativas geradas nos atendimentos, seja pela criança, seja pelo fisioterapeuta.

       A formação humanística dos alunos, integradora, pode influenciar os envolvidos na
participação de atividades práticas que inserem aluno-docente-crianças em um contexto de
“aprendizagem que abranja conceitos e experiências resultantes de um processo de aprendizagem
pessoal”. (MIZUKAMI, 2009)

       A dança e seus recursos mobilizadores de movimentos possibilitou vivenciar essa
aprendizagem pessoal e refletir a profissional, integrando afetos, movimentos e cognição. Assim,
essa pesquisa mostra que é possível essa integração no processo ensino-aprendizagem sem fazer
dicotomias ao desconsiderar o papel dessa junção no Ensino Superior, seja em qual curso for.



REFERÊNCIAS

SILVA, Isabela Dantas da; SILVEIRA, Maria de Fátima de Araújo. A humanização e a
formação profissional em fisioterapia. Rev. Ciência e Saúde Coletiva, v.16, Supl. 1, Rio de
Janeiro, 2011. Disponível em: http://www.randradefisio.com.br/a-humanizacao-e-a-formacao-
do-profissional-em-fisioterapia. Acesso em: 12/08/2011.

BUSS, Ricardo Niehues; REINERT, José Nilson. O humanismo na formação do administrador:
caso UFSC. Avaliação (Campinas), v. 14, n°1, Sorocaba/SP, Mar. 2009. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-40772009000100011.              Acesso
em: 09/10/11.


                                                                                                11
MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: As abordagens do processo. São Paulo: EPU,
2009.

CONDRADE, et. al., Humanização da Saúde na formação de profissionais da fisioterapia. Rev.
Equilíbrio Corporal e Saúde, 2010; 2(2): 25-35.

LOBERTO, Tânia Sanches. O papel da afetividade no processo ensino-aprendizagem segundo
professores de Educação Física. In: ALMEIDA, Laurinda Ramalho; MAHONEY, Abigail
Alvarenga (Org.). Afetividade e aprendizagem: contribuições de Henri Wallon. São Paulo:
Loyola, 2009.

WALLON, H. Psicologia e educação na infância. Lisboa: Estampa, 1975.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo:
Paz e Terra, 1996.

FUX, M. Dançaterapia. São Paulo: Summus, 1988.

SANTOS, E. C. da M.; COUTINHO, D. M. B. Pessoas com deficiência e dança: uma revisão
de literatura. Pesquisas e Práticas Psicossociais, v.3 (1), São João del-Rei, Ag. 2008.
Disponível                          em:                         http://www.ufsj.edu.br/portal-
repositorio/File/revistalapip/volume3_n1/pdf/Santos_Coutinho.pdf. Acesso em: 19/09/2011.

BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Fisioterapia. Resolução
CNE/CES,         4        de       fevereiro      de       2002.        Disponível         em:
http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES042002.pdf. Acesso em: 15/08/2011.

VYGOTSKY, L. S. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1987.




                                                                                           12

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Dança, cognição e formação do fisioterapeuta

  • 1. DANÇA, COGNIÇÃO E AFETIVIDADE NA FORMAÇÃO DO FUTURO PROFISSIONAL DE FISIOTERAPIA Flávia Pinheiro Della Giustina1/FACIPLAC-DF e-mail: flaviagiustina@terra.com.br Carla Chiste Tomazoli2/FACIPLAC-DF e-mail: carlatomazolisantos@hotmail.com Resumo: O objetivo desse estudo foi investigar, sob a visão do graduando em Fisioterapia, seu processo de formação, a partir do Curso de Extensão em Dança e Movimento e seus recursos mobilizadores, bem como suas contribuições ao despertar a afetividade e cognição dos alunos no Ensino Superior. Participaram da amostra 6 alunas do 2°, 4° e 5° períodos, e 7 crianças com patologias neurológicas, que tiveram papel fundamental para incitar a reflexão, tanto dos atendimentos convencionais realizados na clínica, quanto dos encontros de dança. Os instrumentos utilizados foram os registros escritos em Incidentes Críticos e relatos dos encontros do grupo de Dança e Movimento, realizados na clínica-escola de Neuropediatria das Faculdades Integradas da União Educacional do Planalto Central, situada no Gama/DF. Os dados desse estudo piloto foram coletados, transcritos e encaixados em análise de conteúdo, tendo uma abordagem qualitativa, descritiva dos fenômenos. Os resultados mostraram que, tanto nos atendimentos convencionais quanto nos encontros de dança, as dimensões cognitivas e afetivas estiveram presentes, contudo a estratégia utilizada na dança permitiu às alunas da Fisioterapia maior expressão da afetividade e reflexão da prática, contribuindo para futuras pesquisas com elucidações acerca da formação numa visão humanística a que se propõe a graduação. Palavras-chave: dança; cognição e afetividade; formação humanística. 1 Mestre em Psicologia do Desenvolvimento Humano em Processos Educativos e Especialista em Psicopedagogia Clínica pela Universidade Católica de Brasília (UCB-DF), formada em Dançaterapia pelo Método María Fux, professora do curso de Extensão em Dança e Movimento do curso de Fisioterapia das Faculdades Integradas da União Educacional do Planalto Central (FACIPLAC-DF), e dos cursos de Farmácia e Enfermagem; atua como psicopedagoga clínica em consultório próprio. 2 Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília (UnB), Especialista em Fisioterapia Clínica pela UNIPLAC (União Educacional do Planalto Central), professora do curso de Fisioterapia da FACIPLAC em Estágio Supervisionado I – Pediatria/Neuropediatria. 1
  • 2. 1 – Introdução A proposta do presente estudo sugere uma reflexão acerca da formação do profissional de Fisioterapia ao considerar o aspecto humanístico da graduação como necessário para o desenvolvimento pessoal e profissional. Sabe-se que não é somente a cognição a ser priorizada num curso de graduação, mas também os aspectos afetivos decorrentes do próprio processo de aprendizagem humana. O que se observa é uma tendência educacional prevista nos Parâmetros Curriculares Nacionais dos cursos de graduação em não se focalizar os treinamentos do desenvolvimento motor e práticas numa visão teórica ou tecnicista a ser utilizada pelo futuro profissional. Mas, na prática do Ensino Superior, isso ainda ocorre de forma muito frequente. Essa necessidade do profissional de Fisioterapia em ligar os aspectos motores à afetividade e à cognição advém da observação na própria clínica, no período de estágio dos graduandos, quando se percebe que não somente os conteúdos apreendidos nas disciplinas do curso superam a demanda ao trabalhar com o paciente de forma satisfatória, pois é necessário algo a mais. Principalmente, quando se depara com algumas dificuldades nos atendimentos de Fisioterapia, pois muitos pacientes necessitam de tratamento por longos períodos, o que torna as ações repetitivas e exaustivas. Para crianças que não têm a consciência dos seus ganhos, a continuidade do processo terapêutico nessa situação passa a ser desagradável e pouco proveitosa. Por isso, colocar-se no lugar do outro é imprescindível. Conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais do curso (PCN/CES, 2002), os alunos futuros profissionais deverão atuar sempre “sensibilizados e comprometidos com o ser humano, respeitando-o e valorizando-o.” Assim, ao utilizar as estratégias da dança no Curso de Extensão e relacioná-las com os atendimentos convencionais a pacientes portadores de deficiências neurológicas, buscou-se a combinação de música, movimento, cognição, sentimentos e emoções, para estabelecer conexões e a reflexão da atuação profissional nos atendimentos. O aspecto lúdico abordado pela dança espontânea, como elemento mobilizador para o processo de aquisição de movimentos voluntários, respeita a individualidade da criança e seu desenvolvimento, e seus recursos são diferenciados dos equipamentos utilizados na Fisioterapia tradicional. 2 – Referencial Teórico O estudo apoiou-se na teoria de desenvolvimento de Henri Wallon, na fase adulta, e no desenvolvimento da afetividade de Vygotsky, como inseparável da cognição e da dimensão social, tal qual as demais funções psicológicas superiores. 2
  • 3. Na visão de Vygotsky há uma interconexão funcional dos pensamentos e sentimentos, ou seja, da cognição e dos afetos, que para ele um não ocorre sem o outro. Isso acontece devido aos processos volitivos, ou seja, movidos pela vontade, que é inicialmente social. Para ele, essa realização faz parte da condição do ser humano e não acontece sem a presença das relações sociais que a potencializam. Ou seja, no contexto de formação do aluno, as conexões entre cognição e afetividade serão observadas na realidade social, no próprio contexto das interações de aprendizagem. Contribuindo para essa compreensão da dimensão social dos pensamentos e emoções, o desenvolvimento da afetividade para Wallon tem papéis diferenciados em cada estágio da vida do indivíduo, porém o enfoque diante o delineamento da pesquisa é a idade adulta, quando as transformações ocorridas na vida estão focadas nas “suas necessidades, possibilidades e limitações, seus sentimentos e valores, (...) escolhas em decorrência de seus valores. Há um equilíbrio entre estar centrado em si e estar centrado no outro.” (MANOHEY & ALMEIDA, 2009) Loberto (2009), apoiado nos estudos de Wallon acredita que a afetividade desempenha papel crucial no desenvolvimento pessoal e profissional do indivíduo em formação. Baseando-se nessa tendência da formação do aluno na graduação, percebe-se que humanizar, quando se trata de saúde, refere-se à possibilidade de uma transformação cultural da gestão e das práticas desenvolvidas nas instituições, assumindo-se uma postura ética de respeito ao outro, de acolhimento do desconhecido, de respeito ao usuário, o mesmo passando a ser entendido como um cidadão e não apenas como um consumidor de serviços de saúde. (SILVA & SILVEIRA, 2011). Freire (1996) também já criticava o ensino puramente técnico-científico, pois para ele "transformar a experiência educativa em puro treinamento técnico é amesquinhar o que há de mais fundamentalmente humano no exercício educativo: o seu caráter formador". Conforme Buss & Niehues (2009), somente a formação técnica não basta, pois na educação, o homem precisa entender seus semelhantes. Assim, o estudo torna-se de grande relevância, pois reconhece o Ensino Superior como lugar para desenvolver pesquisas sobre seus próprios atores, e no caso, especificamente sobre a percepção dos próprios alunos de Fisioterapia, dando-lhes voz para reflexões contínuas acerca do processo de formação e do desenvolvimento humano em processos educativos. Diante do objetivo proposto, houve a necessidade de redefinição do conceito de humanizar para esse estudo, ao considerar que a afetividade do futuro profissional visa reconhecer e aceitar o outro em sua totalidade, desde já na formação inicial, na graduação. Essa visão leva em consideração o conceito de aprendizagem pautado no respeito ao bem-estar do 3
  • 4. sujeito e em suas possibilidades de adaptação para alcance dos objetivos propostos, principalmente quando se trata de atendimentos às crianças. O estudo de Mizukami (2009) baseia-se na abordagem humanista de ensino- aprendizagem, ou seja, também no processo de formação do aluno, sob a visão das interações que são estabelecidas ao aprender. Tal estudo apresenta como características o aluno como um ser único em processo de descoberta, sendo seu objetivo a auto-realização ou uso pleno de suas potencialidades, quando se busca estabelecer qualidade nos relacionamentos interpessoais, e um conhecimento dinâmico para uma aprendizagem que abranja conceitos e experiências resultantes de um processo de aprendizagem pessoal. Com base nos estudos já realizados através da música e da dança, é importante ressaltar Fux (1998), que sustenta a impossibilidade de compreender a música sem mover o corpo, pois pelos sons o corpo é estimulado a produzir imagens, as quais se comunicam entre si na busca da totalidade ao expressar-se. Para essa mesma autora, a música quando absorvida, produz o movimento, ou seja, transforma-se em corpo-movimento e movimento pelo corpo. Assim, também ocorrem com as cores, as palavras, os objetos que utiliza em seu método de dançaterapia, os quais são observados e interpretados, segundo a experiência subjetiva de cada um, e podem ser mobilizadores de novas possibilidades de movimentos corporais. Esse método de dançaterapia criado por essa autora surgiu com a necessidade dela própria, bailarina e coreógrafa, buscar novas formas de se movimentar após uma queda e ruptura da patela. Com a interrupção e impossibilidade de dançar como antes, descobriu como ativar as partes sadias do corpo para mover-se de maneira prazerosa e integrando outras partes do corpo em cada movimento. Nesse contexto de dança para a integração, totalidade do indivíduo e aprendizagem, que o presente estudo baseou-se para utilizá-la como recurso para aprender e reaprender de forma humanística. Condrade et. al (2010) revela a importância de incluir conhecimentos e práticas de trabalho com foco na corporeidade e alteridade, na perspectiva da humanização em saúde, para que se aprenda a lidar com emoções e subjetividades. E a dança nesse contexto, também em Santos & Coutinho (2008), é considerada um veículo/instrumento que pode ser utilizado para recreação e/ou reabilitação. 3 – Metodologia e Procedimentos Para alcance dos objetivos, adotou-se o procedimento metodológico da pesquisa experimental, de forma exploratória e descritiva dos fenômenos, com abordagem qualitativa. Os resultados coletados dos registros escritos, dos momentos de observação na clínica-escola, e de 4
  • 5. vivência na dança foram analisados qualitativamente pelas pesquisadoras, encaixados em categorias de análise de conteúdo. A amostra do estudo foi composta por 6 alunas de vários períodos do curso, que participaram da inscrição e seleção para o Projeto de Extensão e hoje ainda se encontram no estágio de treinamento e/ou observação de 7 crianças, escolhidas quanto à disponibilidade em participar das sessões grupais de dança, em 8 encontros, nos meses de agosto a outubro, no horário previamente estabelecido, com duração de 45 minutos aproximadamente, além de ter idade compreendida entre 4 a 10 anos, e apresentarem cognitivo preservado em suas patologias. A proposta sugerida foi conduzida pela professora-pesquisadora, com formação em Dançaterapia (Método Maria Fux), e acompanhada pela outra professora-pesquisadora fisioterapeuta, a fim de observar o grupo assinalando as necessidades que percebia para um melhor desenvolvimento das crianças sob aspecto motor, e das alunas, sob aspecto da formação profissional. Todas as alunas-fisioterapeutas participaram das sessões, ora realizando movimentos com a criança, ora realizando as propostas de movimento conjuntamente como integrante participativo do grupo. As alunas responderam 3 (três) avaliações /investigações na forma de redação, Incidente Crítico (IC), para levantar o componente afetivo ao trabalhar com crianças especiais. Esse instrumento para coleta de dados foi baseado no estudo de Loberto (2009), e é um instrumento muito utilizado em pesquisas qualitativas em Educação sobre formação de professores, pois consiste em uma técnica de análise do cotidiano. Ao analisar o incidente, ou seja, um caso, o indivíduo que faz a análise está falando de si mesmo, de suas crenças, concepções sobre o assunto tratado, ao se referir às outras pessoas. (LOBERTO, 2009) Esse modelo de instrumento foi adaptado em casos que focavam as patologias neurológicas de dados de anamneses da clínica-escola/FACIPLAC. As alunas-fisioterapeutas analisaram os casos de forma espontânea, sempre no contexto de ensino-aprendizagem, na sala de atendimento do Estágio Supervisionado ou na sala de atendimento da Fisioterapia adaptada para os encontros de dança, escrevendo o que achavam pertinente ao tratamento com cada criança sugerida nos Incidentes Críticos (IC-01, IC-02, IC-03): Incidente Crítico (IC-01) Márcia tem 11 anos é portadora de paralisia cerebral traqueleomalácia periventricular, e realiza atendimentos de fisioterapia desde os três meses de idade. Sempre demonstrou interesse e participação nas propostas terapêuticas, porém, a partir desse ano, revelou resistência na continuidade do seu tratamento, e relatou aos pais que não quer mais frequentar as sessões. O 5
  • 6. prejuízo da interrupção no tratamento é grande, pois perderia as funções motoras já adquiridas, sendo que ainda não anda. Ela é uma criança feliz, respeitada pelos pais, que também estão preocupados com essa decisão da filha. Ela tem dito a eles com freqüência: “Faço sempre as mesmas coisas, mamãe!”, “Estou enjoada, não quero ir!”, “É chato, papai!”. A mãe se pergunta se não haveria outras formas de conduzir o tratamento da filha e gostaria que ela continuasse feliz na luta para alcançar seus desejos de ver um dia a filha andar. Incidente Crítico (IC-02) A criança tem 2 anos, é portadora de Epidermólise Bolhosa, uma doença cuja alteração de pele é generalizada. A qualquer toque, gera-se uma ferida com sangue, de foco interno e externo, com riscos de infecção. Sua alimentação é naso-parental, porque nada pode encostar-se a sua pele, nem mesmo alimentos. Só pode ingerir um tipo de leite, e também, com cuidados durante este momento, pois o leite não pode cair em contato com sua pele. Cada lata deste leite custa R$300,00 (trezentos reais), e ela consome ao longo de um mês 21 latas. Sua família é humilde, e seus pais somente agora conseguiram que o SUS arcasse com essa despesa em seu tratamento. As feridas são tratadas com remédios de uso tópico que podem sair com água, para que não haja necessidade de cobrir com gaze, ou mesmo de passar algodão, que vinha ocasionando feridas ainda piores. O tratamento sugere, além de fonoaudiologia, atendimentos em fisioterapia, visto que ainda não anda, sua motricidade encontra-se aquém para sua idade. Porém, o profissional para atendê-la deve usar luvas, capote, máscara e touca. O local de contato dela com o chão ou colchões necessita ser forrado com lençol para evitar contaminação, pois tem muitas feridas pelo corpo. Já emite alguns sons, fala “mamãe”, “papai”, “dá”; ri e chora quando frustrada. É uma criança que gosta de brincar, e faz um bom contato visual. Incidente Crítico (IC-03) A criança tem 8 anos e apresenta Amiotrofia Espinhal, uma lesão no corno posterior da medula. Seu quadro motor é precário para sua idade, pois revela falta de controle do equilíbrio. Quando colocada para sentar, e acontece qualquer inclinação do eixo de equilíbrio, perde o controle e desarma. Para pegar um objeto na linha média, precisa apoiar o cotovelo sobre o joelho realizando uma alavanca. Essa criança é insegura, tem medo de cair, e seus movimentos ainda se tornam mais limitados perante esse aspecto emocional. 4– Análise e Discussão dos Dados Para análise desses Incidentes Críticos, foram observadas as dimensões cognitivas e afetivas das 6 alunas participantes (AL-01, AL-02, AL-03,, AL-04, AL-05, AL-06). (Tabela de transcrição das redações). As alunas expressaram sentimentos, porém apenas 2 do grupo (AL-05 6
  • 7. e AL-06) não explicitaram afetos, nem nos atendimentos da clínica convencional, nem nos encontros da dança. Entretanto, vale ressaltar que embora não explicitam afetividade, estão participando, realizando os atendimentos e observações na clínica, bem como dos comandos solicitados nos encontros da dança. Para AL-01, a hidroterapia e a equoterapia são conhecidas e reconhecidas pelos profissionais da Fisioterapia como atendimentos eficazes no tratamento com crianças com patologias neurológicas, porém a dançaterapia não tem uma aplicação como as outras formas de atendimento que não utilizam mesmos recursos e/ou estratégias tradicionais nos serviços da Fisioterapia. Há um desconhecimento por parte da aluna sobre atuações abordando a dança como recurso para os atendimentos com essas crianças. Ela percebe a necessidade de estimular as crianças nos atendimentos da Fisioterapia tradicional, e sabe da importância da participação de forma prazerosa do paciente, pois reconhece que isso contribui para o desenvolvimento dos atendimentos. O olhar do futuro profissional nos encontros com a dança não romperam com a proposta de formação, pois está presente quando observa as crianças e vivencia os movimentos executados por todos. Essa observação traz conceitos próprios da Fisioterapia, e reconhecê-los no corpo em movimento faz refletir a aplicabilidade dos recursos da dança. Essa utilização dos recursos da dança possibilitou a percepção do outro além dos movimentos corporais. As observações, como compartilhar os movimentos, a simplicidade dos materiais utilizados que despertam a movimentação e o prazer, os momentos agradáveis, o aprender a conviver e respeito, estiveram presentes. Para AL-02, a dimensão afetiva também é priorizada no atendimento convencional, pois para ela a interação é construída com cuidado. Mostra respeito pelo ritmo do paciente e dessa própria interação. A partir do movimento da criança, percebe que o tratamento convencional tem resultados significativos porque há colaboração dela. Prazer, curiosidade, respeito permeiam a relação fisioterapeuta-paciente. E ao olhar para si, fisioterapeuta, percebe que também pode trabalhar sua possibilidade de amplitude, mobilidade, graduação de força, assim como as crianças. Tabela 1 - Transcrição das redações 7
  • 8. Transcrições das redações Incidente Crítico Fisioterapia Tradicional Relato dos encontros da dança Curso de Extensão Alunas Dimensão da Cognição Dimensão da Afetividade Dimensão da Cognição Dimensão da Afetividade AL- 01 (IC/01)...levá-la ao conhecimento (IC/01)... pois nada adianta no ... estimula a flexibilidade, além de ser A experiência de hoje com a dança da hidroterapia, equoterapia e até tratamento se o próprio paciente não um elemento de apoio,... exige força foi muito boa.... mesmo da dançaterapia e acreditar ou estiver gostando. muscular, mas não tão intensa a ponto de ...compartilhamos os movimentos observar com qual ela mais se levar à fadiga. com o próximo. identifica e aproveitar isso... ...utilizamos a cadeira como ponto de ...percebi que tinha criança (IC/02)...dar a essa criança apoio. Foi interessante o acanhada, no entanto curiosa em estímulos proporcionará um desenvolvimento da cada criança... participar. Acredito que a cada desenvolvimento melhor, ... ...a participação foi muito boa em encontro mais interessante será o possibilitará um desenvolvimento relação ao último encontro, ela quase resultado. Gostei da música... neuropsicomotor mais próximo não se movia. acredito que para as crianças do normal. O uso do tambor trabalha o lado da também foi bom. ....e a coordenação e por ter... que usar os reação das crianças foi a melhor membros de forma simétrica. possível. Quanto mais diferente for o Utilizar o papel celofane ... é uma forma objeto utilizado, mais atrativo se de agregar...motor e cognitivo da criança, torna o encontro para as crianças. tendo suas propriedades físicas como A ideia do papel celofane abriu meus aliado facilita e induz... a fazer olhos...algo simples... e no entanto movimentos. trazer bom resultado. A interação ....a criança faz alongamentos e trabalha que nós alunos e professores a musculatura de forma excêntrica, tivemos deve continuar, foi um concêntrica.... momento agradável... entre as crianças, isso é importante..., aprender a conviver... Aqui é um local que não deve haver preconceito...porque a forma de funcionalidade dele é atípica, mas cabe a nós... incentivarmos o contato e respeito mútuo. Transcrições das redações Incidente Crítico Fisioterapia Tradicional Relato dos encontros da dança Curso de Extensão Alunas Dimensão da Cognição Dimensão da Afetividade Dimensão da Cognição Dimensão da Afetividade AL- 02 (IC/01)...com crianças é (IC/02) O cuidado, delicadeza para ...permite um trabalho...de tudo...força ...recursos...devem ser criativos e importante ...o despertar da desenvolver uma interação, é muscular, respiração, equilíbrio, atrativos, porque senão o corpo curiosidade... recursos...atrativos fundamental. coordenação motora, mobilidade simplesmente ignora o que é e prazerosos...permite uma (IC/03) O movimento pode ser articular... flexibilidade, alongamento. proposto....comandos estimulam a colaboração maior do paciente e construído pela criança. Foi proporcionado a todos... a descoberta do corpo tanto do próprio ao mesmo tempo resultados possibilidade de amplitude, mobilidade, como do outro. ...a expressão da significativos... graduação da força... que o corpo muitas liberdade pode ser sentida... vezes realiza sem perceber. AL- 03 (IC/03)... um cercado com ajuste, (IC/01)O que é possível ser feito é Pude perceber articulações antes quase Eu estava ansiosa... senti-me permitindo que sua circunferência descobrir a causa desse desânimo. ao imóveis... envolvida pela música, calma... mas aumentasse... com altura no meu ver, essa criança precisa enfrentar o O elástico me trouxe segurança, que não me deixou dormir. abdômen da criança... medo. equilíbrio e coordenação. Houve Mas eu fiquei o tempo toda (IC/02)...é atenta a tudo, principalmente movimento, equilíbrio, iniciativa própria. preocupada com a criança. Eu aos sons... se embala... esqueci que ela independe de mim, (IC/03) Ela perderia o medo, porque o que ela tem vontade própria. Talvez objeto de sua confiança não está longe. por querer o melhor para o paciente. Não é só o paciente que está aprendendo, mas os fisioterapeutas também. Eu estou aprendendo a confiar mais nos outros. Permitindo que a criança mostre o que ela é capaz. Trazer o tambor pra dança foi muito bom! Espontâneo. Era aquilo que eu queria. Mesmo sem saber qual movimento ou fala que eu faria, quando chegasse minha vez. 8
  • 9. Transcrições das redações Incidente Crítico Fisioterapia Tradicional Relato dos encontros da dança Curso de Extensão AL- 04 (IC/01)... O fisioterapeuta...tem Trabalhamos as articulações com o ...é uma nova experiência para o que elaborar novas formas de nosso limite, não promovendo uma coisa conhecimento do nosso próprio continuar trabalhando, para que forçada ou impossível de se realizar. corpo. as funções já adquiridas ao longo Para as crianças... será um benefício A música te deixa leve e te desse período possa evoluir. estimular aquilo que talvez na fisioterapia possibilita a fazer os movimentos (IC/02) É preciso trabalhar sua não se perceba. sem sequer ser planejado... motricidade e usar do seu contato ...trabalhou a concentração porque tem Esse encontro que utilizamos o visual como um "aliado" no que esperar a batida do tambor. próprio tambor foi muito divertido e tratamento. envolvente. As crianças se soltaram, (IC/02) É preciso trabalhar o seu sorriram, se sentiram mais seguras controle de equilíbrio para poder pelo fato de estarem sentadas no desenvolver melhor outras chão. A força de vontade das funções. crianças é notável em querer realizar os movimentos iguais ou até mesmo parecidos. ...permitiu conhecer mais o nosso corpo e também o corpo do outro... ...espero que o grupo evolua cada vez mais. AL- 05 (IC/01) Deve-se incentivar os ... o elástico trabalha a flexibilidade e a pais a buscarem uma nova forma força do corpo. de tratamento para a filha, mas ...o trabalho vai sendo realizado de forma não abandonar a fisioterapia tranquila e rítmica... tradicional, ressaltando sempre a ...foi trabalhado a força muscular, o ela a importância de continuar o equilíbrio para realizar os movimentos de tratamento. uma forma mais dinãmica e livre. (IC/02) Como o cognitivo ...é ...a primeira experiência com as crianças preservado...é mais fácil buscar foi muito proveitosa, todas cooperaram , alternativas como a dançaterapia dentro de seus limites... para auxílio na terapêutica da ...mas aos poucos e com paciência criança... conseguiremos fazer que ele participe melhor da atividade. Transcrições das redações Incidente Crítico Fisioterapia Tradicional Relato dos encontros da dança Curso de Extensão Alunas Dimensão da Cognição Dimensão da Afetividade Dimensão da Cognição Dimensão da Afetividade AL- 06 (IC/01) O fisioterapeuta deve ...movimentos fizeram com que as conscientizar a criança, e crianças trabalhassem a concentração, principalmente os pais da coordenação, amplitude de movimentos importância do tratamento e ... e equilíbrio. que não deixem a criança Percebemos que a maioria se divertiu e desistir, mesmo que ela queira. fez os movimentos , na medida do O fisioterapeuta deve traçar um possível... tratamento mais dinâmico para despertar o interesse dela novamente. (IC/02) ...o tratamento deve ser mais específico ... Aluna AL-03 percebe que o passo inicial para mudança da criança é descobrir os motivos que a levam a responder aos estímulos da maneira que apresenta. Isso a faz refletir as técnicas empregadas. Na fisioterapia convencional revela dúvida, esperança em suas ações. Na dança, mostra afetividade quando explicita ansiedade pelos momentos a serem realizados por ela mesma, preocupação com o outro, respeito pela criança, por si mesma. Os movimentos sugeridos revelaram a ela a descoberta de suas próprias articulações antes quase imóveis. A criatividade é reconhecida como algo que pode ser desenvolvida pelo fisioterapeuta, tanto no atendimento convencional quanto na dança, porque o corpo realiza os movimentos quando há prazer, bem-estar e liberdade. A necessidade do fisioterapeuta em buscar formas para garantir a evolução do paciente é revelada por AL-04 como um recurso que depende da formação do profissional nos 9
  • 10. atendimentos convencionais. O paciente recebe as estimulações do profissional, e sua participação nos atendimentos é a de executor. Já nos encontros da dança, também se observa aspectos motores, como a articulação, mas nesse momento ela mesma percebeu que o movimento não é forçado. E então reflete que tais movimentos, aqueles executados de forma espontânea, podem passar despercebidos na fisioterapia tradicional. Os sentimentos nos momentos de dança foram de alegria, descontração, segurança, prazer, entretanto no atendimento convencional, a afetividade não é revelada. Tais sentimentos explicitados a partir dos recursos da dança, por AL-04, ressaltam a importância de conhecer o próprio corpo e do outro, ter a liberdade de movimentar. Essas observações mostram a afetividade representada não somente na relação com o outro, mas também um respeito às próprias condições enquanto participante do grupo, diferentemente dos atendimentos convencionais relatados por ela. O aluno-fisioterapeuta na dança coloca-se numa posição de igualdade com as crianças, percebendo que possui dificuldades e limitações também. As dificuldades encontradas nos atendimentos pelo futuro fisioterapeuta podem ser vivenciadas, mas nem sempre serão conduzidas pelo profissional respeitando as demandas do próprio paciente, como observado nos relatos de AL-05. Há um desejo e expectativas de melhora no tratamento por parte da aluna, uma expectativa e ansiedade, porém revela não saber como conduzi-las, principalmente quando lhe exige compreensão/aceitação das emoções e sentimentos do outro perante os atendimentos já realizados. O cognitivo preservado da criança possibilita buscar novas alternativas nos atendimentos da fisioterapia tradicional, que podem auxiliar a condução terapêutica, porém essa mesma aluna ainda não sabe como utilizá-las na prática. Embora participe dos encontros da dança, não revela seus sentimentos e emoções, limita-se a reconhecer que os recursos trabalham flexibilidade, ritmo, força muscular, porém não explicita afetividade, fica na observação das crianças enquanto executoras de movimentos. Vale ressaltar que sua participação nas produções escritas, respostas aos Incidentes Críticos e relatos, foi reduzida, pois não realizou todas as tarefas solicitadas. Percebe-se que ainda não há maior compromisso e envolvimento pelo trabalho realizado no Curso de Extensão em Dança e Movimento, talvez por ainda não reconhecer como importantes outras estratégias que não sejam da Fisioterapia tradicional. O tratamento da criança é visto como importante, porém a aluna AL-06 não percebe que depende também da relação que é estabelecida. Aqui, os pais e a criança puderam sentir, expressar suas dificuldades, entretanto o fisioterapeuta pode ser mais criativo e afetivo nessas situações. Essa aluna percebe que o atendimento pode ser mais específico como o caso apresentado, porém ainda não consegue identificar quais seriam essas demandas. 10
  • 11. 5 – Considerações Finais Todas as 4 alunas revelaram compreensão da proposta e participação de forma singular, visto que cada uma mostrou a sua maneira de movimentar, seu ritmo interno e exploração diferenciada dos recursos mobilizadores utilizados, como elástico, cadeira, tambor, papel celofane. Com base nos relatos das alunas após as vivências, ficou evidenciada a percepção delas quanto à diferença de tempo de exploração dos materiais, originalidade na manipulação deles, pois nenhum movimento era igual. Pode-se perceber que os momentos diferenciados em situação de aprendizagem na formação puderam revelar as dimensões cognitivas e afetivas que foram acionadas nas interações com as crianças. E as situações de aprendizagem vividas no Curso de Extensão despertaram no futuro profissional um olhar diferente, focado não somente no movimento mecânico, mas naqueles espontâneos que despertam prazer e bem-estar em quem realiza, além de compreender que há expectativas geradas nos atendimentos, seja pela criança, seja pelo fisioterapeuta. A formação humanística dos alunos, integradora, pode influenciar os envolvidos na participação de atividades práticas que inserem aluno-docente-crianças em um contexto de “aprendizagem que abranja conceitos e experiências resultantes de um processo de aprendizagem pessoal”. (MIZUKAMI, 2009) A dança e seus recursos mobilizadores de movimentos possibilitou vivenciar essa aprendizagem pessoal e refletir a profissional, integrando afetos, movimentos e cognição. Assim, essa pesquisa mostra que é possível essa integração no processo ensino-aprendizagem sem fazer dicotomias ao desconsiderar o papel dessa junção no Ensino Superior, seja em qual curso for. REFERÊNCIAS SILVA, Isabela Dantas da; SILVEIRA, Maria de Fátima de Araújo. A humanização e a formação profissional em fisioterapia. Rev. Ciência e Saúde Coletiva, v.16, Supl. 1, Rio de Janeiro, 2011. Disponível em: http://www.randradefisio.com.br/a-humanizacao-e-a-formacao- do-profissional-em-fisioterapia. Acesso em: 12/08/2011. BUSS, Ricardo Niehues; REINERT, José Nilson. O humanismo na formação do administrador: caso UFSC. Avaliação (Campinas), v. 14, n°1, Sorocaba/SP, Mar. 2009. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-40772009000100011. Acesso em: 09/10/11. 11
  • 12. MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: As abordagens do processo. São Paulo: EPU, 2009. CONDRADE, et. al., Humanização da Saúde na formação de profissionais da fisioterapia. Rev. Equilíbrio Corporal e Saúde, 2010; 2(2): 25-35. LOBERTO, Tânia Sanches. O papel da afetividade no processo ensino-aprendizagem segundo professores de Educação Física. In: ALMEIDA, Laurinda Ramalho; MAHONEY, Abigail Alvarenga (Org.). Afetividade e aprendizagem: contribuições de Henri Wallon. São Paulo: Loyola, 2009. WALLON, H. Psicologia e educação na infância. Lisboa: Estampa, 1975. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. FUX, M. Dançaterapia. São Paulo: Summus, 1988. SANTOS, E. C. da M.; COUTINHO, D. M. B. Pessoas com deficiência e dança: uma revisão de literatura. Pesquisas e Práticas Psicossociais, v.3 (1), São João del-Rei, Ag. 2008. Disponível em: http://www.ufsj.edu.br/portal- repositorio/File/revistalapip/volume3_n1/pdf/Santos_Coutinho.pdf. Acesso em: 19/09/2011. BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Fisioterapia. Resolução CNE/CES, 4 de fevereiro de 2002. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES042002.pdf. Acesso em: 15/08/2011. VYGOTSKY, L. S. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1987. 12