O documento descreve a origem e papel das jawari e odaliscas na sociedade árabe-islâmica clássica. As jawari eram servos, principalmente cantoras, que acabaram se tornando concubinas dos príncipes e ricos. No Império Otomano passaram a ser chamadas de odaliscas, e poderiam se tornar amantes do sultão através da dança e canto. Sua imagem foi exportada para a Europa no século XIX influenciando a percepção do Oriente.
6. O termo odalisca é recente, aproximadamente do séc. XV,
antes o nome que definia a sua presença na sociedade
árabe-islâmica clássica era outro: Jawari (plural de Jariya,
que quer dizer serva, e no Egito eram chamadas de
Awalim).
Esta serva poderia ser responsável pela casa e pelas notícias
da vizinhança, ou ser uma qina, isto é, uma serva para
entretenimento, principalmente para cantar. A Jariya que
soubesse cantar era disputada no mercado, o que acabou
tornando-a um artigo de luxo de príncipes e ricos
comerciantes, gradativamente alterando seu conceito de
serva para concubina.
Eram as Jawari que constituíam os haréns dos sultões, que
dançavam, cantavam e conversavam sobre filosofia e poesia
para entreter seus senhores. Vários sábios árabes a
descreveram em seus livros, criando a imagem de
encantamento e sexualidade. Nesses contos é que surgem os
casos de homoerotismo feminino. Para os muçulmanos
clássicos, as mulheres só poderiam se sentir atraídas
sexualmente umas pelas outras se estivessem em haréns,
locais onde viviam com todas as mulheres da vida do sultão
(mãe, filhas e esposas legítimas).
O harém, dirigido pela mãe do sultão, não era um
lugar voltado para o sexo, mas um local de
convivência secreto, ao qual somente o senhor e os
eunucos podiam ter acesso. As Jawari não eram
muçulmanas, mas sobretudo cristãs, capturadas em
guerras ou pilhagens, e vendidas nos mercados. A
concubina que se convertesse ao islamismo, deveria
se casar, seja com o seu senhor ou com outro
designado por ele. A partir do séc. XVI, mesmo
aquelas não convertidas poderiam sair do harém
para casar com homens escolhidos pelo senhor, caso
fossem dados como terminados seus serviços ou se
nunca tivessem sido requisitadas pelo sultão.
Ainda assim sua condição não era das melhores,
eram escravas, não tinham liberdade ou
representação social.
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10. Além disso, poderiam ser compartilhadas por
coproprietários ou mesmo vendidas sucessivamente
a novos donos. Para as concubinas comuns, a única
forma de conquistarem algum direito era tornarem-
se mães, o que lhes garantia estabilidade ao lado de
um único dono pelo resto da vida. Já as concubinas,
em tese, poderiam ter a chance de alguma posição
no mundo exterior, porém isso era muito raro.
Paradoxalmente em ambas condições, por mais que
não tivessem controle de sua vida, elas exerciam
grande influência sobre o senhor, o que pode ser
verificado nos diversos discursos que apontam o
harém como um local de intrigas e conspirações.
No Império Turco Otomano, as Jawari passaram a
ser chamadas de odaliscas (algo como camareiras).
O termo odalisca se estendeu posteriormente
àquelas que não sendo propriamente concubinas,
eram belas ou tinham algum talento para dançar ou
cantar e que eram treinadas para se tornarem
amantes do sultão. Se fossem bem sucedidas na arte
de sedução, como cantoras ou dançarinas, poderiam
obter algum status fora do harém, sendo utilizadas
até mesmo para dar as "boas vindas" aos visitantes
do Império. A partir do século XIX, quando as
nações europeias passaram a comercializar seus
produtos industrializados e a industrializar os países
árabes, as odaliscas exerceram, com seus corpos e
dança, um papel quase diplomático, ao
representarem a hospitalidade dos sultões.
A dança do ventre encantou profundamente os
imperialistas europeus que, fascinados, passaram a
exportá-la para a Europa como um show de cabaret,
primeiramente na França sob o nome "Danse du
Ventre", que passou a designar toda modalidade de
dança do mundo oriental (o original é Raqs Sharqi,
que quer dizer, Dança do Oriente).
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14. Assim, nada mais justificável que a imagem da
dança do ventre fosse representada por tantos anos
como a concubina bela e sedutora, a odalisca.
No mundo árabe, a dança do ventre, como
entretenimento, só era desempenhada por
prostitutas ou concubinas (odaliscas), e por isso com
bons olhos por lá. Atualmente, muitas países, como
Líbano, Egito e Turquia, usam a dança do ventre
com finalidade turística, mas, para muitos árabes, a
dança do ventre está longe de perder a sua imagem
de promiscuidade.
Existem danças folclóricas festejadas por grupos
étnicos, danças que chegaram até nós, como o
Falahi, o Baladi, entre outros, mas que eram
desempenhadas por camponeses em ocasiões
festivas. Essas danças foram incorporadas ao que
chamamos no Ocidente de Dança do Ventre, mas
eram atividades distintas das praticadas no haréns e
nas ruas pelos Ghawazee.
A impressão deixada nos europeus pelas odaliscas
pode ser conferida em diversas pinturas. Pintores
como Jean Auguste Dominique, Vicenzo Martinelli e
Fabio Fabbi retrataram o imaginário europeu do que
seria o harém, obras de erotologia árabe foram
traduzidas, o que deu início ao o movimento que
chamamos de "orientalismo" _o Oriente como algo
envolto em misticismo e encantamento, como "o
outro".
http://www.dancadoventrebrasil.com/2010/02/origem-das-
odaliscas-jawari.html