1a Parte: O documento descreve o período medieval e a filosofia cristã entre os séculos V e XV, quando a fé estava acima da razão e a Igreja exercia hegemonia sobre os valores culturais, ideológicos, políticos e filosóficos.
2a Parte: A sociedade medieval era hierarquizada e estamental, com a nobreza e o clero no poder. A doutrina cristã era o eixo central da moral e das instituições.
3a Parte: São Agostinho e São Tom
O Pensamento Medieval: Agostinho e a Filosofia Cristã
1. O Pensamento Medieval
Idade Média e a Filosofia Cristã (séc V – XV)
⮩Introdução:
A fé colocada acima da razão: teocentrismo.
- Desintegração do Império Romano do Ocidente – 476 (invasões bárbaras);
- Ascensão do Cristianismo;
- Mundo ocidental em um novo estágio civilizatório – Idade Média (Alta e Baixa);
- Hegemonia do poder da Igreja;
- Relações socioeconômicas feudais;
- Centralização do Poder Eclesiástico: valores culturais, ideológicos, políticos e filosóficos se
assentarão nos valores cristãos.
2. O Pensamento Medieval
Características da Idade Média:
Sociedade estamental;
Sociedade medieval – hierarquizada - nobreza e o clero detinham o poder,
restando aos servos a submissão aos senhores em troca de proteção e uso da terra
para a sobrevivência;
Doutrina cristã - eixo central da moral, ética, leis e fundamento das instituições
políticas e jurídicas;
É das lições do cristianismo e dos fundamentos bíblicos aliados à releitura da
tradição grega e romana que serão elaborados os preceitos de direito e justiça;
Visão homogênea de cristianismo fundada em verdades e dogmas difundidos
pelos doutores da Igreja;
A filosofia e o direito se submetiam ao controle da teologia cristã e da doutrina da
Igreja, que irão dialogar com pensadores como Platão e Aristóteles;
3. O Pensamento Medieval
Características da Idade Média:
A hegemonia do monoteísmo cristão no mundo ocidental.
A adoção da teoria criacionista – origem do mundo e controle do tempo por Deus.
Teocentrismo;
O sentido do amor divino como único verdadeiro que conduz à redenção.
Concepção linear e progressiva da história (anunciando o fim com o Juízo Final).
Sociedade Estamental
4. Santo Agostinho de Hipona
354 – 430 d.C.
Arelação entre Razão humana x Fé cristã
⮩Obras anteriores a conversão:
A fé colocada acima da razão: teocentrismo.
- Contras os acadêmicos.
- Sobre a vida feliz.
- Sobre a ordem.
⮩Obras posteriores a conversão:
- Confissões – 13 livros.
- Sobre a imortalidade da alma.
- Sobre o livre arbítrio.
- Sobre a cidade de Deus.
- 217 Cartas, 93 Tratados e 500 Sermões.
5. Santo Agostinho de Hipona
Considerações importantes sobreAgostinho:
▪Agostinho, embora incorporado à Filosofia Medieval, pertence ao quarto e último
período da Filosofia Antiga, conhecido ético, helenístico ou cosmopolita, que vai do
séc. III a.C. ao séc. VI d.C.
▪ Agostinho é o principal representante da filosofia greco-romano-cristã, que teve
início no séc. II d.C., e ficou conhecida como patrística.
▪Existem duas patrísticas: a grega e a romana/latina. A primeira busca conciliar fé
e razão e a segunda busca colocar a fé acima da razão. Agostinho pertence a
segunda.
▪ Patrística é o nome dado aos primeiros conceitos cristãos elaborados
pelos padres da Igreja Católica.
6. Santo Agostinho de Hipona
Principais objetivos:
- Afilosofia deAgostinho destaca-se pelo esforço de...
1) converter os pagãos;
2) combater heresias (doutrinas opostas aos dogmas da Igreja Católica);
3) justificar a fé cristã.
7. 1ª Parte: Agostinho nasceu em Tagaste, norte da África, e teve uma formação
humanística, nas áreas de Gramática e Retórica.
2ª Parte: Tempos depois, já com 19 anos, foi para Cartago onde viveu por
aproximadamente 10 anos e se tornou adepto e defensor da doutrina maniqueísta.
Para sobreviver nesta cidadeAgostinho dava aulas de retórica.
3ª Parte: Na tentativa de melhorar de vida, Agostinho foi ser professor em Roma,
onde permaneceu por apenas 1 ano, mas tempo suficiente para abandonar o
maniqueísmo e adotar o ceticismo como concepção filosófica. Neste mesmo ano ele
recebe uma proposta para ser professor de Retórica em Milão a convite de Símaco.
4ª Parte: Em Milão, Agostinho abandona o ceticismo e adota o neoplatonismo de
Plotino, e também o pensamento cristão. Esse último por influência do bispo
Ambrósio de Hipona, que lhe apresentou as leituras de São Paulo.
Caminho Intelectual de Agostinho
8. Caminho Intelectual de Agostinho
Portanto, pode-se concluir que Agostinho é neoplatônico e cristão, pois utilizou,
principalmente, as teorias de Platão para fundar as bases intelectuais do cristianismo
no Ocidente.
Veja:
⮩Pensamento de Platão: ⮩Pensamento deAgostinho:
- Cidade de Deus
- Cidade dos Homens
- O pensamento de Deus
- Criações de Deus
- Sopro divino
- Deus ou Luz
- Imagem e semelhança de Deus
- Mundo das Ideias
- Mundo das Sombras
- Ideias
- Cópias
- Alma
- Demiurgo
- Homem
9. ⮩Agostinho coloca dois problemas para essa teoria:
1º É possível conhecer a verdade?
2º Se for possível conhecer a verdade, como é possível conhecê-la?
⮩Resposta do primeiro problema:
A primeira questão Agostinho responde fazendo uma crítica ao ceticismo absoluto
de Górgias de Leontini e ao ceticismo da terceira academia platônica, cujo
pensamento é fundado por Pírron de Élis. Para tanto, ele demonstra que é sim
possível conhecer com certeza algumas verdades, como por exemplo:
- O princípio da não-contradição;
- Aprópria existência;
- Axiomas do tipo: o todo é maior do que as partes.
Teoria do Conhecimento Agostiniana
10. Teoria do ConhecimentoAgostiniana
-Corpo: ao contrário da filosofia greco-romana, em Agostinho, o corpo não adquire
nenhum tipo de conhecimento, servindo apenas como mediador da alma com as
coisas perceptíveis de modo indutivo;
-Alma: representa em Agostinho os sentidos. Ou seja, refere-se às sensações como
uma atividade exclusiva da alma, que através do corpo recebe a impressão de outros
corpos;
- Nous: representa a razão natural/inferior/humana, que possui a capacidade de
interpretar, por abstração/dedução, as leis que regem a natureza.
Homem = corpo + alma + nous
Razão Superior = Nous + Iluminação Divina = Verdades Eternas
julianojbs@gmail.com
11. Teoria do Conhecimento Agostiniana
Razão Superior, Razão Inferior e Sentidos
Para responder a segunda questão,Agostinho distingue...
1º. três operações da mente humana:
2º três grupos de objetos conhecidos:
Verdades Eternas, Leis Naturais e Qualidade dos Corpos
3º três tipos possíveis de conhecimento:
Divino/Sacro, Científico/Episteme e Sensível/Opinião
12. Teoria do Conhecimento Agostiniana
Operações da Mente Grupos de Objetos Tipos de Conhecimento
- Sentidos Qualidade dos Corpos Conhecimento Sensível: opinião
- Razão Inferior/Natural Leis da Natureza Conhec. Científico: epistemologia
- Razão Superior
(Razão Natural e Iluminação Divina)
Verdades Eternas Conhecimento Divino
13. -O conhecimento sensível é obtido pelos sentidos (raciocínio indutivo), que possui
como objeto de estudo a qualidade dos corpos (cores, sons, cheiro, tato e paladar). Esse
conhecimento é acessível a todos os homens salutares, pois se encontra no plano
material/corpóreo (concreto).
-O conhecimento científico é obtido pela razão inferior/comum/natural ou intelecto
humano (raciocínio dedutivo), que possui como objeto de estudo as leis naturais. Esse
conhecimento é acessível a todos os homens salutares, pois se encontra no plano
material/corpóreo (abstrato).
-O conhecimento divino é obtido pela razão superior (razão inferior e iluminação
divina), que possui como objeto de estudo as Verdades Eternas. Esse conhecimento,
espiritual/imaterial/incorpóreo, é acessível somente a alguns homens, pois poucos são os
escolhidos – Iluminados.
Tipologias Cognitivas Agostiniana
14. Agora você já sabe que a Teoria da Iluminação Divina, em Santo Agostinho, possui
duas interpretações possíveis, são elas:
1ª. Na Teoria do Conhecimento: que é o modo
como os homens alcançam conhecimento divino
ou ideias da mente de Deus, que é a única
Verdade Eterna, que é a própria revelação; e
Sagrado vs. Profano
é o modo como os homens
2ª. Na Ética: que
decidem suas ações, ora pela vontade humana
(pecado) ora pela vontade divina (salvação).
15. Justiça Agostiniana
A concepção agostiniana acerca do justo e injusto pode ser compreendida a partir da
própria teologia aliada à metafísica platônica, tão bem evidenciada na obra Cidade de
Deus.
“O tema em Agostinho remete ao estudo do problema da justiça fundamentalmente à
discussão da relação existente entre lei humana (lex temporalem) e lei divina (lex aeterna),
onde está compreendido o estudo das diferenças, influências, relações etc. existentes entre
ambas”
Sua concepção de justiça tem no platonismo a principal fonte de inspiração e
justificação.
Defende que a justiça humana – falha, transitória, imperfeita e corrupta – apenas será
corrigida pela justiça divina – eterna, perfeita e incorruptível.
As leis humanas, que regulam a relação entre os homens, devem ser inspiradas em leis
divinas que têm como fonte o maior dos legisladores: Deus, que diferentemente dos
homens é ilimitado, tudo sabe e tudo vê.
16. Justiça Agostiniana
Assim, a justiça divina deve comandar e inspirar a justiça humana, que tem sua origem
na própria criação de Deus, mas que por imperfeições e erros humanos acabou sendo
desvirtuada.
Na lógica judaico-cristã o pecado original corrompeu o homem e está na base de
todo sofrimento humano. Por sua própria culpa o homem é corrupto, pois se afastou
de seu Criador.
Embora a preocupação de Agostinho não tenha sido o tema do Direito, o conjunto de sua
obra permite extrair importantes elementos para a compreensão da política, dos
fundamentos e relações entre Direito Natural (divino) e Direito Positivo (humano),
legitimidade do poder político e o sentido da justiça.
17. -Para Agostinho a razão tenta explicar o que a fé antecipou. Logo, a razão conhece,
mas é a fé, Iluminação Divina, que permite dizer se tal conhecimento é verdadeiro.
Neste sentido, a Iluminação é uma Luz especial e incorpórea que permite aos
predestinados chegarem até Deus.
-Fé em Agostinho não significa somente crer em Deus. O conceito de fé tem um
sentido mais amplo, que é ser escolhido por Deus.
-O Concílio de Cartago em 417 d.C., presidido pelo Papa Zózimo, condenou como
heresia a teoria teológica de Pelágio, que afirmava ser as boas obras e a boa vontade,
autonomia do sujeito, suficientes para a salvação.
Importantes Considerações em Agostinho
Máxima:
“Creio tudo o que entendo, mas nem tudo que creio também entendo. Tudo o que
compreendo conheço, mas nem tudo que creio conheço”. Agostinho. De Magistro. São Paulo:
Abril Cultural, 1973. p. 319. Coleção "Os Pensadores".
18. Afirma que a salvação depende da graça ou Iluminação Divina.
Filosofias da Moral
⮩Filosofia greco-romana: ética pagã
Afirma que as ações (atos humanos) devem ser
determinados pela razão. Neste sentido o sujeito
(indivíduo) se identifica com o cidadão da pólis,
isto é, como homem político e social que possui a
autonomia de sua vida moral.
⮩Filosofia greco-romano-cristã (patrística latina): ética cristã
Afirma que as ações (atos humanos) são determinados pela vontade. Neste sentido o
sujeito (indivíduo) se identifica com o próprio homem ou com Deus, isto é, com a
necessidade de salvação ou graça divina.
19. Ética pagã vs. Ética cristã
Nos moldes deAgostinho...
Ética pagã: ação determinada pela razão. Conceito negado porAgostinho.
Ética cristã: ação determinada pela vontade. Conceito proposto por Agostinho. Nela há
dois tipos de ações possíveis da vontade, são elas:
1ª. Vontade de Deus, que representa: o bem, a submissão, o espírito e a liberdade.
Caminho da salvação, mas só para alguns escolhidos por Deus;
2ª. Vontade do homem, que representa: o mal, a autonomia, o corpo e a
escravidão. Caminho do pecado.
Aescolha de qual vontade seguir depende do livre arbítrio.
20. São Tomás de Aquino
(1225 – 1274)
Razão humana x Fé cristã
⮩Características do Período
- Cristianismo e o poder da Igreja já haviam se consolidado na Europa, desde o séc. XII;
- Escolástica é o último período do pensamento cristão medieval, que vai do começo do
século IX até o fim do século XVI;
- O termo escolástica tem sua origem relacionada à filosofia ensinada nas universidades, pelos
mestres escolásticos.
21. São Tomás de Aquino
Considerações importantes sobre o Pensamento deAquino:
▪ Diferentemente dos teólogos tradicionais, Aquino não se opunha às inovações da
ciência, uma vez que reconhecia na natureza a criatividade divina, e conhecê-la não
era nenhuma ousadia, pois Deus ainda permaneceria soberano, uma vez que a
racionalidade humana era dom divino e o exercício da liberdade era dádiva por Ele
concedida.
▪Estava convencido de que a Razão e a Liberdade tinham valor em si e o objetivo de
ambas era servir mais a Deus. As qualidades humanas eram expressões do próprio
Criador, uma vez que o homem era feito à sua imagem e semelhança.
▪A liberdade tem, para o pensamento tomista, como pressuposto, o conhecimento de
todas as alternativas para que possa escolher de forma virtuosa. Sendo, portanto, a
obrigação moral de origem natural no ser humano, que deve praticar o bem e evitar
o mal.
22. São Tomás de Aquino
Considerações importantes sobre o Pensamento deAquino :
▪ Para Aquino O homem tem o dever moral de proteger sua vida e sua saúde, razão
pela qual o suicídio e a negligência constituem um erro.
▪ A necessidade natural de propagar a espécie resulta na necessidade fundamental de
união de um homem e uma mulher.
▪ Tendo em vista que o homem busca a verdade, seu melhor meio de consegui-lo
consiste em viver em harmonia social com seus concidadãos, que também estão
engajados em tal busca. Para assegurar uma sociedade ordenada e harmoniosa, as leis
humanas são moldadas de modo que sirvam de diretrizes para o comportamento da
comunidade (MORRISON, 2006, p. 78-79).
23. São Tomás de Aquino
Considerações importantes sobre o Pensamento deAquino :
▪ Princípios que devem reger as leis humanas, que se originam do estado natural do
homem, devendo a razão e a moral orientarem-se por estas tendências e capacidades.
▪Tais qualidades formam o Direito Natural, um hábito interior, mas pela insuficiência
e incompletude humana é necessário o Direito Positivo, portanto, obrigação moral
imposta pela razão.
▪A lei nada mais é que um ordenamento da razão tendo em vista o bem comum
promulgado por aquele que tem o encargo de cuidar da comunidade (pergunta 90, r.
4) (AQUINO, 2001).
24. São Tomás de Aquino
Considerações importantes sobre o Pensamento deAquino :
▪ Lei Eterna: a lei é um ditame da razão prática que emana do governo que rege uma
comunidade perfeita. Portanto, a ideia mesma do governo das coisas em Deus, o
senhor do Universo, tem a natureza de uma lei. E, como a concepção das coisas da
razão divina não está sujeita ao tempo, mas é eterna, conclui-se que essa espécie de
lei deve ser chamada de eterna (pergunta 91, r. 1).
▪ Lei Natural: a lei natural é a parte da lei eterna que diz respeito especificamente ao
ser humano. Se o homem não pode conhecer a totalidade de Deus, a racionalidade
humana garante sua participação na razão eterna, através da qual ele identifica uma
tendência natural (normativa) à prática de atos e a fins adequados. A lei natural nada
mais é que a participação da criatura racional na lei eterna (pergunta 91, r. 2).
25. São Tomás de Aquino
Considerações importantes sobre o Pensamento deAquino :
▪ Lei Humana: as leis escritas – leis humanas – devem derivar de preceitos gerais da
lei natural. Sendo, portanto, o direito um “ditame da razão prática”. A forma de se
extrair as conclusões da lei é semelhante ao que ocorre com a “razão especulativa”.
Da mesma forma que chegamos a conclusões distintas nas ciências, do mesmo modo,
a partir dos preceitos da lei natural, a razão humana deve atingir determinações mais
particulares de certas questões. O que confere à lei sua legitimidade é sua dimensão
moral originada do Direito Natural.
▪Lei Divina: sua função é dirigir o homem a seu devido fim, que é revelado nas
Escrituras Sagradas como forma de graça divina para que o homem possa atingir seus
fins espirituais e naturais. A lei divina provém diretamente de Deus e é conhecida pela
fé, esperança e amor.
26. São Tomás de Aquino
Considerações importantes sobre o Pensamento deAquino :
▪ Em síntese,
▪ Pode-se compreender a teoria em Tomás de Aquino como parte do pressuposto
de o homem, enquanto ser racional e livre, escolhe sua conduta e, por não
conhecer plenamente os desígnios de Deus, desvia-se do verdadeiro caminho
pecando.
▪Portanto, a autodeterminação que é uma bênção também é motivo da perdição e
causa do mal (ausência do bem).
27. São Tomás de Aquino
Considerações importantes sobre o Pensamento deAquino :
▪ Em síntese,
▪ JUSTIÇA HUMANA.
▪Agostinho dizia que na Terra tudo era pecado. Agostinho diz que, quando
Eva comeu a maçã, o pecado é um vício mortal que acompanha os homens a
vida toda.
▪TOMÁS DE AQUINO diz que o pecado original existiu, Eva comeu a
maçã, mas o pecado original é uma doença ─ doença pode ser tratada! Se o
homem fizer bons atos, o homem pode ser curado;
▪TEMPOS AGOSTINIANOS = Rigidez moral;
▪TEMPOS DE TOMAS DE AQUINO = Mais liberdade. Michelangelo pintando
gente nua na Capela Sistina;