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Ciências Humanas e suas tecnologias: novas
sensibilidades para pensar o ensino de História
CADERNOS
DIDÁTICOS PET
HISTÓRIA UFCG
Ano I- Volume I – Nº 2 – jul./dez. 2014
ISSN 2358-4971
Campina Grande
PB - 2014
CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de
História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 |
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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL DA UFCG
C122
Cadernos didáticos PET história UFCG [recurso eletrônico] /
Regina Coelli Gomes Nascimento (organizadora). ─ Campina
Grande: EDUFCG, 2014-.
v. : il. color.
Modo de Acesso: < http://modulosdidaticos.blogspot.com.br>.
ISSN: 2358-4971
I
1. História - Universidade. 2. Ensino. 3. Pesquisa e Extensão.
I. Nascimento, Regina Coelli Gomes. II. Título.
CDU 378.4(091)
Caro estudante,
Atualmente o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) é utilizado como critério de seleção
para os estudantes que pretendem concorrer a uma bolsa no Programa Universidade para Todos
(ProUni). Além disso, cerca de 500 universidades já usam o resultado do exame como critério de
seleção para o ingresso no ensino superior, seja complementando ou substituindo o vestibular. O
ENEM tem o objetivo de avaliar o desempenho do estudante ao fim da escolaridade básica. Podem
participar do exame alunos que estão concluindo ou que já concluíram o ensino médio em anos
anteriores.
Foi pensando nessa abrangência, relevância para a formação do grupo e a necessidade
de estreitarmos os laços com o ensino básico que o PET Historia UFCG, iniciou em 2011, o
projeto “ENEM - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o
ensino de História”. E nesse sentido, este segundo módulo foi elaborado com o objetivo de
facilitar a compreensão da proposta do ENEM para a área de CIÊNCIAS HUMANAS E
SUAS TECNOLOGIAS, melhorando o desempenho dos participantes em seus estudos dentro
e fora da oficina.
Contamos com sua participação para que possamos aprimorar este módulo em edições
futuras e esperamos que suas notas reflitam seu esforço, dedicação, tempo de estudo e que
seus sonhos e objetivos sejam alcançados.
Organizadoras e revisoras
Regina Coelli Gomes Nascimento
Tutora/PET História
Rozeane Albuquerque Lima
Mestre PPGH/UFCG
Autores (as) Petianos PET História UFCG
Ana Carolina Monteiro Paiva
Elson da Silva P. Brasil
Janaína Leandro Ferreira
Jaqueline Leandro Ferreira
Jonathan Vilar dos S. Leite
José dos Santos C. Júnior
Maria Aline Souza Guedes
Paula Sonály N. Lima
Paulo Montini de Assis Souza Júnior
Priscila Gusmão Andrade
Raquel Silva Maciel
Ronyone de A. Jeronimo
Silvanio de Souza Batista
Valber Nunes da Silva Mendes
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História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 |
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Apresentação....................................................................................................................05
ENEM 2014 – informações gerais...................................................................................07
Competência de área 1 – Compreender os elementos culturais que constituem
as identidades: “Identidades do/no Brasil”......................................................................10
Competência de área 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como
produto das relações socioeconômicas e culturais de poder: “O homem e o espaço
geográfico”.......................................................................................................................23
Competência de área 3 – Compreender a produção e o papel histórico das
instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes grupos,
conflitos e movimentos sociais: “os papéis da família, do estado e da igreja no século
XXI”.................................................................................................................................36
Competência de área 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e
seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do conhecimento e na
vida social: “Novas técnicas o renascimento urbano e comercial”.................................57
Competência de área 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender
e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favorecendo uma
atuação consciente do indivíduo na sociedade: “Cidadania e democracia”....................69
Competência de área 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo
suas interações no espaço em diferentes contextos históricos: As interações entre
sociedade e natureza: reflexos da modernidade nas espacialidades naturais..................80
Anexos - Eixos cognitivos, Matriz de Referência Ciências Humanas e objetos de
conhecimento associados às Matrizes de Referência Ciências Humanas e Suas Tecnologias....92
SUMÁRIO
CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de
História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 |
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APRESENTAÇÃO
Alarcon Agra do Ó
Assim, o sentido plural do moderno conceito de História – ao poder realizar um movimento pendular entre
factibilidade e superpoder – abre uma brecha para sua utilização ideológica. Mas no mesmo diagnóstico
linguístico estão contidos critérios para desmascarar o caráter ideológico dessa utilização.
Reinhart Koselleck
O conceito de História
Os diálogos entre a universidade e a sociedade, que deveriam ser intensos, nem
sempre se realizam da forma adequada. Não raro temos a impressão de que são dois mundos
estranhos que mais se esbarram que se comunicam. O prejuízo é certo: a vida acadêmica fica
mais pobre e presa em si mesma; o “mundo lá fora” se vê privado de tantas e tão instigantes
novas relações entre palavras e coisas...
Aqui vou tratar de algo que se deu e se dá na contramão deste insidioso processo. Vou
tratar, de forma rápida, do exercício (necessário, sempre necessário) de se pensar e de se
construir o campo mais geral de “novas sensibilidades” para o fazer histórico-historiográfico,
em muitas de suas dimensões, entre elas, com destaque, as questões do “ensino” de História.
Penso no PET-História e no seu Caderno Didático “Ciências Humanas e suas tecnologias:
novas sensibilidades para pensar o ensino de História”.
A ação do Programa de Educação Tutorial, o PET, tem sido marcada por êxitos
notáveis na vida acadêmica brasileira recente. Do PET saem boas ideias, boas ações e, o que é
extremamente relevante, o PET tem servido como um excepcional laboratório para a
formação de professores e alunos.
Os docentes que se associam àquele programa transformam a si mesmos, tendo-se me
vista o acúmulo e a característica das atividades desenvolvidas. Enfrenta-se uma reinvenção
da função docente, que passa a ser vista, mais que nunca, como algo que demanda
planejamento, paciência, determinação, capacidade de orquestrar grupos heterogêneos,
habilidade para ponderar o presente tendo em vista o futuro etc.
Do ponto de vista dos alunos, é uma rara oportunidade de estudar com método e uma
orientação tanto mais de sucesso quanto segura. Parece ser impossível passar pelo PET e sair
incólume.
No caso do PET que se desenvolve junto ao Curso de História do Centro de
Humanidades da UFCG, além das questões gerais que apontei acima, há uma pequena série
de outras dimensões que desejo ressaltar.
Em primeiro lugar, a condução de sua professora tutora, que alia doçura e energia de
forma única, sendo capaz de ser suave e eficiente num ritmo que nos faz, colegas seus, eternos
aprendentes. Regina Nascimento, experiente na pesquisa, na orientação e na docência,
encontrou no PET um espaço ótimo para o máximo desempenho de muitas de suas
habilidades.
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História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 |
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Ao seu redor congregam-se alunos e alunas que buscam uma presença diferente no
Curso – marcada pela dedicação, pelo empenho, pela busca por uma formação sólida. Não por
outra razão, o PET tem se firmado, no âmbito da cultura do Curso de História do CH da
UFCG, como um programa de excelência, articulado felizmente com outras iniciativas
também comprometidas com a qualificação dos noss@s alun@s.
O Caderno que se tem em mãos é um dos resultados de uma sequência planejada e
bem executada de ações cujo fim último é unir fios. É formar alun@s; é contribuir com o
adensamento do pensar acadêmico; é colocar em perspectiva uma questão atual e preciosa
(qual o papel das ciências humanas na sociedade (bio)tecnológica, ainda mais quando se
pensa na dinâmica sempre em perigo do ensino de história); é chamar alun@s à posição da
autoria; é tomar currículos e a avaliações como “problemas” historiográficos; é emprestar
ao ENEM uma historicidade e uma racionalidade que o fazem inteligível... Em suma, o
Caderno é um objeto complexo, que me deu enorme prazer na leitura, e que espero seja lido
por muitas pessoas, de forma intensa e interessada.
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QUAL O CONTEÚDO DAS PROVAS?
O conteúdo das provas do Enem é definido a partir de matrizes de referência em quatro áreas do
conhecimento:
ENEM 2014 – INFORMAÇÕES GERAIS
COMO COMEÇOU O ENEM?
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi criado em 1998 com o objetivo de avaliar o
desempenho do estudante ao fim da educação básica, buscando contribuir para a melhoria da
qualidade desse nível de escolaridade.
A partir de 2009 passou a ser utilizado também como mecanismo de seleção para o ingresso no
ensino superior. Foram implementadas mudanças no Exame que contribuem para a
democratização das oportunidades de acesso às vagas oferecidas por Instituições Federais de
Ensino Superior (IFES), para a mobilidade acadêmica e para induzir a reestruturação dos
currículos do ensino médio.
Respeitando a autonomia das universidades, a utilização dos resultados do Enem para acesso ao
ensino superior pode ocorrer como fase única de seleção ou combinado com seus processos
seletivos próprios.
O Enem também é utilizado para o acesso a programas oferecidos pelo Governo Federal, tais
como o Programa Universidade para Todos – ProUni
(Disponível em < http://portal.inep.gov.br/web/enem/sobre-o-enem > Acesso em 20082014.)
Dia Duração
Área do
conhecimento
Componentes curriculares Questões
1º 4h 30m
Ciências da
Natureza e suas
Tecnologias
Química, Física e Biologia.
45
Ciências Humanas e
suas Tecnologias
Geografia, História, Filosofia, Sociologia e
conhecimentos gerais. 45
2º 5h 30m
Linguagens,
Códigos e suas
Tecnologias
Língua Portuguesa (Gramática e Interpretação
de Texto), Língua Estrangeira Moderna,
Literatura, Artes, Educação Física e
Tecnologias da Informação.
45
Redação Redação dissertativa-argumentativa 1
Matemática e suas
Tecnologias
Matemática 45
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FIQUE POR DENTRO DO CALENDÁRIO ENEM 2014
a) Cartão de confirmação:
O Cartão de Confirmação da Inscrição será enviado, pelos correios, para o endereço
informado pelo participante no ato da inscrição.
No Cartão de Confirmação da Inscrição estão contidas as seguintes informações:
- número de inscrição;
- data; hora; local de realização das provas;
- indicação do(s) atendimento(s) especializado(s) e/ou do(s) atendimento(s) específico(s),
se for o caso;
- opção de língua estrangeira; e
- solicitação de certificação, se for o caso.
O participante pode consultar ou imprimir o seu Cartão de Confirmação de Inscrição no
seguinte endereço eletrônico http://sistemasenem2.inep.gov.br/localdeprova,
informando seu CPF e senha.
b) Como são as provas:
O Enem é composto por quatro provas objetivas com 45 questões cada e uma redação.
Confira os dias da prova:
08 de novembro de 2014 (sábado)
- Ciências Humanas e suas Tecnologias e;
- Ciências da Natureza e suas Tecnologias.
Tempo para a prova: 4h30
09 de novembro de 2014 (domingo)
- Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, Redação e;
- Matemática e suas Tecnologias.
Tempo para a prova: 5h30
c) No dia da prova:
Os portões de acesso abrem às 12h e fecham às 13h, horário de Brasília. Recomenda-se
que todos os participantes cheguem ao local de prova até às 12h (horário oficial de
Brasília), visto que será estritamente proibida a entrada após o fechamento dos portões.
IMPORTANTE!
- Verificar com antecedência, na página de acompanhamento do Enem, a validação da
inscrição e o local de realização das provas.
- Fazer o trajeto até o local de prova antes do dia do Exame.
(Disponível em < http://www.enem.inep.gov.br/dicas.html > Acesso em
20082014.)
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Gostou das informações? Use os espaços abaixo para comentários, deixando suas
criticas e sugestões:
Sítio - http://www.ufcg.edu.br/~historia/pet/
Facebook: https://www.facebook.com/espaco.pethistoria
Blog: http://modulosdidaticos.blogspot.com.br/
BOA SORTE E BONS ESTUDOS!
DÚVIDAS FREQUENTES
APLICAÇÃO DA PROVA
13 - Como serão as provas do Enem 2014?
Serão quatro provas objetivas, contendo, cada uma, 45 questões de múltipla escolha, e
uma redação.
14 - Quais são as Áreas de Conhecimento e Componentes Curriculares avaliados
no Enem?
Ciências Humanas e suas Tecnologias (História, Geografia, Filosofia e Sociologia);
Ciências da Natureza e suas Tecnologias (Química, Física e Biologia); Linguagens,
Códigos e suas Tecnologias e Redação (Língua Portuguesa, Literatura, Língua Estrangeira
- Inglês ou Espanhol, Artes, Educação Física e Tecnologias da Informação e
Comunicação); Matemática e suas Tecnologias (Matemática).
OBJETIVOS E UTILIZAÇÃO DOS RESULTADOS
37 - Qual a finalidade do Enem?
A finalidade primordial do Enem é a avaliação do desempenho escolar e acadêmico ao fim
do ensino médio. As informações obtidas a partir dos resultados do Enem são utilizadas
para acompanhamento da qualidade do ensino médio no País, na implementação de
políticas públicas, criação de referência nacional para o aperfeiçoamento dos currículos do
ensino médio, desenvolvimento de estudos e indicadores sobre a educação brasileira e
estabelecimento de critérios de acesso do participante a programas governamentais.
O Enem serve também para a constituição de parâmetros para a autoavaliação do
participante, com vistas à continuidade de sua formação e à sua inserção no mercado de
trabalho.
38 - O Enem tem como objetivo o acesso à educação superior?
Essa não é a única, mas é uma das funções. O Enem tem sido usado com sucesso como
mecanismo de acesso à educação superior, tanto em programas do Ministério da Educação
– como o Sisu, o Sisutec, o Ciência sem Fronteiras e o Prouni –, quanto em financiamento
estudantil – Fies. Também tem sido utilizado em processos de governos estaduais e da
iniciativa privada.
39 - O Enem 2014 poderá ser usado para certificação no ensino médio?
Sim, a certificação é mais uma das possibilidades que o Exame oferece. Os participantes
maiores de 18 anos que ainda não concluíram a escolarização básica podem participar
do Enem e pleitear a certificação no ensino médio junto a uma das instituições que
aderiram ao processo – secretarias estaduais e institutos federais de educação. A lista das
instituições certificadoras consta no Anexo I do edital.
(Disponível em < http://www.enem.inep.gov.br/duvidas-frequentes.html> Acesso em 20082014.)
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Elson da Silva Pereira Brasil (elsonspb@gmail.com )
Priscila Gusmão Andrade (priscilaandrade@gmail.com )
IDENTIDADES DO/NO BRASIL
Ao longo do tempo a humanidade vem
tentando se identificar de modo que se distinga
do resto das espécies animais. Esses processos
são historicamente construídos e mudam de
acordo com cada sociedade. Mesmo dentro de
uma mesma organização social é possível haver
vários discursos sobre a mesma “identidade”.
A mesma pessoa pode se dizer de muitas formas. Pode ter várias identidades, ou até
preferir dizer-se não pertencente às categorias de identidade existente.
Disponível In:
http://www.falouepontofinal.com.br/2012/09/
expressoes-populares-1.html#.U8nzZeNdXCl,
acesso em 19/07/2014.
Competência de área 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
1 – Compreender os elementos culturais que
Disponível In: http://1.bp.blogspot.com/-NB0-
hRBht2A/UUDsSO0MIpI/AAAAAAAADDA/JKjq
MpCrqeY/s640/37093_406201599455300_71429107
7_n.jpg , acesso em 09/05/2014.
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Em certos casos as identidades são formadas para abarcar um grupo que se diz, ou é
dito como, minoria e ás vezes pode ser composto por indivíduos que não estão dentro de um
padrão normativo social. Esse grupo, por sua vez, acaba sendo discriminado quer por sua cor,
classe social, gênero, etnias, religiões ou qualquer outra característica que fuja das normas
sociais. No processo de formação da identidade de um grupo se busca anular a identidade
individual em beneficio do coletivo. Assim como mostra a figura 1, um grupo menos
favorecido pode receber mais benefícios para que, assim, possa estar em condição de
igualdade com os que o rodeiam.
Mas tem um tipo de identidade que há muito tempo é motivo de debate em nosso país:
a identidade nacional. O Brasil desde 1822, quando se tornou uma nação independente, vem
buscando criar para o país uma identidade nacional, ou seja, juntar em uma mesma
representação festas, costumes, modos de ser, entre outros elementos que definam o que é ser
brasileiro; que despertem nos brasileiros um sentimento de patriotismo e de defesa da nação,
ou seja, o próprio sentimento de pertença a uma nação é construído historicamente, e nesse
processo são incluídos e excluídos saberes e fazeres, em geral das minorias. A literatura, por
exemplo, é escolhida em alguns momentos para representar a identidade de um país: se
elegem personagens, obras literárias e autores e se nomeiam a “cara” do Brasil. Nesses quase
duzentos anos de Brasil independente o país usou de muitos personagens da literatura, assim
como de festas para tentar definir o que é ser brasileiro.
Disponível In:
http://kilombagem.org/wordpress/wp-
content/uploads/2013/03/UFJF-imagem.jpg ,
acesso em 09/05/2014.
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Na literatura, Iracema (de 1865), a índia dos lábios de mel, do romance de José de
Alencar (1829-1877), por muito tempo representou uma dita passividade dos nativos do
Brasil que teriam se entregue de corpo e alma aos colonizadores europeus que aqui chegaram,
no século XVI. Macunaíma (de 1928), personagem de Mário de Andrade (1893-1945) é a
proposta de representação do brasileiro pelos modernistas1
, um personagem sem disposição
ao trabalho ou à rotina que busca dar um jeitinho para resolver algumas situações em que se
envolve na cidade grande em busca de seu muiraquitã. Macuíma também representa um
momento da história nacional em que alguns intelectuais vão tomar o índio como legitimo
representante da identidade nacional, como a essência, a verdadeira brasilidade.
O Estado Novo representou a relação entre os índios e o Estado-nação numa ótica
romântica. Em 1934, consagrando um ícone cultural, Vargas decretou que o dia 19
abril seria o Dia do Índio. Nos anos seguintes, o Dia do Índio ocasionou numerosos
eventos culturais e cerimônias públicas. Numa verdadeira blitz, o Estado organizou
exibições em museus, programas de rádio, discursos e filmes sobre o índio - tudo
isso com assistência do DIP. (GARFIELD, 2000, p. 18).
Esses dois personagens, Iracema e
Macunaíma, de épocas históricas diferentes
foram apropriados para dizer o que era o
brasileiro. Isso não significa que exista um modo
único de ser brasileiro, mas que em cada
momento as pessoas pensaram e escreveram o
ser brasileiro do modo que sua época permitia.
Nós, no presente, não podemos julgar esses
modelos como certos ou errados, apenas tentar
compreender sua construção.
1
Modernistas são os artistas envolvidos no movimento artístico e cultural no país no início do século XX. O
modernismo no Brasil é marcado pela Semana de Arte Moderna de 1922. Saiba mais em:
http://www.mac.usp.br/mac/templates/projetos/seculoxx/modulo2/modernismo/index.html (acesso em
19/07/2014).
Disponível
,http://gilmaronline.zip.net/arch2011-03-
01_2011-03-31.html > Acesso em 13/04/2014.
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Em meados do século XX outra forma de representar a identidade nacional entrou em
evidência. Um caso no qual a literatura tenta abarcar um personagem que represente a
identidade nacional partindo de um olhar regional, é o caso de João Grilo, personagem de O
Auto da compadecida (de 1955) obra de Ariano Suassuna (1928). O autor propõe uma
identidade do brasileiro partindo do seu olhar sobre os personagens dos sertões nordestinos. O
personagem João Grilo, embora tenha disposição ao trabalho, consegue burlar algumas
situações, inclusive sua ida quase certa ao inferno. Mas é possível localizar em cada
personagem diferenças quanto à forma de pensar a brasilidade. João Grilo aparece não mais
como representante de um país inteiro, mas como o representante de uma região. Se antes se
buscava dizer um tipo que representava a nação brasileira, neste momento Ariano Suassuna
buscou pensar uma identidade baseada nos tipos regionais. Mas, e no presente, como andam
as representações de nossa brasilidade?
Roberto da Matta (2004) antropólogo contemporâneo aponta algumas dessas
características como constituintes de nossas identidades no presente: a falta de cuidado com o
público, pouco engajamento político e uma corrupção que estaria presente em nossas práticas
diárias como: apropriação indevida de coisas
públicas, filar na prova, jogar lixo na rua, entre
outras.
“No duelo entre esses dois campeões,
fazemos voto para que o entrudo morra de
uma vez”. Revista Ilustrada, 1881. In:
http://devotosdodragao.ucoz.com/index/
entrudo/0-8, acesso em 13/04/2014.
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REFLEXÃO
Festas e identidade(s): o Carnaval
Um dos elementos usados para criar a identidade de uma nação são suas festas. No
Brasil uma das festas mais populares é o carnaval. Quem nunca ouviu a frase “No Brasil o
ano só começa depois do carnaval”? O carnaval é tido como a festa do samba, do axé e do
frevo, mas será que apenas esses ritmos são tocados em nossos carnavais? Caso seja, como é
o caso do frevo em Olinda - PE, como um único ritmo pode ser tocado em uma festa
caracterizada pela diversidade?
As nossas festas são uma demonstração da diversidade das identidades, assim como da
mistura de códigos e culturas em um mesmo espaço. O Carnaval pode ser pensado como uma
festa que alguns tomamos como representativa do que somos. Festa presente no Brasil desde
quando o país era uma colônia de Portugal, se caracteriza pela diversidade com que é
comemorada nas diferentes regiões do país. Atualmente as festas nas cidades de Salvador,
Olinda e Rio de Janeiro ocupam espaço na mídia, sendo tomadas como as maiores do país.
No Rio de Janeiro as escolas de samba ganham destaque, sendo elemento identitário
destacado na mídia, como característica do carnaval carioca e uma tentativa de representação
da nação. Em Salvador o axé é o ritmo que toma conta nas representações sobre o carnaval
baiano.
Em Olinda-Recife é o frevo que é reina
como ritmo do carnaval, assim uma mesma festa é
embalada por ritmos diferentes. Mas além desses
ritmos, outros também podem compor o carnaval.
Não apenas de ritmos e sons é feito o carnaval brasileiro, cada região, estado e cidade
dá um toque especial a essa data, algumas optam por não celebrar a festa e aproveitar a data
para promover debates místicos, filosóficos, acadêmicos, encontros religiosos, entre outros, é
Carnaval sem mela mela não existe. In:
http://lenilsonazevedo.com/?p=9062, acesso
em 13/04/2013.
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o caso do Encontro para a Nova Consciência que ocorre sempre no período de Carnaval em
Campina Grande-PB.
Outra marca história do carnaval brasileiro é, para alguns, a fama de, durante os dias
de festa, reinar a permissividade. É permitido trair, andar seminu, homem pode vestir-se de
mulher. Mas será que é apenas no Carnaval que essas identidades de gênero, de raça ou de
classe social, ou quaisquer outras, entram em crise? Ou será que estamos passando por um
momento em que esses modelos enfrentam uma crise?
Não se engane em pensar que o carnaval é desprovido de disputas políticas e sociais.
Historicamente no Brasil o carnaval é fruto de discursos que pretenderam pretendem controlar
as formas de divertimento do povo. Um exemplo foram os conflitos entre as associações
carnavalescas no Rio de Janeiro do século XIX que buscavam combater o entrudo2
. No
entrudo as pessoas costumavam sair às ruas jogando farinha e bolinhas de cera contendo água,
urina ou outros líquidos. Com a adesão aos costumes burgueses e à modernidade, as
associações carnavalescas buscam domesticar a festa e travam um verdadeiro combate nos
meios impressos até legitimar um modo de festejar o carnaval com confete e serpentina. Mas,
mesmo assim, em algumas regiões do país o costume de se melar permanece até o presente. O
mela-mela que ainda ocorre em alguns carnavais de rua é reminiscência dessa prática.
TEXTO DE APOIO
A escravidão e as conquistas negras
Uma das características fundamentais do sistema escravista era a prioridade jurídica sobre o
trabalhador cativo. Sendo assim, o homem escravizado era subordinado a outro ser humano.
Ao tornar-se propriedade privada, o escravo perdia a sua humanidade?
(APOLINÁRIO, 2007. p.32).
2
Entrudo pode ser definido como uma série de jogos e brincadeiras populares, introduzidas no Brasil pelos
portugueses no século XVI, que também foram associadas ao carnaval brasileiro. Pode ser considerado como a
fase de gestação do carnaval popular de rua. (Disponível in: http://www.suapesquisa.com/carnaval/entrudo.htm,
acesso em 19/07/2014).
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(Disponível em:<
http://amaivos.uol.com.br/amaivos09
/noticia/noticia.asp?cod_canal=44&c
od_noticia=22765 >, acessado em:
30/04/2014).
A escravidão negra se iniciou no Brasil durante o período em que o país ainda era
colônia de Portugal, foi uma experiência de longa duração (se iniciando com a vinda dos
primeiros africanos na primeira metade do séc. XVI e terminando oficialmente em 1888, com
a lei Áurea) deixando profundas marcas na sociedade brasileira.
O trabalho do negro escravizado foi utilizado nas plantações de cana-de-açúcar no
Nordeste brasileiro, nas lavouras de café do interior paulista, nas minas de ouro de Minas
Gerais, nas cozinhas das casas grandes dos fazendeiros brasileiros, nas casas dos brasileiros
de classe média, etc. A escravidão estava, assim, acoplada à sociedade brasileira no período
colonial e em boa parte do período imperial, estando ligada não apenas ao aspecto econômico
como também aos aspectos político e cultural.
Ser escravo significava ser propriedade de outra pessoa, escravizar era tornar o ser
humano um objeto passível de venda, empréstimo, aluguel, hipoteca, etc. Mas essa
característica mercantil fazia o homem escravizado perder sua subjetividade de ser humano?
Fazia o individuo de fato tornar-se um objeto inanimado e sem vontades, pensamentos e
identidade própria?
Por ser escravo, o negro não deixava de possuir vontades e sentimentos. Não deixava
também de se revoltar contra o sistema ao qual estava sujeito e de protagonizar diversas
resistências contra as crueldades que o sistema escravocrata impunha contra os mesmos.
Vejamos o que Albuquerque coloca a esse respeito:
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Onde quer que o trabalho escravo tenha existido, senhores e governantes foram regularmente
surpreendidos com a resistência escrava. No Brasil, tal resistência assumiu diversas formas. A
desobediência sistemática, a lentidão na execução das tarefas, a sabotagem da produção e as
fugas individuais ou coletivas foram algumas delas. Fugir sempre fazia parte dos planos dos
escravos.
Os cativos fugiam por vários motivos e para muitos destinos. Castigo, trabalho excessivo,
pouco tempo para o lazer, desagregação familiar, impossibilidade de ter a própria roça e, é
obvio, o simples desejo de liberdade eram as razões mais freqüentes que os levavam a escapar
dos senhores. (ALBUQUERQUE, 2006, p. 117).
Percebemos assim que a escravidão não excluiu as identidades dos que foram
escravizados e que diversas maneiras foram encontradas pelos negros para resistir à realidade
que lhes estava imposta. Mas os problemas para esse grupo não se encerram com a abolição
da escravatura. Inúmeras foram as dificuldades sociais que os negros enfrentaram após a
liberdade e numerosos foram os preconceitos que se mantiveram contra a sua figura.
Após a abolição não houve uma política de integração dos negros ex-escravos à
sociedade e ao mundo do trabalho, havendo assim uma marginalização desse grupo, devido ao
preconceito que sofria por ser negro e ex-escravo.
O preconceito contra os negros se manteve com os anos que se passaram, apesar da
tese sociológica de Gilberto Freire, em seu livro Casa Grande e Senzala, conhecida como
mito da democracia racial, na qual o autor vai dizer que o Brasil é um país miscigenado (entre
branco, negro e índio) e que o mestiço é o tipo do brasileiro.
Nos anos 1930, a Frente Negra Brasileira3
(FNB) chamou a atenção, a partir de jornais
e congressos, para os problemas que afligiam a população de cor, nos anos 1940 o Teatro
Experimental do Negro4
denunciou as práticas racistas a partir do teatro, já na década de 1990
houve um período mais promissor de participação política para a sociedade civil e uma maior
força para os movimentos sociais ligados a bandeiras ideológicas, incluindo o Movimento
Negro (Movimento Negro Unificado – MNU), havendo uma maior luta contra a opressão
racial, o alto índice de desemprego da população negra, a violência policial, etc. (SANTOS,
s.d., p.6).
3
A frente negra brasileira foi um movimento social fundado em 16 de setembro de 1931 e que durou até 1937.
Tinha como propósito lutar pelo direito dos afrodescendentes brasileiros.
4
O teatro experimental do negro, foi fundado em 1944 e durou até 1961, tinha como intenção a valorização do
negro no teatro e a criação de uma nova dramaturgia. Para saber mais sobre, acessar:
http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_teatro/index.cfm?fuseaction=cias_biografia&cd_verbe
te=649, acessado em 22/07/2014.
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A partir desse momento houve uma maior atenção direcionada aos problemas das
minorias étnicas, incluindo os negros. Uma das conquistas do MNU foi a lei 10.639/03, que
estabelece a inclusão da história da África e das culturas afro-brasileiras no conteúdo
programático do ensino fundamental das escolas brasileiras. Essa lei sofre uma expansão com
a Lei 11.645/08 que inclui nos conteúdos das escolas além da temática negra, a indígena. A
intenção dessas leis é contribuir para a mudança do imaginário social brasileiro sobre a
população negra e a indígena, um esforço para diminuir o preconceito racial.
APRENDA FAZENDO...
ENEM 2013, questão 01
No final do século XIX, as grandes sociedades carnavalescas alcançaram ampla popularidade
entres os foliões cariocas. Tais sociedades cultivavam um pretensioso objetivo em relação à
comemoração carnavalesca em si mesma: com seus desfiles de carros enfeitados pelas
principais ruas da cidade, pretendiam abolir o entrudo (brincadeira que consistia em jogar
água nos foliões) e outras práticas difundidas entre a população desde os tempos coloniais,
substituindo-os por formas de diversão que consideravam mais civilizadas, inspiradas nos
carnavais de Veneza. Contudo, ninguém parecia disposto a abrir mão de suas diversões para
assistir ao carnaval das sociedades. O entrudo, na visão dos seus animados praticantes,
poderiam coexistir perfeitamente com os desfiles.
PEREIRA, C.S. Os senhores da alegria: a presença das mulheres nas Grandes Sociedades carnavalescas cariocas em fins do
século XIX. In: CUNHA, M.C.P. Carnavais e outras frestas: ensaios de história social da cultura. Campinas: Unicamp;
Cecult, 2002 (adaptado).
Manifestações culturais como o carnaval também têm sua própria história, sendo
constantemente reinventadas ao longo do tempo. A atuação das grandes sociedades, descritas
no texto, mostra que o carnaval representava um momento em que:
a) Distinções sociais eram deixadas de lado em nome da celebração.
b) Aspirações cosmopolitas de elite impediam a realização da festa fora dos clubes.
c) Liberdades individuais eram extintas pelas regras das autoridades públicas.
d) Tradições populares se transformavam em matéria de disputas sociais.
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e) Perseguições policiais tinham caráter xenófobo por repudiarem tradições estrangeiras.
ENEM 2010, questão 02
Negro, filho de escrava e fidalgo português, o baiano Luiz Gama fez da lei e das letras suas
armas na luta pela liberdade. Foi vendido ilegalmente como escravo pelo seu pai para cobrir
dívidas de jogo. Sabendo ler e escrever, aos 18 anos de idade conseguiu provas que havia
nascido livre. Autodidata, advogado sem diploma, fez do direito o seu ofício e transformou-
se, em pouco tempo, em proeminente advogado da causa abolicionista.
AZEVEDO, E. O Orfeu de carapinha. In: Revista de História. Ano 1, nº3. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, jan. 2014
(adaptado).
A conquista da liberdade pelos afro-brasileiros na segunda metade do séc. XIX foi resultado
de importantes lutas sociais condicionadas historicamente. A biografia de Luiz Gama
exemplifica a
a) Impossibilidade de ascensão social do negro forro em uma sociedade escravocrata, mesmo
sendo alfabetizado.
b) Extrema dificuldade de projeção dos intelectuais negros nesse contexto e a utilização do
Direito como canal de luta pela liberdade.
c) Rigidez de uma sociedade, assentada na escravidão, que inviabiliza os mecanismos de ação
social.
d) Possibilidade de ascensão social, viabilizada pelo apoio das elites dominantes, a um
mestiço filho de pai português.
e) Troca de favores entre um representante negro e a elite agraria escravista que outorga o
direito advocatício ao mesmo.
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SAIBA MAIS
Site: Videoteca do CPFL – Cultura
Aqui você vai encontra professor@s de Universidades renomadas
do Brasil e do Mundo falando sobre temas como identidade,
cultura, história e outras questões da contemporaneidade.
Em especial indicamos os programas:
Feminilidades e pós-modernidade | Guacira Lopes Louro
(http://www.cpflcultura.com.br/wp/2009/10/28/feminilidades-e-
pos-modernidade-guacira-lopes-louro/, acesso em 13/04/2014).
Entre a luxúria e o pudor | Paulo Sérgio do Carmo
(http://www.cpflcultura.com.br/wp/2012/06/29/entre-a-luxuria-e-o-
pudor-cem-anos-de-vida-sexual-dos-brasileiros-paulo-sergio-do-
carmo/, acesso em 13/04/2014).
O mito da raça: em busca da pureza – Demétrio Magnoli
(http://www.cpflcultura.com.br/wp/2011/05/10/o-mito-da-raca-em-
busca-da-pureza-demetrio-magnoli-2/, acesso em 13/04/2014).
Site:
Site do Instituto Luiz Gama – Site do Instituto Luiz Gama é uma
associação sem fins lucrativos, formada por um grupo de militantes
de movimentos sociais que atua na defesa de causas populares.
http://institutoluizgama.org.br/portal/, acessado em 08/05/2014.
Livro:
Memórias do Cativeiro: família, trabalho e cidadania na pós-
abolição – Livro escrito a partir da experiência de ex-escravos
brasileiros, que trabalharam principalmente no antigo sudoeste
cafeeiro, contando a experiência coletiva e individual dessas
pessoas.
Filme: Memórias do Cativeiro - Filme de 2005, dirigido por Guilherme
Fernandez e Isabel Castro, feito a partir do acervo oral do Labhoi e
com roteiro baseado em livro de mesmo nome.
Para assistir ao filme, acessar:
http://ufftube.uff.br/video/M2GWDYGDBYU7/Mem%C3%B3rias-
do-Cativeiro, acessado em 08/05/2014.
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RESPOSTAS COMENTADAS
Questão 01
A questão pede que se perceba como a tradição popular de celebrar o entrudo, à medida que
ganha visibilidade, passa a ser motivo de conflitos e disputas sociais. No contexto de fins do
século XIX era muito forte no Brasil a vontade de parecer com a Europa, para tanto era
preciso disciplinar algumas práticas tradicionais que fugiam dos padrões europeus. As outras
alternativas não condizem com o texto base ou com a época a qual o mesmo se refere, logo
acabam sendo incorretas com o que o item pede.
Alternativa correta: Letra D.
Questão 02
A vida do abolicionista Luiz Gama indica possibilidade, embora muito limitada, de ascensão
social do negro no Brasil imperial e, ao mesmo tempo, revela a importância do Direito e de
alguns advogados na luta pelo fim da escravidão no país.
As demais alternativas não estão necessariamente erradas, mas a dificuldade de ascensão dos
negros na sociedade da época é a alternativa que mais se aproxima do texto proposto para a
questão.
Alternativa correta: Letra B.
REFERÊNCIA
ALBUQUERQUE, Wlamyra R. de. Uma história do negro no Brasil. Brasília: Fundação
Cultural Palmares, 2006.
ALENCAR, José de. Iracema. 2ª ed. crítica de M. Cavalcanti Proença. São Paulo: ed. Da
USP/EDUSP, 1979.
ANDRADE, Mário de. Macunaíma. Ed. crítica coord. por Telê P. Ancona Lopez. Paris,
Association Archives de la Littérature latino-américaine, des Caraibes e africaine du Xxe.
Siècle; Brasília, CNPQ, 1988. (Col. Arquivos, 6)
APOLINÁRIO, Juciene Ricarte. Escravidão negra no Tocantins colonial. 2ºed. Goiania:
Kelps, 2007.
BAUMAN, Zygmunt. Identidade. Tradução de Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Editor, 2005.
GARFIELD, Seth. As raízes de uma planta que hoje é o Brasil: os índios e o Estado-Nação
na era Vargas. Rev. bras. Hist.[online]. 2000, vol.20, n.39, pp. 13-36. ISSN 1806-9347.
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HALL, Stuart. A identidade cultural na pós – modernidade. 11. Ed. Rio de Janeiro: DP&A,
2006.
MATTA. Roberto. O modo de navegação social: a malandragem, o “jeitinho” e o “você sabe
com quem está falando?” In: DA MATTA, Roberto. O que é o Brasil? Rio de Janeiro:
Rocco, 2004. P. 13-20.
SANTOS, Márcio Andre de. Negritudes posicionadas: as muitas formas da identidade negra
no Brasil. Artigo cientifico, encontrado em:
http://www.cp2.g12.br/UAs/se/departamentos/sociologia/pespectiva_sociologica/Numero4/Ar
tigos/marcio_andre.pdf.
SUASSUNA, Ariano. O Auto da Compadecida. 34 ed. Rio de Janeiro: Agir, 2002.
Sites:
Blog do Lenilson Azevedo: http://lenilsonazevedo.com/, acesso em 13/04/2014.
Brasil Cultura. Mulher e carnaval. In: http://www.brasilcultura.com.br/antropologia/mulher-e-
carnaval/, acesso em 13/04/2014.
Brasil Escola- Carnaval do Brasil. In: http://www.brasilescola.com/carnaval/carnaval-no-
brasil.htm, acesso em 11/04/2014.
Devotos do dragão: http://devotosdodragao.ucoz.com/index/entrudo/0-8, acesso em
13/04/2014.
HISTÓRIA DO CARNAVAL - Monique Cardoso. In:
http://ccsp13aisp.ibge.gov.br/attachments/article/68/HISTORIADOCARNAVAL.pdf, acesso
em 13/04/2013.
Instituto CPFL Cultura: http://www.cpflcultura.com.br/, Acesso em 19/07/2014.
Kilombagem: http://kilombagem.org/, Acesso em 19/07/2014.
Modernismo Brasileiro:
http://www.mac.usp.br/mac/templates/projetos/seculoxx/modulo2/modernismo/index.html,
Acesso em 19/07/2014.
Sua pesquisa.com: http://www.suapesquisa.com/carnaval/entrudo.htm, acesso em 13/04/2014.
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Ana Carolina Monteiro Paiva (anacarolina.mont@hotmail.com )
Jonathan Vilar dos S. Leite(Jonathan_vilar@hotmail.com )
PARA COMEÇAR A HISTÓRIA
O HOMEM E O ESPAÇO GEOGRÁFICO
Autoridades negociam com os índios da aldeia
Maracanã sobre a desocupação do prédio para a
revitalização de um complexo esportivo. Disponível
em: < http://www.portalguaira.com/PG/wp-
content/uploads/2013/03/indio2.jpg> Acesso em: 15 de
abr. 2014.
Chuva ameaça 128 mil pessoas em moradias de
ocupação irregular da área, em Manaus. Disponível
em: < http://acritica.uol.com.br/manaus/Chuva-
ameaca-pessoas-risco-Manaus_0_1110488944.html>
Acesso em: 15 de abr. 2014.
Vista panorâmica da cidade de São Paulo – SP, Brasil.
Classificada pelo IBGE como uma das metrópoles
globais. Disponível em:
<http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/t
vmultimidia/imagens/geografia/4saopaulo.jpg> Acesso
em: 15 de abr. 2014.
1 –
Competência de Competência de área 2 – Compreender as transformações dos espaços
geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de poder.
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Você consegue identificar o que essas três imagens tem em comum? Todas estão
diretamente ligadas a conceitos bastante utilizados na Geografia e História: espaço e
território? Vamos pensar sobre essas questões? De acordo com o geógrafo Milton Santos, é
difícil atribuir uma definição única para a categoria espaço, pois qualquer conceituação não é
fixa, imutável, mas flexível, sujeita a mudanças ao longo da história, ganhando novos
significados de acordo com o contexto em que está inserida. Assim, o espaço corresponde às
transformações sociais feitas pelos seres humanos, e pode ser compreendido principalmente
por dois pontos: o espaço humano (morada do homem) e o espaço geográfico (organizado
pelo homem para produção).
O espaço pode ser organizado de diversas formas: pela divisão social do trabalho,
urbanização, migrações, fatores econômicos e sociais, entre outros. O território utilizado pelo
povo seria aquele que se transformaria na noção de espaço, pois por território se entende uma
ideia de delimitação, uma área fixada construída e desconstruída pelas relações de poder. Essa
representação dos diferentes territórios está presente em nosso cotidiano, desde a mais simples
cerca ou muro da sua casa que delimita seu território, até o território da aldeia Maracanã, a
qual os índios se apropriaram como símbolo de sua resistência perante a desapropriação de
suas verdadeiras terras para atender às necessidades do governo.
Alguns estudiosos partem do pressuposto de que são as relações de poder entre
“dominantes” e “dominados” que ditam o ritmo dessas divisões de espaço e território ao
longo do tempo e que isso historicamente possui um significado maior. Essa visão está muito
forte nos estudos sobre as questões de espaço, território e territorialidade sendo mais
defendida pelo viés marxista. Para exemplificar melhor essa relação não tomando os
“dominantes” e os “dominados”, mas levando em consideração que havia uma relação de
poder entre classes, vamos observar o caso do processo de colonização do Brasil (a relação
metrópole-colônia): o Brasil, no seu papel de colônia, era totalmente dependente de sua
metrópole Portugal.
O território do Brasil passou por um processo em que envolvia muitos tratados,
acordos, nos quais Portugal visava demarcar, limitar, criar fronteiras que foram acordadas
com outros países. Essa apropriação do território brasileiro ia além de uma posse de terra,
mexia também com o imaginário tanto dos nativos (submissos à Portugal) como dos
colonizadores (superiores, civilizados). Outros exemplos são as divisões regionais do Brasil
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(Norte, Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste), uma divisão que leva em consideração
aspectos climáticos (uma região de clima tropical, outra de clima mais ameno e etc), culturais
(uma região que tenha práticas culturais em comum, como na região amazônica que forma um
conjunto cultural que representa a identidade daqueles ali nascidos), econômicos (uma região
onde a produção de café é mais intensa, outra em que o ouro predomina, formando complexos
econômicos). As próprias divisões regionais dentro de uma cidade (zona sul, zona norte, zona
leste...) também possuem um significado dentro da própria sociedade: são divisões que na
maioria das vezes são determinadas por questões econômicas, como, por exemplo, uma antiga
noção de que as casas construídas próximo ao mar, litoral, seriam de pessoas com alto poder
aquisitivo. Porém, essa concepção vem se transformando devido à ascensão da classe média
que cada vez mais conquista seu lugar.
Assim, também é necessário comparar o significado histórico da formação dos
diferentes espaços. Para isso, deve-se entender que os espaços geográficos são dinâmicos, ou
seja, estão sempre em constante mudança devido aos processos migratórios. Provavelmente
você já ouviu falar de uma pessoa próxima ou algum conhecido que se mudou para outra
cidade para trabalhar: isso faz parte do processo de migração, um fluxo populacional atraído
para um centro econômico em desenvolvimento que pode proporcionar uma ascensão
econômica e social para o sujeito. São várias as cidades que atraem esse fluxo, porém quando
se trata de migração é inevitável não citarmos a metrópole global responsável pela grande
quantidade de pessoas que saem de sua terra natal para se destinarem a ela: São Paulo. Os
processos imigratórios também contribuem para o aumento populacional das grandes cidades,
como visto nas charges abaixo:
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Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/_aJT3I8ICB-
8/TE_rvyZ5KzI/AAAAAAAAA9Q/4uYI3dIBAD4/s1600/char
ge-imigrantes.jpg> Acesso em: 19 mai. 2014.
Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/-
Wmj689NYuyg/Tsht70wQpRI/AAAAAAAAAR4/Yg187IL-
VKo/s1600/charge.gif> Acesso em: 19 mai. 2014.
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REFLEXÃO
Uma questão atual que tem despertado preocupação no cenário político internacional e
que tem gerado tensão na relação de vários países do globo é a crise na Crimeia.
Após um mês da destituição do presidente ucraniano Viktor Yanukovych em Maio de
2014 - aliado de Moscou –, a Rússia iniciou uma marcha em direção à região da Crimeia,
pertencente originalmente à Ucrânia – país independente e desanexado da antiga União
Soviética desde 1991 na tentativa de intervir e tomar posse destas terras novamente (tendo em
vista que até 1954 a Crimeia pertencia à URSS).
A Crimeia é uma península que fica ao sul da Ucrânia e dá acesso a todo o Mar Negro,
servindo também como ótimo ponto portuário para escoamento e fluxo neste local. Mesmo
após a independência da Ucrânia, em 1991, a Rússia ainda possui certa influência lá, com
base naval de livre acesso em Sevastopol, além da grande presença de russos (cerca de 60%)
na Crimeia como também o fato de cerca de metade de toda a Ucrânia (principalmente a
metade leste) falar russo. Todavia a influência russa passou a se comprometer justamente após
a retirada do presidente Viktor Yanukovych do poder para dar lugar a Oleksandr Turchynov.
Essa troca de presidente provocou uma série de medidas políticas que tornaram as relações
entre Rússia e Ucrânia mais tensas. Por um lado os russos perderam um forte aliado na
ampliação de sua influência política, o Viktor, que foi substituído por um presidente que
Crise na Criméia: manifestantes pró-rússia formam uma barricada. Disponível em:
<http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/bbc/2014/03/19/crise-na-crimeia-pode-reacender-
conflitos-adormecidos-na-europa.htm> Acesso em: 15 de abr. 2014.
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agora simpatiza com a União Europeia e tem políticas mais congruentes com a política oeste
europeia do que leste europeias (leia-se aqui, russa).
Representada pela figura de Vladmir Putin, a Rússia se viu de certa forma ofendida
com o novo governo e as novas medidas políticas e decidiu ocupar regiões fronteiriças e a
Crimeia no intento de retomar esta última alegando que lá existe maioria russa e que inclusive
muitos deles – de fato – apoiam a reintegração com seus antigos governantes por se sentirem
constitucionalmente mais protegidos e culturalmente mais identificados.
Por fim esta tensão entre Ucrânia e Rússia tem chamado atenção da União Europeia
que já está ao lado da Ucrânia e também dos EUA que quase interferiu diretamente neste
conflito em favor da Ucrânia. Ambos exigem a retirada do exército russo das fronteiras do
leste e da região da Crimeia para evitar maiores intervenções e até mesmo o início de uma
possível guerra. Dia 19 de maio de 2014 Putin ordenou que as tropas evacuassem, entretanto
Otan e EUA, querem provas concretas de que esta desocupação está sendo consolidada, pois
afirmam que ainda há tropas em várias localidades.
Usina Belo Monte, Xingu. Disponível em:
<http://veja.abril.com.br/assets/images/2013/
1/122267/usina-belo-monte-20130124-0061-
size-620.jpg?1359072664> Acesso em: 15 de
abr. 2014.
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TEXTO DE APOIO
Devido ao avanço tecnológico, o ser humano se utilizou de uma série de mecanismos
para facilitar a manipulação dos elementos da natureza, transformando-a em um espaço de
exploração. Máquinas, equipamentos e grandes estruturas facilitaram a vida do ser humano,
dinamizando o processo de exploração dos recursos minerais, energéticos (como a construção
de usinas hidrelétricas) e da produção agropecuária.
Tanto na extração mineral como na extração energética, grandes fontes de riqueza, o espaço
geográfico é bastante explorado, o que acaba levando a profundos impactos que podem ser
vistos agora ou daqui a alguns anos.
Disponível em:
<http://4.bp.blogspot.com/_UxXEnLA9NJk/S_-
z5EVWGKI/AAAAAAAAAqQ/dm9eEOzwifk/s
1600/Charge+para+desmatamento.jpg> Acesso
em: 19 mai. 2014.
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A extração mineral lida diretamente com o solo, o que provoca processos de erosão e
esgotamento. Já a construção de usinas hidrelétricas para a obtenção de energia, por exemplo,
altera o curso dos rios e modifica toda a estrutura da comunidade local que depende do rio
para sobreviver, a exemplo dos indígenas e das comunidades ribeirinhas. Essas constantes
intervenções humanas no espaço causam uma infinidade de degradação que se volta contra o
homem. Além das já citadas, o aquecimento global, o efeito estufa e a escassez de água
merecem destaque.
Essa busca do homem pela exploração da natureza para obter seu sustento não é nova,
pode ser vista em muitos momentos da história. Porém, a busca sem limites, uma exploração
irracional dos recursos leva a consequências que comprometem a natureza e a própria vida do
homem na Terra.
“(...) Doce morada bela, rica e única,
Dilapidada só como se fôsseis
A mina da fortuna econômica,
A fonte eterna de energias fósseis,
O que será, com mais alguns graus Celsius,
De um rio, uma baía ou um recife,
Ou um ilhéu ao léu clamando aos céus, se os
Mares subirem muito, em Tenerife?
E dos sem-água, o que será de cada súplica,
De cada rogo
É fogo... é fogo...”
Disponível em: < http://letras.mus.br/lenine/e-fogo/> Acesso em: 19 mai. 2014.
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APRENDA FAZENDO
QUESTÃO 07 – ENEM 2013
Um gigante da indústria da internet, em gesto simbólico, mudou o tratamento que conferia à
sua página palestina. O site de buscas alterou sua página quando acessada da Cisjordânia. Em
vez de “territórios palestinos”, a empresa escreve agora “Palestina” logo abaixo do logotipo.
BERCITO, D. Google muda tratamento dos territórios palestinos. Folha de S. Paulo. 4 de Maio de
2013(Adaptado).
O gesto simbólico sinalizado pela mudança no status dos territórios palestinos significa:
a) Surgimento de um país binacional.
b) Fortalecimento de movimentos antissemitas.
c) Esvaziamento de assentamentos judaicos.
d) Reconhecimento de uma autoridade jurídica.
e) Estabelecimento de fronteiras nacionais.
QUESTÃO 07 – ENEM 2013
Nos últimos decênios, o território conhece grandes mudanças em função de acréscimos
técnicos que renovam a sua materialidade, como resultado e condição ao mesmo tempo, dos
processos econômicos e sociais em curso.
SANTOS, M.; SILVEIRA; M.L. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro:
Record, 2004 (adaptado).
A partir da última década, verifica-se a ocorrência no Brasil de alterações significativas no
território, ocasionando impactos sociais, culturais e econômicos sobre comunidades locais, e
com maior intensidade, na Amazônia Legal, com a:
a) Reforma e ampliação dos aeroportos nas capitais dos estados.
b) Ampliação de estádios de futebol para a realização de eventos esportivos.
c) Construção de usinas hidrelétricas sobre os rios Tocantins, Xingu e Madeira.
d) Instalação de cabos para a formação de uma rede informatizada de comunicação.
e) Formação de uma infraestrutura de torres que permite a comunicação móvel na
região
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SAIBA MAIS
VÍDEOS Vídeos sobre geopolítica e território com o professor James
Carvalho, em que este aborda de maneira didática e prática
para você ficar por dentro dos assuntos concernentes à
Competência 02 do ENEM e suas habilidades. Video-aula
dividida em duas partes.
Disponível em: Parte 1
<https://www.youtube.com/watch?v=bydW7S5laOw e Parte 2:
<https://www.youtube.com/watch?v=AtsXwl8apZU> Acesso em: 14 de
abr. 2014.
Vídeo sobre crise política na Ucrânia, elaborado pelo
professor Samir Lahoud, do canal “O QUE ROLOU” que
fala sobre o atual conflito na região da Crimeia e suas
implicações na política internacional, sua motivações e
possíveis consequências.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=7y19CjchzXA>
Acesso em: 14 de abr. 2014.
SITE Site que trás dados sobre a construção da usina de Belo
Monte e as diversas implicações que giram em torno desta
questão, desde a relação com comunidades indígenas das
proximidades q aos impactos ambientais no local.
Disponível em: <http://www.brasiloeste.com.br/especiais/usina-de-
belo-monte/> Acesso em: 14 de abr. 2014.
RESPOSTAS COMENTADAS
QUESTÃO 07 – ENEM 2013
A situação-problema da pergunta é sobre a situação da Palestina frente à ocupação de Israel,
conflito esse que se iniciou na metade do século passado e se arrasta até hoje. Até o final da
Segunda Guerra Mundial, os territórios palestinos eram de domínio da Coroa britânica em
razão do processo que foi denominado de “Neocolonialismo do século XIX”, impulsionado
pela busca por parte da Europa de matérias primas e mercado consumidor na Ásia e África,
que estava em plena Revolução Industrial. Ao término da Segunda Guerra, os judeus
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receberam territórios para fundar o seu Estado por parte da Inglaterra, sendo utilizadas as
terras que já eram inglesas. E estes territórios doados foram justamente na região da Palestina.
Desta forma, estas terras foram doadas aos judeus para lá criarem o seu sonhado país. Esta
transferência de territórios por parte da Inglaterra para a criação do Estado de Israel pode ser
vista como uma forma de desculpas por parte da Europa frente ao genocídio de milhões de
judeus comandado por Adolf Hitler. De modo geral, as tropas israelenses, patrocinadas e
amparadas pelo exército dos Estados Unidos (U. S. Army) removeram as famílias palestinas e
assentaram famílias judaicas no lugar. Vale lembrar que um dos símbolos da resistência
palestina frente à ocupação de seus territórios é a chave de sua antiga casa, como prova de que
um dia lá estiveram fisicamente.
Assim como na questão relativa à Crimeia, na Ucrânia, podemos perceber que, para além das
disputas de caráter político, há questões culturais que interferem nestes processos. No caso da
Ucrânia, é de uma grande parcela de ucranianos que ainda estão arraigados a uma cultura e ao
idioma russo e que, no caso específico da Crimeia, correspondem a 60% da população e
apoiam a reintegração desta península à Rússia. Na Palestina a questão cultural – para além de
questões político-econômicas – tem bastante influência nas medidas e ações tomadas, assim
como a procedência do conflito, dado que para ambos os povos aquela é considerada uma
terra sagrada: tanto para judeus quanto para muçulmanos; há atrelado a estes dois casos uma
forte questão de sentimento de pertencimento e identidade cultural destes povos que deve ser
respeitada e levada em consideração para decisões políticas futuras.
Alternativa correta: Letra D.
Adaptado de: <http://www.infoenem.com.br/apostilas-enem-2014-do-infoenem-serao-lancadas-dia-28-de-
janeiro/> Acesso em: 19 mai. 2014.
QUESTÃO 37 – ENEM 2013
A problemática da questão se revela nos impactos sociais, culturais e econômicos que atingem
as comunidades da Amazônica Legal. Ora, na última década essa região tem sido marcada
pela sua constante exploração, principalmente no que se refere ao setor econômico para o
país. A principal fonte de economia da Amazônia Legal tem sido a obtenção de energia a
partir das construções de usinas hidrelétricas.
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A fronteira econômica avançou sobre a Amazônia Legal, região abrangida pela floresta
amazônica, banhada pelas bacias hidrográficas do Tocantins-Araguaia e Amazônica (rio
Xingu e Madeira), com a construção de gigantescas hidrelétricas, onde diversos hectares estão
sendo destruídos pelos alagamentos das áreas de barragem. Além dos alagamentos, destaca-se
também a alteração de modos de vida tradicionais em aldeias indígenas e comunidades
ribeirinhas, e frequente necessidade de realojamento populacional das comunidades
localizadas no entorno das obras.
Alternativa correta: Letra C.
Adaptado de: <http://veja.abril.com.br/educacao/enem-resolvido-2013/Q037.pdf> Acesso em: 19 mai. 2014.
REFERÊNCIAS
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<http://educacao.uol.com.br/disciplinas/geografia/espaco-geografico-sociedade-transforma-a-
natureza.htm> Acesso em: 14 de abr. 2014.
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<http://www.mundoeducacao.com/geografia/transformacao-no-espaco-geografico.htm
Acesso em: 15 de abr. 2014.>
LUCCI, Elian Alabi. Espaço geográfico e urbanização. In: Território e sociedade no mundo
globalizado: geografia geral e do Brasil: volume único. Org.: Elian Alabi Lucci, Anselmo
Lazaro Branco, Cláudio Mendonça. São Paulo: Saraiva, 2010.
SAQUET, Marcos Aurelio; DA SILVA, Sueli Santos. In: Milton Santos: concepções de
geografia, espaço e território. Disponível em: <http://www.e-
publicacoes.uerj.br/index.php/geouerj/article/viewFile/1389/1179> Acesso em: 19 mai. 2014.
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<http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/bbc/2014/03/19/crise-na-crimeia-pode-reacender-
conflitos-adormecidos-na-europa.htm> Acesso em: 15 de abr. 2014.
Imagem 1 - “Autoridades negociam com os índios da aldeia Maracanã sobre a desocupação
do prédio para a revitalização de um complexo esportivo”. Disponível em: <
http://www.portalguaira.com/PG/wp-content/uploads/2013/03/indio2.jpg> Acesso em: 15 de
abr. 2014.
Imagem 2 - “Chuva ameaça 128 mil pessoas em moradias de ocupação irregular da área, em
Manaus”. Disponível em: < http://acritica.uol.com.br/manaus/Chuva-ameaca-pessoas-risco-
Manaus_0_1110488944.html> Acesso em: 15 de abr. 2014.
Imagem 3 - “Vista panorâmica da cidade de São Paulo – SP, Brasil. Classificada pelo IBGE
como uma das metrópoles globais”. Disponível em:
<http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/tvmultimidia/imagens/geografia/4sao
paulo.jpg> Acesso em: 15 de abr. 2014.
Charge 1 - Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/_aJT3I8ICB-
8/TE_rvyZ5KzI/AAAAAAAAA9Q/4uYI3dIBAD4/s1600/charge-imigrantes.jpg> Acesso
em: 19 mai. 2014.
Charge 2 - Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/-
Wmj689NYuyg/Tsht70wQpRI/AAAAAAAAAR4/Yg187IL-VKo/s1600/charge.gif> Acesso
em: 19 mai. 2014.
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Imagem 4 – “Crise na Criméia: manifestantes pró-rússia formam uma barricada”. Disponível
em: <http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/bbc/2014/03/19/crise-na-crimeia-pode-
reacender-conflitos-adormecidos-na-europa.htm> Acesso em: 15 de abr. 2014.
Imagem 5 – “Usina Belo Monte, Xingu.” Disponível em:
<http://veja.abril.com.br/assets/images/2013/1/122267/usina-belo-monte-20130124-0061-
size-620.jpg?1359072664> Acesso em: 15 de abr. 2014.
Imagem 6 - Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/_UxXEnLA9NJk/S_-
z5EVWGKI/AAAAAAAAAqQ/dm9eEOzwifk/s1600/Charge+para+desmatamento.jpg>
Acesso em: 19 mai. 2014.
Música “É fogo!”, de Lenine - Disponível em: < http://letras.mus.br/lenine/e-fogo/> Acesso
em: 19 mai. 2014.
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José dos Santos Costa Júnior(jose.junior010@gmail.com)
Raquel Silva Maciel (quequelpb@hotmail.com)
PARA COMEÇAR A HISTÓRIA
OS PAPÉIS DA FAMÍLIA, DO ESTADO E DA IGREJA NO SÉCULO XXI
Antes de nascermos já estamos submetidos a um conjunto de regras, conhecimentos e
formas de interação social que se baseiam em valores específicos. Se nascermos em uma
sociedade industrializada e com serviços de saúde ligados a hospitais, por exemplo, o
nascimento será possível a partir de sujeitos como médicos, enfermeiras, anestesistas, dentre
outros que atuam no espaço do hospital. Por outro lado, se nascemos em uma comunidade ou
aldeia indígena, esse mesmo acontecimento (o nascimento) será envolvido nas crenças, rituais
e práticas culturais desse grupo, assim, outros personagens poderão fazer parte da cena como
o pajé e demais mulheres indígenas que auxiliarão na hora do parto. Esse é um exemplo
simples de como a vida humana é, a todo o momento, construída a partir de valores, crenças,
hábitos, conhecimentos e saberes.
Imagem 02 - disponível em:
http://www.ufo.com.br/blog/pedro
decampos/30-crimes-contra-a-
honra-na-internet. Acesso em 17
de abr. 2014.
Imagem 03 - disponível
em:
https://www.10emtudo.com
.br/artigo/religiao-
islamica/. Acesso em 17 de
abr. 2014.
Imagem 01 - disponível em:
http://sociologiamelhormateria.blog
spot.com.br/2011/04/instituicoes-
sociais.html. Acesso em 17 de abr.
2014.
Competência de área 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições
sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes grupos, conflitos e
movimentos sociais.
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Neste capítulo iremos tratar da competência de área 03. Ela nos estimula a pensar sobre como
as instituições sociais foram produzidas ao longo do tempo. É objetivo dessa competência
“[...] que o aluno compreenda a evolução do Estado e do Direito no tempo, sendo capaz de
entender quando estão em sintonia com a vontade geral da população e quando funcionam
para privilegiar determinados grupos de uma sociedade” (PRADO, 2011). Iremos focar no
que propõe a habilidade número 13: analisar a atuação dos movimentos sociais que
contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Mas o que é uma instituição social?
De acordo com o sociólogo Pérsio Santos de Oliveira, “o conjunto de regras e
procedimentos padronizados socialmente, reconhecidos, aceitos e sancionados pela sociedade
e que têm grande valor social é denominado instituições sociais” (OLIVEIRA, 2003, p.161).
Mas você pode estar se perguntando agora, existem instituições sociais que afetam a minha
vida hoje? E a resposta é: certamente sim. Três exemplos básicos de instituições sociais que
podem exercer influência sobre a nossa vida são: a família, a igreja e o Estado.
A família é o primeiro grupo social com o qual mantemos contato e a sua estrutura
varia no tempo e no espaço, dependendo da sociedade e da época a que nos referimos. Sobre o
seu formato, podemos dizer que a família pode ser monogâmica (quando o esposo e a esposa
têm apenas um cônjuge) e poligâmica (quando o esposo e a esposa podem ter mais que um
cônjuge). O casamento de uma mulher com dois ou mais esposos, como entre os esquimós,
chama-se poliandria. Já quando ocorre o casamento de um homem com duas ou mais
mulheres dá-se nome de poliginia, como entre os mórmons, os muçulmanos ou ainda algumas
comunidades ou etnias africanas (OLIVEIRA, 2003, p. 163). A primeira das imagens que
abrem este capítulo é a que retrata a família do seriado norte-americano Os Simpsons e ilustra
o modelo de família conjugal ou nuclear. Esse modelo é composto por marido, esposa e
filhos.
Algumas religiões pregam que este seria o modelo de família que deveria compor a
nossa sociedade, mas é fato que há muito tempo já existem outros formatos de família que
podem ser monoparentais (quando apenas uma pessoa chefia a família e a sustenta
economicamente) ou ainda composta por netos e avós, casais homossexuais femininos e
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masculinos, dentre outras combinações. Se você já assistiu as aventuras da família Simpsons
lembre como essa família se comporta. Como é a relação dos pais (Homer e Marge) com os
filhos e filhas (Barth, Lisa e Maggie)? Qual a condição socioeconômica dessa família?
É interessante observar como em um mesmo seriado temos vários modelos de família
que ilustram as que compõem a nossa sociedade. Além dos Simpsons temos os Flanders,
família comandada por Ned Flanders Jr. que é viúvo e pai de dois filhos. Este é um exemplo
de família monoparental, isto é, quando apenas um indivíduo é responsável legal pelos filhos.
Ah, lembre ainda que essa família mantém uma relação com a igreja, instituição sobre a qual
discutiremos adiante.
Atenção! É importante atentar para o fato de que muitas televisões brasileiras exibem
esse seriado como indicado para o público infantil, o que na verdade não é.
Outra instituição da qual trataremos neste texto é o Estado: uma instituição social que
historicamente foi sendo construída para regular a sociedade através de normas e formas de
controle organizadas através da lei. Isso marca uma diferença em relação à igreja e à família,
Imagem 04 - Família Flanders do seriado norte-
americano Os Simpsons. Disponível em
http://simpsonsworld.blogia.com/. Acesso em 19
de abr. 2014.
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pois embora elas também construam regras e busquem organizar a vida em sociedade, a
primeira impõe dogmas e preceitos religiosos para seus seguidores e fiéis e a segunda coloca
regras que irão atingir os membros da família e não necessariamente a sociedade como um
todo. O Estado, assim, tem como uma das suas características a generalidade das suas formas
de controle, isto é, elas buscam atingir toda a sociedade. Mas é preciso deixar clara ainda uma
diferença importante entre Estado e governo. O Estado é uma estrutura abstrata que se
constitui formalmente a partir das leis. Por exemplo, o Estado brasileiro se constitui hoje a
partir da Constituição Federal, a lei maior que organiza a nossa sociedade, que foi promulgada
em 1988. Mas a primeira Constituição do Estado brasileiro foi assinada por D. Pedro II em
1824. Segundo Pérsio Santos de Oliveira (2003), o Estado é composto de três elementos:
 Território: refere-se ao espaço físico sobre o qual o Estado exerce suas leis;
 População: que é composta pelos habitantes que vivem no território;
 Governo: é um grupo de pessoas eleitas para exercerem o poder público através do
momento em que assumem funções nos órgãos e instituições oficiais do Estado.
E então leitor, notou a diferença? Pode-se dizer que o Estado não existe, pelo menos
materialmente. Ele é abstrato e para que se torne efetivo e influencie na vida das pessoas é
preciso que exista um governo, que é o grupo de pessoas que irá pôr em prática as leis e as
formas de controle e proteção da sociedade. Na imagem 02, que abre este capítulo pode-se ver
o símbolo da justiça, que está presente em Brasília, como representativa do poder judiciário
brasileiro. Você sabe quantos e quais são os juízes que atuam no Supremo Tribunal Federal
(STF)? Você sabia que essa é a maior instituição brasileira no que se refere à justiça? Cabe ao
STF zelar o cumprimento da Constituição Federal. O Estado é composto pelos poderes
executivo, judiciário e legislativo. A imagem 02 ilustra apenas um desses poderes, o
judiciário. Pesquise sobre os demais e saiba como eles funcionam. Isso tem muita relação com
os temas que essa competência deseja que o estudante conheça.
Por fim, a última instituição que nos propomos a debater é a igreja: uma instituição
social que, no Ocidente, corresponde a algo que é comum a todas as sociedades: a religião. No
entanto, o filósofo Michel Foucault aponta que a única religião, no Ocidente, construída
enquanto igreja foi o cristianismo. Por isso, consideremos o termo “igreja” aqui não na
intenção de generalizar todas as religiões. Em todos os tempos os homens desenvolveram
formas diferentes de religiosidade e contato com o sagrado. Para a antropóloga Ruth Benedict
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(apud OLIVEIRA, 2003) a religião é diferente de outros fenômenos sociais pelo fato de que
outras instituições são fruto de uma necessidade muitas vezes física do ser humano, enquanto
a religião não é fruto de uma necessidade desse tipo. Ao longo do tempo a religião vem
passando por muitas transformações, principalmente após o Iluminismo que, no século XVIII,
questionou as bases do pensamento teológico e quis pôr em evidência a razão, não mais a fé.
Com isso a religião foi tendo sua influência nos espaços públicos de decisão cada vez mais
reduzida e relegada ao ambiente privado.
Certamente você já ouviu a expressão “Estado laico”. Ela significa que o Estado não
deve professar nenhuma fé, pois em uma democracia todas as formas de credo devem ser
respeitadas. Por isso é perigoso quando um grupo religioso deseja ocupar de forma
predominante os espaços de decisão da política. Ao fazer isso muitas outras vozes estarão
sendo caladas e, assim, onde vai parar a nossa democracia, na qual todas as vozes precisam ter
espaço? Temos no Brasil um governo que é realmente laico? Todas as formas de religiosidade
são respeitadas por esse Estado? Vale lembrar que, em alguns momentos históricos, o Brasil
foi um país que professava a religião católica como oficial. Na Constituição de 1824, por
exemplo, o artigo 5º afirmava o seguinte: “A Religião Catholica [sic] Apostolica [sic]
Romana continuará a ser a Religião do Império. Todas as outras Religiões serão permitidas
com seu culto domestico [sic], ou particular em casas para isso destinadas, sem fórma [sic]
alguma exterior do Templo” (Constituição do Império, 1824).
Na imagem 03 você pode perceber que há a representação de um indivíduo
professando a fé islâmica. Ao falar sobre religião e igreja é importante pensar que existem
várias formas crer e todas devem ser respeitadas. O islamismo tem crescido muito do século
XX para cá. Mônica Muniz afirma que “com quase um bilhão e meio de adeptos espalhados
pelo mundo, os muçulmanos representam perto de 25% da população mundial e não dá mais
para dizer que eles não são uma realidade social, política e religiosa. Muito se fala sobre o
Islam, mas pouco se sabe sobre ele”. Mas ao mesmo tempo em que o islamismo cresce pelo
mundo, ainda são presentes muitos preconceitos em relação a essa religião e um exemplo
disso é o fato de muitos a associarem com o terrorismo, a guerra do Oriente contra o
Ocidente, os homens-bomba, etc.
Busque saber mais sobre que religião é essa e não aceitar tudo o que os jornais ou
outros meios de comunicação dizem. Fica a dica! A comunidade islâmica cresce no Brasil,
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um dos maiores países católicos do mundo, onde “[...] o Alcorão, livro sagrado do islã, atrai
cada vez mais adeptos (OLIVEIRA, 2003, p. 172)”. Outra religião que também possui um
contingente significativo de seguidores é o Protestantismo que em países como os Estados
Unidos da América (EUA) é dominante e no Brasil vem a cada dia se expandindo. Um
exemplo disso é a bancada representativa dos evangélicos no Congresso Nacional. Essa é uma
questão problemática visto que muitas religiões como o candomblé, umbanda e outras não
contam com essa representação política. Encontramos o mesmo problema na questão
ambiental, pois a bancada dos ruralistas tem muito mais força dentro desse espaço de poder
do que a Frente Parlamentar Ambientalista que, apesar de seu crescimento nos últimos anos,
ainda encontra dificuldades na sua atuação.
REFLEXÃO
Os movimentos sociais hoje: a igreja, o Estado e a família sendo postos em questão
Vamos ver agora como alguns movimentos têm exigido, ao longo do tempo, que a
família, a igreja e, principalmente, o Estado mudem sua forma de lidar com as diferenças.
Mas uma pergunta inicial é interessante tentar responder: o que é um movimento social?
Historicamente várias manifestações questionaram o status quo das sociedades e provocaram
transformações. As revoluções burguesas do século XVII foram importantes na construção do
mundo contemporâneo, pautando princípios como liberdade, igualdade e fraternidade, tendo o
capitalismo como sistema econômico e as liberdades individuais como pontos importantes.
Imagem 05 – Occupy Wall
Street. Disponível em:
http://afinsophia.com/2012/11/p
age/4/. Acesso em 18 de abr.
2014.
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A socióloga Maria da Glória Gohn aponta que um dos elementos que caracterizam os
movimentos sociais é que eles são formas de renovação social e produzem saberes na medida
em que atuam. Os movimentos sociais criam possibilidades de organização da população para
buscar a realização de objetivos e a superação de certas necessidades vividas coletivamente.
Na ação prática, os movimentos “variam de simples denúncias, passando pela pressão direta
(mobilizações, marchas, concentrações, passeatas, distúrbios à ordem constituída, atos de
desobediência civil, negociações etc.) até as pressões indiretas” (GOHN, 2011, p. 333).
Atualmente a internet é um espaço de reinvindicação social e um meio eficaz na
organização de mobilizações, passeatas e outras formas de pressão social. No Brasil, em
junho de 2013, tivemos um exemplo da força da internet na divulgação e estímulo das pessoas
para participarem das passeatas nas cidades. Outros momentos como o Occupy Wall Street e a
Primavera Árabe também têm essa característica, retirando as pessoas “da segurança do
ciberespaço”, pois “pessoas de todas as idades e condições passaram a ocupar o espaço
público, em um encontro às cegas entre si e com o destino que desejam forjar, ao reivindicar
seu direito de fazer história – sua história -, em uma manifestação da autoconsciência que
sempre caracterizou os grandes movimentos sociais”. As redes sociais têm mostrado que são
rápidas na disseminação de informações e na construção de uma nova forma de participação
política. Se antes a urna era a máquina eletrônica usada para o exercício do voto como parte
da experiência cidadã, hoje os computadores, tablet‟s, Iphone‟s, Ipod‟s, e celulares são muito
usados para a cidadania virtual. Como isso pode influenciar as pessoas quando elas forem
depositar seus votos na urna em outubro de 2014?
Veja as três características de um movimento social: 1ª - ele tem uma „identidade”,
pois é formado a partir de valores, conceitos e direitos com os quais se identifica e nos quais
acredita; 2ª - tem um “opositor”, isto é, outro grupo social ou conjunto de ideias que são
contrários ao que ele defende; 3ª – tem um projeto de vida e de sociedade e é para pôr em
prática esse projeto que são realizadas diferentes ações.
Vamos a um exemplo.
O movimento comunista baseia-se na ideia de que os bens da sociedade não podem ser
apropriados individualmente na obtenção de lucros, mas que devem ser socializados com toda
a população. É com base nessa ideia que ele constrói a sua identidade. O comunismo tem o
capitalismo como seu principal opositor, já que ele prioriza a manutenção da sociedade
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dividida em classes sociais e baseada no lucro, no qual quem trabalha não detém os meios de
produção. Por exemplo, um funcionário de uma indústria não é dono dos materiais,
equipamentos e recursos que usa para o seu trabalho. Ele apenas vende a sua força de trabalho
em troca do salário que receberá no fim do mês. O comunismo é mais um movimento social
dentro de muitos outros que existiram e existem hoje em dia.
Um dos movimentos recentes que atraiu a atenção da mídia é o Occupy Wall Street,
iniciado em 2011 na cidade de Nova York, nos Estados Unidos. Inspirado nas revoltas do
Oriente Médio e nas acampadas do Movimento dos Indignados, na Espanha, é uma voz que
tem criticado as consequências da crise financeira dos EUA que começou em 2008
(ARAÚJO, 2011, p. 01). Os manifestantes passaram a ocupar a Praça Zuccotti em 17 de
setembro de 2011, situada em Wall Street, Manhattan, que é considerado o centro financeiro
de Nova York.
Um dos principais elementos que tem gerado análise sobre o movimento é que ele
ganhou uma repercussão muito grande, ocorrendo em outras cidades dos EUA. Essa grande
mobilização da população tem chamado a atenção porque os EUA, segundo Daniel Teixeira
C. Araújo, não é um país com histórico de grandes mobilizações de massa, exceto no período
da crise de 1929. Isso aponta que está ocorrendo uma grande crise institucional nessa nação,
pois o Estado não tem sabido lidar com as consequências da crise financeira que vem desde
2008. Nesse momento, e em outros, o Estado, como representante dos interesses da maioria, é
questionado e precisa dar uma resposta ao povo, demonstrando claramente como irá enfrentar
essa situação tensa.
Dentro desse contexto há ainda as várias manifestações sociais que surgiram a partir
da chamada Revolução de Jasmin iniciada na Tunísia em 2010 e finalizada no ano de 2011
com a derrubada do ditador que governava aquele país. Essa desencadeou o processo
conhecido como Primavera Árabe que se refere ao conjunto de manifestações sociais
ocorridas em nações do Oriente Médio e da África, como o Marrocos e o Egito. Nesses
“[...] a população foi às ruas para derrubar ditadores ou reivindicar melhores condições
sociais de vida” (PENA, 2013).
No Brasil os movimentos sociais têm uma longa história. Desde o período colonial que
uma série de revoltas e motins aconteceu com a finalidade de questionar os privilégios da
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Coroa portuguesa. Aquele momento foi marcado por conflitos entre paulistas e emboabas
(Minas Gerais), comerciantes e plantadores na Guerra dos Mascates (1710-1711), dentre
outras situações de tensão.
Uma diferença histórica importante é que na colônia havia um “motim” quando era
rompido o acordo pelo aumento de impostos ou abuso de poder por parte das autoridades da
época. Atualmente no Brasil ocorreram as chamadas “Jornadas de Junho”, em 2013, e
levaram milhões de pessoas para as ruas, com o intuito inicial de protestar contra o aumento
na passagem do transporte público em diferentes cidades. Posteriormente passaram a
reivindicar melhores condições de educação, saúde e segurança pública, ficando claro que a
luta não era “apenas por 20 centavos”.
TEXTO DE APOIO
Movimentos sem direção?
Algumas das principais críticas que têm sido feitas tanto ao movimento Occupy Wall
Street, nos EUA, quanto às Jornadas de Junho, no Brasil, refere-se ao fato de que estes
movimentos não teriam um programa definido, ou seja, que eles não teriam um objetivo claro.
No entanto é preciso que tenhamos cuidado com esse tipo de crítica se ela for feita no sentido
de menosprezar as ações coletivas que têm ocorrido. Em relação ao movimento nos EUA, o
filósofo esloveno Slavoj Zizek aponta que ele tem duas características importantes: a primeira
delas é que ele demonstra o “descontentamento com o capitalismo enquanto sistema” e o
segundo aspecto refere-se ao fato de que houve a percepção de que a “forma
institucionalizada da democracia representativa multipartidária não é suficiente para combater
os excessos capitalistas, isto é, a democracia precisa ser reinventada” (ZIZEK, 2012, p.92,
grifos no original).
Sobre o fato da manifestação não ter uma proposta firme Zizek comenta sobre a
particularidade desse movimento que foi o fato dele mostrar que a linguagem do povo pareceu
ser impotente para expressar as suas necessidades e vontades diante da imensa exploração a
que a população vem sendo submetida historicamente. Nesse sentido, podemos pensar
também sobre as manifestações de junho de 2013 no Brasil. Será mesmo que a manifestações
foram sem sentido? Quem tem dito isso? Na verdade, como diz Zizek, os manifestantes não
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entraram no jogo da retórica política, ou seja, no jogo de negociação. Negociar, nesse sentido,
seria entrar no jogo de quem tem o poder político e possivelmente iria (e irá) fazer de tudo
para abafar o movimento.
Estes movimentos estão acontecendo ainda, seus efeitos estão sendo construídos no
tempo presente e cabe a cada um de nós ficarmos atentos para eles e compreender a sua
lógica. É bom não comparar os movimentos de hoje com os do passado, buscando neles o que
lhes pode faltar. Vamos ver, ao contrário, o que estes movimentos têm de novo?
Um exemplo interessante de movimento social que atua contra a globalização econômica
e que vem usando as redes sociais como forma de divulgação de suas ideias e para fazer com
que pessoas se associem aos seus projetos é o dos zapatistas, no México. De acordo com o
sociólogo Manuel Castells os zapatistas são, basicamente, “camponeses, a maioria índios
tzeltales, tzotziles e choles, em geral oriundos das comunidades estabelecidas desde a década
de 40 na floresta tropical de Lacandon, na fronteira com a Guatemala” (CASTELLS, 1999, p.
98, grifos no original).
Imagem 06 – Disponível em
http://txiapas.wordpress.com/2012/07/29/eco-mundial-en-
apoyo-a-ls-zapatistas-justicia-y-libertad-para-san-marcos-
aviles-y-francisco-santiz-lopez/. Acesso em 20 de abr. de
2014.
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O Exército Zapatista de Libertação Nacional é considerado a primeira guerrilha
informacional, pois usa a internet para denunciar e combater a exploração econômica e
política. A imagem 07 evidencia que há uma rede mundial de apoio aos zapatistas. Qualquer
indivíduo pode aderir à sua causa através da internet e fortalecer a rede de apoio e
solidariedade.
É bom lembrar...
A competência de área 03 espera que o estudante compreenda não apenas os movimentos
atuais e como eles têm provocado mudanças nas instituições, mas também que pense isso ao
longo do tempo. Dessa forma, é importante lembrar que durante o período imperial houve a
efervescência de inúmeros movimentos sociais que se caracterizavam de diferentes formas.
Alguns se referiam apenas a conspirações que não se efetivaram na prática, outros foram
desencadeados por diferentes motivos sejam eles de cunho econômico, político, religioso ou
social.
Entre esses movimentos podemos citar a Revolução Praieira (1848-1849) ocorrida na
província de Pernambuco envolvendo no conflito dois grupos políticos com diferentes
interesses: os liberais e os conservadores. A Revolução Farroupilha (1835-1845) ocorrida
na província de São Pedro do Rio Grande do Sul que tinha no início um caráter elitista, já
Imagem 07- Revolução Praieira. Disponível em:
http://www.brasilescola.com/historiab/revolucao-praieira.htm. Acesso em 20 de abr. 2014.
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que envolvia uma disputa entre os caramurus e os chimangos, mas que posteriormente
envolveu algumas camadas populares.
Cabanagem (1835-1840) foi outro movimento que envolveu cabanos, negros, tapuios e
índios que protestavam contra a situação na qual a província de Grão-Pará estava inserida
naquele período marcada pela fome e proliferação de doenças. Grande parte dos envolvidos
foi morta, estima-se que cerca de 30 a 40% da população de 100 mil habitantes do Grão-Pará
tenha morrido nesse conflito.
A Sabinada (1837-1838), ocorrida na província da Bahia, envolveu sujeitos pertencentes
a camadas médias de comerciantes, militares e outros que criticavam os privilégios
concedidos aos portugueses sendo esses aqueles que controlovam grande parte das atividades
comerciais e assumiam deliberadamente cargos públicos.
Os movimentos sociais ocorridos ao longo do período imperial evidenciam o quanto
essas manifestações se diferenciam, apesar de serem unidas pelo sentimento de insatisfação,
no tocante aos sujeitos envolvidos, nos resultados obtidos e nas suas reinvindiações.
Diversidade que existe dentro de um mesmo movimento, como exemplo disso podemos
citar o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). Esse movimento surgiu na
Imagem 08- Cabanos invadindo e ocupando a cidade de Belém. Disponível em:
http://www.suapesquisa.com/historiadobrasil/cabanagem.htm. Acesso em 20 de abr. 2014.
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década de 1980 a partir das Ligas Camponesas que tiveram seu auge de atuação entre os anos
de 1950 a 1960. É um movimento de diferentes facetas, atuando em diversas regiões a partir
das demandas regionais.
No caso de grande parte dos estados do Norte do país esse movimento reinvindica
questões acerca das terras desmatadas pela expansão no cultivo de soja; em outros estados,
como São Paulo, refere-se à grilagem de terras por parte de multinacionais; há ainda
campanhas como a intitulada Fechar escola é crime! que afirma ter o objetivo de “[...]
defender que a educação pública que seja um direito de todos os trabalhadores. Para que isso
se concretize, é importante mobilizar comunidades, movimentos sociais, sindicatos, enfim
toda a sociedade para se indignar quando uma escola for fechada e lutar para mudar esta
realidade.” (Movimento dos trabalhadores rurais sem terra. Disponível em
http://www.mst.org.br / Acesso em 20 de abr. 2014.) e a que busca investigar possíveis
crimes de racismo e homofobia cometidos pela bancada ruralista em relação a indígenas e
quilombolas.
Além disso, há em alguns espaços a associação desse movimento com entidades políticas
como fica evidente na CPMI instaurada em 2009 para investigação de repasses de recursos
públicos a líderes desse movimento. Vale lembrar que, assim como esse movimento temos
outros que também se associavam e se associam a entidades políticas.
Mas há também outros movimentos que aconteceram ao longo da história do Brasil. No
começo do século XX, por exemplo, aconteceu um movimento conhecido como Revolta da
Vacina, em 1904. Essa revolta consistiu na resistência da população ao modo violento como o
governo quis colocar em prática a sua política de higiene e saúde pública dirigida por
Oswaldo Cruz.
Lembremos que naquela a época o Rio de Janeiro enfrentava epidemias de peste
bubônica, febre amarela e varíola. A resistência da população aconteceu motivada por uma
questão moral.
Para José Murilo de Carvalho, naquele momento, o Estado passava a querer dominar e
atuar sobre os corpos das pessoas e como até aquele momento cabia ao pai, chefe de família,
ordenar como os corpos de seus familiares deveriam ser medicados e higienizados, a
resistência aconteceu porque foi como se o Estado estivesse intervindo em uma coisa que não
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seria da sua alçada (CARVALHO, 2005). Isso demonstra algo que a competência 03 e a
habilidade 13, especificamente, propõem para pensarmos: a relação de choque e tensão entre
duas instituições sociais: o Estado e a família, por exemplo. Pesquise sobre esse movimento e
outros, como a Revolta da Chibata, Guerra de Canudos que marcaram o período inicial da
República.
Na República Nova temos a eclosão do movimento militar em 1964 que, através de
um golpe, depôs o então presidente da República, João Goulart, e assumiu o poder. É
interessante refletir que o golpe empreendido em 1964, contou com o apoio, além de setores
militares, de outros segmentos da sociedade, como alguns jornalistas e integrantes dos
partidos, UDN (União Democrática Nacional) e PSD (Partido Social Democrático), incluindo
também setores de órgãos da mídia. Por isso o golpe não foi apenas militar, mas também civil.
Assim, “[...] pode-se dizer que a sociedade civil, como um todo, posicionou-se
totalmente favorável ao golpe militar de 64, apoiando e aplaudindo os líderes do movimento,
considerados os restauradores da ordem, os guardiãs da democracia” (CITADINO, 1998, p.
162). Temos, portanto, uma associação positiva da imagem das forças armadas que tomaram
o poder através do golpe. Essas são vislumbradas como as restauradoras da ordem, que a
nação estaria sendo redemocratizada e afastada do “perigo vermelho”.
Essa aceitação por grupos sociais aparece nas “Marchas da Família com Deus Pela
Liberdade” nos anos 70 e 80 e envolveram os conservadores, apoiados por setores da igreja
católica que assim como fizeram durante o Estado Novo, apoiaram um regime autoritário
naquele primeiro momento. Manifestação essa que atualmente, 50 anos após a deflagração do
golpe, alguns indivíduos têm tentado retomar, acreditando que uma volta ao sistema ditatorial
seria a solução para os atuais problemas do país.
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Imagem 10 – Marcha da família em Recife reúne seis pessoas. Disponível em:
http://www.portalafricas.com.br/marcha-da-familia-reune-6-pessoas-em-
recife/#.U1PRuRtOXIU. Acesso em 20 de abr. 2014.
Porém tal movimento é desacreditado e duramente criticado, haja vista o fato de ser é
fundado em uma concepção que evidencia o desconhecimento do passado histórico de nosso
país e tantos outros que foram duramente afetados por todos os males que um sistema
ditatorial traz para uma sociedade, mas deve se salientar que tal movimento é alarmante visto
que tudo “(...) que visa interromper o processo democrático é nocivo. Os movimentos
totalitários do século XX na Europa começaram com centenas de pessoas e terminaram com
milhões nas ruas” (FARAH, 2014).
Imagem 09 – Disponível em: http://www.pragmatismopolitico.com.br/2014/03/marcha-da-
familia-2014-vira-motivo-de-piadas-nas-redes-sociais.html. Acesso em 20 de abr. 2014.
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Modulo didatico enem 2014

  • 1. Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG Ano I- Volume I – Nº 2 – jul./dez. 2014 ISSN 2358-4971 Campina Grande PB - 2014
  • 2. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 2 FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL DA UFCG C122 Cadernos didáticos PET história UFCG [recurso eletrônico] / Regina Coelli Gomes Nascimento (organizadora). ─ Campina Grande: EDUFCG, 2014-. v. : il. color. Modo de Acesso: < http://modulosdidaticos.blogspot.com.br>. ISSN: 2358-4971 I 1. História - Universidade. 2. Ensino. 3. Pesquisa e Extensão. I. Nascimento, Regina Coelli Gomes. II. Título. CDU 378.4(091)
  • 3. Caro estudante, Atualmente o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) é utilizado como critério de seleção para os estudantes que pretendem concorrer a uma bolsa no Programa Universidade para Todos (ProUni). Além disso, cerca de 500 universidades já usam o resultado do exame como critério de seleção para o ingresso no ensino superior, seja complementando ou substituindo o vestibular. O ENEM tem o objetivo de avaliar o desempenho do estudante ao fim da escolaridade básica. Podem participar do exame alunos que estão concluindo ou que já concluíram o ensino médio em anos anteriores. Foi pensando nessa abrangência, relevância para a formação do grupo e a necessidade de estreitarmos os laços com o ensino básico que o PET Historia UFCG, iniciou em 2011, o projeto “ENEM - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História”. E nesse sentido, este segundo módulo foi elaborado com o objetivo de facilitar a compreensão da proposta do ENEM para a área de CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS, melhorando o desempenho dos participantes em seus estudos dentro e fora da oficina. Contamos com sua participação para que possamos aprimorar este módulo em edições futuras e esperamos que suas notas reflitam seu esforço, dedicação, tempo de estudo e que seus sonhos e objetivos sejam alcançados. Organizadoras e revisoras Regina Coelli Gomes Nascimento Tutora/PET História Rozeane Albuquerque Lima Mestre PPGH/UFCG Autores (as) Petianos PET História UFCG Ana Carolina Monteiro Paiva Elson da Silva P. Brasil Janaína Leandro Ferreira Jaqueline Leandro Ferreira Jonathan Vilar dos S. Leite José dos Santos C. Júnior Maria Aline Souza Guedes Paula Sonály N. Lima Paulo Montini de Assis Souza Júnior Priscila Gusmão Andrade Raquel Silva Maciel Ronyone de A. Jeronimo Silvanio de Souza Batista Valber Nunes da Silva Mendes
  • 4. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 4 Apresentação....................................................................................................................05 ENEM 2014 – informações gerais...................................................................................07 Competência de área 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades: “Identidades do/no Brasil”......................................................................10 Competência de área 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de poder: “O homem e o espaço geográfico”.......................................................................................................................23 Competência de área 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes grupos, conflitos e movimentos sociais: “os papéis da família, do estado e da igreja no século XXI”.................................................................................................................................36 Competência de área 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do conhecimento e na vida social: “Novas técnicas o renascimento urbano e comercial”.................................57 Competência de área 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favorecendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade: “Cidadania e democracia”....................69 Competência de área 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos: As interações entre sociedade e natureza: reflexos da modernidade nas espacialidades naturais..................80 Anexos - Eixos cognitivos, Matriz de Referência Ciências Humanas e objetos de conhecimento associados às Matrizes de Referência Ciências Humanas e Suas Tecnologias....92 SUMÁRIO
  • 5. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 5 APRESENTAÇÃO Alarcon Agra do Ó Assim, o sentido plural do moderno conceito de História – ao poder realizar um movimento pendular entre factibilidade e superpoder – abre uma brecha para sua utilização ideológica. Mas no mesmo diagnóstico linguístico estão contidos critérios para desmascarar o caráter ideológico dessa utilização. Reinhart Koselleck O conceito de História Os diálogos entre a universidade e a sociedade, que deveriam ser intensos, nem sempre se realizam da forma adequada. Não raro temos a impressão de que são dois mundos estranhos que mais se esbarram que se comunicam. O prejuízo é certo: a vida acadêmica fica mais pobre e presa em si mesma; o “mundo lá fora” se vê privado de tantas e tão instigantes novas relações entre palavras e coisas... Aqui vou tratar de algo que se deu e se dá na contramão deste insidioso processo. Vou tratar, de forma rápida, do exercício (necessário, sempre necessário) de se pensar e de se construir o campo mais geral de “novas sensibilidades” para o fazer histórico-historiográfico, em muitas de suas dimensões, entre elas, com destaque, as questões do “ensino” de História. Penso no PET-História e no seu Caderno Didático “Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História”. A ação do Programa de Educação Tutorial, o PET, tem sido marcada por êxitos notáveis na vida acadêmica brasileira recente. Do PET saem boas ideias, boas ações e, o que é extremamente relevante, o PET tem servido como um excepcional laboratório para a formação de professores e alunos. Os docentes que se associam àquele programa transformam a si mesmos, tendo-se me vista o acúmulo e a característica das atividades desenvolvidas. Enfrenta-se uma reinvenção da função docente, que passa a ser vista, mais que nunca, como algo que demanda planejamento, paciência, determinação, capacidade de orquestrar grupos heterogêneos, habilidade para ponderar o presente tendo em vista o futuro etc. Do ponto de vista dos alunos, é uma rara oportunidade de estudar com método e uma orientação tanto mais de sucesso quanto segura. Parece ser impossível passar pelo PET e sair incólume. No caso do PET que se desenvolve junto ao Curso de História do Centro de Humanidades da UFCG, além das questões gerais que apontei acima, há uma pequena série de outras dimensões que desejo ressaltar. Em primeiro lugar, a condução de sua professora tutora, que alia doçura e energia de forma única, sendo capaz de ser suave e eficiente num ritmo que nos faz, colegas seus, eternos aprendentes. Regina Nascimento, experiente na pesquisa, na orientação e na docência, encontrou no PET um espaço ótimo para o máximo desempenho de muitas de suas habilidades.
  • 6. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 6 Ao seu redor congregam-se alunos e alunas que buscam uma presença diferente no Curso – marcada pela dedicação, pelo empenho, pela busca por uma formação sólida. Não por outra razão, o PET tem se firmado, no âmbito da cultura do Curso de História do CH da UFCG, como um programa de excelência, articulado felizmente com outras iniciativas também comprometidas com a qualificação dos noss@s alun@s. O Caderno que se tem em mãos é um dos resultados de uma sequência planejada e bem executada de ações cujo fim último é unir fios. É formar alun@s; é contribuir com o adensamento do pensar acadêmico; é colocar em perspectiva uma questão atual e preciosa (qual o papel das ciências humanas na sociedade (bio)tecnológica, ainda mais quando se pensa na dinâmica sempre em perigo do ensino de história); é chamar alun@s à posição da autoria; é tomar currículos e a avaliações como “problemas” historiográficos; é emprestar ao ENEM uma historicidade e uma racionalidade que o fazem inteligível... Em suma, o Caderno é um objeto complexo, que me deu enorme prazer na leitura, e que espero seja lido por muitas pessoas, de forma intensa e interessada.
  • 7. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 7 QUAL O CONTEÚDO DAS PROVAS? O conteúdo das provas do Enem é definido a partir de matrizes de referência em quatro áreas do conhecimento: ENEM 2014 – INFORMAÇÕES GERAIS COMO COMEÇOU O ENEM? O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi criado em 1998 com o objetivo de avaliar o desempenho do estudante ao fim da educação básica, buscando contribuir para a melhoria da qualidade desse nível de escolaridade. A partir de 2009 passou a ser utilizado também como mecanismo de seleção para o ingresso no ensino superior. Foram implementadas mudanças no Exame que contribuem para a democratização das oportunidades de acesso às vagas oferecidas por Instituições Federais de Ensino Superior (IFES), para a mobilidade acadêmica e para induzir a reestruturação dos currículos do ensino médio. Respeitando a autonomia das universidades, a utilização dos resultados do Enem para acesso ao ensino superior pode ocorrer como fase única de seleção ou combinado com seus processos seletivos próprios. O Enem também é utilizado para o acesso a programas oferecidos pelo Governo Federal, tais como o Programa Universidade para Todos – ProUni (Disponível em < http://portal.inep.gov.br/web/enem/sobre-o-enem > Acesso em 20082014.) Dia Duração Área do conhecimento Componentes curriculares Questões 1º 4h 30m Ciências da Natureza e suas Tecnologias Química, Física e Biologia. 45 Ciências Humanas e suas Tecnologias Geografia, História, Filosofia, Sociologia e conhecimentos gerais. 45 2º 5h 30m Linguagens, Códigos e suas Tecnologias Língua Portuguesa (Gramática e Interpretação de Texto), Língua Estrangeira Moderna, Literatura, Artes, Educação Física e Tecnologias da Informação. 45 Redação Redação dissertativa-argumentativa 1 Matemática e suas Tecnologias Matemática 45
  • 8. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 8 FIQUE POR DENTRO DO CALENDÁRIO ENEM 2014 a) Cartão de confirmação: O Cartão de Confirmação da Inscrição será enviado, pelos correios, para o endereço informado pelo participante no ato da inscrição. No Cartão de Confirmação da Inscrição estão contidas as seguintes informações: - número de inscrição; - data; hora; local de realização das provas; - indicação do(s) atendimento(s) especializado(s) e/ou do(s) atendimento(s) específico(s), se for o caso; - opção de língua estrangeira; e - solicitação de certificação, se for o caso. O participante pode consultar ou imprimir o seu Cartão de Confirmação de Inscrição no seguinte endereço eletrônico http://sistemasenem2.inep.gov.br/localdeprova, informando seu CPF e senha. b) Como são as provas: O Enem é composto por quatro provas objetivas com 45 questões cada e uma redação. Confira os dias da prova: 08 de novembro de 2014 (sábado) - Ciências Humanas e suas Tecnologias e; - Ciências da Natureza e suas Tecnologias. Tempo para a prova: 4h30 09 de novembro de 2014 (domingo) - Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, Redação e; - Matemática e suas Tecnologias. Tempo para a prova: 5h30 c) No dia da prova: Os portões de acesso abrem às 12h e fecham às 13h, horário de Brasília. Recomenda-se que todos os participantes cheguem ao local de prova até às 12h (horário oficial de Brasília), visto que será estritamente proibida a entrada após o fechamento dos portões. IMPORTANTE! - Verificar com antecedência, na página de acompanhamento do Enem, a validação da inscrição e o local de realização das provas. - Fazer o trajeto até o local de prova antes do dia do Exame. (Disponível em < http://www.enem.inep.gov.br/dicas.html > Acesso em 20082014.)
  • 9. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 9 Gostou das informações? Use os espaços abaixo para comentários, deixando suas criticas e sugestões: Sítio - http://www.ufcg.edu.br/~historia/pet/ Facebook: https://www.facebook.com/espaco.pethistoria Blog: http://modulosdidaticos.blogspot.com.br/ BOA SORTE E BONS ESTUDOS! DÚVIDAS FREQUENTES APLICAÇÃO DA PROVA 13 - Como serão as provas do Enem 2014? Serão quatro provas objetivas, contendo, cada uma, 45 questões de múltipla escolha, e uma redação. 14 - Quais são as Áreas de Conhecimento e Componentes Curriculares avaliados no Enem? Ciências Humanas e suas Tecnologias (História, Geografia, Filosofia e Sociologia); Ciências da Natureza e suas Tecnologias (Química, Física e Biologia); Linguagens, Códigos e suas Tecnologias e Redação (Língua Portuguesa, Literatura, Língua Estrangeira - Inglês ou Espanhol, Artes, Educação Física e Tecnologias da Informação e Comunicação); Matemática e suas Tecnologias (Matemática). OBJETIVOS E UTILIZAÇÃO DOS RESULTADOS 37 - Qual a finalidade do Enem? A finalidade primordial do Enem é a avaliação do desempenho escolar e acadêmico ao fim do ensino médio. As informações obtidas a partir dos resultados do Enem são utilizadas para acompanhamento da qualidade do ensino médio no País, na implementação de políticas públicas, criação de referência nacional para o aperfeiçoamento dos currículos do ensino médio, desenvolvimento de estudos e indicadores sobre a educação brasileira e estabelecimento de critérios de acesso do participante a programas governamentais. O Enem serve também para a constituição de parâmetros para a autoavaliação do participante, com vistas à continuidade de sua formação e à sua inserção no mercado de trabalho. 38 - O Enem tem como objetivo o acesso à educação superior? Essa não é a única, mas é uma das funções. O Enem tem sido usado com sucesso como mecanismo de acesso à educação superior, tanto em programas do Ministério da Educação – como o Sisu, o Sisutec, o Ciência sem Fronteiras e o Prouni –, quanto em financiamento estudantil – Fies. Também tem sido utilizado em processos de governos estaduais e da iniciativa privada. 39 - O Enem 2014 poderá ser usado para certificação no ensino médio? Sim, a certificação é mais uma das possibilidades que o Exame oferece. Os participantes maiores de 18 anos que ainda não concluíram a escolarização básica podem participar do Enem e pleitear a certificação no ensino médio junto a uma das instituições que aderiram ao processo – secretarias estaduais e institutos federais de educação. A lista das instituições certificadoras consta no Anexo I do edital. (Disponível em < http://www.enem.inep.gov.br/duvidas-frequentes.html> Acesso em 20082014.)
  • 10. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 10 Elson da Silva Pereira Brasil (elsonspb@gmail.com ) Priscila Gusmão Andrade (priscilaandrade@gmail.com ) IDENTIDADES DO/NO BRASIL Ao longo do tempo a humanidade vem tentando se identificar de modo que se distinga do resto das espécies animais. Esses processos são historicamente construídos e mudam de acordo com cada sociedade. Mesmo dentro de uma mesma organização social é possível haver vários discursos sobre a mesma “identidade”. A mesma pessoa pode se dizer de muitas formas. Pode ter várias identidades, ou até preferir dizer-se não pertencente às categorias de identidade existente. Disponível In: http://www.falouepontofinal.com.br/2012/09/ expressoes-populares-1.html#.U8nzZeNdXCl, acesso em 19/07/2014. Competência de área 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades. 1 – Compreender os elementos culturais que Disponível In: http://1.bp.blogspot.com/-NB0- hRBht2A/UUDsSO0MIpI/AAAAAAAADDA/JKjq MpCrqeY/s640/37093_406201599455300_71429107 7_n.jpg , acesso em 09/05/2014.
  • 11. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 11 Em certos casos as identidades são formadas para abarcar um grupo que se diz, ou é dito como, minoria e ás vezes pode ser composto por indivíduos que não estão dentro de um padrão normativo social. Esse grupo, por sua vez, acaba sendo discriminado quer por sua cor, classe social, gênero, etnias, religiões ou qualquer outra característica que fuja das normas sociais. No processo de formação da identidade de um grupo se busca anular a identidade individual em beneficio do coletivo. Assim como mostra a figura 1, um grupo menos favorecido pode receber mais benefícios para que, assim, possa estar em condição de igualdade com os que o rodeiam. Mas tem um tipo de identidade que há muito tempo é motivo de debate em nosso país: a identidade nacional. O Brasil desde 1822, quando se tornou uma nação independente, vem buscando criar para o país uma identidade nacional, ou seja, juntar em uma mesma representação festas, costumes, modos de ser, entre outros elementos que definam o que é ser brasileiro; que despertem nos brasileiros um sentimento de patriotismo e de defesa da nação, ou seja, o próprio sentimento de pertença a uma nação é construído historicamente, e nesse processo são incluídos e excluídos saberes e fazeres, em geral das minorias. A literatura, por exemplo, é escolhida em alguns momentos para representar a identidade de um país: se elegem personagens, obras literárias e autores e se nomeiam a “cara” do Brasil. Nesses quase duzentos anos de Brasil independente o país usou de muitos personagens da literatura, assim como de festas para tentar definir o que é ser brasileiro. Disponível In: http://kilombagem.org/wordpress/wp- content/uploads/2013/03/UFJF-imagem.jpg , acesso em 09/05/2014.
  • 12. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 12 Na literatura, Iracema (de 1865), a índia dos lábios de mel, do romance de José de Alencar (1829-1877), por muito tempo representou uma dita passividade dos nativos do Brasil que teriam se entregue de corpo e alma aos colonizadores europeus que aqui chegaram, no século XVI. Macunaíma (de 1928), personagem de Mário de Andrade (1893-1945) é a proposta de representação do brasileiro pelos modernistas1 , um personagem sem disposição ao trabalho ou à rotina que busca dar um jeitinho para resolver algumas situações em que se envolve na cidade grande em busca de seu muiraquitã. Macuíma também representa um momento da história nacional em que alguns intelectuais vão tomar o índio como legitimo representante da identidade nacional, como a essência, a verdadeira brasilidade. O Estado Novo representou a relação entre os índios e o Estado-nação numa ótica romântica. Em 1934, consagrando um ícone cultural, Vargas decretou que o dia 19 abril seria o Dia do Índio. Nos anos seguintes, o Dia do Índio ocasionou numerosos eventos culturais e cerimônias públicas. Numa verdadeira blitz, o Estado organizou exibições em museus, programas de rádio, discursos e filmes sobre o índio - tudo isso com assistência do DIP. (GARFIELD, 2000, p. 18). Esses dois personagens, Iracema e Macunaíma, de épocas históricas diferentes foram apropriados para dizer o que era o brasileiro. Isso não significa que exista um modo único de ser brasileiro, mas que em cada momento as pessoas pensaram e escreveram o ser brasileiro do modo que sua época permitia. Nós, no presente, não podemos julgar esses modelos como certos ou errados, apenas tentar compreender sua construção. 1 Modernistas são os artistas envolvidos no movimento artístico e cultural no país no início do século XX. O modernismo no Brasil é marcado pela Semana de Arte Moderna de 1922. Saiba mais em: http://www.mac.usp.br/mac/templates/projetos/seculoxx/modulo2/modernismo/index.html (acesso em 19/07/2014). Disponível ,http://gilmaronline.zip.net/arch2011-03- 01_2011-03-31.html > Acesso em 13/04/2014.
  • 13. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 13 Em meados do século XX outra forma de representar a identidade nacional entrou em evidência. Um caso no qual a literatura tenta abarcar um personagem que represente a identidade nacional partindo de um olhar regional, é o caso de João Grilo, personagem de O Auto da compadecida (de 1955) obra de Ariano Suassuna (1928). O autor propõe uma identidade do brasileiro partindo do seu olhar sobre os personagens dos sertões nordestinos. O personagem João Grilo, embora tenha disposição ao trabalho, consegue burlar algumas situações, inclusive sua ida quase certa ao inferno. Mas é possível localizar em cada personagem diferenças quanto à forma de pensar a brasilidade. João Grilo aparece não mais como representante de um país inteiro, mas como o representante de uma região. Se antes se buscava dizer um tipo que representava a nação brasileira, neste momento Ariano Suassuna buscou pensar uma identidade baseada nos tipos regionais. Mas, e no presente, como andam as representações de nossa brasilidade? Roberto da Matta (2004) antropólogo contemporâneo aponta algumas dessas características como constituintes de nossas identidades no presente: a falta de cuidado com o público, pouco engajamento político e uma corrupção que estaria presente em nossas práticas diárias como: apropriação indevida de coisas públicas, filar na prova, jogar lixo na rua, entre outras. “No duelo entre esses dois campeões, fazemos voto para que o entrudo morra de uma vez”. Revista Ilustrada, 1881. In: http://devotosdodragao.ucoz.com/index/ entrudo/0-8, acesso em 13/04/2014.
  • 14. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 14 REFLEXÃO Festas e identidade(s): o Carnaval Um dos elementos usados para criar a identidade de uma nação são suas festas. No Brasil uma das festas mais populares é o carnaval. Quem nunca ouviu a frase “No Brasil o ano só começa depois do carnaval”? O carnaval é tido como a festa do samba, do axé e do frevo, mas será que apenas esses ritmos são tocados em nossos carnavais? Caso seja, como é o caso do frevo em Olinda - PE, como um único ritmo pode ser tocado em uma festa caracterizada pela diversidade? As nossas festas são uma demonstração da diversidade das identidades, assim como da mistura de códigos e culturas em um mesmo espaço. O Carnaval pode ser pensado como uma festa que alguns tomamos como representativa do que somos. Festa presente no Brasil desde quando o país era uma colônia de Portugal, se caracteriza pela diversidade com que é comemorada nas diferentes regiões do país. Atualmente as festas nas cidades de Salvador, Olinda e Rio de Janeiro ocupam espaço na mídia, sendo tomadas como as maiores do país. No Rio de Janeiro as escolas de samba ganham destaque, sendo elemento identitário destacado na mídia, como característica do carnaval carioca e uma tentativa de representação da nação. Em Salvador o axé é o ritmo que toma conta nas representações sobre o carnaval baiano. Em Olinda-Recife é o frevo que é reina como ritmo do carnaval, assim uma mesma festa é embalada por ritmos diferentes. Mas além desses ritmos, outros também podem compor o carnaval. Não apenas de ritmos e sons é feito o carnaval brasileiro, cada região, estado e cidade dá um toque especial a essa data, algumas optam por não celebrar a festa e aproveitar a data para promover debates místicos, filosóficos, acadêmicos, encontros religiosos, entre outros, é Carnaval sem mela mela não existe. In: http://lenilsonazevedo.com/?p=9062, acesso em 13/04/2013.
  • 15. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 15 o caso do Encontro para a Nova Consciência que ocorre sempre no período de Carnaval em Campina Grande-PB. Outra marca história do carnaval brasileiro é, para alguns, a fama de, durante os dias de festa, reinar a permissividade. É permitido trair, andar seminu, homem pode vestir-se de mulher. Mas será que é apenas no Carnaval que essas identidades de gênero, de raça ou de classe social, ou quaisquer outras, entram em crise? Ou será que estamos passando por um momento em que esses modelos enfrentam uma crise? Não se engane em pensar que o carnaval é desprovido de disputas políticas e sociais. Historicamente no Brasil o carnaval é fruto de discursos que pretenderam pretendem controlar as formas de divertimento do povo. Um exemplo foram os conflitos entre as associações carnavalescas no Rio de Janeiro do século XIX que buscavam combater o entrudo2 . No entrudo as pessoas costumavam sair às ruas jogando farinha e bolinhas de cera contendo água, urina ou outros líquidos. Com a adesão aos costumes burgueses e à modernidade, as associações carnavalescas buscam domesticar a festa e travam um verdadeiro combate nos meios impressos até legitimar um modo de festejar o carnaval com confete e serpentina. Mas, mesmo assim, em algumas regiões do país o costume de se melar permanece até o presente. O mela-mela que ainda ocorre em alguns carnavais de rua é reminiscência dessa prática. TEXTO DE APOIO A escravidão e as conquistas negras Uma das características fundamentais do sistema escravista era a prioridade jurídica sobre o trabalhador cativo. Sendo assim, o homem escravizado era subordinado a outro ser humano. Ao tornar-se propriedade privada, o escravo perdia a sua humanidade? (APOLINÁRIO, 2007. p.32). 2 Entrudo pode ser definido como uma série de jogos e brincadeiras populares, introduzidas no Brasil pelos portugueses no século XVI, que também foram associadas ao carnaval brasileiro. Pode ser considerado como a fase de gestação do carnaval popular de rua. (Disponível in: http://www.suapesquisa.com/carnaval/entrudo.htm, acesso em 19/07/2014).
  • 16. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 16 (Disponível em:< http://amaivos.uol.com.br/amaivos09 /noticia/noticia.asp?cod_canal=44&c od_noticia=22765 >, acessado em: 30/04/2014). A escravidão negra se iniciou no Brasil durante o período em que o país ainda era colônia de Portugal, foi uma experiência de longa duração (se iniciando com a vinda dos primeiros africanos na primeira metade do séc. XVI e terminando oficialmente em 1888, com a lei Áurea) deixando profundas marcas na sociedade brasileira. O trabalho do negro escravizado foi utilizado nas plantações de cana-de-açúcar no Nordeste brasileiro, nas lavouras de café do interior paulista, nas minas de ouro de Minas Gerais, nas cozinhas das casas grandes dos fazendeiros brasileiros, nas casas dos brasileiros de classe média, etc. A escravidão estava, assim, acoplada à sociedade brasileira no período colonial e em boa parte do período imperial, estando ligada não apenas ao aspecto econômico como também aos aspectos político e cultural. Ser escravo significava ser propriedade de outra pessoa, escravizar era tornar o ser humano um objeto passível de venda, empréstimo, aluguel, hipoteca, etc. Mas essa característica mercantil fazia o homem escravizado perder sua subjetividade de ser humano? Fazia o individuo de fato tornar-se um objeto inanimado e sem vontades, pensamentos e identidade própria? Por ser escravo, o negro não deixava de possuir vontades e sentimentos. Não deixava também de se revoltar contra o sistema ao qual estava sujeito e de protagonizar diversas resistências contra as crueldades que o sistema escravocrata impunha contra os mesmos. Vejamos o que Albuquerque coloca a esse respeito:
  • 17. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 17 Onde quer que o trabalho escravo tenha existido, senhores e governantes foram regularmente surpreendidos com a resistência escrava. No Brasil, tal resistência assumiu diversas formas. A desobediência sistemática, a lentidão na execução das tarefas, a sabotagem da produção e as fugas individuais ou coletivas foram algumas delas. Fugir sempre fazia parte dos planos dos escravos. Os cativos fugiam por vários motivos e para muitos destinos. Castigo, trabalho excessivo, pouco tempo para o lazer, desagregação familiar, impossibilidade de ter a própria roça e, é obvio, o simples desejo de liberdade eram as razões mais freqüentes que os levavam a escapar dos senhores. (ALBUQUERQUE, 2006, p. 117). Percebemos assim que a escravidão não excluiu as identidades dos que foram escravizados e que diversas maneiras foram encontradas pelos negros para resistir à realidade que lhes estava imposta. Mas os problemas para esse grupo não se encerram com a abolição da escravatura. Inúmeras foram as dificuldades sociais que os negros enfrentaram após a liberdade e numerosos foram os preconceitos que se mantiveram contra a sua figura. Após a abolição não houve uma política de integração dos negros ex-escravos à sociedade e ao mundo do trabalho, havendo assim uma marginalização desse grupo, devido ao preconceito que sofria por ser negro e ex-escravo. O preconceito contra os negros se manteve com os anos que se passaram, apesar da tese sociológica de Gilberto Freire, em seu livro Casa Grande e Senzala, conhecida como mito da democracia racial, na qual o autor vai dizer que o Brasil é um país miscigenado (entre branco, negro e índio) e que o mestiço é o tipo do brasileiro. Nos anos 1930, a Frente Negra Brasileira3 (FNB) chamou a atenção, a partir de jornais e congressos, para os problemas que afligiam a população de cor, nos anos 1940 o Teatro Experimental do Negro4 denunciou as práticas racistas a partir do teatro, já na década de 1990 houve um período mais promissor de participação política para a sociedade civil e uma maior força para os movimentos sociais ligados a bandeiras ideológicas, incluindo o Movimento Negro (Movimento Negro Unificado – MNU), havendo uma maior luta contra a opressão racial, o alto índice de desemprego da população negra, a violência policial, etc. (SANTOS, s.d., p.6). 3 A frente negra brasileira foi um movimento social fundado em 16 de setembro de 1931 e que durou até 1937. Tinha como propósito lutar pelo direito dos afrodescendentes brasileiros. 4 O teatro experimental do negro, foi fundado em 1944 e durou até 1961, tinha como intenção a valorização do negro no teatro e a criação de uma nova dramaturgia. Para saber mais sobre, acessar: http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_teatro/index.cfm?fuseaction=cias_biografia&cd_verbe te=649, acessado em 22/07/2014.
  • 18. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 18 A partir desse momento houve uma maior atenção direcionada aos problemas das minorias étnicas, incluindo os negros. Uma das conquistas do MNU foi a lei 10.639/03, que estabelece a inclusão da história da África e das culturas afro-brasileiras no conteúdo programático do ensino fundamental das escolas brasileiras. Essa lei sofre uma expansão com a Lei 11.645/08 que inclui nos conteúdos das escolas além da temática negra, a indígena. A intenção dessas leis é contribuir para a mudança do imaginário social brasileiro sobre a população negra e a indígena, um esforço para diminuir o preconceito racial. APRENDA FAZENDO... ENEM 2013, questão 01 No final do século XIX, as grandes sociedades carnavalescas alcançaram ampla popularidade entres os foliões cariocas. Tais sociedades cultivavam um pretensioso objetivo em relação à comemoração carnavalesca em si mesma: com seus desfiles de carros enfeitados pelas principais ruas da cidade, pretendiam abolir o entrudo (brincadeira que consistia em jogar água nos foliões) e outras práticas difundidas entre a população desde os tempos coloniais, substituindo-os por formas de diversão que consideravam mais civilizadas, inspiradas nos carnavais de Veneza. Contudo, ninguém parecia disposto a abrir mão de suas diversões para assistir ao carnaval das sociedades. O entrudo, na visão dos seus animados praticantes, poderiam coexistir perfeitamente com os desfiles. PEREIRA, C.S. Os senhores da alegria: a presença das mulheres nas Grandes Sociedades carnavalescas cariocas em fins do século XIX. In: CUNHA, M.C.P. Carnavais e outras frestas: ensaios de história social da cultura. Campinas: Unicamp; Cecult, 2002 (adaptado). Manifestações culturais como o carnaval também têm sua própria história, sendo constantemente reinventadas ao longo do tempo. A atuação das grandes sociedades, descritas no texto, mostra que o carnaval representava um momento em que: a) Distinções sociais eram deixadas de lado em nome da celebração. b) Aspirações cosmopolitas de elite impediam a realização da festa fora dos clubes. c) Liberdades individuais eram extintas pelas regras das autoridades públicas. d) Tradições populares se transformavam em matéria de disputas sociais.
  • 19. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 19 e) Perseguições policiais tinham caráter xenófobo por repudiarem tradições estrangeiras. ENEM 2010, questão 02 Negro, filho de escrava e fidalgo português, o baiano Luiz Gama fez da lei e das letras suas armas na luta pela liberdade. Foi vendido ilegalmente como escravo pelo seu pai para cobrir dívidas de jogo. Sabendo ler e escrever, aos 18 anos de idade conseguiu provas que havia nascido livre. Autodidata, advogado sem diploma, fez do direito o seu ofício e transformou- se, em pouco tempo, em proeminente advogado da causa abolicionista. AZEVEDO, E. O Orfeu de carapinha. In: Revista de História. Ano 1, nº3. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, jan. 2014 (adaptado). A conquista da liberdade pelos afro-brasileiros na segunda metade do séc. XIX foi resultado de importantes lutas sociais condicionadas historicamente. A biografia de Luiz Gama exemplifica a a) Impossibilidade de ascensão social do negro forro em uma sociedade escravocrata, mesmo sendo alfabetizado. b) Extrema dificuldade de projeção dos intelectuais negros nesse contexto e a utilização do Direito como canal de luta pela liberdade. c) Rigidez de uma sociedade, assentada na escravidão, que inviabiliza os mecanismos de ação social. d) Possibilidade de ascensão social, viabilizada pelo apoio das elites dominantes, a um mestiço filho de pai português. e) Troca de favores entre um representante negro e a elite agraria escravista que outorga o direito advocatício ao mesmo.
  • 20. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 20 SAIBA MAIS Site: Videoteca do CPFL – Cultura Aqui você vai encontra professor@s de Universidades renomadas do Brasil e do Mundo falando sobre temas como identidade, cultura, história e outras questões da contemporaneidade. Em especial indicamos os programas: Feminilidades e pós-modernidade | Guacira Lopes Louro (http://www.cpflcultura.com.br/wp/2009/10/28/feminilidades-e- pos-modernidade-guacira-lopes-louro/, acesso em 13/04/2014). Entre a luxúria e o pudor | Paulo Sérgio do Carmo (http://www.cpflcultura.com.br/wp/2012/06/29/entre-a-luxuria-e-o- pudor-cem-anos-de-vida-sexual-dos-brasileiros-paulo-sergio-do- carmo/, acesso em 13/04/2014). O mito da raça: em busca da pureza – Demétrio Magnoli (http://www.cpflcultura.com.br/wp/2011/05/10/o-mito-da-raca-em- busca-da-pureza-demetrio-magnoli-2/, acesso em 13/04/2014). Site: Site do Instituto Luiz Gama – Site do Instituto Luiz Gama é uma associação sem fins lucrativos, formada por um grupo de militantes de movimentos sociais que atua na defesa de causas populares. http://institutoluizgama.org.br/portal/, acessado em 08/05/2014. Livro: Memórias do Cativeiro: família, trabalho e cidadania na pós- abolição – Livro escrito a partir da experiência de ex-escravos brasileiros, que trabalharam principalmente no antigo sudoeste cafeeiro, contando a experiência coletiva e individual dessas pessoas. Filme: Memórias do Cativeiro - Filme de 2005, dirigido por Guilherme Fernandez e Isabel Castro, feito a partir do acervo oral do Labhoi e com roteiro baseado em livro de mesmo nome. Para assistir ao filme, acessar: http://ufftube.uff.br/video/M2GWDYGDBYU7/Mem%C3%B3rias- do-Cativeiro, acessado em 08/05/2014.
  • 21. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 21 RESPOSTAS COMENTADAS Questão 01 A questão pede que se perceba como a tradição popular de celebrar o entrudo, à medida que ganha visibilidade, passa a ser motivo de conflitos e disputas sociais. No contexto de fins do século XIX era muito forte no Brasil a vontade de parecer com a Europa, para tanto era preciso disciplinar algumas práticas tradicionais que fugiam dos padrões europeus. As outras alternativas não condizem com o texto base ou com a época a qual o mesmo se refere, logo acabam sendo incorretas com o que o item pede. Alternativa correta: Letra D. Questão 02 A vida do abolicionista Luiz Gama indica possibilidade, embora muito limitada, de ascensão social do negro no Brasil imperial e, ao mesmo tempo, revela a importância do Direito e de alguns advogados na luta pelo fim da escravidão no país. As demais alternativas não estão necessariamente erradas, mas a dificuldade de ascensão dos negros na sociedade da época é a alternativa que mais se aproxima do texto proposto para a questão. Alternativa correta: Letra B. REFERÊNCIA ALBUQUERQUE, Wlamyra R. de. Uma história do negro no Brasil. Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2006. ALENCAR, José de. Iracema. 2ª ed. crítica de M. Cavalcanti Proença. São Paulo: ed. Da USP/EDUSP, 1979. ANDRADE, Mário de. Macunaíma. Ed. crítica coord. por Telê P. Ancona Lopez. Paris, Association Archives de la Littérature latino-américaine, des Caraibes e africaine du Xxe. Siècle; Brasília, CNPQ, 1988. (Col. Arquivos, 6) APOLINÁRIO, Juciene Ricarte. Escravidão negra no Tocantins colonial. 2ºed. Goiania: Kelps, 2007. BAUMAN, Zygmunt. Identidade. Tradução de Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005. GARFIELD, Seth. As raízes de uma planta que hoje é o Brasil: os índios e o Estado-Nação na era Vargas. Rev. bras. Hist.[online]. 2000, vol.20, n.39, pp. 13-36. ISSN 1806-9347.
  • 22. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 22 HALL, Stuart. A identidade cultural na pós – modernidade. 11. Ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006. MATTA. Roberto. O modo de navegação social: a malandragem, o “jeitinho” e o “você sabe com quem está falando?” In: DA MATTA, Roberto. O que é o Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 2004. P. 13-20. SANTOS, Márcio Andre de. Negritudes posicionadas: as muitas formas da identidade negra no Brasil. Artigo cientifico, encontrado em: http://www.cp2.g12.br/UAs/se/departamentos/sociologia/pespectiva_sociologica/Numero4/Ar tigos/marcio_andre.pdf. SUASSUNA, Ariano. O Auto da Compadecida. 34 ed. Rio de Janeiro: Agir, 2002. Sites: Blog do Lenilson Azevedo: http://lenilsonazevedo.com/, acesso em 13/04/2014. Brasil Cultura. Mulher e carnaval. In: http://www.brasilcultura.com.br/antropologia/mulher-e- carnaval/, acesso em 13/04/2014. Brasil Escola- Carnaval do Brasil. In: http://www.brasilescola.com/carnaval/carnaval-no- brasil.htm, acesso em 11/04/2014. Devotos do dragão: http://devotosdodragao.ucoz.com/index/entrudo/0-8, acesso em 13/04/2014. HISTÓRIA DO CARNAVAL - Monique Cardoso. In: http://ccsp13aisp.ibge.gov.br/attachments/article/68/HISTORIADOCARNAVAL.pdf, acesso em 13/04/2013. Instituto CPFL Cultura: http://www.cpflcultura.com.br/, Acesso em 19/07/2014. Kilombagem: http://kilombagem.org/, Acesso em 19/07/2014. Modernismo Brasileiro: http://www.mac.usp.br/mac/templates/projetos/seculoxx/modulo2/modernismo/index.html, Acesso em 19/07/2014. Sua pesquisa.com: http://www.suapesquisa.com/carnaval/entrudo.htm, acesso em 13/04/2014.
  • 23. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 23 Ana Carolina Monteiro Paiva (anacarolina.mont@hotmail.com ) Jonathan Vilar dos S. Leite(Jonathan_vilar@hotmail.com ) PARA COMEÇAR A HISTÓRIA O HOMEM E O ESPAÇO GEOGRÁFICO Autoridades negociam com os índios da aldeia Maracanã sobre a desocupação do prédio para a revitalização de um complexo esportivo. Disponível em: < http://www.portalguaira.com/PG/wp- content/uploads/2013/03/indio2.jpg> Acesso em: 15 de abr. 2014. Chuva ameaça 128 mil pessoas em moradias de ocupação irregular da área, em Manaus. Disponível em: < http://acritica.uol.com.br/manaus/Chuva- ameaca-pessoas-risco-Manaus_0_1110488944.html> Acesso em: 15 de abr. 2014. Vista panorâmica da cidade de São Paulo – SP, Brasil. Classificada pelo IBGE como uma das metrópoles globais. Disponível em: <http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/t vmultimidia/imagens/geografia/4saopaulo.jpg> Acesso em: 15 de abr. 2014. 1 – Competência de Competência de área 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de poder.
  • 24. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 24 Você consegue identificar o que essas três imagens tem em comum? Todas estão diretamente ligadas a conceitos bastante utilizados na Geografia e História: espaço e território? Vamos pensar sobre essas questões? De acordo com o geógrafo Milton Santos, é difícil atribuir uma definição única para a categoria espaço, pois qualquer conceituação não é fixa, imutável, mas flexível, sujeita a mudanças ao longo da história, ganhando novos significados de acordo com o contexto em que está inserida. Assim, o espaço corresponde às transformações sociais feitas pelos seres humanos, e pode ser compreendido principalmente por dois pontos: o espaço humano (morada do homem) e o espaço geográfico (organizado pelo homem para produção). O espaço pode ser organizado de diversas formas: pela divisão social do trabalho, urbanização, migrações, fatores econômicos e sociais, entre outros. O território utilizado pelo povo seria aquele que se transformaria na noção de espaço, pois por território se entende uma ideia de delimitação, uma área fixada construída e desconstruída pelas relações de poder. Essa representação dos diferentes territórios está presente em nosso cotidiano, desde a mais simples cerca ou muro da sua casa que delimita seu território, até o território da aldeia Maracanã, a qual os índios se apropriaram como símbolo de sua resistência perante a desapropriação de suas verdadeiras terras para atender às necessidades do governo. Alguns estudiosos partem do pressuposto de que são as relações de poder entre “dominantes” e “dominados” que ditam o ritmo dessas divisões de espaço e território ao longo do tempo e que isso historicamente possui um significado maior. Essa visão está muito forte nos estudos sobre as questões de espaço, território e territorialidade sendo mais defendida pelo viés marxista. Para exemplificar melhor essa relação não tomando os “dominantes” e os “dominados”, mas levando em consideração que havia uma relação de poder entre classes, vamos observar o caso do processo de colonização do Brasil (a relação metrópole-colônia): o Brasil, no seu papel de colônia, era totalmente dependente de sua metrópole Portugal. O território do Brasil passou por um processo em que envolvia muitos tratados, acordos, nos quais Portugal visava demarcar, limitar, criar fronteiras que foram acordadas com outros países. Essa apropriação do território brasileiro ia além de uma posse de terra, mexia também com o imaginário tanto dos nativos (submissos à Portugal) como dos colonizadores (superiores, civilizados). Outros exemplos são as divisões regionais do Brasil
  • 25. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 25 (Norte, Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste), uma divisão que leva em consideração aspectos climáticos (uma região de clima tropical, outra de clima mais ameno e etc), culturais (uma região que tenha práticas culturais em comum, como na região amazônica que forma um conjunto cultural que representa a identidade daqueles ali nascidos), econômicos (uma região onde a produção de café é mais intensa, outra em que o ouro predomina, formando complexos econômicos). As próprias divisões regionais dentro de uma cidade (zona sul, zona norte, zona leste...) também possuem um significado dentro da própria sociedade: são divisões que na maioria das vezes são determinadas por questões econômicas, como, por exemplo, uma antiga noção de que as casas construídas próximo ao mar, litoral, seriam de pessoas com alto poder aquisitivo. Porém, essa concepção vem se transformando devido à ascensão da classe média que cada vez mais conquista seu lugar. Assim, também é necessário comparar o significado histórico da formação dos diferentes espaços. Para isso, deve-se entender que os espaços geográficos são dinâmicos, ou seja, estão sempre em constante mudança devido aos processos migratórios. Provavelmente você já ouviu falar de uma pessoa próxima ou algum conhecido que se mudou para outra cidade para trabalhar: isso faz parte do processo de migração, um fluxo populacional atraído para um centro econômico em desenvolvimento que pode proporcionar uma ascensão econômica e social para o sujeito. São várias as cidades que atraem esse fluxo, porém quando se trata de migração é inevitável não citarmos a metrópole global responsável pela grande quantidade de pessoas que saem de sua terra natal para se destinarem a ela: São Paulo. Os processos imigratórios também contribuem para o aumento populacional das grandes cidades, como visto nas charges abaixo:
  • 26. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 26 Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/_aJT3I8ICB- 8/TE_rvyZ5KzI/AAAAAAAAA9Q/4uYI3dIBAD4/s1600/char ge-imigrantes.jpg> Acesso em: 19 mai. 2014. Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/- Wmj689NYuyg/Tsht70wQpRI/AAAAAAAAAR4/Yg187IL- VKo/s1600/charge.gif> Acesso em: 19 mai. 2014.
  • 27. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 27 REFLEXÃO Uma questão atual que tem despertado preocupação no cenário político internacional e que tem gerado tensão na relação de vários países do globo é a crise na Crimeia. Após um mês da destituição do presidente ucraniano Viktor Yanukovych em Maio de 2014 - aliado de Moscou –, a Rússia iniciou uma marcha em direção à região da Crimeia, pertencente originalmente à Ucrânia – país independente e desanexado da antiga União Soviética desde 1991 na tentativa de intervir e tomar posse destas terras novamente (tendo em vista que até 1954 a Crimeia pertencia à URSS). A Crimeia é uma península que fica ao sul da Ucrânia e dá acesso a todo o Mar Negro, servindo também como ótimo ponto portuário para escoamento e fluxo neste local. Mesmo após a independência da Ucrânia, em 1991, a Rússia ainda possui certa influência lá, com base naval de livre acesso em Sevastopol, além da grande presença de russos (cerca de 60%) na Crimeia como também o fato de cerca de metade de toda a Ucrânia (principalmente a metade leste) falar russo. Todavia a influência russa passou a se comprometer justamente após a retirada do presidente Viktor Yanukovych do poder para dar lugar a Oleksandr Turchynov. Essa troca de presidente provocou uma série de medidas políticas que tornaram as relações entre Rússia e Ucrânia mais tensas. Por um lado os russos perderam um forte aliado na ampliação de sua influência política, o Viktor, que foi substituído por um presidente que Crise na Criméia: manifestantes pró-rússia formam uma barricada. Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/bbc/2014/03/19/crise-na-crimeia-pode-reacender- conflitos-adormecidos-na-europa.htm> Acesso em: 15 de abr. 2014.
  • 28. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 28 agora simpatiza com a União Europeia e tem políticas mais congruentes com a política oeste europeia do que leste europeias (leia-se aqui, russa). Representada pela figura de Vladmir Putin, a Rússia se viu de certa forma ofendida com o novo governo e as novas medidas políticas e decidiu ocupar regiões fronteiriças e a Crimeia no intento de retomar esta última alegando que lá existe maioria russa e que inclusive muitos deles – de fato – apoiam a reintegração com seus antigos governantes por se sentirem constitucionalmente mais protegidos e culturalmente mais identificados. Por fim esta tensão entre Ucrânia e Rússia tem chamado atenção da União Europeia que já está ao lado da Ucrânia e também dos EUA que quase interferiu diretamente neste conflito em favor da Ucrânia. Ambos exigem a retirada do exército russo das fronteiras do leste e da região da Crimeia para evitar maiores intervenções e até mesmo o início de uma possível guerra. Dia 19 de maio de 2014 Putin ordenou que as tropas evacuassem, entretanto Otan e EUA, querem provas concretas de que esta desocupação está sendo consolidada, pois afirmam que ainda há tropas em várias localidades. Usina Belo Monte, Xingu. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/assets/images/2013/ 1/122267/usina-belo-monte-20130124-0061- size-620.jpg?1359072664> Acesso em: 15 de abr. 2014.
  • 29. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 29 TEXTO DE APOIO Devido ao avanço tecnológico, o ser humano se utilizou de uma série de mecanismos para facilitar a manipulação dos elementos da natureza, transformando-a em um espaço de exploração. Máquinas, equipamentos e grandes estruturas facilitaram a vida do ser humano, dinamizando o processo de exploração dos recursos minerais, energéticos (como a construção de usinas hidrelétricas) e da produção agropecuária. Tanto na extração mineral como na extração energética, grandes fontes de riqueza, o espaço geográfico é bastante explorado, o que acaba levando a profundos impactos que podem ser vistos agora ou daqui a alguns anos. Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/_UxXEnLA9NJk/S_- z5EVWGKI/AAAAAAAAAqQ/dm9eEOzwifk/s 1600/Charge+para+desmatamento.jpg> Acesso em: 19 mai. 2014.
  • 30. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 30 A extração mineral lida diretamente com o solo, o que provoca processos de erosão e esgotamento. Já a construção de usinas hidrelétricas para a obtenção de energia, por exemplo, altera o curso dos rios e modifica toda a estrutura da comunidade local que depende do rio para sobreviver, a exemplo dos indígenas e das comunidades ribeirinhas. Essas constantes intervenções humanas no espaço causam uma infinidade de degradação que se volta contra o homem. Além das já citadas, o aquecimento global, o efeito estufa e a escassez de água merecem destaque. Essa busca do homem pela exploração da natureza para obter seu sustento não é nova, pode ser vista em muitos momentos da história. Porém, a busca sem limites, uma exploração irracional dos recursos leva a consequências que comprometem a natureza e a própria vida do homem na Terra. “(...) Doce morada bela, rica e única, Dilapidada só como se fôsseis A mina da fortuna econômica, A fonte eterna de energias fósseis, O que será, com mais alguns graus Celsius, De um rio, uma baía ou um recife, Ou um ilhéu ao léu clamando aos céus, se os Mares subirem muito, em Tenerife? E dos sem-água, o que será de cada súplica, De cada rogo É fogo... é fogo...” Disponível em: < http://letras.mus.br/lenine/e-fogo/> Acesso em: 19 mai. 2014.
  • 31. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 31 APRENDA FAZENDO QUESTÃO 07 – ENEM 2013 Um gigante da indústria da internet, em gesto simbólico, mudou o tratamento que conferia à sua página palestina. O site de buscas alterou sua página quando acessada da Cisjordânia. Em vez de “territórios palestinos”, a empresa escreve agora “Palestina” logo abaixo do logotipo. BERCITO, D. Google muda tratamento dos territórios palestinos. Folha de S. Paulo. 4 de Maio de 2013(Adaptado). O gesto simbólico sinalizado pela mudança no status dos territórios palestinos significa: a) Surgimento de um país binacional. b) Fortalecimento de movimentos antissemitas. c) Esvaziamento de assentamentos judaicos. d) Reconhecimento de uma autoridade jurídica. e) Estabelecimento de fronteiras nacionais. QUESTÃO 07 – ENEM 2013 Nos últimos decênios, o território conhece grandes mudanças em função de acréscimos técnicos que renovam a sua materialidade, como resultado e condição ao mesmo tempo, dos processos econômicos e sociais em curso. SANTOS, M.; SILVEIRA; M.L. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2004 (adaptado). A partir da última década, verifica-se a ocorrência no Brasil de alterações significativas no território, ocasionando impactos sociais, culturais e econômicos sobre comunidades locais, e com maior intensidade, na Amazônia Legal, com a: a) Reforma e ampliação dos aeroportos nas capitais dos estados. b) Ampliação de estádios de futebol para a realização de eventos esportivos. c) Construção de usinas hidrelétricas sobre os rios Tocantins, Xingu e Madeira. d) Instalação de cabos para a formação de uma rede informatizada de comunicação. e) Formação de uma infraestrutura de torres que permite a comunicação móvel na região
  • 32. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 32 SAIBA MAIS VÍDEOS Vídeos sobre geopolítica e território com o professor James Carvalho, em que este aborda de maneira didática e prática para você ficar por dentro dos assuntos concernentes à Competência 02 do ENEM e suas habilidades. Video-aula dividida em duas partes. Disponível em: Parte 1 <https://www.youtube.com/watch?v=bydW7S5laOw e Parte 2: <https://www.youtube.com/watch?v=AtsXwl8apZU> Acesso em: 14 de abr. 2014. Vídeo sobre crise política na Ucrânia, elaborado pelo professor Samir Lahoud, do canal “O QUE ROLOU” que fala sobre o atual conflito na região da Crimeia e suas implicações na política internacional, sua motivações e possíveis consequências. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=7y19CjchzXA> Acesso em: 14 de abr. 2014. SITE Site que trás dados sobre a construção da usina de Belo Monte e as diversas implicações que giram em torno desta questão, desde a relação com comunidades indígenas das proximidades q aos impactos ambientais no local. Disponível em: <http://www.brasiloeste.com.br/especiais/usina-de- belo-monte/> Acesso em: 14 de abr. 2014. RESPOSTAS COMENTADAS QUESTÃO 07 – ENEM 2013 A situação-problema da pergunta é sobre a situação da Palestina frente à ocupação de Israel, conflito esse que se iniciou na metade do século passado e se arrasta até hoje. Até o final da Segunda Guerra Mundial, os territórios palestinos eram de domínio da Coroa britânica em razão do processo que foi denominado de “Neocolonialismo do século XIX”, impulsionado pela busca por parte da Europa de matérias primas e mercado consumidor na Ásia e África, que estava em plena Revolução Industrial. Ao término da Segunda Guerra, os judeus
  • 33. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 33 receberam territórios para fundar o seu Estado por parte da Inglaterra, sendo utilizadas as terras que já eram inglesas. E estes territórios doados foram justamente na região da Palestina. Desta forma, estas terras foram doadas aos judeus para lá criarem o seu sonhado país. Esta transferência de territórios por parte da Inglaterra para a criação do Estado de Israel pode ser vista como uma forma de desculpas por parte da Europa frente ao genocídio de milhões de judeus comandado por Adolf Hitler. De modo geral, as tropas israelenses, patrocinadas e amparadas pelo exército dos Estados Unidos (U. S. Army) removeram as famílias palestinas e assentaram famílias judaicas no lugar. Vale lembrar que um dos símbolos da resistência palestina frente à ocupação de seus territórios é a chave de sua antiga casa, como prova de que um dia lá estiveram fisicamente. Assim como na questão relativa à Crimeia, na Ucrânia, podemos perceber que, para além das disputas de caráter político, há questões culturais que interferem nestes processos. No caso da Ucrânia, é de uma grande parcela de ucranianos que ainda estão arraigados a uma cultura e ao idioma russo e que, no caso específico da Crimeia, correspondem a 60% da população e apoiam a reintegração desta península à Rússia. Na Palestina a questão cultural – para além de questões político-econômicas – tem bastante influência nas medidas e ações tomadas, assim como a procedência do conflito, dado que para ambos os povos aquela é considerada uma terra sagrada: tanto para judeus quanto para muçulmanos; há atrelado a estes dois casos uma forte questão de sentimento de pertencimento e identidade cultural destes povos que deve ser respeitada e levada em consideração para decisões políticas futuras. Alternativa correta: Letra D. Adaptado de: <http://www.infoenem.com.br/apostilas-enem-2014-do-infoenem-serao-lancadas-dia-28-de- janeiro/> Acesso em: 19 mai. 2014. QUESTÃO 37 – ENEM 2013 A problemática da questão se revela nos impactos sociais, culturais e econômicos que atingem as comunidades da Amazônica Legal. Ora, na última década essa região tem sido marcada pela sua constante exploração, principalmente no que se refere ao setor econômico para o país. A principal fonte de economia da Amazônia Legal tem sido a obtenção de energia a partir das construções de usinas hidrelétricas.
  • 34. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 34 A fronteira econômica avançou sobre a Amazônia Legal, região abrangida pela floresta amazônica, banhada pelas bacias hidrográficas do Tocantins-Araguaia e Amazônica (rio Xingu e Madeira), com a construção de gigantescas hidrelétricas, onde diversos hectares estão sendo destruídos pelos alagamentos das áreas de barragem. Além dos alagamentos, destaca-se também a alteração de modos de vida tradicionais em aldeias indígenas e comunidades ribeirinhas, e frequente necessidade de realojamento populacional das comunidades localizadas no entorno das obras. Alternativa correta: Letra C. Adaptado de: <http://veja.abril.com.br/educacao/enem-resolvido-2013/Q037.pdf> Acesso em: 19 mai. 2014. REFERÊNCIAS Espaço geográfico: sociedade transforma a natureza. Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/disciplinas/geografia/espaco-geografico-sociedade-transforma-a- natureza.htm> Acesso em: 14 de abr. 2014. Transformações no espaço geográfico. Disponível em: <http://www.mundoeducacao.com/geografia/transformacao-no-espaco-geografico.htm Acesso em: 15 de abr. 2014.> LUCCI, Elian Alabi. Espaço geográfico e urbanização. In: Território e sociedade no mundo globalizado: geografia geral e do Brasil: volume único. Org.: Elian Alabi Lucci, Anselmo Lazaro Branco, Cláudio Mendonça. São Paulo: Saraiva, 2010. SAQUET, Marcos Aurelio; DA SILVA, Sueli Santos. In: Milton Santos: concepções de geografia, espaço e território. Disponível em: <http://www.e- publicacoes.uerj.br/index.php/geouerj/article/viewFile/1389/1179> Acesso em: 19 mai. 2014. Conflito entre Rússia e Ucrânia. Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/bbc/2014/03/19/crise-na-crimeia-pode-reacender- conflitos-adormecidos-na-europa.htm> Acesso em: 15 de abr. 2014. Imagem 1 - “Autoridades negociam com os índios da aldeia Maracanã sobre a desocupação do prédio para a revitalização de um complexo esportivo”. Disponível em: < http://www.portalguaira.com/PG/wp-content/uploads/2013/03/indio2.jpg> Acesso em: 15 de abr. 2014. Imagem 2 - “Chuva ameaça 128 mil pessoas em moradias de ocupação irregular da área, em Manaus”. Disponível em: < http://acritica.uol.com.br/manaus/Chuva-ameaca-pessoas-risco- Manaus_0_1110488944.html> Acesso em: 15 de abr. 2014. Imagem 3 - “Vista panorâmica da cidade de São Paulo – SP, Brasil. Classificada pelo IBGE como uma das metrópoles globais”. Disponível em: <http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/tvmultimidia/imagens/geografia/4sao paulo.jpg> Acesso em: 15 de abr. 2014. Charge 1 - Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/_aJT3I8ICB- 8/TE_rvyZ5KzI/AAAAAAAAA9Q/4uYI3dIBAD4/s1600/charge-imigrantes.jpg> Acesso em: 19 mai. 2014. Charge 2 - Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/- Wmj689NYuyg/Tsht70wQpRI/AAAAAAAAAR4/Yg187IL-VKo/s1600/charge.gif> Acesso em: 19 mai. 2014.
  • 35. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 35 Imagem 4 – “Crise na Criméia: manifestantes pró-rússia formam uma barricada”. Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/bbc/2014/03/19/crise-na-crimeia-pode- reacender-conflitos-adormecidos-na-europa.htm> Acesso em: 15 de abr. 2014. Imagem 5 – “Usina Belo Monte, Xingu.” Disponível em: <http://veja.abril.com.br/assets/images/2013/1/122267/usina-belo-monte-20130124-0061- size-620.jpg?1359072664> Acesso em: 15 de abr. 2014. Imagem 6 - Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/_UxXEnLA9NJk/S_- z5EVWGKI/AAAAAAAAAqQ/dm9eEOzwifk/s1600/Charge+para+desmatamento.jpg> Acesso em: 19 mai. 2014. Música “É fogo!”, de Lenine - Disponível em: < http://letras.mus.br/lenine/e-fogo/> Acesso em: 19 mai. 2014.
  • 36. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 36 José dos Santos Costa Júnior(jose.junior010@gmail.com) Raquel Silva Maciel (quequelpb@hotmail.com) PARA COMEÇAR A HISTÓRIA OS PAPÉIS DA FAMÍLIA, DO ESTADO E DA IGREJA NO SÉCULO XXI Antes de nascermos já estamos submetidos a um conjunto de regras, conhecimentos e formas de interação social que se baseiam em valores específicos. Se nascermos em uma sociedade industrializada e com serviços de saúde ligados a hospitais, por exemplo, o nascimento será possível a partir de sujeitos como médicos, enfermeiras, anestesistas, dentre outros que atuam no espaço do hospital. Por outro lado, se nascemos em uma comunidade ou aldeia indígena, esse mesmo acontecimento (o nascimento) será envolvido nas crenças, rituais e práticas culturais desse grupo, assim, outros personagens poderão fazer parte da cena como o pajé e demais mulheres indígenas que auxiliarão na hora do parto. Esse é um exemplo simples de como a vida humana é, a todo o momento, construída a partir de valores, crenças, hábitos, conhecimentos e saberes. Imagem 02 - disponível em: http://www.ufo.com.br/blog/pedro decampos/30-crimes-contra-a- honra-na-internet. Acesso em 17 de abr. 2014. Imagem 03 - disponível em: https://www.10emtudo.com .br/artigo/religiao- islamica/. Acesso em 17 de abr. 2014. Imagem 01 - disponível em: http://sociologiamelhormateria.blog spot.com.br/2011/04/instituicoes- sociais.html. Acesso em 17 de abr. 2014. Competência de área 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes grupos, conflitos e movimentos sociais.
  • 37. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 37 Neste capítulo iremos tratar da competência de área 03. Ela nos estimula a pensar sobre como as instituições sociais foram produzidas ao longo do tempo. É objetivo dessa competência “[...] que o aluno compreenda a evolução do Estado e do Direito no tempo, sendo capaz de entender quando estão em sintonia com a vontade geral da população e quando funcionam para privilegiar determinados grupos de uma sociedade” (PRADO, 2011). Iremos focar no que propõe a habilidade número 13: analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder. Mas o que é uma instituição social? De acordo com o sociólogo Pérsio Santos de Oliveira, “o conjunto de regras e procedimentos padronizados socialmente, reconhecidos, aceitos e sancionados pela sociedade e que têm grande valor social é denominado instituições sociais” (OLIVEIRA, 2003, p.161). Mas você pode estar se perguntando agora, existem instituições sociais que afetam a minha vida hoje? E a resposta é: certamente sim. Três exemplos básicos de instituições sociais que podem exercer influência sobre a nossa vida são: a família, a igreja e o Estado. A família é o primeiro grupo social com o qual mantemos contato e a sua estrutura varia no tempo e no espaço, dependendo da sociedade e da época a que nos referimos. Sobre o seu formato, podemos dizer que a família pode ser monogâmica (quando o esposo e a esposa têm apenas um cônjuge) e poligâmica (quando o esposo e a esposa podem ter mais que um cônjuge). O casamento de uma mulher com dois ou mais esposos, como entre os esquimós, chama-se poliandria. Já quando ocorre o casamento de um homem com duas ou mais mulheres dá-se nome de poliginia, como entre os mórmons, os muçulmanos ou ainda algumas comunidades ou etnias africanas (OLIVEIRA, 2003, p. 163). A primeira das imagens que abrem este capítulo é a que retrata a família do seriado norte-americano Os Simpsons e ilustra o modelo de família conjugal ou nuclear. Esse modelo é composto por marido, esposa e filhos. Algumas religiões pregam que este seria o modelo de família que deveria compor a nossa sociedade, mas é fato que há muito tempo já existem outros formatos de família que podem ser monoparentais (quando apenas uma pessoa chefia a família e a sustenta economicamente) ou ainda composta por netos e avós, casais homossexuais femininos e
  • 38. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 38 masculinos, dentre outras combinações. Se você já assistiu as aventuras da família Simpsons lembre como essa família se comporta. Como é a relação dos pais (Homer e Marge) com os filhos e filhas (Barth, Lisa e Maggie)? Qual a condição socioeconômica dessa família? É interessante observar como em um mesmo seriado temos vários modelos de família que ilustram as que compõem a nossa sociedade. Além dos Simpsons temos os Flanders, família comandada por Ned Flanders Jr. que é viúvo e pai de dois filhos. Este é um exemplo de família monoparental, isto é, quando apenas um indivíduo é responsável legal pelos filhos. Ah, lembre ainda que essa família mantém uma relação com a igreja, instituição sobre a qual discutiremos adiante. Atenção! É importante atentar para o fato de que muitas televisões brasileiras exibem esse seriado como indicado para o público infantil, o que na verdade não é. Outra instituição da qual trataremos neste texto é o Estado: uma instituição social que historicamente foi sendo construída para regular a sociedade através de normas e formas de controle organizadas através da lei. Isso marca uma diferença em relação à igreja e à família, Imagem 04 - Família Flanders do seriado norte- americano Os Simpsons. Disponível em http://simpsonsworld.blogia.com/. Acesso em 19 de abr. 2014.
  • 39. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 39 pois embora elas também construam regras e busquem organizar a vida em sociedade, a primeira impõe dogmas e preceitos religiosos para seus seguidores e fiéis e a segunda coloca regras que irão atingir os membros da família e não necessariamente a sociedade como um todo. O Estado, assim, tem como uma das suas características a generalidade das suas formas de controle, isto é, elas buscam atingir toda a sociedade. Mas é preciso deixar clara ainda uma diferença importante entre Estado e governo. O Estado é uma estrutura abstrata que se constitui formalmente a partir das leis. Por exemplo, o Estado brasileiro se constitui hoje a partir da Constituição Federal, a lei maior que organiza a nossa sociedade, que foi promulgada em 1988. Mas a primeira Constituição do Estado brasileiro foi assinada por D. Pedro II em 1824. Segundo Pérsio Santos de Oliveira (2003), o Estado é composto de três elementos:  Território: refere-se ao espaço físico sobre o qual o Estado exerce suas leis;  População: que é composta pelos habitantes que vivem no território;  Governo: é um grupo de pessoas eleitas para exercerem o poder público através do momento em que assumem funções nos órgãos e instituições oficiais do Estado. E então leitor, notou a diferença? Pode-se dizer que o Estado não existe, pelo menos materialmente. Ele é abstrato e para que se torne efetivo e influencie na vida das pessoas é preciso que exista um governo, que é o grupo de pessoas que irá pôr em prática as leis e as formas de controle e proteção da sociedade. Na imagem 02, que abre este capítulo pode-se ver o símbolo da justiça, que está presente em Brasília, como representativa do poder judiciário brasileiro. Você sabe quantos e quais são os juízes que atuam no Supremo Tribunal Federal (STF)? Você sabia que essa é a maior instituição brasileira no que se refere à justiça? Cabe ao STF zelar o cumprimento da Constituição Federal. O Estado é composto pelos poderes executivo, judiciário e legislativo. A imagem 02 ilustra apenas um desses poderes, o judiciário. Pesquise sobre os demais e saiba como eles funcionam. Isso tem muita relação com os temas que essa competência deseja que o estudante conheça. Por fim, a última instituição que nos propomos a debater é a igreja: uma instituição social que, no Ocidente, corresponde a algo que é comum a todas as sociedades: a religião. No entanto, o filósofo Michel Foucault aponta que a única religião, no Ocidente, construída enquanto igreja foi o cristianismo. Por isso, consideremos o termo “igreja” aqui não na intenção de generalizar todas as religiões. Em todos os tempos os homens desenvolveram formas diferentes de religiosidade e contato com o sagrado. Para a antropóloga Ruth Benedict
  • 40. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 40 (apud OLIVEIRA, 2003) a religião é diferente de outros fenômenos sociais pelo fato de que outras instituições são fruto de uma necessidade muitas vezes física do ser humano, enquanto a religião não é fruto de uma necessidade desse tipo. Ao longo do tempo a religião vem passando por muitas transformações, principalmente após o Iluminismo que, no século XVIII, questionou as bases do pensamento teológico e quis pôr em evidência a razão, não mais a fé. Com isso a religião foi tendo sua influência nos espaços públicos de decisão cada vez mais reduzida e relegada ao ambiente privado. Certamente você já ouviu a expressão “Estado laico”. Ela significa que o Estado não deve professar nenhuma fé, pois em uma democracia todas as formas de credo devem ser respeitadas. Por isso é perigoso quando um grupo religioso deseja ocupar de forma predominante os espaços de decisão da política. Ao fazer isso muitas outras vozes estarão sendo caladas e, assim, onde vai parar a nossa democracia, na qual todas as vozes precisam ter espaço? Temos no Brasil um governo que é realmente laico? Todas as formas de religiosidade são respeitadas por esse Estado? Vale lembrar que, em alguns momentos históricos, o Brasil foi um país que professava a religião católica como oficial. Na Constituição de 1824, por exemplo, o artigo 5º afirmava o seguinte: “A Religião Catholica [sic] Apostolica [sic] Romana continuará a ser a Religião do Império. Todas as outras Religiões serão permitidas com seu culto domestico [sic], ou particular em casas para isso destinadas, sem fórma [sic] alguma exterior do Templo” (Constituição do Império, 1824). Na imagem 03 você pode perceber que há a representação de um indivíduo professando a fé islâmica. Ao falar sobre religião e igreja é importante pensar que existem várias formas crer e todas devem ser respeitadas. O islamismo tem crescido muito do século XX para cá. Mônica Muniz afirma que “com quase um bilhão e meio de adeptos espalhados pelo mundo, os muçulmanos representam perto de 25% da população mundial e não dá mais para dizer que eles não são uma realidade social, política e religiosa. Muito se fala sobre o Islam, mas pouco se sabe sobre ele”. Mas ao mesmo tempo em que o islamismo cresce pelo mundo, ainda são presentes muitos preconceitos em relação a essa religião e um exemplo disso é o fato de muitos a associarem com o terrorismo, a guerra do Oriente contra o Ocidente, os homens-bomba, etc. Busque saber mais sobre que religião é essa e não aceitar tudo o que os jornais ou outros meios de comunicação dizem. Fica a dica! A comunidade islâmica cresce no Brasil,
  • 41. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 41 um dos maiores países católicos do mundo, onde “[...] o Alcorão, livro sagrado do islã, atrai cada vez mais adeptos (OLIVEIRA, 2003, p. 172)”. Outra religião que também possui um contingente significativo de seguidores é o Protestantismo que em países como os Estados Unidos da América (EUA) é dominante e no Brasil vem a cada dia se expandindo. Um exemplo disso é a bancada representativa dos evangélicos no Congresso Nacional. Essa é uma questão problemática visto que muitas religiões como o candomblé, umbanda e outras não contam com essa representação política. Encontramos o mesmo problema na questão ambiental, pois a bancada dos ruralistas tem muito mais força dentro desse espaço de poder do que a Frente Parlamentar Ambientalista que, apesar de seu crescimento nos últimos anos, ainda encontra dificuldades na sua atuação. REFLEXÃO Os movimentos sociais hoje: a igreja, o Estado e a família sendo postos em questão Vamos ver agora como alguns movimentos têm exigido, ao longo do tempo, que a família, a igreja e, principalmente, o Estado mudem sua forma de lidar com as diferenças. Mas uma pergunta inicial é interessante tentar responder: o que é um movimento social? Historicamente várias manifestações questionaram o status quo das sociedades e provocaram transformações. As revoluções burguesas do século XVII foram importantes na construção do mundo contemporâneo, pautando princípios como liberdade, igualdade e fraternidade, tendo o capitalismo como sistema econômico e as liberdades individuais como pontos importantes. Imagem 05 – Occupy Wall Street. Disponível em: http://afinsophia.com/2012/11/p age/4/. Acesso em 18 de abr. 2014.
  • 42. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 42 A socióloga Maria da Glória Gohn aponta que um dos elementos que caracterizam os movimentos sociais é que eles são formas de renovação social e produzem saberes na medida em que atuam. Os movimentos sociais criam possibilidades de organização da população para buscar a realização de objetivos e a superação de certas necessidades vividas coletivamente. Na ação prática, os movimentos “variam de simples denúncias, passando pela pressão direta (mobilizações, marchas, concentrações, passeatas, distúrbios à ordem constituída, atos de desobediência civil, negociações etc.) até as pressões indiretas” (GOHN, 2011, p. 333). Atualmente a internet é um espaço de reinvindicação social e um meio eficaz na organização de mobilizações, passeatas e outras formas de pressão social. No Brasil, em junho de 2013, tivemos um exemplo da força da internet na divulgação e estímulo das pessoas para participarem das passeatas nas cidades. Outros momentos como o Occupy Wall Street e a Primavera Árabe também têm essa característica, retirando as pessoas “da segurança do ciberespaço”, pois “pessoas de todas as idades e condições passaram a ocupar o espaço público, em um encontro às cegas entre si e com o destino que desejam forjar, ao reivindicar seu direito de fazer história – sua história -, em uma manifestação da autoconsciência que sempre caracterizou os grandes movimentos sociais”. As redes sociais têm mostrado que são rápidas na disseminação de informações e na construção de uma nova forma de participação política. Se antes a urna era a máquina eletrônica usada para o exercício do voto como parte da experiência cidadã, hoje os computadores, tablet‟s, Iphone‟s, Ipod‟s, e celulares são muito usados para a cidadania virtual. Como isso pode influenciar as pessoas quando elas forem depositar seus votos na urna em outubro de 2014? Veja as três características de um movimento social: 1ª - ele tem uma „identidade”, pois é formado a partir de valores, conceitos e direitos com os quais se identifica e nos quais acredita; 2ª - tem um “opositor”, isto é, outro grupo social ou conjunto de ideias que são contrários ao que ele defende; 3ª – tem um projeto de vida e de sociedade e é para pôr em prática esse projeto que são realizadas diferentes ações. Vamos a um exemplo. O movimento comunista baseia-se na ideia de que os bens da sociedade não podem ser apropriados individualmente na obtenção de lucros, mas que devem ser socializados com toda a população. É com base nessa ideia que ele constrói a sua identidade. O comunismo tem o capitalismo como seu principal opositor, já que ele prioriza a manutenção da sociedade
  • 43. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 43 dividida em classes sociais e baseada no lucro, no qual quem trabalha não detém os meios de produção. Por exemplo, um funcionário de uma indústria não é dono dos materiais, equipamentos e recursos que usa para o seu trabalho. Ele apenas vende a sua força de trabalho em troca do salário que receberá no fim do mês. O comunismo é mais um movimento social dentro de muitos outros que existiram e existem hoje em dia. Um dos movimentos recentes que atraiu a atenção da mídia é o Occupy Wall Street, iniciado em 2011 na cidade de Nova York, nos Estados Unidos. Inspirado nas revoltas do Oriente Médio e nas acampadas do Movimento dos Indignados, na Espanha, é uma voz que tem criticado as consequências da crise financeira dos EUA que começou em 2008 (ARAÚJO, 2011, p. 01). Os manifestantes passaram a ocupar a Praça Zuccotti em 17 de setembro de 2011, situada em Wall Street, Manhattan, que é considerado o centro financeiro de Nova York. Um dos principais elementos que tem gerado análise sobre o movimento é que ele ganhou uma repercussão muito grande, ocorrendo em outras cidades dos EUA. Essa grande mobilização da população tem chamado a atenção porque os EUA, segundo Daniel Teixeira C. Araújo, não é um país com histórico de grandes mobilizações de massa, exceto no período da crise de 1929. Isso aponta que está ocorrendo uma grande crise institucional nessa nação, pois o Estado não tem sabido lidar com as consequências da crise financeira que vem desde 2008. Nesse momento, e em outros, o Estado, como representante dos interesses da maioria, é questionado e precisa dar uma resposta ao povo, demonstrando claramente como irá enfrentar essa situação tensa. Dentro desse contexto há ainda as várias manifestações sociais que surgiram a partir da chamada Revolução de Jasmin iniciada na Tunísia em 2010 e finalizada no ano de 2011 com a derrubada do ditador que governava aquele país. Essa desencadeou o processo conhecido como Primavera Árabe que se refere ao conjunto de manifestações sociais ocorridas em nações do Oriente Médio e da África, como o Marrocos e o Egito. Nesses “[...] a população foi às ruas para derrubar ditadores ou reivindicar melhores condições sociais de vida” (PENA, 2013). No Brasil os movimentos sociais têm uma longa história. Desde o período colonial que uma série de revoltas e motins aconteceu com a finalidade de questionar os privilégios da
  • 44. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 44 Coroa portuguesa. Aquele momento foi marcado por conflitos entre paulistas e emboabas (Minas Gerais), comerciantes e plantadores na Guerra dos Mascates (1710-1711), dentre outras situações de tensão. Uma diferença histórica importante é que na colônia havia um “motim” quando era rompido o acordo pelo aumento de impostos ou abuso de poder por parte das autoridades da época. Atualmente no Brasil ocorreram as chamadas “Jornadas de Junho”, em 2013, e levaram milhões de pessoas para as ruas, com o intuito inicial de protestar contra o aumento na passagem do transporte público em diferentes cidades. Posteriormente passaram a reivindicar melhores condições de educação, saúde e segurança pública, ficando claro que a luta não era “apenas por 20 centavos”. TEXTO DE APOIO Movimentos sem direção? Algumas das principais críticas que têm sido feitas tanto ao movimento Occupy Wall Street, nos EUA, quanto às Jornadas de Junho, no Brasil, refere-se ao fato de que estes movimentos não teriam um programa definido, ou seja, que eles não teriam um objetivo claro. No entanto é preciso que tenhamos cuidado com esse tipo de crítica se ela for feita no sentido de menosprezar as ações coletivas que têm ocorrido. Em relação ao movimento nos EUA, o filósofo esloveno Slavoj Zizek aponta que ele tem duas características importantes: a primeira delas é que ele demonstra o “descontentamento com o capitalismo enquanto sistema” e o segundo aspecto refere-se ao fato de que houve a percepção de que a “forma institucionalizada da democracia representativa multipartidária não é suficiente para combater os excessos capitalistas, isto é, a democracia precisa ser reinventada” (ZIZEK, 2012, p.92, grifos no original). Sobre o fato da manifestação não ter uma proposta firme Zizek comenta sobre a particularidade desse movimento que foi o fato dele mostrar que a linguagem do povo pareceu ser impotente para expressar as suas necessidades e vontades diante da imensa exploração a que a população vem sendo submetida historicamente. Nesse sentido, podemos pensar também sobre as manifestações de junho de 2013 no Brasil. Será mesmo que a manifestações foram sem sentido? Quem tem dito isso? Na verdade, como diz Zizek, os manifestantes não
  • 45. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 45 entraram no jogo da retórica política, ou seja, no jogo de negociação. Negociar, nesse sentido, seria entrar no jogo de quem tem o poder político e possivelmente iria (e irá) fazer de tudo para abafar o movimento. Estes movimentos estão acontecendo ainda, seus efeitos estão sendo construídos no tempo presente e cabe a cada um de nós ficarmos atentos para eles e compreender a sua lógica. É bom não comparar os movimentos de hoje com os do passado, buscando neles o que lhes pode faltar. Vamos ver, ao contrário, o que estes movimentos têm de novo? Um exemplo interessante de movimento social que atua contra a globalização econômica e que vem usando as redes sociais como forma de divulgação de suas ideias e para fazer com que pessoas se associem aos seus projetos é o dos zapatistas, no México. De acordo com o sociólogo Manuel Castells os zapatistas são, basicamente, “camponeses, a maioria índios tzeltales, tzotziles e choles, em geral oriundos das comunidades estabelecidas desde a década de 40 na floresta tropical de Lacandon, na fronteira com a Guatemala” (CASTELLS, 1999, p. 98, grifos no original). Imagem 06 – Disponível em http://txiapas.wordpress.com/2012/07/29/eco-mundial-en- apoyo-a-ls-zapatistas-justicia-y-libertad-para-san-marcos- aviles-y-francisco-santiz-lopez/. Acesso em 20 de abr. de 2014.
  • 46. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 46 O Exército Zapatista de Libertação Nacional é considerado a primeira guerrilha informacional, pois usa a internet para denunciar e combater a exploração econômica e política. A imagem 07 evidencia que há uma rede mundial de apoio aos zapatistas. Qualquer indivíduo pode aderir à sua causa através da internet e fortalecer a rede de apoio e solidariedade. É bom lembrar... A competência de área 03 espera que o estudante compreenda não apenas os movimentos atuais e como eles têm provocado mudanças nas instituições, mas também que pense isso ao longo do tempo. Dessa forma, é importante lembrar que durante o período imperial houve a efervescência de inúmeros movimentos sociais que se caracterizavam de diferentes formas. Alguns se referiam apenas a conspirações que não se efetivaram na prática, outros foram desencadeados por diferentes motivos sejam eles de cunho econômico, político, religioso ou social. Entre esses movimentos podemos citar a Revolução Praieira (1848-1849) ocorrida na província de Pernambuco envolvendo no conflito dois grupos políticos com diferentes interesses: os liberais e os conservadores. A Revolução Farroupilha (1835-1845) ocorrida na província de São Pedro do Rio Grande do Sul que tinha no início um caráter elitista, já Imagem 07- Revolução Praieira. Disponível em: http://www.brasilescola.com/historiab/revolucao-praieira.htm. Acesso em 20 de abr. 2014.
  • 47. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 47 que envolvia uma disputa entre os caramurus e os chimangos, mas que posteriormente envolveu algumas camadas populares. Cabanagem (1835-1840) foi outro movimento que envolveu cabanos, negros, tapuios e índios que protestavam contra a situação na qual a província de Grão-Pará estava inserida naquele período marcada pela fome e proliferação de doenças. Grande parte dos envolvidos foi morta, estima-se que cerca de 30 a 40% da população de 100 mil habitantes do Grão-Pará tenha morrido nesse conflito. A Sabinada (1837-1838), ocorrida na província da Bahia, envolveu sujeitos pertencentes a camadas médias de comerciantes, militares e outros que criticavam os privilégios concedidos aos portugueses sendo esses aqueles que controlovam grande parte das atividades comerciais e assumiam deliberadamente cargos públicos. Os movimentos sociais ocorridos ao longo do período imperial evidenciam o quanto essas manifestações se diferenciam, apesar de serem unidas pelo sentimento de insatisfação, no tocante aos sujeitos envolvidos, nos resultados obtidos e nas suas reinvindiações. Diversidade que existe dentro de um mesmo movimento, como exemplo disso podemos citar o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). Esse movimento surgiu na Imagem 08- Cabanos invadindo e ocupando a cidade de Belém. Disponível em: http://www.suapesquisa.com/historiadobrasil/cabanagem.htm. Acesso em 20 de abr. 2014.
  • 48. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 48 década de 1980 a partir das Ligas Camponesas que tiveram seu auge de atuação entre os anos de 1950 a 1960. É um movimento de diferentes facetas, atuando em diversas regiões a partir das demandas regionais. No caso de grande parte dos estados do Norte do país esse movimento reinvindica questões acerca das terras desmatadas pela expansão no cultivo de soja; em outros estados, como São Paulo, refere-se à grilagem de terras por parte de multinacionais; há ainda campanhas como a intitulada Fechar escola é crime! que afirma ter o objetivo de “[...] defender que a educação pública que seja um direito de todos os trabalhadores. Para que isso se concretize, é importante mobilizar comunidades, movimentos sociais, sindicatos, enfim toda a sociedade para se indignar quando uma escola for fechada e lutar para mudar esta realidade.” (Movimento dos trabalhadores rurais sem terra. Disponível em http://www.mst.org.br / Acesso em 20 de abr. 2014.) e a que busca investigar possíveis crimes de racismo e homofobia cometidos pela bancada ruralista em relação a indígenas e quilombolas. Além disso, há em alguns espaços a associação desse movimento com entidades políticas como fica evidente na CPMI instaurada em 2009 para investigação de repasses de recursos públicos a líderes desse movimento. Vale lembrar que, assim como esse movimento temos outros que também se associavam e se associam a entidades políticas. Mas há também outros movimentos que aconteceram ao longo da história do Brasil. No começo do século XX, por exemplo, aconteceu um movimento conhecido como Revolta da Vacina, em 1904. Essa revolta consistiu na resistência da população ao modo violento como o governo quis colocar em prática a sua política de higiene e saúde pública dirigida por Oswaldo Cruz. Lembremos que naquela a época o Rio de Janeiro enfrentava epidemias de peste bubônica, febre amarela e varíola. A resistência da população aconteceu motivada por uma questão moral. Para José Murilo de Carvalho, naquele momento, o Estado passava a querer dominar e atuar sobre os corpos das pessoas e como até aquele momento cabia ao pai, chefe de família, ordenar como os corpos de seus familiares deveriam ser medicados e higienizados, a resistência aconteceu porque foi como se o Estado estivesse intervindo em uma coisa que não
  • 49. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 49 seria da sua alçada (CARVALHO, 2005). Isso demonstra algo que a competência 03 e a habilidade 13, especificamente, propõem para pensarmos: a relação de choque e tensão entre duas instituições sociais: o Estado e a família, por exemplo. Pesquise sobre esse movimento e outros, como a Revolta da Chibata, Guerra de Canudos que marcaram o período inicial da República. Na República Nova temos a eclosão do movimento militar em 1964 que, através de um golpe, depôs o então presidente da República, João Goulart, e assumiu o poder. É interessante refletir que o golpe empreendido em 1964, contou com o apoio, além de setores militares, de outros segmentos da sociedade, como alguns jornalistas e integrantes dos partidos, UDN (União Democrática Nacional) e PSD (Partido Social Democrático), incluindo também setores de órgãos da mídia. Por isso o golpe não foi apenas militar, mas também civil. Assim, “[...] pode-se dizer que a sociedade civil, como um todo, posicionou-se totalmente favorável ao golpe militar de 64, apoiando e aplaudindo os líderes do movimento, considerados os restauradores da ordem, os guardiãs da democracia” (CITADINO, 1998, p. 162). Temos, portanto, uma associação positiva da imagem das forças armadas que tomaram o poder através do golpe. Essas são vislumbradas como as restauradoras da ordem, que a nação estaria sendo redemocratizada e afastada do “perigo vermelho”. Essa aceitação por grupos sociais aparece nas “Marchas da Família com Deus Pela Liberdade” nos anos 70 e 80 e envolveram os conservadores, apoiados por setores da igreja católica que assim como fizeram durante o Estado Novo, apoiaram um regime autoritário naquele primeiro momento. Manifestação essa que atualmente, 50 anos após a deflagração do golpe, alguns indivíduos têm tentado retomar, acreditando que uma volta ao sistema ditatorial seria a solução para os atuais problemas do país.
  • 50. CADERNOS DIDÁTICOS PET HISTÓRIA UFCG - Ciências Humanas e suas tecnologias: novas sensibilidades para pensar o ensino de História. Ano I- Volume I – Nº 2. Jul./dez. 2014. ISSN 2358-4971 | 50 Imagem 10 – Marcha da família em Recife reúne seis pessoas. Disponível em: http://www.portalafricas.com.br/marcha-da-familia-reune-6-pessoas-em- recife/#.U1PRuRtOXIU. Acesso em 20 de abr. 2014. Porém tal movimento é desacreditado e duramente criticado, haja vista o fato de ser é fundado em uma concepção que evidencia o desconhecimento do passado histórico de nosso país e tantos outros que foram duramente afetados por todos os males que um sistema ditatorial traz para uma sociedade, mas deve se salientar que tal movimento é alarmante visto que tudo “(...) que visa interromper o processo democrático é nocivo. Os movimentos totalitários do século XX na Europa começaram com centenas de pessoas e terminaram com milhões nas ruas” (FARAH, 2014). Imagem 09 – Disponível em: http://www.pragmatismopolitico.com.br/2014/03/marcha-da- familia-2014-vira-motivo-de-piadas-nas-redes-sociais.html. Acesso em 20 de abr. 2014.