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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS
COMUNICAÇÃO SOCIAL – JORNALISMO
JONAS PILZ
CIBERACONTECIMENTOS EM PAUTA NOS PORTAIS DE NOTÍCIAS:
COMO G1 E R7 PROCESSAM OS ACONTECIMENTOS TRAMADOS NAS
REDES SOCIAIS NA INTERNET
SÃO LEOPOLDO
2014
2
Jonas Pilz
CIBERACONTECIMENTO EM PAUTA NOS PORTAIS DE NOTÍCIAS:
como G1 e R7 processam os acontecimentos tramados nas redes sociais na
internet
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado como requisito parcial
para obtenção do título de Bacharel
em Jornalismo, pelo Curso de
Comunicação Social da
Universidade do Vale do Rio dos
Sinos.
Orientador: Prof. Dr. Ronaldo Henn
São Leopoldo
2014
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço àqueles que, de alguma forma, fizeram parte deste percurso.
À minha família, que me deu o suporte necessário para esta realização,
entre tantas outras.
Ao meu orientador, Ronaldo Henn, por ter aceitado fazer parte deste
projeto, e ter se tornado parte dele, cooperando com disposição, paciência e
iluminação.
Aos amigos e colegas, com quem dividi experiências, realizações e
apoio.
À Kamila, por estar sempre presente.
4
RESUMO
Esta monografia aborda a presença de acontecimentos tramados nas redes
sociais digitas e como eles são processados nos portais de notícias.
Delimitaram-se como objeto empírico os portais G1 e R7, que foram
monitorados a partir de suas páginas iniciais para a identificação e
categorização desses acontecimentos conceituados como
ciberacontecimentos. Para este fim, foram utilizados os conceitos de
ciberjornalismo e ciberacontecimento, de Mielniczuk (2003) e Henn (2012), e
de redes sociais digitas, principalmente os sintetizados por Recuero (2009) e
Zago (2011). O processo metodológico abrangeu um período de observação da
página inicial dos portais durante 32 dias, em 03 turnos: matutino, vespertino e
noturno. A cada postagem de ciberacontecimentos, procedeu-se captura de
tela e a cópia do link da publicação específica. Com isto, foi possível perceber
como os portais acompanham e retratam os ciberacontecimentos, que ganham
cada vez mais notoriedade na pauta jornalística.
Palavras-chave: ciberacontecimento, redes sociais, mídia social,
ciberjornalismo
5
ABSTRACT
This monograph aims to measure the presence of cyber events, that take place
in social networks, and how they are processed by news websites. Two relevant
websites, G1 and R7, were determinated as empirical objects, and their Home
pages were monitorated in order to identify and categorize these events, so
called cyber events. The main concepts of cyber journalism and cyber events,
by Mielniczuk (2003) and Henn (2012), and of digital social networks, by
Recuero (2009) and Zago (2011), were used on this research. The
methodological process included a 32-days-time observation of websites home
pages, three times a day. For every cyber event found, a screenshot was made,
including the copy of the publication hyperlink. This allowed to understand how
news websites follow and process cyber events - those which are increasingly
inserted into the journalistic agenda.
Keywords: cyber event, social networks, social media, cyber journalism
6
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Resumo das definições de nomenclaturas sobre práticas de
produção e disseminação de informação no jornalismo contemporâneo......... 21
Tabela 2 – Categorização dos ciberacontecimentos observados durante o
período de monitoramento. .............................................................................. 37
7
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Totalidade de ciberacontecimentos observados nos portais de
notícias G1 e R7 no período de 32 dias........................................................... 35
Figura 2 – Totalidade de ciberacontecimentos observados nos turnos 1
(manhã), 2 (tarde) e 3 (noite). .......................................................................... 36
Figura 3 – Totalidade de ciberacontecimentos observados por categoria. ...... 37
Figura 4 – Identificação de publicações do ciberacontecimento rolezinho
no portal G1, em 22/01, Turno 3 (Anexo 1: G1-01-22-Turno3-4) ..................... 39
Figura 5 – Identificação do ciberacontecimento no portal R7, em 05/02,
Turno 1 (Anexo 1: R7-02-05-Turno1-1)............................................................ 39
Figura 6 – Identificação do ciberacontecimento no portal R7, em 21/01,
Turno 3 (Anexo 1: R7-01-21-Turno3-3)............................................................ 40
8
SUMÁRIO
RESUMO............................................................................................................ 4
ABSTRACT ........................................................................................................ 5
LISTA DE TABELAS .......................................................................................... 6
LISTA DE FIGURAS .......................................................................................... 7
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 9
1.2 OBJETIVOS............................................................................................ 12
1.2.1 Objetivo Geral................................................................................... 12
1.2.2 Objetivos Específicos........................................................................ 12
2. REDES SOCIAIS DIGITAIS ......................................................................... 13
2.1 Conceitos de redes sociais ..................................................................... 16
2.2 Democracia nas redes sociais ................................................................ 18
3. JORNALISMO EM REDES DIGITAIS: CIBERACONTECIMENTO.............. 21
3.1 Ciberacontecimento ................................................................................ 25
3.2 Ambiente convergente ............................................................................ 28
4. ANÁLISES DOS DADOS: CATEGORIAS DE CIBERACONTECIMENTOS 31
4.1 Considerações sobre o monitoramento dos portais de notícias.............. 35
4.1.1 Publicações observadas mais de uma vez....................................... 37
4.1.2 Opções de categoria......................................................................... 41
4.1.3 Ciberacontecimentos mais recorrentes............................................. 41
4.1.4 Alterações de título ........................................................................... 43
4.1.5 Justificativa de escolha de dados ..................................................... 45
6. CONCLUSÃO............................................................................................... 52
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 54
ANEXO 1.......................................................................................................... 60
9
1. INTRODUÇÃO
O estudo de redes sociais digitais, embora não seja novo, se consolidou
com a inserção das mídias sociais na vida cotidiana da população, com
implicações muito significativas no jornalismo. O jornalista, independente da
área de atuação, não pode estar alheio às redes sociais. Ainda que não
mantenha um perfil em nenhuma delas, a compreensão dos seus processos,
linguagem e particularidades é fundamental para o exercício da profissão. Com
o ciberjornalismo cada vez mais consolidado, e em constante transformação,
assim como as redes sociais digitais nas vidas das pessoas, é preciso
compreender o fato jornalístico que eclode, com certas peculiaridades, desse
ambiente. Esta pesquisa intenta observar e analisar como os portais de
notícias pautam os ciberacontecimentos tramados nas redes sociais digitais, e
determinar uma categorização para estes.
No campo de estudos sobre redes sociais digitas é possível perceber
dois tipos de trabalhos, direcionados a públicos diferentes, mas que se
complementam (e referenciam): pesquisas acadêmicas e manuais técnicos. O
estudo acadêmico tem como objetivo descobrir e entender os fenômenos, as
transformações e as consequências geradas por eles. O trabalho técnico visa
apresentar, desconstruir e ensinar a operacionalizar as ferramentas
(plataformas e/ou mídias) - como qualquer manual.
Os estudos de rede, tanto na parte social quanto nas outras ciências,
receberam renovada atenção após a publicação dos trabalhos de
Barabási (2003), Barabási e Albert (1999), Watts (2003), Watts e
Strogatz (1998) dentre outros autores, no final da década de 90 e
início dos anos 2000 (RECUERO, 2009, p. 21).
A relevância das redes sociais na vida das pessoas é crescente, e pode
ser percebida, por exemplo, pelos termos agregados ao vocabulário coloquial
(“postar”, “dar um like”), além de novos lazeres e necessidades (publicar fotos
das refeições e do vestuário). O interesse do público pelas redes mudou a
forma como os atores com interesses comerciais encaram as mídias sociais.
Antes percebidas como ambiente de nicho e com pouca possibilidade de haver
relações comerciais, ou relações comerciais sustentáveis (especialmente após
10
o estouro da bolha1
), as redes sociais digitais passaram a atrair empresas, ter
seus próprios formadores de opinião (potencialmente todos os usuários, em
níveis diferentes) e contribuir direta ou indiretamente com a pauta dos veículos
midiáticos.
De acordo com Altermann (2010, apud COSTA, 2013), uma rede social
é um grupo de pessoas que tenham algum tipo de relação ou interesse mútuo.
Na internet, as ferramentas mais populares que agregam essas pessoas são
chamadas de sites relacionamento, ou, como ficaram mais conhecidas, redes
sociais.
Sem muitas delongas, a expressão refere-se a relacionamento de
pessoas dentro de um grupo socialmente organizado. Em outras
palavras, pessoas que se comunicam dentro de um grupo específico
por afinidade de interesses. Chamamos de redes, pois esta foi uma
forma figurativa adotada para definir um grupo de pessoas que estão
ligadas de alguma forma. E são sociais por se relacionarem entre si,
trocando informações, organizando grupos exclusivos e inclusivos,
criando diferentes modos de se relacionarem, aparecendo uns para
os outros, enfim… criando uma rede de sociedades restritas dentro
desta rede (FELIX, 2010).
A presença de um grande público (audiência) nas redes sociais digitais
criou a oportunidade e necessidade de instituições se relacionarem com seus
consumidores ou público. A aproximação trouxe novas possibilidades de
comércio, além de responsabilidades de feedback2
, SAC e contorno de crises -
no caso de usuários reclamarem de produtos, atendimento ou filosofia da
empresa.
Os veículos de comunicação também se inseriram no meio, utilizando as
redes sociais como canal de promoção de suas notícias (conteúdo) e
1
Durante o final da década de 1990, diversas empresas migraram ou foram criadas
especialmente para operar através da internet - as chamadas empresas pontocom. O objetivo
era atingir lucros exorbitantes em pouco tempo. A grande especulação e investimentos de risco
no mercado de ações, principalmente na bolsa eletrônica Nasdaq, não atingiram o resultado
esperado. Muitas empresas não sabiam como gerir seus negócios na internet e pequenos
empreendedores, apesar desses investimentos, não tinham capital suficiente para arcar com
qualquer prejuízo, ou expertise de gestão. Em março de 2000, a Nasdaq registrou uma grande
queda por vários dias, levando pequenas empresas a serem vendidas. O termo “estouro da
bolha” é uma analogia aos grandes investimentos (bolha) e a sua derrocada por
insustentabilidade (estouro).
2
Feedback é, basicamente, uma resposta ou reação a um determinado acontecimento. Pode
ser tanto uma opinião sobre uma mensagem ou produto quanto um desenrolar de
acontecimentos decorrentes de uma ação. É, geralmente, utilizado para avaliar a satisfação de
um receptor/consumidor à exposição de uma informação ou item. O feedback pode ou não ser
levado em conta para melhorias do emissor/produtor.
11
estreitamento da relação com os leitores (alguns conteúdos exclusivos). As
redes sociais também passaram a servir como fonte de informação, fonte de
pesquisa para jornalistas, e ambiente repleto de opiniões sobre as reportagens.
Da mesma forma, os acontecimentos tramados nelas também passaram a ser
pautados pelos veículos. Seja pela atuação de gatewatchers3
(BRUNS, 2003,
2005; CANAVILHAS, 2010a), ou de um grande número de atores sociais, os
ciberacontecimentos se constituem nas redes sociais digitais e passam a atrair
atenção da imprensa.
Vislumbra-se nesse momento de transformações no jornalismo, por
conta da presença de outros atores, com um protagonismo importante, no
processo de construção de notícias, observar como os veículos processam
esses acontecimentos. Entre as mudanças percebidas, destacam-se as que
envolvem a própria produção do acontecimento jornalístico, na medida em que
parte deles tem como origem as ações em rede.
Para aprofundar o conhecimento e aprimorar o desenvolvimento da
pesquisa, o segundo capítulo resgata conceitos consolidados a respeito de
redes sociais digitais, principalmente de Recuero (2009). Os trabalhos de
Castells (2009) e Zago (2011) também auxiliaram na construção da teorização
sobre as práticas dos atores sociais em meios digitais.
No terceiro capítulo são apresentados os conceitos de ciberjornalismo e
ciberacontecimento, sob as perspectivas de Mielniczuk (2003) e Henn (2012,
2013). Para esclarecer a prática jornalística, e a produção de notícias
relacionadas às redes sociais na internet, foi importante a pesquisa de Sousa
(2013).
O quarto capítulo é dedicado aos processos metodológicos e
considerações a partir dos dados obtidos na pesquisa. Todo o processo
metodológico é relatado, desde a observação ao armazenamento dos dados,
as dificuldades em interpretá-los e as soluções encontradas para facilitar a
análise e consulta posterior. Para as considerações, são trazidos à luz os
aspectos peculiares percebidos durante ou após a aplicação do processo
metodológico.
3
Usuários com prestígio em comunidades virtuais, que atuam como analistas da informação,
indicado a outros atores para onde devem voltar a sua atenção. Potencialmente, jornalistas
podem exercer essa função.
12
1.2 OBJETIVOS
Essa pesquisa tem por intuito analisar como os acontecimentos, designados
como ciberacontecimentos, tramados nas redes sociais, aparecem nos portais
de notícias. Trabalha-se aqui com a seguinte questão de pesquisa: quais as
possíveis categorias de ciberacontecimentos configuram-se nos portais de
notícias? Foram analisados os portais G1 e R7, a partir de monitoramento da
página inicial pelo período de 32 dias - processo que será explicitado na parte
dedicada à metodologia.
1.2.1 Objetivo Geral
Identificar de que forma os acontecimentos, tramados nas redes sociais
digitais, são trabalhados nos portais de notícias G1 e R7, e que categorias
podem configurar.
1.2.2 Objetivos Específicos
- Compreender processos de produção jornalística em redes digitais.
- Refletir sobre a atuação dos atores sociais e a sua importância para a criação
de pautas jornalísticas.
- Perceber como os temas, nas suas diferentes especificidades, são
processados nos portais de notícias
13
2. REDES SOCIAIS DIGITAIS
As redes sociais digitais são extensões da vida de cada ator, com
linguagens, recursos e objetivos (inerentes ao ator) específicos. Embora sejam
limitadas por funcionalidades de softwares, as redes sociais permitem um
poder quase ilimitado de ações e transformações. Esse poder também é
caracterizado por não pertencer a um só ator, mas às suas conexões. Cada
ator está ligado às suas conexões, que podem transformá-lo, direta ou
indiretamente. De acordo com Zago (2011, apud RECUERO, 2011) as redes
sociais são dinâmicas, e se modificam constantemente no tempo.
Uma rede social é definida como um conjunto de dois elementos:
atores (pessoas, instituições ou grupos; os nós da rede) e suas
conexões (interações ou laços sociais) (Wasserman e Faust, 1994;
Degenne e Forse, 1999). Uma rede, assim, é uma metáfora para
observar os padrões de conexão de um grupo social, a partir das
conexões estabelecidas entre os diversos atores. A abordagem de
rede tem, assim, seu foco na estrutura social, onde não é possível
isolar os atores sociais e nem suas conexões (RECUERO, 2009, p.
24).
Para Recuero (2012), a rede social não é um serviço online que
permite adicionar contatos e publicar mensagens para que os outros vejam.
As redes sociais são criadas pelos atores sociais, que utilizam o recurso
técnico disponível nessas ferramentas para suas práticas sociais. As redes
sociais digitais são dinâmicas e não estão presas ao tempo, pois as conexões
e interações entre os atores são alteradas de diversas formas: excluídas,
retomadas, sem interação.
Os atores são as pessoas envolvidas e presentes nas redes sociais. As
conexões são os outros atores com quem se relacionam, interagem ou
pertencem (a um grupo específico). “As conexões em uma rede social são
constituídas dos laços sociais, que, por sua vez, são formados através da
interação social entre os atores” (RECUERO, 2009, p. 30).
Os atores que se relacionam nas redes digitais não necessariamente se
relacionam em meios não virtuais - e vice-versa. As interações e conexões em
meios digitais entre desconhecidos não são uma novidade das redes, já sendo
observadas em relações de trabalho, por exemplo - a troca de e-mail entre
14
colaboradores de empresas é anterior à consolidação das plataformas virtuais
de comunicação.
A semelhança óbvia na relação entre atores e conexões nas redes
sociais digitais e não digitais não configura um mero acaso. O meio virtual é,
cada vez mais, inserido e espelhado nas relações sociais do meio real. Para
Lévy (1996), a virtualização não imita ou recria o real, existindo em potência,
com a qualidade de vir a ser. O virtual existe concomitante ao real, e, assim
como as redes sociais, não se limita ao espaço físico e temporal.
Ao alterar as condições espaço-temporais da comunicação, o uso dos
meios técnicos também altera as condições de espaço e de tempo
sob as quais os indivíduos exercem o poder: tornam-se capazes de
agir e interagir à distância; podem intervir e influenciar no curso dos
acontecimentos mais distantes no espaço e no tempo. O uso dos
meios técnicos dá aos indivíduos novas maneiras de organizar e
controlar o espaço e o tempo, e novas maneiras de usar o tempo e o
espaço para os próprios fins (THOMPSON, 2001, p. 29).
Uma informação virtual, potencialmente, nunca será perdida, pois está
registrada fora do espaço-tempo. Uma publicação em site, rede social ou blog,
ainda que tenha sido apagada do banco de dados original, pode ter sido
copiada em outro banco de dados. O controle da informação não pertence
apenas aos atores, mas, tanto quanto, às suas conexões. No convívio real,
uma declaração pode ser negada se não houver testemunhas ou provas. No
ambiente virtual, é mais fácil um ou mais atores registrarem e divulgarem, com
propriedade, a informação. Em alguns aspectos, o virtual passa a ser mais
concreto e verossímil do que o próprio real.
O controle e o poder dos atores, dividido com as conexões, é ainda mais
diluído. De acordo com Recuero (2009), os atores podem ser representados
por perfis nas redes sociais. Um ator não é, essencialmente, uma única
pessoa; nem uma pessoa é, essencialmente, um único ator.
Os atores são o primeiro elemento da rede social, representados
pelos nós (ou nodos). Trata-se das pessoas envolvidas na rede que
se analisa. Como partes do sistema, os atores atuam de forma a
moldar as estruturas sociais, através da interação e da constituição
de laços sociais (RECUERO, 2009, p. 25).
15
Ainda que se personifique um perfil, crie-se um personagem ou uma
imagem singular de um indivíduo, existirá, no mínimo, a dúvida se a
manutenção do perfil é feita por uma ou mais pessoas. Para Recuero (2009),
um ator pode ser representado por um perfil em uma rede social, mas ser
gerenciado por diversos atores. Da mesma forma, um ator pode fazer parte de
diversos perfis - ter um blog, uma fanpage no Facebook, uma conta no Twitter
e uma no Fotolog, por exemplo. O mesmo ator pode ser, ainda, mais de um
ator na mesma rede social. No caso do Facebook, o ator pode ter um ou mais
perfis pessoais, um ou mais perfis fake4
, uma ou mais fanpages.
A relação entre os atores pode ser livre ou limitada. A relação é livre
quando os atores têm mais poder (não ilimitado) de interação, como escrever
uma publicação original ou um comentário; e limitada, quando, ainda que
exerça liberdade de interesse e opinião, estiver restrita à disponibilidade da
ferramenta ou ação sem poder criativo, como clicar para indicar apreço por
outras publicações e assinar o feed5
de autores.
Quanto à forma de relacionamento mantido, a interação pode ser
mútua - quando criativa, imprevisível, construída pelos atores -, ou
reativa - quando limitada, baseada em estímulo-resposta, previsível, e
não criativa (PRIMO, 2007). Enquanto uma conversa por escrito
através de uma rede social constitui uma interação mútua, aceitar
alguém como contato numa rede pode ser considerado um tipo de
interação reativa. Entretanto, para Recuero (2009a, p. 33), "Embora
essas relações não sejam mútuas, elas têm impacto social, já que
têm também reflexos nos dois lados da relação comunicativa" (ZAGO,
2011, p. 17).
As relações entre os atores também podem ser efêmeras ou perenes.
As relações contínuas e duradouras são chamadas de laços sociais. De acordo
com Wellman (2001, apud, RECUERO 2009), os laços são constituídos por
4
Perfis fakes são, de modo geral, perfis onde a identidade verdadeira do usuário não é revelada
ou não pode ser determinada. Muitos usuários assumem a personalidade de pessoas famosas
e criam um perfil (que pode ter a intenção de fazer humor, crítica, denúncia ou outras
motivações) onde mantêm relacionamento com seus seguidores. O termo fake significa "falso"
em inglês.
5
Feed é um recurso comum em blogs e sites, onde o usuário indica que deseja receber
notificações quando houver atualizações em determinada página. É uma ferramenta utilizada
para eliminar a necessidade de navegar até o site em busca de novidades - com o uso do feed,
o usuário sempre saberá quando há um novo conteúdo. Na navegação normal do usuário, não
existe certeza que haverá novos conteúdos ao acessar um site. O termo feed vem da língua
inglesa e significa "alimentar", pois envia publicações que “alimentam de informações” o
assinante.
16
aproximação, frequência, fluxos de informação, conflitos ou suporte emocional.
Um laço interfere em outros laços, seja pela própria existência ou pelos graus
de aproximação, frequência e outros determinantes. Para Zago (2011), os
laços são as relações sociais entre os indivíduos, que compõem o que se
chama de rede social.
Os laços sociais podem ser, ainda, fortes e fracos (GRANOVETER
1973; ZAGO, 2011) ou relacionais e de associação (RECUERO, 2009). Para
Recuero (2009) e Zago (2011), os laços fortes têm maior grau de aproximação
e suporte emocional, enquanto os fracos são mais pontuais, requerem menos
tempo e aproximação.
Laços fortes são aqueles que se caracterizam pela intimidade, pela
proximidade e pela intencionalidade em criar e manter uma conexão
entre duas pessoas. Os laços fracos, por outro lado, caracterizam-se
por relações esparsas, que não traduzem proximidade e intimidade.
Laços fortes constituem-se em vias mais amplas e concretas para as
trocas sociais, enquanto os fracos possuem trocas mais difusas.
Granovetter (1973 e 1983) também chama a atenção para a
importância dos laços fracos, como estruturadores das redes sociais.
Afinal, são eles que conectam os grupos, constituídos de laços fortes,
entre si. Laços fracos, assim, seriam fundamentais pois são aqueles
que conectam os clusters nas redes sociais (RECUERO, 2009, p. 41).
A aproximação, no entanto, pode ser substituída pela frequência em um
laço forte - como em laços entre desconhecidos pessoalmente, mas com
grande tempo de relacionamento virtual. Para Elisson, Steinfeld & Lampe
(2007, apud RECUERO, 2009), um site de rede social também auxilia a manter
laços sociais com quem está fisicamente distante.
2.1 Conceitos de redes sociais
As redes sociais digitais se caracterizam pela visibilidade das ações dos
atores e suas conexões. Para Zago (2011), apesar de também haver
construção de redes sociais fora do meio virtual, é no meio online que as
conexões entre os atores ficam mais visíveis. No ambiente offline é comum
traçar um perfil de uma pessoa através do vestuário, grupo de amigos e local
onde trabalha. Ainda assim, as informações são limitadas e, para uma
17
abrangência significativa (resgate histórico e informações de outrem), mais
difíceis de coletar. Nas redes sociais, em poucos cliques, ficam claras as
atividades cotidianas, das últimas férias, dos últimos anos, registradas em
fotos, vídeos e detalhes em comentários.
A visibilidade dos atores está intimamente ligada às suas preferências
de privacidade e reputação. De acordo com Recuero (2009), a reputação é a
percepção de um ator pelos outros atores, e a relação entre eles. A reputação
é construída com o tempo, através de elementos como: confiabilidade, número
de conexões, frequência de relação (postagens públicas ou conversas
privadas), opiniões, ineditismo e afinidade.
Informações publicadas por atores com muitas conexões e boa
reputação têm potencial de reverberar6
mais, e criar novas conexões. Para
Recuero (2009), as redes sociais têm a capacidade de difundir informações
através das conexões entre os atores, de forma rápida e interativa, fazendo
surgir uma pluralidade de novas informações entre os grupos sociais.
Quando o indivíduo está na presença dos outros, seu comportamento
tende a congregar e exemplificar valores reconhecidos pela
sociedade. Essas questões são pertinentes também quando se fala
de internet, porque na rede, atuando nos mais diversos sites e redes
sociais, o indivíduo está na presença de outras pessoas e o ator
social é visto e aparece para diversos grupos. William James,
Goffman (1985), expõe que o ator social, geralmente, mostra
aspectos diferentes em cada grupo em que se envolve (MARINHO,
2011, p. 32)
De acordo com Gilmor (2004, apud FRANCISCO, 2010), a internet
oferece a possibilidade da comunicação de muitos-para-muitos e poucos-para-
poucos. Os atores, seguindo suas configurações de preferência, podem
endereçar publicações para um determinado número de conexões. Contudo, as
conexões também têm o poder de encaminhar as publicações para suas
próprias conexões. Para Baudrillard (2002), a informação se espalha como um
vírus, e as redes de comunicação formam um campo viral.
6
Em meios digitais, reverberar está ligado ao compartilhamento massivo de uma informação, a
partir da sua publicação original.
18
One-to-one (um-um); one-to-many (um/muitos) e many-to-many
(muitos/muitos): usualmente, engenheiros e teóricos da comunicação
distinguem esses três modos de comunicação à distância. Um seria a
comunicação ponto a ponto, ou um-um, típica de cartas, telégrafo e
telefone. O segundo é o um-muitos, característica dos meios e
comunicação de massa – jornal, cinema, rádio, TV – onde uma fonte
emite uma mesma mensagem para vários receptores. A terceira, só
encontrada na Internet, é a muitos-muitos, onde todos podem ser
emissores e receptores e há muitas mensagens heterogêneas. Os
exemplos podem ser salas de chat ou os newsgroups que se
parecem com festas e assembleias. É interessante notar que a
Internet, como meio de comunicação, reúne estes três modos de
comunicação à distância, como por exemplo: chats (muitos-muitos), o
e-mail (um-um) e a leitura de jornais online (um-muitos) (JOHNSON,
2001, p. 31).
Segundo Boyd & Elisson (2007, apud ZAGO, 2011), diferente de fóruns
e outras comunidades na internet, as redes sociais estão estruturadas como
redes pessoais, colocando o indivíduo no centro de suas conexões. As
conexões são feitas por escolhas pessoais, e sujeitas ao interesse de cada um.
Um ator pode estabelecer uma conexão (aceitar ou solicitar “amizade” no
Facebook), mas escolher não receber as publicações do outro ator - ou ainda,
ser notificado a cada publicação desse ator.
2.2 Democracia nas redes sociais
Nas redes sociais digitas, embora ainda separados pelos graus de
relevância - medidos pela audiência, apoio e referências – e pelas
funcionalidades de que dispõem, todos os atores têm, em potencial, as
mesmas possibilidades. Seja um usuário de perfil pessoal, uma grande
empresa ou um pequeno blog mantido por vários atores. As redes sociais
formam um ambiente potencialmente democrático, de livre expressão e mais
agregador - ainda assim, passível de todos os direitos e responsabilidades da
sociedade7
. Cada vez mais, com o crescimento do acesso à internet, e a
sensação de pertencimento, o meio virtual, mesmo com suas próprias
características, se aproxima do meio offline.
7
Com a Lei nº 12.965, ou Marco Civil da Internet, sancionada em abril de 2014, algumas ações
na rede passaram a ter uma regulamentação específica.
19
A democratização das redes sociais está intrinsecamente ligada à
cibercultura, que é, por fundamento, democrática e libertária. Para Lévy (1999),
a cibercultura corresponde à globalização concreta das sociedades. Assim
como a sociedade tem consciência própria (como a moral), a cibercultura tem
também a sua própria consciência de acesso livre e irrestrito, direito de
apropriação e propagação de informações – embora, legalmente, possam ser
passíveis de inconformidades.
O crescimento do ciberespaço resulta de um movimento internacional
de jovens ávidos para experimentar, coletivamente, formas de
comunicação diferentes daquelas que as mídias clássicas nos
propõem (LÉVY, 1999, p. 11).
A apropriação de uma informação tem nuances diferentes nas redes
sociais digitais em relação ao ambiente real, mais pelas possibilidades do que
pelos conceitos. Um compartilhamento literal de uma publicação no Facebook
ou um retweet8
no Twitter são apropriações de opiniões, informações, piadas
ou denúncias. A apropriação por diversos atores sobre uma publicação
ocasiona fenômenos como a viralização. De acordo com Santana (2013), o
viral é um tipo de conteúdo que tem sucesso instantâneo e se espalha
rapidamente.
A viralização de uma informação é dependente da colaboração dos
atores e suas conexões. A relevância de uma informação é determinada por
esses atores, democraticamente. A massificação de um conteúdo nas redes
sociais é diferente de um conteúdo na mídia convencional. Enquanto os virais
na internet surgem, na maioria das vezes, ao acaso, os produtos midiáticos são
planejados especialmente para atingir o maior público possível. Com menos
contextualização, e às vezes com mais dependência de estarem inseridos em
termos e práticas de redes sociais, os virais podem atingir tanto ou mais
audiência que um conteúdo offline.
8
Ação de compartilhar literal ou parcialmente uma mensagem publicada por outro usuário na
rede social Twitter.
20
O termo “massa” é especificamente enganoso. Ele evoca a imagem
de uma vasta audiência de muitos milhares e até milhões de
indivíduos. Isto pode perfeitamente vir a calhar para alguns produtos
da mídia, tais como os mais modernos e populares jornais, filmes e
programas de televisão; mas dificilmente representa as circunstâncias
de muitos produtos da mídia, no passado ou no presente
(THOMPSON, 2001, p. 30).
De acordo com Kellner (1995), a cultura dos meios midiáticos é industrial
– os produtos são produzidos para a massa, utilizando formas e fórmulas para
gerarem lucro às empresas. Para Jenkins (2008), nos meios digitais existe uma
nova cultura na comunicação: a cultura participativa.
A expressão cultura participava contrasta com noções mais antigas
sobre a passividade dos espectadores dos meios de comunicação.
Em vez de falar sobre produtores e consumidores de mídia como
ocupantes de papéis separados, podemos agora considerá-los como
participantes interagindo de acordo com um novo conjunto de regras,
que nenhum de nós entende por completo, Nem todos os
participantes são criados iguais. Corporações – e mesmo indivíduos
dentro das corporações da mídia – ainda exercem maior poder do
que qualquer consumidor individual, ou mesmo um conjunto de
consumidores. E alguns consumidores têm mais habilidades para
participar dessa cultura emergente do que outros (JENKINS, 2008, p.
30).
Para Castells (2009), as redes sociais digitais fundiram a comunicação
pessoal com a comunicação massiva, caracterizada "pela capacidade de enviar
mensagens de muitos para muitos, em tempo real ou no momento escolhido, e
com a possibilidade de usar a comunicação ponto a ponto" (CASTELLS, 2009,
p. 55). É especialmente através dos laços fracos, de acordo com Granoveter
(1973, apud RECUERO, 2009), que as informações podem chegar a pontos
distantes das conexões. Laços fortes tendem a ter conexões semelhantes,
limitando a propagação de um conteúdo; laços fracos, por estarem mais
distantes do ponto inicial, levam o mesmo conteúdo a outros círculos e
conexões.
Assumindo o papel de ator, o jornalista também se apropria da
linguagem e dinâmicas das redes sociais digitais para produzir e divulgar as
suas informações. O ciberjornalismo não é apenas o jornalismo construído com
técnicas próprias para internet. Está envolvido e inserido em um meio sob
novas perspectivas e interações nunca percebidas até então. Até por isso,
ainda está em processo de reconhecimento e evolução desta atividade.
21
É o que será abordado no próximo capítulo, apresentando os conceitos
do ciberjornalismo, ciberacontecimento e sua constituição em um ambiente de
convergência.
3. JORNALISMO EM REDES DIGITAIS: CIBERACONTECIMENTO
Para referenciar o jornalismo exercido na internet, muitos autores,
acadêmicos e público leigo utilizam termos como “jornalismo online”,
“ciberjornalismo”, “webjornalismo” ou “jornalismo digital”, sem um critério
específico. Para Mielniczuk (2001), que trabalha com proposições de Murad
(1999) e Canavilhas (2001), os termos são relacionados de acordo com o
suporte técnico: como chamar o jornalismo para televisão de telejornalismo ou
o impresso em papel de jornalismo impresso. Nesta pesquisa, ainda que em
referências bibliográficas e no decorrer dos capítulos seja possível encontrar
termos com equivalência de significado, a nomenclatura aplicada será a
proposta por Mielniczuk (2003), que escala jornalismo eletrônico, jornalismo
digital/multimídia, ciberjornalismo, jornalismo online e webjornalismo.
Tabela 1 – Resumo das definições de nomenclaturas sobre práticas de
produção e disseminação de informação no jornalismo contemporâneo.
Nomenclatura Definição
Jornalismo eletrônico utiliza de equipamentos e recursos eletrônicos
Jornalismo digital ou
Jornalismo multimídia
emprega tecnologia digital, todo e qualquer
procedimento que implica no tratamento de dados
em forma de bits
Ciberjornalismo envolve tecnologias que utilizam o ciberespaço
Jornalismo online
é desenvolvido utilizando tecnologias de
transmissão de dados em rede e em tempo real
Webjornalismo
diz respeito à utilização de uma parte específica da
Internet, que é a web
Fonte: Mielniczuk (2003) p.44.
De acordo com a designação de Mielniczuk (2003), essas práxis
jornalísticas são complementares uma à outra, numa ordem de mais genérica
para mais específica - como alegoria, é possível pensar na taxonomia
moderna, que classifica os seres vivos em reino, filo, classe, ordem, família,
22
gênero e espécie. No caso desta pesquisa, o termo que mais interessa é o
ciberjornalismo, por ser o mais abrangente dentre estes a inserir-se na
complexidade do universo da cibercultura (LEVY, 1999; LEMOS, 2002).
Contudo, de modo que o foco do estudo está no ciberacontecimento e nas
redes sociais digitais, o termo mais genérico possível, jornalismo, também pode
ser aplicado sem evasão de sentido - uma vez que as práticas básicas do
jornalismo são inerentes a qualquer meio midiático utilizado.
Como forma de jornalismo mais recente, o jornalismo digital é a
modalidade na qual as novas tecnologias já não são consideradas
apenas como ferramentas, mas, sim, como constitutivas dessa prática
jornalística (BARBOSA, 2006, p. 1448).
A popularização, ainda pequena, da internet nos anos 1990, e o
surgimento de sites brasileiros para públicos maiores (com a devida proporção
de usuários para a época) também atraiu os veículos de comunicação
impressos para o meio digital. Os primeiros sites de periódicos limitavam-se a
publicar algumas, ou todas as, notícias do jornal impresso, muitas vezes com
certo atraso em relação à versão impressa - que era prioritária. A atualização e
manutenção desses sites eram feitas a cada vinte e quatro horas (SOUSA,
2013).
O surgimento dos portais, aliando jornalismo, entretenimento e acesso à
internet, com o crescimento dos usuários de internet no Brasil - alguns já
disponibilizando de banda larga -, culminou em maior demanda e oferta de
informações e notícias. De acordo com Ferrari (2004, apud SOUSA, 2013), o
termo portal data de 1997.
Foi a partir de 2000 que os veículos começaram a investir na produção
de conteúdos com uma linguagem que utilizasse todas as
potencialidades da nova mídia. Assim, passou a haver uma
preocupação com a integração entre conteúdo de qualidade, design
acessível e viabilidade financeira. As empresas passaram a ter uma
presença mais ativa na rede, oferecendo serviços como chats,
comércio eletrônico, ferramentas de busca, mapa do site, cotação
financeira, jogos on-line, previsão do tempo, entre outros (além das
notícias) (SOUSA, 2013, p. 42).
Segundo Melniczuk (2003), o produto jornalístico para web pode ser
observado, em ordem cronológica, a partir de três gerações. Na primeira, as
23
grandes empresas jornalísticas apenas reproduziam parcial ou totalmente o
conteúdo do jornal impresso; na segunda, as empresas começaram a utilizar
mais recursos disponíveis, como e-mail para contato com leitores e hiperlinks
nos textos; na terceira, os veículos passaram a produzir conteúdo
especificamente para web e explorar ainda mais as potencialidades e recursos
(inclusive além do jornalismo, como serviços de chat). É também o momento
em que surgem os portais.
Apesar de utilizar o termo geração, Melniczuk (2003) enfatiza que o
conceito de geração apenas corrobora a cronologia das práticas, mas que uma
geração, enquanto categoria de atividade, não exclui outra. De modo que,
enquanto alguns jornais avançavam na utilização da internet, outros ainda
persistiam na cópia do modelo impresso, ou sequer mantinham um site.
Também, ainda que explorasse o uso de multimídia e interatividade, um site
poderia, de forma geral, apresentar mais características da primeira geração do
que da segunda. A passagem de uma geração para outra foi gradual e
assíncrona, não um movimento universal entre diversos veículos.
Para Barbosa (2008, apud SOUSA, 2013), existe uma quarta e quinta
gerações do jornalismo específico para internet. A quarta geração seria
caracterizada pela utilização de equipes especializadas, blogs, mais canais de
comunicação com os leitores, material audiovisual e feed, entre outros. A
quinta geração, atual, seria a do jornalismo convergente, com uso intenso de
gadgets9
na produção e circulação das informações (BARBOSA, 2013;
SOUSA, 2013).
A evolução do jornalismo desenvolvido para internet é concomitante à
evolução das tecnologias e o modo com que as pessoas passam a consumir
notícias - e outras informações online. Tudo está relacionado. O universo do
jornalista e do leitor é ampliado, e cada vez mais os dois se aproximam. A
acessibilidade culmina em um relacionamento dependente, de construção
mútua no mesmo ambiente.
9
Gadgets são os dispositivos eletrônicos móveis, com uma função específica ou
multifuncionais, como mp3 player, telefones celulares, smartphones e tablets, entre outros.
24
Alterações profundas nos processos de produção e consumo de
notícia passam a mudar a fisionomia do jornalismo. Uma dessas
mudanças é a maior interferência dos públicos no processo noticioso,
conquistada pela popularização do acesso e pela simplificação das
tecnologias que favorecem a publicação e cooperação na rede
(HENN, HÖEHR e BERWANGER, 2012, p. 102)
O consumo de notícias deixa de seguir um “sistema pull”, em que o
público vai até as informações, para ser consolidado em um “sistema push”,
aonde o conteúdo chega até o usuário. Além disso, o público também tem
autonomia para decidir como, quando e onde vai receber as informações - e o
que fará com elas (CANAVILHAS, 2010b; SOUSA, 2013).
A relação do leitor com o jornalista, e o próprio jornalismo, passa por
todas as fases do processo de produção do principal produto jornalístico: a
notícia. O leitor atua como participante de um acontecimento antes de ser
publicado como notícia, além de atuar como fonte, analista, comentarista e
propagador da informação. A ação dos atores é pertinente a toda a cadeia de
eventos.
Assim, se de um lado esses espaços facilitam a publicação de
informações, de outro, os veículos noticiosos ganham novos aliados:
os usuários que atuam como filtros ao indicar, replicar e colaborar
para a circulação das postagens dos veículos jornalísticos no
ciberespaço. Nesse sentido, as tradicionais organizações jornalísticas
vêm retrabalhando a participação do público, na medida em que o
alcance das informações publicadas pelas organizações jornalísticas
é potencializado a partir das ações participativas dos usuários dos
sites de redes sociais na internet (SOUSA, 2013, p. 17).
O ator é sempre uma parte do processo de construção do
ciberacontecimento, e da apropriação do jornalismo. Ainda que não seja citado
como fonte ou parte do evento, a replicação de uma informação contribui para
a sua constituição. O movimento dos atores, aliado aos critérios e intenções do
jornalista, é o que norteia a produção da notícia a partir do acontecimento na
internet. O jornalista busca a informação na rede social, onde estão seus
leitores e os atores, para construir sua narrativa. O ciberacontecimento sai das
redes sociais digitais para o jornalismo e retorna, sob o formato de notícia, às
redes.
25
Os processos de produção do acontecimento jornalístico e suas
narrativas não atendem mais à lógica linear e desencadeiam-se de
forma sincrônica com a presença significativa de novos atores. As
lógicas de produção se alteram na medida em que é a própria rede,
em um primeiro momento, que abastece os jornalistas de informação
sobre o que relatar (HENN, HÖEHR e BERWANGER, 2012, p. 114).
O ciberacontecimento é o acontecimento que apresenta ou está inserido
nas lógicas da internet, em especial das redes sociais.
3.1 Ciberacontecimento
O acontecimento, aquém de ser um acontecimento jornalístico ou
ciberacontecimento, é, primordialmente, um desvio do contínuo, do senso
comum de “o que é esperado”, ainda que um acontecimento possa ser previsto
ou programado. O acontecimento é maior do que o “fato novo”, que por si só já
possui disposição para se tornar notícia. De acordo com Henn (2013), o
acontecimento seria o desencadeamento de algo possuidor de alta taxa
informacional, no sentido da Teoria da Informação proposta por Shannon
(1948) e Weaver. Contudo, algumas características são encontradas em
ambos, como ruptura, singularidade e notabilidade (QUÉRÉ, 2005).
Para Henn (2013), existe uma percepção de que o acontecimento é algo
exterior ao jornalismo, que teria o papel de torná-lo público através de suas
narrativas. O acontecimento, de fato, é uma série de acasos que impulsionam
alguns processos (HENN, SALET, 2012). O termo ciberacontecimento não diz
respeito apenas ao que é produzido, ou veiculado, ou disseminado em redes
sociais/internet, mas a todo esse processo.
Em relação à narrativa, o ciberjornalista atua justamente como narrador,
ou mediador, de um acontecimento muitas vezes já narrado ou mediado nas
redes sociais digitais. O acontecimento só tem significado quando está envolto
em um discurso (CHARAUDEAU, 2009; BACCIN, 2013). Para Baccin (2013), a
narração de um acontecimento é “uma dimensão de seleção e de escolha
envolvendo a elaboração de um arranjo narrativo que ordena e desordena o
ocorrido”.
26
O grande número de informações, descentralizadas, embora contribuam
para a disseminação e a caracterização do acontecimento, são empecilhos na
apuração de dados pelo jornalista. Para Henn, Höehr e Berwanger (2012),
“quanto maior a força surpreendente ou desestabilizadora do acontecimento,
mais informação ele porta”. Além disso, a sapiência prévia e o fator
instantaneidade quebram a hierarquia da fonte de informação, observada antes
da popularização da internet.
Trata-se de emissão dispersa e capilarizada, fundamentalmente não-
hierárquica, em que emissores alternativos estão produzindo
acontecimentos, procurando atrair a atenção dos jornalistas e,
consequentemente, um espaço valioso no noticiário (BACCIN, 2013).
Contudo, a credibilidade, e por consequência a hierarquia, do jornalismo
persiste em relação à veracidade do ciberacontecimento. O jornalismo passa a
ser um complemento ou elemento de validação da informação das redes
sociais. De acordo com Recuero (2011), o jornalista e a narrativa jornalística
aprofundam e legitimizam o ciberacontecimento, confirmando “a verdade” do
que está sendo compartilhado nas redes sociais.
Para Henn, Höehr e Berwanger (2012), inspirados emQuéré (2005), a
partir da descontinuidade e poder de revelação, inerentes ao acontecimento,
um processo dinâmico de discussão é instaurado. Tomado como experiência, o
acontecimento gera um campo problemático. “A percepção do nível de
afetação mobiliza a transformação do acontecimento vivido no campo da
experiência para o acontecimento jornalístico” (HENN, HÖEHR E
BERWANGER, 2012, p. 107).O ciberacontecimento é caracterizado pela
intervenção direta de vários atores, com diversas motivações. Para Höehr
(2013), “não há um só indivíduo responsável pelo desencadeamento das
informações na rede, assim como não há direção certa a ser tomada”.
Assim, cada cidadão em potencial é produtor de informação, não
importando se com intenções ou com ambições jornalísticas, mas
atuando de alguma forma no campo do jornalismo ou muito próximo
dele (MIELNICZUK, 2013, p. 123).
A instantaneidade, o fluxo intenso de informações, os apelos
audiovisuais e os processos culturais contemporâneos aproximam as ações,
27
distantes no modelo clássico da comunicação, de recepção e transmissão de
uma informação. A necessidade de compartilhar também constitui o
ciberacontecimento. O produto jornalístico criado a partir da ação dos atores na
rede foi chamado por Zago (2011) de recirculação jornalística.
Antes da internet, e com a consolidação dos meios eletrônicos, a
linguagem jornalística foi sendo adaptada em cada mídia. Na internet e nas
redes sociais, meio, forma e linguagem são aspectos ainda mais próximos -
assim como a distância entre público e privado diminui, ou é encarada de forma
diferente. O ciberacontecimento se desenvolve dentro dessa lógica, com estes
aspectos. Ao analisarem um protesto específico contra a homofobia,
organizado em redes sociais na cidade de São Paulo, em 2012, Henn, Höehr e
Berwager detectam:
Têm-se aqui duas facetas de acontecimento que se complementam.
Em primeiro lugar, a geração dos fatos (manifestações públicas de
protesto) foi articulada por meio de dos vários dispositivos da internet.
Em segundo, a própria divulgação destes protestos, com a respectiva
repercussão na mídia tradicional, deu-se por meio destes
dispositivos, o que dá a este acontecimento ingredientes inéditos de
configuração e propagação. Neste cenário propõe-se o termo
ciberacontecimento para designar acontecimentos que se constituem
a partir de lógicas específicas (HENN, HOEHR e BERWANGER,
2012, p. 104)
Antes do ciberjornalismo, o conteúdo publicado seguia os critérios de
noticiabilidade e passava por um processo de gatekeeping baseado em uma
série de diretrizes pré-definidas. A decisão, no entanto, pertencia a um editor-
chefe (ou mais de um). Apesar da aparente liberdade para produzir e publicar
no digital, o jornalista tem outro processo de filtragem e busca de pauta com os
“portões abertos” (KOVACH e ROSENTIEL, 2004; SOUSA, 2013). A relevância
e importância que o ciberacontecimento ocasiona nas pessoas podem torná-lo
imprescindível de ser pautado. A notícia já está na esfera pública antes da
ação da mídia, que justamente fará sua cobertura por esta já pertencer à
consciência pública através de outros meios (SHIRKY, 2012; SOUSA, 2013).
Para Höehr (2013), na sociedade atual, o privado também é público,
através da intervenção dos atores. A mesma necessidade de compartilhar,
vista nas redes sociais, também é estendida ao posicionamento, à opinião,
perante um fato ou uma nova informação. A forma como o conteúdo é
28
desenvolvido para redes sociais instiga que o usuário, ao receber uma
informação, avalie-a e retransmita-a, segundo seus critérios, independente do
tempo e do tipo de reflexão, para suas conexões. Para Charaudeau (2009), o
acontecimento nunca é transmitido em seu estado bruto. De acordo com
Henn, Höehr e Berwanger (2012), “o acontecimento cria um contexto
institucional de sentido que convoca os indivíduos a assumirem um
posicionamento.
Mesmo que individualmente haja uma experiência singular do
acontecimento, existe a experiência coletiva que gera o ambiente
interpretante em que as possibilidades de sentido ganham contornos
mais efetivos. Ao se configurar como mediação, o acontecimento
passa a se instituir como uma experiência pública. Com as redes
sociais, essa experiência é intensamente compartilhada, mesmo que
de forma mediada: sentidos coletivamente construídos e agindo sobre
o jornalismo convencional (HENN, HOEHR, BERWANGER, 2012, p.
107).
O ciberacontecimento já está narrado pelos usuários antes de adquirir o
aspecto de notícia dado pelo jornalista (BACCIN, 2013), já tem a textura da
rede, e o agendamento dos veículos percebe os acontecimentos ligados às
novas formas de produção e consumo de noticiário (HENN, 2011). No
ambiente convergente da internet e das redes sociais, assim como recepção e
transmissão são íntimos, produção e consumo também são.
3.2 Ambiente convergente
As redes sociais digitais são, em grande maioria, auxiliadas por
plataformas (sites) mediadas pelo computador. A consolidação de dispositivos
móveis, como smartphones e tablets, mudou um pouco o cenário. Os acessos
ao YouTube são, em 40%, oriundos de dispositivos móveis. Dos 1,15 bilhão de
usuários do Facebook, 220 milhões acessam a rede social, exclusivamente,
através do celular10
. A utilização de gadgets, ao mesmo tempo, faz parte de um
fenômeno chamado convergência de mídias (JENKINS, 2008).
10
De acordo com dados do Olhar Digital, em outubro de 2013.
29
Por convergência, refiro-me ao fluxo de conteúdos através de
múltiplos suportes midiáticos, à cooperação entre múltiplos mercados
midiáticos e ao comportamento migratório dos públicos dos meios de
comunicação, que vão a quase qualquer parte em busca das
experiências de entretenimento que desejam (JENKINS, 2008, p. 29).
O comportamento migratório e convergente, apontado por Jenkins
(2008), é observado em atores e redes que se conectam entre si. Uma
publicação na rede social Instagram pode ser compartilhada no Facebook e
comentada pelo Twitter, por atores que não necessariamente estão conectados
em primeiro, segundo ou terceiro graus. Nesse cenário, as redes sociais atuam
como redes de transmissão, e os atores, como transmissores.
O desenvolvimento de novos meios de comunicação não consiste
simplesmente na instituição de novas redes de transmissão de
informação entre indivíduos cujas relações sociais básicas
permanecem intactas. Mais do que isso, o desenvolvimento dos
meios de comunicação cria novas formas de ação e de interação e
novos tipos de relacionamentos sociais – formas que são bastante
diferentes das que tinham prevalecido durante a maior parte da
história humana (THOMPSON, 2001, p. 77).
É notório o quanto as principais redes de televisão disputam audiência
umas com as outras, chegando a extremos como evitar (ou proibir) a mera
citação do nome do concorrente. Nas redes sociais, embora em algumas
plataformas não haja meios de interação oficial com outras mídias sociais,
existem diversas ferramentas que possibilitam a interação com outros meios.
“Se o paradigma da revolução digital presumia que as novas mídias tirariam o
lugar das velhas mídias, o paradigma emergente da convergência presume que
velhas e novas mídias interagirão de formas mais complexas” (JENKINS, 2008,
p. 30-31).
O comportamento migratório do público, contudo, não existe apenas em
redes sociais digitais. Uma pessoa pode assistir a um telejornal, ou ler um
jornal impresso, enquanto navega na internet, envia mensagens de texto e
conversa com outras pessoas (em chats ou pessoalmente). “A Web unificou os
elementos de uma revolução na cadeia de suprimentos que vinha fermentando
havia décadas” (ANDERSON, 2006, p. 39).
A prática conhecida como segunda tela exemplifica a convergência de
mídias detectada por Jenkins. Apesar de também abranger um conceito de
30
recurso em um dispositivo eletrônico (como TVs interativas), a segunda tela é
um processo muito mais ligado aos hábitos de consumo dos usuários, que não
dividem ou dispersam, mas compartilham a sua atenção entre mais de um
gadget.
Ainda que o processo de convergência esteja intimamente ligado à
tecnologia e aos meios, a propagação das informações está no uso das
pessoas. Os atores são como agentes dos meios e das informações. “A
circulação de conteúdos – por meio de diferentes sistemas de mídia, sistemas
administrativos de mídias concorrentes e fronteiras nacionais – depende
fortemente da participação ativa dos consumidores” (JENKINS, 2008, p. 29).
Muitas informações em diversos canais se encontram justamente pela
ação dos atores sociais. Para Recuero (2009), a difusão de informações pelos
atores depende dos seus interesses, percepções, sentimentos, perspectivas e
uma ligação entre o processo de decisão da publicação e a visão de como as
conexões vão interpretá-la.
Romero et al (2010), assim como Java et al (2007), no entanto,
demonstram que a maior parte dos usuários da ferramenta é passivo,
ou seja, não atua de forma a coletar e repassar informações. Aqueles
que atuam nesse sentido estão filtrando as informações que serão
repassadas à rede social. Para que a informação chegue a pontos
mais distantes das redes no Twitter, é preciso que usuários ativos
estejam dispostos a dispender tempo e atenção selecionando
publicações para repassar (RECUERO e ZAGO, 2009, p. 05).
É nesse ambiente de convergência que se dão os processos
jornalísticos contemporâneos, com destaque para a produção dos
ciberacontecimentos. O ciberjornalismo busca pautas em diversas redes
sociais, e mantém perfis específicos nelas. Do mesmo modo, produz
conteúdos direcionados às redes sociais e gadgets. Não é mais possível
pensar a informação sem contemplar esse cenário convergente.
31
4. ANÁLISES DOS DADOS: CATEGORIAS DE CIBERACONTECIMENTOS
Para identificar de que forma os acontecimentos, tramados nas redes
sociais digitais, são trabalhados nos portais de notícias, e a que “categorias de
acontecimentos” podem pertencer, visando atingir o objetivo deste trabalho,
primeiramente foi feito um levantamento bibliográfico das áreas identificadas
como de interesse: redes sociais na internet, ciberjornalismo e
ciberacontecimento. As leituras, especialmente as obras de Recuero (2009),
Zago (2011), Mielniczuk (2003) e Henn (2012), foram fundamentais para a
compreensão dos processos que envolvem os atores nas redes sociais digitais
e como o jornalismo passa a compreendê-los, no sentido amplo do termo, em
seus próprios processos. Entender as transformações que sofrem e ocasionam
foi importante para a aplicação de outros processos metodológicos,
especialmente as inferências a partir dos dados obtidos.
Dentro do período de 12 meses para a pesquisa ser realizada, foi
estabelecido um período de observação dos portais de 01 mês, entendido
como suficiente, dada a temporalidade de execução desse trabalho, para
acompanhar com clareza o desenrolar da pauta de ciberacontecimentos. A
decisão pelo acompanhamento de 01 mês ocorreu após uma observação
prévia, de 10 dias, que tinha o objetivo de verificar a permanência e recorrência
de um mesmo ciberacontecimento nas páginas iniciais dos portais. Foi
percebido que as notícias relacionadas a ciberacontecimentos permaneciam na
capa dos sites, em média, não mais do que um dia.
Para que houvesse mais precisão nos dados obtidos da pesquisa,
optou-se por realizar 03 observações diárias, devido ao dinamismo que
caracteriza as redes sociais na internet (RECUERO 2011; ZAGO 2011) e o
ciberjornalismo (BARBOSA 2013; SOUSA 2013). Os horários de observação
foram divididos em três turnos de um dia: matutino, vespertino e noturno. Além
das 03 observações, optou-se por acompanhar 02 páginas iniciais de 02
portais de notícias, para que, além de acompanhar o ritmo do ciberjornalismo,
também fosse possível verificar o processo de forma mais abrangente. Os
portais escolhidos foram G1 e R7.
Os portais de notícias G1 e R7 foram selecionados por terem audiência
e relevância significativas, além de pertencerem a grandes conglomerados de
32
mídia - Rede Globo e Record - (fato que também, em tese, caracteriza um
ambiente naturalmente convergente entre as plataformas de uma mesma
empresa de comunicação). Todos os dados obtidos são de caráter público.
Para Elm (2009, apud AMARAL, FRAGOSO e RECUERO, 2011), o conceito de
público é a informação aberta e disponível para todos, que não requer
cadastros, convites, aceites ou autorização direta.
Apesar do período de 01 mês, na prática, a observação foi realizada
durante 32 dias, de 20/01/2014 a 20/02/2014. O projeto previa que o
monitoramento seria restrito aos ciberacontecimentos provenientes do
Facebook e do YouTube. Durante a observação, constatou-se que, apesar de
ser possível determinar a origem de um ciberacontecimento, não seria possível
restringi-lo a uma única rede social - caracterizadas pela convergência de
mídias e propagação de informações. Para tanto, foram considerados todos os
ciberacontecimentos relacionados a qualquer rede social digital.
O período da manhã foi idealizado entre 10h e 10h30; o da tarde entre
16h e 16h30; e o da noite entre 22h e 22h30 - respeitando aproximadamente
seis horas de diferença entre um e outro. Na prática, o período compreendido
de todas as observações foi realizado, pela manhã, das 09h40 até 11h50; pela
tarde de 15h53 até 17h22; e pela noite de 21h53 até 23h40. A antecedência e
o atraso foram considerados incapazes de alterar significativamente os
resultados obtidos. As variações no monitoramento foram motivadas pela
impossibilidade de respeitar o horário estabelecido em algumas observações
devido a motivos diversos. No entanto, em alguns turnos não foi possível
realizar o monitoramento – dos 66 turnos previstos de monitoramento, 14 não
foram realizados. Neste caso, é possível, e provável, que novos dados
pudessem ser obtidos, alterando, ainda que não significativamente, os
resultados. Na tabulação dos dados (Anexo 1, disponível para consulta em
mídia física e online), os turnos onde não houve observação podem ser
identificados pela cor vermelha. Os turnos em que, durante o monitoramento,
não foi encontrado nenhum ciberacontecimento estão identificados com a cor
laranja.
O método de observação respeitou sempre a diretriz de monitorar
primeiramente o portal G1 e depois o R7. A observação foi feita acessando a
página inicial do portal e verificando se havia, ou não, alguma publicação
33
referente a algum tipo de ciberacontecimento proveniente de redes sociais. Em
caso da presença de um ciberacontecimento na capa de um dos portais, o
processo metodológico seguinte iniciava com a captura de tela e o
armazenamento do arquivo da imagem em uma pasta referente ao dia da
observação. Para simplificar a tabulação e a apreciação dos dados, os turnos
foram nomeados Turno 1 (manhã), Turno 2 (tarde) e Turno 3 (noite).
Todas as imagens geradas pela captura de tela seguem um padrão de
nomenclatura e layout. Todos os dados estão disponíveis nos anexos deste
trabalho, em mídia física, e em pasta com acesso público no serviço de
compartilhamento e sincronização de arquivos Google Drive.
Quanto ao nome dos arquivos gerados (todos em formato JPEG), a
partir das capturas de tela, foi utilizado o padrão “portal-mês-dia-turno-número
da captura feita em ordem cronológica” a fim de facilitar a busca. Assim, se na
mesma observação do portal G1, em 23/01, no Turno 2, houvesse mais de
uma imagem, os dois arquivos seriam assim chamados: G1-01-23-Turno2-1 e
G1-01-23-Turno2-2, respectivamente.
Em algumas capturas de tela, há mais de um ciberacontecimento,
ocorrência especialmente observada em acontecimentos com cobertura
extensa, como o caso dos rolezinhos. Nestas situações, não foi realizada mais
de uma captura. Para facilitar a consulta e a percepção de dados, foi criada
uma planilha de tabulação que permitisse identificar em quais observações há
mais de um ciberacontecimento por captura de tela.
Todas as imagens estão armazenadas em pastas, por dia de
observação e por portal. Assim, para acessar a captura de tela gerada a partir
da observação do G1, em 23/01, no Turno 2, é preciso acessar a pasta “G1”,
depois a pasta “01-23”, e visualizar o arquivo “G1-01-23-Turno2-1”. Como não
houve um número expressivo de capturas de tela em um mesmo dia de
observação, que dificultasse a consulta posterior, foi desnecessário subdividir
os arquivos além do dia – como, talvez, por turno.
Para a captura de tela, optou-se por manter a imagem com o máximo de
informações possíveis, a fim de possibilitar uma gama maior de análise de
dados. Para tanto, as imagens presentes nos anexos foram editadas suprimido
34
o menu de navegação do browser11
, mas mantendo a captura do restante da
tela, e não apenas a publicação observada. A permanência da barra inferior da
tela, por exemplo, permite que o horário de observação indicado na tabulação
dos dados seja comprovado. A permanência da barra lateral indica a posição
que a publicação ocupa na página (o quanto o usuário precisou “descer” a
barra de rolagem para encontrá-la).
Durante o período de observação, 03 computadores foram utilizados,
alternadamente e sem critérios específicos, para obtenção dos dados e das
capturas de tela. A alternância deu-se por necessidades particulares do
pesquisador, e, ainda que não influenciem em nenhum aspecto os dados
obtidos, geraram imagens com resoluções diferentes umas das outras.
Em cada observação, os seguintes dados foram armazenados e
inseridos em uma planilha: captura da tela, horário da captura, título da
publicação na página inicial e o link específico da publicação. A indexação
contou, inicialmente, com uma categorização prévia e bastante genérica - mais
de 20 opções de categoria surgiram. A partir da metade do período de
observação, foi possível restringir e classificar os ciberacontecimentos em 12
categorias.
Para facilitar a compreensão dos dados, percebeu-se a necessidade de
restringir ainda mais as categorias. O número de 06 categorias foi considerado
suficiente, e assim, todos os ciberacontecimentos foram classificados como:
Manifestações, Testemunhos, Humor/Memes, Protestos/Campanhas,
Comportamento e Entretenimento. As categorias tentam sintetizar as práticas
observadas nas redes sociais e pautadas pelos portais.
De modo que a planilha com todos os dados brutos coletados, e todas
as especificidades armazenadas, mostrou-se ineficiente para a apreciação dos
dados, uma segunda planilha foi montada. Esta segunda planilha privilegia
apenas alguns dados visualmente. Enquanto a primeira planilha, chamada de
Dados Coletados, contém todas as informações coletadas e está apresentada
seguindo apenas a ordem de coleta dos dados, a segunda, chamada
Categorização com Títulos, apresenta os dados já separados por categoria e
possibilita a apreciação clara dos títulos das publicações e sua incidência.
11
O mesmo que navegador; o software utilizado para acessar páginas na internet.
35
4.1 Considerações sobre o monitoramento dos portais de notícias
Durante os 32 dias de monitoramento do G1 e do R7, foram coletadas
183 publicações caracterizadas como ciberacontecimentos. Destas, 149 eram
publicações únicas, sem levar em conta sua permanência nas capas dos
portais em mais de um turno de observação. Ao todo, 22 publicações foram
observadas mais de uma vez. Das 183 publicações, 107 foram coletadas no
G1 e 76 no R7, representando 58% e 42% respectivamente (Figura 1). A
observação por turnos apresentou resultados bastante semelhantes em relação
à quantidade de ciberacontecimentos. Dos 183 dados, 61 foram coletados no
Turno 1, representando 33%; 66 no Turno 2, com 36%; 56 no Turno 3, com
31% (Figura 2).
Figura 1 – Totalidade de ciberacontecimentos observados nos portais de
notícias G1 e R7 no período de 32 dias.
58%
42% G1
R7
76 publicações
107 publicações
36
Figura 2 – Totalidade de ciberacontecimentos observados nos turnos 1
(manhã), 2 (tarde) e 3 (noite).
A partir da categorização dos ciberacontecimentos, foram identificados
67 em Manifestações (47 no G1 e 20 no R7), 12 em Campanhas/Protestos (06
no G1 e 06 no R7), 37 em Comportamento (14 no G1 e 23 no R7), 20 em
Entretenimento (13 no G1 e 07 no R7), 14 em Humor/Memes (07 no G1 e 07
no R7) e 33 em Testemunhos (20 no G1 e 13 no R7) (Tabela 2). A categoria
Manifestações foi amplamente superior às outras, superando 1/3 do total de
publicações, e tendo quase o dobro de publicações em relação à segunda
categoria com maior número de publicações (Figura 3). A categoria
Comportamento foi a única em que o R7 teve mais publicações que o G1. Em
Campanhas/Protestos e Humor/Memes, os dois portais tiveram o mesmo
número de publicações.
33%
36%
31%
Turno 1
Turno 2
Turno 3
61 publicações
56 publicações
66 publicações
37
37%
6%
20%
11%
8%
18%
Manifestações
Campanhas/Protestos
Comportamento
Entretenimento
Humor/Memes
Testemunhos
Tabela 2 – Categorização dos ciberacontecimentos observados durante o
período de monitoramento.
G1 R7 Total
Manifestações 47 20 67
Campanhas/Protestos 6 6 12
Comportamento 14 23 37
Entretenimento 13 7 20
Humor/Memes 7 7 14
Testemunhos 20 13 33
Fonte: Autor
Figura 3 – Totalidade de ciberacontecimentos observados por categoria.
4.1.1 Publicações observadas mais de uma vez
A maioria dos dados coletados, compreendidos dentro do período de
observação estabelecido, não apareceu em mais de uma verificação. É
possível atribuir essa constatação ao caráter dinâmico da internet - aspecto
estendido aos portais de notícias. Assim como as redes sociais, os portais
também são atualizados com grandes quantidades de conteúdo a todo
instante. As publicações, mais ou menos relevantes, seguem os critérios
38
estabelecidos pelos editores, e a capa destes sites é alterada (atualizada)
diversas vezes em um mesmo dia.
Ainda que o mesmo ciberacontecimento costume aparecer numa
sequência seguida de turnos (de acordo com a metodologia aplicada nesta
pesquisa), as publicações, em geral, não são as mesmas. O conteúdo gerado é
atualizado em novas notícias, artigos, galerias ou outros formatos, suprimindo a
publicação original ou predecessora, mas mantendo o fato em evidência na
página inicial. Outra prática verificada, quando houve repetição de publicações
em turnos seguidos, foi a alteração do título.
Apenas 04 publicações foram percebidas mais de duas vezes em
períodos de observação distintos. No Portal G1, “Ela não liga para grifes. Ele é
fã do McDaleste” (título na capa) e “FOTOS: veja quem são os participantes
dos encontros” (título de capa), ambos categorizados como Manifestações,
foram averiguados em 06 oportunidades. As duas primeiras no dia 20/01, nos
Turnos 2 e 3, na posição intermediária da capa do site. Nas duas observações
subsequentes, em 21/01, Turnos 1 e 2, as publicações não constavam na capa
do G1. A partir do Turno 3 do mesmo dia, e nas três verificações seguintes, do
dia 22/01, as duas publicações retornaram para a capa do site, mas na posição
rodapé (Figura 4). Outras publicações, referentes ao ciberacontecimento
rolezinho, também foram observadas em turnos seguidos, mas com um
máximo de uma repetição.
O R7 publicou o acontecimento um dia após a cobertura do G1. O texto
da publicação do portal da Rede Globo, apesar do título na capa fazer
referência restrita ao fato, aborda a desmistificação do preconceito que gerou a
polêmica inicial - a vida sexual do casal formado por uma modelo e um
cadeirante. O título do artigo interno é “Cadeirante pode ter vida sexual ativa,
dizem especialistas”. Na publicação do R7, em formato de galeria de imagens
com pequenos parágrafos na função de legenda, o foco é a opinião da modelo
e a sua carreira. Enquanto o G1 explorou a situação de forma mais plural, o R7
evidenciou a polêmica. No entanto, o evento recebeu destaque de banner de
capa no R7 em 02 turnos observados; no G1, o artigo apareceu na área
intermediária.
39
Figura 4 – Identificação de publicações do ciberacontecimento rolezinho
no portal G1, em 22/01, Turno 3 (Anexo 1: G1-01-22-Turno3-4)
Figura 5 – Identificação do ciberacontecimento no portal R7, em 05/02,
Turno 1 (Anexo 1: R7-02-05-Turno1-1)
40
A publicação “Após quimioterapia, jovem faz diário comovente” (título de
capa) esteve na capa do R7 em 04 observações, durante três dias. A primeira,
no dia 20/01, Turno 3; a segunda no dia 21/01, também Turno 3 (Figura 6); as
outras duas ocorreram nas observações subsequentes, dia 22/01, Turnos 1 e
2. Ainda que não haja certeza quanto aos critérios que o portal R7 utiliza para
atualizar a sua capa, é possível supor alguns como: novas publicações ocupam
o lugar das já publicadas, número de acessos (publicações mais vistas
permanecem, menos vistas são substituídas), similaridades com outras
publicações e até equívocos. Da mesma forma, é possível supor que a
reincorporação de uma publicação à capa também acompanhe os mesmos
critérios.
Figura 6 – Identificação do ciberacontecimento no portal R7, em 21/01,
Turno 3 (Anexo 1: R7-01-21-Turno3-3)
A permanência das publicações pode ser considerada pela mesma ótica,
além da falta de novas publicações ou novas publicações menos relevantes. As
22 publicações observadas mais de uma vez representam apenas 12% das
149 publicações únicas.
41
4.1.2 Opções de categoria
Alguns dados da pesquisa se encaixam em mais de uma categoria,
como “Foto de assalto vira febre com 'memes'”, observado em 23/01, Turno 3.
A publicação foi categorizada como Testemunhos, mas também poderia ter
sido classificada como Humor/Memes. O conteúdo da publicação, inclusive,
está mais relacionado à categoria Humor/Memes do que Testemunhos.
Contudo, como o acontecimento original já tinha precedentes nesta pesquisa,
relacionados à categoria Testemunhos, optou-se por manter todas as
publicações nesta categoria, em benefício da análise dos dados obtidos.
4.1.3 Ciberacontecimentos mais recorrentes
Entre todos os 183 dados observados, distribuídos em 06 categorias, 08
ciberacontecimentos foram mais recorrentes do que os demais. Para
considerar uma recorrência além do comum, de acordo com o que foi
observado nesta pesquisa, aplicou-se a constância de quatro ou mais turnos de
um mesmo evento - independente do número de publicações relacionadas a
ele.
A categoria Manifestações teve 67 dados coletados; 47 no G1 e 20 no
R7. Destes 47 do G1, 30 estão relacionados ao ciberacontecimento rolezinho.
Destes 30, 15 são publicações únicas. No R7, dos 20 dados, 13 estão ligados
ao rolezinho, e 12 são publicações únicas. Durante o período de observação,
os rolezinhos já haviam atraído a atenção da mídia. A cobertura observada
pode ser dividida em dois tipos de foco narrativo. Um enfatiza a pressão sofrida
pelo poder público e a (re)ação dos lojistas, e o outro apresenta personagens,
histórias, motivações e particularidades dos “rolezeiros”.
A cobertura do caso do juiz que foi afastado por razões psicológicas, e
utilizou as redes sociais para protestar pela volta ao trabalho, alegando que
estava há dois anos recebendo sem exercer a função, teve 08 publicações
observadas; 04 no G1 e 04 no R7. O ciberacontecimento foi categorizado como
Testemunhos. Todas as publicações são notícias, que abordaram a viralização
da foto publicada, a reação do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), o
42
depoimento do juiz afastado em relação aos motivos do afastamento e a prévia
resolução do caso, durante quatro dias de observação.
O diário de uma cabeleireira que faz selfies12
da sua quimioterapia e
publica fotos diárias no seu perfil no Instagram foi pautado apenas pelo R7. A
mesma publicação, em formato de galeria de imagens com legenda narrativa,
foi observada 04 vezes em três dias. Os textos publicados no perfil foram
utilizados como fonte de informação e de depoimentos creditados à
cabeleireira. O ciberacontecimento foi categorizado como Comportamento.
O advogado ridicularizado por uma professora da PUC-Rio, por estar de
bermuda e chinelos no aeroporto esperando um vôo (trajes que, segundo a
professora, condiziam apenas com usuários de ônibus, e não de avião), foi
observado 01 vez no G1 e 04 no R7; todas em forma de notícia, exceto 01
artigo de opinião publicado no R7. O evento foi categorizado como
Comportamento.
A petição para deportar o cantor Justin Bieber dos EUA, que é
canadense, foi categorizada como Campanhas/Protestos e observada 04
vezes no G1, com 02 notícias. Na primeira publicação, a petição ganhou
destaque por ter, então, 15 mil assinaturas e estar disponível no site da Casa
Branca; na segunda, quatro dias depois, o documento havia chegado a 100 mil
assinaturas.
Publicações sobre as ameaças sofridas pelo ator Fábio Porchat em
decorrência de um vídeo do canal do YouTube Porta dos Fundos, que faz uma
sátira ao suposto comportamento truculento de policiais em abordagens, foram
observadas 04 vezes no G1, sob a forma de 03 notícias em três dias. As
publicações foram categorizadas como Humor/Memes por já haver outras
publicações relacionadas ao grupo Porta dos Fundos nesta categoria
As manifestações a respeito da modelo eleita “miss bumbum” que
namora um cadeirante foram observadas 05 vezes, sendo 03 no G1 e 02 no
R7, em duas publicações. O G1 publicou um artigo e o R7 uma notícia..
12
Gíria diminutiva de self portrait, em português, auto-retrato. O termo é como ficou conhecida
a ação de fotografar-se, ou a si e mais pessoas, e publicar a foto em redes sociais. No Oscar
2014, a prática das selfies ganhou destaque com a foto que a apresentadora Ellen DeGeneres,
ao lado de diversos artistas, fez com seu celular e publicou na sua conta no Twitter, ao vivo. A
imagem foi compartilhada mais de 3 milhões de vezes na rede social,
43
O caso da foto que acabou registrando o momento em que um
assaltante pula o muro de uma casa, e posteriormente foi postada na conta da
moradora e viralizada, foi observado 04 vezes no G1 e 01 no R7. Apenas a
última postagem do G1 não foi em formato de notícia, destacando as
montagens feitas por outras pessoas a partir da imagem original. Todas as
publicações deste ciberacontecimento foram categorizadas como
Testemunhos.
4.1.4 Alterações de título
A maioria das publicações observadas nesta pesquisa apresenta
diferença entre o título que está na capa e o título da página interna - assim
como nos jornais impressos. Porém, diferente das limitações da mídia
impressa, algumas publicações tiveram o título de capa alterado durante o
período de observação. Esta ação é uma possibilidade (e característica)
exclusiva da plataforma digital.
Na observação do R7 em 20/01, foi percebido que “[Facebook] Mãe foto
nua com filho recém-nascido e é banida do site”, no Turno 1 (imagem: R7-01-
20-Turno1-3), foi alterado para “[Facebook] Mãe posta foto nua com bebê e é
banida do site” no Turno 3 (imagem: R7-01-20-Turno3-3). Trata-se da mesma
publicação, mas na primeira observação havia um erro gramatical no título - a
falta de um verbo. Na segunda observação, o erro foi corrigido e parte do texto
foi alterada. É provável que a mudança de texto (não a correção) tenha sido
realizada para respeitar (se adequar) a diagramação do site. Durante o Turno
2, a publicação não esteve na capa do R7. É improvável que a publicação
tenha sido suprimida por conta do erro, já que, em tese, textos para internet
são facilmente editáveis. Os trechos [Facebook] não constam nos títulos
originais, e foram utilizados nesta pesquisa, nas duas publicações, com o
intuito de beneficiar a compreensão dos dados.
Na capa do portal G1 do dia 29/01, Turno 2, foi verificada a publicação
“Petição para deportar Bieber supera 100 mil (imagem: G1-01-29-Turno2-2).
No Turno 3 do mesmo dia, a mesma publicação teve o título de capa alterado
para “100 mil assinam petição para deportar Bieber” (imagem: G1-01-29-
44
Turno3-2). É perceptível que, além da mudança de título, cronologicamente
elas parecem invertidas. Enquanto na primeira publicação o verbo “supera”
evidencia que o número de assinaturas é maior que 100 mil, na segunda,
quando provavelmente o número aumentou ou, no mínimo, permaneceu igual,
o título passa uma impressão de que, rigorosamente, 100 mil pessoas
assinaram. Embora seja um número expressivo, no primeiro título fica claro
que, de alguma forma, 100 mil representa uma barreira, que foi, no caso,
superada.
Na observação do G1 em 11/02, Turnos 1 e 2, consta, respectivamente
e com títulos alterados, a publicação “Senador pede providências por ameaças
contra Fábio Porchat” (imagem: G1-02-11-Turno1-1) e “Senador pede
providências por ameaças” (imagem: G1-02-11-Turno2-1). Analisando a
captura de tela, é possível concluir que a mudança ocorreu devido ao espaço
disponível para o título ter diminuído. Apesar de a publicação não ter trocado
de posição no layout da capa, ela perdeu a imagem de destaque para uma
nova publicação do mesmo acontecimento (“Após ameaças, Porchat diz que
'objetivo' de vídeo é o debate”), passando a servir como uma espécie de apoio
ou complemento ao conteúdo mais atual. A mesma foto, do ator Fábio Porchat,
foi utilizada na observação dos Turnos 1 e 2. A publicação “Senador pede
providências por ameaças”, no Turno 2, não foi amparada por imagem na capa.
“Boletim médico de 'atropelado por unicórnio' é falso, diz hospital”
(imagem: G1-02-17-Turno2-2) e “Boletim médico com 'unicórnio' é falso”
(imagem: G1-02-17-Turno3-2), foram observados no portal G1 em 17/02, nos
Turnos 2 e 3. Na averiguação do Turno 2, como é possível ver pela captura de
tela, a notícia está na posição intermediária da capa; no Turno 3, está no
rodapé. É bastante provável que a mudança do título tenha ocorrido para
adequar o texto à diagramação do site e à nova posição na capa.
Também no G1, “Após ironia em rede social, juiz afastado pode voltar a
trabalhar” (G1-02-19-Turno2-1) e “Após ironia na web, juiz pode voltar a
trabalhar” (G1-02-19-Turno2-1), verificados em 19/02, nos Turnos 2 e 3,
respectivamente, têm características semelhantes ao exemplo anterior. No
Turno 2, a notícia está na posição intermediária da capa; na segunda está no
rodapé. A mudança também parece ter sido determinada para adequação à
diagramação e nova posição na capa.
45
4.1.5 Justificativa de escolha de dados
Dos 183 dados coletados no período de observação, 14 publicações (07
observados no portal G1 e outros 07 no portal R7) foram considerados de
natureza dúbia para o interesse deste trabalho. A primeira dúvida ocorreu no
artigo “Vexames de São Paulo e Grêmio abrem temporada de memes nos
Estaduais” (imagem R7-01-20-Turno1-1; categoria Humor/Memes), publicado
em 20/01 às 00h10, no portal R7. O artigo é uma galeria de imagens oriundas,
principalmente, das fanpages no Facebook "C0r1nth14n5 m1L gr4u” e “Futebol
da Depressão”, além de perfis pessoais e do próprio portal R7. Todas as
imagens são de cunho humorístico, e são corriqueiras após jogos de futebol
profissional. O artigo do R7 não apresenta maiores informações sobre a
quantidade de compartilhamentos das imagens, limitando-se a creditá-las e a
incluir legendas; estas, na maior parte, com referências de contexto à partida
disputada pela equipe de futebol satirizada. Apesar da dúvida inicial, o artigo foi
utilizado na pesquisa por reverberar práticas comuns nas redes sociais.
“Beldades ganham dinheiro com selfies no Instagram” (imagem: R7-01-
20-Turno1-2; categoria Entretenimento) também é uma galeria de imagens,
publicada no R7 em 20/01, 00h06. Neste caso, as legendas trazem
informações específicas (uma espécie de mini perfil) sobre as modelos das
fotos, como o número de seguidores, “currículo”, nacionalidade e estilo das
fotos, poses e dicas que são oferecidas aos seguidores. A dúvida neste artigo
foi quanto ao valor dessa espécie de empreendedorismo, ainda que intrínseco
às redes sociais, para a pesquisa - em alguns casos, é possível perceber
indícios de publicidade velada. O artigo foi considerado nos dados da pesquisa
por apresentar práticas recorrentes nas redes sociais.
“[Facebook] Mãe (posta) foto nua com filho recém-nascido e é banida do
site” (imagem: R7-01-20-Turno1-3; categoria Comportamento) é outra galeria
de imagens, publicada em 18/01, 00h20, no portal R7. Todas as imagens
utilizadas são reproduções do perfil no Instagram da mulher que postou uma
série de fotos da gravidez, e do filho recém-nascido. Em algumas imagens ela
está nua ou seminua, com a criança. O texto compara as medidas
administradas pelas diferentes redes sociais em que as fotos foram
compartilhadas. Enquanto o Twitter não excluiu nenhum conteúdo, o Facebook
46
suspendeu o perfil da mulher temporariamente (ela não foi banida, como afirma
o título). No Instagram, rede social pertencente ao Facebook, a conta não foi
suspensa e apenas algumas imagens foram excluídas sem a sua autorização.
A dúvida em relação ao interesse dessa notícia à pesquisa esteve relacionada
ao ciberacontecimento em si, pois, embora a atitude das redes possa parecer
abrupta, a prática não é uma novidade ou um desencontro com suas políticas.
Diariamente, há reportes de denúncias, exclusão de fotos, textos e suspensão
de perfis no Facebook. Os usuários atingidos, é claro, se sentem prejudicados
injustamente. Ainda que seja possível discutir as diferenças de nudez e
pornografia na sociedade civil, o Facebook é uma empresa com as suas
próprias diretrizes de uso, do que pode ou não ser postado. Pela notoriedade
do caso, a notícia foi agregada aos dados da pesquisa.
No G1, a notícia “Ucrânia adota lei que endurece punições para
manifestantes” (imagem: G1-01-21-Turno3-1; categoria Manifestações), foi
publicada em 21/01 às 06h45, e atualizada pela última vez em 21/01, às 07h03.
O texto do post interno não identifica se as manifestações no país foram
organizadas através de redes sociais, ou como foram organizadas. A página
contém hiperlinks para posts similares no portal, e em nenhum deles o modo
organizacional dos protestos é informado. A tag/tópico “Ucrânia”, também
disponível para consulta na página do G1, não foi analisada devido ao elevado
número de artigos relacionados. Optou-se por considerá-lo um
ciberacontecimento dadas as características semelhantes a outras
manifestações sócio-políticas recentes, como as ocorridas no Brasil em 2013 e
nas manifestações conhecidas como Primavera Árabe.
O mesmo critério foi adotado para considerar “As dores da Tunísia”
(imagem: G1-01-21-Turno3-2; categoria Manifestações), artigo publicado em
11/01, às 13h04, como um ciberacontecimento. A própria presença deste artigo
na capa do G1, observada no dia 21/01, Turno 3, pode estar relacionada à
notícia “Ucrânia adota lei que endurece punições para manifestantes”. A data
de publicação do texto sobre a Tunísia é 10 dias anterior ao da Ucrânia, e não
estava presente nas primeiras observações, iniciadas em 20/01.
O artigo “De 'quente' a relaxante, veja os hits do verão” (imagem: G1-01-
23-Turno2-1; categoria Entretenimento), publicado no G1 em 23/01, às 11h10,
e atualizado pela última vez na mesma data, às 22h59, contém um infográfico
47
de músicas que, para o autor, seriam os principais hits do verão (período em
que existe um esforço da indústria musical para apresentar novos artistas ou
novos sucessos comerciais). O interesse deste artigo para a pesquisa está na
presença da canção “Beijinho no Ombro”, da artista Valesca Popozuda. Apesar
de já ter reconhecimento popular, Valesca conseguiu mais atenção com a
superprodução do videoclipe de Beijinho, que teria custado cerca de
R$500.000,00 e sido custeado pela própria cantora. Até o momento da última
visualização no Youtube, em 19/03, o vídeo postado em seu canal superava 17
milhões de visualizações. “Beijinho no Ombro” foi produzido para, e veiculado
inicialmente no, YouTube, sem o apoio ou aporte de gravadora ou outra
empresa.
O texto da notícia “Dilma Roussef estreia em rede social com vídeo dos
estádios da Copa” (imagem: R7-01-23-Turno2-2; categoria Entretenimento),
publicada no R7 em 23/01, às 14h02, relata a primeira publicação da
presidente Dilma Roussef no Vine (referenciado na redação do texto como
“serviço de compartilhamento de vídeos curtinhos de até seis segundos”). A
notícia também menciona o anúncio da publicação feita por ela no Twitter -
ressaltando seus dois milhões de seguidores - e a criação de um perfil no
Facebook.
Embora não se considere uma publicação no Vine de Dilma um
ciberacontecimento propriamente, qualquer publicação de uma celebridade ou
webcelebridade ganhará notoriedade dentro e fora de seu círculo de
seguidores. Neste caso, além disso, trata-se da atual presidente ingressando
em mais um canal de comunicação. Como em outras redes sociais, o uso
institucional foi observado com o anúncio da finalização das obras do estádio,
e, aparentemente, foi o primeiro meio pelo qual a presidente anunciou, de
forma oficial, a conclusão do empreendimento. Assim, a notícia foi considerada
para os fins desta pesquisa, além de ter sido a única relacionada diretamente
ao Vine, rede social com menos adesão do que Facebook, YouTube, Twitter e
Instagram.
Também referente à governança do país, o hiperlink da notícia “Após
escala em Lisboa, Dilma perde a paciência com foto postada no Instagram”
(imagem: R7-01-28-Turno3-1; categoria Entretenimento), publicado no R7 em
28/01, e observado na mesma data, aparentemente, não está mais disponível
48
no portal - ao menos não com o link original utilizado nesta pesquisa. Em
19/03, tanto no portal quanto em sites de busca, a consulta pelo título não
encontrou a notícia. No entanto, outras páginas encontradas em buscadores,
não relacionadas ao R7, apontam para o hiperlink original inexistente.
É possível que a notícia tenha sido excluída ou que o hiperlink tenha
sido modificado. No texto do hiperlink há um trecho “29012014”. A referência é
óbvia à data de publicação do texto. Contudo, a notícia foi publicada no dia
anterior. Mesmo alterando esse trecho para “28012014”, o hiperlink continua
inexistente. Ainda que não seja possível consultar o corpo do texto da notícia,
ela foi mantida nos dados da pesquisa, pois a sua publicação pode ser
comprovada pela captura de tela, enquanto estava na capa do portal R7.
O texto da notícia “Petição para deportar Bieber supera 100 mil
assinaturas” (imagem: G1-01-29-Turno2-2; categoria Campanhas/Protestos),
publicada no G1 em 29/01, às 14h49, e atualizada pela última vez na mesma
data às 15h01, não contém indicações de que houve alguma espécie de
corrente nas redes sociais para executar a proposta. Contudo, foi
testemunhado o compartilhamento constante deste documento no Facebook -
que, inclusive, em um primeiro momento, foi encarado como um possível
hoax13
. A petição é verdadeira e oficial, inclusive está sendo/foi realizada no
site da Casa Branca
“[Porta dos Fundos] Para quem manda indiretas pelo Facebook
#ridículo” e “[Porta dos Fundos] Já pensou? Justiceiro não dá mole para
justiceiros” (imagens: R7-01-30-Turno3-1 e R7-02-03-Turno2-2; ambos na
categoria Humor/Memes) foram observados na capa do portal R7 em 30/01 e
03/02. Os dois destaques contêm hiperlinks diretos para publicações do blog
KibeLoco, com os vídeos do Porta dos Fundos embedados (anexados). O
administrador do blog é um dos sócios do Porta dos Fundos, e em 2012 o
KibeLoco iniciou uma parceria com o R7 - depois de alguns de parceria com a
Globo-, mas não é possível determinar se ela ainda existe. O KibeLoco
costuma utilizar notícias postadas no G1 para fazer conteúdo de humor.
Chama a atenção os hiperlinks publicados pelo R7 não se dirigirem ao canal
13
Hoax é, basicamente, um boato ou mentira propagado na internet com o objetivo de atingir o
maior número de pessoas possível.
49
oficial do Porta dos Fundos no YouTube, mas ao blog de um de seus
proprietários.
Os hiperlinks foram observados apenas em dois turnos, numa segunda e
quinta-feira, no mesmo dia da publicação dos vídeos. O Porta dos Fundos tem
a diretriz de publicar dois vídeos por semana, na segunda e quinta-feira, por
volta das 11h. Além de monetizar14
os seus vídeos no YouTube para gerar
receita, o grupo também costuma utilizar o método de publicidade do site para
divulgar os seus próprios vídeos - sendo ao mesmo tempo produtor de
conteúdo e anunciante. O Porta dos Fundos também tem forte inserção em
outros blogs além do KibeLoco, cujos administradores não estão ligados
diretamente ao canal. Ainda que haja um forte estreitamento de laços entre
alguns desses blogueiros, ou que a reprodução de vídeos no canal não seja
mediante fins lucrativos, é válido acreditar que o canal seja anunciante em
outros meios além do YouTube, como blogs e portais. Mesmo sob a hipótese
de serem inserções pagas no portal R7, os dois destaques do Porta dos
Fundos na capa do site foram considerados de interesse da pesquisa pelo
conteúdo dos vídeos.
O primeiro, publicado em 30/01, chamado “Indiretas” é uma sátira ao
comportamento do trabalhador brasileiro durante o expediente, e sua relação
com as redes sociais. O segundo, chamado “Dura”, publicado em 02/03, é uma
sátira ao suposto comportamento agressivo da polícia em suas abordagens,
que rendeu críticas, apoio, polêmica e ameaças ao ator Fabio Porchat - as
ameaças, inclusive, foram noticiadas pelo G1 nos dias posteriores. O ator
costuma participar de alguns programas da Rede Globo (chegou a integrar o
elenco fixo do seriado “A Grande Família”), assim como seus colegas do Porta
dos Fundos. Durante os períodos de observação desta pesquisa não foi
percebida a presença de publicações relacionadas às ameaças no portal R7.
Em “Vídeo registra 1º banho de chuva de bebê; veja”, (imagem: G1-02-
06-Turno1-1; categoria Entretenimento), publicado no G1 em 06/02, às 06h00,
há informações limitadas a respeito da distribuição do vídeo. O texto da notícia
apresenta apenas uma descrição das imagens e a quantidade de visualizações
(naquele momento, chegava a 800 mil). A notícia foi considerada de interesse
14
Monetização é o termo adotado pelo YouTube para designar a opção de gerar receita para
um vídeo através da inserção de anúncios.
50
da pesquisa seguindo o mesmo critério adotado em “Petição para deportar
Bieber supera 100 mil assinaturas”, pois houve testemunho do
compartilhamento do vídeo no Facebook.
O artigo “Bichos ganham site para encontrar parceiros” (imagem: G1-02-
11-Turno1-1; categoria Entretenimento), publicado no G1 em 11/02, às 06h45,
e atualizado pela última vez às 14h55, embora tenha gerado dúvidas quanto ao
seu interesse para a pesquisa, foi considerado apto a figurar entre os dados.
Ainda que a rede social seja destinada às mascotes, a princípio, são os seus
responsáveis que abastecem os perfis com informações, desenvolvem a
personalidade do animal e tomam decisões como a escolha do parceiro, por
exemplo. A antropomorfização de animais é uma prática comum em narrativas
e na sociedade civil, onde, cada vez mais, algumas estruturas humanas são
replicadas para animais - como salões de beleza, hotéis, alimentos com design
idêntico aos próprios para consumo humano, casamentos e perfis em redes
sociais.
Não foi possível realizar uma observação interna do site, pois o mesmo
exige um cadastro do animal mediado por análise. Ainda assim, é possível
acreditar que, com testemunhos de perfis de animais em outras redes sociais
(voltadas para pessoas), o comportamento dos perfis esteja baseado nas
relações humanas. Também, que as próprias práticas em redes sociais do
administrador do perfil sejam mantidas, como o compartilhamento de notícias,
check-in em locais - alguns perfis de animais no Facebook e Twitter adotam a
práxis com um viés exclusivamente animal, como o check-in em locais que a
mascote frequenta ou notícias sobre animais. O texto da publicação revela que
há seis mil perfis cadastrados. A fanpage do site no Facebook tem 1.593
curtidas (visto em 19/03). Na página inicial do site, há dois botões de
compartilhamento automático para que o usuário indique a página no
Facebook. Isto leva a crer que esta é a principal forma de divulgação da página
O título da notícia “Site cria rede social para as princesas da Disney”
(imagem: R7-02-11-Turno1-1; categoria Humor/Memes), publicada no R7 em
11/02, 00h13, pode causar confusão em relação ao conteúdo da publicação. O
site B for Bel não criou, de fato, uma rede social, mas apropriou-se da captura
de tela e características linguísticas do Instagram para criar montagens com
publicações fictícias que as princesas da Disney fariam. Na ideia da
51
brincadeira, as princesas interagem entre si, e com alguns outros personagens
de seu universo, utilizando termos, características e eventos próprios do
Instagram. A postagem é composta por uma galeria de imagens com as
montagens feitas pelo B for Bel, legendadas com um pequeno contexto e a
tradução (as descrições das imagens são em inglês). Apesar de o título do post
interno ser acrescido de “Instagram Real!”, as legendas do próprio R7 não
deixam claro que se trata de montagens, ou que não é uma nova rede social
enquanto sistema, na qual outros usuários podem se cadastrar. Também não
está explícito que os perfis não existem no Instagram, ao menos com os nomes
de usuário que aparecem nas montagens. A notícia foi considerada para esta
pesquisa por reverberar uma prática comum em redes sociais, onde supostas
publicações, que pessoas renomadas ou outros personagens (nem sempre
humanos) fariam, são produzidas utilizando características como linguagem,
fatos e outros atributos de conhecimento geral.
O texto da notícia “Amigo bêbado é arrastado até em casa na Áustria”
(imagem: G1-02-19-Turno1-1; categoria Comportamento), publicado no G1 em
19/02, às 06h00, afirma que o vídeo deste fato, disponibilizado no YouTube, já
tinha 128 mil visualizações na ocasião. Em 19/03, este número já ultrapassava
1 milhão. A reflexão sobre o interesse deste recorte para o trabalho partiu da
falta de maiores informações sobre o acontecimento. A notícia não elucida se o
vídeo viralizou primeiro no YouTube ou como ele foi obtido/quem gravou. A
conta que veiculou as imagens tinha somente este vídeo disponibilizado - ao
menos em modo público - na última observação, em 19/03. A notícia foi
considerada para a pesquisa pelo número de visualizações do vídeo, que
possivelmente necessitou de propagação em outras redes sociais para chegar
a essa marca.
O interesse para a pesquisa da notícia “Menina é apedrejada até a morte
na Síria por ter conta no Facebook” (imagem: R7-02-19-Turno1-2; categoria
Comportamento), publicada em 19/02, às 06h30, gerou dúvidas, uma vez que a
condenação não foi motivada por uma ação na rede social, e sim, a mera
criação do perfil. Contudo, a barbárie e notoriedade do episódio foram
considerados relevantes para a pesquisa. O texto da notícia, baseada na
publicação original do Daily Mail, contém informações como a classificação do
suposto crime da menina por seus julgadores: conduta imoral.
Ciberacontecimentos em pauta nos portais de notícias: como G1 e R7 processam os acontecimentos tramados nas redes sociais na internet
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  • 1. UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS COMUNICAÇÃO SOCIAL – JORNALISMO JONAS PILZ CIBERACONTECIMENTOS EM PAUTA NOS PORTAIS DE NOTÍCIAS: COMO G1 E R7 PROCESSAM OS ACONTECIMENTOS TRAMADOS NAS REDES SOCIAIS NA INTERNET SÃO LEOPOLDO 2014
  • 2. 2 Jonas Pilz CIBERACONTECIMENTO EM PAUTA NOS PORTAIS DE NOTÍCIAS: como G1 e R7 processam os acontecimentos tramados nas redes sociais na internet Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Jornalismo, pelo Curso de Comunicação Social da Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Orientador: Prof. Dr. Ronaldo Henn São Leopoldo 2014
  • 3. 3 AGRADECIMENTOS Agradeço àqueles que, de alguma forma, fizeram parte deste percurso. À minha família, que me deu o suporte necessário para esta realização, entre tantas outras. Ao meu orientador, Ronaldo Henn, por ter aceitado fazer parte deste projeto, e ter se tornado parte dele, cooperando com disposição, paciência e iluminação. Aos amigos e colegas, com quem dividi experiências, realizações e apoio. À Kamila, por estar sempre presente.
  • 4. 4 RESUMO Esta monografia aborda a presença de acontecimentos tramados nas redes sociais digitas e como eles são processados nos portais de notícias. Delimitaram-se como objeto empírico os portais G1 e R7, que foram monitorados a partir de suas páginas iniciais para a identificação e categorização desses acontecimentos conceituados como ciberacontecimentos. Para este fim, foram utilizados os conceitos de ciberjornalismo e ciberacontecimento, de Mielniczuk (2003) e Henn (2012), e de redes sociais digitas, principalmente os sintetizados por Recuero (2009) e Zago (2011). O processo metodológico abrangeu um período de observação da página inicial dos portais durante 32 dias, em 03 turnos: matutino, vespertino e noturno. A cada postagem de ciberacontecimentos, procedeu-se captura de tela e a cópia do link da publicação específica. Com isto, foi possível perceber como os portais acompanham e retratam os ciberacontecimentos, que ganham cada vez mais notoriedade na pauta jornalística. Palavras-chave: ciberacontecimento, redes sociais, mídia social, ciberjornalismo
  • 5. 5 ABSTRACT This monograph aims to measure the presence of cyber events, that take place in social networks, and how they are processed by news websites. Two relevant websites, G1 and R7, were determinated as empirical objects, and their Home pages were monitorated in order to identify and categorize these events, so called cyber events. The main concepts of cyber journalism and cyber events, by Mielniczuk (2003) and Henn (2012), and of digital social networks, by Recuero (2009) and Zago (2011), were used on this research. The methodological process included a 32-days-time observation of websites home pages, three times a day. For every cyber event found, a screenshot was made, including the copy of the publication hyperlink. This allowed to understand how news websites follow and process cyber events - those which are increasingly inserted into the journalistic agenda. Keywords: cyber event, social networks, social media, cyber journalism
  • 6. 6 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Resumo das definições de nomenclaturas sobre práticas de produção e disseminação de informação no jornalismo contemporâneo......... 21 Tabela 2 – Categorização dos ciberacontecimentos observados durante o período de monitoramento. .............................................................................. 37
  • 7. 7 LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Totalidade de ciberacontecimentos observados nos portais de notícias G1 e R7 no período de 32 dias........................................................... 35 Figura 2 – Totalidade de ciberacontecimentos observados nos turnos 1 (manhã), 2 (tarde) e 3 (noite). .......................................................................... 36 Figura 3 – Totalidade de ciberacontecimentos observados por categoria. ...... 37 Figura 4 – Identificação de publicações do ciberacontecimento rolezinho no portal G1, em 22/01, Turno 3 (Anexo 1: G1-01-22-Turno3-4) ..................... 39 Figura 5 – Identificação do ciberacontecimento no portal R7, em 05/02, Turno 1 (Anexo 1: R7-02-05-Turno1-1)............................................................ 39 Figura 6 – Identificação do ciberacontecimento no portal R7, em 21/01, Turno 3 (Anexo 1: R7-01-21-Turno3-3)............................................................ 40
  • 8. 8 SUMÁRIO RESUMO............................................................................................................ 4 ABSTRACT ........................................................................................................ 5 LISTA DE TABELAS .......................................................................................... 6 LISTA DE FIGURAS .......................................................................................... 7 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 9 1.2 OBJETIVOS............................................................................................ 12 1.2.1 Objetivo Geral................................................................................... 12 1.2.2 Objetivos Específicos........................................................................ 12 2. REDES SOCIAIS DIGITAIS ......................................................................... 13 2.1 Conceitos de redes sociais ..................................................................... 16 2.2 Democracia nas redes sociais ................................................................ 18 3. JORNALISMO EM REDES DIGITAIS: CIBERACONTECIMENTO.............. 21 3.1 Ciberacontecimento ................................................................................ 25 3.2 Ambiente convergente ............................................................................ 28 4. ANÁLISES DOS DADOS: CATEGORIAS DE CIBERACONTECIMENTOS 31 4.1 Considerações sobre o monitoramento dos portais de notícias.............. 35 4.1.1 Publicações observadas mais de uma vez....................................... 37 4.1.2 Opções de categoria......................................................................... 41 4.1.3 Ciberacontecimentos mais recorrentes............................................. 41 4.1.4 Alterações de título ........................................................................... 43 4.1.5 Justificativa de escolha de dados ..................................................... 45 6. CONCLUSÃO............................................................................................... 52 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 54 ANEXO 1.......................................................................................................... 60
  • 9. 9 1. INTRODUÇÃO O estudo de redes sociais digitais, embora não seja novo, se consolidou com a inserção das mídias sociais na vida cotidiana da população, com implicações muito significativas no jornalismo. O jornalista, independente da área de atuação, não pode estar alheio às redes sociais. Ainda que não mantenha um perfil em nenhuma delas, a compreensão dos seus processos, linguagem e particularidades é fundamental para o exercício da profissão. Com o ciberjornalismo cada vez mais consolidado, e em constante transformação, assim como as redes sociais digitais nas vidas das pessoas, é preciso compreender o fato jornalístico que eclode, com certas peculiaridades, desse ambiente. Esta pesquisa intenta observar e analisar como os portais de notícias pautam os ciberacontecimentos tramados nas redes sociais digitais, e determinar uma categorização para estes. No campo de estudos sobre redes sociais digitas é possível perceber dois tipos de trabalhos, direcionados a públicos diferentes, mas que se complementam (e referenciam): pesquisas acadêmicas e manuais técnicos. O estudo acadêmico tem como objetivo descobrir e entender os fenômenos, as transformações e as consequências geradas por eles. O trabalho técnico visa apresentar, desconstruir e ensinar a operacionalizar as ferramentas (plataformas e/ou mídias) - como qualquer manual. Os estudos de rede, tanto na parte social quanto nas outras ciências, receberam renovada atenção após a publicação dos trabalhos de Barabási (2003), Barabási e Albert (1999), Watts (2003), Watts e Strogatz (1998) dentre outros autores, no final da década de 90 e início dos anos 2000 (RECUERO, 2009, p. 21). A relevância das redes sociais na vida das pessoas é crescente, e pode ser percebida, por exemplo, pelos termos agregados ao vocabulário coloquial (“postar”, “dar um like”), além de novos lazeres e necessidades (publicar fotos das refeições e do vestuário). O interesse do público pelas redes mudou a forma como os atores com interesses comerciais encaram as mídias sociais. Antes percebidas como ambiente de nicho e com pouca possibilidade de haver relações comerciais, ou relações comerciais sustentáveis (especialmente após
  • 10. 10 o estouro da bolha1 ), as redes sociais digitais passaram a atrair empresas, ter seus próprios formadores de opinião (potencialmente todos os usuários, em níveis diferentes) e contribuir direta ou indiretamente com a pauta dos veículos midiáticos. De acordo com Altermann (2010, apud COSTA, 2013), uma rede social é um grupo de pessoas que tenham algum tipo de relação ou interesse mútuo. Na internet, as ferramentas mais populares que agregam essas pessoas são chamadas de sites relacionamento, ou, como ficaram mais conhecidas, redes sociais. Sem muitas delongas, a expressão refere-se a relacionamento de pessoas dentro de um grupo socialmente organizado. Em outras palavras, pessoas que se comunicam dentro de um grupo específico por afinidade de interesses. Chamamos de redes, pois esta foi uma forma figurativa adotada para definir um grupo de pessoas que estão ligadas de alguma forma. E são sociais por se relacionarem entre si, trocando informações, organizando grupos exclusivos e inclusivos, criando diferentes modos de se relacionarem, aparecendo uns para os outros, enfim… criando uma rede de sociedades restritas dentro desta rede (FELIX, 2010). A presença de um grande público (audiência) nas redes sociais digitais criou a oportunidade e necessidade de instituições se relacionarem com seus consumidores ou público. A aproximação trouxe novas possibilidades de comércio, além de responsabilidades de feedback2 , SAC e contorno de crises - no caso de usuários reclamarem de produtos, atendimento ou filosofia da empresa. Os veículos de comunicação também se inseriram no meio, utilizando as redes sociais como canal de promoção de suas notícias (conteúdo) e 1 Durante o final da década de 1990, diversas empresas migraram ou foram criadas especialmente para operar através da internet - as chamadas empresas pontocom. O objetivo era atingir lucros exorbitantes em pouco tempo. A grande especulação e investimentos de risco no mercado de ações, principalmente na bolsa eletrônica Nasdaq, não atingiram o resultado esperado. Muitas empresas não sabiam como gerir seus negócios na internet e pequenos empreendedores, apesar desses investimentos, não tinham capital suficiente para arcar com qualquer prejuízo, ou expertise de gestão. Em março de 2000, a Nasdaq registrou uma grande queda por vários dias, levando pequenas empresas a serem vendidas. O termo “estouro da bolha” é uma analogia aos grandes investimentos (bolha) e a sua derrocada por insustentabilidade (estouro). 2 Feedback é, basicamente, uma resposta ou reação a um determinado acontecimento. Pode ser tanto uma opinião sobre uma mensagem ou produto quanto um desenrolar de acontecimentos decorrentes de uma ação. É, geralmente, utilizado para avaliar a satisfação de um receptor/consumidor à exposição de uma informação ou item. O feedback pode ou não ser levado em conta para melhorias do emissor/produtor.
  • 11. 11 estreitamento da relação com os leitores (alguns conteúdos exclusivos). As redes sociais também passaram a servir como fonte de informação, fonte de pesquisa para jornalistas, e ambiente repleto de opiniões sobre as reportagens. Da mesma forma, os acontecimentos tramados nelas também passaram a ser pautados pelos veículos. Seja pela atuação de gatewatchers3 (BRUNS, 2003, 2005; CANAVILHAS, 2010a), ou de um grande número de atores sociais, os ciberacontecimentos se constituem nas redes sociais digitais e passam a atrair atenção da imprensa. Vislumbra-se nesse momento de transformações no jornalismo, por conta da presença de outros atores, com um protagonismo importante, no processo de construção de notícias, observar como os veículos processam esses acontecimentos. Entre as mudanças percebidas, destacam-se as que envolvem a própria produção do acontecimento jornalístico, na medida em que parte deles tem como origem as ações em rede. Para aprofundar o conhecimento e aprimorar o desenvolvimento da pesquisa, o segundo capítulo resgata conceitos consolidados a respeito de redes sociais digitais, principalmente de Recuero (2009). Os trabalhos de Castells (2009) e Zago (2011) também auxiliaram na construção da teorização sobre as práticas dos atores sociais em meios digitais. No terceiro capítulo são apresentados os conceitos de ciberjornalismo e ciberacontecimento, sob as perspectivas de Mielniczuk (2003) e Henn (2012, 2013). Para esclarecer a prática jornalística, e a produção de notícias relacionadas às redes sociais na internet, foi importante a pesquisa de Sousa (2013). O quarto capítulo é dedicado aos processos metodológicos e considerações a partir dos dados obtidos na pesquisa. Todo o processo metodológico é relatado, desde a observação ao armazenamento dos dados, as dificuldades em interpretá-los e as soluções encontradas para facilitar a análise e consulta posterior. Para as considerações, são trazidos à luz os aspectos peculiares percebidos durante ou após a aplicação do processo metodológico. 3 Usuários com prestígio em comunidades virtuais, que atuam como analistas da informação, indicado a outros atores para onde devem voltar a sua atenção. Potencialmente, jornalistas podem exercer essa função.
  • 12. 12 1.2 OBJETIVOS Essa pesquisa tem por intuito analisar como os acontecimentos, designados como ciberacontecimentos, tramados nas redes sociais, aparecem nos portais de notícias. Trabalha-se aqui com a seguinte questão de pesquisa: quais as possíveis categorias de ciberacontecimentos configuram-se nos portais de notícias? Foram analisados os portais G1 e R7, a partir de monitoramento da página inicial pelo período de 32 dias - processo que será explicitado na parte dedicada à metodologia. 1.2.1 Objetivo Geral Identificar de que forma os acontecimentos, tramados nas redes sociais digitais, são trabalhados nos portais de notícias G1 e R7, e que categorias podem configurar. 1.2.2 Objetivos Específicos - Compreender processos de produção jornalística em redes digitais. - Refletir sobre a atuação dos atores sociais e a sua importância para a criação de pautas jornalísticas. - Perceber como os temas, nas suas diferentes especificidades, são processados nos portais de notícias
  • 13. 13 2. REDES SOCIAIS DIGITAIS As redes sociais digitais são extensões da vida de cada ator, com linguagens, recursos e objetivos (inerentes ao ator) específicos. Embora sejam limitadas por funcionalidades de softwares, as redes sociais permitem um poder quase ilimitado de ações e transformações. Esse poder também é caracterizado por não pertencer a um só ator, mas às suas conexões. Cada ator está ligado às suas conexões, que podem transformá-lo, direta ou indiretamente. De acordo com Zago (2011, apud RECUERO, 2011) as redes sociais são dinâmicas, e se modificam constantemente no tempo. Uma rede social é definida como um conjunto de dois elementos: atores (pessoas, instituições ou grupos; os nós da rede) e suas conexões (interações ou laços sociais) (Wasserman e Faust, 1994; Degenne e Forse, 1999). Uma rede, assim, é uma metáfora para observar os padrões de conexão de um grupo social, a partir das conexões estabelecidas entre os diversos atores. A abordagem de rede tem, assim, seu foco na estrutura social, onde não é possível isolar os atores sociais e nem suas conexões (RECUERO, 2009, p. 24). Para Recuero (2012), a rede social não é um serviço online que permite adicionar contatos e publicar mensagens para que os outros vejam. As redes sociais são criadas pelos atores sociais, que utilizam o recurso técnico disponível nessas ferramentas para suas práticas sociais. As redes sociais digitais são dinâmicas e não estão presas ao tempo, pois as conexões e interações entre os atores são alteradas de diversas formas: excluídas, retomadas, sem interação. Os atores são as pessoas envolvidas e presentes nas redes sociais. As conexões são os outros atores com quem se relacionam, interagem ou pertencem (a um grupo específico). “As conexões em uma rede social são constituídas dos laços sociais, que, por sua vez, são formados através da interação social entre os atores” (RECUERO, 2009, p. 30). Os atores que se relacionam nas redes digitais não necessariamente se relacionam em meios não virtuais - e vice-versa. As interações e conexões em meios digitais entre desconhecidos não são uma novidade das redes, já sendo observadas em relações de trabalho, por exemplo - a troca de e-mail entre
  • 14. 14 colaboradores de empresas é anterior à consolidação das plataformas virtuais de comunicação. A semelhança óbvia na relação entre atores e conexões nas redes sociais digitais e não digitais não configura um mero acaso. O meio virtual é, cada vez mais, inserido e espelhado nas relações sociais do meio real. Para Lévy (1996), a virtualização não imita ou recria o real, existindo em potência, com a qualidade de vir a ser. O virtual existe concomitante ao real, e, assim como as redes sociais, não se limita ao espaço físico e temporal. Ao alterar as condições espaço-temporais da comunicação, o uso dos meios técnicos também altera as condições de espaço e de tempo sob as quais os indivíduos exercem o poder: tornam-se capazes de agir e interagir à distância; podem intervir e influenciar no curso dos acontecimentos mais distantes no espaço e no tempo. O uso dos meios técnicos dá aos indivíduos novas maneiras de organizar e controlar o espaço e o tempo, e novas maneiras de usar o tempo e o espaço para os próprios fins (THOMPSON, 2001, p. 29). Uma informação virtual, potencialmente, nunca será perdida, pois está registrada fora do espaço-tempo. Uma publicação em site, rede social ou blog, ainda que tenha sido apagada do banco de dados original, pode ter sido copiada em outro banco de dados. O controle da informação não pertence apenas aos atores, mas, tanto quanto, às suas conexões. No convívio real, uma declaração pode ser negada se não houver testemunhas ou provas. No ambiente virtual, é mais fácil um ou mais atores registrarem e divulgarem, com propriedade, a informação. Em alguns aspectos, o virtual passa a ser mais concreto e verossímil do que o próprio real. O controle e o poder dos atores, dividido com as conexões, é ainda mais diluído. De acordo com Recuero (2009), os atores podem ser representados por perfis nas redes sociais. Um ator não é, essencialmente, uma única pessoa; nem uma pessoa é, essencialmente, um único ator. Os atores são o primeiro elemento da rede social, representados pelos nós (ou nodos). Trata-se das pessoas envolvidas na rede que se analisa. Como partes do sistema, os atores atuam de forma a moldar as estruturas sociais, através da interação e da constituição de laços sociais (RECUERO, 2009, p. 25).
  • 15. 15 Ainda que se personifique um perfil, crie-se um personagem ou uma imagem singular de um indivíduo, existirá, no mínimo, a dúvida se a manutenção do perfil é feita por uma ou mais pessoas. Para Recuero (2009), um ator pode ser representado por um perfil em uma rede social, mas ser gerenciado por diversos atores. Da mesma forma, um ator pode fazer parte de diversos perfis - ter um blog, uma fanpage no Facebook, uma conta no Twitter e uma no Fotolog, por exemplo. O mesmo ator pode ser, ainda, mais de um ator na mesma rede social. No caso do Facebook, o ator pode ter um ou mais perfis pessoais, um ou mais perfis fake4 , uma ou mais fanpages. A relação entre os atores pode ser livre ou limitada. A relação é livre quando os atores têm mais poder (não ilimitado) de interação, como escrever uma publicação original ou um comentário; e limitada, quando, ainda que exerça liberdade de interesse e opinião, estiver restrita à disponibilidade da ferramenta ou ação sem poder criativo, como clicar para indicar apreço por outras publicações e assinar o feed5 de autores. Quanto à forma de relacionamento mantido, a interação pode ser mútua - quando criativa, imprevisível, construída pelos atores -, ou reativa - quando limitada, baseada em estímulo-resposta, previsível, e não criativa (PRIMO, 2007). Enquanto uma conversa por escrito através de uma rede social constitui uma interação mútua, aceitar alguém como contato numa rede pode ser considerado um tipo de interação reativa. Entretanto, para Recuero (2009a, p. 33), "Embora essas relações não sejam mútuas, elas têm impacto social, já que têm também reflexos nos dois lados da relação comunicativa" (ZAGO, 2011, p. 17). As relações entre os atores também podem ser efêmeras ou perenes. As relações contínuas e duradouras são chamadas de laços sociais. De acordo com Wellman (2001, apud, RECUERO 2009), os laços são constituídos por 4 Perfis fakes são, de modo geral, perfis onde a identidade verdadeira do usuário não é revelada ou não pode ser determinada. Muitos usuários assumem a personalidade de pessoas famosas e criam um perfil (que pode ter a intenção de fazer humor, crítica, denúncia ou outras motivações) onde mantêm relacionamento com seus seguidores. O termo fake significa "falso" em inglês. 5 Feed é um recurso comum em blogs e sites, onde o usuário indica que deseja receber notificações quando houver atualizações em determinada página. É uma ferramenta utilizada para eliminar a necessidade de navegar até o site em busca de novidades - com o uso do feed, o usuário sempre saberá quando há um novo conteúdo. Na navegação normal do usuário, não existe certeza que haverá novos conteúdos ao acessar um site. O termo feed vem da língua inglesa e significa "alimentar", pois envia publicações que “alimentam de informações” o assinante.
  • 16. 16 aproximação, frequência, fluxos de informação, conflitos ou suporte emocional. Um laço interfere em outros laços, seja pela própria existência ou pelos graus de aproximação, frequência e outros determinantes. Para Zago (2011), os laços são as relações sociais entre os indivíduos, que compõem o que se chama de rede social. Os laços sociais podem ser, ainda, fortes e fracos (GRANOVETER 1973; ZAGO, 2011) ou relacionais e de associação (RECUERO, 2009). Para Recuero (2009) e Zago (2011), os laços fortes têm maior grau de aproximação e suporte emocional, enquanto os fracos são mais pontuais, requerem menos tempo e aproximação. Laços fortes são aqueles que se caracterizam pela intimidade, pela proximidade e pela intencionalidade em criar e manter uma conexão entre duas pessoas. Os laços fracos, por outro lado, caracterizam-se por relações esparsas, que não traduzem proximidade e intimidade. Laços fortes constituem-se em vias mais amplas e concretas para as trocas sociais, enquanto os fracos possuem trocas mais difusas. Granovetter (1973 e 1983) também chama a atenção para a importância dos laços fracos, como estruturadores das redes sociais. Afinal, são eles que conectam os grupos, constituídos de laços fortes, entre si. Laços fracos, assim, seriam fundamentais pois são aqueles que conectam os clusters nas redes sociais (RECUERO, 2009, p. 41). A aproximação, no entanto, pode ser substituída pela frequência em um laço forte - como em laços entre desconhecidos pessoalmente, mas com grande tempo de relacionamento virtual. Para Elisson, Steinfeld & Lampe (2007, apud RECUERO, 2009), um site de rede social também auxilia a manter laços sociais com quem está fisicamente distante. 2.1 Conceitos de redes sociais As redes sociais digitais se caracterizam pela visibilidade das ações dos atores e suas conexões. Para Zago (2011), apesar de também haver construção de redes sociais fora do meio virtual, é no meio online que as conexões entre os atores ficam mais visíveis. No ambiente offline é comum traçar um perfil de uma pessoa através do vestuário, grupo de amigos e local onde trabalha. Ainda assim, as informações são limitadas e, para uma
  • 17. 17 abrangência significativa (resgate histórico e informações de outrem), mais difíceis de coletar. Nas redes sociais, em poucos cliques, ficam claras as atividades cotidianas, das últimas férias, dos últimos anos, registradas em fotos, vídeos e detalhes em comentários. A visibilidade dos atores está intimamente ligada às suas preferências de privacidade e reputação. De acordo com Recuero (2009), a reputação é a percepção de um ator pelos outros atores, e a relação entre eles. A reputação é construída com o tempo, através de elementos como: confiabilidade, número de conexões, frequência de relação (postagens públicas ou conversas privadas), opiniões, ineditismo e afinidade. Informações publicadas por atores com muitas conexões e boa reputação têm potencial de reverberar6 mais, e criar novas conexões. Para Recuero (2009), as redes sociais têm a capacidade de difundir informações através das conexões entre os atores, de forma rápida e interativa, fazendo surgir uma pluralidade de novas informações entre os grupos sociais. Quando o indivíduo está na presença dos outros, seu comportamento tende a congregar e exemplificar valores reconhecidos pela sociedade. Essas questões são pertinentes também quando se fala de internet, porque na rede, atuando nos mais diversos sites e redes sociais, o indivíduo está na presença de outras pessoas e o ator social é visto e aparece para diversos grupos. William James, Goffman (1985), expõe que o ator social, geralmente, mostra aspectos diferentes em cada grupo em que se envolve (MARINHO, 2011, p. 32) De acordo com Gilmor (2004, apud FRANCISCO, 2010), a internet oferece a possibilidade da comunicação de muitos-para-muitos e poucos-para- poucos. Os atores, seguindo suas configurações de preferência, podem endereçar publicações para um determinado número de conexões. Contudo, as conexões também têm o poder de encaminhar as publicações para suas próprias conexões. Para Baudrillard (2002), a informação se espalha como um vírus, e as redes de comunicação formam um campo viral. 6 Em meios digitais, reverberar está ligado ao compartilhamento massivo de uma informação, a partir da sua publicação original.
  • 18. 18 One-to-one (um-um); one-to-many (um/muitos) e many-to-many (muitos/muitos): usualmente, engenheiros e teóricos da comunicação distinguem esses três modos de comunicação à distância. Um seria a comunicação ponto a ponto, ou um-um, típica de cartas, telégrafo e telefone. O segundo é o um-muitos, característica dos meios e comunicação de massa – jornal, cinema, rádio, TV – onde uma fonte emite uma mesma mensagem para vários receptores. A terceira, só encontrada na Internet, é a muitos-muitos, onde todos podem ser emissores e receptores e há muitas mensagens heterogêneas. Os exemplos podem ser salas de chat ou os newsgroups que se parecem com festas e assembleias. É interessante notar que a Internet, como meio de comunicação, reúne estes três modos de comunicação à distância, como por exemplo: chats (muitos-muitos), o e-mail (um-um) e a leitura de jornais online (um-muitos) (JOHNSON, 2001, p. 31). Segundo Boyd & Elisson (2007, apud ZAGO, 2011), diferente de fóruns e outras comunidades na internet, as redes sociais estão estruturadas como redes pessoais, colocando o indivíduo no centro de suas conexões. As conexões são feitas por escolhas pessoais, e sujeitas ao interesse de cada um. Um ator pode estabelecer uma conexão (aceitar ou solicitar “amizade” no Facebook), mas escolher não receber as publicações do outro ator - ou ainda, ser notificado a cada publicação desse ator. 2.2 Democracia nas redes sociais Nas redes sociais digitas, embora ainda separados pelos graus de relevância - medidos pela audiência, apoio e referências – e pelas funcionalidades de que dispõem, todos os atores têm, em potencial, as mesmas possibilidades. Seja um usuário de perfil pessoal, uma grande empresa ou um pequeno blog mantido por vários atores. As redes sociais formam um ambiente potencialmente democrático, de livre expressão e mais agregador - ainda assim, passível de todos os direitos e responsabilidades da sociedade7 . Cada vez mais, com o crescimento do acesso à internet, e a sensação de pertencimento, o meio virtual, mesmo com suas próprias características, se aproxima do meio offline. 7 Com a Lei nº 12.965, ou Marco Civil da Internet, sancionada em abril de 2014, algumas ações na rede passaram a ter uma regulamentação específica.
  • 19. 19 A democratização das redes sociais está intrinsecamente ligada à cibercultura, que é, por fundamento, democrática e libertária. Para Lévy (1999), a cibercultura corresponde à globalização concreta das sociedades. Assim como a sociedade tem consciência própria (como a moral), a cibercultura tem também a sua própria consciência de acesso livre e irrestrito, direito de apropriação e propagação de informações – embora, legalmente, possam ser passíveis de inconformidades. O crescimento do ciberespaço resulta de um movimento internacional de jovens ávidos para experimentar, coletivamente, formas de comunicação diferentes daquelas que as mídias clássicas nos propõem (LÉVY, 1999, p. 11). A apropriação de uma informação tem nuances diferentes nas redes sociais digitais em relação ao ambiente real, mais pelas possibilidades do que pelos conceitos. Um compartilhamento literal de uma publicação no Facebook ou um retweet8 no Twitter são apropriações de opiniões, informações, piadas ou denúncias. A apropriação por diversos atores sobre uma publicação ocasiona fenômenos como a viralização. De acordo com Santana (2013), o viral é um tipo de conteúdo que tem sucesso instantâneo e se espalha rapidamente. A viralização de uma informação é dependente da colaboração dos atores e suas conexões. A relevância de uma informação é determinada por esses atores, democraticamente. A massificação de um conteúdo nas redes sociais é diferente de um conteúdo na mídia convencional. Enquanto os virais na internet surgem, na maioria das vezes, ao acaso, os produtos midiáticos são planejados especialmente para atingir o maior público possível. Com menos contextualização, e às vezes com mais dependência de estarem inseridos em termos e práticas de redes sociais, os virais podem atingir tanto ou mais audiência que um conteúdo offline. 8 Ação de compartilhar literal ou parcialmente uma mensagem publicada por outro usuário na rede social Twitter.
  • 20. 20 O termo “massa” é especificamente enganoso. Ele evoca a imagem de uma vasta audiência de muitos milhares e até milhões de indivíduos. Isto pode perfeitamente vir a calhar para alguns produtos da mídia, tais como os mais modernos e populares jornais, filmes e programas de televisão; mas dificilmente representa as circunstâncias de muitos produtos da mídia, no passado ou no presente (THOMPSON, 2001, p. 30). De acordo com Kellner (1995), a cultura dos meios midiáticos é industrial – os produtos são produzidos para a massa, utilizando formas e fórmulas para gerarem lucro às empresas. Para Jenkins (2008), nos meios digitais existe uma nova cultura na comunicação: a cultura participativa. A expressão cultura participava contrasta com noções mais antigas sobre a passividade dos espectadores dos meios de comunicação. Em vez de falar sobre produtores e consumidores de mídia como ocupantes de papéis separados, podemos agora considerá-los como participantes interagindo de acordo com um novo conjunto de regras, que nenhum de nós entende por completo, Nem todos os participantes são criados iguais. Corporações – e mesmo indivíduos dentro das corporações da mídia – ainda exercem maior poder do que qualquer consumidor individual, ou mesmo um conjunto de consumidores. E alguns consumidores têm mais habilidades para participar dessa cultura emergente do que outros (JENKINS, 2008, p. 30). Para Castells (2009), as redes sociais digitais fundiram a comunicação pessoal com a comunicação massiva, caracterizada "pela capacidade de enviar mensagens de muitos para muitos, em tempo real ou no momento escolhido, e com a possibilidade de usar a comunicação ponto a ponto" (CASTELLS, 2009, p. 55). É especialmente através dos laços fracos, de acordo com Granoveter (1973, apud RECUERO, 2009), que as informações podem chegar a pontos distantes das conexões. Laços fortes tendem a ter conexões semelhantes, limitando a propagação de um conteúdo; laços fracos, por estarem mais distantes do ponto inicial, levam o mesmo conteúdo a outros círculos e conexões. Assumindo o papel de ator, o jornalista também se apropria da linguagem e dinâmicas das redes sociais digitais para produzir e divulgar as suas informações. O ciberjornalismo não é apenas o jornalismo construído com técnicas próprias para internet. Está envolvido e inserido em um meio sob novas perspectivas e interações nunca percebidas até então. Até por isso, ainda está em processo de reconhecimento e evolução desta atividade.
  • 21. 21 É o que será abordado no próximo capítulo, apresentando os conceitos do ciberjornalismo, ciberacontecimento e sua constituição em um ambiente de convergência. 3. JORNALISMO EM REDES DIGITAIS: CIBERACONTECIMENTO Para referenciar o jornalismo exercido na internet, muitos autores, acadêmicos e público leigo utilizam termos como “jornalismo online”, “ciberjornalismo”, “webjornalismo” ou “jornalismo digital”, sem um critério específico. Para Mielniczuk (2001), que trabalha com proposições de Murad (1999) e Canavilhas (2001), os termos são relacionados de acordo com o suporte técnico: como chamar o jornalismo para televisão de telejornalismo ou o impresso em papel de jornalismo impresso. Nesta pesquisa, ainda que em referências bibliográficas e no decorrer dos capítulos seja possível encontrar termos com equivalência de significado, a nomenclatura aplicada será a proposta por Mielniczuk (2003), que escala jornalismo eletrônico, jornalismo digital/multimídia, ciberjornalismo, jornalismo online e webjornalismo. Tabela 1 – Resumo das definições de nomenclaturas sobre práticas de produção e disseminação de informação no jornalismo contemporâneo. Nomenclatura Definição Jornalismo eletrônico utiliza de equipamentos e recursos eletrônicos Jornalismo digital ou Jornalismo multimídia emprega tecnologia digital, todo e qualquer procedimento que implica no tratamento de dados em forma de bits Ciberjornalismo envolve tecnologias que utilizam o ciberespaço Jornalismo online é desenvolvido utilizando tecnologias de transmissão de dados em rede e em tempo real Webjornalismo diz respeito à utilização de uma parte específica da Internet, que é a web Fonte: Mielniczuk (2003) p.44. De acordo com a designação de Mielniczuk (2003), essas práxis jornalísticas são complementares uma à outra, numa ordem de mais genérica para mais específica - como alegoria, é possível pensar na taxonomia moderna, que classifica os seres vivos em reino, filo, classe, ordem, família,
  • 22. 22 gênero e espécie. No caso desta pesquisa, o termo que mais interessa é o ciberjornalismo, por ser o mais abrangente dentre estes a inserir-se na complexidade do universo da cibercultura (LEVY, 1999; LEMOS, 2002). Contudo, de modo que o foco do estudo está no ciberacontecimento e nas redes sociais digitais, o termo mais genérico possível, jornalismo, também pode ser aplicado sem evasão de sentido - uma vez que as práticas básicas do jornalismo são inerentes a qualquer meio midiático utilizado. Como forma de jornalismo mais recente, o jornalismo digital é a modalidade na qual as novas tecnologias já não são consideradas apenas como ferramentas, mas, sim, como constitutivas dessa prática jornalística (BARBOSA, 2006, p. 1448). A popularização, ainda pequena, da internet nos anos 1990, e o surgimento de sites brasileiros para públicos maiores (com a devida proporção de usuários para a época) também atraiu os veículos de comunicação impressos para o meio digital. Os primeiros sites de periódicos limitavam-se a publicar algumas, ou todas as, notícias do jornal impresso, muitas vezes com certo atraso em relação à versão impressa - que era prioritária. A atualização e manutenção desses sites eram feitas a cada vinte e quatro horas (SOUSA, 2013). O surgimento dos portais, aliando jornalismo, entretenimento e acesso à internet, com o crescimento dos usuários de internet no Brasil - alguns já disponibilizando de banda larga -, culminou em maior demanda e oferta de informações e notícias. De acordo com Ferrari (2004, apud SOUSA, 2013), o termo portal data de 1997. Foi a partir de 2000 que os veículos começaram a investir na produção de conteúdos com uma linguagem que utilizasse todas as potencialidades da nova mídia. Assim, passou a haver uma preocupação com a integração entre conteúdo de qualidade, design acessível e viabilidade financeira. As empresas passaram a ter uma presença mais ativa na rede, oferecendo serviços como chats, comércio eletrônico, ferramentas de busca, mapa do site, cotação financeira, jogos on-line, previsão do tempo, entre outros (além das notícias) (SOUSA, 2013, p. 42). Segundo Melniczuk (2003), o produto jornalístico para web pode ser observado, em ordem cronológica, a partir de três gerações. Na primeira, as
  • 23. 23 grandes empresas jornalísticas apenas reproduziam parcial ou totalmente o conteúdo do jornal impresso; na segunda, as empresas começaram a utilizar mais recursos disponíveis, como e-mail para contato com leitores e hiperlinks nos textos; na terceira, os veículos passaram a produzir conteúdo especificamente para web e explorar ainda mais as potencialidades e recursos (inclusive além do jornalismo, como serviços de chat). É também o momento em que surgem os portais. Apesar de utilizar o termo geração, Melniczuk (2003) enfatiza que o conceito de geração apenas corrobora a cronologia das práticas, mas que uma geração, enquanto categoria de atividade, não exclui outra. De modo que, enquanto alguns jornais avançavam na utilização da internet, outros ainda persistiam na cópia do modelo impresso, ou sequer mantinham um site. Também, ainda que explorasse o uso de multimídia e interatividade, um site poderia, de forma geral, apresentar mais características da primeira geração do que da segunda. A passagem de uma geração para outra foi gradual e assíncrona, não um movimento universal entre diversos veículos. Para Barbosa (2008, apud SOUSA, 2013), existe uma quarta e quinta gerações do jornalismo específico para internet. A quarta geração seria caracterizada pela utilização de equipes especializadas, blogs, mais canais de comunicação com os leitores, material audiovisual e feed, entre outros. A quinta geração, atual, seria a do jornalismo convergente, com uso intenso de gadgets9 na produção e circulação das informações (BARBOSA, 2013; SOUSA, 2013). A evolução do jornalismo desenvolvido para internet é concomitante à evolução das tecnologias e o modo com que as pessoas passam a consumir notícias - e outras informações online. Tudo está relacionado. O universo do jornalista e do leitor é ampliado, e cada vez mais os dois se aproximam. A acessibilidade culmina em um relacionamento dependente, de construção mútua no mesmo ambiente. 9 Gadgets são os dispositivos eletrônicos móveis, com uma função específica ou multifuncionais, como mp3 player, telefones celulares, smartphones e tablets, entre outros.
  • 24. 24 Alterações profundas nos processos de produção e consumo de notícia passam a mudar a fisionomia do jornalismo. Uma dessas mudanças é a maior interferência dos públicos no processo noticioso, conquistada pela popularização do acesso e pela simplificação das tecnologias que favorecem a publicação e cooperação na rede (HENN, HÖEHR e BERWANGER, 2012, p. 102) O consumo de notícias deixa de seguir um “sistema pull”, em que o público vai até as informações, para ser consolidado em um “sistema push”, aonde o conteúdo chega até o usuário. Além disso, o público também tem autonomia para decidir como, quando e onde vai receber as informações - e o que fará com elas (CANAVILHAS, 2010b; SOUSA, 2013). A relação do leitor com o jornalista, e o próprio jornalismo, passa por todas as fases do processo de produção do principal produto jornalístico: a notícia. O leitor atua como participante de um acontecimento antes de ser publicado como notícia, além de atuar como fonte, analista, comentarista e propagador da informação. A ação dos atores é pertinente a toda a cadeia de eventos. Assim, se de um lado esses espaços facilitam a publicação de informações, de outro, os veículos noticiosos ganham novos aliados: os usuários que atuam como filtros ao indicar, replicar e colaborar para a circulação das postagens dos veículos jornalísticos no ciberespaço. Nesse sentido, as tradicionais organizações jornalísticas vêm retrabalhando a participação do público, na medida em que o alcance das informações publicadas pelas organizações jornalísticas é potencializado a partir das ações participativas dos usuários dos sites de redes sociais na internet (SOUSA, 2013, p. 17). O ator é sempre uma parte do processo de construção do ciberacontecimento, e da apropriação do jornalismo. Ainda que não seja citado como fonte ou parte do evento, a replicação de uma informação contribui para a sua constituição. O movimento dos atores, aliado aos critérios e intenções do jornalista, é o que norteia a produção da notícia a partir do acontecimento na internet. O jornalista busca a informação na rede social, onde estão seus leitores e os atores, para construir sua narrativa. O ciberacontecimento sai das redes sociais digitais para o jornalismo e retorna, sob o formato de notícia, às redes.
  • 25. 25 Os processos de produção do acontecimento jornalístico e suas narrativas não atendem mais à lógica linear e desencadeiam-se de forma sincrônica com a presença significativa de novos atores. As lógicas de produção se alteram na medida em que é a própria rede, em um primeiro momento, que abastece os jornalistas de informação sobre o que relatar (HENN, HÖEHR e BERWANGER, 2012, p. 114). O ciberacontecimento é o acontecimento que apresenta ou está inserido nas lógicas da internet, em especial das redes sociais. 3.1 Ciberacontecimento O acontecimento, aquém de ser um acontecimento jornalístico ou ciberacontecimento, é, primordialmente, um desvio do contínuo, do senso comum de “o que é esperado”, ainda que um acontecimento possa ser previsto ou programado. O acontecimento é maior do que o “fato novo”, que por si só já possui disposição para se tornar notícia. De acordo com Henn (2013), o acontecimento seria o desencadeamento de algo possuidor de alta taxa informacional, no sentido da Teoria da Informação proposta por Shannon (1948) e Weaver. Contudo, algumas características são encontradas em ambos, como ruptura, singularidade e notabilidade (QUÉRÉ, 2005). Para Henn (2013), existe uma percepção de que o acontecimento é algo exterior ao jornalismo, que teria o papel de torná-lo público através de suas narrativas. O acontecimento, de fato, é uma série de acasos que impulsionam alguns processos (HENN, SALET, 2012). O termo ciberacontecimento não diz respeito apenas ao que é produzido, ou veiculado, ou disseminado em redes sociais/internet, mas a todo esse processo. Em relação à narrativa, o ciberjornalista atua justamente como narrador, ou mediador, de um acontecimento muitas vezes já narrado ou mediado nas redes sociais digitais. O acontecimento só tem significado quando está envolto em um discurso (CHARAUDEAU, 2009; BACCIN, 2013). Para Baccin (2013), a narração de um acontecimento é “uma dimensão de seleção e de escolha envolvendo a elaboração de um arranjo narrativo que ordena e desordena o ocorrido”.
  • 26. 26 O grande número de informações, descentralizadas, embora contribuam para a disseminação e a caracterização do acontecimento, são empecilhos na apuração de dados pelo jornalista. Para Henn, Höehr e Berwanger (2012), “quanto maior a força surpreendente ou desestabilizadora do acontecimento, mais informação ele porta”. Além disso, a sapiência prévia e o fator instantaneidade quebram a hierarquia da fonte de informação, observada antes da popularização da internet. Trata-se de emissão dispersa e capilarizada, fundamentalmente não- hierárquica, em que emissores alternativos estão produzindo acontecimentos, procurando atrair a atenção dos jornalistas e, consequentemente, um espaço valioso no noticiário (BACCIN, 2013). Contudo, a credibilidade, e por consequência a hierarquia, do jornalismo persiste em relação à veracidade do ciberacontecimento. O jornalismo passa a ser um complemento ou elemento de validação da informação das redes sociais. De acordo com Recuero (2011), o jornalista e a narrativa jornalística aprofundam e legitimizam o ciberacontecimento, confirmando “a verdade” do que está sendo compartilhado nas redes sociais. Para Henn, Höehr e Berwanger (2012), inspirados emQuéré (2005), a partir da descontinuidade e poder de revelação, inerentes ao acontecimento, um processo dinâmico de discussão é instaurado. Tomado como experiência, o acontecimento gera um campo problemático. “A percepção do nível de afetação mobiliza a transformação do acontecimento vivido no campo da experiência para o acontecimento jornalístico” (HENN, HÖEHR E BERWANGER, 2012, p. 107).O ciberacontecimento é caracterizado pela intervenção direta de vários atores, com diversas motivações. Para Höehr (2013), “não há um só indivíduo responsável pelo desencadeamento das informações na rede, assim como não há direção certa a ser tomada”. Assim, cada cidadão em potencial é produtor de informação, não importando se com intenções ou com ambições jornalísticas, mas atuando de alguma forma no campo do jornalismo ou muito próximo dele (MIELNICZUK, 2013, p. 123). A instantaneidade, o fluxo intenso de informações, os apelos audiovisuais e os processos culturais contemporâneos aproximam as ações,
  • 27. 27 distantes no modelo clássico da comunicação, de recepção e transmissão de uma informação. A necessidade de compartilhar também constitui o ciberacontecimento. O produto jornalístico criado a partir da ação dos atores na rede foi chamado por Zago (2011) de recirculação jornalística. Antes da internet, e com a consolidação dos meios eletrônicos, a linguagem jornalística foi sendo adaptada em cada mídia. Na internet e nas redes sociais, meio, forma e linguagem são aspectos ainda mais próximos - assim como a distância entre público e privado diminui, ou é encarada de forma diferente. O ciberacontecimento se desenvolve dentro dessa lógica, com estes aspectos. Ao analisarem um protesto específico contra a homofobia, organizado em redes sociais na cidade de São Paulo, em 2012, Henn, Höehr e Berwager detectam: Têm-se aqui duas facetas de acontecimento que se complementam. Em primeiro lugar, a geração dos fatos (manifestações públicas de protesto) foi articulada por meio de dos vários dispositivos da internet. Em segundo, a própria divulgação destes protestos, com a respectiva repercussão na mídia tradicional, deu-se por meio destes dispositivos, o que dá a este acontecimento ingredientes inéditos de configuração e propagação. Neste cenário propõe-se o termo ciberacontecimento para designar acontecimentos que se constituem a partir de lógicas específicas (HENN, HOEHR e BERWANGER, 2012, p. 104) Antes do ciberjornalismo, o conteúdo publicado seguia os critérios de noticiabilidade e passava por um processo de gatekeeping baseado em uma série de diretrizes pré-definidas. A decisão, no entanto, pertencia a um editor- chefe (ou mais de um). Apesar da aparente liberdade para produzir e publicar no digital, o jornalista tem outro processo de filtragem e busca de pauta com os “portões abertos” (KOVACH e ROSENTIEL, 2004; SOUSA, 2013). A relevância e importância que o ciberacontecimento ocasiona nas pessoas podem torná-lo imprescindível de ser pautado. A notícia já está na esfera pública antes da ação da mídia, que justamente fará sua cobertura por esta já pertencer à consciência pública através de outros meios (SHIRKY, 2012; SOUSA, 2013). Para Höehr (2013), na sociedade atual, o privado também é público, através da intervenção dos atores. A mesma necessidade de compartilhar, vista nas redes sociais, também é estendida ao posicionamento, à opinião, perante um fato ou uma nova informação. A forma como o conteúdo é
  • 28. 28 desenvolvido para redes sociais instiga que o usuário, ao receber uma informação, avalie-a e retransmita-a, segundo seus critérios, independente do tempo e do tipo de reflexão, para suas conexões. Para Charaudeau (2009), o acontecimento nunca é transmitido em seu estado bruto. De acordo com Henn, Höehr e Berwanger (2012), “o acontecimento cria um contexto institucional de sentido que convoca os indivíduos a assumirem um posicionamento. Mesmo que individualmente haja uma experiência singular do acontecimento, existe a experiência coletiva que gera o ambiente interpretante em que as possibilidades de sentido ganham contornos mais efetivos. Ao se configurar como mediação, o acontecimento passa a se instituir como uma experiência pública. Com as redes sociais, essa experiência é intensamente compartilhada, mesmo que de forma mediada: sentidos coletivamente construídos e agindo sobre o jornalismo convencional (HENN, HOEHR, BERWANGER, 2012, p. 107). O ciberacontecimento já está narrado pelos usuários antes de adquirir o aspecto de notícia dado pelo jornalista (BACCIN, 2013), já tem a textura da rede, e o agendamento dos veículos percebe os acontecimentos ligados às novas formas de produção e consumo de noticiário (HENN, 2011). No ambiente convergente da internet e das redes sociais, assim como recepção e transmissão são íntimos, produção e consumo também são. 3.2 Ambiente convergente As redes sociais digitais são, em grande maioria, auxiliadas por plataformas (sites) mediadas pelo computador. A consolidação de dispositivos móveis, como smartphones e tablets, mudou um pouco o cenário. Os acessos ao YouTube são, em 40%, oriundos de dispositivos móveis. Dos 1,15 bilhão de usuários do Facebook, 220 milhões acessam a rede social, exclusivamente, através do celular10 . A utilização de gadgets, ao mesmo tempo, faz parte de um fenômeno chamado convergência de mídias (JENKINS, 2008). 10 De acordo com dados do Olhar Digital, em outubro de 2013.
  • 29. 29 Por convergência, refiro-me ao fluxo de conteúdos através de múltiplos suportes midiáticos, à cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e ao comportamento migratório dos públicos dos meios de comunicação, que vão a quase qualquer parte em busca das experiências de entretenimento que desejam (JENKINS, 2008, p. 29). O comportamento migratório e convergente, apontado por Jenkins (2008), é observado em atores e redes que se conectam entre si. Uma publicação na rede social Instagram pode ser compartilhada no Facebook e comentada pelo Twitter, por atores que não necessariamente estão conectados em primeiro, segundo ou terceiro graus. Nesse cenário, as redes sociais atuam como redes de transmissão, e os atores, como transmissores. O desenvolvimento de novos meios de comunicação não consiste simplesmente na instituição de novas redes de transmissão de informação entre indivíduos cujas relações sociais básicas permanecem intactas. Mais do que isso, o desenvolvimento dos meios de comunicação cria novas formas de ação e de interação e novos tipos de relacionamentos sociais – formas que são bastante diferentes das que tinham prevalecido durante a maior parte da história humana (THOMPSON, 2001, p. 77). É notório o quanto as principais redes de televisão disputam audiência umas com as outras, chegando a extremos como evitar (ou proibir) a mera citação do nome do concorrente. Nas redes sociais, embora em algumas plataformas não haja meios de interação oficial com outras mídias sociais, existem diversas ferramentas que possibilitam a interação com outros meios. “Se o paradigma da revolução digital presumia que as novas mídias tirariam o lugar das velhas mídias, o paradigma emergente da convergência presume que velhas e novas mídias interagirão de formas mais complexas” (JENKINS, 2008, p. 30-31). O comportamento migratório do público, contudo, não existe apenas em redes sociais digitais. Uma pessoa pode assistir a um telejornal, ou ler um jornal impresso, enquanto navega na internet, envia mensagens de texto e conversa com outras pessoas (em chats ou pessoalmente). “A Web unificou os elementos de uma revolução na cadeia de suprimentos que vinha fermentando havia décadas” (ANDERSON, 2006, p. 39). A prática conhecida como segunda tela exemplifica a convergência de mídias detectada por Jenkins. Apesar de também abranger um conceito de
  • 30. 30 recurso em um dispositivo eletrônico (como TVs interativas), a segunda tela é um processo muito mais ligado aos hábitos de consumo dos usuários, que não dividem ou dispersam, mas compartilham a sua atenção entre mais de um gadget. Ainda que o processo de convergência esteja intimamente ligado à tecnologia e aos meios, a propagação das informações está no uso das pessoas. Os atores são como agentes dos meios e das informações. “A circulação de conteúdos – por meio de diferentes sistemas de mídia, sistemas administrativos de mídias concorrentes e fronteiras nacionais – depende fortemente da participação ativa dos consumidores” (JENKINS, 2008, p. 29). Muitas informações em diversos canais se encontram justamente pela ação dos atores sociais. Para Recuero (2009), a difusão de informações pelos atores depende dos seus interesses, percepções, sentimentos, perspectivas e uma ligação entre o processo de decisão da publicação e a visão de como as conexões vão interpretá-la. Romero et al (2010), assim como Java et al (2007), no entanto, demonstram que a maior parte dos usuários da ferramenta é passivo, ou seja, não atua de forma a coletar e repassar informações. Aqueles que atuam nesse sentido estão filtrando as informações que serão repassadas à rede social. Para que a informação chegue a pontos mais distantes das redes no Twitter, é preciso que usuários ativos estejam dispostos a dispender tempo e atenção selecionando publicações para repassar (RECUERO e ZAGO, 2009, p. 05). É nesse ambiente de convergência que se dão os processos jornalísticos contemporâneos, com destaque para a produção dos ciberacontecimentos. O ciberjornalismo busca pautas em diversas redes sociais, e mantém perfis específicos nelas. Do mesmo modo, produz conteúdos direcionados às redes sociais e gadgets. Não é mais possível pensar a informação sem contemplar esse cenário convergente.
  • 31. 31 4. ANÁLISES DOS DADOS: CATEGORIAS DE CIBERACONTECIMENTOS Para identificar de que forma os acontecimentos, tramados nas redes sociais digitais, são trabalhados nos portais de notícias, e a que “categorias de acontecimentos” podem pertencer, visando atingir o objetivo deste trabalho, primeiramente foi feito um levantamento bibliográfico das áreas identificadas como de interesse: redes sociais na internet, ciberjornalismo e ciberacontecimento. As leituras, especialmente as obras de Recuero (2009), Zago (2011), Mielniczuk (2003) e Henn (2012), foram fundamentais para a compreensão dos processos que envolvem os atores nas redes sociais digitais e como o jornalismo passa a compreendê-los, no sentido amplo do termo, em seus próprios processos. Entender as transformações que sofrem e ocasionam foi importante para a aplicação de outros processos metodológicos, especialmente as inferências a partir dos dados obtidos. Dentro do período de 12 meses para a pesquisa ser realizada, foi estabelecido um período de observação dos portais de 01 mês, entendido como suficiente, dada a temporalidade de execução desse trabalho, para acompanhar com clareza o desenrolar da pauta de ciberacontecimentos. A decisão pelo acompanhamento de 01 mês ocorreu após uma observação prévia, de 10 dias, que tinha o objetivo de verificar a permanência e recorrência de um mesmo ciberacontecimento nas páginas iniciais dos portais. Foi percebido que as notícias relacionadas a ciberacontecimentos permaneciam na capa dos sites, em média, não mais do que um dia. Para que houvesse mais precisão nos dados obtidos da pesquisa, optou-se por realizar 03 observações diárias, devido ao dinamismo que caracteriza as redes sociais na internet (RECUERO 2011; ZAGO 2011) e o ciberjornalismo (BARBOSA 2013; SOUSA 2013). Os horários de observação foram divididos em três turnos de um dia: matutino, vespertino e noturno. Além das 03 observações, optou-se por acompanhar 02 páginas iniciais de 02 portais de notícias, para que, além de acompanhar o ritmo do ciberjornalismo, também fosse possível verificar o processo de forma mais abrangente. Os portais escolhidos foram G1 e R7. Os portais de notícias G1 e R7 foram selecionados por terem audiência e relevância significativas, além de pertencerem a grandes conglomerados de
  • 32. 32 mídia - Rede Globo e Record - (fato que também, em tese, caracteriza um ambiente naturalmente convergente entre as plataformas de uma mesma empresa de comunicação). Todos os dados obtidos são de caráter público. Para Elm (2009, apud AMARAL, FRAGOSO e RECUERO, 2011), o conceito de público é a informação aberta e disponível para todos, que não requer cadastros, convites, aceites ou autorização direta. Apesar do período de 01 mês, na prática, a observação foi realizada durante 32 dias, de 20/01/2014 a 20/02/2014. O projeto previa que o monitoramento seria restrito aos ciberacontecimentos provenientes do Facebook e do YouTube. Durante a observação, constatou-se que, apesar de ser possível determinar a origem de um ciberacontecimento, não seria possível restringi-lo a uma única rede social - caracterizadas pela convergência de mídias e propagação de informações. Para tanto, foram considerados todos os ciberacontecimentos relacionados a qualquer rede social digital. O período da manhã foi idealizado entre 10h e 10h30; o da tarde entre 16h e 16h30; e o da noite entre 22h e 22h30 - respeitando aproximadamente seis horas de diferença entre um e outro. Na prática, o período compreendido de todas as observações foi realizado, pela manhã, das 09h40 até 11h50; pela tarde de 15h53 até 17h22; e pela noite de 21h53 até 23h40. A antecedência e o atraso foram considerados incapazes de alterar significativamente os resultados obtidos. As variações no monitoramento foram motivadas pela impossibilidade de respeitar o horário estabelecido em algumas observações devido a motivos diversos. No entanto, em alguns turnos não foi possível realizar o monitoramento – dos 66 turnos previstos de monitoramento, 14 não foram realizados. Neste caso, é possível, e provável, que novos dados pudessem ser obtidos, alterando, ainda que não significativamente, os resultados. Na tabulação dos dados (Anexo 1, disponível para consulta em mídia física e online), os turnos onde não houve observação podem ser identificados pela cor vermelha. Os turnos em que, durante o monitoramento, não foi encontrado nenhum ciberacontecimento estão identificados com a cor laranja. O método de observação respeitou sempre a diretriz de monitorar primeiramente o portal G1 e depois o R7. A observação foi feita acessando a página inicial do portal e verificando se havia, ou não, alguma publicação
  • 33. 33 referente a algum tipo de ciberacontecimento proveniente de redes sociais. Em caso da presença de um ciberacontecimento na capa de um dos portais, o processo metodológico seguinte iniciava com a captura de tela e o armazenamento do arquivo da imagem em uma pasta referente ao dia da observação. Para simplificar a tabulação e a apreciação dos dados, os turnos foram nomeados Turno 1 (manhã), Turno 2 (tarde) e Turno 3 (noite). Todas as imagens geradas pela captura de tela seguem um padrão de nomenclatura e layout. Todos os dados estão disponíveis nos anexos deste trabalho, em mídia física, e em pasta com acesso público no serviço de compartilhamento e sincronização de arquivos Google Drive. Quanto ao nome dos arquivos gerados (todos em formato JPEG), a partir das capturas de tela, foi utilizado o padrão “portal-mês-dia-turno-número da captura feita em ordem cronológica” a fim de facilitar a busca. Assim, se na mesma observação do portal G1, em 23/01, no Turno 2, houvesse mais de uma imagem, os dois arquivos seriam assim chamados: G1-01-23-Turno2-1 e G1-01-23-Turno2-2, respectivamente. Em algumas capturas de tela, há mais de um ciberacontecimento, ocorrência especialmente observada em acontecimentos com cobertura extensa, como o caso dos rolezinhos. Nestas situações, não foi realizada mais de uma captura. Para facilitar a consulta e a percepção de dados, foi criada uma planilha de tabulação que permitisse identificar em quais observações há mais de um ciberacontecimento por captura de tela. Todas as imagens estão armazenadas em pastas, por dia de observação e por portal. Assim, para acessar a captura de tela gerada a partir da observação do G1, em 23/01, no Turno 2, é preciso acessar a pasta “G1”, depois a pasta “01-23”, e visualizar o arquivo “G1-01-23-Turno2-1”. Como não houve um número expressivo de capturas de tela em um mesmo dia de observação, que dificultasse a consulta posterior, foi desnecessário subdividir os arquivos além do dia – como, talvez, por turno. Para a captura de tela, optou-se por manter a imagem com o máximo de informações possíveis, a fim de possibilitar uma gama maior de análise de dados. Para tanto, as imagens presentes nos anexos foram editadas suprimido
  • 34. 34 o menu de navegação do browser11 , mas mantendo a captura do restante da tela, e não apenas a publicação observada. A permanência da barra inferior da tela, por exemplo, permite que o horário de observação indicado na tabulação dos dados seja comprovado. A permanência da barra lateral indica a posição que a publicação ocupa na página (o quanto o usuário precisou “descer” a barra de rolagem para encontrá-la). Durante o período de observação, 03 computadores foram utilizados, alternadamente e sem critérios específicos, para obtenção dos dados e das capturas de tela. A alternância deu-se por necessidades particulares do pesquisador, e, ainda que não influenciem em nenhum aspecto os dados obtidos, geraram imagens com resoluções diferentes umas das outras. Em cada observação, os seguintes dados foram armazenados e inseridos em uma planilha: captura da tela, horário da captura, título da publicação na página inicial e o link específico da publicação. A indexação contou, inicialmente, com uma categorização prévia e bastante genérica - mais de 20 opções de categoria surgiram. A partir da metade do período de observação, foi possível restringir e classificar os ciberacontecimentos em 12 categorias. Para facilitar a compreensão dos dados, percebeu-se a necessidade de restringir ainda mais as categorias. O número de 06 categorias foi considerado suficiente, e assim, todos os ciberacontecimentos foram classificados como: Manifestações, Testemunhos, Humor/Memes, Protestos/Campanhas, Comportamento e Entretenimento. As categorias tentam sintetizar as práticas observadas nas redes sociais e pautadas pelos portais. De modo que a planilha com todos os dados brutos coletados, e todas as especificidades armazenadas, mostrou-se ineficiente para a apreciação dos dados, uma segunda planilha foi montada. Esta segunda planilha privilegia apenas alguns dados visualmente. Enquanto a primeira planilha, chamada de Dados Coletados, contém todas as informações coletadas e está apresentada seguindo apenas a ordem de coleta dos dados, a segunda, chamada Categorização com Títulos, apresenta os dados já separados por categoria e possibilita a apreciação clara dos títulos das publicações e sua incidência. 11 O mesmo que navegador; o software utilizado para acessar páginas na internet.
  • 35. 35 4.1 Considerações sobre o monitoramento dos portais de notícias Durante os 32 dias de monitoramento do G1 e do R7, foram coletadas 183 publicações caracterizadas como ciberacontecimentos. Destas, 149 eram publicações únicas, sem levar em conta sua permanência nas capas dos portais em mais de um turno de observação. Ao todo, 22 publicações foram observadas mais de uma vez. Das 183 publicações, 107 foram coletadas no G1 e 76 no R7, representando 58% e 42% respectivamente (Figura 1). A observação por turnos apresentou resultados bastante semelhantes em relação à quantidade de ciberacontecimentos. Dos 183 dados, 61 foram coletados no Turno 1, representando 33%; 66 no Turno 2, com 36%; 56 no Turno 3, com 31% (Figura 2). Figura 1 – Totalidade de ciberacontecimentos observados nos portais de notícias G1 e R7 no período de 32 dias. 58% 42% G1 R7 76 publicações 107 publicações
  • 36. 36 Figura 2 – Totalidade de ciberacontecimentos observados nos turnos 1 (manhã), 2 (tarde) e 3 (noite). A partir da categorização dos ciberacontecimentos, foram identificados 67 em Manifestações (47 no G1 e 20 no R7), 12 em Campanhas/Protestos (06 no G1 e 06 no R7), 37 em Comportamento (14 no G1 e 23 no R7), 20 em Entretenimento (13 no G1 e 07 no R7), 14 em Humor/Memes (07 no G1 e 07 no R7) e 33 em Testemunhos (20 no G1 e 13 no R7) (Tabela 2). A categoria Manifestações foi amplamente superior às outras, superando 1/3 do total de publicações, e tendo quase o dobro de publicações em relação à segunda categoria com maior número de publicações (Figura 3). A categoria Comportamento foi a única em que o R7 teve mais publicações que o G1. Em Campanhas/Protestos e Humor/Memes, os dois portais tiveram o mesmo número de publicações. 33% 36% 31% Turno 1 Turno 2 Turno 3 61 publicações 56 publicações 66 publicações
  • 37. 37 37% 6% 20% 11% 8% 18% Manifestações Campanhas/Protestos Comportamento Entretenimento Humor/Memes Testemunhos Tabela 2 – Categorização dos ciberacontecimentos observados durante o período de monitoramento. G1 R7 Total Manifestações 47 20 67 Campanhas/Protestos 6 6 12 Comportamento 14 23 37 Entretenimento 13 7 20 Humor/Memes 7 7 14 Testemunhos 20 13 33 Fonte: Autor Figura 3 – Totalidade de ciberacontecimentos observados por categoria. 4.1.1 Publicações observadas mais de uma vez A maioria dos dados coletados, compreendidos dentro do período de observação estabelecido, não apareceu em mais de uma verificação. É possível atribuir essa constatação ao caráter dinâmico da internet - aspecto estendido aos portais de notícias. Assim como as redes sociais, os portais também são atualizados com grandes quantidades de conteúdo a todo instante. As publicações, mais ou menos relevantes, seguem os critérios
  • 38. 38 estabelecidos pelos editores, e a capa destes sites é alterada (atualizada) diversas vezes em um mesmo dia. Ainda que o mesmo ciberacontecimento costume aparecer numa sequência seguida de turnos (de acordo com a metodologia aplicada nesta pesquisa), as publicações, em geral, não são as mesmas. O conteúdo gerado é atualizado em novas notícias, artigos, galerias ou outros formatos, suprimindo a publicação original ou predecessora, mas mantendo o fato em evidência na página inicial. Outra prática verificada, quando houve repetição de publicações em turnos seguidos, foi a alteração do título. Apenas 04 publicações foram percebidas mais de duas vezes em períodos de observação distintos. No Portal G1, “Ela não liga para grifes. Ele é fã do McDaleste” (título na capa) e “FOTOS: veja quem são os participantes dos encontros” (título de capa), ambos categorizados como Manifestações, foram averiguados em 06 oportunidades. As duas primeiras no dia 20/01, nos Turnos 2 e 3, na posição intermediária da capa do site. Nas duas observações subsequentes, em 21/01, Turnos 1 e 2, as publicações não constavam na capa do G1. A partir do Turno 3 do mesmo dia, e nas três verificações seguintes, do dia 22/01, as duas publicações retornaram para a capa do site, mas na posição rodapé (Figura 4). Outras publicações, referentes ao ciberacontecimento rolezinho, também foram observadas em turnos seguidos, mas com um máximo de uma repetição. O R7 publicou o acontecimento um dia após a cobertura do G1. O texto da publicação do portal da Rede Globo, apesar do título na capa fazer referência restrita ao fato, aborda a desmistificação do preconceito que gerou a polêmica inicial - a vida sexual do casal formado por uma modelo e um cadeirante. O título do artigo interno é “Cadeirante pode ter vida sexual ativa, dizem especialistas”. Na publicação do R7, em formato de galeria de imagens com pequenos parágrafos na função de legenda, o foco é a opinião da modelo e a sua carreira. Enquanto o G1 explorou a situação de forma mais plural, o R7 evidenciou a polêmica. No entanto, o evento recebeu destaque de banner de capa no R7 em 02 turnos observados; no G1, o artigo apareceu na área intermediária.
  • 39. 39 Figura 4 – Identificação de publicações do ciberacontecimento rolezinho no portal G1, em 22/01, Turno 3 (Anexo 1: G1-01-22-Turno3-4) Figura 5 – Identificação do ciberacontecimento no portal R7, em 05/02, Turno 1 (Anexo 1: R7-02-05-Turno1-1)
  • 40. 40 A publicação “Após quimioterapia, jovem faz diário comovente” (título de capa) esteve na capa do R7 em 04 observações, durante três dias. A primeira, no dia 20/01, Turno 3; a segunda no dia 21/01, também Turno 3 (Figura 6); as outras duas ocorreram nas observações subsequentes, dia 22/01, Turnos 1 e 2. Ainda que não haja certeza quanto aos critérios que o portal R7 utiliza para atualizar a sua capa, é possível supor alguns como: novas publicações ocupam o lugar das já publicadas, número de acessos (publicações mais vistas permanecem, menos vistas são substituídas), similaridades com outras publicações e até equívocos. Da mesma forma, é possível supor que a reincorporação de uma publicação à capa também acompanhe os mesmos critérios. Figura 6 – Identificação do ciberacontecimento no portal R7, em 21/01, Turno 3 (Anexo 1: R7-01-21-Turno3-3) A permanência das publicações pode ser considerada pela mesma ótica, além da falta de novas publicações ou novas publicações menos relevantes. As 22 publicações observadas mais de uma vez representam apenas 12% das 149 publicações únicas.
  • 41. 41 4.1.2 Opções de categoria Alguns dados da pesquisa se encaixam em mais de uma categoria, como “Foto de assalto vira febre com 'memes'”, observado em 23/01, Turno 3. A publicação foi categorizada como Testemunhos, mas também poderia ter sido classificada como Humor/Memes. O conteúdo da publicação, inclusive, está mais relacionado à categoria Humor/Memes do que Testemunhos. Contudo, como o acontecimento original já tinha precedentes nesta pesquisa, relacionados à categoria Testemunhos, optou-se por manter todas as publicações nesta categoria, em benefício da análise dos dados obtidos. 4.1.3 Ciberacontecimentos mais recorrentes Entre todos os 183 dados observados, distribuídos em 06 categorias, 08 ciberacontecimentos foram mais recorrentes do que os demais. Para considerar uma recorrência além do comum, de acordo com o que foi observado nesta pesquisa, aplicou-se a constância de quatro ou mais turnos de um mesmo evento - independente do número de publicações relacionadas a ele. A categoria Manifestações teve 67 dados coletados; 47 no G1 e 20 no R7. Destes 47 do G1, 30 estão relacionados ao ciberacontecimento rolezinho. Destes 30, 15 são publicações únicas. No R7, dos 20 dados, 13 estão ligados ao rolezinho, e 12 são publicações únicas. Durante o período de observação, os rolezinhos já haviam atraído a atenção da mídia. A cobertura observada pode ser dividida em dois tipos de foco narrativo. Um enfatiza a pressão sofrida pelo poder público e a (re)ação dos lojistas, e o outro apresenta personagens, histórias, motivações e particularidades dos “rolezeiros”. A cobertura do caso do juiz que foi afastado por razões psicológicas, e utilizou as redes sociais para protestar pela volta ao trabalho, alegando que estava há dois anos recebendo sem exercer a função, teve 08 publicações observadas; 04 no G1 e 04 no R7. O ciberacontecimento foi categorizado como Testemunhos. Todas as publicações são notícias, que abordaram a viralização da foto publicada, a reação do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), o
  • 42. 42 depoimento do juiz afastado em relação aos motivos do afastamento e a prévia resolução do caso, durante quatro dias de observação. O diário de uma cabeleireira que faz selfies12 da sua quimioterapia e publica fotos diárias no seu perfil no Instagram foi pautado apenas pelo R7. A mesma publicação, em formato de galeria de imagens com legenda narrativa, foi observada 04 vezes em três dias. Os textos publicados no perfil foram utilizados como fonte de informação e de depoimentos creditados à cabeleireira. O ciberacontecimento foi categorizado como Comportamento. O advogado ridicularizado por uma professora da PUC-Rio, por estar de bermuda e chinelos no aeroporto esperando um vôo (trajes que, segundo a professora, condiziam apenas com usuários de ônibus, e não de avião), foi observado 01 vez no G1 e 04 no R7; todas em forma de notícia, exceto 01 artigo de opinião publicado no R7. O evento foi categorizado como Comportamento. A petição para deportar o cantor Justin Bieber dos EUA, que é canadense, foi categorizada como Campanhas/Protestos e observada 04 vezes no G1, com 02 notícias. Na primeira publicação, a petição ganhou destaque por ter, então, 15 mil assinaturas e estar disponível no site da Casa Branca; na segunda, quatro dias depois, o documento havia chegado a 100 mil assinaturas. Publicações sobre as ameaças sofridas pelo ator Fábio Porchat em decorrência de um vídeo do canal do YouTube Porta dos Fundos, que faz uma sátira ao suposto comportamento truculento de policiais em abordagens, foram observadas 04 vezes no G1, sob a forma de 03 notícias em três dias. As publicações foram categorizadas como Humor/Memes por já haver outras publicações relacionadas ao grupo Porta dos Fundos nesta categoria As manifestações a respeito da modelo eleita “miss bumbum” que namora um cadeirante foram observadas 05 vezes, sendo 03 no G1 e 02 no R7, em duas publicações. O G1 publicou um artigo e o R7 uma notícia.. 12 Gíria diminutiva de self portrait, em português, auto-retrato. O termo é como ficou conhecida a ação de fotografar-se, ou a si e mais pessoas, e publicar a foto em redes sociais. No Oscar 2014, a prática das selfies ganhou destaque com a foto que a apresentadora Ellen DeGeneres, ao lado de diversos artistas, fez com seu celular e publicou na sua conta no Twitter, ao vivo. A imagem foi compartilhada mais de 3 milhões de vezes na rede social,
  • 43. 43 O caso da foto que acabou registrando o momento em que um assaltante pula o muro de uma casa, e posteriormente foi postada na conta da moradora e viralizada, foi observado 04 vezes no G1 e 01 no R7. Apenas a última postagem do G1 não foi em formato de notícia, destacando as montagens feitas por outras pessoas a partir da imagem original. Todas as publicações deste ciberacontecimento foram categorizadas como Testemunhos. 4.1.4 Alterações de título A maioria das publicações observadas nesta pesquisa apresenta diferença entre o título que está na capa e o título da página interna - assim como nos jornais impressos. Porém, diferente das limitações da mídia impressa, algumas publicações tiveram o título de capa alterado durante o período de observação. Esta ação é uma possibilidade (e característica) exclusiva da plataforma digital. Na observação do R7 em 20/01, foi percebido que “[Facebook] Mãe foto nua com filho recém-nascido e é banida do site”, no Turno 1 (imagem: R7-01- 20-Turno1-3), foi alterado para “[Facebook] Mãe posta foto nua com bebê e é banida do site” no Turno 3 (imagem: R7-01-20-Turno3-3). Trata-se da mesma publicação, mas na primeira observação havia um erro gramatical no título - a falta de um verbo. Na segunda observação, o erro foi corrigido e parte do texto foi alterada. É provável que a mudança de texto (não a correção) tenha sido realizada para respeitar (se adequar) a diagramação do site. Durante o Turno 2, a publicação não esteve na capa do R7. É improvável que a publicação tenha sido suprimida por conta do erro, já que, em tese, textos para internet são facilmente editáveis. Os trechos [Facebook] não constam nos títulos originais, e foram utilizados nesta pesquisa, nas duas publicações, com o intuito de beneficiar a compreensão dos dados. Na capa do portal G1 do dia 29/01, Turno 2, foi verificada a publicação “Petição para deportar Bieber supera 100 mil (imagem: G1-01-29-Turno2-2). No Turno 3 do mesmo dia, a mesma publicação teve o título de capa alterado para “100 mil assinam petição para deportar Bieber” (imagem: G1-01-29-
  • 44. 44 Turno3-2). É perceptível que, além da mudança de título, cronologicamente elas parecem invertidas. Enquanto na primeira publicação o verbo “supera” evidencia que o número de assinaturas é maior que 100 mil, na segunda, quando provavelmente o número aumentou ou, no mínimo, permaneceu igual, o título passa uma impressão de que, rigorosamente, 100 mil pessoas assinaram. Embora seja um número expressivo, no primeiro título fica claro que, de alguma forma, 100 mil representa uma barreira, que foi, no caso, superada. Na observação do G1 em 11/02, Turnos 1 e 2, consta, respectivamente e com títulos alterados, a publicação “Senador pede providências por ameaças contra Fábio Porchat” (imagem: G1-02-11-Turno1-1) e “Senador pede providências por ameaças” (imagem: G1-02-11-Turno2-1). Analisando a captura de tela, é possível concluir que a mudança ocorreu devido ao espaço disponível para o título ter diminuído. Apesar de a publicação não ter trocado de posição no layout da capa, ela perdeu a imagem de destaque para uma nova publicação do mesmo acontecimento (“Após ameaças, Porchat diz que 'objetivo' de vídeo é o debate”), passando a servir como uma espécie de apoio ou complemento ao conteúdo mais atual. A mesma foto, do ator Fábio Porchat, foi utilizada na observação dos Turnos 1 e 2. A publicação “Senador pede providências por ameaças”, no Turno 2, não foi amparada por imagem na capa. “Boletim médico de 'atropelado por unicórnio' é falso, diz hospital” (imagem: G1-02-17-Turno2-2) e “Boletim médico com 'unicórnio' é falso” (imagem: G1-02-17-Turno3-2), foram observados no portal G1 em 17/02, nos Turnos 2 e 3. Na averiguação do Turno 2, como é possível ver pela captura de tela, a notícia está na posição intermediária da capa; no Turno 3, está no rodapé. É bastante provável que a mudança do título tenha ocorrido para adequar o texto à diagramação do site e à nova posição na capa. Também no G1, “Após ironia em rede social, juiz afastado pode voltar a trabalhar” (G1-02-19-Turno2-1) e “Após ironia na web, juiz pode voltar a trabalhar” (G1-02-19-Turno2-1), verificados em 19/02, nos Turnos 2 e 3, respectivamente, têm características semelhantes ao exemplo anterior. No Turno 2, a notícia está na posição intermediária da capa; na segunda está no rodapé. A mudança também parece ter sido determinada para adequação à diagramação e nova posição na capa.
  • 45. 45 4.1.5 Justificativa de escolha de dados Dos 183 dados coletados no período de observação, 14 publicações (07 observados no portal G1 e outros 07 no portal R7) foram considerados de natureza dúbia para o interesse deste trabalho. A primeira dúvida ocorreu no artigo “Vexames de São Paulo e Grêmio abrem temporada de memes nos Estaduais” (imagem R7-01-20-Turno1-1; categoria Humor/Memes), publicado em 20/01 às 00h10, no portal R7. O artigo é uma galeria de imagens oriundas, principalmente, das fanpages no Facebook "C0r1nth14n5 m1L gr4u” e “Futebol da Depressão”, além de perfis pessoais e do próprio portal R7. Todas as imagens são de cunho humorístico, e são corriqueiras após jogos de futebol profissional. O artigo do R7 não apresenta maiores informações sobre a quantidade de compartilhamentos das imagens, limitando-se a creditá-las e a incluir legendas; estas, na maior parte, com referências de contexto à partida disputada pela equipe de futebol satirizada. Apesar da dúvida inicial, o artigo foi utilizado na pesquisa por reverberar práticas comuns nas redes sociais. “Beldades ganham dinheiro com selfies no Instagram” (imagem: R7-01- 20-Turno1-2; categoria Entretenimento) também é uma galeria de imagens, publicada no R7 em 20/01, 00h06. Neste caso, as legendas trazem informações específicas (uma espécie de mini perfil) sobre as modelos das fotos, como o número de seguidores, “currículo”, nacionalidade e estilo das fotos, poses e dicas que são oferecidas aos seguidores. A dúvida neste artigo foi quanto ao valor dessa espécie de empreendedorismo, ainda que intrínseco às redes sociais, para a pesquisa - em alguns casos, é possível perceber indícios de publicidade velada. O artigo foi considerado nos dados da pesquisa por apresentar práticas recorrentes nas redes sociais. “[Facebook] Mãe (posta) foto nua com filho recém-nascido e é banida do site” (imagem: R7-01-20-Turno1-3; categoria Comportamento) é outra galeria de imagens, publicada em 18/01, 00h20, no portal R7. Todas as imagens utilizadas são reproduções do perfil no Instagram da mulher que postou uma série de fotos da gravidez, e do filho recém-nascido. Em algumas imagens ela está nua ou seminua, com a criança. O texto compara as medidas administradas pelas diferentes redes sociais em que as fotos foram compartilhadas. Enquanto o Twitter não excluiu nenhum conteúdo, o Facebook
  • 46. 46 suspendeu o perfil da mulher temporariamente (ela não foi banida, como afirma o título). No Instagram, rede social pertencente ao Facebook, a conta não foi suspensa e apenas algumas imagens foram excluídas sem a sua autorização. A dúvida em relação ao interesse dessa notícia à pesquisa esteve relacionada ao ciberacontecimento em si, pois, embora a atitude das redes possa parecer abrupta, a prática não é uma novidade ou um desencontro com suas políticas. Diariamente, há reportes de denúncias, exclusão de fotos, textos e suspensão de perfis no Facebook. Os usuários atingidos, é claro, se sentem prejudicados injustamente. Ainda que seja possível discutir as diferenças de nudez e pornografia na sociedade civil, o Facebook é uma empresa com as suas próprias diretrizes de uso, do que pode ou não ser postado. Pela notoriedade do caso, a notícia foi agregada aos dados da pesquisa. No G1, a notícia “Ucrânia adota lei que endurece punições para manifestantes” (imagem: G1-01-21-Turno3-1; categoria Manifestações), foi publicada em 21/01 às 06h45, e atualizada pela última vez em 21/01, às 07h03. O texto do post interno não identifica se as manifestações no país foram organizadas através de redes sociais, ou como foram organizadas. A página contém hiperlinks para posts similares no portal, e em nenhum deles o modo organizacional dos protestos é informado. A tag/tópico “Ucrânia”, também disponível para consulta na página do G1, não foi analisada devido ao elevado número de artigos relacionados. Optou-se por considerá-lo um ciberacontecimento dadas as características semelhantes a outras manifestações sócio-políticas recentes, como as ocorridas no Brasil em 2013 e nas manifestações conhecidas como Primavera Árabe. O mesmo critério foi adotado para considerar “As dores da Tunísia” (imagem: G1-01-21-Turno3-2; categoria Manifestações), artigo publicado em 11/01, às 13h04, como um ciberacontecimento. A própria presença deste artigo na capa do G1, observada no dia 21/01, Turno 3, pode estar relacionada à notícia “Ucrânia adota lei que endurece punições para manifestantes”. A data de publicação do texto sobre a Tunísia é 10 dias anterior ao da Ucrânia, e não estava presente nas primeiras observações, iniciadas em 20/01. O artigo “De 'quente' a relaxante, veja os hits do verão” (imagem: G1-01- 23-Turno2-1; categoria Entretenimento), publicado no G1 em 23/01, às 11h10, e atualizado pela última vez na mesma data, às 22h59, contém um infográfico
  • 47. 47 de músicas que, para o autor, seriam os principais hits do verão (período em que existe um esforço da indústria musical para apresentar novos artistas ou novos sucessos comerciais). O interesse deste artigo para a pesquisa está na presença da canção “Beijinho no Ombro”, da artista Valesca Popozuda. Apesar de já ter reconhecimento popular, Valesca conseguiu mais atenção com a superprodução do videoclipe de Beijinho, que teria custado cerca de R$500.000,00 e sido custeado pela própria cantora. Até o momento da última visualização no Youtube, em 19/03, o vídeo postado em seu canal superava 17 milhões de visualizações. “Beijinho no Ombro” foi produzido para, e veiculado inicialmente no, YouTube, sem o apoio ou aporte de gravadora ou outra empresa. O texto da notícia “Dilma Roussef estreia em rede social com vídeo dos estádios da Copa” (imagem: R7-01-23-Turno2-2; categoria Entretenimento), publicada no R7 em 23/01, às 14h02, relata a primeira publicação da presidente Dilma Roussef no Vine (referenciado na redação do texto como “serviço de compartilhamento de vídeos curtinhos de até seis segundos”). A notícia também menciona o anúncio da publicação feita por ela no Twitter - ressaltando seus dois milhões de seguidores - e a criação de um perfil no Facebook. Embora não se considere uma publicação no Vine de Dilma um ciberacontecimento propriamente, qualquer publicação de uma celebridade ou webcelebridade ganhará notoriedade dentro e fora de seu círculo de seguidores. Neste caso, além disso, trata-se da atual presidente ingressando em mais um canal de comunicação. Como em outras redes sociais, o uso institucional foi observado com o anúncio da finalização das obras do estádio, e, aparentemente, foi o primeiro meio pelo qual a presidente anunciou, de forma oficial, a conclusão do empreendimento. Assim, a notícia foi considerada para os fins desta pesquisa, além de ter sido a única relacionada diretamente ao Vine, rede social com menos adesão do que Facebook, YouTube, Twitter e Instagram. Também referente à governança do país, o hiperlink da notícia “Após escala em Lisboa, Dilma perde a paciência com foto postada no Instagram” (imagem: R7-01-28-Turno3-1; categoria Entretenimento), publicado no R7 em 28/01, e observado na mesma data, aparentemente, não está mais disponível
  • 48. 48 no portal - ao menos não com o link original utilizado nesta pesquisa. Em 19/03, tanto no portal quanto em sites de busca, a consulta pelo título não encontrou a notícia. No entanto, outras páginas encontradas em buscadores, não relacionadas ao R7, apontam para o hiperlink original inexistente. É possível que a notícia tenha sido excluída ou que o hiperlink tenha sido modificado. No texto do hiperlink há um trecho “29012014”. A referência é óbvia à data de publicação do texto. Contudo, a notícia foi publicada no dia anterior. Mesmo alterando esse trecho para “28012014”, o hiperlink continua inexistente. Ainda que não seja possível consultar o corpo do texto da notícia, ela foi mantida nos dados da pesquisa, pois a sua publicação pode ser comprovada pela captura de tela, enquanto estava na capa do portal R7. O texto da notícia “Petição para deportar Bieber supera 100 mil assinaturas” (imagem: G1-01-29-Turno2-2; categoria Campanhas/Protestos), publicada no G1 em 29/01, às 14h49, e atualizada pela última vez na mesma data às 15h01, não contém indicações de que houve alguma espécie de corrente nas redes sociais para executar a proposta. Contudo, foi testemunhado o compartilhamento constante deste documento no Facebook - que, inclusive, em um primeiro momento, foi encarado como um possível hoax13 . A petição é verdadeira e oficial, inclusive está sendo/foi realizada no site da Casa Branca “[Porta dos Fundos] Para quem manda indiretas pelo Facebook #ridículo” e “[Porta dos Fundos] Já pensou? Justiceiro não dá mole para justiceiros” (imagens: R7-01-30-Turno3-1 e R7-02-03-Turno2-2; ambos na categoria Humor/Memes) foram observados na capa do portal R7 em 30/01 e 03/02. Os dois destaques contêm hiperlinks diretos para publicações do blog KibeLoco, com os vídeos do Porta dos Fundos embedados (anexados). O administrador do blog é um dos sócios do Porta dos Fundos, e em 2012 o KibeLoco iniciou uma parceria com o R7 - depois de alguns de parceria com a Globo-, mas não é possível determinar se ela ainda existe. O KibeLoco costuma utilizar notícias postadas no G1 para fazer conteúdo de humor. Chama a atenção os hiperlinks publicados pelo R7 não se dirigirem ao canal 13 Hoax é, basicamente, um boato ou mentira propagado na internet com o objetivo de atingir o maior número de pessoas possível.
  • 49. 49 oficial do Porta dos Fundos no YouTube, mas ao blog de um de seus proprietários. Os hiperlinks foram observados apenas em dois turnos, numa segunda e quinta-feira, no mesmo dia da publicação dos vídeos. O Porta dos Fundos tem a diretriz de publicar dois vídeos por semana, na segunda e quinta-feira, por volta das 11h. Além de monetizar14 os seus vídeos no YouTube para gerar receita, o grupo também costuma utilizar o método de publicidade do site para divulgar os seus próprios vídeos - sendo ao mesmo tempo produtor de conteúdo e anunciante. O Porta dos Fundos também tem forte inserção em outros blogs além do KibeLoco, cujos administradores não estão ligados diretamente ao canal. Ainda que haja um forte estreitamento de laços entre alguns desses blogueiros, ou que a reprodução de vídeos no canal não seja mediante fins lucrativos, é válido acreditar que o canal seja anunciante em outros meios além do YouTube, como blogs e portais. Mesmo sob a hipótese de serem inserções pagas no portal R7, os dois destaques do Porta dos Fundos na capa do site foram considerados de interesse da pesquisa pelo conteúdo dos vídeos. O primeiro, publicado em 30/01, chamado “Indiretas” é uma sátira ao comportamento do trabalhador brasileiro durante o expediente, e sua relação com as redes sociais. O segundo, chamado “Dura”, publicado em 02/03, é uma sátira ao suposto comportamento agressivo da polícia em suas abordagens, que rendeu críticas, apoio, polêmica e ameaças ao ator Fabio Porchat - as ameaças, inclusive, foram noticiadas pelo G1 nos dias posteriores. O ator costuma participar de alguns programas da Rede Globo (chegou a integrar o elenco fixo do seriado “A Grande Família”), assim como seus colegas do Porta dos Fundos. Durante os períodos de observação desta pesquisa não foi percebida a presença de publicações relacionadas às ameaças no portal R7. Em “Vídeo registra 1º banho de chuva de bebê; veja”, (imagem: G1-02- 06-Turno1-1; categoria Entretenimento), publicado no G1 em 06/02, às 06h00, há informações limitadas a respeito da distribuição do vídeo. O texto da notícia apresenta apenas uma descrição das imagens e a quantidade de visualizações (naquele momento, chegava a 800 mil). A notícia foi considerada de interesse 14 Monetização é o termo adotado pelo YouTube para designar a opção de gerar receita para um vídeo através da inserção de anúncios.
  • 50. 50 da pesquisa seguindo o mesmo critério adotado em “Petição para deportar Bieber supera 100 mil assinaturas”, pois houve testemunho do compartilhamento do vídeo no Facebook. O artigo “Bichos ganham site para encontrar parceiros” (imagem: G1-02- 11-Turno1-1; categoria Entretenimento), publicado no G1 em 11/02, às 06h45, e atualizado pela última vez às 14h55, embora tenha gerado dúvidas quanto ao seu interesse para a pesquisa, foi considerado apto a figurar entre os dados. Ainda que a rede social seja destinada às mascotes, a princípio, são os seus responsáveis que abastecem os perfis com informações, desenvolvem a personalidade do animal e tomam decisões como a escolha do parceiro, por exemplo. A antropomorfização de animais é uma prática comum em narrativas e na sociedade civil, onde, cada vez mais, algumas estruturas humanas são replicadas para animais - como salões de beleza, hotéis, alimentos com design idêntico aos próprios para consumo humano, casamentos e perfis em redes sociais. Não foi possível realizar uma observação interna do site, pois o mesmo exige um cadastro do animal mediado por análise. Ainda assim, é possível acreditar que, com testemunhos de perfis de animais em outras redes sociais (voltadas para pessoas), o comportamento dos perfis esteja baseado nas relações humanas. Também, que as próprias práticas em redes sociais do administrador do perfil sejam mantidas, como o compartilhamento de notícias, check-in em locais - alguns perfis de animais no Facebook e Twitter adotam a práxis com um viés exclusivamente animal, como o check-in em locais que a mascote frequenta ou notícias sobre animais. O texto da publicação revela que há seis mil perfis cadastrados. A fanpage do site no Facebook tem 1.593 curtidas (visto em 19/03). Na página inicial do site, há dois botões de compartilhamento automático para que o usuário indique a página no Facebook. Isto leva a crer que esta é a principal forma de divulgação da página O título da notícia “Site cria rede social para as princesas da Disney” (imagem: R7-02-11-Turno1-1; categoria Humor/Memes), publicada no R7 em 11/02, 00h13, pode causar confusão em relação ao conteúdo da publicação. O site B for Bel não criou, de fato, uma rede social, mas apropriou-se da captura de tela e características linguísticas do Instagram para criar montagens com publicações fictícias que as princesas da Disney fariam. Na ideia da
  • 51. 51 brincadeira, as princesas interagem entre si, e com alguns outros personagens de seu universo, utilizando termos, características e eventos próprios do Instagram. A postagem é composta por uma galeria de imagens com as montagens feitas pelo B for Bel, legendadas com um pequeno contexto e a tradução (as descrições das imagens são em inglês). Apesar de o título do post interno ser acrescido de “Instagram Real!”, as legendas do próprio R7 não deixam claro que se trata de montagens, ou que não é uma nova rede social enquanto sistema, na qual outros usuários podem se cadastrar. Também não está explícito que os perfis não existem no Instagram, ao menos com os nomes de usuário que aparecem nas montagens. A notícia foi considerada para esta pesquisa por reverberar uma prática comum em redes sociais, onde supostas publicações, que pessoas renomadas ou outros personagens (nem sempre humanos) fariam, são produzidas utilizando características como linguagem, fatos e outros atributos de conhecimento geral. O texto da notícia “Amigo bêbado é arrastado até em casa na Áustria” (imagem: G1-02-19-Turno1-1; categoria Comportamento), publicado no G1 em 19/02, às 06h00, afirma que o vídeo deste fato, disponibilizado no YouTube, já tinha 128 mil visualizações na ocasião. Em 19/03, este número já ultrapassava 1 milhão. A reflexão sobre o interesse deste recorte para o trabalho partiu da falta de maiores informações sobre o acontecimento. A notícia não elucida se o vídeo viralizou primeiro no YouTube ou como ele foi obtido/quem gravou. A conta que veiculou as imagens tinha somente este vídeo disponibilizado - ao menos em modo público - na última observação, em 19/03. A notícia foi considerada para a pesquisa pelo número de visualizações do vídeo, que possivelmente necessitou de propagação em outras redes sociais para chegar a essa marca. O interesse para a pesquisa da notícia “Menina é apedrejada até a morte na Síria por ter conta no Facebook” (imagem: R7-02-19-Turno1-2; categoria Comportamento), publicada em 19/02, às 06h30, gerou dúvidas, uma vez que a condenação não foi motivada por uma ação na rede social, e sim, a mera criação do perfil. Contudo, a barbárie e notoriedade do episódio foram considerados relevantes para a pesquisa. O texto da notícia, baseada na publicação original do Daily Mail, contém informações como a classificação do suposto crime da menina por seus julgadores: conduta imoral.