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Largo de São Sebastião em Manaus: um espaço “fotogênico”

Partindo de vários pontos de Manaus é possível chegar ao Centro Histórico: a Igreja da
Matriz, a praça do relógio, o porto, são as entranhas da cidade; o coração está no Largo
de São Sebastião. Subindo o burburinho da Avenida Eduardo Ribeiro, antes de chegar à
Praça do Congresso à direita, o olhar encontra mais espaço, os passos vão se acalmando,
os sons alteram a respiração. O espaço da Rua José Clemente até a Costa Azevedo,
proporciona a seu visitante outra experiência de tempo/espaço.

Logo de início temos uma central de artesanato, um prédio de um pavimento com
grafismos na fachada e portas de vidro que deixam ver algumas peças produzidas na
região. Ao lado, a pizzaria, com suas mesas e cadeiras verdes, a cor da maioria do
mobiliário que se vê no Largo. Em alguns dias da semana é possível encontrar som ao
vivo. À frente da pizzaria, uma cabine telefônica com uma estrutura que padroniza os
demais “quiosques”: estrutura em ferro, com alguns ornamentos, revestimento que
proporciona transparência e a cobertura de telhas de barro, como o “ponto” do sorvete,
ao lado e a banca de revistas, seguindo a rua, além da “Barraca de Tacacá”.




Espaço da Pizzaria no final de tarde, se preparando para receber o público.



A banca de revistas que disponibiliza também um acervo de periódicos, atrai pela
quantidade e qualidade de livros sobre a região. Seja literatura ou pesquisas científicas.
À direita da Rua José Clemente, neste trecho, o casario compõe um belo cenário. A
maioria restaurada materializa as marcas do estilo da época dos “barões da borracha”,
uma arquitetura comum em vários lugares do Brasil e da Europa, nos fins do século
XIX e início do século XX.

Seguindo a José Clemente e chegando à Costa Azevedo, vemos as duas lanchonetes:
African House (ou Mundo dos Sucos, como indica a placa) e O Pensador, restaurante e
bar (que tem a placa ainda indicando “aulas particulares”, a antiga função do
estabelecimento). Nesse trecho do Largo, diariamente é possível encontrar turistas,
estrangeiros ou nacionais, que estão a passeio pela cidade ou que vieram a trabalho e
estão hospedados nos hotéis que ficam nas ruas próximas.
Conjunto de fachadas na Rua José Clemente – Largo de São Sebastião, antes da organização do espaço
com mesas, pelas lanchonetes.

À frente das lanchonetes, a “Barraca de Tacacá”, o ponto que reúne os artistas locais
(grupos de músicos, companhias teatrais, estudantes de artes), profissionais ligados à
área da promoção de eventos culturais na cidade e professores universitários. É um
ponto sempre alegre e caloroso, não só pelo cheiro e sabor do “tacacá da Gisela”, uma
delícia quente que o amazonense não resiste mesmo em pleno verão, mas pelo espaço
aconchegante e “certo de encontrar” as pessoas dessa “tribo”.




Barraca de Tacacá um dos pontos sempre frequentados do Largo.
As apresentações artísticas, em sua maioria, são feitas nesse trecho do Largo
compreendido pelas ruas José Clemente e Tapajós, com a vista maravilhosa para o
imponente Teatro Amazonas. Construído na “Manaus da Bélle Èpoque”, é a maior
herança da cidade desse período de grandes riquezas econômicas.




Apresentação no Largo, com o Teatro Amazonas ao fundo.

O Teatro Amazonas, com suas peças todas trazidas da Europa (com exceção da madeira
do piso do Salão Nobre, que é brasileira), ainda é palco de grandes apresentações
artísticas, como os festivais que acontecem durante o ano, muitos deles com
apresentações gratuitas, encerramentos ou aberturas no Largo. Os espetáculos que
acontecem aí têm sempre um grande público, que se desloca de várias zonas da cidade.

Na frente do Teatro Amazonas, a Praça São Sebastião e o Monumento à Abertura dos
Portos. A praça, calçada com pedras portuguesas e seu desenho sinuoso em branco e
preto que deu origem a algumas interpretações sobre o seu significado (que simboliza o
encontro das águas, o encontro de raças na região, que veio antes do calçadão de
Copacabana); seus bancos, embaixo das árvores, é o refúgio durante o dia, para quem
quer parar ou nos finais de tarde, para quem quer passar um tempo, encontrar os amigos,
ou simplesmente contemplar a paisagem antes de se deslocar para casa ou continuar
suas atividades de trabalho ou estudo. O monumento ao centro, erguido no começo de
1900, com mármore italiano e bronze produzido também na Itália, é presença certa nas
recordações fotográficas de quem passa pela praça, venha de onde vier.

Atravessando a praça, na Rua Costa Azevedo com a Rua 10 de Julho, além do conjunto
de casario restaurado, há também o espaço do sorvete para refrescar as tardes quentes de
quase todos os dias do ano em Manaus. E a Galeria do Largo, com exposições de
trabalhos de artistas locais, uma pequena mostra do tanto de talentos que essa terra
produz.

Atravessando a rua, chega-se ao Bar do Armando, um espaço chamado por alguns de
“alternativo”, com uma clientela bem característica e cativa, de todas as idades e classes
sociais, incluindo turistas. É outra visão do Largo, diferente do glamour que se tem “do
outro lado da praça”.
Vista da Praça de São Sebastião com monumento e igreja ao fundo.


E ao lado do Bar do Armando, a Igreja de São Sebastião, sagrado e profano convivendo.
A igreja, com as badaladas do sino, anuncia as horas que passam. As primeiras
badaladas, mais fortes, indicam as horas e as badaladas seguintes, mais fracas, indicam
os quartos de hora. Dessa forma se tocar forte dez vezes e em seguida, duas batidas mais
fracas saberemos que são dez e trinta. Aos finais de tarde, as missas deixam a Igreja
cheia e durante o dia, os visitantes também entram para apreciar as pinturas centenárias.

O Largo de São Sebastião tem vários espaços, muitos públicos, diferenças e conflitos. É
um espaço que contém muitos outros espaços, em diferentes momentos do dia e nos
diferentes dias da semana. Além de concentrar os festivais da cidade, especialmente
pelo Teatro Amazonas, é um espaço pulsante, pela presença de vários grupos que se
organizam numa perceptível divisão de uso, que se alterna de acordo com os dias da
semana e horários. Por exemplo, às 17hs, o Largo ainda recebe o sol forte, e o público é
constituído em sua maioria de estudantes que saem das escolas e passam pela praça, em
direção aos pontos de ônibus (seja em direção à Avenida Getúlio Vargas, seja em
direção à Rua da Instalação). A sombra das árvores atrai alguns, mas o mormaço ainda
não permite permanecer no espaço. Às 18hs, a Igreja de São Sebastião toca o sino para
o início da missa. A praça, a barraca de tacacá e as lanchonetes já começam a receber
seus clientes, ainda composto de pessoas que estão saindo da escola ou do trabalho e
passam rapidamente pela praça. A parada é estratégica, para fugir um pouco do trânsito
intenso desse horário. Muitos fazem uma parada saindo do trabalho e indo para a
faculdade ou outros cursos. Ás 19hs, o público diminui um pouco. Ás 20hs, quem está
no Largo geralmente aparece para consumir, encontrar grupos de amigos nos bares ou
para os shows. Todas as quartas-feiras acontecem apresentações artísticas que iniciam
às 19hs, o Tacacá na Bossa. Nesses dias, o público é mais intenso a partir das 18hs e
permanece até às 21hs, quando geralmente terminam os shows.

No centro da praça, onde fica o Monumento à Abertura dos Portos, a partir das 17hs, é
possível ver grupos de estudantes que ficam com violão, ou apenas sentados e
conversando. É ponto de encontro. Além da população que o utiliza, o espaço funciona
como cenário para locações de época, como a mini-série global Galvez, Imperador do
Acre, do escritor amazonense Márcio Souza. Também para aulas sobre a arquitetura
eclética da cidade, com a presença de alunos de vários níveis, do ensino básico à
faculdade (especialmente os cursos de arquitetura, artes e design). Locações para
comerciais e matérias jornalísticas sobre cultura para o noticiário local e nacional, são
feitas neste espaço. A presença de turistas é notada diariamente. Os ônibus das agências
param ao lado do Teatro Amazonas, os grupos saem e vão para o centro da praça
fotografar e ouvir o guia que explica sobre a história do Teatro, do Monumento e da
Igreja e eles seguem para a visita ao Teatro Amazonas, uma parada obrigatória.

O Largo de São Sebastião é patrimônio da cidade. Pela arquitetura, que nos remete há
outro tempo, mas que é vivida nesse tempo presente; pelos espaços de consumo, sejam
nos bares, lanchonetes, ou nos bancos da praça e escadaria do monumento; pelas
atrações artísticas que alegram a cidade; pela oportunidade de se apresentar no Largo,
que é “como se fosse” no Teatro Amazonas; pela possibilidade das recordações
fotográficas num espaço “fotogênico”; pelos diversos públicos que acolhem e
pertencem ao Largo; é um espaço nobre, onde o olhar respira e o coração se orgulha. É
um espaço de vida.



Evany Nascimento – nasci.eva@gmail.com
Arte-educadora
Pesquisadora na área de cultura e patrimônio de Manaus.
Mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia – UFAM
Doutoranda em Design – PUC-Rio

Fotos: a autora.




Evany Nascimento
Largo de São Sebastião em Manaus

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Largo de São Sebastião em Manaus

  • 1. Largo de São Sebastião em Manaus: um espaço “fotogênico” Partindo de vários pontos de Manaus é possível chegar ao Centro Histórico: a Igreja da Matriz, a praça do relógio, o porto, são as entranhas da cidade; o coração está no Largo de São Sebastião. Subindo o burburinho da Avenida Eduardo Ribeiro, antes de chegar à Praça do Congresso à direita, o olhar encontra mais espaço, os passos vão se acalmando, os sons alteram a respiração. O espaço da Rua José Clemente até a Costa Azevedo, proporciona a seu visitante outra experiência de tempo/espaço. Logo de início temos uma central de artesanato, um prédio de um pavimento com grafismos na fachada e portas de vidro que deixam ver algumas peças produzidas na região. Ao lado, a pizzaria, com suas mesas e cadeiras verdes, a cor da maioria do mobiliário que se vê no Largo. Em alguns dias da semana é possível encontrar som ao vivo. À frente da pizzaria, uma cabine telefônica com uma estrutura que padroniza os demais “quiosques”: estrutura em ferro, com alguns ornamentos, revestimento que proporciona transparência e a cobertura de telhas de barro, como o “ponto” do sorvete, ao lado e a banca de revistas, seguindo a rua, além da “Barraca de Tacacá”. Espaço da Pizzaria no final de tarde, se preparando para receber o público. A banca de revistas que disponibiliza também um acervo de periódicos, atrai pela quantidade e qualidade de livros sobre a região. Seja literatura ou pesquisas científicas. À direita da Rua José Clemente, neste trecho, o casario compõe um belo cenário. A maioria restaurada materializa as marcas do estilo da época dos “barões da borracha”, uma arquitetura comum em vários lugares do Brasil e da Europa, nos fins do século XIX e início do século XX. Seguindo a José Clemente e chegando à Costa Azevedo, vemos as duas lanchonetes: African House (ou Mundo dos Sucos, como indica a placa) e O Pensador, restaurante e bar (que tem a placa ainda indicando “aulas particulares”, a antiga função do estabelecimento). Nesse trecho do Largo, diariamente é possível encontrar turistas, estrangeiros ou nacionais, que estão a passeio pela cidade ou que vieram a trabalho e estão hospedados nos hotéis que ficam nas ruas próximas.
  • 2. Conjunto de fachadas na Rua José Clemente – Largo de São Sebastião, antes da organização do espaço com mesas, pelas lanchonetes. À frente das lanchonetes, a “Barraca de Tacacá”, o ponto que reúne os artistas locais (grupos de músicos, companhias teatrais, estudantes de artes), profissionais ligados à área da promoção de eventos culturais na cidade e professores universitários. É um ponto sempre alegre e caloroso, não só pelo cheiro e sabor do “tacacá da Gisela”, uma delícia quente que o amazonense não resiste mesmo em pleno verão, mas pelo espaço aconchegante e “certo de encontrar” as pessoas dessa “tribo”. Barraca de Tacacá um dos pontos sempre frequentados do Largo.
  • 3. As apresentações artísticas, em sua maioria, são feitas nesse trecho do Largo compreendido pelas ruas José Clemente e Tapajós, com a vista maravilhosa para o imponente Teatro Amazonas. Construído na “Manaus da Bélle Èpoque”, é a maior herança da cidade desse período de grandes riquezas econômicas. Apresentação no Largo, com o Teatro Amazonas ao fundo. O Teatro Amazonas, com suas peças todas trazidas da Europa (com exceção da madeira do piso do Salão Nobre, que é brasileira), ainda é palco de grandes apresentações artísticas, como os festivais que acontecem durante o ano, muitos deles com apresentações gratuitas, encerramentos ou aberturas no Largo. Os espetáculos que acontecem aí têm sempre um grande público, que se desloca de várias zonas da cidade. Na frente do Teatro Amazonas, a Praça São Sebastião e o Monumento à Abertura dos Portos. A praça, calçada com pedras portuguesas e seu desenho sinuoso em branco e preto que deu origem a algumas interpretações sobre o seu significado (que simboliza o encontro das águas, o encontro de raças na região, que veio antes do calçadão de Copacabana); seus bancos, embaixo das árvores, é o refúgio durante o dia, para quem quer parar ou nos finais de tarde, para quem quer passar um tempo, encontrar os amigos, ou simplesmente contemplar a paisagem antes de se deslocar para casa ou continuar suas atividades de trabalho ou estudo. O monumento ao centro, erguido no começo de 1900, com mármore italiano e bronze produzido também na Itália, é presença certa nas recordações fotográficas de quem passa pela praça, venha de onde vier. Atravessando a praça, na Rua Costa Azevedo com a Rua 10 de Julho, além do conjunto de casario restaurado, há também o espaço do sorvete para refrescar as tardes quentes de quase todos os dias do ano em Manaus. E a Galeria do Largo, com exposições de trabalhos de artistas locais, uma pequena mostra do tanto de talentos que essa terra produz. Atravessando a rua, chega-se ao Bar do Armando, um espaço chamado por alguns de “alternativo”, com uma clientela bem característica e cativa, de todas as idades e classes sociais, incluindo turistas. É outra visão do Largo, diferente do glamour que se tem “do outro lado da praça”.
  • 4. Vista da Praça de São Sebastião com monumento e igreja ao fundo. E ao lado do Bar do Armando, a Igreja de São Sebastião, sagrado e profano convivendo. A igreja, com as badaladas do sino, anuncia as horas que passam. As primeiras badaladas, mais fortes, indicam as horas e as badaladas seguintes, mais fracas, indicam os quartos de hora. Dessa forma se tocar forte dez vezes e em seguida, duas batidas mais fracas saberemos que são dez e trinta. Aos finais de tarde, as missas deixam a Igreja cheia e durante o dia, os visitantes também entram para apreciar as pinturas centenárias. O Largo de São Sebastião tem vários espaços, muitos públicos, diferenças e conflitos. É um espaço que contém muitos outros espaços, em diferentes momentos do dia e nos diferentes dias da semana. Além de concentrar os festivais da cidade, especialmente pelo Teatro Amazonas, é um espaço pulsante, pela presença de vários grupos que se organizam numa perceptível divisão de uso, que se alterna de acordo com os dias da semana e horários. Por exemplo, às 17hs, o Largo ainda recebe o sol forte, e o público é constituído em sua maioria de estudantes que saem das escolas e passam pela praça, em direção aos pontos de ônibus (seja em direção à Avenida Getúlio Vargas, seja em direção à Rua da Instalação). A sombra das árvores atrai alguns, mas o mormaço ainda não permite permanecer no espaço. Às 18hs, a Igreja de São Sebastião toca o sino para o início da missa. A praça, a barraca de tacacá e as lanchonetes já começam a receber seus clientes, ainda composto de pessoas que estão saindo da escola ou do trabalho e passam rapidamente pela praça. A parada é estratégica, para fugir um pouco do trânsito intenso desse horário. Muitos fazem uma parada saindo do trabalho e indo para a faculdade ou outros cursos. Ás 19hs, o público diminui um pouco. Ás 20hs, quem está no Largo geralmente aparece para consumir, encontrar grupos de amigos nos bares ou para os shows. Todas as quartas-feiras acontecem apresentações artísticas que iniciam às 19hs, o Tacacá na Bossa. Nesses dias, o público é mais intenso a partir das 18hs e permanece até às 21hs, quando geralmente terminam os shows. No centro da praça, onde fica o Monumento à Abertura dos Portos, a partir das 17hs, é possível ver grupos de estudantes que ficam com violão, ou apenas sentados e conversando. É ponto de encontro. Além da população que o utiliza, o espaço funciona como cenário para locações de época, como a mini-série global Galvez, Imperador do Acre, do escritor amazonense Márcio Souza. Também para aulas sobre a arquitetura eclética da cidade, com a presença de alunos de vários níveis, do ensino básico à faculdade (especialmente os cursos de arquitetura, artes e design). Locações para comerciais e matérias jornalísticas sobre cultura para o noticiário local e nacional, são
  • 5. feitas neste espaço. A presença de turistas é notada diariamente. Os ônibus das agências param ao lado do Teatro Amazonas, os grupos saem e vão para o centro da praça fotografar e ouvir o guia que explica sobre a história do Teatro, do Monumento e da Igreja e eles seguem para a visita ao Teatro Amazonas, uma parada obrigatória. O Largo de São Sebastião é patrimônio da cidade. Pela arquitetura, que nos remete há outro tempo, mas que é vivida nesse tempo presente; pelos espaços de consumo, sejam nos bares, lanchonetes, ou nos bancos da praça e escadaria do monumento; pelas atrações artísticas que alegram a cidade; pela oportunidade de se apresentar no Largo, que é “como se fosse” no Teatro Amazonas; pela possibilidade das recordações fotográficas num espaço “fotogênico”; pelos diversos públicos que acolhem e pertencem ao Largo; é um espaço nobre, onde o olhar respira e o coração se orgulha. É um espaço de vida. Evany Nascimento – nasci.eva@gmail.com Arte-educadora Pesquisadora na área de cultura e patrimônio de Manaus. Mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia – UFAM Doutoranda em Design – PUC-Rio Fotos: a autora. Evany Nascimento