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ARTIGOS
                                                         O objeto de estudo da
                                                         Ciência da Informação:
                                                          paradoxos e desafios
Maria Nélida González de Gomez                      Uma das "chaves" de compreensão do            orientações de pesquisas recorrem às al-
                                                    momento atual pareceria ser o conceito de     ternativas das diversas narrativas da mo-
                                                    "modernidade", ainda que usado com dife-      dernidade, ora na forma das dualizações
                                                    rente sentido e em contextos também he-       históricas, ora na forma dos paradoxos
                                                    terogêneos.                                   culturais.

                                                    A "modernidade" serve, em certos casos,        O ponto de partida seria revisar as am-
                                                    para caracterizar negativamente países ou     pliações da "retomada da modernidade",
                                                    setores colocados no estatuto duma "mo-       lembrando de que modo a informação in-
                                                    dernidade irrealizada", sendo que o con-      corporou-se no escopo da modernidade.
                                                    ceito teria que ser interpretado em termos    Três idéias "paradigmáticas" indicariam
                                                    de suas "potencialidades", como "moder-       essa incorporação: o sistema de recupe-
                                                    nização"1.                                    ração da informação, as novas tecnologias
                                                                                                  de comunicação e informação, a ênfase na
                                                    "Modernidade", em outros casos, designa       informação cientifica e tecnológica - a par-
                                                    aquilo a ser superado ou já transcendido,     tir da valorização da ciência como "força
                                                    conforme a expectativa de países e seto-      produtiva".
                                                    res onde o projeto da modernização parcial
                                                    ou totalmente realizado os deixara frente a
                                                    novas encruzilhadas, levando-os a buscar      A MODERNIZAÇÃO E O SISTEMA DE
                                                    novas lógicas institucionais e culturais,     RECUPERAÇÃO DE INFORMAÇÃO
                                                    agora no caminho duma "pós-modemida-
                                                    de"2.
                                                                                                  A expansão da racionalidade moderna
                                                    Colocados na historicidade em sociedades      operaria através de mecanismos que lhe
                                                    onde encontramos situações dos dois ti-       são característicos, como os procedimen-
                                                    pos, defrontamo-nos de modo quase per-        tos de "homogeneização". Assim, o con-
                                                    manente com um paradoxo radicai. Se por       ceito de "método" é usado como princípio
                                                    um lado existiria uma dualização entre        construtor e homogeneizador do campo
                                                    formas "tradicionais" e "modernas" de         cientifico, enquanto lógica unificadora das
                                                    orientação da ação social (dentro do tema     práticas de pesquisa. O conceito de "sis-
                                                    da modernidade irrealizada), ou uma duali-    tema", posteriormente, operaria sobre a
                                                    zação entre as metas de modernização e        segmentação do universo dos fenômenos
Resumo                                              as expectativas de sua superação (dentro      nas diversas disciplinas, oferecendo um
                                                    do tema da "pós-modernidade"), o para-        modelo homogeneizador para a cons-
A Ciência da Informação não se Identificaria pela                                                 trução analógica dos objetos no campo
                                                    doxo não consistiria propriamente na dua-
especificação qualitativa de uma ordem de
fenômenos de Informação como sendo seu objeto,      lizaçáo, mas no fatum de nossa absoluta       das ações de "pesquisa e desenvolvimen-
mas pela Instauração de um "ponto de vista"         contemporaneidade - obscurecida por           to".
organizador de um domínio transdisciplinar. Esse    aqueles paradigmas dualizadores da tem-
ponto de vista afirma a relação entre uma           poralidade3.                                  O sistema de informação, nesse quadro,
pragmática social de informação (ou
                                                                                                  emergeria como modelo "homogeneiza-
 "meta-informação") e os "mundos" de vida, de
ação, de conhecimento, agindo na construção dos     A construção de um objeto de estudo da        dor" de um domínio plural de ações de in-
 valores de informação.                             Ciência da Informação e a definição de        formação, muitas já institucionalizadas (bi-


Ci. Inf., Brasília, 19(2): 117-22, jul./dez. 1990
O objeto de estudo da Ciência da Informação: paradoxos e desafios

bliotecas, arquivos, centros de documen-
tação etc.), outras incipientes e a serem
formalizadas a partir do novo conceito
sistêmico da ação de informação (na or-
dem administrativa, financeira, cultural
etc.)

 Para destacar o caráter de "intervenção"
intencional das ações sistêmicas de infor-
mação no contexto de outras práticas so-
ciais, escolhemos a denominação de "sis-
tema formal intermediário de recuperação
da informação".

 O "sistema" resulta de uma ação inten-
cional, planejada sobre um processo de
comunicação de conhecimentos que nor-
 malmenfe lhe precede. Sua Intervenção
 realiza-se como antecipação modelizadora
 do que seria um fluxo desejável de infor-
 mação entre os dois pólos de geradores e
usuários, ao qual se procura otimizar por
 meio do controle sistêmico de diferentes
Variáveis do processo (geração, coleta,
 armazenagem, organização, represen-
tação, recuperação, disseminação).

Considera-se esse sistema "formal" em
dois sentidos. Primeiro, por ser institucio-
nal, ou seja, sujeito a regras e a proces-
sos de legitimação, à definição de uma "ju-
risdição" para o exercício de sua função
dentro do contexto institucional mais am-
plo, e identificável por suas funções, servi-                Um dos principais campos de pesquisa          mação abreviaria a terminalidade de sua
ços, produtos e destinatários no contexto                   nessa área tem sido o segmento r (figu-       intervenção, através da expressão pontuai
de outras agendas de ação informativa.                      ra 1), que representa os mecanismos de        desses objetivos: "o contato do usuário
                                                           recuperação de informação e suas refor-        com a fonte". Estudos atuais que falam
Segundo, devido a que trabalha no domínio                   mulações pelas novas tecnologias. A re-        dos sistemas de recuperação de infor-
da comunicação formal, com registros de                     lação entre esse mecanismo e o sistema        mação como "auxiliares" dos sistemas de
 conhecimentos ou registros de dados e                      chega em alguns casos a ser de plena           conhecimento sustentariam pontos de vis-
 com registros de seus próprios instrumen-                  coincidência:                                  ta semelhantes6.
tos e rotinas.
                                                                                                          Limitar a função sistêmica à recuperação
Denomina-se também "intermediário", por                                                                   de uma fonte ou a uma função auxiliar ofe-
tratar-se da iniciativa de um agente ou                                                                   receria, porém, apenas uma solução apa-
agencia que, ao intervir (através da ação                                                                 rente. Ó sistema institucional de infor-
informacional) com uma proposta modela-                                                                   mação só pode negar sua origem social,
dora sobre as "formações discursivo-infor-                                                                sua interligação com processos comuni-
 macionais de outros contextos de ação,                                                                   cacionais-cognitivos, na medida em que já
 converte-se numa mediação produtiva                                                                      nasce "prenhe" de uma referência subs-
 entre os sujeitos participantes em                                                                       tantiva a um contexto específico sócio-cul-
sua execução e a realização efetiva da-                                                                   tural, oculto enquanto formalizado em ter-
 quela ação, condicionando assim seu de-                                                                  mos de definições sistêmicas.
                                                           Existiria, porém, uma zona de "tensão" no
 sempenho e a obtenção de seus objetivos
                                                            domínio funcional do sistema. Sendo do al-    O contato da fonte com o usuário, para
 (figura 1).
                                                            cance do sistema o domínio de suas va-         partir da fórmula já clássica, acontece, de
                                                            riáveis controladas, só seria possível        fato, a posteriori de um julgamento ante-
                                                            equacionar sua função de "otimização de        cipado de relevância, que acontece
                                                            um processo de informação" em sua inte-       quando o usuário escolhe ou aceita um
                                                            rioridade e conforme os "filtros" resultan-    item de informação (documento, referên-
                                                            tes da linguagem e as representações           cia, dado), a partir de uma "oferta" do sis-
                                                           sistêmicas. Ao mesmo tempo, a realização        tema igualmente organizada pelas expec-
                                                            de sua função só se completa num contex-      tativas sistêmicas de pertinência e re-
                                                           to) de ação que lhe é externo e tem seus       levância.
                                                            próprios "jogos" de linguagem e represen-
                                                           tação com os quais constrói suas próprias
                                                            dinâmicas de informação.                  De fato, um "julgamento antecipado" da
                                                                                                      relevância da informação para um usuário
                                                            Uma das primeiras definições dos objeti- precede como premissa maior organizado-
                                                           vos do sistema de recuperação de infor- ra da própria constituição do sistema.


118                                                                                                            Ci. inf., Brasília, 19 (2):117-22,jul./dez. 1990
O objeto de estudo da Ciência da Informação: paradoxos e desafios

Nesse sentido, a intervenção técno-admi-                   ciais, comunicacionais e cognitivos onde a        A instância lingüística é, porém, só uma
nistrativa de um agente no processo co-                    informação emerge como um de seus re-             das dimensões dos processos de infor-
municacional-cognitivo-decisional de ou-                   cortes possíveis, mas, sem esgotar ne-            mação, os quais incluem as relações cog-
tros agentes estaria assentada numa es-                    nhum deles.                                       nitivas com os mundos de referência e as
trutura recíproca de reconhecimento de um                                                                    relações sociais entre interlocutores e fa-
"valor informacional", valor consensual                    A comunicação direta, interativa, em diver-       lantes, que colocam perguntas muito além
que legítima e serve de "solo" às trocas                   sas situações e contextos, assim como no          dos contextos lineares e "textuais" do es-
entre o usuário e o sistema.                               contexto das diversas formas de produção          truturalismo. Tomando de empréstimo a
                                                           do conhecimento (conhecimento científico,         terminologia de Chomsky, sem que impli-
Qualquer que seja a modelização do sis-                    tecnológico, prático, político, artesanal etc.)   que a adesão a suas premissas, poder-
tema, o mesmo deverá sustentar-se numa                     formariam parte do campo fenomenológico           se-ia afirmar que uma prática ou ação de
reciprocidade normativa entre os atores                    dos estudos de informação, como conhe-            informação implica, além de "competên-
sociais que partilham o processo e as ati-                 cimento propedêutico e transdisciplinar,          cias lingüísticas", outras "competências"
vidades de recuperação da informação,                      sobre o qual se construiriam outros co-           cognitivas e comunicacionais, sempre par-
com respeito ao "valor informacional",                     nhecimentos sobre a comunicação indireta          ticularizadas no exercício de atores que as
mas também com respeito a outros valo-                     (por meio de registros) acerca da potencia-       praticam sob as regras das lógicas sociais
res e normas que propiciam a realização                    lização de funções informacionais dos ca-         de solidariedade ou de conflito.
desse valor informacional e que constitui-                 nais (transmissão, armazenamento, trans-
riam uma "pragmática normativa" da ge-                     formação) ou, ainda, acerca das esferas           Numa outra forma de apresentação des-
ração e uso de informação.                                 da comunicação especializada (comuni-             sas interligações, mais na tradição de
                                                           cação cientifica, tecnológica etc.)               Wittgenstein, tende-se a expandir a própria
Essa reciprocidade de fins e valores, longe                                                                  noção de "linguagem" ou "discurso". Pa-
de estar "naturalmente" estipulada numa                    De fato, de Shanon, Weaver a Garvey,              ra Habermas,
ontologia funcionalista, estabelece-se em                  passando por Goffman, acreditou-se sem-
processos discursivos no quadro de re-                     pre na necessidade de definir um modelo
                                                           de comunicação que ofereceria o arca-              "Uma gramática dos jogos de lingua-
lações sociais, e nela a Intermediação ins-
                                                           bouço teórico sobre o qual se projetariam          gem entrelaçar símbolos, ações e ex-
titucional' da comunicação do conhecimen-
                                                           as leituras descritivas ou técnicas da in-         pressões; ela fixa os esquemas de
to obtém sua identidade e legitimidade co-
                                                           formação9.                                         apreensão, da mundividência e da inte-
mo agente organizacional, capaz de interfe-
                                                                                                              ração".
rir nos fluxos significativos de informação
                                                            Trata-se, agora, de mudar o olhar, colo-          "A realidade constitui-se na moldura de
que acontecem em outros contextos de in-
                                                            cando o processo de comunicação num               uma forma de vida exercida por grupos,
terlocução.
                                                            campo conceituai mais amplo, que inclua           que se comunicam e organizada nos
                                                            as condições culturais, históricas, sociais       termos da linguagem ordinária"12.
 A ruptura do princípio de reciprocidade7 e
 suas expressões normativas, por uma as-                   dos processos de informação, condições
simetria qualquer (imposição de cima para                  estas quase sempre consideradas como
baixo, utilização de modelos não internali-                "fatores externos" que alterariam a poste-
zados pela comunidade de uso da infor-                     riori as "aplicações" ou a "distribuição"         Para o mesmo Habermas, porém, a ex-
 mação, a não "inteligibilidade" do sistema                dos produtos do conhecimento/informação           pansão de mecanismos da racionalidade
 pela ausência de relações de interlocução                 já construídos. Pretende-se, pelo contrário,      técnico-instrumental nos domínios da co-
entre todas as partes envolvidas) ou pela                  que as condições sociais e as matrizes            municação e da linguagem levaria à dete-
ausência de um ato fundacional e discursi-                 comunicacionais constituam parte das              riorização dessa complexa unidade cultu-
 vo que coloque o sistema num horizonte                     condições iniciais de geração e uso de co-       ral que seria um agenciamento coletivo de
 de legitimidade e reconhecimento, inibi-                  nhecimento/informação.                            ação e de discurso e seus mundos de vi-
 ria o desempenho do sistema por mais                                                                        da. Isso aconteceria como produto da co-
 bem desenvolvido que fosse o segmento Uma discussão já clássica na filosofia da                             lonização que a ação racional-técnica rea-
                                                        10
 r dos mecanismos ou tecnologias de recu- linguagem pode contribuir para dar maior                           liza sobre os espaços substantivos de sua
 peração.                                   "visibilidade" às questões aqui levanta-                         intervenção: a linguagem se separa da in-
                                            das. Trata-se da indagação nas relações                          teração; a atividade técnica, da comuni-
                                            entre as linguagens cotidianas, faladas e                        cação; a experiência biográfica de cada
Para Habermas8, as intervenções técni- transmitidas espontaneamente nas comu-                                um, de uma definição padronizada de mo-
co-administrativas não são "produtoras de nidades históricas (ditas "linguagens natu-                        delos operacionais.
sentido", mas bem reformulam, controlam rais") e as linguagens especializadas, ar-
ou "gerenciam" um "sentido" construído tificiais e as "metalínguagens", que, em                              Para Benjamin, a informação se constitui
nos "mundos" da vida e da ação, por princípio, sempre pressupõem as primei-                                  como uma "ferida" nas formas narrativas
agentes históricos e sociais. A adminis- ras.                                                                da comunicação e do saber, da qual
tração e a reformulação técnica da comu-                                                                     é "separada" numa ação técnico-instru-
nicação e da informação seriam sempre Um impacto dessa questão sobre as tec-                                 mental. Nas narrativas ou "relatos" o
construções derivativas, de "segundo nologias da informação ficaria bastante                                 transmitido não se destaca como "algo em
grau", operacionalizadas sobre os mode- evidente, se pensarmos nos investimentos                             si", independente do narrador e do ouvinte:
los normativos de interpretação do real e feitos na área para desenvolver modelos                            o enunciado é parte da vida do narrador e
as produções de sentido de parceiros in- de processamento os mais próximos                                   se constitui em parte da experiência dos
terlocutores.                               possíveis à "linguagem natural", sendo                           interlocutores.
                                            que a "linguagem natural" estabeleceria
 TECNOLOGIA X COMUNICAÇÃO?                  algo assim como uma linha de "fronteira",                        Considera-se de interesse, porém, explo-
                                            indicando, por um lado, a direção do avan-                       rar um caminho, presente no próprio Ha-
Consideramos, logo, que o saber teórico e ço da pesquisa e, por outro, indicando                             bermas13, colocando-se a ênfase não na
tecnológico na área de informação só po- o "solo" ou a linha de referência à qual                            própria tecnologia, mas nas relações das
 deria constituir-se na medida em que ma- sempre estariam voltadas as conquistas                             tecnologias com os quadros institucionais
 pear com igual ênfase os processos so- do setor11.                                                          de sua instrumentalização.


Ci. Inf., Brasília, 19(2):117-22, jul./dez. 1990
O objeto de estudo da Ciência da Informação: paradoxos e desafios

A "ruptura" da informação com os "con-                     nio estratégico e instrumental de ações        informação. Ações pedagógicas e he-
textos narrativos ou de interlocução não                   "orientadas à obtenção de sucesso". No         gemônicas sobre a circulação social no
aconteceria pelo intervalo tecnológico" in-                melhor dos casos, tratar-se-ia de uma es-      discurso, assim como as ações técni-
troduzido como "distanciamento" entre o                    tratégia "aberta", cujas regras do cálculo     cas/administrativas de recuperação de in-
 ato de enunciação de um agente e seu                      de eficácia são explícitas, mas onde, pela     formação, instalam-se nessa "dupla articu-
produto semiótico-informacional, converti-                 própria definição da "jurisdição" do siste-    lação" dos fenômenos de Informação. E é
do agora em "coisa", commodity, "regis-                    ma, atende-se de maneira diferenciada e        essa exigência da existência conjunta de
tro". Tratar-se-ia, antes, da ruptura das                  particularizada umas comunidades de             uma pragmática social (ou uma formulação
regras pragmáticas que são idealizadas                     usuários de informação e não a outras,          histórica da meta-informação), junto com
na interação comunicativa entre pares e                    nos termos de um jogo competitivo de            um universo substantivo de experiência ou
sobre as quais se sustentaria a socialida-                 "soma zero"16. As perspectivas tecnoló-        conhecimento - como condições de
de cotidiana. São regras assentadas na                     gicas de jogos de informação de "soma          existência de informação, o que impede
confiança de que é possível e desejável fa-                não zero", sem ganhadores nem excluí-           identificar a informação com um "registro",
lar com sinceridade, falar acerca de algum                 dos, defrontam-se com as "barreiras" das        como "coisa" ou "entidade".
referente objetivo e verificável, falar dentro             formas institucionais atuais, orientadas pa-
de uma ordem normativa legitimada pelo                     ra a centralização e com práticas regula-      Belkin, em sua teoria dos "estados anô-
grupo de interlocução, falar, de fatot de                  res de exclusão.                               malos de conhecimento", resgata, numa
modo a ser entendido por todos. Se não                                                                    ótica "cognitivista", essa dualidade, anali-
existe nenhuma expectativa sobre a acei-                   Novamente, nem o saber nem a tecnologia        sada a partir das relações e distâncias en-
tação recíproca dessas regras, não exis-                   de informação poderiam alargar seus es-        tre "texto-informação".
tirá comunicação, não existirá "fluxo" de                  paços de experimentação e de transfor-
informação. Para Habermas, essas regras                    mação, se não estivessem ancorados, por        Belkin reúne, sob o conceito de trans-
são básicas e comuns à definição formal                    sua vez, numa vontade de mudança dos           ferência de informação, um conjunto de
de todo jogo de linguagem. Para outros,                    quadros institucionais, em direção a for-      práticas e ações de informação, institucio-
como Lyotard, existiriam múltiplas regras e                mas mais eqüitativas e democráticas de         nalizadas ou não, que interferem entre a
jogos de linguagem e informação14.                         geração e acesso à informação.                 produção de um recurso de conhecimento
                                                                                                          e sua transformação em informação, ge-
Nesse quadro de análise, um dos proble-                    Teria que se experimentar de que maneira       rando um novo estado de conhecimento
mas principais em matéria de informação                    a constituição de esferas consultivas e de-    num receptor. O processo iniciar-se-ia
não estaria no plano tecnológico, mas no                   liberativas, alargando os espaços comuni-      numa "situação problemática" onde entra-
plano das normas, regras e obrigações                      cacionais onde possa articular-se o dis-       riam em confronto uma ordem de coisas
recíprocas que orientam as práticas e                      curso interpretativo das partes envolvidas,    num dos mundos de vida, com o "equipa-
ações de informação. Uma "pragmática                       daria lugar a novas formas de diálogo entre    mento de respostas" que um agente pos-
social" da circulação da informação defini-                as comunidades de interlocução e de uso        sui para lidar com ela, que seria insuficien-
ria, em seus quadros normativos, os uni-                   da informação, e suas assessorias técni-       te para orientar sua ação. A "situação pro-
versos disponíveis de informação e seus                    cas, tendendo à elaboração consensual de       blemática" geraria uma "anomalia" no es-
fluxos "legítimos". A eficácia de uma                      significados sociais e disposições norma-      tado ou consciência cognitiva do agente e
"ação de informação", nesse caso, de-                      tivas capazes de orientar os fluxos de-        detonaria uma "busca de informação". In-
penderia de procedimentos articulatórios                   sejáveis de informação.                        formação essa a constituir-se na relação
de caráter comunicacional, incluindo a re-                                                                entre um corpus de textos disponíveis e
formulação participativa de campos de                      Outra indagação ficaria, finalmente, em        um outro "texto" que expressaria um "es-
significados, ao menos tanto quanto de                     aberto: qual seria a eficácia de processos     tado anômalo de conhecimento". Trata-se
procedimentos técnicos e da ordem admi-                    inovadores de "semioses" na ordem do           de um modelo polarizado de geradores-re-
nistrativa, que operariam no plano subordi-                poder?                                         ceptores, onde o gerador codifica um valor
nado dos meios.                                                                                           informacional a partir da articulação de um
                                                                                                          "estado de conhecimento" com um "ato
Um outro problema seria a modernização                     OUTROS DESAFIOS: A "DUPLA
                                                                                                          de enunciação": o texto (figura 2).
dos meios e a atualização do horizonte                     ARTICULAÇÃO" E A
material de alternativas que orientam as                   "CONTEXTUALIDADE" DOS
escolhas. Uma sociedade, um grupo, tem                     FENÔMENOS DE INFORMAÇÃO
o direito de dispor dos melhores instrumen-
tos e a máxima diversidade de bens exis-                   O objeto de estudo da Ciência da Infor-
tentes em sua cultura, sob um princípio ini-               mação ficaria instalado nessa "dobra" da
ciai de equidade.                                          cultura ocidental pela qual o homem co-
                                                           nhece e intervém em suas próprias pro-
Lida-se, agora, não com a falta de con-                    duções de conhecimento e interações dis-
dições materiais ou sociais para assumir                   cursivas, de modo que toda informação se
os modelos da modernidade, mas com li-                     constitui no campo de uma meta-infor-
mites que a própria modernidade coloca,                    mação, onde se encontram as "chuvas"
contraditoriamente, às suas mais altas                     de sua geração, seu acesso, sua decodifi-
ilusões iluministas. Com efeito, a socieda-                cação.
de industrial capitalista só realiza suas ex-
                                                           Existiriam, assim, operações "meta-infor-
pectativas de racionalidade em segmentos
particularizados e limitados da cadeia                     macionais" capazes de construir um valor
                                                           de informação, tais como a sumarização         O cognitivismo, apresentado por Belkin,
"meio-fim"15 sem considerar os impactos
                                                           na realização de uma função de memória         possui algumas vantagens e restrições.
de suas políticas técnicas na ordem global
                                                           ou a classificação numa função de organi-      Por um lado, diferencia o registro da infor-
das sociedades e da natureza planetária.
                                                           zação;     provavelmente procedimentos         mação, inclui sobre o conceito de "trans-
Observa-se, assim, que o sistema de in-                    ideológicos e persuasivos possam situar-       ferência de informação" formas diretas e
formação seria institucionalizado no domí-                 se ao mesmo nível do controle/acesso à         indiretas (ou "formais") de comunicação e


                                                                                                               Ci. Inf., Brasília, 19(2): 117-22, jul./dez. 1990
O objeto de estudo da Ciência da Informação: paradoxos e desafios

transmissão de informação, assim como                      do ser social. Esse conjunto, definido em       ações de informação resultantes da mon-
situações planejadas e não planejadas de                   termos substantivos (como recursos e ob-        tagem de um banco de dados sobre espé-
distribuição dos recursos de conhecimen-                   jetos disponíveis de satisfação de deman-       cies botânicas que modificaram o "am-
to. Ao mesmo tempo, exclui as orientações                  das), será colocado em jogo nas nego-           biente de informação" da comunidade dos
práticas e valorativas dos atos de comuni-                 ciações, nas lutas distributivas e nas          biólogos e da indústria farmacêutica, por
cação, restringe os processos de conhe-                    ações reivindicativas dos atores sociais,       exemplo).
cimento na busca de "estruturas generali-                  procurando cada uma das partes reformu-
zadas que permitam aperfeiçoar seu con-                    lar as definições do conjunto de necessi-        Ao mesmo tempo, outras conseqüências
trole e redefinir o 'segmento r' da recupe-                dades legitimas e de critérios de priorida-      resultam do acoplamento de uma prática
ração da informação e equipara "estado                     des que orientaram sua satisfação.              ou ação de informação sobre um proces-
anômalo de conhecimento" com "neces-                                                                        so, ação ou acontecimento de uma outra
sidades de informação", sendo que o pri-                   Qual é o horizonte "obrigatório" de aten-       ordem ou qualidade (político, técnico,
meiro conceito seria uma "síntese" dos di-                 dimento às necessidades e demandas de           econômico, educacional etc.). A infor-
ferentes aspectos que produzem uma ne-                     informação sobre o qual o Estado e a so-        mação, com efeito, nunca se contém a si
cessidade de informação que é, enquanto                    ciedade civil brasileira negociam a alo-        mesma, sempre se desdobra e é trans-
tal, "inespecificável"18.                                  cação de recursos públicos? Quais são os        cendida por outra ordem de fenômenos,
                                                           procedimentos e os agentes a partir dos         ações ou coisas acerca do que informa a
Wilson19 iria mais longe, num outro senti-                 quais fica instaurado aquele horizonte de       informação. Enquanto a informação é in-
do: estuda a esfera motivacional dos agen-                 necessidades e demandas?                        formação contextualizada, é também e
tes de informação, formula o princípio de                                                                  sempre informação de alguma coisa que
uma abordagem contextualizada da infor-                    É claro que nenhum mecanismo r de recu-         na maior parte das vezes não é infor-
mação e aborda questões metodológicas                      peração de informação, por inovador e "in-      mação ("mundos" biológicos, econômi-
originadas pela expansão do domínio da                     teligente" que seja, pode alterar a estrutura   cos, culturais, "visuais" etc.).
pesquisa.                                                  do horizonte político e interpretativo que
                                                           estipula finalmente que informação possui       E é esse "desencontro" da informação
Em primeiro lugar, uma necessidade de in-                  valor, para quem, de quem, como, ou, sim-       com ela mesma, o fato de que ela pode
formação se constitui a partir de outras                   plesmente: "quando é o caso em que a in-        doar uma "alteridade" a uma teia auto-su-
necessidades originadas nos diferentes                     formação é o caso".                             ficiente de significados - a custa de per-
"contextos" da experiência e da ação, a                                                                    der-se e recriar-se constantemente como
partir do contexto físico e biológico, dos                                                                 forma do alter, o que fica aberto nos jogos
contextos do trabalho, sociais, políticos                   A CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO:                       substantivos das narrativas, como fluxos
etc. Se generalizamos sua afirmação,                        DEMARCAÇÃO DE UM OBJETO,                       de dados e experiências de texturas intri-
teríamos o princípio do enfoque "contex-                    INSTAURAÇÃO DE UM PONTO DE                     cadas.
tual" da informação: toda prática ou ação                   VISTA?
de informação acontece no contexto de                                                                      Isso é, também, o pretensamente contro-
                                                           O que constituiria um domínio da Ciência        lado, "fechado", "empacotado" pela
uma outra ação.
                                                           da Informação não seria, conforme esta          indústria da informação. De fato, o produto
                                                           análise, a qualidade de um campo de             da indústria da informação (conjunto auto»
Wilson inclui de certa forma e supera a
                                                           fenômenos de informação (informação             contido de meta-informação/informação)
abordagem cognitiva, dado que as neces-
                                                           científica, informação tecnológica, infor-      acena com as possibilidades de apro-
sidades de qualquer ordem (cognitivas,
                                                           mação para a cidadania), mas a instau-          priação de vastos territórios de alteridade,
afetivas, de segurança etc.) poderiam
                                                           ração de um "ponto de vista" que recorre        com um mínimo de esforço: observação,
"deslanchar" comportamentos de "busca
                                                           a uma ampla zona transdisciplinar, com          interpretação, seleção, organização, su-
de informação"20.
                                                           dimensões físicas comunicacionais, cogni-       marização, interrogação e respostas já fo-
                                                           tivas e sociais ou antropológicas.              ram realizadas antes de nossa inter-
O pensamento de Wilson fica limitado,                                                                      venção, substituindo num único jogo
porém, pela orientação "uso" da infor-                     Esse "ponto de vista" não teria como ob-        simbólico todos os infinitos jogos e
mação, deixando de lado a geração, e pela                  jeto a informação e suas especificações,        pragmáticas possíveis. Pareceria assim
ênfase no sujeito individual, esquecendo                   mas antes as pragmáticas sociais de in-         que, ao alcançar o máximo de poder como
os fenômenos coletivos de informação ou                    formação, ou, dito em termos mais               insumo e como produto final da indústria
as "interpenetrações" do poder, o conhe-                   freqüentes, a meta-informação e suas re-        da informação, fica ameaçada sua potên-
cimento e a comunicação. Falta, aliás,                      lações com a informação21. Esse "obje-         cia (dynamic), que o ser humano já encon-
maior discussão do conceito mesmo de                        to" da Ciência da Informação não seria lo-     trara disponível em seu ser no meio do
"necessidade", aceito em sua ambigüida-                     go uma "coisa" ou uma "essência" de             mundo, aberto às diversidades e diversões
de de "sentimento subjetivo de carência"                    uma região de fenômenos, mas um conjun-         em que o nós, os outros e o alter se en-
e de "dever ser", facilitando uma leitura                  to de regras e relações tecidas entre agen-      contram e transcendem em infinitas justa-
"naturalizadora" das necessidades.                         tes, processos e produções simbólicas e          posições e desencaixes.
                                                           materiais.
Necessidades/carências só têm existên-                                                                     A pesquisa em Ciência da Informação, as-
cia social a partir das interpretações cultu-               É a possibilidade de realizar "ações de        sim como desenvolvimento de recursos e
rais e coletivas, que de fato sustentam sua                 segundo grau" (o que denominamos               equipamentos e infra-estruturas adequa-
manifestação nas formas individuais do                      "ações de informação") sobre processos         dos, realizar-se-á nesses campos de re-
querer ou desejar.                                          de comunicação e conhecimento, o que ê         conhecimento recíproco de um valor infor-
                                                            inicialmente tematizado na constituição de     macional, onde os atores, legitimados co-
Existiria, assim, um conjunto de "carên-                    uma área de estudo em tomo da infor-           mo parceiros na definição do quantum in-
cias" socialmente definidas que formam o                    mação.                                         formacional da sociedade brasileira, orga-
horizonte maior das obrigações mútuas                                                                      nizaram seus jogos estratégicos ou articu-
das partes envolvidas e que dão seu "con-                   isso implica, por um lado, o desdobramen-      latórios (o Estado, a iniciativa privada, os
teúdo" a regras de reciprocidade em que                     to das atividades de informação em seus        cientistas e profissionais dos diferentes
se articulam as diferentes manifestações                    campos de intervenção (assim como as            segmentos das atividades de informação).


Ci. Inf, Brasília, 19(2): 117-22, jul./dez. 1990
O objeto de estudo da Ciência da Informação: paradoxos e desafios

O horizonte político e cultural de definição               REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E NOTAS                       10. APEL, O.K. Lenguage y verdad en la situación
dos valores de informação não se esgota,                                                                                   actual de la filosofia. In: Cuademos de Fi-
                                                             1. TOURAINE, Alaln. Palavra e Sangue. São                     losofia. Universidad Nacional de Rosário,
porém, nas participações dos níveis go-                           Paulo: Trajetória Cultural; Campinas: Edi-               1962.
vernamentais e empresariais.                                      tora Unicamp, 1989.
                                                                                                                    11. AUSTIN, D. PRECIS, a manual of concept
Se a tendência é a de constituição de um                    2. LACLAU, Ernesto. The politics and limits of                analysis and subject indexing. Outras Re-
                                                                    Modernity, In: ROW, Andrew (Ed.).                      ferências, em: DYM, E. O. Subject and In-
campo orientado para a indústria da infor-
                                                                    Universal abandon? The politics of                     formation Analysis, New York, Mareei
mação, caberá quiçá à Universidade esta-                            post-modernism. Minneapolis, Univ. of                   Dekker, 1985.
belecer-se como espaço onde a infor-                                Minnesota Press, 1988. Para Renato
mação mantenha-se aberta a seus contex-                             Ortiz, se o capitalismo como sistema            12. HABERMAS, J. Conhecimento a Interesse.
tos de desdobramentos, situando-se em                               econômico precedeu à modernização das                  Rio, Zahar, 1982.
                                                                    esferas institucionais, hoje o Brasil estaria
campos de orientação interdisciplinar e                             incluído na tradição da modernidade.            13. HABERMAS, J. Theory of Communicative Ac-
transdisciplinar, e onde a pesquisa ofereça                         ORTIZ, Renato. A moderna tradição                     tion. v.1. Reason and the rationalization of
oportunidades teóricas e instrumentais às                           brasileira. São Paulo, Brasiliense, 1988.              society. Boston, Beacon Press, 1984.
definições alternativas de valor de infor-
                                                            3. A aceitação da "dualização" temporal implica-        14. LYOTARD, Jean-François. O Pós-moderno.
mação, propostas pelos atores sociais em                       ria aceitar que todos nossos "textos" (discur-             Rio de Janeiro, José Olympio, 1986.
esferas deliberativas e interpretativas                        sos culturais, políticos, científicos) tenham co-
abrangentes, incluindo setores da socie-                       mo metatexto regulador o discurso já "finali-        15. THIOLHENT, M. Crítica da racionalidade e
dade civil e suas expressões organizadas.                      zado" dos países de industrialização mais                   reavaliação das tecnologias. Educação e
                                                               avançada, cf. AHMAD, A. Jameson's rhetoric                  Sociedade, São Paulo, Cortez: Autores
                                                               of othemess and the "National Allegory". So-                Associados, 2(7): 63-88,1980.
                                                               cial Text, 15:65-88,1986.
                                                                                                                    16. LYYTINEN, K. J. & KLEIN, H. K. The critical
                                                            4 O modelo é uma simplificação do apresentado                   theory of Jurgen Habermas as a basis for a
                                                              por WILSON, T. D. On user studies and                         theory of Information Systems. In: MUN-
                                                              Information needs. In: Journal of                             FORD, E. et alii (Eds.) Research Methods
                                                              Documentation, 37(1):3-15, March 1981.                       In Intormation Systems. Amsterdam, Nor-
                                                                                                                           th-Holhand, 1985.
                                                            5. FLYNN, R. R. An introduction to Information
                                                                    Science. New York, Marcel Dekker Inc,           17. BELKIN, N. Anomalous states of knowledge as
                                                                    1987, p. 315.                                           a baste for Information Retrieval, The Ca-
                                                                                                                            nadian Journal of Information Science,
                                                            6. ROBERTSON, S. E. Between aboutness and                       5:133-143, May 1980.
                                                                 meaning. In: MacCAFFERTY, M. &
                                                                 GRAY, K. (Eds.) The analysis of meaning:           18. BELKIN, N. Op. cit. Ver também: – . Cognitive
                                                                 Informatics 5. London, Aslib, 1979, p.                    Models and Information Transfer. In: So-
                                                                 202-205, p. 204.                                          cial Science       Information    Studies,
                                                                                                                           4:111-29,1984.
                                                            7. WILSON, T. D., opus cit, p.4.
                                                                                                                    19. WILSON, T. D. Op. cit.
                                                            a OFFE, C. Razão e Política. (Entrevista de
                                                                 Claus OFFE). Lua Nova, 59:81 -106, nov.            20. WILSON, T.D. Op, cit, p. 9-10.
                                                                 1989.
                                                                                                                    21. SCHREIDER, Jr. A. The Intuitive and lógica!
                                                            9. cf. RITCHIE, D. Shanon and Weaver:                         componente In the creative process in
                                                                    unravelling the paradox of Information.               Science and Technology. In: Theoretical
                                                                    Communication Research, 13(2):278-298,                Problems of lnformatics. FlD 568. Moscow,
                                                                    April 1986. GOFFMAN, Willian. On                       1979. Ver também: ZUNCS, Pranas. Em-
                                                                    information retrieval system. In: RAWSKI,              pirical laws and theories of Information and
                                                                    C. Toward a theory of Librarianship. New               Software Sciences, Information Processing
                                                                    Jersey, Scarecrow Press, 1973.                        & Management 20(12):5-18, 1984, entre
                                                                                                                          outros.




The study's goal of Information
Science: paradoxes and challenges

Abstract

The identification of Information Science as a
subject should not be donne by a qualitative
specification of information facts, but through a                                                                   Maria Nélida González de Gomez
"point of view" that organizes a transdisciplinar                                                                   Mestre em Ciência da Informação pela Escola d
dorna/a This point of view asserts that the relation                                                                Comunicação (ECO) da UFRJ, doutoranda en
between a social pragmatic of Information (or                                                                       Comunicação. Professora da Pós-Graduação en
"meta-information")and the words of life, action,                                                                   Ciência da Informação/lBlCT em convênio com
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                                                                                                                          Ci. Inf., Brasília, 19(2):117-22, jul./dez. 1990

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  • 1. ARTIGOS O objeto de estudo da Ciência da Informação: paradoxos e desafios Maria Nélida González de Gomez Uma das "chaves" de compreensão do orientações de pesquisas recorrem às al- momento atual pareceria ser o conceito de ternativas das diversas narrativas da mo- "modernidade", ainda que usado com dife- dernidade, ora na forma das dualizações rente sentido e em contextos também he- históricas, ora na forma dos paradoxos terogêneos. culturais. A "modernidade" serve, em certos casos, O ponto de partida seria revisar as am- para caracterizar negativamente países ou pliações da "retomada da modernidade", setores colocados no estatuto duma "mo- lembrando de que modo a informação in- dernidade irrealizada", sendo que o con- corporou-se no escopo da modernidade. ceito teria que ser interpretado em termos Três idéias "paradigmáticas" indicariam de suas "potencialidades", como "moder- essa incorporação: o sistema de recupe- nização"1. ração da informação, as novas tecnologias de comunicação e informação, a ênfase na "Modernidade", em outros casos, designa informação cientifica e tecnológica - a par- aquilo a ser superado ou já transcendido, tir da valorização da ciência como "força conforme a expectativa de países e seto- produtiva". res onde o projeto da modernização parcial ou totalmente realizado os deixara frente a novas encruzilhadas, levando-os a buscar A MODERNIZAÇÃO E O SISTEMA DE novas lógicas institucionais e culturais, RECUPERAÇÃO DE INFORMAÇÃO agora no caminho duma "pós-modemida- de"2. A expansão da racionalidade moderna Colocados na historicidade em sociedades operaria através de mecanismos que lhe onde encontramos situações dos dois ti- são característicos, como os procedimen- pos, defrontamo-nos de modo quase per- tos de "homogeneização". Assim, o con- manente com um paradoxo radicai. Se por ceito de "método" é usado como princípio um lado existiria uma dualização entre construtor e homogeneizador do campo formas "tradicionais" e "modernas" de cientifico, enquanto lógica unificadora das orientação da ação social (dentro do tema práticas de pesquisa. O conceito de "sis- da modernidade irrealizada), ou uma duali- tema", posteriormente, operaria sobre a zação entre as metas de modernização e segmentação do universo dos fenômenos Resumo as expectativas de sua superação (dentro nas diversas disciplinas, oferecendo um do tema da "pós-modernidade"), o para- modelo homogeneizador para a cons- A Ciência da Informação não se Identificaria pela trução analógica dos objetos no campo doxo não consistiria propriamente na dua- especificação qualitativa de uma ordem de fenômenos de Informação como sendo seu objeto, lizaçáo, mas no fatum de nossa absoluta das ações de "pesquisa e desenvolvimen- mas pela Instauração de um "ponto de vista" contemporaneidade - obscurecida por to". organizador de um domínio transdisciplinar. Esse aqueles paradigmas dualizadores da tem- ponto de vista afirma a relação entre uma poralidade3. O sistema de informação, nesse quadro, pragmática social de informação (ou emergeria como modelo "homogeneiza- "meta-informação") e os "mundos" de vida, de ação, de conhecimento, agindo na construção dos A construção de um objeto de estudo da dor" de um domínio plural de ações de in- valores de informação. Ciência da Informação e a definição de formação, muitas já institucionalizadas (bi- Ci. Inf., Brasília, 19(2): 117-22, jul./dez. 1990
  • 2. O objeto de estudo da Ciência da Informação: paradoxos e desafios bliotecas, arquivos, centros de documen- tação etc.), outras incipientes e a serem formalizadas a partir do novo conceito sistêmico da ação de informação (na or- dem administrativa, financeira, cultural etc.) Para destacar o caráter de "intervenção" intencional das ações sistêmicas de infor- mação no contexto de outras práticas so- ciais, escolhemos a denominação de "sis- tema formal intermediário de recuperação da informação". O "sistema" resulta de uma ação inten- cional, planejada sobre um processo de comunicação de conhecimentos que nor- malmenfe lhe precede. Sua Intervenção realiza-se como antecipação modelizadora do que seria um fluxo desejável de infor- mação entre os dois pólos de geradores e usuários, ao qual se procura otimizar por meio do controle sistêmico de diferentes Variáveis do processo (geração, coleta, armazenagem, organização, represen- tação, recuperação, disseminação). Considera-se esse sistema "formal" em dois sentidos. Primeiro, por ser institucio- nal, ou seja, sujeito a regras e a proces- sos de legitimação, à definição de uma "ju- risdição" para o exercício de sua função dentro do contexto institucional mais am- plo, e identificável por suas funções, servi- Um dos principais campos de pesquisa mação abreviaria a terminalidade de sua ços, produtos e destinatários no contexto nessa área tem sido o segmento r (figu- intervenção, através da expressão pontuai de outras agendas de ação informativa. ra 1), que representa os mecanismos de desses objetivos: "o contato do usuário recuperação de informação e suas refor- com a fonte". Estudos atuais que falam Segundo, devido a que trabalha no domínio mulações pelas novas tecnologias. A re- dos sistemas de recuperação de infor- da comunicação formal, com registros de lação entre esse mecanismo e o sistema mação como "auxiliares" dos sistemas de conhecimentos ou registros de dados e chega em alguns casos a ser de plena conhecimento sustentariam pontos de vis- com registros de seus próprios instrumen- coincidência: ta semelhantes6. tos e rotinas. Limitar a função sistêmica à recuperação Denomina-se também "intermediário", por de uma fonte ou a uma função auxiliar ofe- tratar-se da iniciativa de um agente ou receria, porém, apenas uma solução apa- agencia que, ao intervir (através da ação rente. Ó sistema institucional de infor- informacional) com uma proposta modela- mação só pode negar sua origem social, dora sobre as "formações discursivo-infor- sua interligação com processos comuni- macionais de outros contextos de ação, cacionais-cognitivos, na medida em que já converte-se numa mediação produtiva nasce "prenhe" de uma referência subs- entre os sujeitos participantes em tantiva a um contexto específico sócio-cul- sua execução e a realização efetiva da- tural, oculto enquanto formalizado em ter- quela ação, condicionando assim seu de- mos de definições sistêmicas. Existiria, porém, uma zona de "tensão" no sempenho e a obtenção de seus objetivos domínio funcional do sistema. Sendo do al- O contato da fonte com o usuário, para (figura 1). cance do sistema o domínio de suas va- partir da fórmula já clássica, acontece, de riáveis controladas, só seria possível fato, a posteriori de um julgamento ante- equacionar sua função de "otimização de cipado de relevância, que acontece um processo de informação" em sua inte- quando o usuário escolhe ou aceita um rioridade e conforme os "filtros" resultan- item de informação (documento, referên- tes da linguagem e as representações cia, dado), a partir de uma "oferta" do sis- sistêmicas. Ao mesmo tempo, a realização tema igualmente organizada pelas expec- de sua função só se completa num contex- tativas sistêmicas de pertinência e re- to) de ação que lhe é externo e tem seus levância. próprios "jogos" de linguagem e represen- tação com os quais constrói suas próprias dinâmicas de informação. De fato, um "julgamento antecipado" da relevância da informação para um usuário Uma das primeiras definições dos objeti- precede como premissa maior organizado- vos do sistema de recuperação de infor- ra da própria constituição do sistema. 118 Ci. inf., Brasília, 19 (2):117-22,jul./dez. 1990
  • 3. O objeto de estudo da Ciência da Informação: paradoxos e desafios Nesse sentido, a intervenção técno-admi- ciais, comunicacionais e cognitivos onde a A instância lingüística é, porém, só uma nistrativa de um agente no processo co- informação emerge como um de seus re- das dimensões dos processos de infor- municacional-cognitivo-decisional de ou- cortes possíveis, mas, sem esgotar ne- mação, os quais incluem as relações cog- tros agentes estaria assentada numa es- nhum deles. nitivas com os mundos de referência e as trutura recíproca de reconhecimento de um relações sociais entre interlocutores e fa- "valor informacional", valor consensual A comunicação direta, interativa, em diver- lantes, que colocam perguntas muito além que legítima e serve de "solo" às trocas sas situações e contextos, assim como no dos contextos lineares e "textuais" do es- entre o usuário e o sistema. contexto das diversas formas de produção truturalismo. Tomando de empréstimo a do conhecimento (conhecimento científico, terminologia de Chomsky, sem que impli- Qualquer que seja a modelização do sis- tecnológico, prático, político, artesanal etc.) que a adesão a suas premissas, poder- tema, o mesmo deverá sustentar-se numa formariam parte do campo fenomenológico se-ia afirmar que uma prática ou ação de reciprocidade normativa entre os atores dos estudos de informação, como conhe- informação implica, além de "competên- sociais que partilham o processo e as ati- cimento propedêutico e transdisciplinar, cias lingüísticas", outras "competências" vidades de recuperação da informação, sobre o qual se construiriam outros co- cognitivas e comunicacionais, sempre par- com respeito ao "valor informacional", nhecimentos sobre a comunicação indireta ticularizadas no exercício de atores que as mas também com respeito a outros valo- (por meio de registros) acerca da potencia- praticam sob as regras das lógicas sociais res e normas que propiciam a realização lização de funções informacionais dos ca- de solidariedade ou de conflito. desse valor informacional e que constitui- nais (transmissão, armazenamento, trans- riam uma "pragmática normativa" da ge- formação) ou, ainda, acerca das esferas Numa outra forma de apresentação des- ração e uso de informação. da comunicação especializada (comuni- sas interligações, mais na tradição de cação cientifica, tecnológica etc.) Wittgenstein, tende-se a expandir a própria Essa reciprocidade de fins e valores, longe noção de "linguagem" ou "discurso". Pa- de estar "naturalmente" estipulada numa De fato, de Shanon, Weaver a Garvey, ra Habermas, ontologia funcionalista, estabelece-se em passando por Goffman, acreditou-se sem- processos discursivos no quadro de re- pre na necessidade de definir um modelo de comunicação que ofereceria o arca- "Uma gramática dos jogos de lingua- lações sociais, e nela a Intermediação ins- bouço teórico sobre o qual se projetariam gem entrelaçar símbolos, ações e ex- titucional' da comunicação do conhecimen- as leituras descritivas ou técnicas da in- pressões; ela fixa os esquemas de to obtém sua identidade e legitimidade co- formação9. apreensão, da mundividência e da inte- mo agente organizacional, capaz de interfe- ração". rir nos fluxos significativos de informação Trata-se, agora, de mudar o olhar, colo- "A realidade constitui-se na moldura de que acontecem em outros contextos de in- cando o processo de comunicação num uma forma de vida exercida por grupos, terlocução. campo conceituai mais amplo, que inclua que se comunicam e organizada nos as condições culturais, históricas, sociais termos da linguagem ordinária"12. A ruptura do princípio de reciprocidade7 e suas expressões normativas, por uma as- dos processos de informação, condições simetria qualquer (imposição de cima para estas quase sempre consideradas como baixo, utilização de modelos não internali- "fatores externos" que alterariam a poste- zados pela comunidade de uso da infor- riori as "aplicações" ou a "distribuição" Para o mesmo Habermas, porém, a ex- mação, a não "inteligibilidade" do sistema dos produtos do conhecimento/informação pansão de mecanismos da racionalidade pela ausência de relações de interlocução já construídos. Pretende-se, pelo contrário, técnico-instrumental nos domínios da co- entre todas as partes envolvidas) ou pela que as condições sociais e as matrizes municação e da linguagem levaria à dete- ausência de um ato fundacional e discursi- comunicacionais constituam parte das riorização dessa complexa unidade cultu- vo que coloque o sistema num horizonte condições iniciais de geração e uso de co- ral que seria um agenciamento coletivo de de legitimidade e reconhecimento, inibi- nhecimento/informação. ação e de discurso e seus mundos de vi- ria o desempenho do sistema por mais da. Isso aconteceria como produto da co- bem desenvolvido que fosse o segmento Uma discussão já clássica na filosofia da lonização que a ação racional-técnica rea- 10 r dos mecanismos ou tecnologias de recu- linguagem pode contribuir para dar maior liza sobre os espaços substantivos de sua peração. "visibilidade" às questões aqui levanta- intervenção: a linguagem se separa da in- das. Trata-se da indagação nas relações teração; a atividade técnica, da comuni- entre as linguagens cotidianas, faladas e cação; a experiência biográfica de cada Para Habermas8, as intervenções técni- transmitidas espontaneamente nas comu- um, de uma definição padronizada de mo- co-administrativas não são "produtoras de nidades históricas (ditas "linguagens natu- delos operacionais. sentido", mas bem reformulam, controlam rais") e as linguagens especializadas, ar- ou "gerenciam" um "sentido" construído tificiais e as "metalínguagens", que, em Para Benjamin, a informação se constitui nos "mundos" da vida e da ação, por princípio, sempre pressupõem as primei- como uma "ferida" nas formas narrativas agentes históricos e sociais. A adminis- ras. da comunicação e do saber, da qual tração e a reformulação técnica da comu- é "separada" numa ação técnico-instru- nicação e da informação seriam sempre Um impacto dessa questão sobre as tec- mental. Nas narrativas ou "relatos" o construções derivativas, de "segundo nologias da informação ficaria bastante transmitido não se destaca como "algo em grau", operacionalizadas sobre os mode- evidente, se pensarmos nos investimentos si", independente do narrador e do ouvinte: los normativos de interpretação do real e feitos na área para desenvolver modelos o enunciado é parte da vida do narrador e as produções de sentido de parceiros in- de processamento os mais próximos se constitui em parte da experiência dos terlocutores. possíveis à "linguagem natural", sendo interlocutores. que a "linguagem natural" estabeleceria TECNOLOGIA X COMUNICAÇÃO? algo assim como uma linha de "fronteira", Considera-se de interesse, porém, explo- indicando, por um lado, a direção do avan- rar um caminho, presente no próprio Ha- Consideramos, logo, que o saber teórico e ço da pesquisa e, por outro, indicando bermas13, colocando-se a ênfase não na tecnológico na área de informação só po- o "solo" ou a linha de referência à qual própria tecnologia, mas nas relações das deria constituir-se na medida em que ma- sempre estariam voltadas as conquistas tecnologias com os quadros institucionais pear com igual ênfase os processos so- do setor11. de sua instrumentalização. Ci. Inf., Brasília, 19(2):117-22, jul./dez. 1990
  • 4. O objeto de estudo da Ciência da Informação: paradoxos e desafios A "ruptura" da informação com os "con- nio estratégico e instrumental de ações informação. Ações pedagógicas e he- textos narrativos ou de interlocução não "orientadas à obtenção de sucesso". No gemônicas sobre a circulação social no aconteceria pelo intervalo tecnológico" in- melhor dos casos, tratar-se-ia de uma es- discurso, assim como as ações técni- troduzido como "distanciamento" entre o tratégia "aberta", cujas regras do cálculo cas/administrativas de recuperação de in- ato de enunciação de um agente e seu de eficácia são explícitas, mas onde, pela formação, instalam-se nessa "dupla articu- produto semiótico-informacional, converti- própria definição da "jurisdição" do siste- lação" dos fenômenos de Informação. E é do agora em "coisa", commodity, "regis- ma, atende-se de maneira diferenciada e essa exigência da existência conjunta de tro". Tratar-se-ia, antes, da ruptura das particularizada umas comunidades de uma pragmática social (ou uma formulação regras pragmáticas que são idealizadas usuários de informação e não a outras, histórica da meta-informação), junto com na interação comunicativa entre pares e nos termos de um jogo competitivo de um universo substantivo de experiência ou sobre as quais se sustentaria a socialida- "soma zero"16. As perspectivas tecnoló- conhecimento - como condições de de cotidiana. São regras assentadas na gicas de jogos de informação de "soma existência de informação, o que impede confiança de que é possível e desejável fa- não zero", sem ganhadores nem excluí- identificar a informação com um "registro", lar com sinceridade, falar acerca de algum dos, defrontam-se com as "barreiras" das como "coisa" ou "entidade". referente objetivo e verificável, falar dentro formas institucionais atuais, orientadas pa- de uma ordem normativa legitimada pelo ra a centralização e com práticas regula- Belkin, em sua teoria dos "estados anô- grupo de interlocução, falar, de fatot de res de exclusão. malos de conhecimento", resgata, numa modo a ser entendido por todos. Se não ótica "cognitivista", essa dualidade, anali- existe nenhuma expectativa sobre a acei- Novamente, nem o saber nem a tecnologia sada a partir das relações e distâncias en- tação recíproca dessas regras, não exis- de informação poderiam alargar seus es- tre "texto-informação". tirá comunicação, não existirá "fluxo" de paços de experimentação e de transfor- informação. Para Habermas, essas regras mação, se não estivessem ancorados, por Belkin reúne, sob o conceito de trans- são básicas e comuns à definição formal sua vez, numa vontade de mudança dos ferência de informação, um conjunto de de todo jogo de linguagem. Para outros, quadros institucionais, em direção a for- práticas e ações de informação, institucio- como Lyotard, existiriam múltiplas regras e mas mais eqüitativas e democráticas de nalizadas ou não, que interferem entre a jogos de linguagem e informação14. geração e acesso à informação. produção de um recurso de conhecimento e sua transformação em informação, ge- Nesse quadro de análise, um dos proble- Teria que se experimentar de que maneira rando um novo estado de conhecimento mas principais em matéria de informação a constituição de esferas consultivas e de- num receptor. O processo iniciar-se-ia não estaria no plano tecnológico, mas no liberativas, alargando os espaços comuni- numa "situação problemática" onde entra- plano das normas, regras e obrigações cacionais onde possa articular-se o dis- riam em confronto uma ordem de coisas recíprocas que orientam as práticas e curso interpretativo das partes envolvidas, num dos mundos de vida, com o "equipa- ações de informação. Uma "pragmática daria lugar a novas formas de diálogo entre mento de respostas" que um agente pos- social" da circulação da informação defini- as comunidades de interlocução e de uso sui para lidar com ela, que seria insuficien- ria, em seus quadros normativos, os uni- da informação, e suas assessorias técni- te para orientar sua ação. A "situação pro- versos disponíveis de informação e seus cas, tendendo à elaboração consensual de blemática" geraria uma "anomalia" no es- fluxos "legítimos". A eficácia de uma significados sociais e disposições norma- tado ou consciência cognitiva do agente e "ação de informação", nesse caso, de- tivas capazes de orientar os fluxos de- detonaria uma "busca de informação". In- penderia de procedimentos articulatórios sejáveis de informação. formação essa a constituir-se na relação de caráter comunicacional, incluindo a re- entre um corpus de textos disponíveis e formulação participativa de campos de Outra indagação ficaria, finalmente, em um outro "texto" que expressaria um "es- significados, ao menos tanto quanto de aberto: qual seria a eficácia de processos tado anômalo de conhecimento". Trata-se procedimentos técnicos e da ordem admi- inovadores de "semioses" na ordem do de um modelo polarizado de geradores-re- nistrativa, que operariam no plano subordi- poder? ceptores, onde o gerador codifica um valor nado dos meios. informacional a partir da articulação de um "estado de conhecimento" com um "ato Um outro problema seria a modernização OUTROS DESAFIOS: A "DUPLA de enunciação": o texto (figura 2). dos meios e a atualização do horizonte ARTICULAÇÃO" E A material de alternativas que orientam as "CONTEXTUALIDADE" DOS escolhas. Uma sociedade, um grupo, tem FENÔMENOS DE INFORMAÇÃO o direito de dispor dos melhores instrumen- tos e a máxima diversidade de bens exis- O objeto de estudo da Ciência da Infor- tentes em sua cultura, sob um princípio ini- mação ficaria instalado nessa "dobra" da ciai de equidade. cultura ocidental pela qual o homem co- nhece e intervém em suas próprias pro- Lida-se, agora, não com a falta de con- duções de conhecimento e interações dis- dições materiais ou sociais para assumir cursivas, de modo que toda informação se os modelos da modernidade, mas com li- constitui no campo de uma meta-infor- mites que a própria modernidade coloca, mação, onde se encontram as "chuvas" contraditoriamente, às suas mais altas de sua geração, seu acesso, sua decodifi- ilusões iluministas. Com efeito, a socieda- cação. de industrial capitalista só realiza suas ex- Existiriam, assim, operações "meta-infor- pectativas de racionalidade em segmentos particularizados e limitados da cadeia macionais" capazes de construir um valor de informação, tais como a sumarização O cognitivismo, apresentado por Belkin, "meio-fim"15 sem considerar os impactos na realização de uma função de memória possui algumas vantagens e restrições. de suas políticas técnicas na ordem global ou a classificação numa função de organi- Por um lado, diferencia o registro da infor- das sociedades e da natureza planetária. zação; provavelmente procedimentos mação, inclui sobre o conceito de "trans- Observa-se, assim, que o sistema de in- ideológicos e persuasivos possam situar- ferência de informação" formas diretas e formação seria institucionalizado no domí- se ao mesmo nível do controle/acesso à indiretas (ou "formais") de comunicação e Ci. Inf., Brasília, 19(2): 117-22, jul./dez. 1990
  • 5. O objeto de estudo da Ciência da Informação: paradoxos e desafios transmissão de informação, assim como do ser social. Esse conjunto, definido em ações de informação resultantes da mon- situações planejadas e não planejadas de termos substantivos (como recursos e ob- tagem de um banco de dados sobre espé- distribuição dos recursos de conhecimen- jetos disponíveis de satisfação de deman- cies botânicas que modificaram o "am- to. Ao mesmo tempo, exclui as orientações das), será colocado em jogo nas nego- biente de informação" da comunidade dos práticas e valorativas dos atos de comuni- ciações, nas lutas distributivas e nas biólogos e da indústria farmacêutica, por cação, restringe os processos de conhe- ações reivindicativas dos atores sociais, exemplo). cimento na busca de "estruturas generali- procurando cada uma das partes reformu- zadas que permitam aperfeiçoar seu con- lar as definições do conjunto de necessi- Ao mesmo tempo, outras conseqüências trole e redefinir o 'segmento r' da recupe- dades legitimas e de critérios de priorida- resultam do acoplamento de uma prática ração da informação e equipara "estado des que orientaram sua satisfação. ou ação de informação sobre um proces- anômalo de conhecimento" com "neces- so, ação ou acontecimento de uma outra sidades de informação", sendo que o pri- Qual é o horizonte "obrigatório" de aten- ordem ou qualidade (político, técnico, meiro conceito seria uma "síntese" dos di- dimento às necessidades e demandas de econômico, educacional etc.). A infor- ferentes aspectos que produzem uma ne- informação sobre o qual o Estado e a so- mação, com efeito, nunca se contém a si cessidade de informação que é, enquanto ciedade civil brasileira negociam a alo- mesma, sempre se desdobra e é trans- tal, "inespecificável"18. cação de recursos públicos? Quais são os cendida por outra ordem de fenômenos, procedimentos e os agentes a partir dos ações ou coisas acerca do que informa a Wilson19 iria mais longe, num outro senti- quais fica instaurado aquele horizonte de informação. Enquanto a informação é in- do: estuda a esfera motivacional dos agen- necessidades e demandas? formação contextualizada, é também e tes de informação, formula o princípio de sempre informação de alguma coisa que uma abordagem contextualizada da infor- É claro que nenhum mecanismo r de recu- na maior parte das vezes não é infor- mação e aborda questões metodológicas peração de informação, por inovador e "in- mação ("mundos" biológicos, econômi- originadas pela expansão do domínio da teligente" que seja, pode alterar a estrutura cos, culturais, "visuais" etc.). pesquisa. do horizonte político e interpretativo que estipula finalmente que informação possui E é esse "desencontro" da informação Em primeiro lugar, uma necessidade de in- valor, para quem, de quem, como, ou, sim- com ela mesma, o fato de que ela pode formação se constitui a partir de outras plesmente: "quando é o caso em que a in- doar uma "alteridade" a uma teia auto-su- necessidades originadas nos diferentes formação é o caso". ficiente de significados - a custa de per- "contextos" da experiência e da ação, a der-se e recriar-se constantemente como partir do contexto físico e biológico, dos forma do alter, o que fica aberto nos jogos contextos do trabalho, sociais, políticos A CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO: substantivos das narrativas, como fluxos etc. Se generalizamos sua afirmação, DEMARCAÇÃO DE UM OBJETO, de dados e experiências de texturas intri- teríamos o princípio do enfoque "contex- INSTAURAÇÃO DE UM PONTO DE cadas. tual" da informação: toda prática ou ação VISTA? de informação acontece no contexto de Isso é, também, o pretensamente contro- O que constituiria um domínio da Ciência lado, "fechado", "empacotado" pela uma outra ação. da Informação não seria, conforme esta indústria da informação. De fato, o produto análise, a qualidade de um campo de da indústria da informação (conjunto auto» Wilson inclui de certa forma e supera a fenômenos de informação (informação contido de meta-informação/informação) abordagem cognitiva, dado que as neces- científica, informação tecnológica, infor- acena com as possibilidades de apro- sidades de qualquer ordem (cognitivas, mação para a cidadania), mas a instau- priação de vastos territórios de alteridade, afetivas, de segurança etc.) poderiam ração de um "ponto de vista" que recorre com um mínimo de esforço: observação, "deslanchar" comportamentos de "busca a uma ampla zona transdisciplinar, com interpretação, seleção, organização, su- de informação"20. dimensões físicas comunicacionais, cogni- marização, interrogação e respostas já fo- tivas e sociais ou antropológicas. ram realizadas antes de nossa inter- O pensamento de Wilson fica limitado, venção, substituindo num único jogo porém, pela orientação "uso" da infor- Esse "ponto de vista" não teria como ob- simbólico todos os infinitos jogos e mação, deixando de lado a geração, e pela jeto a informação e suas especificações, pragmáticas possíveis. Pareceria assim ênfase no sujeito individual, esquecendo mas antes as pragmáticas sociais de in- que, ao alcançar o máximo de poder como os fenômenos coletivos de informação ou formação, ou, dito em termos mais insumo e como produto final da indústria as "interpenetrações" do poder, o conhe- freqüentes, a meta-informação e suas re- da informação, fica ameaçada sua potên- cimento e a comunicação. Falta, aliás, lações com a informação21. Esse "obje- cia (dynamic), que o ser humano já encon- maior discussão do conceito mesmo de to" da Ciência da Informação não seria lo- trara disponível em seu ser no meio do "necessidade", aceito em sua ambigüida- go uma "coisa" ou uma "essência" de mundo, aberto às diversidades e diversões de de "sentimento subjetivo de carência" uma região de fenômenos, mas um conjun- em que o nós, os outros e o alter se en- e de "dever ser", facilitando uma leitura to de regras e relações tecidas entre agen- contram e transcendem em infinitas justa- "naturalizadora" das necessidades. tes, processos e produções simbólicas e posições e desencaixes. materiais. Necessidades/carências só têm existên- A pesquisa em Ciência da Informação, as- cia social a partir das interpretações cultu- É a possibilidade de realizar "ações de sim como desenvolvimento de recursos e rais e coletivas, que de fato sustentam sua segundo grau" (o que denominamos equipamentos e infra-estruturas adequa- manifestação nas formas individuais do "ações de informação") sobre processos dos, realizar-se-á nesses campos de re- querer ou desejar. de comunicação e conhecimento, o que ê conhecimento recíproco de um valor infor- inicialmente tematizado na constituição de macional, onde os atores, legitimados co- Existiria, assim, um conjunto de "carên- uma área de estudo em tomo da infor- mo parceiros na definição do quantum in- cias" socialmente definidas que formam o mação. formacional da sociedade brasileira, orga- horizonte maior das obrigações mútuas nizaram seus jogos estratégicos ou articu- das partes envolvidas e que dão seu "con- isso implica, por um lado, o desdobramen- latórios (o Estado, a iniciativa privada, os teúdo" a regras de reciprocidade em que to das atividades de informação em seus cientistas e profissionais dos diferentes se articulam as diferentes manifestações campos de intervenção (assim como as segmentos das atividades de informação). Ci. Inf, Brasília, 19(2): 117-22, jul./dez. 1990
  • 6. O objeto de estudo da Ciência da Informação: paradoxos e desafios O horizonte político e cultural de definição REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E NOTAS 10. APEL, O.K. Lenguage y verdad en la situación dos valores de informação não se esgota, actual de la filosofia. In: Cuademos de Fi- 1. TOURAINE, Alaln. Palavra e Sangue. São losofia. Universidad Nacional de Rosário, porém, nas participações dos níveis go- Paulo: Trajetória Cultural; Campinas: Edi- 1962. vernamentais e empresariais. tora Unicamp, 1989. 11. AUSTIN, D. PRECIS, a manual of concept Se a tendência é a de constituição de um 2. LACLAU, Ernesto. The politics and limits of analysis and subject indexing. Outras Re- Modernity, In: ROW, Andrew (Ed.). ferências, em: DYM, E. O. Subject and In- campo orientado para a indústria da infor- Universal abandon? The politics of formation Analysis, New York, Mareei mação, caberá quiçá à Universidade esta- post-modernism. Minneapolis, Univ. of Dekker, 1985. belecer-se como espaço onde a infor- Minnesota Press, 1988. Para Renato mação mantenha-se aberta a seus contex- Ortiz, se o capitalismo como sistema 12. HABERMAS, J. Conhecimento a Interesse. tos de desdobramentos, situando-se em econômico precedeu à modernização das Rio, Zahar, 1982. esferas institucionais, hoje o Brasil estaria campos de orientação interdisciplinar e incluído na tradição da modernidade. 13. HABERMAS, J. Theory of Communicative Ac- transdisciplinar, e onde a pesquisa ofereça ORTIZ, Renato. A moderna tradição tion. v.1. Reason and the rationalization of oportunidades teóricas e instrumentais às brasileira. São Paulo, Brasiliense, 1988. society. Boston, Beacon Press, 1984. definições alternativas de valor de infor- 3. A aceitação da "dualização" temporal implica- 14. LYOTARD, Jean-François. O Pós-moderno. mação, propostas pelos atores sociais em ria aceitar que todos nossos "textos" (discur- Rio de Janeiro, José Olympio, 1986. esferas deliberativas e interpretativas sos culturais, políticos, científicos) tenham co- abrangentes, incluindo setores da socie- mo metatexto regulador o discurso já "finali- 15. THIOLHENT, M. Crítica da racionalidade e dade civil e suas expressões organizadas. zado" dos países de industrialização mais reavaliação das tecnologias. Educação e avançada, cf. AHMAD, A. Jameson's rhetoric Sociedade, São Paulo, Cortez: Autores of othemess and the "National Allegory". So- Associados, 2(7): 63-88,1980. cial Text, 15:65-88,1986. 16. LYYTINEN, K. J. & KLEIN, H. K. The critical 4 O modelo é uma simplificação do apresentado theory of Jurgen Habermas as a basis for a por WILSON, T. D. On user studies and theory of Information Systems. In: MUN- Information needs. In: Journal of FORD, E. et alii (Eds.) Research Methods Documentation, 37(1):3-15, March 1981. In Intormation Systems. Amsterdam, Nor- th-Holhand, 1985. 5. FLYNN, R. R. An introduction to Information Science. New York, Marcel Dekker Inc, 17. BELKIN, N. Anomalous states of knowledge as 1987, p. 315. a baste for Information Retrieval, The Ca- nadian Journal of Information Science, 6. ROBERTSON, S. E. Between aboutness and 5:133-143, May 1980. meaning. In: MacCAFFERTY, M. & GRAY, K. (Eds.) The analysis of meaning: 18. BELKIN, N. Op. cit. Ver também: – . Cognitive Informatics 5. London, Aslib, 1979, p. Models and Information Transfer. In: So- 202-205, p. 204. cial Science Information Studies, 4:111-29,1984. 7. WILSON, T. D., opus cit, p.4. 19. WILSON, T. D. Op. cit. a OFFE, C. Razão e Política. (Entrevista de Claus OFFE). Lua Nova, 59:81 -106, nov. 20. WILSON, T.D. Op, cit, p. 9-10. 1989. 21. SCHREIDER, Jr. A. The Intuitive and lógica! 9. cf. RITCHIE, D. Shanon and Weaver: componente In the creative process in unravelling the paradox of Information. Science and Technology. In: Theoretical Communication Research, 13(2):278-298, Problems of lnformatics. FlD 568. Moscow, April 1986. GOFFMAN, Willian. On 1979. Ver também: ZUNCS, Pranas. Em- information retrieval system. In: RAWSKI, pirical laws and theories of Information and C. Toward a theory of Librarianship. New Software Sciences, Information Processing Jersey, Scarecrow Press, 1973. & Management 20(12):5-18, 1984, entre outros. The study's goal of Information Science: paradoxes and challenges Abstract The identification of Information Science as a subject should not be donne by a qualitative specification of information facts, but through a Maria Nélida González de Gomez "point of view" that organizes a transdisciplinar Mestre em Ciência da Informação pela Escola d dorna/a This point of view asserts that the relation Comunicação (ECO) da UFRJ, doutoranda en between a social pragmatic of Information (or Comunicação. Professora da Pós-Graduação en "meta-information")and the words of life, action, Ciência da Informação/lBlCT em convênio com knowledge, acts towards the construction of ECO/UFRJ. Information values. Ci. Inf., Brasília, 19(2):117-22, jul./dez. 1990