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FÉ E GRATUIDADE CONSTROEM UM MUNDO NOVO
Pe. José Bortolini–Roteiros Homiléticos Anos A, B, C Festas e Solenidades –Paulus, 2007
* LIÇÃO DA SÉRIE: LECIONÁRIO DOMINICAL *
ANO: C – TEMPO LITÚRGICO:27° DOMINGO TEMPO COMUM–COR: VERDE
I. INTRODUÇÃO GERAL
1. Estudando a história do nosso país, chegamos a uma
constatação: entra regime, sai regime, e tudo permanece
como está. Pior ainda: a onda de violência na cidade e no
campo e a espiral da opressão crescem sempre mais. Há
violência que vem de dentro, e violência que vem de fora.
Como pôr fim a essa escalada? Qual é a proposta de Deus?
(cf. 1ª leitura Hab 1,2-3; 2,2-4).
2. Os cristãos receberam a tarefa de levar adiante o proje-
to de Jesus. Mas as crises e fracassos dificultam a implan-
tação desse projeto. O que Jesus nos tem a dizer a respeito
disso? (cf. Evangelho Lc 17,5-10).
3. Cada cristão recebeu no batismo o compromisso de
construir a sociedade justa e fraterna. Às vezes, porém, os
sofrimentos e dificuldades parecem ser maiores que nossas
forças. E a tentação é a de nos envergonharmos, omitindo-
nos de dar testemunho. Paulo nos ilumina e encoraja com
seu exemplo e palavras (cf. 2ª leitura 2Tm 1,6-8.13-14).
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1ª leitura (Hab 1,2-3; 2,2-4): Como Javé desmantela o
círculo vicioso da opressão na história
4. O livro de Habacuc não traz informações que permitam
situar com exatidão o tempo e as circunstâncias de sua
atividade profética (especula-se tenha sido entre 622 e 600
a.C.). Isso faz com que sua mensagem — sintetizada no
texto que proclamamos na liturgia deste domingo — se
adapte a qualquer situação, conservando-lhe a atualidade.
5. A tentativa de situar esse profeta no tempo leva a con-
siderá-lo contemporâneo de Jeremias, às vésperas do exílio.
A questão que atormenta Habacuc é a impunidade dos
malvados e opressores dentro do povo eleito. O profeta
acusa Javé de estar fechando os olhos à injustiça e de fazer
ouvidos de mercador diante dos gritos de socorro contra a
violência (1,2-3). Isso já nos leva à primeira constatação: o
profundo senso crítico do profeta o impele a denunciar as
formas de opressão na sociedade. Sua ousadia é tal, a ponto
de discutir com Javé, lamentando-se de que Deus não in-
tervenha para pôr ordem. Impõe-se a segunda constatação:
o profeta é íntimo de Deus (cf. Am 3,7), e Deus nada faz
sem comunicá-lo aos profetas, seus amigos.
6. Deus garante a Habacuc que está disposto a tomar
providências. Irá punir as injustiças mediante a invasão dos
caldeus (1,5-8). O escândalo do profeta aumenta: será pos-
sível que Javé ponha fim a um regime opressor fazendo
intervir outro regime mais opressor ainda, como o dos cal-
deus? É possível coibir corrupção mediante um corrupto
maior? Habacuc teme que a situação seja pior do que antes
e duvida de que a alegria com a qual os caldeus se apossam
de Judá e de outras nações possa pôr fim à opressão (1,12-
17). Sua preocupação fundamental é com relação à ação de
Deus na história: não se trata de coibir a opressão, mas de
eliminá-la definitivamente. E isso não se consegue sim-
plesmente substituindo-se opressores. A escalada da vio-
lência continuaria em ascensão…
7. O curso da história e da ação de Javé na história pare-
cem ir ao encontro de um beco sem saída. Por isso o profe-
ta contesta e pede explicações. Apesar de não entender,
espera. Assume a atitude da vigilante sentinela sobre a
muralha, pronta a comunicar ao povo a decisão de Javé
(2,1). O gesto de Habacuc é muito próximo ao ápice do
livro de Jó: “Reconheço que tudo podes e que nenhum dos
teus projetos fica sem realização. Eu te conhecia só de
ouvir… Agora, porém, os meus olhos te vêem” (Jó 42,2.5).
A resposta de Javé se faz sentir: é mensagem de expectati-
va e de esperança. O projeto de Deus se realizará. Disso o
profeta deve ser anunciador corajoso e explícito. Escrever o
oráculo confere-lhe valor jurídico de lei irreversível (2,2).
Se o cumprimento da promessa demorar, é necessário espe-
rar, “pois virá com certeza sem demora” (2,3).
8. A promessa é expressa no v. 4: o ambicioso e arrogan-
te, que confia em seus sucessos, não terá a palavra final,
pois não é reto. A pessoa íntegra, por sua vez, viverá por
sua fidelidade. É assim que Javé desmantelará o círculo
vicioso da opressão: não substituindo opressor a opressor
(dentro ou fora de Judá), mas através de pessoas retas, isto
é, fiéis à palavra e projeto de Deus. Elas serão o fio condu-
tor da justiça de Deus na história.
Evangelho (Lc 17,5-10): Fé e gratuidade caracterizam a
vida do cristão
9. O texto pertence à “viagem a Jerusalém” (9,51-19,27),
uma jornada teológico-catequética na qual são condensados
os desafios, exigências e obstáculos no seguimento de Je-
sus. A viagem de Jesus reflete o caminho da comunidade
cristã, com suas crises e busca de solução aos desafios
propostos pela prática cristã.
10. Uma dessas crises diz respeito, sem dúvida, à perspec-
tiva de fé dos primeiros cristãos. A questão da fé é repro-
posta diante de certos fracassos da comunidade na realiza-
ção do projeto de Deus. Com muita probabilidade, os vv. 5-
6 são reflexão da comunidade primitiva que se punha esta
crucial pergunta: “Por que não conseguimos reproduzir na
prática o projeto de Deus? O que está faltando para que
possamos enfrentar e superar os grandes desafios que se
nos apresentam?”
a. A fé genuína é capaz de superar os impasses (vv. 5-6)
11. Os discípulos haviam recebido de Jesus “poder de pisar
em cima de cobras e escorpiões e sobre toda a força do
inimigo” (10,19). E, ao voltar da sua missão, reconhecem
que “até os demônios obedecem a nós por causa do teu
nome” (10,17). Tal era o ideal do discípulo: fazer as mes-
mas coisas e ter o mesmo poder de Jesus sobre as forças
hostis; ter a capacidade de superar os maiores impasses.
12. Com o passar do tempo, todavia, esse poder parece ter
fugido às mãos dos primeiros cristãos, comprometendo
seriamente o projeto de Deus que Jesus realiza. Qual será a
causa disso? Por que a comunidade não se caracteriza mais
por aquelas ações e palavras capazes de superar toda adver-
sidade (= demônios, escorpiões, serpentes)?
13. Eis, então, que os evangelistas procuram redescobrir,
na mensagem de Jesus, as causas do fracasso da comunida-
de ante os desafios propostos. Marcos, por exemplo, con-
densa a crise de fé das comunidades no episódio do epiléti-
co endemoninhado (9,14-29) onde, na ausência de Jesus,
os discípulos não conseguem pôr em prática o mandato do
Senhor.
14. Lucas, por sua vez, busca a causa do insucesso na crise
de fé. Em 17,5 os apóstolos pedem ao Senhor: “Aumenta a
nossa fé!” Jesus responde que não se trata de ter “mais” ou
“menos” fé. Não é questão de quantidade de fé, mas de
qualidade. Ela deve ser genuína, como a semente que traz
em si o DNA da árvore. A semente de mostarda, nesse
sentido, é paradigmática: tão minúscula, mas capaz de se
tornar árvore (cf.13,18-19). Se a fé for assim, poderá supe-
rar os maiores obstáculos, simbolizados aqui pela amoreira,
árvore que, por causa de suas raízes profundas, ninguém é
capaz de arrancar com as próprias forças. Está, pois, dada a
resposta e encontrado o remédio às crises da comunidade
que não consegue reproduzir o projeto de Deus.
b. A gratuidade dos que anunciam o Evangelho (vv. 7-10)
15. O texto é próprio de Lucas. O fato de não ter paralelos
nos outros evangelhos nos diz que essa parábola deve ser
entendida à luz dos problemas de evangelização enfrenta-
dos por Lucas, companheiro de Paulo. A parábola reflete,
pois, a prática pastoral paulina, amplamente descrita em
1Cor 9, e que pode ser sintetizada assim: “Anunciar o E-
vangelho não é título de glória para mim; pelo contrário, é
uma necessidade que me foi imposta. Ai de mim se eu não
anunciar o Evangelho! Se eu o anunciasse de própria ini-
ciativa, teria direito a um salário; no entanto, já que o faço
por obrigação, desempenho um cargo que me foi confiado.
Qual é então o meu salário? É que, pregando o Evangelho,
eu o prego gratuitamente, sem usar dos direitos que a pre-
gação do Evangelho me confere. Embora eu seja livre em
relação a todos, tornei-me o servo de todos, a fim de ganhar
o maior número possível” (vv. 16-19). Esse texto é funda-
mental para entendermos a parábola de Lucas. Nele, Paulo
assume o papel de servo do Evangelho: a evangelização
não nasceu de iniciativa própria, mas é imposição. Não tem
direito a salário. Melhor ainda: seu salário é pregar gratui-
tamente, fazendo-se servo de todos, à semelhança de Jesus
(cf. Lc 22,27: “Eu estou no meio de vocês como aquele que
serve”). Além disso, a imagem do servo que trabalha a terra
e guarda os animais (Lc 17,7, dupla jornada de trabalho,
como Paulo em 1Ts 2,9) é a mesma que Paulo usa para
caracterizar seu trabalho apostólico (cf. 1Cor 9,7.10). Em-
bora tendo direito de usufruir desse trabalho, não faz valer
esse direito (1Cor 9,18; cf. 1Ts 2,4-8).
16. Apesar de Jesus ter afirmado que o operário é digno do
seu salário (Mt 10,10; Lc 10,7), Lucas projeta esse ideal
vivido por Paulo como sendo válido para todos os que
anunciam o Evangelho. A parábola, portanto, pode com
muita propriedade ser interpretada em chave de evangeliza-
ção. O discípulo não evangeliza por iniciativa própria, mas
cumpre um mandato (o sujeito da expressão “o que lhe
havia mandado”, isto é, quem manda, é Deus). Não tem,
conseqüentemente, o que exigir em troca. Jesus, que confia
ao discípulo seu projeto, não se sente obrigado em relação
ao discípulo quando este cumpre sua obrigação.
2ª leitura (2Tm 1,6-8.13-14): Testemunhar em meio aos
sofrimentos
17. Paulo escreve a Timóteo, pela segunda vez, estando
preso (provavelmente no ano 66) e às portas de sua partida
deste mundo (cf. 4,6). A carta possui, portanto, caráter de
testamento de pai para filho. A herança que o Apóstolo
procura transmitir é a permanente coerência de Paulo a
serviço do Evangelho. O texto da liturgia de hoje salienta
alguns aspectos importantes:
— O carisma que Timóteo recebeu por imposição das mãos
deve ser reavivado (v. 6). Ninguém é cristão uma vez
para sempre; pelo contrário, o ser cristão e a evangeli-
zação precisam ser alimentados constantemente. Diante
das dificuldades, se o carisma não for reavivado, corre
perigo de não mais corresponder ao projeto de Deus;
— É próprio do cristão não fugir ao sofrimento e ao com-
promisso do testemunho, “pois Deus não nos deu um
espírito de timidez, mas de força, de amor e de sobrie-
dade” (v. 7). Paulo fala por experiência própria. Diante
das perseguições, torturas, humilhações em praça públi-
ca, prisões, longe de se esconder envergonhado, arma-
se de força, que é o dom do Espírito a garantir o cami-
nho que o anúncio deve fazer;
— O testemunho exige coragem que não leva em conta os
interesses pessoais. Para testemunhar coerentemente o
Evangelho põe-se em jogo a boa fama: “Não se enver-
gonhe de dar testemunho de nosso Senhor, nem de mim,
seu prisioneiro” (v. 8a). Era provável que Timóteo ou-
visse críticas a ele e a Paulo, pelo fato de este estar na
prisão. O mesmo escândalo e loucura de judeus e pa-
gãos diante de Jesus crucificado (cf. 1Cor 1,23) se repe-
te agora na comunidade de Timóteo: como acreditar na
mensagem de Timóteo que tem seu pai espiritual (Pau-
lo) na cadeia, prestes a ser sentenciado? Onde está o
poder da mensagem por eles anunciada, se a prisão põe
Paulo ao nível dos delinqüentes que merecem a morte?
— A herança que o Apóstolo deixa a seu filho amado é a
participação nos sofrimentos por causa do Evangelho,
confiando no poder de Deus (v. 8b), e as sãs palavras
que Timóteo ouviu de Paulo (v. 13a). Essa herança será
conservada mediante a fé em Jesus Cristo (v. 13b) e na
docilidade ao Espírito (v. 14) que habita no cristão. Essa
docilidade garante a coerência do testemunho.
III. PISTAS PARA REFLEXÃO
18. A 1ª leitura (Hab 1,2-3; 2,2-4) é excelente oportunidade para mostrar como, segundo o projeto de Deus,
pode-se pôr fim à escalada da violência e da opressão dentro e fora da comunidade. E é um alerta para o mo-
mento em que vivemos: é possível pôr fim à impunidade, corrupção e injustiça?
19. O Evangelho (Lc 17,5-10) ajuda a ver as raízes das crises e dos tropeços comunitários e como erradicá-
las. Mostra, também, qual é o espírito que deve animar qualquer tarefa de evangelização dentro e fora da co-
munidade. Há, de fato, gratuidade em tudo o que fazemos?
20. A 2ª leitura (2Tm 1,6-8.13-14) propõe, por um lado, que sejam reavivados os carismas em vista da evan-
gelização; por outro lado, mostra que o cristão recebeu herança toda particular, que será conservada à custa de
sofrimentos, na docilidade ao Espírito.

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  • 1. FÉ E GRATUIDADE CONSTROEM UM MUNDO NOVO Pe. José Bortolini–Roteiros Homiléticos Anos A, B, C Festas e Solenidades –Paulus, 2007 * LIÇÃO DA SÉRIE: LECIONÁRIO DOMINICAL * ANO: C – TEMPO LITÚRGICO:27° DOMINGO TEMPO COMUM–COR: VERDE I. INTRODUÇÃO GERAL 1. Estudando a história do nosso país, chegamos a uma constatação: entra regime, sai regime, e tudo permanece como está. Pior ainda: a onda de violência na cidade e no campo e a espiral da opressão crescem sempre mais. Há violência que vem de dentro, e violência que vem de fora. Como pôr fim a essa escalada? Qual é a proposta de Deus? (cf. 1ª leitura Hab 1,2-3; 2,2-4). 2. Os cristãos receberam a tarefa de levar adiante o proje- to de Jesus. Mas as crises e fracassos dificultam a implan- tação desse projeto. O que Jesus nos tem a dizer a respeito disso? (cf. Evangelho Lc 17,5-10). 3. Cada cristão recebeu no batismo o compromisso de construir a sociedade justa e fraterna. Às vezes, porém, os sofrimentos e dificuldades parecem ser maiores que nossas forças. E a tentação é a de nos envergonharmos, omitindo- nos de dar testemunho. Paulo nos ilumina e encoraja com seu exemplo e palavras (cf. 2ª leitura 2Tm 1,6-8.13-14). II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS 1ª leitura (Hab 1,2-3; 2,2-4): Como Javé desmantela o círculo vicioso da opressão na história 4. O livro de Habacuc não traz informações que permitam situar com exatidão o tempo e as circunstâncias de sua atividade profética (especula-se tenha sido entre 622 e 600 a.C.). Isso faz com que sua mensagem — sintetizada no texto que proclamamos na liturgia deste domingo — se adapte a qualquer situação, conservando-lhe a atualidade. 5. A tentativa de situar esse profeta no tempo leva a con- siderá-lo contemporâneo de Jeremias, às vésperas do exílio. A questão que atormenta Habacuc é a impunidade dos malvados e opressores dentro do povo eleito. O profeta acusa Javé de estar fechando os olhos à injustiça e de fazer ouvidos de mercador diante dos gritos de socorro contra a violência (1,2-3). Isso já nos leva à primeira constatação: o profundo senso crítico do profeta o impele a denunciar as formas de opressão na sociedade. Sua ousadia é tal, a ponto de discutir com Javé, lamentando-se de que Deus não in- tervenha para pôr ordem. Impõe-se a segunda constatação: o profeta é íntimo de Deus (cf. Am 3,7), e Deus nada faz sem comunicá-lo aos profetas, seus amigos. 6. Deus garante a Habacuc que está disposto a tomar providências. Irá punir as injustiças mediante a invasão dos caldeus (1,5-8). O escândalo do profeta aumenta: será pos- sível que Javé ponha fim a um regime opressor fazendo intervir outro regime mais opressor ainda, como o dos cal- deus? É possível coibir corrupção mediante um corrupto maior? Habacuc teme que a situação seja pior do que antes e duvida de que a alegria com a qual os caldeus se apossam de Judá e de outras nações possa pôr fim à opressão (1,12- 17). Sua preocupação fundamental é com relação à ação de Deus na história: não se trata de coibir a opressão, mas de eliminá-la definitivamente. E isso não se consegue sim- plesmente substituindo-se opressores. A escalada da vio- lência continuaria em ascensão… 7. O curso da história e da ação de Javé na história pare- cem ir ao encontro de um beco sem saída. Por isso o profe- ta contesta e pede explicações. Apesar de não entender, espera. Assume a atitude da vigilante sentinela sobre a muralha, pronta a comunicar ao povo a decisão de Javé (2,1). O gesto de Habacuc é muito próximo ao ápice do livro de Jó: “Reconheço que tudo podes e que nenhum dos teus projetos fica sem realização. Eu te conhecia só de ouvir… Agora, porém, os meus olhos te vêem” (Jó 42,2.5). A resposta de Javé se faz sentir: é mensagem de expectati- va e de esperança. O projeto de Deus se realizará. Disso o profeta deve ser anunciador corajoso e explícito. Escrever o oráculo confere-lhe valor jurídico de lei irreversível (2,2). Se o cumprimento da promessa demorar, é necessário espe- rar, “pois virá com certeza sem demora” (2,3). 8. A promessa é expressa no v. 4: o ambicioso e arrogan- te, que confia em seus sucessos, não terá a palavra final, pois não é reto. A pessoa íntegra, por sua vez, viverá por sua fidelidade. É assim que Javé desmantelará o círculo vicioso da opressão: não substituindo opressor a opressor (dentro ou fora de Judá), mas através de pessoas retas, isto é, fiéis à palavra e projeto de Deus. Elas serão o fio condu- tor da justiça de Deus na história. Evangelho (Lc 17,5-10): Fé e gratuidade caracterizam a vida do cristão 9. O texto pertence à “viagem a Jerusalém” (9,51-19,27), uma jornada teológico-catequética na qual são condensados os desafios, exigências e obstáculos no seguimento de Je- sus. A viagem de Jesus reflete o caminho da comunidade cristã, com suas crises e busca de solução aos desafios propostos pela prática cristã. 10. Uma dessas crises diz respeito, sem dúvida, à perspec- tiva de fé dos primeiros cristãos. A questão da fé é repro- posta diante de certos fracassos da comunidade na realiza- ção do projeto de Deus. Com muita probabilidade, os vv. 5- 6 são reflexão da comunidade primitiva que se punha esta crucial pergunta: “Por que não conseguimos reproduzir na prática o projeto de Deus? O que está faltando para que possamos enfrentar e superar os grandes desafios que se nos apresentam?” a. A fé genuína é capaz de superar os impasses (vv. 5-6) 11. Os discípulos haviam recebido de Jesus “poder de pisar em cima de cobras e escorpiões e sobre toda a força do inimigo” (10,19). E, ao voltar da sua missão, reconhecem que “até os demônios obedecem a nós por causa do teu nome” (10,17). Tal era o ideal do discípulo: fazer as mes- mas coisas e ter o mesmo poder de Jesus sobre as forças hostis; ter a capacidade de superar os maiores impasses. 12. Com o passar do tempo, todavia, esse poder parece ter fugido às mãos dos primeiros cristãos, comprometendo seriamente o projeto de Deus que Jesus realiza. Qual será a causa disso? Por que a comunidade não se caracteriza mais por aquelas ações e palavras capazes de superar toda adver- sidade (= demônios, escorpiões, serpentes)? 13. Eis, então, que os evangelistas procuram redescobrir, na mensagem de Jesus, as causas do fracasso da comunida-
  • 2. de ante os desafios propostos. Marcos, por exemplo, con- densa a crise de fé das comunidades no episódio do epiléti- co endemoninhado (9,14-29) onde, na ausência de Jesus, os discípulos não conseguem pôr em prática o mandato do Senhor. 14. Lucas, por sua vez, busca a causa do insucesso na crise de fé. Em 17,5 os apóstolos pedem ao Senhor: “Aumenta a nossa fé!” Jesus responde que não se trata de ter “mais” ou “menos” fé. Não é questão de quantidade de fé, mas de qualidade. Ela deve ser genuína, como a semente que traz em si o DNA da árvore. A semente de mostarda, nesse sentido, é paradigmática: tão minúscula, mas capaz de se tornar árvore (cf.13,18-19). Se a fé for assim, poderá supe- rar os maiores obstáculos, simbolizados aqui pela amoreira, árvore que, por causa de suas raízes profundas, ninguém é capaz de arrancar com as próprias forças. Está, pois, dada a resposta e encontrado o remédio às crises da comunidade que não consegue reproduzir o projeto de Deus. b. A gratuidade dos que anunciam o Evangelho (vv. 7-10) 15. O texto é próprio de Lucas. O fato de não ter paralelos nos outros evangelhos nos diz que essa parábola deve ser entendida à luz dos problemas de evangelização enfrenta- dos por Lucas, companheiro de Paulo. A parábola reflete, pois, a prática pastoral paulina, amplamente descrita em 1Cor 9, e que pode ser sintetizada assim: “Anunciar o E- vangelho não é título de glória para mim; pelo contrário, é uma necessidade que me foi imposta. Ai de mim se eu não anunciar o Evangelho! Se eu o anunciasse de própria ini- ciativa, teria direito a um salário; no entanto, já que o faço por obrigação, desempenho um cargo que me foi confiado. Qual é então o meu salário? É que, pregando o Evangelho, eu o prego gratuitamente, sem usar dos direitos que a pre- gação do Evangelho me confere. Embora eu seja livre em relação a todos, tornei-me o servo de todos, a fim de ganhar o maior número possível” (vv. 16-19). Esse texto é funda- mental para entendermos a parábola de Lucas. Nele, Paulo assume o papel de servo do Evangelho: a evangelização não nasceu de iniciativa própria, mas é imposição. Não tem direito a salário. Melhor ainda: seu salário é pregar gratui- tamente, fazendo-se servo de todos, à semelhança de Jesus (cf. Lc 22,27: “Eu estou no meio de vocês como aquele que serve”). Além disso, a imagem do servo que trabalha a terra e guarda os animais (Lc 17,7, dupla jornada de trabalho, como Paulo em 1Ts 2,9) é a mesma que Paulo usa para caracterizar seu trabalho apostólico (cf. 1Cor 9,7.10). Em- bora tendo direito de usufruir desse trabalho, não faz valer esse direito (1Cor 9,18; cf. 1Ts 2,4-8). 16. Apesar de Jesus ter afirmado que o operário é digno do seu salário (Mt 10,10; Lc 10,7), Lucas projeta esse ideal vivido por Paulo como sendo válido para todos os que anunciam o Evangelho. A parábola, portanto, pode com muita propriedade ser interpretada em chave de evangeliza- ção. O discípulo não evangeliza por iniciativa própria, mas cumpre um mandato (o sujeito da expressão “o que lhe havia mandado”, isto é, quem manda, é Deus). Não tem, conseqüentemente, o que exigir em troca. Jesus, que confia ao discípulo seu projeto, não se sente obrigado em relação ao discípulo quando este cumpre sua obrigação. 2ª leitura (2Tm 1,6-8.13-14): Testemunhar em meio aos sofrimentos 17. Paulo escreve a Timóteo, pela segunda vez, estando preso (provavelmente no ano 66) e às portas de sua partida deste mundo (cf. 4,6). A carta possui, portanto, caráter de testamento de pai para filho. A herança que o Apóstolo procura transmitir é a permanente coerência de Paulo a serviço do Evangelho. O texto da liturgia de hoje salienta alguns aspectos importantes: — O carisma que Timóteo recebeu por imposição das mãos deve ser reavivado (v. 6). Ninguém é cristão uma vez para sempre; pelo contrário, o ser cristão e a evangeli- zação precisam ser alimentados constantemente. Diante das dificuldades, se o carisma não for reavivado, corre perigo de não mais corresponder ao projeto de Deus; — É próprio do cristão não fugir ao sofrimento e ao com- promisso do testemunho, “pois Deus não nos deu um espírito de timidez, mas de força, de amor e de sobrie- dade” (v. 7). Paulo fala por experiência própria. Diante das perseguições, torturas, humilhações em praça públi- ca, prisões, longe de se esconder envergonhado, arma- se de força, que é o dom do Espírito a garantir o cami- nho que o anúncio deve fazer; — O testemunho exige coragem que não leva em conta os interesses pessoais. Para testemunhar coerentemente o Evangelho põe-se em jogo a boa fama: “Não se enver- gonhe de dar testemunho de nosso Senhor, nem de mim, seu prisioneiro” (v. 8a). Era provável que Timóteo ou- visse críticas a ele e a Paulo, pelo fato de este estar na prisão. O mesmo escândalo e loucura de judeus e pa- gãos diante de Jesus crucificado (cf. 1Cor 1,23) se repe- te agora na comunidade de Timóteo: como acreditar na mensagem de Timóteo que tem seu pai espiritual (Pau- lo) na cadeia, prestes a ser sentenciado? Onde está o poder da mensagem por eles anunciada, se a prisão põe Paulo ao nível dos delinqüentes que merecem a morte? — A herança que o Apóstolo deixa a seu filho amado é a participação nos sofrimentos por causa do Evangelho, confiando no poder de Deus (v. 8b), e as sãs palavras que Timóteo ouviu de Paulo (v. 13a). Essa herança será conservada mediante a fé em Jesus Cristo (v. 13b) e na docilidade ao Espírito (v. 14) que habita no cristão. Essa docilidade garante a coerência do testemunho. III. PISTAS PARA REFLEXÃO 18. A 1ª leitura (Hab 1,2-3; 2,2-4) é excelente oportunidade para mostrar como, segundo o projeto de Deus, pode-se pôr fim à escalada da violência e da opressão dentro e fora da comunidade. E é um alerta para o mo- mento em que vivemos: é possível pôr fim à impunidade, corrupção e injustiça? 19. O Evangelho (Lc 17,5-10) ajuda a ver as raízes das crises e dos tropeços comunitários e como erradicá- las. Mostra, também, qual é o espírito que deve animar qualquer tarefa de evangelização dentro e fora da co- munidade. Há, de fato, gratuidade em tudo o que fazemos? 20. A 2ª leitura (2Tm 1,6-8.13-14) propõe, por um lado, que sejam reavivados os carismas em vista da evan- gelização; por outro lado, mostra que o cristão recebeu herança toda particular, que será conservada à custa de sofrimentos, na docilidade ao Espírito.