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SEGUNDA UNIDADE: ROLAR
Nesta etapa, sabemos que aos poucos, você começa a ter domínio sobre algumas características
da cultura surda e da língua de sinais e pode começar a fazer alguns movimentos em direção a uma
concepção de surdez ou outra, mostrando um certo controle sobre o conhecimento que vem adquirindo,
arriscando algumas transferências para um lado ou para o outro, o certo é “deitar e rolar”. O objetivo é
que aprofunde cada vez mais suas habilidades profissionais e possa alcançar maior flexibilidade e
percepção corporal, atentando-se para o que ocorre ao seu redor, exercitando seus movimentos, ou
rolando na direção adequada. As quedas ou retrocessos que possam vir a acontecer nesta etapa,
fazem parte do processo e também ensinam, o importante é saber o que se aprende com os obstáculos.
Como já vimos, para uma verdadeira imersão na cultura surda, um dos aspectos fundamentais a
ser desenvolvido encontra-se na esfera visual, começar a diferenciar as expressões faciais, os
movimentos de cabeça, de olho, isto é, aprofundar a acuidade visual, para que aos poucos, possa
reconhecer os pontos de apoio neste crescimento, suas referências ou modelos de sustentação e ir
cada vez mais ampliando o seu campo de visão. É preciso então, que nesta etapa o olhar torne-se
cada vez mais ativo, para que se desenvolva uma atenção visual, que será essencial para o
desempenho linguístico, inclusive influenciando o controle de cabeça e a organização espacial.
Além disso, nota-se que a expressão corporal, aspecto também fundamental nesta imersão, começa
a se apresentar, ainda que timidamente. Mas, este deve ser o ponto de partida para todo o
desenvolvimento neste campo. É importante exercitar as diferentes posturas que o corpo pode assumir
em um momento de comunicação, realizar exercícios de extensão e flexão, alternando-os, explorando
o seu próprio corpo, de um lado e do outro. Por exemplo, refletir como é que fica o tronco em
determinado tipo de comunicação em língua de sinais? E os braços, de que forma participam? E buscar
executar essas posturas. Sendo assim, a postura torna-se um elemento importantíssimo na
comunicação em língua de sinais. Uma postura desleixada em um momento de uma comunicação
formal, pode colocar tudo a perder.
Outro aspecto indispensável na aprendizagem das línguas de sinais, diz respeito a forma que a mão
fica no momento de execução do sinal. O aprendente de língua de sinais deve compreender a
centralidade das mãos nesta língua, perceber o formato das mãos em cada sinal realizado, como fica
a palma da mão, os dedos, o dorso da mão, se são duas mãos ou somente uma, tudo isso vai compor
o que se denomina em língua de sinais de Configurações de mão, como vemos abaixo.
Quadro de Configuração de Mãos (Faria-Nascimento, 2009).
Sendo assim, realizar exercícios manuais, de relaxamento, como abrir e fechar as mãos ou
rotacionar os pulsos antes das aulas de língua de sinais, servem para relaxar a musculatura e contribuir
para um desempenho mais assertivo na execução do sinal.
Toda esta aprendizagem em língua de sinais favorecerá o entendimento sobre a cultura surda e a
respeito do modo visual de ser da comunidade surda, que deverá servir de base para a compreensão
de como devemos ensinar Língua Portuguesa, na modalidade escrita para surdos. É evidente que a
partir de uma base visual, de um mapeamento visual de letras, palavras e textos.
GANHANDO FORÇA E EQUILÍBRIO – POLÍTICAS E FILOSOFIAS EDUCACIONAIS
PARA ESTUDANTES SURDOS
Em primeiro lugar, é importante admitirmos que a educação de surdos é um processo complexo e
instigante, na medida em que envolve assumirmos posições no que diz respeito às políticas
educacionais para esse público e analisar as filosofias educacionais inventadas ao longo do percurso
histórico, além do que, requer pensarmos sobre aspectos culturais, linguísticos e identitários.
Nada disso poderá ser colocado em ação, se não nos debruçarmos sobre a comunidade surda e
seus símbolos, suas singularidades, demandas clínicas, linguísticas, mas no campo da educação,
principalmente sociais e culturais. Nesse sentido, é que a reflexão deve ser sobre como o trabalho
pedagógico pode contribuir com a construção do conhecimento na comunidade surda, a partir de suas
particularidades.
Conforme o Decreto 5626, de 23 de dezembro de 2005, que regulamenta a Lei de Libras/LSB:
considera-se pessoa surda aquela que, por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo
por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua de
Sinais Brasileira- Libras/LSB.
Nesse sentido, percebe-se uma outra lógica de compreensão da surdez, outra perspectiva e outra
concepção. Não há uma negação de que há uma diferença marcada no corpo nas pessoas surdas.
Pelo contrário, parte-se daí para argumentar que essa comunidade se desenvolve por outros meios,
os visuais, a ponto de construírem uma língua que é completamente pautada na visualidade e na
espacialidade.
Deste modo, é compreendendo-os como sujeitos diferenciados linguisticamente que esta
comunidade necessita de uma educação bilíngue, em que a primeira língua seja a língua de sinais e a
segunda, a modalidade escrita da língua oral. No entanto, não basta olharmos para a educação de
surdos apenas sob o prisma da língua, o que é fundamental. Mas é importante alargarmos nosso olhar
para as questões culturais que envolvem o povo surdo. Sendo assim, esta comunidade deixa de ser
vista sob um prisma clínico, da falta, do defeito e passa a ser reconhecida em seus aspectos culturais
e linguísticos. O professor não é aquele que corrige, que trata, que cura, mas sim aquele que media o
conhecimento para os demais.
Em virtude de tudo isso, torna-se necessário levarmos em conta também as políticas públicas,
entendendo que a perspectiva atual sobre as pessoas com deficiência, exige uma atenção referenciada
em aspectos sociais, em relações entre sujeitos, pois é preciso destacar que nesta visão ocorreu uma
modificação de sentido. Da mesma forma no campo da surdez, o padrão ouvinte não deverá ser
utilizado como um modelo a ser seguido pelas pessoas surdas. Todas as concepções de surdez
baseadas nessa ótica, são denominadas no meio científico como ouvintistas ou audistas.
Por consequência, não é possível entendermos mais as pessoas com deficiência, e neste caso, as
pessoas surdas, a partir de uma cultura de normalidade. Em outra direção, o que se pretende é resgatar
o que há de mais singular no ser humano, as diferenças. Então, as políticas públicas atuais são
fundamentadas nesse novo olhar, nessa nova noção, que se pretende política, mas acima de tudo é
ética.
Sendo assim, temos atualmente a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da
Organização das Nações Unidas (ONU), que traz como princípio a participação plena de todas as
pessoas. Especificamente no Brasil, a Política Nacional de Educação Especial na perspectiva de
Educação Inclusiva (2008) e a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146
de 06 de julho de 2015), também denominada como Estatuto da Pessoa com Deficiência, que se
fundamentam no documento da ONU destacado anteriormente.
Notadamente no caso das pessoas surdas, temos a Lei de Libras (10.436 de 24/04/2002), que
reconhece a língua de sinais brasileira. E o Decreto 5626 de 23 de dezembro de 2005, que regulamenta
esta lei, como já afirmado anteriormente. Este Decreto traz importantes avanços no campo da surdez,
tais como: É a primeira vez que se inclui em uma legislação a Libras como disciplina curricular, explicita-
se como deverá ser a formação do professor e do intérprete de Libras, caracteriza-se a educação
bilíngue para surdos, formaliza-se o Exame de Proficiência em Libras (Prolibras) e situa-se o curso de
Letras/Libras como fundamental na formação dos profissionais da área, entre outros.
No entanto, é preciso considerar que a educação bilíngue deve se pautar para além das questões
das línguas envolvidas, mas dar importância aos aspectos históricos, políticos e sociais em torno da
questão da surdez.
Com relação às filosofias educacionais, ao longo da história os educadores (nem sempre com
formação na área), criaram algumas formas de educar as pessoas surdas. As abordagens mais
conhecidas são: Oralismo, Comunicação Total e Bilinguismo.
O oralismo tem como fundamento a questão orgânica envolvida, isto é, baseia-se no aparelho
auditivo e seus impedimentos para captar os sons. Dessa forma, é construído um conjunto de
estratégias de tratamento e reabilitação da audição perdida. O principal argumento desta filosofia é
que a maioria das pessoas são ouvintes, os considerados normais, e os surdos por serem desvios
dessa norma, precisam se adaptar ao padrão da maioria. Daí derivam diversas técnicas de treinamento
auditivo, instalação de fonemas, mecanismos de articulação e leitura labial.
Toda essa perspectiva encontra-se baseada em um ponto de vista clínico, reabilitadora de cura da
surdez. A questão é que essa ótica é trazida para dentro da escola, transformada em uma prática
pedagógica, na qual os professores assumem uma posição terapêutica e seu trabalho em sala de aula
passa a ter objetivos clínicos: exercícios de respiração, técnicas de relaxamento, desenvolvimento da
fala oral, da audição, entre outras.
Dessa forma, os estudantes surdos são submetidos na sala de aula, a técnicas de correção e
reabilitação clínica. Os professores passam a sentirem-se incapazes, pois não foi esse tipo de
conhecimento que adquiriram durante a sua formação. E os estudantes surdos são avaliados de acordo
com o seu desempenho na aprendizagem da língua oral e não nas disciplinas curriculares, como os
demais estudantes. A língua de sinais é vista nesta modalidade, como perniciosa ao aprendizado da
língua oral, portanto, é proibido o seu uso no contexto escolar.
Como consequência dessa filosofia na educação de surdos, obtemos um alto índice de reprovação
de estudantes surdos, pois não conseguiam alcançar os objetivos pedagógicos enquanto não obtives-
sem êxito no desenvolvimento da língua oral. É sabido que o oralismo é um método clínico, portanto
individual, a ser desenvolvido por fonoaudiólogos e não professores em um contexto de sala de aula,
um trabalho coletivo.
O seu objetivo (trabalho oralista) de capacitar a pessoa surda e fazer uso da voz
precisa ser entendido como uma das facetas a serem consideradas, um dos desejos
a serem satisfeitos, mas não deve ser encarado como o meio e o alvo , o princípio
e o fim. Um surdo oralizado não significa necessariamente uma pessoa
desenvolvida, plena, eficiente. Muito menos significa que está garantida sua
integração à sociedade. (SÁ, 1999, p.98).
Após o fracasso da filosofia educacional oralista, os professores começaram a construir uma nova
forma de educar os surdos, mas sem perder de vista a base clínica desenvolvida por meio do Método
Oral. É aí que entra em cena a abordagem educacional para surdos denominada Comunicação Total.
Dessa forma, os profissionais buscaram resgatar a língua de sinais alijada do método Oral e
acrescentaram-na ao enfoque clínico, como uma espécie de recurso, de complemento ao aprendizado.
A partir daí, são criadas estratégias de bimodalismo, isto é, articulam a língua oral à língua de sinais.
No entanto, vale destacar mais uma vez que a língua de sinais aqui não é considerada uma língua,
mas um recurso, portanto, as estratégias bimodais apresentam como seu fio condutor a estrutura da
língua oral e a língua de sinais entra como um acompanhante menor.
Esse tipo de estratégia bimodal é muito polêmico, porque acaba por desconstruir a estrutura
linguística de uma língua em favor de outra, a do dominante, a da norma padrão. Enquanto que a
língua do grupo minoritário é desconsiderada em seus aspectos gramaticais. Além disso,
pesquisadores afirmam que é impraticável o uso de duas línguas ao mesmo tempo, ainda mais neste
caso que uma língua se processa por um canal oral-auditivo e a outra por um canal espaço-visual. No
caso do Brasil, esse bimodalismo se concretizou como um português sinalizado, encontrado até nos
dias atuais, em algumas práticas pedagógicas.
De acordo com Sá (1999, p.133), a Comunicação Total trouxe mudanças significativas na história
dos surdos, a partir do momento que deixa de proibir a língua de sinais e passa a aceitar melhor as
diferenças das pessoas surdas. No entanto, ressalta que a prática do Português sinalizado, que
caracterizou e continua distinguindo muitas propostas educacionais dessa abordagem, devem ser
preteridas, devido ao prejuízo causado tanto à aquisição da língua de sinais quanto ao aprendizado da
língua portuguesa.
Uma terceira opção de filosofia educacional para surdos denomina-se Bilinguismo, que significa
que a educação de surdos deve se estruturar partindo do princípio que há duas línguas envolvidas: a
língua de sinais (L1), língua natural da comunidade surda, e a língua oral (L2), na modalidade escrita,
língua da comunidade ouvinte na qual os surdos estão inseridos.
Existem formatos diferentes de se colocar em prática o bilinguismo, tais como: Primeiro, a aquisição
em língua de sinais, e só posteriormente a aprendizagem da língua oral, na modalidade escrita. Ou, a
aquisição da língua de sinais e a aprendizagem da língua oral, na modalidade escrita,
concomitantemente, mas cada uma em seu espaço e com suas respectivas estratégias.
A nosso ver, o que deveria definir o formato bilíngue a ser adotado, teria de ser a faixa etária dos
estudantes surdos e o tempo de inserção cultural na comunidade surda. Em outras palavras,
geralmente a criança surda chega na escola sem língua e sem identidade, nesse contexto deveria
primeiro ser realizado um trabalho educativo de aquisição de língua e constituição de identidade. A
partir dos demais anos escolares, a prática bilíngue poderia tornar-se sincrônica, com espaço e tempo
diferenciados, mas no mesmo ano escolar.
Esta perspectiva educacional encontra-se ancorada em pressupostos socioantropológicos e
linguísticos, a partir dos quais compreende-se que os surdos fazem parte de uma comunidade,
possuem uma cultura visoespacial, necessitam desenvolver uma identidade surda atravessada por
questões de gênero, classe, raça, entre outros e sua língua é considerada a primeira e a mais
importante língua utilizada em sua educação.
Nesta ótica, os surdos são vistos como sujeitos diferentes, integrantes de uma minoria linguística e
cultural, portanto sua educação deve ser pautada em princípios interculturais, linguísticos e as
estratégias pedagógicas devem ser visuais, espaciais e é nessa forma que devem norteiar o ensino de
Língua Portuguesa, na modalidade escrita.
TUTORIAL DE CRESCIMENTO -
Prática Pedagógica
A importância da comunicação – A comunicação entre os seres humanos é fundamental! No caso
dos surdos ela é também essencial para o seu desenvolvimento. Portanto, é de suma importância que
o professor saiba se comunicar fluentemente com seus alunos(as) e saiba compreender o que eles(as)
estão querendo falar. O que sua expressão facial e corporal está querendo dizer? Não precisa se
preocupar se ele ainda não lhe entende totalmente, mas você deve se esforçar para compreendê-lo.
Às vezes, tudo o que precisa é de uma comunicação olho no olho, atenção às expressões e a
comunicação fluirá. Busque ficar atento às expressões, gestos, sinais, que seu aluno emite. Tudo isso
servirá de base para o desenvolvimento das línguas, tanto língua de sinais, quanto escrita da língua
portuguesa. Observe sempre como o seu aluno se comunica e vá acrescentando, aos poucos,
possibilidades de imersão linguística, ou seja, atividades lúdicas e espontâneas que favoreçam o
contato visual com uma língua. Sempre planeje, tenha uma metodologia de trabalho, uma rotina e uma
atividade que desenvolva os diferentes tipos de conhecimentos que uma criança surda deve possuir
nesta idade.
A participação do aluno(a) - Seu aluno precisa participar da aula, lembre-se ele é um sujeito ativo.
Ainda que não seja falando uma língua, ele poderá participar por meio da arte, do esporte e da cultura.
Ele precisa sentir-se partícipe, senão irá desestimular facilmente do aprendizado. Há duas questões
essenciais na participação do aluno na aula, que são imprescindíveis ao aprendizado: Sentir prazer
pelo o que está fazendo e fazer parte de um grupo, ou seja, questões de ordem afetiva e social. Ser
invisibilizado do seu próprio grupo, é um sofrimento com consequências emocionais e intelectuais
severas, que a escola não pode corroborar com isso. Nesse sentido é que a escola assume uma
postura provocadora de participação dos alunos, a fim de colaborar com o desenvolvimento de uma
postura crítica e participativa na escola e na vida, inclusive com enriquecimento da autoestima. Dessa
forma, o professor deverá criar as condições para que o estudante participe ativamente.
Atuação de professor de crianças surdas - Outro aspecto fundamental é que o professor de crianças
surdas deve ter disponibilidade para aprender uma língua diferente da sua, apropriar-se de uma cultura
visual, estar sempre antenado com as tecnologias visuais e metodológicas. Além disso, este
profissional deve adquirir o hábito de elaborar mapas conceituais, diagramas, genogramas, árvores
genealógicas, isto é, atividades que indiquem relações visuais entre conceitos, imagens, ideias, ações.
Esta atividade contribuirá para que o professor possa cartografar sua aula ou temáticas que queira
desenvolver com seus alunos por meio de campos conceituais. Assim, como ponto de partida, o
professor pode-se perguntar: o que entende por determinado tema? Que características encontram-se
relacionados a este tema? Quais as impressões ou ideias que esta temática lhe inspira? O que deve
ser feito a respeito da prática pedagógica com relação a este tema? Após esse levantamento, identificar
as relações existentes e montar uma espécie de quebra-cabeças. Dessa forma, o professor pode
utilizar a ideia de mapas conceituais para elaborar seus planejamentos, principalmente quando se trata
de uma segunda língua, de um grupo que é extremamente visual. Assim como, utilizar dessa estratégia
visual para o registro das reflexões dos alunos surdos, a fim de que eles possam paulatinamente
desenvolver uma estrutura de pensamento visual. Cada mapa construído possui uma visão de mundo,
enfatiza determinadas relações, utiliza métodos comparativos e após a construção dos mesmos, é
importante que os alunos também exercitem a leitura desse material, e isso possa propiciar o debate
em sala de aula. Como forma de exemplificar, veja o mapa conceitual a seguir.
Ele precisa sentir-se partícipe, senão irá desestimular facilmente do aprendizado. Há duas questões
essenciais na participação do aluno na aula, que são imprescindíveis ao aprendizado: Sentir prazer
pelo o que está fazendo e fazer parte de um grupo, ou seja, questões de ordem afetiva e social. Ser
invisibilizado do seu próprio grupo, é um sofrimento com consequências emocionais e intelectuais
severas, que a escola não pode corroborar com isso. Nesse sentido é que a escola assume uma
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visual, estar sempre antenado com as tecnologias visuais e metodológicas. Além disso, este
profissional deve adquirir o hábito de elaborar mapas conceituais, diagramas, genogramas, árvores
genealógicas, isto é, atividades que indiquem relações visuais entre conceitos, imagens, ideias, ações.
Esta atividade contribuirá para que o professor possa cartografar sua aula ou temáticas que queira
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professor pode-se perguntar: o que entende por determinado tema? Que características encontram-se
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ser feito a respeito da prática pedagógica com relação a este tema? Após esse levantamento, identificar
as relações existentes e montar uma espécie de quebra-cabeças. Dessa forma, o professor pode
utilizar a ideia de mapas conceituais para elaborar seus planejamentos, principalmente quando se trata
de uma segunda língua, de um grupo que é extremamente visual. Assim como, utilizar dessa estratégia
visual para o registro das reflexões dos alunos surdos, a fim de que eles possam paulatinamente
desenvolver uma estrutura de pensamento visual. Cada mapa construído possui uma visão de mundo,
enfatiza determinadas relações, utiliza métodos comparativos e após a construção dos mesmos, é
importante que os alunos também exercitem a leitura desse material, e isso possa propiciar o debate
em sala de aula. Como forma de exemplificar, veja o mapa conceitual a seguir.
colagem ou escrita de palavras referentes ao que foi lido. Na comunidade surda, há muitos livros
readaptados de acordo com os símbolos e valores culturais e linguísticos dos surdos, é o que se
denomina literatura surda. Propõe-se que sempre parta da leitura de mundo dos surdos, isto é, do que
a comunidade surda construiu ao longo do tempo ou do que adaptou para a sua realidade, e somente
posteriormente possa ser introduzido textos do mundo ouvinte. O dominó com imagens e letras também
pode ser utilizado para a leitura, assim como, atividades sinalizadas ou escritas para compreender o
texto.
4 – ESCRITA VISUAL – A produção de textos é atividade rotineira da educação, mas não deve se
tornar cansativa. Carece sempre partir de atividades sociointerativas e interlocutivas, principalmente
quando se está falando de aprendizagem de uma segunda língua. O aluno(a) precisa compreender e
reconhecer a função da escrita, especialmente quando o mesmo tem que escrever. Para quem? E
porquê? Qual a necessidade de aprender uma segunda língua? No processo de escrita, os estudantes
devem ser incentivados a fazerem listas com os nomes dos colegas da sala, por exemplo e refletirem
sobre as letras ou partes dos nomes. Quais começam com a mesma letra? Quais tem a mesma
quantidade de letras? Ou escreverem os nomes de objetos que aparecem em imagens que partam do
seu interesse. Além disso, o professor poderá utilizar alfabetos móveis para que os alunos escrevam
palavras ou nomes dos colegas ou nomes dos brinquedos, etc. Em seguida, pedir que passem as
palavras formadas para o caderno ou dicionário. Outra forma de incentivar a escrita é a utilização de
palavras cruzadas, que podem partir de imagens, alfabeto manual ou língua portuguesa.
colagem ou escrita de palavras referentes ao que foi lido. Na comunidade surda, há muitos livros
readaptados de acordo com os símbolos e valores culturais e linguísticos dos surdos, é o que se
denomina literatura surda. Propõe-se que sempre parta da leitura de mundo dos surdos, isto é, do que
a comunidade surda construiu ao longo do tempo ou do que adaptou para a sua realidade, e somente
posteriormente possa ser introduzido textos do mundo ouvinte. O dominó com imagens e letras também
pode ser utilizado para a leitura, assim como, atividades sinalizadas ou escritas para compreender o
texto.
4 – ESCRITA VISUAL – A produção de textos é atividade rotineira da educação, mas não deve se
tornar cansativa. Carece sempre partir de atividades sociointerativas e interlocutivas, principalmente
quando se está falando de aprendizagem de uma segunda língua. O aluno(a) precisa compreender e
reconhecer a função da escrita, especialmente quando o mesmo tem que escrever. Para quem? E
porquê? Qual a necessidade de aprender uma segunda língua? No processo de escrita, os estudantes
devem ser incentivados a fazerem listas com os nomes dos colegas da sala, por exemplo e refletirem
sobre as letras ou partes dos nomes. Quais começam com a mesma letra? Quais tem a mesma
quantidade de letras? Ou escreverem os nomes de objetos que aparecem em imagens que partam do
seu interesse. Além disso, o professor poderá utilizar alfabetos móveis para que os alunos escrevam
palavras ou nomes dos colegas ou nomes dos brinquedos, etc. Em seguida, pedir que passem as
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Ganhando força na educação surda

  • 1. SEGUNDA UNIDADE: ROLAR Nesta etapa, sabemos que aos poucos, você começa a ter domínio sobre algumas características da cultura surda e da língua de sinais e pode começar a fazer alguns movimentos em direção a uma concepção de surdez ou outra, mostrando um certo controle sobre o conhecimento que vem adquirindo, arriscando algumas transferências para um lado ou para o outro, o certo é “deitar e rolar”. O objetivo é que aprofunde cada vez mais suas habilidades profissionais e possa alcançar maior flexibilidade e percepção corporal, atentando-se para o que ocorre ao seu redor, exercitando seus movimentos, ou rolando na direção adequada. As quedas ou retrocessos que possam vir a acontecer nesta etapa, fazem parte do processo e também ensinam, o importante é saber o que se aprende com os obstáculos. Como já vimos, para uma verdadeira imersão na cultura surda, um dos aspectos fundamentais a ser desenvolvido encontra-se na esfera visual, começar a diferenciar as expressões faciais, os movimentos de cabeça, de olho, isto é, aprofundar a acuidade visual, para que aos poucos, possa reconhecer os pontos de apoio neste crescimento, suas referências ou modelos de sustentação e ir cada vez mais ampliando o seu campo de visão. É preciso então, que nesta etapa o olhar torne-se cada vez mais ativo, para que se desenvolva uma atenção visual, que será essencial para o desempenho linguístico, inclusive influenciando o controle de cabeça e a organização espacial. Além disso, nota-se que a expressão corporal, aspecto também fundamental nesta imersão, começa a se apresentar, ainda que timidamente. Mas, este deve ser o ponto de partida para todo o desenvolvimento neste campo. É importante exercitar as diferentes posturas que o corpo pode assumir em um momento de comunicação, realizar exercícios de extensão e flexão, alternando-os, explorando o seu próprio corpo, de um lado e do outro. Por exemplo, refletir como é que fica o tronco em determinado tipo de comunicação em língua de sinais? E os braços, de que forma participam? E buscar executar essas posturas. Sendo assim, a postura torna-se um elemento importantíssimo na comunicação em língua de sinais. Uma postura desleixada em um momento de uma comunicação formal, pode colocar tudo a perder.
  • 2. Outro aspecto indispensável na aprendizagem das línguas de sinais, diz respeito a forma que a mão fica no momento de execução do sinal. O aprendente de língua de sinais deve compreender a centralidade das mãos nesta língua, perceber o formato das mãos em cada sinal realizado, como fica a palma da mão, os dedos, o dorso da mão, se são duas mãos ou somente uma, tudo isso vai compor o que se denomina em língua de sinais de Configurações de mão, como vemos abaixo. Quadro de Configuração de Mãos (Faria-Nascimento, 2009). Sendo assim, realizar exercícios manuais, de relaxamento, como abrir e fechar as mãos ou rotacionar os pulsos antes das aulas de língua de sinais, servem para relaxar a musculatura e contribuir para um desempenho mais assertivo na execução do sinal. Toda esta aprendizagem em língua de sinais favorecerá o entendimento sobre a cultura surda e a respeito do modo visual de ser da comunidade surda, que deverá servir de base para a compreensão de como devemos ensinar Língua Portuguesa, na modalidade escrita para surdos. É evidente que a partir de uma base visual, de um mapeamento visual de letras, palavras e textos. GANHANDO FORÇA E EQUILÍBRIO – POLÍTICAS E FILOSOFIAS EDUCACIONAIS PARA ESTUDANTES SURDOS Em primeiro lugar, é importante admitirmos que a educação de surdos é um processo complexo e instigante, na medida em que envolve assumirmos posições no que diz respeito às políticas educacionais para esse público e analisar as filosofias educacionais inventadas ao longo do percurso histórico, além do que, requer pensarmos sobre aspectos culturais, linguísticos e identitários. Nada disso poderá ser colocado em ação, se não nos debruçarmos sobre a comunidade surda e seus símbolos, suas singularidades, demandas clínicas, linguísticas, mas no campo da educação, principalmente sociais e culturais. Nesse sentido, é que a reflexão deve ser sobre como o trabalho
  • 3. pedagógico pode contribuir com a construção do conhecimento na comunidade surda, a partir de suas particularidades. Conforme o Decreto 5626, de 23 de dezembro de 2005, que regulamenta a Lei de Libras/LSB: considera-se pessoa surda aquela que, por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua de Sinais Brasileira- Libras/LSB. Nesse sentido, percebe-se uma outra lógica de compreensão da surdez, outra perspectiva e outra concepção. Não há uma negação de que há uma diferença marcada no corpo nas pessoas surdas. Pelo contrário, parte-se daí para argumentar que essa comunidade se desenvolve por outros meios, os visuais, a ponto de construírem uma língua que é completamente pautada na visualidade e na espacialidade. Deste modo, é compreendendo-os como sujeitos diferenciados linguisticamente que esta comunidade necessita de uma educação bilíngue, em que a primeira língua seja a língua de sinais e a segunda, a modalidade escrita da língua oral. No entanto, não basta olharmos para a educação de surdos apenas sob o prisma da língua, o que é fundamental. Mas é importante alargarmos nosso olhar para as questões culturais que envolvem o povo surdo. Sendo assim, esta comunidade deixa de ser vista sob um prisma clínico, da falta, do defeito e passa a ser reconhecida em seus aspectos culturais e linguísticos. O professor não é aquele que corrige, que trata, que cura, mas sim aquele que media o conhecimento para os demais. Em virtude de tudo isso, torna-se necessário levarmos em conta também as políticas públicas, entendendo que a perspectiva atual sobre as pessoas com deficiência, exige uma atenção referenciada em aspectos sociais, em relações entre sujeitos, pois é preciso destacar que nesta visão ocorreu uma modificação de sentido. Da mesma forma no campo da surdez, o padrão ouvinte não deverá ser utilizado como um modelo a ser seguido pelas pessoas surdas. Todas as concepções de surdez baseadas nessa ótica, são denominadas no meio científico como ouvintistas ou audistas. Por consequência, não é possível entendermos mais as pessoas com deficiência, e neste caso, as pessoas surdas, a partir de uma cultura de normalidade. Em outra direção, o que se pretende é resgatar o que há de mais singular no ser humano, as diferenças. Então, as políticas públicas atuais são fundamentadas nesse novo olhar, nessa nova noção, que se pretende política, mas acima de tudo é ética. Sendo assim, temos atualmente a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da Organização das Nações Unidas (ONU), que traz como princípio a participação plena de todas as pessoas. Especificamente no Brasil, a Política Nacional de Educação Especial na perspectiva de Educação Inclusiva (2008) e a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146
  • 4. de 06 de julho de 2015), também denominada como Estatuto da Pessoa com Deficiência, que se fundamentam no documento da ONU destacado anteriormente. Notadamente no caso das pessoas surdas, temos a Lei de Libras (10.436 de 24/04/2002), que reconhece a língua de sinais brasileira. E o Decreto 5626 de 23 de dezembro de 2005, que regulamenta esta lei, como já afirmado anteriormente. Este Decreto traz importantes avanços no campo da surdez, tais como: É a primeira vez que se inclui em uma legislação a Libras como disciplina curricular, explicita- se como deverá ser a formação do professor e do intérprete de Libras, caracteriza-se a educação bilíngue para surdos, formaliza-se o Exame de Proficiência em Libras (Prolibras) e situa-se o curso de Letras/Libras como fundamental na formação dos profissionais da área, entre outros. No entanto, é preciso considerar que a educação bilíngue deve se pautar para além das questões das línguas envolvidas, mas dar importância aos aspectos históricos, políticos e sociais em torno da questão da surdez. Com relação às filosofias educacionais, ao longo da história os educadores (nem sempre com formação na área), criaram algumas formas de educar as pessoas surdas. As abordagens mais conhecidas são: Oralismo, Comunicação Total e Bilinguismo. O oralismo tem como fundamento a questão orgânica envolvida, isto é, baseia-se no aparelho auditivo e seus impedimentos para captar os sons. Dessa forma, é construído um conjunto de estratégias de tratamento e reabilitação da audição perdida. O principal argumento desta filosofia é que a maioria das pessoas são ouvintes, os considerados normais, e os surdos por serem desvios dessa norma, precisam se adaptar ao padrão da maioria. Daí derivam diversas técnicas de treinamento auditivo, instalação de fonemas, mecanismos de articulação e leitura labial. Toda essa perspectiva encontra-se baseada em um ponto de vista clínico, reabilitadora de cura da surdez. A questão é que essa ótica é trazida para dentro da escola, transformada em uma prática pedagógica, na qual os professores assumem uma posição terapêutica e seu trabalho em sala de aula passa a ter objetivos clínicos: exercícios de respiração, técnicas de relaxamento, desenvolvimento da fala oral, da audição, entre outras. Dessa forma, os estudantes surdos são submetidos na sala de aula, a técnicas de correção e reabilitação clínica. Os professores passam a sentirem-se incapazes, pois não foi esse tipo de conhecimento que adquiriram durante a sua formação. E os estudantes surdos são avaliados de acordo com o seu desempenho na aprendizagem da língua oral e não nas disciplinas curriculares, como os demais estudantes. A língua de sinais é vista nesta modalidade, como perniciosa ao aprendizado da língua oral, portanto, é proibido o seu uso no contexto escolar. Como consequência dessa filosofia na educação de surdos, obtemos um alto índice de reprovação de estudantes surdos, pois não conseguiam alcançar os objetivos pedagógicos enquanto não obtives-
  • 5. sem êxito no desenvolvimento da língua oral. É sabido que o oralismo é um método clínico, portanto individual, a ser desenvolvido por fonoaudiólogos e não professores em um contexto de sala de aula, um trabalho coletivo. O seu objetivo (trabalho oralista) de capacitar a pessoa surda e fazer uso da voz precisa ser entendido como uma das facetas a serem consideradas, um dos desejos a serem satisfeitos, mas não deve ser encarado como o meio e o alvo , o princípio e o fim. Um surdo oralizado não significa necessariamente uma pessoa desenvolvida, plena, eficiente. Muito menos significa que está garantida sua integração à sociedade. (SÁ, 1999, p.98). Após o fracasso da filosofia educacional oralista, os professores começaram a construir uma nova forma de educar os surdos, mas sem perder de vista a base clínica desenvolvida por meio do Método Oral. É aí que entra em cena a abordagem educacional para surdos denominada Comunicação Total. Dessa forma, os profissionais buscaram resgatar a língua de sinais alijada do método Oral e acrescentaram-na ao enfoque clínico, como uma espécie de recurso, de complemento ao aprendizado. A partir daí, são criadas estratégias de bimodalismo, isto é, articulam a língua oral à língua de sinais. No entanto, vale destacar mais uma vez que a língua de sinais aqui não é considerada uma língua, mas um recurso, portanto, as estratégias bimodais apresentam como seu fio condutor a estrutura da língua oral e a língua de sinais entra como um acompanhante menor. Esse tipo de estratégia bimodal é muito polêmico, porque acaba por desconstruir a estrutura linguística de uma língua em favor de outra, a do dominante, a da norma padrão. Enquanto que a língua do grupo minoritário é desconsiderada em seus aspectos gramaticais. Além disso, pesquisadores afirmam que é impraticável o uso de duas línguas ao mesmo tempo, ainda mais neste caso que uma língua se processa por um canal oral-auditivo e a outra por um canal espaço-visual. No caso do Brasil, esse bimodalismo se concretizou como um português sinalizado, encontrado até nos dias atuais, em algumas práticas pedagógicas. De acordo com Sá (1999, p.133), a Comunicação Total trouxe mudanças significativas na história dos surdos, a partir do momento que deixa de proibir a língua de sinais e passa a aceitar melhor as diferenças das pessoas surdas. No entanto, ressalta que a prática do Português sinalizado, que caracterizou e continua distinguindo muitas propostas educacionais dessa abordagem, devem ser preteridas, devido ao prejuízo causado tanto à aquisição da língua de sinais quanto ao aprendizado da língua portuguesa. Uma terceira opção de filosofia educacional para surdos denomina-se Bilinguismo, que significa que a educação de surdos deve se estruturar partindo do princípio que há duas línguas envolvidas: a língua de sinais (L1), língua natural da comunidade surda, e a língua oral (L2), na modalidade escrita, língua da comunidade ouvinte na qual os surdos estão inseridos. Existem formatos diferentes de se colocar em prática o bilinguismo, tais como: Primeiro, a aquisição
  • 6. em língua de sinais, e só posteriormente a aprendizagem da língua oral, na modalidade escrita. Ou, a aquisição da língua de sinais e a aprendizagem da língua oral, na modalidade escrita, concomitantemente, mas cada uma em seu espaço e com suas respectivas estratégias. A nosso ver, o que deveria definir o formato bilíngue a ser adotado, teria de ser a faixa etária dos estudantes surdos e o tempo de inserção cultural na comunidade surda. Em outras palavras, geralmente a criança surda chega na escola sem língua e sem identidade, nesse contexto deveria primeiro ser realizado um trabalho educativo de aquisição de língua e constituição de identidade. A partir dos demais anos escolares, a prática bilíngue poderia tornar-se sincrônica, com espaço e tempo diferenciados, mas no mesmo ano escolar. Esta perspectiva educacional encontra-se ancorada em pressupostos socioantropológicos e linguísticos, a partir dos quais compreende-se que os surdos fazem parte de uma comunidade, possuem uma cultura visoespacial, necessitam desenvolver uma identidade surda atravessada por questões de gênero, classe, raça, entre outros e sua língua é considerada a primeira e a mais importante língua utilizada em sua educação. Nesta ótica, os surdos são vistos como sujeitos diferentes, integrantes de uma minoria linguística e cultural, portanto sua educação deve ser pautada em princípios interculturais, linguísticos e as estratégias pedagógicas devem ser visuais, espaciais e é nessa forma que devem norteiar o ensino de Língua Portuguesa, na modalidade escrita. TUTORIAL DE CRESCIMENTO - Prática Pedagógica A importância da comunicação – A comunicação entre os seres humanos é fundamental! No caso dos surdos ela é também essencial para o seu desenvolvimento. Portanto, é de suma importância que o professor saiba se comunicar fluentemente com seus alunos(as) e saiba compreender o que eles(as) estão querendo falar. O que sua expressão facial e corporal está querendo dizer? Não precisa se preocupar se ele ainda não lhe entende totalmente, mas você deve se esforçar para compreendê-lo. Às vezes, tudo o que precisa é de uma comunicação olho no olho, atenção às expressões e a comunicação fluirá. Busque ficar atento às expressões, gestos, sinais, que seu aluno emite. Tudo isso servirá de base para o desenvolvimento das línguas, tanto língua de sinais, quanto escrita da língua portuguesa. Observe sempre como o seu aluno se comunica e vá acrescentando, aos poucos, possibilidades de imersão linguística, ou seja, atividades lúdicas e espontâneas que favoreçam o contato visual com uma língua. Sempre planeje, tenha uma metodologia de trabalho, uma rotina e uma atividade que desenvolva os diferentes tipos de conhecimentos que uma criança surda deve possuir nesta idade. A participação do aluno(a) - Seu aluno precisa participar da aula, lembre-se ele é um sujeito ativo. Ainda que não seja falando uma língua, ele poderá participar por meio da arte, do esporte e da cultura.
  • 7. Ele precisa sentir-se partícipe, senão irá desestimular facilmente do aprendizado. Há duas questões essenciais na participação do aluno na aula, que são imprescindíveis ao aprendizado: Sentir prazer pelo o que está fazendo e fazer parte de um grupo, ou seja, questões de ordem afetiva e social. Ser invisibilizado do seu próprio grupo, é um sofrimento com consequências emocionais e intelectuais severas, que a escola não pode corroborar com isso. Nesse sentido é que a escola assume uma postura provocadora de participação dos alunos, a fim de colaborar com o desenvolvimento de uma postura crítica e participativa na escola e na vida, inclusive com enriquecimento da autoestima. Dessa forma, o professor deverá criar as condições para que o estudante participe ativamente. Atuação de professor de crianças surdas - Outro aspecto fundamental é que o professor de crianças surdas deve ter disponibilidade para aprender uma língua diferente da sua, apropriar-se de uma cultura visual, estar sempre antenado com as tecnologias visuais e metodológicas. Além disso, este profissional deve adquirir o hábito de elaborar mapas conceituais, diagramas, genogramas, árvores genealógicas, isto é, atividades que indiquem relações visuais entre conceitos, imagens, ideias, ações. Esta atividade contribuirá para que o professor possa cartografar sua aula ou temáticas que queira desenvolver com seus alunos por meio de campos conceituais. Assim, como ponto de partida, o professor pode-se perguntar: o que entende por determinado tema? Que características encontram-se relacionados a este tema? Quais as impressões ou ideias que esta temática lhe inspira? O que deve ser feito a respeito da prática pedagógica com relação a este tema? Após esse levantamento, identificar as relações existentes e montar uma espécie de quebra-cabeças. Dessa forma, o professor pode utilizar a ideia de mapas conceituais para elaborar seus planejamentos, principalmente quando se trata de uma segunda língua, de um grupo que é extremamente visual. Assim como, utilizar dessa estratégia visual para o registro das reflexões dos alunos surdos, a fim de que eles possam paulatinamente desenvolver uma estrutura de pensamento visual. Cada mapa construído possui uma visão de mundo, enfatiza determinadas relações, utiliza métodos comparativos e após a construção dos mesmos, é importante que os alunos também exercitem a leitura desse material, e isso possa propiciar o debate em sala de aula. Como forma de exemplificar, veja o mapa conceitual a seguir.
  • 8. Ele precisa sentir-se partícipe, senão irá desestimular facilmente do aprendizado. Há duas questões essenciais na participação do aluno na aula, que são imprescindíveis ao aprendizado: Sentir prazer pelo o que está fazendo e fazer parte de um grupo, ou seja, questões de ordem afetiva e social. Ser invisibilizado do seu próprio grupo, é um sofrimento com consequências emocionais e intelectuais severas, que a escola não pode corroborar com isso. Nesse sentido é que a escola assume uma postura provocadora de participação dos alunos, a fim de colaborar com o desenvolvimento de uma postura crítica e participativa na escola e na vida, inclusive com enriquecimento da autoestima. Dessa forma, o professor deverá criar as condições para que o estudante participe ativamente. Atuação de professor de crianças surdas - Outro aspecto fundamental é que o professor de crianças surdas deve ter disponibilidade para aprender uma língua diferente da sua, apropriar-se de uma cultura visual, estar sempre antenado com as tecnologias visuais e metodológicas. Além disso, este profissional deve adquirir o hábito de elaborar mapas conceituais, diagramas, genogramas, árvores genealógicas, isto é, atividades que indiquem relações visuais entre conceitos, imagens, ideias, ações. Esta atividade contribuirá para que o professor possa cartografar sua aula ou temáticas que queira desenvolver com seus alunos por meio de campos conceituais. Assim, como ponto de partida, o professor pode-se perguntar: o que entende por determinado tema? Que características encontram-se relacionados a este tema? Quais as impressões ou ideias que esta temática lhe inspira? O que deve ser feito a respeito da prática pedagógica com relação a este tema? Após esse levantamento, identificar as relações existentes e montar uma espécie de quebra-cabeças. Dessa forma, o professor pode utilizar a ideia de mapas conceituais para elaborar seus planejamentos, principalmente quando se trata de uma segunda língua, de um grupo que é extremamente visual. Assim como, utilizar dessa estratégia visual para o registro das reflexões dos alunos surdos, a fim de que eles possam paulatinamente desenvolver uma estrutura de pensamento visual. Cada mapa construído possui uma visão de mundo, enfatiza determinadas relações, utiliza métodos comparativos e após a construção dos mesmos, é importante que os alunos também exercitem a leitura desse material, e isso possa propiciar o debate em sala de aula. Como forma de exemplificar, veja o mapa conceitual a seguir.
  • 9. colagem ou escrita de palavras referentes ao que foi lido. Na comunidade surda, há muitos livros readaptados de acordo com os símbolos e valores culturais e linguísticos dos surdos, é o que se denomina literatura surda. Propõe-se que sempre parta da leitura de mundo dos surdos, isto é, do que a comunidade surda construiu ao longo do tempo ou do que adaptou para a sua realidade, e somente posteriormente possa ser introduzido textos do mundo ouvinte. O dominó com imagens e letras também pode ser utilizado para a leitura, assim como, atividades sinalizadas ou escritas para compreender o texto. 4 – ESCRITA VISUAL – A produção de textos é atividade rotineira da educação, mas não deve se tornar cansativa. Carece sempre partir de atividades sociointerativas e interlocutivas, principalmente quando se está falando de aprendizagem de uma segunda língua. O aluno(a) precisa compreender e reconhecer a função da escrita, especialmente quando o mesmo tem que escrever. Para quem? E porquê? Qual a necessidade de aprender uma segunda língua? No processo de escrita, os estudantes devem ser incentivados a fazerem listas com os nomes dos colegas da sala, por exemplo e refletirem sobre as letras ou partes dos nomes. Quais começam com a mesma letra? Quais tem a mesma quantidade de letras? Ou escreverem os nomes de objetos que aparecem em imagens que partam do seu interesse. Além disso, o professor poderá utilizar alfabetos móveis para que os alunos escrevam palavras ou nomes dos colegas ou nomes dos brinquedos, etc. Em seguida, pedir que passem as palavras formadas para o caderno ou dicionário. Outra forma de incentivar a escrita é a utilização de palavras cruzadas, que podem partir de imagens, alfabeto manual ou língua portuguesa.
  • 10. colagem ou escrita de palavras referentes ao que foi lido. Na comunidade surda, há muitos livros readaptados de acordo com os símbolos e valores culturais e linguísticos dos surdos, é o que se denomina literatura surda. Propõe-se que sempre parta da leitura de mundo dos surdos, isto é, do que a comunidade surda construiu ao longo do tempo ou do que adaptou para a sua realidade, e somente posteriormente possa ser introduzido textos do mundo ouvinte. O dominó com imagens e letras também pode ser utilizado para a leitura, assim como, atividades sinalizadas ou escritas para compreender o texto. 4 – ESCRITA VISUAL – A produção de textos é atividade rotineira da educação, mas não deve se tornar cansativa. Carece sempre partir de atividades sociointerativas e interlocutivas, principalmente quando se está falando de aprendizagem de uma segunda língua. O aluno(a) precisa compreender e reconhecer a função da escrita, especialmente quando o mesmo tem que escrever. Para quem? E porquê? Qual a necessidade de aprender uma segunda língua? No processo de escrita, os estudantes devem ser incentivados a fazerem listas com os nomes dos colegas da sala, por exemplo e refletirem sobre as letras ou partes dos nomes. Quais começam com a mesma letra? Quais tem a mesma quantidade de letras? Ou escreverem os nomes de objetos que aparecem em imagens que partam do seu interesse. Além disso, o professor poderá utilizar alfabetos móveis para que os alunos escrevam palavras ou nomes dos colegas ou nomes dos brinquedos, etc. Em seguida, pedir que passem as palavras formadas para o caderno ou dicionário. Outra forma de incentivar a escrita é a utilização de palavras cruzadas, que podem partir de imagens, alfabeto manual ou língua portuguesa.