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GRADUAÇÃO EM TURISMO
NORMAS PARA TRABALHOS ACADÊMICOS,
MONOGRAFIAS E ARTIGO DE ESTÁGIO
CAMPO MOURÃO
MAIO DE 2006.
1
INTEGRADO COLÉGIO E FACULDADE
ANA PAULA WALTER
A UTILIZAÇÃO DO PLANEJAMENTO COMO INSTRUMENTO DE
DESENVOLVIMENTO TURISTICO – ESTUDOS DE CASO:
JERICOACOARA –CE E BONITO –MS
CAMPO MOURÃO
2006
2
INTEGRADO COLÉGIO E FACULDADE
ANA PAULA WALTER
A UTILIZAÇÃO DO PLANEJAMENTO COMO INSTRUMENTO DE
DESENVOLVIMENTO TURISTICO – ESTUDOS DE CASO:
JERICOACOARA –CE E BONITO –MS
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a
Faculdade Integrado de Campo Mourão como
requisito parcial para obtenção de Título de
Bacharel em Turismo Rural, Sob Orientação da
Professora Ana Cláudia Periçaro.
CAMPO MOURÃO
2006
3
APRESENTAÇÃO
A elaboração desse guia visa a qualificação das monografias e trabalhos desenvolvidos no
curso de turismo. Pretende-se facilitar o entendimento dos acadêmicos em relação às normas
de elaboração de trabalhos, bem como padronizar a apresentação estética desses trabalhos.
A normatização adotada neste guia tem como base as Normas de Documentação da
Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, bem como o guia de Elaboração de
Projetos de Pesquisa e Monografias elaborado pelo Cesumar – Centro Universitário de
Maringá.
Como dica aos acadêmicos, fica apresentar as referências utilizadas para a elaboração deste
guia no momento de citar as referências utilizadas para a produção e formatação de seu
trabalho ou monografia.
Professora Ana Cláudia Periçaro
4
SUMÁRIO
NORMAS GRÁFICAS PARA APRESENTAÇÃO DE MONOGRAFIA E
ARTIGO DE ESTÁGIO .................................................................................................
04
NUMERAÇÃO DAS PÁGINAS ..................................................................................... 04
CAPÍTULOS E PARÁGRAFOS .................................................................................... 0
NUMERAÇÃO PROGRESSIVA DAS SEÇÕES DO TEXTO.................................... 05
ESTRUTURA FÍSITCA DE MONOGRAFIA (NBR 14724:2002) ............................. 06
1 ELEMENTOS PRÉ-TEXTUAIS ................................................................ 07
1.1 CAPA ............................................................................................................. 07
1.2 FOLHA DE ROSTO ...................................................................................... 07
1.3 ERRATA ........................................................................................................ 07
1.4 FOLHA DE APROVAÇÃO .......................................................................... 08
1.5 DEDICATÓRIA ............................................................................................ 08
1.6 AGRADECIMENTOS ................................................................................... 09
1.7 EPÍGRAFE ..................................................................................................... 09
1.8 RESUMO EM LÍNGUA VERNÁCULA ...................................................... 10
1.9 RESUMO EM LÍNGUA ESTRANGEIRA 10
1.10 LISTA DE ILUSTRAÇÕES .......................................................................... 10
1.11 LITA DE TABELAS ..................................................................................... 10
1.12 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS .................................................... 11
1.13 LISTA DE SÍMBOLOS ................................................................................. 11
1.14 SUMÁRIO ..................................................................................................... 11
2 ELEMENTOS PÓS TEXTUAIS ................................................................ 12
2.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 12
2.2 DESENVOLVIMENTO ................................................................................ 12
2.3 CONCLUSÃO ............................................................................................... 12
3 ELEMENTOS PÓS TEXTUAIS ................................................................ 13
3.1 REFERÊNCIAS ............................................................................................. 13
3.1.1 Definições ...................................................................................................... 13
3.1.2 Modelos de Referências ............................................................................... 14
3.1.2.1 Obra escrita por um autor .............................................................................. 14
3.1.2.1.1 Obras do mesmo autor ................................................................................... 15
3.1.2.2 Obra escrita por dois ou três autores .............................................................. 15
3.1.2.3 Obra escrita por mais de três autores ............................................................. 15
3.1.2.4 Casos particulares .......................................................................................... 15
3.1.2.5 Obras anônimas .............................................................................................. 16
3.1.2.6 Periódicos (revistas e jornais) em partes ou no todo ...................................... 16
3.1.2.7 Trabalhos Acadêmicos (monografias, dissertações, etc.) .............................. 16
3.1.2.8 Enciclopédias e dicionários ............................................................................ 17
3.1.2.9 Trabalhos apresentados em congressos, conferências e outros ...................... 17
3.1.2.10 Referências Legislativas ................................................................................ 17
3.1.2.11 Documentos Eletrônicos ................................................................................ 18
3.2 GLOSSÁRIO ................................................................................................. 18
3.3 APÊNDICES .................................................................................................. 18
5
3.4 ANEXOS ....................................................................................................... 19
4 CITAÇÕES ................................................................................................... 20
4.1 SISTEMA DE CHAMADA ........................................................................... 20
4.1.1 Sugestões de chamada .................................................................................... 21
REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 23
1 INTRODUÇÃO
Este estudo tem como foco principal a utilização do planejamento turístico como
instrumento de crescimento econômico municipal, e é embasado nos estudos de
caso dos municípios de Jericoacoara-CE e Bonito-MS.
Esta pesquisa visa analisar a importância da utilização do planejamento e do
planejador para o desenvolvimento do turismo, evidenciando de que forma a falta de
planejamento pode afetar uma localidade receptora.
Para melhor fundamentação e exemplificação da importância do planejamento
turístico com base em dados obtidos por meio de pesquisa bibliográfica,
apresentam-se os estudos de casos do município Bonito e Jericoacoara, onde o
turismo se iniciou sem planejamento.
Em decorrência do turismo desordenado, os municípios sofreram com problemas
como o turismo de massa, especulação imobiliária, degradação ambiental, poluição,
6
falta de fiscalização, crescimento acelerado do turismo e falta de estrutura, entre
muitos outros problemas.
Pretende-se também, por meio dos estudos de caso, identificar quais são os
principais problemas detectados a partir do choque de culturas que a massificação
do turismo pode causar aos núcleos receptores.
O objetivo principal deste estudo é identificar através de bibliografias e dos estudos
de caso, as conseqüências da falta de planejamento do turismo. Serão propostas
estratégias para um planejamento adequado, não apenas nos dois municípios
apresentados, mas procedimentos básicos para qualquer localidade que pretenda
implantar o turismo.
Pretende-se ainda ressaltar a proporção dos impactos causados pela falta da
utilização de uma equipe especializada, que verifique todos os meios e os possíveis
erros antes de se implantar o turismo, evidenciando a importância do profissional de
turismo no processo de planejamento de novos produtos turísticos.
A referência à utilização do capital humano em turismo é muito importante, já que o
planejador turístico atua desde o momento de identificação do potencial turístico de
uma região, até a determinação da capacidade de carga que ela possui para que o
turismo se desenvolva sem saturá-la.
A discussão se iniciará com uma síntese a respeito das origens do turismo mundial
com colocações a respeito do início da atividade no Brasil. Na seqüência serão
apresentados alguns benefícios que o turismo pode trazer tanto para a localidade
onde se desenvolve, quanto para a região que a cerca.
Em seguida algumas conceituações de turismo de diversos autores serão
apresentadas e discutidas. Na seqüência abordam-se os conceitos de planejamento,
enfatizando a importância do planejamento turístico para o desenvolvimento local,
regional, estadual, enfim, em todas as situações onde exista o desejo da
implantação do turismo.
7
O terceiro capítulo apresentará os municípios de Jericoacoara – CE e Bonito – MS,
visando demonstrar os modelos de desenvolvimento turístico implantado nas duas
localidades, e as principais alterações no modo de vida das populações locais e
meio ambiente natural que a prática do turismo desencadeou.
Será realizada uma análise dos estudos de caso com discussões a respeito dos
pontos fortes, pontos fracos, ameaças e oportunidades detectados no processo de
implantação do turismo nos municípios em estudo. Essa análise subsidiará a
elaboração de propostas, para a solução ou melhoria da atividade nos dois locais.
Em seguida será feita uma análise comparativa dos dois estudos de caso, onde
serão verificados através do diagnóstico realizado anteriormente, os pontos positivos
ou negativos em comum entre Jericoacoara e Bonito, assim como pontos fortes de
um município que poderiam se tornar uma oportunidade no outro.
Finalmente, serão feitas discussões sobre todos os temas e estudos abordados,
visando elaborar um roteiro básico para que o turismo se desenvolva de forma
organizada e responsável. Este roteiro ou dicas constituem procedimentos básicos
que são essenciais para qualquer tipo de turismo que se deseje implantar, em
especial para o turismo municipal, seguido pelas propostas, para que isto aconteça
da maneira ordenada e sustentável.
8
2 TURISMO E PLANEJAMENTO TURÍSTICO
Neste capítulo serão abordados dados importantes para a compreensão do
fenômeno turismo, como conceituações, origens e a evolução do turismo no Brasil e
no Mundo. Aborda-se também, o tema planejamento turístico, elemento essencial
para o desenvolvimento sustentável da atividade, e que constitui um dos principais
focos de estudo desta pesquisa.
O objetivo deste estudo é apresentar os impactos que podem ser causados pela não
utilização de um criterioso processo de planejamento turístico de um município ou de
uma propriedade, bem como enfatizar a importância do profissional de turismo
inserido em todas as fases de formatação do produto turístico, desde a identificação
do potencial, passando por todo o processo de planejamento, até à comercialização
e acompanhamento do ciclo de vida do produto.
Também serão abordadas as vantagens do turismo, as possibilidades de
crescimento econômico, social e cultural para uma comunidade que decide utilizar
este segmento como fonte de renda e desenvolvimento, seguidas das propostas
para o bom desenvolvimento das idéias apresentadas. O intuito aqui é mostrar que o
turismo pode ser um grande aliado para o desenvolvimento social e econômico de
9
uma população, desde que esta o utilize de forma responsável e correta, buscando
sim o crescimento econômico, mas sempre cuidando para que os impactos
negativos não destruam sua atratividade.
2.1 ORIGENS E O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO MUNDIAL
O homem viaja desde os tempos antigos, quando antepassados primitivos
percorriam freqüentemente longas distâncias em busca da caça que lhes
proporcionava o alimento e o agasalho que eram necessários à sua sobrevivência.
Segundo Theobald (2002, p. 27), durante todo o curso da história as pessoas têm
viajado por diversos motivos, sejam por transações comerciais, ou ainda
econômicas, motivações religiosas, guerras, migrações, e por muitas outras razões
de igual importância. O autor ainda exemplifica que, nos tempos de Roma ricos e
funcionários do alto escalão do governo já viajavam por prazer. Nos balneários da
Pompéia e Herculano era proporcionada aos cidadãos a oportunidade de se
refugiarem em vilas de veraneio para se protegerem do verão romano. E com isso
as viagens foram se intensificando ao longo dos séculos, e em toda a história foram
muito importantes para a evolução das civilizações.
O turismo conhecido nos dias atuais é um fenômeno do século XX. Historiadores
sugerem que o turismo de massa teve início na Inglaterra durante a Revolução
Industrial, devido à ascensão da classe média e também dos meios de transporte
relativamente baratos (THEOBALD, 2002, p.27). O autor explica ainda que este
crescimento se deve à criação de linhas aéreas comercias implantadas após a
Segunda Guerra Mundial e a evolução dos aviões a jato na década de 1950, que
fortaleceram o crescimento intenso e o aumento das viagens internacionais. Tudo
isto veio proporcionar o desenvolvimento de um novo e importante fenômeno
econômico e social - o turismo.
Segundo Fourastié (apud RUSCHMANN, 2004, pg. 13), a palavra turismo surgiu no
século XIX, e a atividade estende suas raízes pela história. Certas formas de turismo
existem desde as mais antigas civilizações, mas foi a partir do século XX, e mais
10
precisamente após a Segunda Guerra mundial, que a atividade evoluiu, como
conseqüência dos aspectos relacionados à produtividade empresarial, ao poder de
compra das pessoas e ao bem estar resultante da restauração da paz no mundo.
Nota-se que há certa contradição entre os autores Theobald e Fourastié, quando se
diz respeito ao surgimento do turismo, já que Fourastié afirma que a palavra turismo
surgiu no século XIX e Theobald, que o Turismo surgiu no século XX. Porém, os dois
autores concordam que a atividade turística teve um notável crescimento após a
Segunda Guerra Mundial. No entanto, é importante ressaltar, que Theobald fala em
seu texto do turismo de massa enquanto Fourastié trata do turismo de uma forma
geral, entretanto, a obra pesquisada não deixa clara a posição da autora em relação
à contradição.
Para Rabahy (2003, p.01) a evolução dos acontecimentos econômicos e sociais do
mundo moderno transformou o turismo em uma atividade muito promissora e com
grandes possibilidades de expansão. E isto provoca alterações no cotidiano das
comunidades e principalmente na sua economia, provocando mudanças radicais de
todos os tipos. O autor afirma ainda que
o desempenho do setor turístico está intimamente relacionado ao
comportamento da renda e sua distribuição, bem como da disponibilidade
de tempo livre e outras facilidades propiciadas pelo progresso tecnológico,
até mesmo dos meios de transporte, encurtando as distâncias, o que
implica, em última análise, uma maior liberação do tempo para lazer.
Este desenvolvimento tecnológico propiciou às pessoas um maior tempo livre, assim
como uma maior disponibilidade financeira, fazendo com elas que pudessem se
dedicar mais ao lazer, aumentando assim a prática do turismo e conseqüentemente,
fazendo girar a economia de municípios receptores.
Neste contexto ainda, o autor ressalta que:
o turismo está entre os cinco maiores geradores de receita de divisas na
economia mundial, liderado apenas pelas exportações de armamentos e
pelo petróleo. Mesmo depois das recentes crises econômicas mundiais o
turismo vem registrando taxas de crescimento de receita que giram em
torno de 8% ao ano, isto nos anos de 1980 a 2000, e isto lhe assegura a
sua manutenção e participação total das exportações. (RABAHY p. 02,
2003).
11
Analisando todo este contexto, percebe-se que o turismo é uma prática existente
desde os tempos mais antigos, e que foi evoluindo no decorrer dos séculos. Fica
claro que a sua ascensão se iniciou após a Segunda Guerra Mundial, mas que
continua a evoluir até os tempos atuais.
Percebe-se então, que é um fator econômico de extrema importância tanto para o
Brasil, quanto para o mundo, sendo este um dos setores que mais geram renda na
atualidade. Além proporcionar a possibilidade de trabalho familiar, onde desde que
haja incentivo é possível envolver toda uma família ou até mesmo uma comunidade
no circuito do turismo em uma localidade.
2.2CONCEITUAÇÕES DE TURISMO
Não existe uma definição única de turismo, mas sim diversas conceituações,
capazes de deixar muito explícitos, quais são os interesses do turismo e também
qual é a sua área de abrangência. Barretto (1999, p.9), em seu livro Manual de
Iniciação ao Estudo do Turismo, propõe diversos conceitos de turismo como, por
exemplo, a de Schattenhofen que descreveu o turismo como uma atividade que
compreende todos os processos, especialmente os econômicos, que se manifestam
na chegada, na permanência e na saída do turista de um determinado município,
estado ou país, definição esta que data de 1911. Para Robert Glücksmann, turismo
é um vencimento do espaço por pessoas que vão para um local no qual não tem
residência fixa. Esta definição foi mais tarde revisada tomando o seguinte formato:
Quem interpreta o turismo como um problema de transporte, confunde este
com o tráfego de turistas. O turismo começa onde o tráfego termina no
ponto de turismo, no lugar de hospedagem. O tráfego de viajantes conduz o
turismo, porém não é turismo propriamente, nem sequer em parte. Turismo
é a soma das relações existentes entre pessoas que se encontram
temporariamente num lugar e os naturais deste local. (BARRETTO, 1999,
p. 09).
Neste ponto, porém, deve-se ressaltar que o autor não considera dentro da prática
do turismo o acesso, o transporte e a recepção. Seguramente pode-se dizer que
fazem sim parte do processo turístico, já que este engloba uma cadeia de serviços,
pois é impossível fazer turismo sem o processo de deslocamento, por exemplo.
12
Inicialmente a OMT - Organização Mundial de Turismo (apud BARRETTO, 1999,
p.12), conceituava a atividade como “a soma de relações e serviços resultantes de
um câmbio temporário e voluntário motivado por razões alheias a negócios ou
profissionais”. Porém, devido à existência de outros tipos de turismo como turismo
de negócios, turismo de eventos e saúde entre outros, a conceituação de turismo da
OMT levou o conceito para além da imagem do sair de férias, e a aceita oficialmente
apresenta o turismo como “as atividades de deslocamento e permanência em locais
fora do seu ambiente de residência, por período inferior a um ano consecutivo, por
razões de lazer, negócios ou outros propósitos” (BARRETTO, p. 12, 1999).
Neste ponto, porém, deve-se ressaltar que o autor não considera dentro da prática
do turismo o acesso, o transporte e a recepção. Seguramente pode-se dizer que
fazem sim parte do processo turístico, já que este engloba uma cadeia de serviços,
pois é impossível fazer turismo sem o processo de deslocamento, por exemplo.
Inicialmente a OMT - Organização Mundial de Turismo (apud BARRETTO, 1999,
p.12), conceituava a atividade como “a soma de relações e serviços resultantes de
um câmbio temporário e voluntário motivado por razões alheias a negócios ou
profissionais”. Porém, devido à existência de outros tipos de turismo como turismo
de negócios, turismo de eventos e saúde entre outros, a conceituação de turismo da
OMT levou o conceito para além da imagem do sair de férias, e a aceita oficialmente
apresenta o turismo como “as atividades de deslocamento e permanência em locais
fora do seu ambiente de residência, por período inferior a um ano consecutivo, por
razões de lazer, negócios ou outros propósitos” (BARRETTO, p. 12, 1999).
Existem diversas conceituações de turismo, e Barretto em seu livro Manual de
Iniciação ao Estudo do Turismo (1999, p. 10) cita outras conceituações muito
interessantes, como a de Josef Strander que trata de turismo como:
o tráfego de viajantes de luxo (aqueles que possuem condução própria) que
se detêm num local fora do seu local fixo de residência e com sua presença
naquele país não perseguem nenhum propósito econômico, mas buscam a
satisfação (STRANDER apud BARRETTO, 1999, p. 10).
13
Apesar de ser uma citação muito interessante deve ser repensada, já que o autor
deixa claro que apenas pessoas que possuem condução própria poderiam ser
chamadas de viajantes de luxo. Entretanto, nem sempre isto pode ser aceito como
verdadeiro, pois muitas pessoas viajavam independente de possuírem ou não
condução, esta prática não necessita e nem depende apenas disto e menos ainda
de automóveis. Além do mais, existem muitas outras formas de locomoção,
principalmente quando se trata dos tempos atuais.
Porém, Barretto pode estar utilizando este exemplo de Strander para tratar de
pessoas com poder aquisitivo maior que o de muitas outras, mas neste caso, deve-
se também levar em consideração que nem todos os turistas que possuem
condução própria, necessariamente, tenham um poder aquisitivo maior. Além disso,
várias conceituações, inclusive a da OMT já citada, discutem o fato de o turismo não
incluir em seu conceito viagens de negócios e trabalho.
Analisando as considerações apresentadas, nota-se que alguns itens como o tempo
de permanência nos locais visitados, e o fato de que o turismo é uma atividade não
lucrativa, são características muito comuns em conceituações de turismo:
Os elementos mais importantes de todas estas definições são o tempo de
permanência, o caráter não lucrativo da visita e, uma coisa que é pouco
explorada pelos autores, analisados , a procura do prazer por parte dos
turistas. O turismo é uma atividade em que a pessoa procura prazer por livre
e espontânea vontade. Portanto, a categoria de Livre Escolha deve ser
incluída como fundamental no estudo do turismo (BARRETTO, p.13, 1999).
Deve-se lembrar também que há o turismo de eventos1, turismo técnico - cientifico2 ,
turismo de negócios3 e também o turismo de saúde4 que nem sempre são feitos por
1 Turismo de Eventos – é o conjunto de atividades exercidas pelas pessoas que viajam a fim de
participar de congressos, convenções, assembléias, simpósios, seminários, reuniões, ciclos, sínodos,
concílios e demais encontros (...) para atingi-lo, de objetivos profissional-cultural, técnico-profissional,
de aperfeiçoamento setorial ou de atualização (ANDRADE, 1995)
2 Turismo Técnico Científico ou de Convenções – É aquele praticado com interesse profissional -
cultural, visando a participação em congressos, convenções, simpósios, reuniões internacionais,
encontros culturais, etc. (BRAGA, 2003, p.228).
3 Turismo de Negócios – É aquele praticado em busca de contatos e negócios no campo industrial e
comercial, (...) visando conhecer novas técnicas de processos de fabricação, a entabular negócios ou
abrir novas perspectivas de fazê-lo; também denominado turismo técnico (BRAGA, 2003, p.228).
14
livre escolha, mas muitas vezes, por outros motivos que podem ser caracterizados
por saúde, trabalho, estudo, etc.
É importante ressaltar que pessoas também viajam e se utilizam dos meios turísticos
para fins alheios a ele. É o caso de homens de negócios ou até mesmo de pessoas
que viajam a trabalho e que muitas vezes levam consigo o cônjuge, para
compartilhar de momentos em que estão liberados do trabalho e dedicá-los à pratica
do turismo, e é importante dizer que em congressos e eventos similares já existem
atendimento turístico especial para acompanhantes dos participantes (BARRETTO,
p.13, 1999).
Outro ponto a ser observado, tratando-se dos conceitos de turismo é que alguns
autores consideram como turismo apenas viagens inferiores há 90 dias, mas deve-
se salientar que existem viagens com durações superiores, especialmente entre as
classes mais altas da sociedade. (BARRETTO, p.14, 1999). Neste caso, nota-se que
este conceito perde seu valor quando comparado ao considerado atualmente pela
da OMT, que ao invés de 90 dias reconhece como turismo viagens com duração
inferior a um ano.
Pelo que foi exposto até o momento, percebe-se que o turismo é um fenômeno
social e econômico, e que há ainda muito a ser discutido e agregado a essa
atividade que tem o poder de unificar povos, disseminar novas culturas e
conhecimentos, além de desenvolver econômica, social e culturalmente os núcleos
receptores, desde que bem planejado e calcado nos conceitos de sustentabilidade.
2.3PLANEJAMENTO TURÍSTICO: CONCEITOS E RELEVÂNCIA
É notável atualmente a necessidade de planejar de forma adequada e responsável
um determinado espaço para que este se desenvolva. Isto se dá para que o valor do
produto turístico seja reconhecido e para que o empreendimento apresente um
4 Turismo de Saúde – É aquele praticado por pessoas em busca de climas, estações ou centros de
tratamento onde possam recuperar a saúde (BRAGA, 2003, p.229).
15
crescimento considerável, assim como uma movimentação relevante para a
economia.
Conceituando planejamento, Petrocchi (2000, p.19) explica que o planejamento é
praticado pelas pessoas no seu dia-a-dia, isto implica até mesmo em escolher as
peças de roupa para vestir, e no decorrer de um dia de trabalho, utiliza-se
intuitivamente mecanismos de planejamento durante todo o tempo. Cotidianamente
as pessoas analisam as condições do tempo avaliando a temperatura e as
probabilidades ou não de chuva; organizam os compromissos para o dia,
logicamente que neste caso, trata-se de um planejamento informal. Enfim, o
planejamento faz parte da rotina das pessoas, quase tudo o que se faz no decorrer
de um dia, tem um planejamento prévio.
O planejamento consiste em uma análise da situação atual e determinação de uma
situação desejada – objetivo, bem como a definição das estratégias que auxiliarão o
alcance desse objetivo. Para Robbins (apud PETROCCHI, 2001. p.210) “os objetivos
são os fins em torno dos quais se dirige toda a atividade”, ou seja, uma atividade
deve ser muito bem planejada, e a sua execução deve acontecer de acordo com
aquilo que foi planejado, visando sempre a conservação tanto do ambiente quando
da cultura da qual se está utilizando.
Em um breve comentário sobre o surgimento do planejamento, Barretto (2003, p.85)
explica que o primeiro plano econômico real foi executado no Japão no fim do século
XX. Segundo a autora, na União Soviética o planejamento começou a ser utilizado
na forma de planos qüinqüenais após a revolução socialista na década de 20 e em
planos seteniais na década de 30. “Uma preocupação de Mannheim muito legitima e
bastante atual era saber quem planeja os planejadores” (MANNHEIM apud
BARRETO, 2003, p.85). Para Mannheim, alguém ter para si o poder de decidir os
rumos da sociedade era assustador. É notável então que mesmo em tempos mais
antigos havia a preocupação com o planejamento e principalmente com a
capacidade e formação de quem o faria.
Para conceituar planejamento turístico, apresenta-se o posicionamento da OMT, que
apresenta o termo como:
16
o resultado de um processo complexo, dada a variedade de fatores relativos
ao destino. Por isso, envolve a necessidade de manusear muitas
informações adequadas relativas aos recursos, infra-estrutura e
equipamentos da região, que permitam a segmentação posterior da
demanda em nichos diferenciados e facilitem a tarefa de conservar o
entorno, não só em beneficio dos moradores, como também em benefício
dos investidores a longo prazo (OMT, 2001, p.177)
Assim, pode-se dizer que o processo de planejamento ajuda na ordenação da oferta
turística, visando a sustentabilidade ambiental, cultural, econômica e social dos
núcleos receptores.
Neste contexto, é importante salientar que um aspecto indispensável do
planejamento turístico, é o papel fundamental que é reservado ao poder público, já
que o turismo não é uma atividade inteiramente privatizável (DIAS, 2002, p. 119).
Segundo Petrocchi, (apud, DIAS e AGUIAR, 2002. p. 119): “empresas privadas
podem atuar em investimentos turísticos e em setores de infra-estrutura. Mas está
reservado ao Poder Público o papel de regulador e / ou provedor de serviços
públicos indispensáveis ao turismo”.
O autor explica que neste caso podem estar assinalados itens que dizem respeito à
organização do espaço urbano, os sistemas viários, de comunicação e de proteção
ao meio ambiente. Para Petrocchi (2002. p. 119), há a necessidade de promoção da
regulamentação do uso do solo e principalmente, a educação e conscientização da
população. Além de que “cabe também ao setor público o papel de fiscalizador das
ofertas turísticas de regulador do mercado”.
Ruschmann sugere diversos conceitos de planejamento como, por exemplo, o de
Harry e Spink que diz que:
O planejamento é uma atividade que envolve a intenção de estabelecer
condições favoráveis para alcançar objetivos propostos. Ele tem por objetivo
o aprovisionamento de facilidades para que uma comunidade atenda seus
desejos e necessidades ou, então, o “desenvolvimento” de estratégias que
permitam a uma organização comercial visualizar oportunidades de lucros
em determinados segmentos em ambos os casos (RUSCHIMANN, 2004, p.
83).
17
Segundo a autora, em ambos os casos, a bibliografia é bastante ampla, apesar de
poucas obras falarem especificamente sobre o planejamento do turismo, e quando o
fazem, abordam de forma assistemática e fragmentada. Ruschmann explica que isso
se dá porque as técnicas e as estruturas do planejamento, tanto no setor público
como nas organizações privadas, são difíceis de abordar em conjunto, já que, na
comparação dos dois tipos percebem-se os diferentes objetivos de cada um.
Existem diversas conceituações para planejamento, e com isso muitas contradições
entre eles, por exemplo, para Baptista (apud BARRETTO, 2003, p. 11),
planejamento se refere ao processo permanente e metódico de abordagem racional
e científica de problemas. Para Newman (apud BARRETTO, 2003 p. 11), planejar
significa decidir antecipadamente o que deve ser feito, já que para ele o
planejamento é uma linha de ação preestabelecida. Porém, segundo Barretto (2003
p. 12), a conceituação que melhor sintetiza o planejamento é a de Munõz Amato que
conceitua planejamento como:
a formulação sistemática de um conjunto de decisões, devidamente
integrado, que expressa os propósitos de uma empresa e condiciona os
meios de alcançá-los. (...) consiste na definição dos objetivos, na ordenação
dos recursos materiais e humanos, na determinação dos métodos e das
formas de organização, no estabelecimento das medidas de tempo,
quantidade e qualidade, na localização espacial das atividades e em outras
especificações necessárias para canalizar racionalmente a conduta de uma
pessoa ou de um grupo.
Assim, a importância do planejamento turístico consiste em “permitir uma gestão
racional dos recursos evitando o desenvolvimento desequilibrado dos mesmos, ou o
desperdício, e desta maneira, ajuda a preservar as vantagens econômicas, sociais e
ambientais do turismo e a diminuir custos” (OMT, 2001, p. 177). O planejador deve
estar sempre focado em trabalhar visando utilizar tanto o ambiente natural, quanto
cultural de determinada localidade, sem deturpá-lo, mantendo-o o mais intacto
possível.
A matéria-prima principal do turismo são atrativos naturais e culturais, ambos de
extrema fragilidade. No turismo, a interpretação economicista dos recursos naturais,
que o considera simplesmente como bem de consumo, implica em uma sucessão de
problemas para o meio ambiente o que pode comprometer a atividade turística no
18
futuro. O desenvolvimento de atividades turísticas demanda um planejamento
adequado, que envolve profissionais das mais diversas áreas e, caso isso não
ocorra, pode gerar uma degradação no meio ambiente natural, social e cultural,
acarretando assim em uma diminuição de competitividade e provocando a perda de
visitantes de outras regiões (DIAS e AGUIAR, 2002, p. 118).
Além do fato de provocar a perda dos visitantes, existe ainda o problema da
degradação ambiental que muitas vezes é irreversível, e cabe principalmente ao
poder público cuidar e fiscalizar para que isto não aconteça.
O turismo não planejado ou mal planejado, pode ser fatal para um empreendimento
ou até mesmo para todo um núcleo receptor, e neste caso, deve-se pensar com
muita cautela quando se tem a idéia de criar um empreendimento, sempre com
intuito de preservar ao máximo o ambiente que irá promover o turismo naquele local,
levando-se sempre em consideração que esta é uma fonte que pode se esgotar, e
que esgotada uma vez, os danos causados são irreversíveis.
Segundo a OMT o planejamento deve assegurar que:
os objetivos buscados pelas autoridades locais, pela população receptora,
pelas empresas e pelos visitantes, possam ser alcançados com harmonia
(...) o principal objetivo deve ser maximizar a contribuição do turismo ao
bem-estar humano (OMT, 2001, p. 235).
Neste caso, é imprescindível que todas as partes interessadas no desenvolvimento
do turismo estejam de acordo em relação aos requisitos a serem utilizados e
principalmente, devem estar conscientes que o objetivo do turismo é trazer
benefícios para um local e não destruí-lo ou utilizá-lo de forma que se acabe.
Porém, para que o planejamento turístico seja completo, ele deve estar calcado na
sustentabilidade. Um planejamento que não esteja voltado para desenvolvimento
sustentável, corre o risco de não decolar, ou ainda de que suas fontes se esgotem
rápida e irreversivelmente.
Segundo a OMT:
19
a indústria turística se caracteriza por sua grande complexidade, não só
pela grande quantidade de elementos pelos quais é composta, mas
também, pelos diferentes setores econômicos do seu desenvolvimento.
Nesse sentido, o turismo é considerado geralmente como uma exportação
de uma região ou nação até o lugar de destino (país receptor, lugar de
recebimento), no qual gera renda, favorece a criação de empregos, entrada
de divisas que ajudam a equilibrar a balança de pagamentos, aumenta os
impostos públicos e aquece a atividade empresarial. Assim sendo, a
atividade turística tem uma grande importância na economia devido a sua
elevada contribuição para a geração de Valor Agregado Bruto – VAB na
região receptora (OMT, 2001, p.10).
Ou seja, a indústria turística tem um grande poder de geração de divisas fazendo
assim com que aconteça o efeito multiplicador do turismo, além dos impactos diretos
que é quando a despesa do visitante circula pela mão de empreendedores, e os
impactos indiretos acontecem quando ela re-circula, passando pela mão do
empreendedor turístico e vai para o comércio da localidade.
Percebe-se, desta forma que, no impacto direto o turista gera renda para os
empreendedores que por sua vez, gastam parte deste lucro no município onde se
localiza o empreendimento turístico, o que irá gerar o impacto indireto. O
empreendedor por sua vez acabará por contratar mais mão-de-obra, começam a
gerar renda também para os moradores da localidade e assim por diante, fazendo
com que o capital recircule. Isto é o efeito multiplicador do turismo, a geração e
distribuição de renda através dele.
Assim, os estabelecimentos comercias que irão receber os gastos diretos gerados
pelos turistas precisarão de mais fornecedores, ou seja, têm que comprar bens e
serviços para que estes sejam distribuídos para outros setores dentro da economia
local. Como por exemplo:
Hotéis contratarão serviços como os de construção civil, bancos,
contadores, alimentação e bebidas. Parte destes gastos sairá de circulação,
pois os fornecedores precisarão comprar produtos importados para cobrir
suas necessidades. Ou seja, estes fornecedores precisarão comprar
produtos importa os para cobrir suas necessidades. A atividade econômica
gerada em conseqüência das rodadas de compras e gastos é conhecida
como efeito indireto (BARBOSA, 2006, p.04).
Além disso, existe o efeito induzido do turismo que é aquele gerado através dos
salários, aluguéis e juros recebidos da atividade turística que resultam em outros
20
tipos de atividade econômica. Como por exemplo, “os juros pagos ao banco por um
empréstimo gerarão mais recursos para futuros empréstimos e, consequentemente,
ocorrerá um aumento da atividade econômica” (BARBOSA, 2006, p.04). Outro fator
importante quando se fala em efeito multiplicador do turismo é que com o fato da
atividade turística movimentar a economia de um local, o turismo também contribui
para a geração de empregos. Já que com a economia em movimento, a procura pela
mão-de-obra qualificada aumenta.
Tratando-se de planejamento no Brasil, Barretto (1991, pg. 94) explica que a Política
Nacional de Turismo no Brasil insere-se tardiamente na história do planejamento no
país (o livro mais completo sobre planejamento setorial de autoria de Jorge Costa,
não faz menção à palavra Turismo até 1965), e ainda não tem contornos muito
delineados. O que foi planejado e realizado abordou o turismo apenas como um
fenômeno econômico gerador de divisas. Porém, o turismo é mais do que uma
mercadoria para equilibrar a balança de pagamentos. Uma política nacional de
turismo deve abranger o aspecto social e psicológico dessa atividade, para que seja
entendida como uma atividade humana que deve como lazer, ser parte essencial da
vida.
Em termos de planejamento turístico, o país articulou ações como a criação do
Programa Nacional de Municipalização do Turismo – PNMT, difundido em todos os
estados brasileiros na intenção de identificar potencial e desenvolver a atividade ao
longo do país. O PNMT foi implantado pela Embratur em março de 1992, e foi um
Programa desenvolvido e coordenado pela EMBRATUR, de acordo com a
metodologia da Organização Mundial do Turismo, adaptada à realidade brasileira,
com o propósito de implementar um novo modelo de gestão da atividade turística,
simplificado e uniformizado para os Estados e Municípios, de maneira integrada,
buscando maior eficiência e eficácia na administração da atividade turística, de
forma participativa, mas que devido à mudanças de governo foi interrompido
(SENAC, 2006).
No ano de 2003 foi criado o Ministério do Turismo, e atualmente é desenvolvido o
Programa de Regionalização do turismo que segundo o Portal Brasileiro de Turismo
(Embratur, 2006), “é um modelo de gestão descentralizada, coordenada e integrada,
21
com base nos princípios da flexibilidade, articulação, mobilização, cooperação
intersetorial e interinstitucional e na sinergia de decisões”. Este modelo visa
transformar a ação centrada na unidade municipal em uma política pública
mobilizadora de planejamento e coordenação para o desenvolvimento turístico local,
regional, estadual e nacional de forma articulada e compartilhada.
Em suma, o turismo repercute tremendamente na economia dos países e das
regiões nas quais se desenvolve. O turismo não apenas contribui com divisas, como
também suaviza a questão do desemprego nas comunidades onde existe. Mas para
que o efeito multiplicador e os impactos positivos aconteçam, é de suma importância
que haja um processo criterioso de planejamento, onde é imprescindível também a
figura do planejador capacitado.
2.4O PAPEL E A IMPORTÂNCIA DO PLANEJADOR NO PROCESSO DO
PLANEJAMENTO TURÍSTICO
Efetivamente, quando se fala em turismo, se fala em serviços, e consequentemente
existe a referência às pessoas, ou desde um ponto de vista mais descritivo, quanto
ao valor intrínseco que representa para as empresas e para os governos, o capital
humano (PEIRÓ apud OMT, 2001, p.345).
O planejador de turismo é capaz de elaborar um trabalho para determinar a
quantidade de turistas que poderão ocupar um mesmo lugar sem saturá-lo e sem
que estes invadam o espaço da população local. Juntamente com outros
profissionais, como historiadores, arqueólogos, sociólogos, arquitetos, geógrafos
entre muitos outros, tem a incumbência de resgatar o patrimônio histórico e preparar
a localidade para o recebimento de turistas. E principalmente, sem degradar o
ambiente e nem deturpar os fatos do passado.
Spinelli, no livro Currículo e Formação Profissional nos Cursos de Turismo explica
que:
22
O turismo é um setor de serviços que requer elevados índices de força de
trabalho, além de uma crescente modernização e de uma apurada
implementação da tecnologia, e que logo deverá enfrentar um mercado em
expansão e cada vez mais exigente. Isso implica necessariamente um
incremento da eficácia e da produtividade das pessoas que trabalham
nesse setor (SPINELLI in NETO E MACIEL, 2002, p.106)
Analisando o contexto apresentado, se o profissional não estiver devidamente
preparado, pode não conseguir o seu lugar no mercado de trabalho. Além disso, o
ambiente onde o turismo acontece corre sérios riscos de não se desenvolver ou, em
uma pior hipótese, crescer muito rápido, mas não suportar os impactos do turismo,
tendo abreviado o seu ciclo de vida.
Um profissional responsável e com formação em turismo, deve estar apto a
desenvolver as seguintes funções:
colaborar na elaboração e implantação da Política Nacional de Turismo;
elaborar e operacionalizar inventários turísticos (...) e diagnósticos
turísticos; elaborar o planejamento do espaço turístico; elaborar planos
municipais, estaduais e federais de turismo; interpretar legislação pertinente;
identificar, analisar e avaliar os possíveis efeitos positivos e negativos
provocados pela atividade turística em determinados espaços e
comunidades; estabelecer normas, detectar, aplicar e gerenciar a qualidade
de serviços turísticos; apoiar ações voltadas à formação, treinamento e
capacitação dos recursos humanos de turismo em nível técnico e superior;
fazer estudo de mercados turísticos prioritários. Interpretar, avaliar e
selecionar informações geográficas, históricas, artísticas, esportivas
recreativas e de entretenimento, folclóricas, artesanais, gastronômicas,
religiosas, etc.; gerir empreendimentos turísticos, utilizar a metodologia
científica no desenvolvimento de estudos e pesquisas básicas e aplicadas
(NETO e MACIEL, 2002, p. 17).
Neste caso, fica claro que para que haja o envolvimento de qualquer pessoa na
atividade turística, não basta que haja apenas boa vontade, mas indiscutivelmente
capacitação, para que o desenvolvimento do turismo seja de boa qualidade, bem
planejado consequentemente rentável.
Para Carlzon (apud OMT, 2001, p.348) a importância da profissionalização da mão-
de-obra se dá por que;
todas essas características criam uma certa insegurança na entrega dos
serviços que somente pode ser minimizada com um alto grau de
profissionalismo por parte dos trabalhadores do setor. Devido ao elevado
número de elementos intangíveis, e durante o encontro do cliente com a
organização (...) por meio do pessoal de contato, quando o provedor do
serviço deve demonstrar sua habilidade para satisfazer o consumidor.
23
Portanto, a formação de qualidade em todos os níveis do estudo do turismo é
indispensável para se obter profissionais flexíveis, que sejam capazes de satisfazer
as necessidades dos clientes e as da própria indústria turística, sentindo-se, ao
mesmo tempo, motivados e envolvidos na organização da qual fazem parte.
Levando-se em consideração as características do produto turístico como, por
exemplo, a sua intangibilidade, ou o fato de ser inseparável e heterogêneo, a
complexidade que envolve toda a ação humana e a importância que têm para
empresas de serviços, as pessoas que formam seu mercado, que por sinal deve ser
entendido em um sentido muito amplo, estabelece-se um sistema interativo de
participação entre todos os agentes vinculados, com o propósito de orientar toda a
sua atuação à satisfação do cliente.
Assim conclui-se que um profissional, não apenas em turismo, mas em qualquer
área deve estar preparado para resolver os problemas que virão pela frente. Esta
pessoa deve estar apta a atuar em qualquer área do grande leque de oportunidades
que o segmento turístico proporciona, e ainda deve ser levado em consideração que
o turismo mexe com as emoções e com os sonhos das pessoas e, portanto deve
partir também da emoção do profissional.
2.5IMPACTOS POSITIVOS CAUSADOS PELA PRÁTICA DO TURISMO
O turismo, sob a ótica de um fenômeno econômico, social e cultural, é uma atividade
capaz de proporcionar diversos benefícios aos núcleos receptores e comunidades
locais. Um aspecto importante dos efeitos positivos do turismo é a geração de
empregos, que podem ser diretos ou indiretos:
Os empregos gerados pelo turismo podem ser vistos como diretos, isto é, os
que colocam o empregado frente a frente com o turista, como é o caso de
hotéis, restaurantes, agências de viagem, entre outros. Já os empregos
indiretos são os que não aparecem de forma explícita, mas estão
igualmente contribuindo para o funcionamento da indústria do turismo; como
exemplo, temos os fornecedores de alimentação, os serviços de lavanderia,
a construção de aviões, entre outros (DIAS E AGUIAR, 2002, p. 162).
24
Nota-se então que os impactos econômicos do crescimento do turismo em relação
ao número de empregos são importantíssimos para a economia. Com isto os
empregos começam a crescer e consequentemente acontece o giro do efeito
multiplicador do turismo
Além disso, o turismo parece ser mais eficiente do que outras indústrias
para gerar emprego e renda nas regiões menos desenvolvidas, (...). Na
verdade, é nessas áreas que o turismo pode ter o seu impacto mais
significativo. Em tais lugares a grande parte da população vive da
agricultura e da subsistência ou são pescadores, e quando se envolvem na
indústria do turismo sua renda familiar sofre um acréscimo bastante grande
em termos relativos. (...). Na verdade, a introdução de uma indústria do
turismo (...) pode ter um efeito proporcionalmente muito maior sobre o bem-
estar da população residente do que o resultante da mesma quantidade de
turismo em partes mais desenvolvidas do país (ARCHER E COOPER in
THEOBALD, 2002, p. 85)
A circulação e a recirculação de divisas em um município receptor provocam
impactos econômicos indiretos, caracterizando o já citado efeito multiplicador do
turismo. Beni (2000, p. 269) explica que “este efeito não é uma exclusividade do
turismo, mas aparece também em outros setores da economia”.
A OMT (2001, p. 201) explica que:
Os defensores da atividade turística argumentam que o turismo não só
contribui com divisas, como, também suaviza o problema do desemprego e,
a longo prazo, pode fornecer um substituto das exportações tradicionais,
cujo futuro é mais inseguro que o do turismo.
A Organização Mundial de Turismo salienta ainda que se pode “considerar o turismo
como uma atividade de exportação invisível de bens e serviços, por parte dos países
receptores de turistas e viajantes” (OMT, 2001, p. 201), e tudo isso com a diferença
de que esses turistas consomem bens e serviços no próprio país receptor, ou seja, o
turismo nacional poderia ser considerado uma exportação entre todas as regiões do
país.
Outro ponto relevante dos impactos positivos que o turismo proporciona, é o impacto
político, já que “o turismo interno (...) pode agir como uma força integradora que
fortalece o sentimento nacional. A população das áreas distantes é tradicionalmente
mais preocupada com as questões locais das aldeias (...)”, e isto facilita tanto o
25
entendimento de que aquele local deve ser preservado, quanto à exaltação do
orgulho da herança nacional (ARCHER E COOPER in THEOBALD, 2002, p. 91).
A circulação de pessoas em âmbito nacional colabora para que haja da parte do
turista o orgulho do seu país das belezas que ele possui. Além disso, também faz
com que estes turistas entendam o quanto é importante que este local seja
preservado. É válido salientar que o orgulho, contribui para que o compromisso com
a preservação exista.
E quando se trata de viagens internacionais, o turista entende que muitas vezes as
belezas vistas pela televisão, nem sempre são tão reais assim, e que é necessário
um comprometimento da parte de governantes civis e até mesmo de turistas, para
que aquela realidade seja melhorada, e que sejam melhoradas também as
condições de vida daquela população.
Quando se fala em impactos positivos do turismo, deve-se pensar também nos
impactos causados ao meio ambiente, já que, a indústria turística pode colaborar
com a preservação por meio de contribuições financeiras, pela melhoria do
planejamento e gerenciamento ambiental. Isto pode ser feito ainda através da
conscientização ambiental, da geração de empregos e também do estabelecimento
de limites para a visitação.
O turismo tem um potencial de criar efeitos benéficos ao meio ambiente,
contribuindo para a proteção e conservação. É um caminho para o crescimento da
consciência dos valores ambientais e pode servir como ferramenta para financiar a
proteção das áreas naturais (DIAS, 2003, p.87).
O turismo pode contribuir significativamente para a proteção ambiental,
conservação e restauração da diversidade biológica e do uso sustentável
dos recursos naturais. Devido à atração que exercem, os locais naturais são
considerados de valor inestimável para o turismo, e a necessidade de
mantê-los preservados, pode levar a criação de Unidades de Conservação e
de outras áreas de preservação ambiental, nos vários níveis de organização
do estado – municipal, estadual e federal (DIAS, 2003, p.99).
26
Para Dias, um bom exemplo é o caso do material de divulgação de Bertioga – SP,
onde 85% do seu território é protegido, e acabou se tornando um forte atrativo
turístico, e completa a principal atividade turística do município que é o sol e o mar.
Tratando-se de impactos ambientais, Ruschmann (2004, p. 22) explica que:
Os ambientes naturais conservados ganham força no contexto turístico
internacional, no qual a concorrência é intensa, e constituirão a grande força
mercadológica para os turistas das décadas de 1990 e 2000, cada vez mais
sensíveis diante dos acidentes naturais e políticos do planeta.
Além de fazer bem à natureza que serve de fonte para o turismo, os impactos
ambientais positivos ainda ajudam no marketing, tanto do local preservado quanto
do país onde este ambiente se encontra.
O turismo é muito importante quando se trata de preservação de espécies, pois
propiciou que um grande número de pessoas passasse a apreciar animais silvestres
em seus ambientes naturais, que acabam deixando recursos suficientes para que
essas áreas sejam protegidas.
O turismo sustentável, do ponto de vista do meio ambiente, demonstra a
importância dos recursos naturais (...), e pode ajudar a preservá-lo; o
turismo sustentável monitora, assessora e administra os impactos do
turismo, desenvolvendo métodos confiáveis de obtenção de respostas e
opondo-se a qualquer efeito negativo (SEABRA apud Gonçalves, 2006).
Analisando este contexto, percebe-se que uma série de variáveis devem ser levadas
em consideração sempre que se quiser implantar o turismo em um local ou que se
pensar em avaliar os impactos causados por ele. Nunca deve ser deixada de lado
qualquer possibilidade de impacto positivo, desde que este não cause os impactos
negativos e assim não destruam o potencial que é a base da sua subsistência.
2.6IMPACTOS NEGATIVOS CAUSADOS PELA IMPLANTAÇÃO E PRÁTICA DO
TURISMO
O turismo pode causar impactos positivos para a região onde se desenvolve, porém,
quando é feito sem a participação de profissionais responsáveis e capacitados, para
que os cuidados, principalmente com o meio ambiente, preservação da cultura local
27
e envolvimento da comunidade, sejam tomados, o turismo pode se tornar um grande
vilão para a localidade onde está sendo implantado.
Percebe-se então que a atividade turística é também geradora de impactos
negativos, quer sejam ambientais, sociais ou culturais. E reduzir esses impactos é
garantir o desenvolvimento sustentado do turismo conservando o patrimônio cultural
e natural da região. Assim, Dias (2003, p. 67) explica que “o desenvolvimento da
atividade turística sem um planejamento adequado, envolvendo profissionais das
mais diversas áreas, gera uma degradação no meio ambiente”.
Dias explica ainda que podem existir muitos impactos negativos do turismo no meio
ambiente e que
esses impactos surgem, por exemplo, no desenvolvimento da infra-estrutura
para o turismo, num incorreto manejo dos resíduos gerados pela atividade,
nas cicatrizes da paisagem geradas pelo crescimento da infra-estrutura nas
áreas naturais e pelo volume de visitantes que afeta os ecossistemas mais
frágeis (DIAS apud GONÇALVES, 2006, p.1).
Antes de se pensar em implantação turística deve-se levar em consideração todos
os possíveis impactos, tanto negativos, quanto positivos, e medir assim a viabilidade
do empreendimento, visando não apenas os lucros mas principalmente a
preservação do local.
Ruschmann (apud Gonçalves, 2006, p.1) aponta o grave problema de que muitas
vezes “valorizam-se excessivamente os impactos positivos ou benefícios da
atividade, deixando de lado as conseqüências indesejáveis e o custo”. Assim,
percebe-se a importância da implantação turística visando à preservação e a
minimização dos impactos negativos causados por ele.
Reinaldo Dias, em seu livro Turismo Sustentável e Meio Ambiente explica que
o turismo foi durante muito tempo considerado uma atividade econômica
limpa, não poluente, geradora de amplo leque de oportunidades e de
empresas que não lançam fumaça na atmosfera, como as fábricas
características da Revolução Industrial. (DIAS, 2003, p. 72)
28
Mas o que tem se tornado cada vez mais óbvio é que o turismo também polui. A
prática do turismo pode causar destruição tanto quanto as fábricas que todos os dias
jogam na natureza poluentes de todos os tipos.
O turismo pode gerar poluição através do lixo deixado pelos turistas, da poluição
sonora, da água, a destruição da fauna e da flora, entre muitos outros. O segmento
turístico envolve muitas pessoas de diversas culturas diferentes, o que torna difícil a
conscientização de que enquanto houver a conservação, haverá o produto turístico.
Um outro ponto negativo que não pode ser esquecido é a especulação imobiliária,
que vem junto com o crescimento do turismo:
Gradualmente os nativos com menor poder aquisitivo, passam a vender o
terreno que lhes pertence, alguns até parte de sua casa, buscando poder
oferecer uma melhor condição ao visitante que se hospeda na sua
residência e, com isso melhorar a sua renda. (...) Todos querem melhorar a
renda familiar no sentido de poder comer melhor, morar decentemente,
vestir-se bem, passear, enfim, ter uma vida mais digna consumindo os bens
que a modernidade lhes proporciona. Infelizmente vários moradores que
venderam sua propriedade, não tiveram condições de implementar o novo
projeto e acabaram se mudando da comunidade ou procurando área
periféricas à vila, o que ocorre, geralmente, em função da especulação
imobiliária, à semelhança de processos ocorridos em outros lugares
apropriados pelo turismo (FONTELES, 2004, p. 161).
Este trecho foi retirado do livro Turismo e Impactos Sócio-ambientais de José Osmar
Fonteles, fonte do estudo de caso sobre o crescimento turístico de Jericoacoara no
estado do Ceará que será apresentado no próximo capítulo desta abordagem. Com
esta citação o autor explica que os nativos se desfazem de suas propriedades na
vila, vendendo-as para turistas que a destroem para construir a sua casa de
temporada, o que acaba alterando a fisionomia do local, e ainda, gera a expansão
da periferia.
A especulação imobiliária traz consigo também a entrada de muitas pessoas que
não são nativos daquele local, e muitas vezes por receberem terras como herança,
constroem casas, normalmente apenas para temporadas, e passam a se considerar
nativos. O que faz com que a maior parte da população de uma localidade em
expansão turística já não seja mais de nativos, pois estes acabam perdendo seu
espaço para o desenvolvimento.
29
Os efeitos políticos também têm relevante importância no cenário turístico, pois “as
viagens entre países desenvolvidos e em desenvolvimento estão aumentando
anualmente e põem em contato direto povos de origens muito diferentes e com
estilos de vida e níveis de renda muito contrastantes”, e estas diferenças são muito
grandes, o que pode trazer graves conseqüências políticas e socioculturais
(ARCHER E COOPER in THEOBALD, 2002, p. 90).
Apesar de em alguns pontos como os citados no item 1.5, nem sempre mesclar
povos é benéfico, podendo em alguns casos gerar tensões culturais, sociais e
morais. Propiciar a mistura de pessoas de diferentes regiões de um país, “por um
lado pode resultar numa compreensão melhor do modo de vida de vários grupos
distintos e numa avaliação mais correta dos problemas particulares e regiões
específicas, mas por outro lado podem gerar mal-entendidos e até mesmo
desconfiança” (ARCHER E COOPER in THEOBALD, 2002, p. 90).
Em uma avaliação geral dos impactos negativos do turismo, entende-se que o
turismo é um segmento muito importante tanto para a economia, quanto para a
geração de empregos, questões sociais, culturais e até mesmo ambientais. Porém,
não se pode deixar de considerar os perigos que o turismo apresenta. Não se pode
esquecer que se o planejamento turístico não for executado de uma forma
extremamente responsável e muito bem feita, onde se deve analisar cada
possibilidade, tanto boa quanto ruim, os impactos negativos podem ser muito
grandes e muitas vezes irreversíveis.
No decorrer deste capítulo foram abordadas diversas conceituações de turismo,
onde diversos autores expuseram suas opiniões, e percebeu-se inclusive que
existem muitos pontos onde não há concordância entre estes autores, o que
colaborou para um melhor embasamento com a utilização de opiniões diferentes.
Estudou-se também as conceituações de planejamento assim como o processo
histórico de desenvolvimento tanto do turismo, quanto do planejamento no Brasil e
no mundo.
30
Buscou-se destacar também, a importância da utilização do profissional de turismo
em todo o processo de planejamento, além de suas funções e obrigatoriedades. E
para finalizar, foram apresentados os impactos positivos e negativos do turismo,
assim como suas causas, boas ou ruins e suas vantagens. O próximo capítulo
apresentará dois estudos de caso ressaltando a forma de implantação e prática do
turismo no município de Jericoacoara – CE e Bonito – MS, buscando evidenciar na
prática, todos os pontos abordados até o presente momento ao longo desta
explanação.
3 APRESENTAÇÃO DOS ESTUDO DE CASO: IMPLANTAÇÃO DO TURISMO EM
JERICOACOARA–CE E EM BONITO–MS
Neste capítulo serão apresentados estudos de casos de localidades, onde apesar de
o planejamento turístico ter sido implantado, foi feito tardiamente. Em um dos
estudos de casos, será possível notar que o planejamento foi utilizado na fase inicial
do desenvolvimento da atividade turística e por isso os resultados obtidos foram bem
melhores que no segundo caso, onde os processos de planejamento foram inseridos
mais tarde.
31
Pretende-se com as informações apresentadas neste capítulo demonstrar casos de
localidades onde o turismo se desenvolveu rápido demais e os danos que isto
causou aos atrativos naturais e comunidade local. Será enfatizado também o fato de
estas comunidades terem conseguido dar a volta por cima, estruturando ainda que
tardiamente o turismo e fazendo dele uma fonte de renda.
Aqui serão apresentados dois estudos de caso de regiões diferentes do Brasil. O
primeiro dele é o estudo de Jericoacoara, no estado do Ceará onde o turismo se
iniciou por acaso, e assim como em Bonito, não havia estrutura para o recebimento
destes turistas, criando-se um impasse com a população autóctone, que poderia ter
custado o futuro deste paraíso. O segundo caso é o de Bonito no Mato Grosso do
Sul, onde o turismo teve um crescimento muito acelerado e causou sérios danos ao
local, ameaçando inclusive a continuidade do segmento turístico na região.
O objetivo principal deste estudo como um todo, é demonstrar a importância do
planejamento turístico para o desenvolvimento sustentável da atividade, assim como
a importância de uma equipe especializada no processo de planejamento, o que
será demonstrado a partir de relatos sobre a implantação do planejamento turístico
nos municípios de Bonito e Jericoacoara, e as conseqüências desse processo no
resultado final da atividade.
3.1 IMPACTOS DO TURISMO EM JERICOACOARA – CE
A autora Deise Maria Fernandes Bezzerra, em seu livro Planejamento e Gestão em
Turismo, coloca em pauta o processo de planejamento no município de
Jericoacoara, no estado do Ceará. O município na época em que o turismo começou
a se desenvolver era ainda uma comunidade de Jijoca – CE. O município abriga um
dos lugares de maior beleza em termos de paisagem natural do Brasil, e tem um
fluxo intenso de turistas na praia de Jericoacoara. A comunidade começou no início
dos anos 80 a receber turistas, e em pouco tempo, se tornou conhecida
mundialmente, despertando assim o interesse do poder público e da iniciativa
privada.
32
No início os acessos eram feitos através dos municípios de Jijoca ou por Camocim.
Quem optava por Jijoca, tinha que enfrentar uma caminhada de mais de 2 horas, já
que não havia carros para fazer o transporte.
Apoiados por turistas e um vereador, a comunidade resolveu transformar o local em
APA5 – Área de Proteção Ambiental, após uma campanha cujo slogan era: Salve
esta Praia. O ambientalismo que nesta época já ocupava um espaço significativo na
opinião mundial, já contagiava também o Brasil.
Em pouco tempo os resultados começaram a aparecer, como quando um decreto-lei
declarou a região como uma área de utilidade pública, para fins de desapropriação e
preservação paisagística. E em 1984, uma UC6 – Unidade de Conservação foi criada
por um decreto federal que tinha a extensão de 5.430 hectares, 23 km de praia e
seu objetivo era preservar as praias, mangues e restingas; as dunas; formações
geológicas de grande potencial paisagístico e científico; as espécies vegetais e
animais, principalmente quelônios marinhos; e as aves de rapina e praieiras. Além
disso, a APA de Jericoacoara foi a primeira reserva ecológica de praia, reconhecida
por Decreto Federal no Brasil.
A comunidade de pescadores passou a ser vista como um verdadeiro paraíso. Uma
revista de circulação nacional em 1984 publicou uma matéria onde os aspectos
naturais e a forma de vida de seus habitantes eram enaltecidos. Com isso, os
especuladores começaram a se interessar por Jericoacoara, invadindo a área e
comprometendo o equilíbrio ecológico, cultural, social e sanitário. A população foi
descartada da política de gerenciamento, mesmo sendo um dos principais agentes
interessados.
A UC não foi criada para se tornar um empecilho ao desenvolvimento da região, mas
sim como um instrumento de crescimento por meio do turismo. Entretanto,
questionamentos e conflitos foram inevitáveis:
5 APA – Área de Proteção Ambiental. De interesse do Turismo de Natureza (BRAGA, 2003, p.25).
6 UC – Unidades de conservação são porções delimitadas do território nacional, especialmente
protegidas por lei, pois contém elementos naturais de importância ecológica ou ambiental (MENDEL
JÚNIOR et. al. 2006, p.01)
33
Preservação ou turismo eis a questão. A maior atração de Jericoacoara está
na preservação ambiental. É por esse motivo que atrai turistas, gerando a
ambição de nativos e de pessoas de fora para explorar a florescente
comercialização de hospedagem, alimentos e produtos da terra, o que
paradoxalmente contribuirá para a descaracterização dos costumes e
modus vivendi da população, que ainda encanta visitantes, não obstante os
cientistas já haverem observado a degenerescência desse contatos social
díspar (O POVO apud FONTELES, 2003, p. 145).
(...)
Estão acabando com Jericoacoara. Jericoacoara é a primeira praia cujo
patrimônio ambiental foi preservado por leis municipal, estadual e federal.
Essa providencia paradoxal e ironicamente, vem contribuindo dentre outros
muitos aspectos para aumentar o fluxo turístico (...) Antes da criação da
APA não se falava nesse fluxo de turismo, nesse turismo dentro da área, na
região de Jericoacoara (...) Eu acho que a APA de Jericoacoara não foi
criada exatamente para preservar (...) e a idéia inicial não era uma Área de
Proteção Ambiental. Era um Parque Nacional (CARVALHO JÚNIOR apud
FONTELES, 2004, p. 146).
Estas informações divulgadas pela imprensa e também o depoimento do ex-
presidente do Conselho Comunitário, José Augusto de Carvalho Júnior, reforçam a
hipótese da APA como atração turística, o que se contrapõe aos objetivos das UCs:
Pertencendo ao município de Acaraú, Jericoacoara passaria a jurisdição de
Cruz que estava em processo de emancipação. Assim como esta área fazia
parte do projeto político-econômico dos administradores do município, a
criação da APA ou outro tipo de UC seria uma solução definitiva para o
problema. A população motivada pela possibilidade de melhorar o seu nível
de renda, comprou a idéia da preservação e abraçou a campanha, embora
alguns moradores desconfiassem e temessem o desfecho do movimento
(FONTELES, 2004, p.146)
Assim, diversos empreendimentos foram montados no município para atender a
demanda turística. Entretanto a exploração do turismo pelo poder público e pela
iniciativa privada era feita sem a devida preocupação com o meio ambiente e com a
cultura local.
Em 1987, equipes de televisão de vários países registraram imagens de
Jericoacoara, considerada como um santuário ecológico. Além disso, uma
reportagem exibida pela Rede Globo, remeteu milhares de pessoas àquela vila, sem
que a população estivesse preparada para recebê-los, não havia infra-estrutura.
Segundo Bezerra, (2003, p.148), era notável ao observar a população nativa que ao
menos parte dela sentia-se incomodada com a presença dos turistas. Além disso,
parte dos ecossistemas foram alterados e não havia respaldo político para minimizar
estes efeitos que ainda poderão se agravar.
34
3.1.1 Alteração do Cotidiano dos Moradores Nativos
O marketing em torno de Jericoacoara ocasionou um aumento de turistas nacionais
e internacionais, que eram incompatíveis com a capacidade do local. Isso trouxe
problemas para os ecossistemas e criou um turismo desordenado e começou a
comprometer a qualidade de vida dos autóctones.
Quando os problemas começaram a surgir por causa do crescimento acelerado do
turismo, os moradores começaram a se dar conta que a realidade começou a se
modificar e a comunidade não acompanhou esta evolução. Com isto os nativos
começaram a se preocupar com a situação que ajudaram a criar, as proibições
fizeram com que as pessoas se dessem conta de que não era aquele tipo de projeto
que queriam para a sua comunidade.
Com a inserção do turismo na comunidade de Jericoacoara, os moradores passaram
a vivenciar outras formas de vida e, adquirir outros conhecimentos, constituíndo-se
assim outras relações sociais, culturais, econômicas e políticas.
Esta mudança tem trazido outros problemas para a população local, como a
especulação imobiliária, o aumento do consumo de drogas e da prostituição, assim
como a descaracterização cultural e arquitetônica e a degradação ambiental.
Outro fato importante é o de que a comunidade não tem sido orientada de forma
adequada para enfrentar esta realidade e acaba se decepcionado ao perceber que
toda aquela mudança, não é aquilo que sonhou, como é o caso de um morador em
entrevista para o Jornal O Povo em 13 de novembro de 1987:
Vocês da cidade não querem que venha energia elétrica, que se construam
casas confortáveis, restaurantes e coisas assim em Jericoacoara porque
vêm aqui só para “brincar de primitivismo” no fim de semana, voltando para
os seus confortos logo depois (FONTELES, 2004, p. 152).
Desde então, segundo o presidente José Augusto de Carvalho Júnior do conselho
em 1989, a chegada do turista na cidade acarretou “uma ruptura brusca da cultura,
ou um inchaço da modernidade”. As casas viraram hospedarias, e em muitos casos
35
fora dos padrões arquitetônicos determinados pela Unidade de Conservação, a
população é obrigada a conviver com a poluição sonora proveniente de geradores
de energia, entre muitos outros problemas, que são resultado deste crescimento
desordenado (FONTELES, 2004, p. 152),
3.1.2 Alterações nas Formas de Trabalho
Quando se trata de geração de empregos e renda, o turismo é visto como uma
alternativa para a comunidade. Com a demanda dos empregos, os nativos se
sentiram economicamente fortalecidos.
Mulheres agora não são mais apenas donas de casa, trabalham nas pousadas,
como rendeiras ou até mesmo fabricando e vendendo doces na beira da praia, onde
há um maior fluxo de turista. As crianças também trabalham como vendedores
ambulantes ou como guias de turismo. Os empregos para os jovens também
aumentaram, mas as funções que exigem maior especialização são ocupadas por
pessoas de fora, como por exemplo, a gerência de hotéis e pousadas. Isto tudo se
deve à falta de profissionalização dos nativos e também pela sua baixa
escolaridade. Assim, os moradores acabam ficando de fora da maior fatia deste
negócio.
As relações de trabalho são informais, e o poder público era conivente com esta
prática, uma vez que não criou mecanismos de fiscalização. Este fato deixa os
trabalhadores desprovidos de seus direitos trabalhistas, inclusive quando são
demitidos. Este fato ocorre em quase todas as pousadas da região com raras
exceções.
3.1.3 A Questão Cultural
No aspecto cultural as mudanças foram demasiadamente bruscas. Muitas pessoas
entenderam que não poderiam perder a oportunidade de investir no turismo,
adaptando-se à nova realidade. Outras, por não entenderem exatamente do que se
36
tratava, fecharam as portas para o turismo, inclusive impedindo a entrada de turistas
nas suas propriedades. Porém, com tempo e devido às mudanças que foram
acontecendo, estas pessoas foram se inserindo na atividade turística como
proprietários ou como empregados.
O turismo abriu muitas janelas do ponto de vista cultural, social e político. Assim
como os nativos se confrontaram com outros hábitos e acabaram por adquiri-los,
também incorporaram novas referências aos costumes de seus visitantes.
Há dois aspetos importantes que Fonteles (2004, p. 160) cita com relação à mistura
da cultura:
A respeito dos garotos que esquiavam na duna. Antes o “skibunda” era
praticado com talo de coqueiro e servia apenas para o lazer local. Hoje feito
com outros materiais, serve também para atrair e entreter o turista. Outro
fato interessante é o de que a parteira fazia o seu trabalho na residência
das parturientes. Após conhecer uma médica, as duas aliaram o saber
letrado e o saber popular e hoje fazem os partos juntas no Centro de Saúde
da Comunidade.
Ou seja, na disputa pelo controle dos espaços – territorial e social –, os
jericoacoarenses conseguiram obter mais representatividade junto ao poder político
institucionalizado e junto às entidades associativas. Pois, os nativos têm acesso a
algumas novas práticas introduzidas na comunidade pelo turismo, como ao lazer e
até mesmo às novas experiências econômicas e políticas.
3.1.4 Especulação Imobiliária e Uso de Drogas em Jericoacoara
Depois de todas essas modificações existem ainda outros problemas que se
desencadearam com o crescimento acelerado e desordenado do turismo em
Jericoacoara, como por exemplo, a especulação imobiliária. Ocorreu que aos poucos
os nativos com menor poder aquisitivo, começaram a vender os seus terrenos e
alguns até parte das suas residências para com isso melhorarem sua renda
buscando oferecer uma melhor condição aos visitantes que se hospedam em suas
residências.
Além disso, muitos moradores ao vender parte de suas residências ou terrenos
buscando uma renda melhor acabam não conseguindo investir o suficiente no novo
37
empreendimento e precisaram ir embora da comunidade ou tendo que procurar as
regiões periféricas, o que ocorre em razão da especulação imobiliária, semelhante
por sinal, a outros casos que ocorrem em localidades que implantaram o turismo
sem um planejamento prévio e acabavam prejudicando a população que depende
muitas vezes dos imóveis que possuem.
Entretanto, há um problema ainda mais grave que ocorreu em conseqüência do
crescimento acelerado e desordenado no município de Jericoacoara, que foi o uso
de drogas que tomou uma dimensão assustadora. Este dado foi constatado por meio
de observações e entrevistas como moradores nativos e adventícios. E ainda existe
no município uma planta nativa denominada datura stramonium, conhecida por
todas como “zabumba”, uma espécie de papoula que tem efeito alucinógeno.
Segundo Fonteles, (2004, p. 172)
O uso da zabumba como droga foi admitida pelos nativos com a entrada do
turismo. Antes os moradores, temendo o alto teor de veneno existente na
planta, não a utilizavam como alucinógeno. Os turistas e adventícios
estimularam os nativos a tomarem o chá (...). Era comum o consumo da
bebida em rodas de jogos de “porrinha”.
Utilizada ou não antes do turismo, sabe-se que a zabumba faz parte do
cotidiano dos moradores de Jericoacoara com alucinógeno. Muitos nativos
já experimentaram o chá e dizem sentir-se como se estivessem “voando
como um passarinho”. Um deles, no seu “vôo”, entrou no mar e morreu
afogado.
Apesar do que foi descrito, o consumo da planta tem diminuído, pois, tanto
traficantes quanto usuários passaram a dar preferência à maconha, cocaína e ao
crack. Bezzerra explica que o problema das drogas tem ganhado as páginas de
jornais de circulação estadual e envolvendo autoridades, turistas, população
tradicional e adventícia.
3.1.5 Gerenciamento da Unidade de Conservação
A Unidade de Conservação de Jericoacoara é gerenciada pelo IBAMA7, a
SEMACE8, e a Prefeitura Municipal, que representam a sociedade política em
7
IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis.
8 SEMACE - Superintendência Estadual do Meio Ambiente.
38
âmbitos federal, estadual e municipal. Já a sociedade civil tem como representante o
Conselho Comunitário, que é formado por moradores nativos e outras entidades.
Estes órgãos juntamente com alguns representantes da comunidade começaram a
demonstrar preocupação com a autodestruição da comunidade por conta do turismo
predatório.
A paisagem de valor cênico, ecológico e cultural aos poucos tem se deteriorado. E
ainda os meios de subsistência da comunidade, apropriada por alguns
especuladores, vêm provocando a perda da identidade cultural e da base econômica
dos nativos.
No ano de 1987, foi encaminhado pela Procuradoria Geral da República uma Ação
Civil Pública à Justiça Federal, que solicitava o cumprimento do Decreto lei de
criação da APA. A ação civil solicitou a demolição de construções indevidas, a
restauração das que foram edificadas fora dos padrões arquitetônicos do local e a
suspensão imediata da pesca predatória.
A SEMACE no final de 1988 anunciou uma medida de impacto visando:
Proteger a vida silvestre, a manutenção de bancos genéticos e espécies
raras dos animais e vegetais, praias, dunas, bem como os demais recursos
naturais e possibilitar às comunidades locais suas atividades, dentro dos
padrões culturais estabelecidos historicamente.
Dentre as medidas anunciadas, destacam-se as seguintes: controle da área
pelo Conselho Comunitário e pela SEMACE; não será permitida a instalação
de indústrias potencialmente poluidoras; proibido o uso de qualquer veículo
automotor em toda a extensão da praia, sendo permitido apenas o tráfego
de cargas ou pessoas doentes; não será permitida a instalação de camping;
a compra e venda de imóveis só será permitida com o aval da prefeitura
municipal; proibida a retirada de areia ou qualquer outro material que
prejudique os ecossistemas. Para a implantação de qualquer projeto de
infra-estrutura turística na área, deverá ser feito um estudo e submetido à
apreciação da SEMA9, da Prefeitura Municipal e da SEMACE, exigindo-se o
RIMA10. Não será permitida a construção de edifícios, e todas as
residências ou estabelecimentos comerciais terão fossa séptica; a criação
de animais domésticos deverá ser distante da praia; não será permitida a
instalação de rede elétrica de alta tensão, sendo preferida a implantação do
sistema subterrâneo, devendo o projeto ser submetido à SEMACE (O
POVO, apud FONTELES, 2004, p. 176)
9 SEMA – Secretaria do Estado de Meio Ambiente.
10 RIMA – Relatório de Impacto Ambiental.
39
Exceto pela instalação da rede elétrica, a SEMACE não conseguiu cumprir aquilo
que prometeu, e o IBAMA e os especuladores têm o maior controle sobre a área. E
embora não existissem indústrias em Jericoacoara, contava-se mais de 40
geradores de energia que poluíam sonoramente a maior parte da vila, e foram aos
poucos desativados após a instalação da energia elétrica.
Veículos automotores transitam livremente por toda a área, (...); terrenos
são comercializados sem o aval da Prefeitura, (...); nas altas temporadas
verifica-se o problema a presença de campings em espaços onde estão
localizadas algumas pousadas; a retirada de material para construção
também não foi sustada definitivamente; o estudo submetido à SEMA (hoje
IBAMA), à SEMACE e à Prefeitura Municipal, com exigência do RIMA,
também não é observado com rigor; existem várias edificações fora dos
padrões arquitetônicos estabelecidos pelas Instruções Normativas, inclusive
com relação à altura; não existem fossas sépticas em todas as edificações
residenciais ou comerciais; por fim, animais andam soltos na vila e na praia
(FONTELES, 2004, p. 176).
É difícil para a população que convive com todas estas contradições, acreditar que
os órgãos responsáveis pela administração do Parque consigam fazer uma
administração voltada para a preservação do meio ambiente.
Fonteles (2004, p. 177), ressalta que
muitas vezes o poder público que, a princípio deverias desempenhar o
papel de protetor da natureza e defensor dos interesses da população,
respaldado por um regime jurídico específico, acaba agindo de maneira
contraditória nas suas ações cotidianas; e se os próprios governantes
desconsideram a legislação referente à UC, como os empresários turísticos
e parte da população _que não está preparada para conviver em uma área
protegida_ iriam contribuir para que a comunidade não fosse
descaracteriza?
Segundo o autor, observando ou conversando com a população não é difícil detectar
o nível de descontentamento com relação ao gerenciamento da área, explicitando o
conflito entre o poder público e a comunidade pelo controle do espaço social
(FONTELES, 2004, p. 178).
Fonteles explica que ao se encaminhar pelas ruas de Jericoacoara, não é difícil
encontrar lixo amontoado, animais soltos, Buggies andando em alta velocidade,
poluição sonora e uma série de problemas que precisam ser sanados em uma área
40
que era considerada um referencial do turismo ecológico e que é vendida enquanto
tal pelo marketing turístico (FONTELES, 2004, p. 178).
O autor questiona se este quadro já se refere à diminuição dos fluxos, mesmo nas
altas temporadas. E quanto a população nativa, o que terá que fazer para que o
turismo continue sendo uma alternativa de geração de emprego e renda, sem que
para isso sejam anuladas suas características, sua cultura e a sua identidade? Se
terá condições de interferir mais e melhor no gerenciamento do Parque, a fim de que
o turismo até certo ponto gestado por ela, não seja a causa da sua própria
destruição. Enfim, se é possível ainda desenvolver o turismo de forma que ele não
degrade os seus recursos naturais que são sensíveis e escassos, de uma forma
sustentável e preventiva.
3.2 A EVOLUÇÃO DE UM MODELO DE GESTÃO SUSTENTÁVEL PARA O
ECOTURISMO EM BONITO – MS
A autora Isa Ernani Mancini Cia no livro Planejamento e Gestão em Turismo, mostra
em um estudo de caso como foi o desenvolvimento do turismo no município de
Bonito, localizado no Estado do Mato Grosso do Sul, um município que está inserido
na entrada do Pantanal antes e depois da utilização do planejamento.
3.2.1 Os Recursos Naturais e a Reportagem
Bonito é reconhecido internacionalmente pelos seus recursos naturais, e também
pela utilização racional desses recursos. O município conseguiu implantar uma
administração adequada à exploração de recursos naturais. O sucesso deste projeto
é o resultado do trabalho conjunto de todos os segmentos representativos da
sociedade local.
O ecoturismo11 no município de Bonito começou a ser explorado aproximadamente
em 1988, quando poucas pessoas começaram a visitar a Ilha do Padre, a Gruta
11 Ecoturismo – Programas de atividade turística ligados ao meio ambiente, utilizando de forma
adequada e sustentável o patrimônio natural e cultural (BRAGA, 2003, p. 97)
41
Lago Azul e ao Balneário municipal. Nesta época não havia controle da visitação e
nem cobrança de ingressos para as atrações, o que facilitava a entrada de qualquer
pessoa e possibilitava a degradação ambiental e a desorganização do turismo,
proporcionando ainda o turismo de massa.
No ano de 1992, reportagens na televisão sobre Bonito repercutiram nacional e
internacionalmente. Isto provocou um crescimento desproporcional em relação à
capacidade de atendimento ao turista, fato semelhante ao acontecido com
Jericoacoara, narrado no estudo de caso anterior.
Devido ao descontrole e à desorganização, cada setor envolvido na atividade
turística, fazia o que achava adequado. Então os resultados negativos do uso
excessivo, irresponsável e da degradação começaram a aparecer. Devido a estes
problemas autoridades e comunidade necessitaram de uma tomada de decisão para
resolver o problema e foi então que foram dados os primeiros passos para a
organização do turismo em Bonito.
3.2.2 Os Primeiros Passos para a Organização
No ano de 1993, o primeiro passo para uma organização do modelo de gestão do
município foi dado, quando o primeiro curso de guias de turismo regional com
especialização em atrativos naturais foi realizado por iniciativa da Embratur12, do
SENAC13 , do SEBRAE-MS14, da UFMS15, Prefeitura Municipal de Bonito e Governo
Estadual de Mato Grosso do Sul.
Nos anos subseqüentes alguns passos foram dados em prol do desenvolvimento do
turismo, que serão apresentados na tabela 1:
Tabela 1: Passos importantes dados pelo município de Bonito – MS, depois da implantação do
planejamento turístico no município.
12 EMBRATUR – Instituto Brasileiro de Turismo. Órgão do Ministério dos Esportes e do Turismo
(BRAGA, 2003, p. 99).
13 SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial .(BRAGA, 2003, p. 99).
14 SEBRAE-MS – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – Mato Grosso do Sul.
15 UFMS – Universidade Federal do Mato Grosso do Sul.
42
Ano Atividade Desenvolvida
1993 Foram criados os primeiros hotéis turísticos
1994 Realização do Seminário Estratégico de Turismo com as lideranças do
SEBRAE-MS;
1994 A cidade associou-se ao PMNT (Programa Nacional de Municipalização
do Turismo) do governo federal;
1995 São criadas as leis municipais preocupadas com a atividade turística;
1995 Lei 964/95 – proíbe a utilização de barco a motor;
1995 Lei 965/95 – cria o COMTUR – Conselho Municipal de Turismo e o
FUTUR – Fundo de Turismo;
1995 Lei 689/95 – cria a obrigatoriedade de guias de turismo com formação
profissional específica local.
Fonte: FONTELES, 2004, p. 179
A principal destas decisões foi a criação do COMTUR, que é o órgão responsável
por organizar e esquematizar e regulamentar a gestão que iria ser implantada no
município, normalizando e verificando o cumprimento das regras. Ele tem a função
de fiscalizar o turismo em todos os seus âmbitos.
Os recursos utilizados pelo COMTUR são provenientes do FUTUR, e são obtidos
com a receita gerada pela visitação da Gruta Lago Azul, que é uma das poucas
atrações que pertence ao poder público municipal, mas é certamente um dos
atrativos mais procurados do município. No ano de 2000 o fundo arrecadou cerca de
R$ 33.683,79 e esse dinheiro foi destinado conforme a figura.
Figura 1: Aplicações do COMTUR em 2000.
2%
55%
5%
15%
5%
18%
Administrativas
Divulgação
Equipamentos
Gruta
Formação
Profissional
Patrocínio
43
Fonte: BEZZERRA, 2003, p. 70
3.2.3 As Novas Regras
Para que um turista visite Bonito atualmente, ele deve obrigatoriamente se dirigir a
uma agência receptiva e adquirir o voucher16 de entrada para qualquer atrativo da
região. E através de um sistema on line, a secretaria de turismo pode saber se o
acesso aos atrativos está disponível ou não. Para todos os atrativos existem horários
e também capacidade limite de visitantes. Limites esses que foram estipulados de
acordo com estudos realizados por especialistas na área. Além disso, o turista é
cadastrado em um programa estatístico que indica o perfil da demanda, a
arrecadação, o número de visitantes, e outras informações pertinentes para melhoria
dos serviços, assim como a preservação do local.
Na agência o valor é pago e repassado para a prefeitura ou aos proprietários, já que
a maioria das atrações se encontra em propriedades privadas. Além disso, qualquer
passeio exige a presença de um guia local, inclusive para a mão-de-obra
especializada que ajuda na preservação ambiental fiscalizando as atividades dos
turistas e, ao mesmo tempo garantindo a segurança.
O produto turístico em Bonito tem um preço mais alto se comparado a outros
pacotes, por exemplo, o passeio na Gruta Lago Azul custa em torno de R$ 25,00 por
pessoa. Isto significa maior conforto para o turista e também para a população local,
já que esta medida controla a massificação do turismo. A razão do produto turístico
em Bonito ser tão cara, se deve ao fato do município possuir uma estrutura
organizada e com atendimento diferenciado, com a infra-estrutura necessária.
Apesar disto, este modelo de exploração vem sendo criticado, mas correto ou não
vem dando certo e sendo muito útil e eficaz. Enfim, este modelo de gestão tem
proporcionado resultados satisfatórios como, por exemplo, o aumento gradativo de
turistas (fig. 2). O que vai contra as teses de que este modelo prejudica o
crescimento do turismo.
16 VOUCHER – Comprovante correspondente a um valor prefixado para determinado serviço turístico
(hospedagem, excursão, etc.), que a agência de viagem emite ao turista como meio de pagamento
destes serviços em outra cidade.
44
Figura 2. Crescimento das visitas em atrativos turísticos.
R$ 8.000,00
R$ 50.000,00
R$
143.855,00
R$
186.092,00
Série1 1993 1995 1997 1999
Série2 R$ R$ R$ R$
1 2 3 4
Fonte: BEZZERRA, 2003, p. 70
3.2.4 O Início do Circuito Turístico de Sucesso
Outro ponto positivo foi o fato de que alguns municípios vizinhos também entraram
no circuito do ecoturismo, o que multiplicou a oferta turística na região, aumentando
assim a permanência do turista na região e consequentemente à geração de
recursos feita por ele.
Houve também o aumento considerável da arrecadação do Imposto Sobre Serviço -
ISS, entre os anos de 1995 e 2000 (fig. 3), o que beneficia tanto a população, quanto
os turistas, já que este recurso é utilizado para a melhoria da cidade, como por
exemplo: ampliação da rede de saúde, o saneamento de água e esgoto para 95%
da população, construção de uma central de reciclagem de lixo e compostagem de
lixo orgânico, a limpeza municipal, sinalização dos atrativos, a conservação das
estradas que levam aos atrativos e muitos ou outros benefícios.
Figura 3. Arrecadação do ISS do Município em R$.
45
R$ 3.457.039,00
R$ 11.434.858,00
R$ 19.439.711,00
R$ 22.160.209,00
R$ 27.698.181,00
R$ 35.769.302,00
Série1 1995 1996 1997 1998 1999 2000
Série2 R$ R$ R$ R$ R$ R$
1 2 3 4 5 6
Fonte: BEZZERRA, 2003, p. 70
Entretanto, há também pontos negativos que o turismo traz consigo. Há a falta de
fiscalização de alguns setores devido à inexistência de uma regulamentação
específica na cidade. Por exemplo, por causa da demanda, os leitos de hotéis e as
agências de turismo têm aumentado desordenada e desproporcionalmente. E que é
um ponto negativo que pode ameaçar os atrativos do local, salientando que são
frágeis e podem desaparecer quando providencias não são tomadas.
Na figura 4 é possível verificar qual é o caminho que o dinheiro percorre em Bonito e
como ele é distribuído entre os responsáveis pelo turismo no município, para que
seja feita a destinação adequada.
Figura 4. Distribuição de recursos entre os responsáveis pelo turismo em Bonito.
46
Fonte: BEZZERRA, 2003, p. 70
Assim, existem várias questões que ainda devem ser discutidas e regulamentadas,
para que o município continue sendo um modelo. E isto inclui itens como o Plano
Diretor, o Código Municipal, um plano emergencial para a contenção do crescimento
sem planejamento, entre outras.
Outro ponto a ser revisado trata da questão do preço dos atrativos versus a
qualidade do serviço, estímulo a mais empreendimentos familiares, e entre muitos
outros a limitada capacidade empresarial e qualificação de mão-de-obra de alguns
cargos.
E será assim que o processo gestor irá se consolidar e que muitas idéias criadas
serão adaptadas à realidade, proporcionando ao homem a capacidade do homem
usufruir da natureza usando a sua inteligência para a preservação dos bens naturais
e da sociedade a sua volta.
4 ANÁLISE DOS ESTUDOS DE CASO, DISCUSSÕES E PROPOSTAS
No quarto capítulo serão elaboradas as análises dos estudos de caso apresentados
anteriormente, assim como o desenvolvimento do turismo nos municípios de
Jericoacoara – CE e Bonito – MS.
47
Esta análise será feita através da verificação dos pontos fortes, pontos fracos, das
ameaças e das oportunidades para o desenvolvimento turístico dos municípios. O
objetivo de qualquer tipo de planejamento é potencializar ainda mais os pontos
fortes de determinado objeto de estudo; corrigir e minimizar os pontos fracos
identificados; aproveitar as oportunidades de mercado; e melhor ser preparar em
relação às ameaças macroambientais. Desta forma, pretende-se além de
simplesmente listar os pontos pertinentes ao diagnóstico, realizar uma análise
comparativa dos dois estudos de caso, onde serão verificados, por exemplo, pontos
positivos de um estudo de caso e que poderiam ser uma oportunidade para o outro.
Ainda neste capítulo serão apresentadas propostas e discussões, assim como
possíveis soluções para os problemas detectados nos estudos de caso.
E por fim será proposto aqui um modelo que planejamento, que poderá ser útil tanto
para os municípios em estudo, quanto para outras localidades que pretendem
usufruir dos inúmeros benefícios da atividade turística.
4.1 ANÁLISE DO MODELO DE DESENVOLVIMENTO DO TURISMO EM
JERICOACOARA – CE
Neste momento será analisado o modelo de desenvolvimento turístico do município
de Jericoacoara – CE, onde o turismo se intensificou desordenadamente depois de
uma reportagem na televisão e o seu crescimento foi muito acelerado, causando
diversos problemas entre os turistas e a comunidade local, o que vem prejudicando
e que pode prejudicar ainda mais o futuro do turismo no município, como já foi
evidenciado no capítulo anterior.
Para melhor fundamentar essa análise, optou-se por dividi-la em quatro partes,
enfatizando separadamente os pontos fortes, pontos fracos, ameaças e
oportunidades do modelo de desenvolvimento turístico adotado pelo município de
Jericoacoara, conforme segue detalhadamente.
48
4.1.1 Pontos Fortes
Certamente o maior ponto forte de Jericoacoara17 são as beleza naturais (imagem
no anexo 1) e estruturas que o município possui. Dentre esses pontos pode-se citar
o farol que funciona à base de energia solar, e que talvez seja o melhor lugar para
se ver o nascer do sol em Jericoacoara, um verdadeiro espetáculo da natureza. A
Praia Malhada é um forte atrativo para pessoas que gostam de naturalismo, onde é
comum a prática do topless e até mesmo de nudismo.
Na praia de Jericoacoara encontram-se as mais diversas atrações. Entre elas estão
dunas de até 30 m de altura, recifes, o farol, a Pedra Furada entre outros. É dessa
praia que saem os passeios de bugue para outras atrações um pouco mais
distantes.
A Praia da Tajuba que tem uma vila de pescadores reconstruída, pois a original foi
engolida pelas dunas. E é uma boa opção para aqueles que querem conhecer a
cultura local. Já a Praia do Preá é reta, com areia fofa e águas azuis, e muito
procurada pelos surfistas.
Enquanto o Farol é o ponto ideal para se ver o nascer do sol, a Duna do pôr-do-sol,
como já diz o próprio nome, é o lugar perfeito para assistir ao crepúsculo.
A Lagoa da Jijoca, também conhecida por Lagoa Azul ou do Paraíso, é muito
procurada para prática de Windsurf18 e vela e fica a apenas 5 km de Jericoacoara.
Ainda pode-se citar o Mangue Seco, que tem como principal atrativo as dunas. Para
chegar até lá se pode ir a pé, a cavalo ou de bugue.
A noite em Jericoacoara é regada de muito forró e ritmos regionais. É possível
encontrar bares para conversar e beber.
17 UOL Destino Aventura – Jericoacoara. Disponível em:
http://webventureuol.uol.com.br/destinoaventura/index.php?destino=destino_mostra&mdireito=nao&id
_destinos=31&pid= Acessado em: 11/10/2006
18
Windsurf: Manobra em que o velejador salta bem alto, sem soltar os pés das alças, gira a prancha
180º e vira a vela no ar, caindo com a prancha virada para o outro lado e com a vela pronta para sair
planando. Fonte: Terra 360º . Disponível em:
http://360graus.terra.com.br/windsurf/default.asp?did=2093&action=dica. Acesso em: 16/10/2006
49
Nada disso seria possível se Jericoacoara não tivesse um clima de acordo e em
Jericoacoara o sol brilha o ano inteiro, entretanto entre março e maio chove mais,
enchendo as lagoas. Quem quer praticar o windsurf, deve ir entre julho e novembro,
quando os ventos estão mais fortes. A temperatura pode chegar até 34ºC.
A vegetação dessa área conta com a presença de coqueirais, manguezais e
caatinga. Jericoacoara tem seu relevo caracterizado por planície litorânea e as
imensas dunas que estão sempre se movendo pela região. Possui formações
rochosas de formas curiosas como a Pedra Furada que é um dos atrativos mais
famosos da cidade.
A cultura também é muito forte, Jericoacoara conta com uma população de apenas 2
mil habitantes. Até 1985 era uma vila de pescadores ainda menor. Descoberta há
pouco tempo pelo turismo foi criada em 1984 a APA (Área de Proteção Ambiental), a
fim de preservar o patrimônio natural. Hoje, a principal atividade econômica é o
turismo, mas sempre realizado de maneira a preservar a região.
Outro ponto forte muito interessante identificado em Jericoacoara foi o envolvimento
e o empenho da comunidade em transformar o município em Área de Proteção
Ambiental - APA com o objetivo de preservar as belezas naturais do município. Além
disso, a APA de Jericoacoara foi a primeira reserva ecológica de praia reconhecida
por Decreto Federal no Brasil.
Com a chegada do turismo os moradores começaram a vivenciar e conhecer outras
culturas, o que proporcionou a eles novos conhecimentos e construiu-se outras
relações sociais, culturais, econômicas e políticas, o que é excelente para a
população, desde que para isso não tenham que mudar a sua forma de viver e não
acarrete outros tipos de problemas para a comunidade. E assim como os autóctones
se confrontam com outras culturas, também incorporam a sua aos seus visitantes.
É importante ressaltar como um ponto forte o fato de que os cidadãos de
Jericoacoara conquistaram uma representatividade significativa junto ao poder
público e as entidades associativas, e com isso, têm acesso às novas práticas
50
introduzidas pelo turismo na comunidade como o lazer e novas experiências
econômicas e políticas.
O fato de a população ter o Conselho Comunitário como representante no
gerenciamento da Unidade de Conservação, demonstra uma preocupação com o
problema da autodestruição da comunidade por causa do turismo predatório. E
ainda a instalação da energia elétrica que proporcionou a retirada de mais de 40
geradores de energia que poluíam sonoramente a maior parte da vila. Além disso,
no ano de 1987 foi determinado que se cumprisse um decreto lei que solicitou a
demolição de construções indevidas, a restauração das que foram edificadas fora
dos padrões arquitetônicos do local e ainda a suspensão imediata da pesca
predatória.
4.1.2 Pontos Fracos
Apesar dos tantos pontos fortes apresentados em relação ao modelo de
desenvolvimento turístico de Jericoacoara, o turismo se tornou um problema para a
comunidade local, e uma sucessão de pontos fracos que podem se tornar ameaças
para a comunidade foram detectados com relação ao desenvolvimento do turismo no
município e serão apresentados a seguir.
Segundo o estudo de caso apresentado no capítulo anterior era notável ao observar
a comunidade local que ao menos parte dela se sentia incomodada com a presença
de turistas. E isto pode acarretar problemas sérios como a falta de hospitalidade
para com os turistas, além da especulação imobiliária que será explicada mais
adiante, o aumento do consumo de drogas, e ainda causar atritos entre o turista e os
nativos e muitos outros problemas.
A incompatibilidade do número de turistas com a capacidade de carga do município
também causa problemas graves como a criação de um turismo desordenado e que
além de degradar muito mais os recursos naturais, ainda pode comprometer a
qualidade de vida dos autóctones.
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Planejamento turístico e estudos de caso: Jericoacoara e Bonito

  • 1. 0 GRADUAÇÃO EM TURISMO NORMAS PARA TRABALHOS ACADÊMICOS, MONOGRAFIAS E ARTIGO DE ESTÁGIO CAMPO MOURÃO MAIO DE 2006.
  • 2. 1 INTEGRADO COLÉGIO E FACULDADE ANA PAULA WALTER A UTILIZAÇÃO DO PLANEJAMENTO COMO INSTRUMENTO DE DESENVOLVIMENTO TURISTICO – ESTUDOS DE CASO: JERICOACOARA –CE E BONITO –MS CAMPO MOURÃO 2006
  • 3. 2 INTEGRADO COLÉGIO E FACULDADE ANA PAULA WALTER A UTILIZAÇÃO DO PLANEJAMENTO COMO INSTRUMENTO DE DESENVOLVIMENTO TURISTICO – ESTUDOS DE CASO: JERICOACOARA –CE E BONITO –MS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a Faculdade Integrado de Campo Mourão como requisito parcial para obtenção de Título de Bacharel em Turismo Rural, Sob Orientação da Professora Ana Cláudia Periçaro. CAMPO MOURÃO 2006
  • 4. 3 APRESENTAÇÃO A elaboração desse guia visa a qualificação das monografias e trabalhos desenvolvidos no curso de turismo. Pretende-se facilitar o entendimento dos acadêmicos em relação às normas de elaboração de trabalhos, bem como padronizar a apresentação estética desses trabalhos. A normatização adotada neste guia tem como base as Normas de Documentação da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, bem como o guia de Elaboração de Projetos de Pesquisa e Monografias elaborado pelo Cesumar – Centro Universitário de Maringá. Como dica aos acadêmicos, fica apresentar as referências utilizadas para a elaboração deste guia no momento de citar as referências utilizadas para a produção e formatação de seu trabalho ou monografia. Professora Ana Cláudia Periçaro
  • 5. 4 SUMÁRIO NORMAS GRÁFICAS PARA APRESENTAÇÃO DE MONOGRAFIA E ARTIGO DE ESTÁGIO ................................................................................................. 04 NUMERAÇÃO DAS PÁGINAS ..................................................................................... 04 CAPÍTULOS E PARÁGRAFOS .................................................................................... 0 NUMERAÇÃO PROGRESSIVA DAS SEÇÕES DO TEXTO.................................... 05 ESTRUTURA FÍSITCA DE MONOGRAFIA (NBR 14724:2002) ............................. 06 1 ELEMENTOS PRÉ-TEXTUAIS ................................................................ 07 1.1 CAPA ............................................................................................................. 07 1.2 FOLHA DE ROSTO ...................................................................................... 07 1.3 ERRATA ........................................................................................................ 07 1.4 FOLHA DE APROVAÇÃO .......................................................................... 08 1.5 DEDICATÓRIA ............................................................................................ 08 1.6 AGRADECIMENTOS ................................................................................... 09 1.7 EPÍGRAFE ..................................................................................................... 09 1.8 RESUMO EM LÍNGUA VERNÁCULA ...................................................... 10 1.9 RESUMO EM LÍNGUA ESTRANGEIRA 10 1.10 LISTA DE ILUSTRAÇÕES .......................................................................... 10 1.11 LITA DE TABELAS ..................................................................................... 10 1.12 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS .................................................... 11 1.13 LISTA DE SÍMBOLOS ................................................................................. 11 1.14 SUMÁRIO ..................................................................................................... 11 2 ELEMENTOS PÓS TEXTUAIS ................................................................ 12 2.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 12 2.2 DESENVOLVIMENTO ................................................................................ 12 2.3 CONCLUSÃO ............................................................................................... 12 3 ELEMENTOS PÓS TEXTUAIS ................................................................ 13 3.1 REFERÊNCIAS ............................................................................................. 13 3.1.1 Definições ...................................................................................................... 13 3.1.2 Modelos de Referências ............................................................................... 14 3.1.2.1 Obra escrita por um autor .............................................................................. 14 3.1.2.1.1 Obras do mesmo autor ................................................................................... 15 3.1.2.2 Obra escrita por dois ou três autores .............................................................. 15 3.1.2.3 Obra escrita por mais de três autores ............................................................. 15 3.1.2.4 Casos particulares .......................................................................................... 15 3.1.2.5 Obras anônimas .............................................................................................. 16 3.1.2.6 Periódicos (revistas e jornais) em partes ou no todo ...................................... 16 3.1.2.7 Trabalhos Acadêmicos (monografias, dissertações, etc.) .............................. 16 3.1.2.8 Enciclopédias e dicionários ............................................................................ 17 3.1.2.9 Trabalhos apresentados em congressos, conferências e outros ...................... 17 3.1.2.10 Referências Legislativas ................................................................................ 17 3.1.2.11 Documentos Eletrônicos ................................................................................ 18 3.2 GLOSSÁRIO ................................................................................................. 18 3.3 APÊNDICES .................................................................................................. 18
  • 6. 5 3.4 ANEXOS ....................................................................................................... 19 4 CITAÇÕES ................................................................................................... 20 4.1 SISTEMA DE CHAMADA ........................................................................... 20 4.1.1 Sugestões de chamada .................................................................................... 21 REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 23 1 INTRODUÇÃO Este estudo tem como foco principal a utilização do planejamento turístico como instrumento de crescimento econômico municipal, e é embasado nos estudos de caso dos municípios de Jericoacoara-CE e Bonito-MS. Esta pesquisa visa analisar a importância da utilização do planejamento e do planejador para o desenvolvimento do turismo, evidenciando de que forma a falta de planejamento pode afetar uma localidade receptora. Para melhor fundamentação e exemplificação da importância do planejamento turístico com base em dados obtidos por meio de pesquisa bibliográfica, apresentam-se os estudos de casos do município Bonito e Jericoacoara, onde o turismo se iniciou sem planejamento. Em decorrência do turismo desordenado, os municípios sofreram com problemas como o turismo de massa, especulação imobiliária, degradação ambiental, poluição,
  • 7. 6 falta de fiscalização, crescimento acelerado do turismo e falta de estrutura, entre muitos outros problemas. Pretende-se também, por meio dos estudos de caso, identificar quais são os principais problemas detectados a partir do choque de culturas que a massificação do turismo pode causar aos núcleos receptores. O objetivo principal deste estudo é identificar através de bibliografias e dos estudos de caso, as conseqüências da falta de planejamento do turismo. Serão propostas estratégias para um planejamento adequado, não apenas nos dois municípios apresentados, mas procedimentos básicos para qualquer localidade que pretenda implantar o turismo. Pretende-se ainda ressaltar a proporção dos impactos causados pela falta da utilização de uma equipe especializada, que verifique todos os meios e os possíveis erros antes de se implantar o turismo, evidenciando a importância do profissional de turismo no processo de planejamento de novos produtos turísticos. A referência à utilização do capital humano em turismo é muito importante, já que o planejador turístico atua desde o momento de identificação do potencial turístico de uma região, até a determinação da capacidade de carga que ela possui para que o turismo se desenvolva sem saturá-la. A discussão se iniciará com uma síntese a respeito das origens do turismo mundial com colocações a respeito do início da atividade no Brasil. Na seqüência serão apresentados alguns benefícios que o turismo pode trazer tanto para a localidade onde se desenvolve, quanto para a região que a cerca. Em seguida algumas conceituações de turismo de diversos autores serão apresentadas e discutidas. Na seqüência abordam-se os conceitos de planejamento, enfatizando a importância do planejamento turístico para o desenvolvimento local, regional, estadual, enfim, em todas as situações onde exista o desejo da implantação do turismo.
  • 8. 7 O terceiro capítulo apresentará os municípios de Jericoacoara – CE e Bonito – MS, visando demonstrar os modelos de desenvolvimento turístico implantado nas duas localidades, e as principais alterações no modo de vida das populações locais e meio ambiente natural que a prática do turismo desencadeou. Será realizada uma análise dos estudos de caso com discussões a respeito dos pontos fortes, pontos fracos, ameaças e oportunidades detectados no processo de implantação do turismo nos municípios em estudo. Essa análise subsidiará a elaboração de propostas, para a solução ou melhoria da atividade nos dois locais. Em seguida será feita uma análise comparativa dos dois estudos de caso, onde serão verificados através do diagnóstico realizado anteriormente, os pontos positivos ou negativos em comum entre Jericoacoara e Bonito, assim como pontos fortes de um município que poderiam se tornar uma oportunidade no outro. Finalmente, serão feitas discussões sobre todos os temas e estudos abordados, visando elaborar um roteiro básico para que o turismo se desenvolva de forma organizada e responsável. Este roteiro ou dicas constituem procedimentos básicos que são essenciais para qualquer tipo de turismo que se deseje implantar, em especial para o turismo municipal, seguido pelas propostas, para que isto aconteça da maneira ordenada e sustentável.
  • 9. 8 2 TURISMO E PLANEJAMENTO TURÍSTICO Neste capítulo serão abordados dados importantes para a compreensão do fenômeno turismo, como conceituações, origens e a evolução do turismo no Brasil e no Mundo. Aborda-se também, o tema planejamento turístico, elemento essencial para o desenvolvimento sustentável da atividade, e que constitui um dos principais focos de estudo desta pesquisa. O objetivo deste estudo é apresentar os impactos que podem ser causados pela não utilização de um criterioso processo de planejamento turístico de um município ou de uma propriedade, bem como enfatizar a importância do profissional de turismo inserido em todas as fases de formatação do produto turístico, desde a identificação do potencial, passando por todo o processo de planejamento, até à comercialização e acompanhamento do ciclo de vida do produto. Também serão abordadas as vantagens do turismo, as possibilidades de crescimento econômico, social e cultural para uma comunidade que decide utilizar este segmento como fonte de renda e desenvolvimento, seguidas das propostas para o bom desenvolvimento das idéias apresentadas. O intuito aqui é mostrar que o turismo pode ser um grande aliado para o desenvolvimento social e econômico de
  • 10. 9 uma população, desde que esta o utilize de forma responsável e correta, buscando sim o crescimento econômico, mas sempre cuidando para que os impactos negativos não destruam sua atratividade. 2.1 ORIGENS E O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO MUNDIAL O homem viaja desde os tempos antigos, quando antepassados primitivos percorriam freqüentemente longas distâncias em busca da caça que lhes proporcionava o alimento e o agasalho que eram necessários à sua sobrevivência. Segundo Theobald (2002, p. 27), durante todo o curso da história as pessoas têm viajado por diversos motivos, sejam por transações comerciais, ou ainda econômicas, motivações religiosas, guerras, migrações, e por muitas outras razões de igual importância. O autor ainda exemplifica que, nos tempos de Roma ricos e funcionários do alto escalão do governo já viajavam por prazer. Nos balneários da Pompéia e Herculano era proporcionada aos cidadãos a oportunidade de se refugiarem em vilas de veraneio para se protegerem do verão romano. E com isso as viagens foram se intensificando ao longo dos séculos, e em toda a história foram muito importantes para a evolução das civilizações. O turismo conhecido nos dias atuais é um fenômeno do século XX. Historiadores sugerem que o turismo de massa teve início na Inglaterra durante a Revolução Industrial, devido à ascensão da classe média e também dos meios de transporte relativamente baratos (THEOBALD, 2002, p.27). O autor explica ainda que este crescimento se deve à criação de linhas aéreas comercias implantadas após a Segunda Guerra Mundial e a evolução dos aviões a jato na década de 1950, que fortaleceram o crescimento intenso e o aumento das viagens internacionais. Tudo isto veio proporcionar o desenvolvimento de um novo e importante fenômeno econômico e social - o turismo. Segundo Fourastié (apud RUSCHMANN, 2004, pg. 13), a palavra turismo surgiu no século XIX, e a atividade estende suas raízes pela história. Certas formas de turismo existem desde as mais antigas civilizações, mas foi a partir do século XX, e mais
  • 11. 10 precisamente após a Segunda Guerra mundial, que a atividade evoluiu, como conseqüência dos aspectos relacionados à produtividade empresarial, ao poder de compra das pessoas e ao bem estar resultante da restauração da paz no mundo. Nota-se que há certa contradição entre os autores Theobald e Fourastié, quando se diz respeito ao surgimento do turismo, já que Fourastié afirma que a palavra turismo surgiu no século XIX e Theobald, que o Turismo surgiu no século XX. Porém, os dois autores concordam que a atividade turística teve um notável crescimento após a Segunda Guerra Mundial. No entanto, é importante ressaltar, que Theobald fala em seu texto do turismo de massa enquanto Fourastié trata do turismo de uma forma geral, entretanto, a obra pesquisada não deixa clara a posição da autora em relação à contradição. Para Rabahy (2003, p.01) a evolução dos acontecimentos econômicos e sociais do mundo moderno transformou o turismo em uma atividade muito promissora e com grandes possibilidades de expansão. E isto provoca alterações no cotidiano das comunidades e principalmente na sua economia, provocando mudanças radicais de todos os tipos. O autor afirma ainda que o desempenho do setor turístico está intimamente relacionado ao comportamento da renda e sua distribuição, bem como da disponibilidade de tempo livre e outras facilidades propiciadas pelo progresso tecnológico, até mesmo dos meios de transporte, encurtando as distâncias, o que implica, em última análise, uma maior liberação do tempo para lazer. Este desenvolvimento tecnológico propiciou às pessoas um maior tempo livre, assim como uma maior disponibilidade financeira, fazendo com elas que pudessem se dedicar mais ao lazer, aumentando assim a prática do turismo e conseqüentemente, fazendo girar a economia de municípios receptores. Neste contexto ainda, o autor ressalta que: o turismo está entre os cinco maiores geradores de receita de divisas na economia mundial, liderado apenas pelas exportações de armamentos e pelo petróleo. Mesmo depois das recentes crises econômicas mundiais o turismo vem registrando taxas de crescimento de receita que giram em torno de 8% ao ano, isto nos anos de 1980 a 2000, e isto lhe assegura a sua manutenção e participação total das exportações. (RABAHY p. 02, 2003).
  • 12. 11 Analisando todo este contexto, percebe-se que o turismo é uma prática existente desde os tempos mais antigos, e que foi evoluindo no decorrer dos séculos. Fica claro que a sua ascensão se iniciou após a Segunda Guerra Mundial, mas que continua a evoluir até os tempos atuais. Percebe-se então, que é um fator econômico de extrema importância tanto para o Brasil, quanto para o mundo, sendo este um dos setores que mais geram renda na atualidade. Além proporcionar a possibilidade de trabalho familiar, onde desde que haja incentivo é possível envolver toda uma família ou até mesmo uma comunidade no circuito do turismo em uma localidade. 2.2CONCEITUAÇÕES DE TURISMO Não existe uma definição única de turismo, mas sim diversas conceituações, capazes de deixar muito explícitos, quais são os interesses do turismo e também qual é a sua área de abrangência. Barretto (1999, p.9), em seu livro Manual de Iniciação ao Estudo do Turismo, propõe diversos conceitos de turismo como, por exemplo, a de Schattenhofen que descreveu o turismo como uma atividade que compreende todos os processos, especialmente os econômicos, que se manifestam na chegada, na permanência e na saída do turista de um determinado município, estado ou país, definição esta que data de 1911. Para Robert Glücksmann, turismo é um vencimento do espaço por pessoas que vão para um local no qual não tem residência fixa. Esta definição foi mais tarde revisada tomando o seguinte formato: Quem interpreta o turismo como um problema de transporte, confunde este com o tráfego de turistas. O turismo começa onde o tráfego termina no ponto de turismo, no lugar de hospedagem. O tráfego de viajantes conduz o turismo, porém não é turismo propriamente, nem sequer em parte. Turismo é a soma das relações existentes entre pessoas que se encontram temporariamente num lugar e os naturais deste local. (BARRETTO, 1999, p. 09). Neste ponto, porém, deve-se ressaltar que o autor não considera dentro da prática do turismo o acesso, o transporte e a recepção. Seguramente pode-se dizer que fazem sim parte do processo turístico, já que este engloba uma cadeia de serviços, pois é impossível fazer turismo sem o processo de deslocamento, por exemplo.
  • 13. 12 Inicialmente a OMT - Organização Mundial de Turismo (apud BARRETTO, 1999, p.12), conceituava a atividade como “a soma de relações e serviços resultantes de um câmbio temporário e voluntário motivado por razões alheias a negócios ou profissionais”. Porém, devido à existência de outros tipos de turismo como turismo de negócios, turismo de eventos e saúde entre outros, a conceituação de turismo da OMT levou o conceito para além da imagem do sair de férias, e a aceita oficialmente apresenta o turismo como “as atividades de deslocamento e permanência em locais fora do seu ambiente de residência, por período inferior a um ano consecutivo, por razões de lazer, negócios ou outros propósitos” (BARRETTO, p. 12, 1999). Neste ponto, porém, deve-se ressaltar que o autor não considera dentro da prática do turismo o acesso, o transporte e a recepção. Seguramente pode-se dizer que fazem sim parte do processo turístico, já que este engloba uma cadeia de serviços, pois é impossível fazer turismo sem o processo de deslocamento, por exemplo. Inicialmente a OMT - Organização Mundial de Turismo (apud BARRETTO, 1999, p.12), conceituava a atividade como “a soma de relações e serviços resultantes de um câmbio temporário e voluntário motivado por razões alheias a negócios ou profissionais”. Porém, devido à existência de outros tipos de turismo como turismo de negócios, turismo de eventos e saúde entre outros, a conceituação de turismo da OMT levou o conceito para além da imagem do sair de férias, e a aceita oficialmente apresenta o turismo como “as atividades de deslocamento e permanência em locais fora do seu ambiente de residência, por período inferior a um ano consecutivo, por razões de lazer, negócios ou outros propósitos” (BARRETTO, p. 12, 1999). Existem diversas conceituações de turismo, e Barretto em seu livro Manual de Iniciação ao Estudo do Turismo (1999, p. 10) cita outras conceituações muito interessantes, como a de Josef Strander que trata de turismo como: o tráfego de viajantes de luxo (aqueles que possuem condução própria) que se detêm num local fora do seu local fixo de residência e com sua presença naquele país não perseguem nenhum propósito econômico, mas buscam a satisfação (STRANDER apud BARRETTO, 1999, p. 10).
  • 14. 13 Apesar de ser uma citação muito interessante deve ser repensada, já que o autor deixa claro que apenas pessoas que possuem condução própria poderiam ser chamadas de viajantes de luxo. Entretanto, nem sempre isto pode ser aceito como verdadeiro, pois muitas pessoas viajavam independente de possuírem ou não condução, esta prática não necessita e nem depende apenas disto e menos ainda de automóveis. Além do mais, existem muitas outras formas de locomoção, principalmente quando se trata dos tempos atuais. Porém, Barretto pode estar utilizando este exemplo de Strander para tratar de pessoas com poder aquisitivo maior que o de muitas outras, mas neste caso, deve- se também levar em consideração que nem todos os turistas que possuem condução própria, necessariamente, tenham um poder aquisitivo maior. Além disso, várias conceituações, inclusive a da OMT já citada, discutem o fato de o turismo não incluir em seu conceito viagens de negócios e trabalho. Analisando as considerações apresentadas, nota-se que alguns itens como o tempo de permanência nos locais visitados, e o fato de que o turismo é uma atividade não lucrativa, são características muito comuns em conceituações de turismo: Os elementos mais importantes de todas estas definições são o tempo de permanência, o caráter não lucrativo da visita e, uma coisa que é pouco explorada pelos autores, analisados , a procura do prazer por parte dos turistas. O turismo é uma atividade em que a pessoa procura prazer por livre e espontânea vontade. Portanto, a categoria de Livre Escolha deve ser incluída como fundamental no estudo do turismo (BARRETTO, p.13, 1999). Deve-se lembrar também que há o turismo de eventos1, turismo técnico - cientifico2 , turismo de negócios3 e também o turismo de saúde4 que nem sempre são feitos por 1 Turismo de Eventos – é o conjunto de atividades exercidas pelas pessoas que viajam a fim de participar de congressos, convenções, assembléias, simpósios, seminários, reuniões, ciclos, sínodos, concílios e demais encontros (...) para atingi-lo, de objetivos profissional-cultural, técnico-profissional, de aperfeiçoamento setorial ou de atualização (ANDRADE, 1995) 2 Turismo Técnico Científico ou de Convenções – É aquele praticado com interesse profissional - cultural, visando a participação em congressos, convenções, simpósios, reuniões internacionais, encontros culturais, etc. (BRAGA, 2003, p.228). 3 Turismo de Negócios – É aquele praticado em busca de contatos e negócios no campo industrial e comercial, (...) visando conhecer novas técnicas de processos de fabricação, a entabular negócios ou abrir novas perspectivas de fazê-lo; também denominado turismo técnico (BRAGA, 2003, p.228).
  • 15. 14 livre escolha, mas muitas vezes, por outros motivos que podem ser caracterizados por saúde, trabalho, estudo, etc. É importante ressaltar que pessoas também viajam e se utilizam dos meios turísticos para fins alheios a ele. É o caso de homens de negócios ou até mesmo de pessoas que viajam a trabalho e que muitas vezes levam consigo o cônjuge, para compartilhar de momentos em que estão liberados do trabalho e dedicá-los à pratica do turismo, e é importante dizer que em congressos e eventos similares já existem atendimento turístico especial para acompanhantes dos participantes (BARRETTO, p.13, 1999). Outro ponto a ser observado, tratando-se dos conceitos de turismo é que alguns autores consideram como turismo apenas viagens inferiores há 90 dias, mas deve- se salientar que existem viagens com durações superiores, especialmente entre as classes mais altas da sociedade. (BARRETTO, p.14, 1999). Neste caso, nota-se que este conceito perde seu valor quando comparado ao considerado atualmente pela da OMT, que ao invés de 90 dias reconhece como turismo viagens com duração inferior a um ano. Pelo que foi exposto até o momento, percebe-se que o turismo é um fenômeno social e econômico, e que há ainda muito a ser discutido e agregado a essa atividade que tem o poder de unificar povos, disseminar novas culturas e conhecimentos, além de desenvolver econômica, social e culturalmente os núcleos receptores, desde que bem planejado e calcado nos conceitos de sustentabilidade. 2.3PLANEJAMENTO TURÍSTICO: CONCEITOS E RELEVÂNCIA É notável atualmente a necessidade de planejar de forma adequada e responsável um determinado espaço para que este se desenvolva. Isto se dá para que o valor do produto turístico seja reconhecido e para que o empreendimento apresente um 4 Turismo de Saúde – É aquele praticado por pessoas em busca de climas, estações ou centros de tratamento onde possam recuperar a saúde (BRAGA, 2003, p.229).
  • 16. 15 crescimento considerável, assim como uma movimentação relevante para a economia. Conceituando planejamento, Petrocchi (2000, p.19) explica que o planejamento é praticado pelas pessoas no seu dia-a-dia, isto implica até mesmo em escolher as peças de roupa para vestir, e no decorrer de um dia de trabalho, utiliza-se intuitivamente mecanismos de planejamento durante todo o tempo. Cotidianamente as pessoas analisam as condições do tempo avaliando a temperatura e as probabilidades ou não de chuva; organizam os compromissos para o dia, logicamente que neste caso, trata-se de um planejamento informal. Enfim, o planejamento faz parte da rotina das pessoas, quase tudo o que se faz no decorrer de um dia, tem um planejamento prévio. O planejamento consiste em uma análise da situação atual e determinação de uma situação desejada – objetivo, bem como a definição das estratégias que auxiliarão o alcance desse objetivo. Para Robbins (apud PETROCCHI, 2001. p.210) “os objetivos são os fins em torno dos quais se dirige toda a atividade”, ou seja, uma atividade deve ser muito bem planejada, e a sua execução deve acontecer de acordo com aquilo que foi planejado, visando sempre a conservação tanto do ambiente quando da cultura da qual se está utilizando. Em um breve comentário sobre o surgimento do planejamento, Barretto (2003, p.85) explica que o primeiro plano econômico real foi executado no Japão no fim do século XX. Segundo a autora, na União Soviética o planejamento começou a ser utilizado na forma de planos qüinqüenais após a revolução socialista na década de 20 e em planos seteniais na década de 30. “Uma preocupação de Mannheim muito legitima e bastante atual era saber quem planeja os planejadores” (MANNHEIM apud BARRETO, 2003, p.85). Para Mannheim, alguém ter para si o poder de decidir os rumos da sociedade era assustador. É notável então que mesmo em tempos mais antigos havia a preocupação com o planejamento e principalmente com a capacidade e formação de quem o faria. Para conceituar planejamento turístico, apresenta-se o posicionamento da OMT, que apresenta o termo como:
  • 17. 16 o resultado de um processo complexo, dada a variedade de fatores relativos ao destino. Por isso, envolve a necessidade de manusear muitas informações adequadas relativas aos recursos, infra-estrutura e equipamentos da região, que permitam a segmentação posterior da demanda em nichos diferenciados e facilitem a tarefa de conservar o entorno, não só em beneficio dos moradores, como também em benefício dos investidores a longo prazo (OMT, 2001, p.177) Assim, pode-se dizer que o processo de planejamento ajuda na ordenação da oferta turística, visando a sustentabilidade ambiental, cultural, econômica e social dos núcleos receptores. Neste contexto, é importante salientar que um aspecto indispensável do planejamento turístico, é o papel fundamental que é reservado ao poder público, já que o turismo não é uma atividade inteiramente privatizável (DIAS, 2002, p. 119). Segundo Petrocchi, (apud, DIAS e AGUIAR, 2002. p. 119): “empresas privadas podem atuar em investimentos turísticos e em setores de infra-estrutura. Mas está reservado ao Poder Público o papel de regulador e / ou provedor de serviços públicos indispensáveis ao turismo”. O autor explica que neste caso podem estar assinalados itens que dizem respeito à organização do espaço urbano, os sistemas viários, de comunicação e de proteção ao meio ambiente. Para Petrocchi (2002. p. 119), há a necessidade de promoção da regulamentação do uso do solo e principalmente, a educação e conscientização da população. Além de que “cabe também ao setor público o papel de fiscalizador das ofertas turísticas de regulador do mercado”. Ruschmann sugere diversos conceitos de planejamento como, por exemplo, o de Harry e Spink que diz que: O planejamento é uma atividade que envolve a intenção de estabelecer condições favoráveis para alcançar objetivos propostos. Ele tem por objetivo o aprovisionamento de facilidades para que uma comunidade atenda seus desejos e necessidades ou, então, o “desenvolvimento” de estratégias que permitam a uma organização comercial visualizar oportunidades de lucros em determinados segmentos em ambos os casos (RUSCHIMANN, 2004, p. 83).
  • 18. 17 Segundo a autora, em ambos os casos, a bibliografia é bastante ampla, apesar de poucas obras falarem especificamente sobre o planejamento do turismo, e quando o fazem, abordam de forma assistemática e fragmentada. Ruschmann explica que isso se dá porque as técnicas e as estruturas do planejamento, tanto no setor público como nas organizações privadas, são difíceis de abordar em conjunto, já que, na comparação dos dois tipos percebem-se os diferentes objetivos de cada um. Existem diversas conceituações para planejamento, e com isso muitas contradições entre eles, por exemplo, para Baptista (apud BARRETTO, 2003, p. 11), planejamento se refere ao processo permanente e metódico de abordagem racional e científica de problemas. Para Newman (apud BARRETTO, 2003 p. 11), planejar significa decidir antecipadamente o que deve ser feito, já que para ele o planejamento é uma linha de ação preestabelecida. Porém, segundo Barretto (2003 p. 12), a conceituação que melhor sintetiza o planejamento é a de Munõz Amato que conceitua planejamento como: a formulação sistemática de um conjunto de decisões, devidamente integrado, que expressa os propósitos de uma empresa e condiciona os meios de alcançá-los. (...) consiste na definição dos objetivos, na ordenação dos recursos materiais e humanos, na determinação dos métodos e das formas de organização, no estabelecimento das medidas de tempo, quantidade e qualidade, na localização espacial das atividades e em outras especificações necessárias para canalizar racionalmente a conduta de uma pessoa ou de um grupo. Assim, a importância do planejamento turístico consiste em “permitir uma gestão racional dos recursos evitando o desenvolvimento desequilibrado dos mesmos, ou o desperdício, e desta maneira, ajuda a preservar as vantagens econômicas, sociais e ambientais do turismo e a diminuir custos” (OMT, 2001, p. 177). O planejador deve estar sempre focado em trabalhar visando utilizar tanto o ambiente natural, quanto cultural de determinada localidade, sem deturpá-lo, mantendo-o o mais intacto possível. A matéria-prima principal do turismo são atrativos naturais e culturais, ambos de extrema fragilidade. No turismo, a interpretação economicista dos recursos naturais, que o considera simplesmente como bem de consumo, implica em uma sucessão de problemas para o meio ambiente o que pode comprometer a atividade turística no
  • 19. 18 futuro. O desenvolvimento de atividades turísticas demanda um planejamento adequado, que envolve profissionais das mais diversas áreas e, caso isso não ocorra, pode gerar uma degradação no meio ambiente natural, social e cultural, acarretando assim em uma diminuição de competitividade e provocando a perda de visitantes de outras regiões (DIAS e AGUIAR, 2002, p. 118). Além do fato de provocar a perda dos visitantes, existe ainda o problema da degradação ambiental que muitas vezes é irreversível, e cabe principalmente ao poder público cuidar e fiscalizar para que isto não aconteça. O turismo não planejado ou mal planejado, pode ser fatal para um empreendimento ou até mesmo para todo um núcleo receptor, e neste caso, deve-se pensar com muita cautela quando se tem a idéia de criar um empreendimento, sempre com intuito de preservar ao máximo o ambiente que irá promover o turismo naquele local, levando-se sempre em consideração que esta é uma fonte que pode se esgotar, e que esgotada uma vez, os danos causados são irreversíveis. Segundo a OMT o planejamento deve assegurar que: os objetivos buscados pelas autoridades locais, pela população receptora, pelas empresas e pelos visitantes, possam ser alcançados com harmonia (...) o principal objetivo deve ser maximizar a contribuição do turismo ao bem-estar humano (OMT, 2001, p. 235). Neste caso, é imprescindível que todas as partes interessadas no desenvolvimento do turismo estejam de acordo em relação aos requisitos a serem utilizados e principalmente, devem estar conscientes que o objetivo do turismo é trazer benefícios para um local e não destruí-lo ou utilizá-lo de forma que se acabe. Porém, para que o planejamento turístico seja completo, ele deve estar calcado na sustentabilidade. Um planejamento que não esteja voltado para desenvolvimento sustentável, corre o risco de não decolar, ou ainda de que suas fontes se esgotem rápida e irreversivelmente. Segundo a OMT:
  • 20. 19 a indústria turística se caracteriza por sua grande complexidade, não só pela grande quantidade de elementos pelos quais é composta, mas também, pelos diferentes setores econômicos do seu desenvolvimento. Nesse sentido, o turismo é considerado geralmente como uma exportação de uma região ou nação até o lugar de destino (país receptor, lugar de recebimento), no qual gera renda, favorece a criação de empregos, entrada de divisas que ajudam a equilibrar a balança de pagamentos, aumenta os impostos públicos e aquece a atividade empresarial. Assim sendo, a atividade turística tem uma grande importância na economia devido a sua elevada contribuição para a geração de Valor Agregado Bruto – VAB na região receptora (OMT, 2001, p.10). Ou seja, a indústria turística tem um grande poder de geração de divisas fazendo assim com que aconteça o efeito multiplicador do turismo, além dos impactos diretos que é quando a despesa do visitante circula pela mão de empreendedores, e os impactos indiretos acontecem quando ela re-circula, passando pela mão do empreendedor turístico e vai para o comércio da localidade. Percebe-se, desta forma que, no impacto direto o turista gera renda para os empreendedores que por sua vez, gastam parte deste lucro no município onde se localiza o empreendimento turístico, o que irá gerar o impacto indireto. O empreendedor por sua vez acabará por contratar mais mão-de-obra, começam a gerar renda também para os moradores da localidade e assim por diante, fazendo com que o capital recircule. Isto é o efeito multiplicador do turismo, a geração e distribuição de renda através dele. Assim, os estabelecimentos comercias que irão receber os gastos diretos gerados pelos turistas precisarão de mais fornecedores, ou seja, têm que comprar bens e serviços para que estes sejam distribuídos para outros setores dentro da economia local. Como por exemplo: Hotéis contratarão serviços como os de construção civil, bancos, contadores, alimentação e bebidas. Parte destes gastos sairá de circulação, pois os fornecedores precisarão comprar produtos importados para cobrir suas necessidades. Ou seja, estes fornecedores precisarão comprar produtos importa os para cobrir suas necessidades. A atividade econômica gerada em conseqüência das rodadas de compras e gastos é conhecida como efeito indireto (BARBOSA, 2006, p.04). Além disso, existe o efeito induzido do turismo que é aquele gerado através dos salários, aluguéis e juros recebidos da atividade turística que resultam em outros
  • 21. 20 tipos de atividade econômica. Como por exemplo, “os juros pagos ao banco por um empréstimo gerarão mais recursos para futuros empréstimos e, consequentemente, ocorrerá um aumento da atividade econômica” (BARBOSA, 2006, p.04). Outro fator importante quando se fala em efeito multiplicador do turismo é que com o fato da atividade turística movimentar a economia de um local, o turismo também contribui para a geração de empregos. Já que com a economia em movimento, a procura pela mão-de-obra qualificada aumenta. Tratando-se de planejamento no Brasil, Barretto (1991, pg. 94) explica que a Política Nacional de Turismo no Brasil insere-se tardiamente na história do planejamento no país (o livro mais completo sobre planejamento setorial de autoria de Jorge Costa, não faz menção à palavra Turismo até 1965), e ainda não tem contornos muito delineados. O que foi planejado e realizado abordou o turismo apenas como um fenômeno econômico gerador de divisas. Porém, o turismo é mais do que uma mercadoria para equilibrar a balança de pagamentos. Uma política nacional de turismo deve abranger o aspecto social e psicológico dessa atividade, para que seja entendida como uma atividade humana que deve como lazer, ser parte essencial da vida. Em termos de planejamento turístico, o país articulou ações como a criação do Programa Nacional de Municipalização do Turismo – PNMT, difundido em todos os estados brasileiros na intenção de identificar potencial e desenvolver a atividade ao longo do país. O PNMT foi implantado pela Embratur em março de 1992, e foi um Programa desenvolvido e coordenado pela EMBRATUR, de acordo com a metodologia da Organização Mundial do Turismo, adaptada à realidade brasileira, com o propósito de implementar um novo modelo de gestão da atividade turística, simplificado e uniformizado para os Estados e Municípios, de maneira integrada, buscando maior eficiência e eficácia na administração da atividade turística, de forma participativa, mas que devido à mudanças de governo foi interrompido (SENAC, 2006). No ano de 2003 foi criado o Ministério do Turismo, e atualmente é desenvolvido o Programa de Regionalização do turismo que segundo o Portal Brasileiro de Turismo (Embratur, 2006), “é um modelo de gestão descentralizada, coordenada e integrada,
  • 22. 21 com base nos princípios da flexibilidade, articulação, mobilização, cooperação intersetorial e interinstitucional e na sinergia de decisões”. Este modelo visa transformar a ação centrada na unidade municipal em uma política pública mobilizadora de planejamento e coordenação para o desenvolvimento turístico local, regional, estadual e nacional de forma articulada e compartilhada. Em suma, o turismo repercute tremendamente na economia dos países e das regiões nas quais se desenvolve. O turismo não apenas contribui com divisas, como também suaviza a questão do desemprego nas comunidades onde existe. Mas para que o efeito multiplicador e os impactos positivos aconteçam, é de suma importância que haja um processo criterioso de planejamento, onde é imprescindível também a figura do planejador capacitado. 2.4O PAPEL E A IMPORTÂNCIA DO PLANEJADOR NO PROCESSO DO PLANEJAMENTO TURÍSTICO Efetivamente, quando se fala em turismo, se fala em serviços, e consequentemente existe a referência às pessoas, ou desde um ponto de vista mais descritivo, quanto ao valor intrínseco que representa para as empresas e para os governos, o capital humano (PEIRÓ apud OMT, 2001, p.345). O planejador de turismo é capaz de elaborar um trabalho para determinar a quantidade de turistas que poderão ocupar um mesmo lugar sem saturá-lo e sem que estes invadam o espaço da população local. Juntamente com outros profissionais, como historiadores, arqueólogos, sociólogos, arquitetos, geógrafos entre muitos outros, tem a incumbência de resgatar o patrimônio histórico e preparar a localidade para o recebimento de turistas. E principalmente, sem degradar o ambiente e nem deturpar os fatos do passado. Spinelli, no livro Currículo e Formação Profissional nos Cursos de Turismo explica que:
  • 23. 22 O turismo é um setor de serviços que requer elevados índices de força de trabalho, além de uma crescente modernização e de uma apurada implementação da tecnologia, e que logo deverá enfrentar um mercado em expansão e cada vez mais exigente. Isso implica necessariamente um incremento da eficácia e da produtividade das pessoas que trabalham nesse setor (SPINELLI in NETO E MACIEL, 2002, p.106) Analisando o contexto apresentado, se o profissional não estiver devidamente preparado, pode não conseguir o seu lugar no mercado de trabalho. Além disso, o ambiente onde o turismo acontece corre sérios riscos de não se desenvolver ou, em uma pior hipótese, crescer muito rápido, mas não suportar os impactos do turismo, tendo abreviado o seu ciclo de vida. Um profissional responsável e com formação em turismo, deve estar apto a desenvolver as seguintes funções: colaborar na elaboração e implantação da Política Nacional de Turismo; elaborar e operacionalizar inventários turísticos (...) e diagnósticos turísticos; elaborar o planejamento do espaço turístico; elaborar planos municipais, estaduais e federais de turismo; interpretar legislação pertinente; identificar, analisar e avaliar os possíveis efeitos positivos e negativos provocados pela atividade turística em determinados espaços e comunidades; estabelecer normas, detectar, aplicar e gerenciar a qualidade de serviços turísticos; apoiar ações voltadas à formação, treinamento e capacitação dos recursos humanos de turismo em nível técnico e superior; fazer estudo de mercados turísticos prioritários. Interpretar, avaliar e selecionar informações geográficas, históricas, artísticas, esportivas recreativas e de entretenimento, folclóricas, artesanais, gastronômicas, religiosas, etc.; gerir empreendimentos turísticos, utilizar a metodologia científica no desenvolvimento de estudos e pesquisas básicas e aplicadas (NETO e MACIEL, 2002, p. 17). Neste caso, fica claro que para que haja o envolvimento de qualquer pessoa na atividade turística, não basta que haja apenas boa vontade, mas indiscutivelmente capacitação, para que o desenvolvimento do turismo seja de boa qualidade, bem planejado consequentemente rentável. Para Carlzon (apud OMT, 2001, p.348) a importância da profissionalização da mão- de-obra se dá por que; todas essas características criam uma certa insegurança na entrega dos serviços que somente pode ser minimizada com um alto grau de profissionalismo por parte dos trabalhadores do setor. Devido ao elevado número de elementos intangíveis, e durante o encontro do cliente com a organização (...) por meio do pessoal de contato, quando o provedor do serviço deve demonstrar sua habilidade para satisfazer o consumidor.
  • 24. 23 Portanto, a formação de qualidade em todos os níveis do estudo do turismo é indispensável para se obter profissionais flexíveis, que sejam capazes de satisfazer as necessidades dos clientes e as da própria indústria turística, sentindo-se, ao mesmo tempo, motivados e envolvidos na organização da qual fazem parte. Levando-se em consideração as características do produto turístico como, por exemplo, a sua intangibilidade, ou o fato de ser inseparável e heterogêneo, a complexidade que envolve toda a ação humana e a importância que têm para empresas de serviços, as pessoas que formam seu mercado, que por sinal deve ser entendido em um sentido muito amplo, estabelece-se um sistema interativo de participação entre todos os agentes vinculados, com o propósito de orientar toda a sua atuação à satisfação do cliente. Assim conclui-se que um profissional, não apenas em turismo, mas em qualquer área deve estar preparado para resolver os problemas que virão pela frente. Esta pessoa deve estar apta a atuar em qualquer área do grande leque de oportunidades que o segmento turístico proporciona, e ainda deve ser levado em consideração que o turismo mexe com as emoções e com os sonhos das pessoas e, portanto deve partir também da emoção do profissional. 2.5IMPACTOS POSITIVOS CAUSADOS PELA PRÁTICA DO TURISMO O turismo, sob a ótica de um fenômeno econômico, social e cultural, é uma atividade capaz de proporcionar diversos benefícios aos núcleos receptores e comunidades locais. Um aspecto importante dos efeitos positivos do turismo é a geração de empregos, que podem ser diretos ou indiretos: Os empregos gerados pelo turismo podem ser vistos como diretos, isto é, os que colocam o empregado frente a frente com o turista, como é o caso de hotéis, restaurantes, agências de viagem, entre outros. Já os empregos indiretos são os que não aparecem de forma explícita, mas estão igualmente contribuindo para o funcionamento da indústria do turismo; como exemplo, temos os fornecedores de alimentação, os serviços de lavanderia, a construção de aviões, entre outros (DIAS E AGUIAR, 2002, p. 162).
  • 25. 24 Nota-se então que os impactos econômicos do crescimento do turismo em relação ao número de empregos são importantíssimos para a economia. Com isto os empregos começam a crescer e consequentemente acontece o giro do efeito multiplicador do turismo Além disso, o turismo parece ser mais eficiente do que outras indústrias para gerar emprego e renda nas regiões menos desenvolvidas, (...). Na verdade, é nessas áreas que o turismo pode ter o seu impacto mais significativo. Em tais lugares a grande parte da população vive da agricultura e da subsistência ou são pescadores, e quando se envolvem na indústria do turismo sua renda familiar sofre um acréscimo bastante grande em termos relativos. (...). Na verdade, a introdução de uma indústria do turismo (...) pode ter um efeito proporcionalmente muito maior sobre o bem- estar da população residente do que o resultante da mesma quantidade de turismo em partes mais desenvolvidas do país (ARCHER E COOPER in THEOBALD, 2002, p. 85) A circulação e a recirculação de divisas em um município receptor provocam impactos econômicos indiretos, caracterizando o já citado efeito multiplicador do turismo. Beni (2000, p. 269) explica que “este efeito não é uma exclusividade do turismo, mas aparece também em outros setores da economia”. A OMT (2001, p. 201) explica que: Os defensores da atividade turística argumentam que o turismo não só contribui com divisas, como, também suaviza o problema do desemprego e, a longo prazo, pode fornecer um substituto das exportações tradicionais, cujo futuro é mais inseguro que o do turismo. A Organização Mundial de Turismo salienta ainda que se pode “considerar o turismo como uma atividade de exportação invisível de bens e serviços, por parte dos países receptores de turistas e viajantes” (OMT, 2001, p. 201), e tudo isso com a diferença de que esses turistas consomem bens e serviços no próprio país receptor, ou seja, o turismo nacional poderia ser considerado uma exportação entre todas as regiões do país. Outro ponto relevante dos impactos positivos que o turismo proporciona, é o impacto político, já que “o turismo interno (...) pode agir como uma força integradora que fortalece o sentimento nacional. A população das áreas distantes é tradicionalmente mais preocupada com as questões locais das aldeias (...)”, e isto facilita tanto o
  • 26. 25 entendimento de que aquele local deve ser preservado, quanto à exaltação do orgulho da herança nacional (ARCHER E COOPER in THEOBALD, 2002, p. 91). A circulação de pessoas em âmbito nacional colabora para que haja da parte do turista o orgulho do seu país das belezas que ele possui. Além disso, também faz com que estes turistas entendam o quanto é importante que este local seja preservado. É válido salientar que o orgulho, contribui para que o compromisso com a preservação exista. E quando se trata de viagens internacionais, o turista entende que muitas vezes as belezas vistas pela televisão, nem sempre são tão reais assim, e que é necessário um comprometimento da parte de governantes civis e até mesmo de turistas, para que aquela realidade seja melhorada, e que sejam melhoradas também as condições de vida daquela população. Quando se fala em impactos positivos do turismo, deve-se pensar também nos impactos causados ao meio ambiente, já que, a indústria turística pode colaborar com a preservação por meio de contribuições financeiras, pela melhoria do planejamento e gerenciamento ambiental. Isto pode ser feito ainda através da conscientização ambiental, da geração de empregos e também do estabelecimento de limites para a visitação. O turismo tem um potencial de criar efeitos benéficos ao meio ambiente, contribuindo para a proteção e conservação. É um caminho para o crescimento da consciência dos valores ambientais e pode servir como ferramenta para financiar a proteção das áreas naturais (DIAS, 2003, p.87). O turismo pode contribuir significativamente para a proteção ambiental, conservação e restauração da diversidade biológica e do uso sustentável dos recursos naturais. Devido à atração que exercem, os locais naturais são considerados de valor inestimável para o turismo, e a necessidade de mantê-los preservados, pode levar a criação de Unidades de Conservação e de outras áreas de preservação ambiental, nos vários níveis de organização do estado – municipal, estadual e federal (DIAS, 2003, p.99).
  • 27. 26 Para Dias, um bom exemplo é o caso do material de divulgação de Bertioga – SP, onde 85% do seu território é protegido, e acabou se tornando um forte atrativo turístico, e completa a principal atividade turística do município que é o sol e o mar. Tratando-se de impactos ambientais, Ruschmann (2004, p. 22) explica que: Os ambientes naturais conservados ganham força no contexto turístico internacional, no qual a concorrência é intensa, e constituirão a grande força mercadológica para os turistas das décadas de 1990 e 2000, cada vez mais sensíveis diante dos acidentes naturais e políticos do planeta. Além de fazer bem à natureza que serve de fonte para o turismo, os impactos ambientais positivos ainda ajudam no marketing, tanto do local preservado quanto do país onde este ambiente se encontra. O turismo é muito importante quando se trata de preservação de espécies, pois propiciou que um grande número de pessoas passasse a apreciar animais silvestres em seus ambientes naturais, que acabam deixando recursos suficientes para que essas áreas sejam protegidas. O turismo sustentável, do ponto de vista do meio ambiente, demonstra a importância dos recursos naturais (...), e pode ajudar a preservá-lo; o turismo sustentável monitora, assessora e administra os impactos do turismo, desenvolvendo métodos confiáveis de obtenção de respostas e opondo-se a qualquer efeito negativo (SEABRA apud Gonçalves, 2006). Analisando este contexto, percebe-se que uma série de variáveis devem ser levadas em consideração sempre que se quiser implantar o turismo em um local ou que se pensar em avaliar os impactos causados por ele. Nunca deve ser deixada de lado qualquer possibilidade de impacto positivo, desde que este não cause os impactos negativos e assim não destruam o potencial que é a base da sua subsistência. 2.6IMPACTOS NEGATIVOS CAUSADOS PELA IMPLANTAÇÃO E PRÁTICA DO TURISMO O turismo pode causar impactos positivos para a região onde se desenvolve, porém, quando é feito sem a participação de profissionais responsáveis e capacitados, para que os cuidados, principalmente com o meio ambiente, preservação da cultura local
  • 28. 27 e envolvimento da comunidade, sejam tomados, o turismo pode se tornar um grande vilão para a localidade onde está sendo implantado. Percebe-se então que a atividade turística é também geradora de impactos negativos, quer sejam ambientais, sociais ou culturais. E reduzir esses impactos é garantir o desenvolvimento sustentado do turismo conservando o patrimônio cultural e natural da região. Assim, Dias (2003, p. 67) explica que “o desenvolvimento da atividade turística sem um planejamento adequado, envolvendo profissionais das mais diversas áreas, gera uma degradação no meio ambiente”. Dias explica ainda que podem existir muitos impactos negativos do turismo no meio ambiente e que esses impactos surgem, por exemplo, no desenvolvimento da infra-estrutura para o turismo, num incorreto manejo dos resíduos gerados pela atividade, nas cicatrizes da paisagem geradas pelo crescimento da infra-estrutura nas áreas naturais e pelo volume de visitantes que afeta os ecossistemas mais frágeis (DIAS apud GONÇALVES, 2006, p.1). Antes de se pensar em implantação turística deve-se levar em consideração todos os possíveis impactos, tanto negativos, quanto positivos, e medir assim a viabilidade do empreendimento, visando não apenas os lucros mas principalmente a preservação do local. Ruschmann (apud Gonçalves, 2006, p.1) aponta o grave problema de que muitas vezes “valorizam-se excessivamente os impactos positivos ou benefícios da atividade, deixando de lado as conseqüências indesejáveis e o custo”. Assim, percebe-se a importância da implantação turística visando à preservação e a minimização dos impactos negativos causados por ele. Reinaldo Dias, em seu livro Turismo Sustentável e Meio Ambiente explica que o turismo foi durante muito tempo considerado uma atividade econômica limpa, não poluente, geradora de amplo leque de oportunidades e de empresas que não lançam fumaça na atmosfera, como as fábricas características da Revolução Industrial. (DIAS, 2003, p. 72)
  • 29. 28 Mas o que tem se tornado cada vez mais óbvio é que o turismo também polui. A prática do turismo pode causar destruição tanto quanto as fábricas que todos os dias jogam na natureza poluentes de todos os tipos. O turismo pode gerar poluição através do lixo deixado pelos turistas, da poluição sonora, da água, a destruição da fauna e da flora, entre muitos outros. O segmento turístico envolve muitas pessoas de diversas culturas diferentes, o que torna difícil a conscientização de que enquanto houver a conservação, haverá o produto turístico. Um outro ponto negativo que não pode ser esquecido é a especulação imobiliária, que vem junto com o crescimento do turismo: Gradualmente os nativos com menor poder aquisitivo, passam a vender o terreno que lhes pertence, alguns até parte de sua casa, buscando poder oferecer uma melhor condição ao visitante que se hospeda na sua residência e, com isso melhorar a sua renda. (...) Todos querem melhorar a renda familiar no sentido de poder comer melhor, morar decentemente, vestir-se bem, passear, enfim, ter uma vida mais digna consumindo os bens que a modernidade lhes proporciona. Infelizmente vários moradores que venderam sua propriedade, não tiveram condições de implementar o novo projeto e acabaram se mudando da comunidade ou procurando área periféricas à vila, o que ocorre, geralmente, em função da especulação imobiliária, à semelhança de processos ocorridos em outros lugares apropriados pelo turismo (FONTELES, 2004, p. 161). Este trecho foi retirado do livro Turismo e Impactos Sócio-ambientais de José Osmar Fonteles, fonte do estudo de caso sobre o crescimento turístico de Jericoacoara no estado do Ceará que será apresentado no próximo capítulo desta abordagem. Com esta citação o autor explica que os nativos se desfazem de suas propriedades na vila, vendendo-as para turistas que a destroem para construir a sua casa de temporada, o que acaba alterando a fisionomia do local, e ainda, gera a expansão da periferia. A especulação imobiliária traz consigo também a entrada de muitas pessoas que não são nativos daquele local, e muitas vezes por receberem terras como herança, constroem casas, normalmente apenas para temporadas, e passam a se considerar nativos. O que faz com que a maior parte da população de uma localidade em expansão turística já não seja mais de nativos, pois estes acabam perdendo seu espaço para o desenvolvimento.
  • 30. 29 Os efeitos políticos também têm relevante importância no cenário turístico, pois “as viagens entre países desenvolvidos e em desenvolvimento estão aumentando anualmente e põem em contato direto povos de origens muito diferentes e com estilos de vida e níveis de renda muito contrastantes”, e estas diferenças são muito grandes, o que pode trazer graves conseqüências políticas e socioculturais (ARCHER E COOPER in THEOBALD, 2002, p. 90). Apesar de em alguns pontos como os citados no item 1.5, nem sempre mesclar povos é benéfico, podendo em alguns casos gerar tensões culturais, sociais e morais. Propiciar a mistura de pessoas de diferentes regiões de um país, “por um lado pode resultar numa compreensão melhor do modo de vida de vários grupos distintos e numa avaliação mais correta dos problemas particulares e regiões específicas, mas por outro lado podem gerar mal-entendidos e até mesmo desconfiança” (ARCHER E COOPER in THEOBALD, 2002, p. 90). Em uma avaliação geral dos impactos negativos do turismo, entende-se que o turismo é um segmento muito importante tanto para a economia, quanto para a geração de empregos, questões sociais, culturais e até mesmo ambientais. Porém, não se pode deixar de considerar os perigos que o turismo apresenta. Não se pode esquecer que se o planejamento turístico não for executado de uma forma extremamente responsável e muito bem feita, onde se deve analisar cada possibilidade, tanto boa quanto ruim, os impactos negativos podem ser muito grandes e muitas vezes irreversíveis. No decorrer deste capítulo foram abordadas diversas conceituações de turismo, onde diversos autores expuseram suas opiniões, e percebeu-se inclusive que existem muitos pontos onde não há concordância entre estes autores, o que colaborou para um melhor embasamento com a utilização de opiniões diferentes. Estudou-se também as conceituações de planejamento assim como o processo histórico de desenvolvimento tanto do turismo, quanto do planejamento no Brasil e no mundo.
  • 31. 30 Buscou-se destacar também, a importância da utilização do profissional de turismo em todo o processo de planejamento, além de suas funções e obrigatoriedades. E para finalizar, foram apresentados os impactos positivos e negativos do turismo, assim como suas causas, boas ou ruins e suas vantagens. O próximo capítulo apresentará dois estudos de caso ressaltando a forma de implantação e prática do turismo no município de Jericoacoara – CE e Bonito – MS, buscando evidenciar na prática, todos os pontos abordados até o presente momento ao longo desta explanação. 3 APRESENTAÇÃO DOS ESTUDO DE CASO: IMPLANTAÇÃO DO TURISMO EM JERICOACOARA–CE E EM BONITO–MS Neste capítulo serão apresentados estudos de casos de localidades, onde apesar de o planejamento turístico ter sido implantado, foi feito tardiamente. Em um dos estudos de casos, será possível notar que o planejamento foi utilizado na fase inicial do desenvolvimento da atividade turística e por isso os resultados obtidos foram bem melhores que no segundo caso, onde os processos de planejamento foram inseridos mais tarde.
  • 32. 31 Pretende-se com as informações apresentadas neste capítulo demonstrar casos de localidades onde o turismo se desenvolveu rápido demais e os danos que isto causou aos atrativos naturais e comunidade local. Será enfatizado também o fato de estas comunidades terem conseguido dar a volta por cima, estruturando ainda que tardiamente o turismo e fazendo dele uma fonte de renda. Aqui serão apresentados dois estudos de caso de regiões diferentes do Brasil. O primeiro dele é o estudo de Jericoacoara, no estado do Ceará onde o turismo se iniciou por acaso, e assim como em Bonito, não havia estrutura para o recebimento destes turistas, criando-se um impasse com a população autóctone, que poderia ter custado o futuro deste paraíso. O segundo caso é o de Bonito no Mato Grosso do Sul, onde o turismo teve um crescimento muito acelerado e causou sérios danos ao local, ameaçando inclusive a continuidade do segmento turístico na região. O objetivo principal deste estudo como um todo, é demonstrar a importância do planejamento turístico para o desenvolvimento sustentável da atividade, assim como a importância de uma equipe especializada no processo de planejamento, o que será demonstrado a partir de relatos sobre a implantação do planejamento turístico nos municípios de Bonito e Jericoacoara, e as conseqüências desse processo no resultado final da atividade. 3.1 IMPACTOS DO TURISMO EM JERICOACOARA – CE A autora Deise Maria Fernandes Bezzerra, em seu livro Planejamento e Gestão em Turismo, coloca em pauta o processo de planejamento no município de Jericoacoara, no estado do Ceará. O município na época em que o turismo começou a se desenvolver era ainda uma comunidade de Jijoca – CE. O município abriga um dos lugares de maior beleza em termos de paisagem natural do Brasil, e tem um fluxo intenso de turistas na praia de Jericoacoara. A comunidade começou no início dos anos 80 a receber turistas, e em pouco tempo, se tornou conhecida mundialmente, despertando assim o interesse do poder público e da iniciativa privada.
  • 33. 32 No início os acessos eram feitos através dos municípios de Jijoca ou por Camocim. Quem optava por Jijoca, tinha que enfrentar uma caminhada de mais de 2 horas, já que não havia carros para fazer o transporte. Apoiados por turistas e um vereador, a comunidade resolveu transformar o local em APA5 – Área de Proteção Ambiental, após uma campanha cujo slogan era: Salve esta Praia. O ambientalismo que nesta época já ocupava um espaço significativo na opinião mundial, já contagiava também o Brasil. Em pouco tempo os resultados começaram a aparecer, como quando um decreto-lei declarou a região como uma área de utilidade pública, para fins de desapropriação e preservação paisagística. E em 1984, uma UC6 – Unidade de Conservação foi criada por um decreto federal que tinha a extensão de 5.430 hectares, 23 km de praia e seu objetivo era preservar as praias, mangues e restingas; as dunas; formações geológicas de grande potencial paisagístico e científico; as espécies vegetais e animais, principalmente quelônios marinhos; e as aves de rapina e praieiras. Além disso, a APA de Jericoacoara foi a primeira reserva ecológica de praia, reconhecida por Decreto Federal no Brasil. A comunidade de pescadores passou a ser vista como um verdadeiro paraíso. Uma revista de circulação nacional em 1984 publicou uma matéria onde os aspectos naturais e a forma de vida de seus habitantes eram enaltecidos. Com isso, os especuladores começaram a se interessar por Jericoacoara, invadindo a área e comprometendo o equilíbrio ecológico, cultural, social e sanitário. A população foi descartada da política de gerenciamento, mesmo sendo um dos principais agentes interessados. A UC não foi criada para se tornar um empecilho ao desenvolvimento da região, mas sim como um instrumento de crescimento por meio do turismo. Entretanto, questionamentos e conflitos foram inevitáveis: 5 APA – Área de Proteção Ambiental. De interesse do Turismo de Natureza (BRAGA, 2003, p.25). 6 UC – Unidades de conservação são porções delimitadas do território nacional, especialmente protegidas por lei, pois contém elementos naturais de importância ecológica ou ambiental (MENDEL JÚNIOR et. al. 2006, p.01)
  • 34. 33 Preservação ou turismo eis a questão. A maior atração de Jericoacoara está na preservação ambiental. É por esse motivo que atrai turistas, gerando a ambição de nativos e de pessoas de fora para explorar a florescente comercialização de hospedagem, alimentos e produtos da terra, o que paradoxalmente contribuirá para a descaracterização dos costumes e modus vivendi da população, que ainda encanta visitantes, não obstante os cientistas já haverem observado a degenerescência desse contatos social díspar (O POVO apud FONTELES, 2003, p. 145). (...) Estão acabando com Jericoacoara. Jericoacoara é a primeira praia cujo patrimônio ambiental foi preservado por leis municipal, estadual e federal. Essa providencia paradoxal e ironicamente, vem contribuindo dentre outros muitos aspectos para aumentar o fluxo turístico (...) Antes da criação da APA não se falava nesse fluxo de turismo, nesse turismo dentro da área, na região de Jericoacoara (...) Eu acho que a APA de Jericoacoara não foi criada exatamente para preservar (...) e a idéia inicial não era uma Área de Proteção Ambiental. Era um Parque Nacional (CARVALHO JÚNIOR apud FONTELES, 2004, p. 146). Estas informações divulgadas pela imprensa e também o depoimento do ex- presidente do Conselho Comunitário, José Augusto de Carvalho Júnior, reforçam a hipótese da APA como atração turística, o que se contrapõe aos objetivos das UCs: Pertencendo ao município de Acaraú, Jericoacoara passaria a jurisdição de Cruz que estava em processo de emancipação. Assim como esta área fazia parte do projeto político-econômico dos administradores do município, a criação da APA ou outro tipo de UC seria uma solução definitiva para o problema. A população motivada pela possibilidade de melhorar o seu nível de renda, comprou a idéia da preservação e abraçou a campanha, embora alguns moradores desconfiassem e temessem o desfecho do movimento (FONTELES, 2004, p.146) Assim, diversos empreendimentos foram montados no município para atender a demanda turística. Entretanto a exploração do turismo pelo poder público e pela iniciativa privada era feita sem a devida preocupação com o meio ambiente e com a cultura local. Em 1987, equipes de televisão de vários países registraram imagens de Jericoacoara, considerada como um santuário ecológico. Além disso, uma reportagem exibida pela Rede Globo, remeteu milhares de pessoas àquela vila, sem que a população estivesse preparada para recebê-los, não havia infra-estrutura. Segundo Bezerra, (2003, p.148), era notável ao observar a população nativa que ao menos parte dela sentia-se incomodada com a presença dos turistas. Além disso, parte dos ecossistemas foram alterados e não havia respaldo político para minimizar estes efeitos que ainda poderão se agravar.
  • 35. 34 3.1.1 Alteração do Cotidiano dos Moradores Nativos O marketing em torno de Jericoacoara ocasionou um aumento de turistas nacionais e internacionais, que eram incompatíveis com a capacidade do local. Isso trouxe problemas para os ecossistemas e criou um turismo desordenado e começou a comprometer a qualidade de vida dos autóctones. Quando os problemas começaram a surgir por causa do crescimento acelerado do turismo, os moradores começaram a se dar conta que a realidade começou a se modificar e a comunidade não acompanhou esta evolução. Com isto os nativos começaram a se preocupar com a situação que ajudaram a criar, as proibições fizeram com que as pessoas se dessem conta de que não era aquele tipo de projeto que queriam para a sua comunidade. Com a inserção do turismo na comunidade de Jericoacoara, os moradores passaram a vivenciar outras formas de vida e, adquirir outros conhecimentos, constituíndo-se assim outras relações sociais, culturais, econômicas e políticas. Esta mudança tem trazido outros problemas para a população local, como a especulação imobiliária, o aumento do consumo de drogas e da prostituição, assim como a descaracterização cultural e arquitetônica e a degradação ambiental. Outro fato importante é o de que a comunidade não tem sido orientada de forma adequada para enfrentar esta realidade e acaba se decepcionado ao perceber que toda aquela mudança, não é aquilo que sonhou, como é o caso de um morador em entrevista para o Jornal O Povo em 13 de novembro de 1987: Vocês da cidade não querem que venha energia elétrica, que se construam casas confortáveis, restaurantes e coisas assim em Jericoacoara porque vêm aqui só para “brincar de primitivismo” no fim de semana, voltando para os seus confortos logo depois (FONTELES, 2004, p. 152). Desde então, segundo o presidente José Augusto de Carvalho Júnior do conselho em 1989, a chegada do turista na cidade acarretou “uma ruptura brusca da cultura, ou um inchaço da modernidade”. As casas viraram hospedarias, e em muitos casos
  • 36. 35 fora dos padrões arquitetônicos determinados pela Unidade de Conservação, a população é obrigada a conviver com a poluição sonora proveniente de geradores de energia, entre muitos outros problemas, que são resultado deste crescimento desordenado (FONTELES, 2004, p. 152), 3.1.2 Alterações nas Formas de Trabalho Quando se trata de geração de empregos e renda, o turismo é visto como uma alternativa para a comunidade. Com a demanda dos empregos, os nativos se sentiram economicamente fortalecidos. Mulheres agora não são mais apenas donas de casa, trabalham nas pousadas, como rendeiras ou até mesmo fabricando e vendendo doces na beira da praia, onde há um maior fluxo de turista. As crianças também trabalham como vendedores ambulantes ou como guias de turismo. Os empregos para os jovens também aumentaram, mas as funções que exigem maior especialização são ocupadas por pessoas de fora, como por exemplo, a gerência de hotéis e pousadas. Isto tudo se deve à falta de profissionalização dos nativos e também pela sua baixa escolaridade. Assim, os moradores acabam ficando de fora da maior fatia deste negócio. As relações de trabalho são informais, e o poder público era conivente com esta prática, uma vez que não criou mecanismos de fiscalização. Este fato deixa os trabalhadores desprovidos de seus direitos trabalhistas, inclusive quando são demitidos. Este fato ocorre em quase todas as pousadas da região com raras exceções. 3.1.3 A Questão Cultural No aspecto cultural as mudanças foram demasiadamente bruscas. Muitas pessoas entenderam que não poderiam perder a oportunidade de investir no turismo, adaptando-se à nova realidade. Outras, por não entenderem exatamente do que se
  • 37. 36 tratava, fecharam as portas para o turismo, inclusive impedindo a entrada de turistas nas suas propriedades. Porém, com tempo e devido às mudanças que foram acontecendo, estas pessoas foram se inserindo na atividade turística como proprietários ou como empregados. O turismo abriu muitas janelas do ponto de vista cultural, social e político. Assim como os nativos se confrontaram com outros hábitos e acabaram por adquiri-los, também incorporaram novas referências aos costumes de seus visitantes. Há dois aspetos importantes que Fonteles (2004, p. 160) cita com relação à mistura da cultura: A respeito dos garotos que esquiavam na duna. Antes o “skibunda” era praticado com talo de coqueiro e servia apenas para o lazer local. Hoje feito com outros materiais, serve também para atrair e entreter o turista. Outro fato interessante é o de que a parteira fazia o seu trabalho na residência das parturientes. Após conhecer uma médica, as duas aliaram o saber letrado e o saber popular e hoje fazem os partos juntas no Centro de Saúde da Comunidade. Ou seja, na disputa pelo controle dos espaços – territorial e social –, os jericoacoarenses conseguiram obter mais representatividade junto ao poder político institucionalizado e junto às entidades associativas. Pois, os nativos têm acesso a algumas novas práticas introduzidas na comunidade pelo turismo, como ao lazer e até mesmo às novas experiências econômicas e políticas. 3.1.4 Especulação Imobiliária e Uso de Drogas em Jericoacoara Depois de todas essas modificações existem ainda outros problemas que se desencadearam com o crescimento acelerado e desordenado do turismo em Jericoacoara, como por exemplo, a especulação imobiliária. Ocorreu que aos poucos os nativos com menor poder aquisitivo, começaram a vender os seus terrenos e alguns até parte das suas residências para com isso melhorarem sua renda buscando oferecer uma melhor condição aos visitantes que se hospedam em suas residências. Além disso, muitos moradores ao vender parte de suas residências ou terrenos buscando uma renda melhor acabam não conseguindo investir o suficiente no novo
  • 38. 37 empreendimento e precisaram ir embora da comunidade ou tendo que procurar as regiões periféricas, o que ocorre em razão da especulação imobiliária, semelhante por sinal, a outros casos que ocorrem em localidades que implantaram o turismo sem um planejamento prévio e acabavam prejudicando a população que depende muitas vezes dos imóveis que possuem. Entretanto, há um problema ainda mais grave que ocorreu em conseqüência do crescimento acelerado e desordenado no município de Jericoacoara, que foi o uso de drogas que tomou uma dimensão assustadora. Este dado foi constatado por meio de observações e entrevistas como moradores nativos e adventícios. E ainda existe no município uma planta nativa denominada datura stramonium, conhecida por todas como “zabumba”, uma espécie de papoula que tem efeito alucinógeno. Segundo Fonteles, (2004, p. 172) O uso da zabumba como droga foi admitida pelos nativos com a entrada do turismo. Antes os moradores, temendo o alto teor de veneno existente na planta, não a utilizavam como alucinógeno. Os turistas e adventícios estimularam os nativos a tomarem o chá (...). Era comum o consumo da bebida em rodas de jogos de “porrinha”. Utilizada ou não antes do turismo, sabe-se que a zabumba faz parte do cotidiano dos moradores de Jericoacoara com alucinógeno. Muitos nativos já experimentaram o chá e dizem sentir-se como se estivessem “voando como um passarinho”. Um deles, no seu “vôo”, entrou no mar e morreu afogado. Apesar do que foi descrito, o consumo da planta tem diminuído, pois, tanto traficantes quanto usuários passaram a dar preferência à maconha, cocaína e ao crack. Bezzerra explica que o problema das drogas tem ganhado as páginas de jornais de circulação estadual e envolvendo autoridades, turistas, população tradicional e adventícia. 3.1.5 Gerenciamento da Unidade de Conservação A Unidade de Conservação de Jericoacoara é gerenciada pelo IBAMA7, a SEMACE8, e a Prefeitura Municipal, que representam a sociedade política em 7 IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. 8 SEMACE - Superintendência Estadual do Meio Ambiente.
  • 39. 38 âmbitos federal, estadual e municipal. Já a sociedade civil tem como representante o Conselho Comunitário, que é formado por moradores nativos e outras entidades. Estes órgãos juntamente com alguns representantes da comunidade começaram a demonstrar preocupação com a autodestruição da comunidade por conta do turismo predatório. A paisagem de valor cênico, ecológico e cultural aos poucos tem se deteriorado. E ainda os meios de subsistência da comunidade, apropriada por alguns especuladores, vêm provocando a perda da identidade cultural e da base econômica dos nativos. No ano de 1987, foi encaminhado pela Procuradoria Geral da República uma Ação Civil Pública à Justiça Federal, que solicitava o cumprimento do Decreto lei de criação da APA. A ação civil solicitou a demolição de construções indevidas, a restauração das que foram edificadas fora dos padrões arquitetônicos do local e a suspensão imediata da pesca predatória. A SEMACE no final de 1988 anunciou uma medida de impacto visando: Proteger a vida silvestre, a manutenção de bancos genéticos e espécies raras dos animais e vegetais, praias, dunas, bem como os demais recursos naturais e possibilitar às comunidades locais suas atividades, dentro dos padrões culturais estabelecidos historicamente. Dentre as medidas anunciadas, destacam-se as seguintes: controle da área pelo Conselho Comunitário e pela SEMACE; não será permitida a instalação de indústrias potencialmente poluidoras; proibido o uso de qualquer veículo automotor em toda a extensão da praia, sendo permitido apenas o tráfego de cargas ou pessoas doentes; não será permitida a instalação de camping; a compra e venda de imóveis só será permitida com o aval da prefeitura municipal; proibida a retirada de areia ou qualquer outro material que prejudique os ecossistemas. Para a implantação de qualquer projeto de infra-estrutura turística na área, deverá ser feito um estudo e submetido à apreciação da SEMA9, da Prefeitura Municipal e da SEMACE, exigindo-se o RIMA10. Não será permitida a construção de edifícios, e todas as residências ou estabelecimentos comerciais terão fossa séptica; a criação de animais domésticos deverá ser distante da praia; não será permitida a instalação de rede elétrica de alta tensão, sendo preferida a implantação do sistema subterrâneo, devendo o projeto ser submetido à SEMACE (O POVO, apud FONTELES, 2004, p. 176) 9 SEMA – Secretaria do Estado de Meio Ambiente. 10 RIMA – Relatório de Impacto Ambiental.
  • 40. 39 Exceto pela instalação da rede elétrica, a SEMACE não conseguiu cumprir aquilo que prometeu, e o IBAMA e os especuladores têm o maior controle sobre a área. E embora não existissem indústrias em Jericoacoara, contava-se mais de 40 geradores de energia que poluíam sonoramente a maior parte da vila, e foram aos poucos desativados após a instalação da energia elétrica. Veículos automotores transitam livremente por toda a área, (...); terrenos são comercializados sem o aval da Prefeitura, (...); nas altas temporadas verifica-se o problema a presença de campings em espaços onde estão localizadas algumas pousadas; a retirada de material para construção também não foi sustada definitivamente; o estudo submetido à SEMA (hoje IBAMA), à SEMACE e à Prefeitura Municipal, com exigência do RIMA, também não é observado com rigor; existem várias edificações fora dos padrões arquitetônicos estabelecidos pelas Instruções Normativas, inclusive com relação à altura; não existem fossas sépticas em todas as edificações residenciais ou comerciais; por fim, animais andam soltos na vila e na praia (FONTELES, 2004, p. 176). É difícil para a população que convive com todas estas contradições, acreditar que os órgãos responsáveis pela administração do Parque consigam fazer uma administração voltada para a preservação do meio ambiente. Fonteles (2004, p. 177), ressalta que muitas vezes o poder público que, a princípio deverias desempenhar o papel de protetor da natureza e defensor dos interesses da população, respaldado por um regime jurídico específico, acaba agindo de maneira contraditória nas suas ações cotidianas; e se os próprios governantes desconsideram a legislação referente à UC, como os empresários turísticos e parte da população _que não está preparada para conviver em uma área protegida_ iriam contribuir para que a comunidade não fosse descaracteriza? Segundo o autor, observando ou conversando com a população não é difícil detectar o nível de descontentamento com relação ao gerenciamento da área, explicitando o conflito entre o poder público e a comunidade pelo controle do espaço social (FONTELES, 2004, p. 178). Fonteles explica que ao se encaminhar pelas ruas de Jericoacoara, não é difícil encontrar lixo amontoado, animais soltos, Buggies andando em alta velocidade, poluição sonora e uma série de problemas que precisam ser sanados em uma área
  • 41. 40 que era considerada um referencial do turismo ecológico e que é vendida enquanto tal pelo marketing turístico (FONTELES, 2004, p. 178). O autor questiona se este quadro já se refere à diminuição dos fluxos, mesmo nas altas temporadas. E quanto a população nativa, o que terá que fazer para que o turismo continue sendo uma alternativa de geração de emprego e renda, sem que para isso sejam anuladas suas características, sua cultura e a sua identidade? Se terá condições de interferir mais e melhor no gerenciamento do Parque, a fim de que o turismo até certo ponto gestado por ela, não seja a causa da sua própria destruição. Enfim, se é possível ainda desenvolver o turismo de forma que ele não degrade os seus recursos naturais que são sensíveis e escassos, de uma forma sustentável e preventiva. 3.2 A EVOLUÇÃO DE UM MODELO DE GESTÃO SUSTENTÁVEL PARA O ECOTURISMO EM BONITO – MS A autora Isa Ernani Mancini Cia no livro Planejamento e Gestão em Turismo, mostra em um estudo de caso como foi o desenvolvimento do turismo no município de Bonito, localizado no Estado do Mato Grosso do Sul, um município que está inserido na entrada do Pantanal antes e depois da utilização do planejamento. 3.2.1 Os Recursos Naturais e a Reportagem Bonito é reconhecido internacionalmente pelos seus recursos naturais, e também pela utilização racional desses recursos. O município conseguiu implantar uma administração adequada à exploração de recursos naturais. O sucesso deste projeto é o resultado do trabalho conjunto de todos os segmentos representativos da sociedade local. O ecoturismo11 no município de Bonito começou a ser explorado aproximadamente em 1988, quando poucas pessoas começaram a visitar a Ilha do Padre, a Gruta 11 Ecoturismo – Programas de atividade turística ligados ao meio ambiente, utilizando de forma adequada e sustentável o patrimônio natural e cultural (BRAGA, 2003, p. 97)
  • 42. 41 Lago Azul e ao Balneário municipal. Nesta época não havia controle da visitação e nem cobrança de ingressos para as atrações, o que facilitava a entrada de qualquer pessoa e possibilitava a degradação ambiental e a desorganização do turismo, proporcionando ainda o turismo de massa. No ano de 1992, reportagens na televisão sobre Bonito repercutiram nacional e internacionalmente. Isto provocou um crescimento desproporcional em relação à capacidade de atendimento ao turista, fato semelhante ao acontecido com Jericoacoara, narrado no estudo de caso anterior. Devido ao descontrole e à desorganização, cada setor envolvido na atividade turística, fazia o que achava adequado. Então os resultados negativos do uso excessivo, irresponsável e da degradação começaram a aparecer. Devido a estes problemas autoridades e comunidade necessitaram de uma tomada de decisão para resolver o problema e foi então que foram dados os primeiros passos para a organização do turismo em Bonito. 3.2.2 Os Primeiros Passos para a Organização No ano de 1993, o primeiro passo para uma organização do modelo de gestão do município foi dado, quando o primeiro curso de guias de turismo regional com especialização em atrativos naturais foi realizado por iniciativa da Embratur12, do SENAC13 , do SEBRAE-MS14, da UFMS15, Prefeitura Municipal de Bonito e Governo Estadual de Mato Grosso do Sul. Nos anos subseqüentes alguns passos foram dados em prol do desenvolvimento do turismo, que serão apresentados na tabela 1: Tabela 1: Passos importantes dados pelo município de Bonito – MS, depois da implantação do planejamento turístico no município. 12 EMBRATUR – Instituto Brasileiro de Turismo. Órgão do Ministério dos Esportes e do Turismo (BRAGA, 2003, p. 99). 13 SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial .(BRAGA, 2003, p. 99). 14 SEBRAE-MS – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – Mato Grosso do Sul. 15 UFMS – Universidade Federal do Mato Grosso do Sul.
  • 43. 42 Ano Atividade Desenvolvida 1993 Foram criados os primeiros hotéis turísticos 1994 Realização do Seminário Estratégico de Turismo com as lideranças do SEBRAE-MS; 1994 A cidade associou-se ao PMNT (Programa Nacional de Municipalização do Turismo) do governo federal; 1995 São criadas as leis municipais preocupadas com a atividade turística; 1995 Lei 964/95 – proíbe a utilização de barco a motor; 1995 Lei 965/95 – cria o COMTUR – Conselho Municipal de Turismo e o FUTUR – Fundo de Turismo; 1995 Lei 689/95 – cria a obrigatoriedade de guias de turismo com formação profissional específica local. Fonte: FONTELES, 2004, p. 179 A principal destas decisões foi a criação do COMTUR, que é o órgão responsável por organizar e esquematizar e regulamentar a gestão que iria ser implantada no município, normalizando e verificando o cumprimento das regras. Ele tem a função de fiscalizar o turismo em todos os seus âmbitos. Os recursos utilizados pelo COMTUR são provenientes do FUTUR, e são obtidos com a receita gerada pela visitação da Gruta Lago Azul, que é uma das poucas atrações que pertence ao poder público municipal, mas é certamente um dos atrativos mais procurados do município. No ano de 2000 o fundo arrecadou cerca de R$ 33.683,79 e esse dinheiro foi destinado conforme a figura. Figura 1: Aplicações do COMTUR em 2000. 2% 55% 5% 15% 5% 18% Administrativas Divulgação Equipamentos Gruta Formação Profissional Patrocínio
  • 44. 43 Fonte: BEZZERRA, 2003, p. 70 3.2.3 As Novas Regras Para que um turista visite Bonito atualmente, ele deve obrigatoriamente se dirigir a uma agência receptiva e adquirir o voucher16 de entrada para qualquer atrativo da região. E através de um sistema on line, a secretaria de turismo pode saber se o acesso aos atrativos está disponível ou não. Para todos os atrativos existem horários e também capacidade limite de visitantes. Limites esses que foram estipulados de acordo com estudos realizados por especialistas na área. Além disso, o turista é cadastrado em um programa estatístico que indica o perfil da demanda, a arrecadação, o número de visitantes, e outras informações pertinentes para melhoria dos serviços, assim como a preservação do local. Na agência o valor é pago e repassado para a prefeitura ou aos proprietários, já que a maioria das atrações se encontra em propriedades privadas. Além disso, qualquer passeio exige a presença de um guia local, inclusive para a mão-de-obra especializada que ajuda na preservação ambiental fiscalizando as atividades dos turistas e, ao mesmo tempo garantindo a segurança. O produto turístico em Bonito tem um preço mais alto se comparado a outros pacotes, por exemplo, o passeio na Gruta Lago Azul custa em torno de R$ 25,00 por pessoa. Isto significa maior conforto para o turista e também para a população local, já que esta medida controla a massificação do turismo. A razão do produto turístico em Bonito ser tão cara, se deve ao fato do município possuir uma estrutura organizada e com atendimento diferenciado, com a infra-estrutura necessária. Apesar disto, este modelo de exploração vem sendo criticado, mas correto ou não vem dando certo e sendo muito útil e eficaz. Enfim, este modelo de gestão tem proporcionado resultados satisfatórios como, por exemplo, o aumento gradativo de turistas (fig. 2). O que vai contra as teses de que este modelo prejudica o crescimento do turismo. 16 VOUCHER – Comprovante correspondente a um valor prefixado para determinado serviço turístico (hospedagem, excursão, etc.), que a agência de viagem emite ao turista como meio de pagamento destes serviços em outra cidade.
  • 45. 44 Figura 2. Crescimento das visitas em atrativos turísticos. R$ 8.000,00 R$ 50.000,00 R$ 143.855,00 R$ 186.092,00 Série1 1993 1995 1997 1999 Série2 R$ R$ R$ R$ 1 2 3 4 Fonte: BEZZERRA, 2003, p. 70 3.2.4 O Início do Circuito Turístico de Sucesso Outro ponto positivo foi o fato de que alguns municípios vizinhos também entraram no circuito do ecoturismo, o que multiplicou a oferta turística na região, aumentando assim a permanência do turista na região e consequentemente à geração de recursos feita por ele. Houve também o aumento considerável da arrecadação do Imposto Sobre Serviço - ISS, entre os anos de 1995 e 2000 (fig. 3), o que beneficia tanto a população, quanto os turistas, já que este recurso é utilizado para a melhoria da cidade, como por exemplo: ampliação da rede de saúde, o saneamento de água e esgoto para 95% da população, construção de uma central de reciclagem de lixo e compostagem de lixo orgânico, a limpeza municipal, sinalização dos atrativos, a conservação das estradas que levam aos atrativos e muitos ou outros benefícios. Figura 3. Arrecadação do ISS do Município em R$.
  • 46. 45 R$ 3.457.039,00 R$ 11.434.858,00 R$ 19.439.711,00 R$ 22.160.209,00 R$ 27.698.181,00 R$ 35.769.302,00 Série1 1995 1996 1997 1998 1999 2000 Série2 R$ R$ R$ R$ R$ R$ 1 2 3 4 5 6 Fonte: BEZZERRA, 2003, p. 70 Entretanto, há também pontos negativos que o turismo traz consigo. Há a falta de fiscalização de alguns setores devido à inexistência de uma regulamentação específica na cidade. Por exemplo, por causa da demanda, os leitos de hotéis e as agências de turismo têm aumentado desordenada e desproporcionalmente. E que é um ponto negativo que pode ameaçar os atrativos do local, salientando que são frágeis e podem desaparecer quando providencias não são tomadas. Na figura 4 é possível verificar qual é o caminho que o dinheiro percorre em Bonito e como ele é distribuído entre os responsáveis pelo turismo no município, para que seja feita a destinação adequada. Figura 4. Distribuição de recursos entre os responsáveis pelo turismo em Bonito.
  • 47. 46 Fonte: BEZZERRA, 2003, p. 70 Assim, existem várias questões que ainda devem ser discutidas e regulamentadas, para que o município continue sendo um modelo. E isto inclui itens como o Plano Diretor, o Código Municipal, um plano emergencial para a contenção do crescimento sem planejamento, entre outras. Outro ponto a ser revisado trata da questão do preço dos atrativos versus a qualidade do serviço, estímulo a mais empreendimentos familiares, e entre muitos outros a limitada capacidade empresarial e qualificação de mão-de-obra de alguns cargos. E será assim que o processo gestor irá se consolidar e que muitas idéias criadas serão adaptadas à realidade, proporcionando ao homem a capacidade do homem usufruir da natureza usando a sua inteligência para a preservação dos bens naturais e da sociedade a sua volta. 4 ANÁLISE DOS ESTUDOS DE CASO, DISCUSSÕES E PROPOSTAS No quarto capítulo serão elaboradas as análises dos estudos de caso apresentados anteriormente, assim como o desenvolvimento do turismo nos municípios de Jericoacoara – CE e Bonito – MS.
  • 48. 47 Esta análise será feita através da verificação dos pontos fortes, pontos fracos, das ameaças e das oportunidades para o desenvolvimento turístico dos municípios. O objetivo de qualquer tipo de planejamento é potencializar ainda mais os pontos fortes de determinado objeto de estudo; corrigir e minimizar os pontos fracos identificados; aproveitar as oportunidades de mercado; e melhor ser preparar em relação às ameaças macroambientais. Desta forma, pretende-se além de simplesmente listar os pontos pertinentes ao diagnóstico, realizar uma análise comparativa dos dois estudos de caso, onde serão verificados, por exemplo, pontos positivos de um estudo de caso e que poderiam ser uma oportunidade para o outro. Ainda neste capítulo serão apresentadas propostas e discussões, assim como possíveis soluções para os problemas detectados nos estudos de caso. E por fim será proposto aqui um modelo que planejamento, que poderá ser útil tanto para os municípios em estudo, quanto para outras localidades que pretendem usufruir dos inúmeros benefícios da atividade turística. 4.1 ANÁLISE DO MODELO DE DESENVOLVIMENTO DO TURISMO EM JERICOACOARA – CE Neste momento será analisado o modelo de desenvolvimento turístico do município de Jericoacoara – CE, onde o turismo se intensificou desordenadamente depois de uma reportagem na televisão e o seu crescimento foi muito acelerado, causando diversos problemas entre os turistas e a comunidade local, o que vem prejudicando e que pode prejudicar ainda mais o futuro do turismo no município, como já foi evidenciado no capítulo anterior. Para melhor fundamentar essa análise, optou-se por dividi-la em quatro partes, enfatizando separadamente os pontos fortes, pontos fracos, ameaças e oportunidades do modelo de desenvolvimento turístico adotado pelo município de Jericoacoara, conforme segue detalhadamente.
  • 49. 48 4.1.1 Pontos Fortes Certamente o maior ponto forte de Jericoacoara17 são as beleza naturais (imagem no anexo 1) e estruturas que o município possui. Dentre esses pontos pode-se citar o farol que funciona à base de energia solar, e que talvez seja o melhor lugar para se ver o nascer do sol em Jericoacoara, um verdadeiro espetáculo da natureza. A Praia Malhada é um forte atrativo para pessoas que gostam de naturalismo, onde é comum a prática do topless e até mesmo de nudismo. Na praia de Jericoacoara encontram-se as mais diversas atrações. Entre elas estão dunas de até 30 m de altura, recifes, o farol, a Pedra Furada entre outros. É dessa praia que saem os passeios de bugue para outras atrações um pouco mais distantes. A Praia da Tajuba que tem uma vila de pescadores reconstruída, pois a original foi engolida pelas dunas. E é uma boa opção para aqueles que querem conhecer a cultura local. Já a Praia do Preá é reta, com areia fofa e águas azuis, e muito procurada pelos surfistas. Enquanto o Farol é o ponto ideal para se ver o nascer do sol, a Duna do pôr-do-sol, como já diz o próprio nome, é o lugar perfeito para assistir ao crepúsculo. A Lagoa da Jijoca, também conhecida por Lagoa Azul ou do Paraíso, é muito procurada para prática de Windsurf18 e vela e fica a apenas 5 km de Jericoacoara. Ainda pode-se citar o Mangue Seco, que tem como principal atrativo as dunas. Para chegar até lá se pode ir a pé, a cavalo ou de bugue. A noite em Jericoacoara é regada de muito forró e ritmos regionais. É possível encontrar bares para conversar e beber. 17 UOL Destino Aventura – Jericoacoara. Disponível em: http://webventureuol.uol.com.br/destinoaventura/index.php?destino=destino_mostra&mdireito=nao&id _destinos=31&pid= Acessado em: 11/10/2006 18 Windsurf: Manobra em que o velejador salta bem alto, sem soltar os pés das alças, gira a prancha 180º e vira a vela no ar, caindo com a prancha virada para o outro lado e com a vela pronta para sair planando. Fonte: Terra 360º . Disponível em: http://360graus.terra.com.br/windsurf/default.asp?did=2093&action=dica. Acesso em: 16/10/2006
  • 50. 49 Nada disso seria possível se Jericoacoara não tivesse um clima de acordo e em Jericoacoara o sol brilha o ano inteiro, entretanto entre março e maio chove mais, enchendo as lagoas. Quem quer praticar o windsurf, deve ir entre julho e novembro, quando os ventos estão mais fortes. A temperatura pode chegar até 34ºC. A vegetação dessa área conta com a presença de coqueirais, manguezais e caatinga. Jericoacoara tem seu relevo caracterizado por planície litorânea e as imensas dunas que estão sempre se movendo pela região. Possui formações rochosas de formas curiosas como a Pedra Furada que é um dos atrativos mais famosos da cidade. A cultura também é muito forte, Jericoacoara conta com uma população de apenas 2 mil habitantes. Até 1985 era uma vila de pescadores ainda menor. Descoberta há pouco tempo pelo turismo foi criada em 1984 a APA (Área de Proteção Ambiental), a fim de preservar o patrimônio natural. Hoje, a principal atividade econômica é o turismo, mas sempre realizado de maneira a preservar a região. Outro ponto forte muito interessante identificado em Jericoacoara foi o envolvimento e o empenho da comunidade em transformar o município em Área de Proteção Ambiental - APA com o objetivo de preservar as belezas naturais do município. Além disso, a APA de Jericoacoara foi a primeira reserva ecológica de praia reconhecida por Decreto Federal no Brasil. Com a chegada do turismo os moradores começaram a vivenciar e conhecer outras culturas, o que proporcionou a eles novos conhecimentos e construiu-se outras relações sociais, culturais, econômicas e políticas, o que é excelente para a população, desde que para isso não tenham que mudar a sua forma de viver e não acarrete outros tipos de problemas para a comunidade. E assim como os autóctones se confrontam com outras culturas, também incorporam a sua aos seus visitantes. É importante ressaltar como um ponto forte o fato de que os cidadãos de Jericoacoara conquistaram uma representatividade significativa junto ao poder público e as entidades associativas, e com isso, têm acesso às novas práticas
  • 51. 50 introduzidas pelo turismo na comunidade como o lazer e novas experiências econômicas e políticas. O fato de a população ter o Conselho Comunitário como representante no gerenciamento da Unidade de Conservação, demonstra uma preocupação com o problema da autodestruição da comunidade por causa do turismo predatório. E ainda a instalação da energia elétrica que proporcionou a retirada de mais de 40 geradores de energia que poluíam sonoramente a maior parte da vila. Além disso, no ano de 1987 foi determinado que se cumprisse um decreto lei que solicitou a demolição de construções indevidas, a restauração das que foram edificadas fora dos padrões arquitetônicos do local e ainda a suspensão imediata da pesca predatória. 4.1.2 Pontos Fracos Apesar dos tantos pontos fortes apresentados em relação ao modelo de desenvolvimento turístico de Jericoacoara, o turismo se tornou um problema para a comunidade local, e uma sucessão de pontos fracos que podem se tornar ameaças para a comunidade foram detectados com relação ao desenvolvimento do turismo no município e serão apresentados a seguir. Segundo o estudo de caso apresentado no capítulo anterior era notável ao observar a comunidade local que ao menos parte dela se sentia incomodada com a presença de turistas. E isto pode acarretar problemas sérios como a falta de hospitalidade para com os turistas, além da especulação imobiliária que será explicada mais adiante, o aumento do consumo de drogas, e ainda causar atritos entre o turista e os nativos e muitos outros problemas. A incompatibilidade do número de turistas com a capacidade de carga do município também causa problemas graves como a criação de um turismo desordenado e que além de degradar muito mais os recursos naturais, ainda pode comprometer a qualidade de vida dos autóctones.