O documento descreve um assassinato ocorrido em frente a uma loja de vidros de carros em São José. Um homem foi morto com sete tiros na cabeça por motociclistas. As notícias no dois jornais fornecem detalhes sobre o crime e a investigação policial apontando para acerto de contas.
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Notícia um produto á venda
1. UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA
CRISTINA ESTEFANO
NOTICÍA:
UM PRODUTO À VENDA
PALHOÇA
2010
2. NOTÍCIA: UM PRODUTO Á VENDA
Morto com sete tiros na cabeça
Bianca Backes
O movimento era intenso ontem, por volta das 15h30min, na Avenida Leoberto Leal, em
Barreiros, São José, quando um homem foi assassinado com sete tiros na cabeça em
frente à Casa do Para-brisas.
Anderson Leandro Rodriguês, 25 anos, que havia chegado ao local a menos de 30 minutos, foi
o alvo dos disparos. Ele ainda foi socorrido por uma ambulância dos bombeiros, mas morreu a
caminho do hospital.
As câmeras de vigilância da loja registraram o crime. Anderson chegou em um Palio Weekend
para trocar dois vidros laterais do carro, que estavam quebrados. Ele estacionou o veículo,
saiu, atravessou a rua comprar cigarros em uma mercearia, voltou e se encostou em um muro.
Depois de a vítima acender o cigarro, uma moto com dois jovens estacionou a poucos metros
dos três clientes. O caroneiro, que estava de capacete rosa, usava bermuda estilo surfista
clara, floreada, e uma camiseta escura, desceu do veículo e caminhou na direção de Anderson.
Quando chegou na frente da vítima, o jovem sacou uma pistola, encostou na cabeça de
Anderson e acionou o gatilho pela primeira vez. Anderson caiu, mas o assassino disparou
outras seis vezes. Depois, correu em direção à moto e fugiu na garupa.
O assassinato ocorreu no pátio da mesma loja cujo dono foi morto durante uma tentativa de
assalto, em março. Anderson estava com a prisão decretada pela Justiça, pois recentemente
foi condenado por um homicídio, cometido em 2005. A PM acredita que a execução possa ter
sido uma vingança de amigos da pessoa morta por Anderson.
Notícia publicada no jornal Diário Catarinense, na edição de sábado, 13 de novembro de
2010 – ano 25 – N° 8967.
Homem é assassinado com sete tiros na cabeça
São José – Um homem foi morto em São José, na tarde desta sexta-feira(12/11), com sete
tiros na cabeça. Anderson Leandro Rodriguês, o Binho, chegou a ser retirado do local com
vida, mas morreu no caminho para o hospital. Anderson aguardava a colocação dos vidros de
um Palio, em uma loja de Barreiros, quando o crime aconteceu, às 15h45min. Populares
ficaram assustados com a brutalidade do crime. Segundo testemunhas, a vítima estava
fumando na frente da loja quando foi surpreendido pelas costas por um homem que chegou de
motocicleta e atirou contra Anderson. O assassino teria fugido numa Yamaha Fazer preta,
usando um capacete rosa.
A polícia suspeita de que o homicídio seria resultado de um acerto de contas, pois a violência
do crime leva a crer que foi uma execução e não um assalto, já que nada foi levado. A vítima já
tinha passagens pela polícia e um mandato de prisão em aberto.
Notícia publicada no jornal Notícias do Dia, na edição sábado, 13 e 14 de novembro de
2010 – ano 5 – N° 1460.
3. As duas notícias se referem ao mesmo assunto, um homem foi
assassinado com sete tiros na cabeça em frente á uma casa de pára-brisas,
em Barreiros, São José. O motivo segundo investigações da polícia seria um
acerto de contas. Um crime que teve destaque até nos telejornais, pois
aconteceu em uma das avenidas mais movimentadas da cidade, na frente de
várias pessoas que transitavam no local.
Comparando as notícias, podemos observar que a matéria publicada
pelo jornal Diário Catarinense, ofereceu mais detalhes ao leitor, informando a
loja onde o crime aconteceu e as características das roupas usadas pelo
atirador. A reportagem foi escrita em um canto do jornal em meio à outras
notícias de polícia. Já o jornal Notícias do Dia publicou uma notícia mais
resumida, deixado de fora alguns detalhes, mas em compensação ganhou
lugar de destaque na página de segurança, contando até com foto do local do
crime.
A decisão de publicar algo ou não depende principalmente dos
acertos e pareceres dos profissionais, que estão subordinados a uma cultura
de trabalho ou uma política empresarial e aos critérios de noticiabilidade. Antes
de serem publicadas, as notícias passam por Gates, isto é, “portões” que não
nada mais são do que áreas de decisão em relação às quais o jornalista, isto é
o Gatekeeper, tem de se decidir se vai escolher essa notícia ou não. Se a
notícia for aprovada ela acaba passando pelo “portão”; se não for, a sua
progressão é impedida, o que na prática significa sua morte. Segundo David
Manning White, muitas notícias têm interesses, mas são rejeitadas porque o
espaço no jornal tem um valor superior. As pesquisas de White se basearam
na atividade de um jornalista de meia-idade num jornal médio norte-americano,
Mr. Gate, que anotou durante uma semana os motivos que o levaram a rejeitar
as notícias que não usou. Segundo Herbert Gans as notícias passam por uma
seleção que é composta por dois processos, no primeiro os jornalistas realizam
“julgamentos de disponibilidade” durante o processo de capacitação de
informações que constituirão a notícia e no segundo, os jornalistas
desenvolvem “julgamentos de adequabilidade” dos conteúdos às expectativas
e preferências dos leitores. Esses profissionais, chamados de “Gatekeepers”
atuam como “guardiões” que permitem ou não que as notícias “passem pelo
portão”, ou melhor, que ela seja veiculada pela mídia.
4. A Teoria do Gatekeeper avança igualmente uma concepção bem
limitada do trabalho jornalístico, sendo uma teoria que se baseia no conceito de
seleção, minimizando outras dimensões importantes do processo de produção
das notícias:
“É somente quando utilizamos as razões apresentadas
por “Mr. Gate” para a rejeição de quase nove décimos de
notícias que começamos a compreender como a
comunicação de notícias é extremamente subjetiva e
dependente de juízos de valor baseados na experiência,
atitudes e expectativas do gatekeeper. Nesse caso
particular, os 56 enunciados apresentados podem ser
divididos em duas categorias principais: 1) rejeição do
incidente devido à sua pouca importância, e 2) seleção a
partir de muitos relatos sobre o mesmo acontecimento.”
(WHITE, 1950/1993)
Porque as notícias que lemos nos jornais são essas e não outras?
Escolher entre todos os acontecimentos, fatos e pessoas que merecem ser
transformados em notícias, e fazer isso de modo ágil, levando em conta
também as condições técnicas, a política editorial e a periodicidade e
características do veículo onde se atual é o papel do jornalista. O profissional
precisa ter “faro” para a notícia, sentidos aguçados para detectar aquilo que
interessa ou não para o público. Conhecer os atributos dos fatos noticiáveis e a
aplicação destes no jornal, internet, televisão ou no rádio é uma forma de
treinar o “faro” para a notícia. O conhecimento acerca dos critérios de
noticiabilidade fornece ao profissional da imprensa um conhecimento que pode
dar-lhe as habilidades de que tanto necessita para o exercício da profissão. Da
mesma forma, os critérios de noticiabilidade auxiliam o repórter a ter
simplicidade de raciocínio e evitam incertezas excessivas quanto à escolha do
que deve ou não ser publicado. Os critérios de noticiabilidade estão divididos
em três categorias: 1) origem dos fatos: seleção dos fatos por meio dos valores
notícias, reconhecidos pelos profissionais e veículos de comunicação. Nessa
instância, tem lugar também as discussões sobre outros atributos da
noticiabilidade como conflito, notoriedade, curiosidade, dramaticidade/emoção,
suspense, tragédia, proximidade, conseqüências, etc; 2) tratamento dos fatos:
centrando-se na seleção hierárquica dos fatos, nos valores-notícia, formato do
5. produto, qualidade do material jornalístico apurado (texto e imagem), prazo de
fechamento (deadline), etc; 3) na visão dos fatos: a partir de fundamentos
éticos e filosóficos do jornalismo, compreendendo conceitos de verdade,
objetividade, interesse público e imparcialidade (que orientam as ações ou
eixos anteriores). É preciso lembrar que os critérios de noticiabilidade mudam
com o tempo, acompanhando as mudanças na sociedade. O que foi notícia no
passado pode não o ser hoje, e vice-versa. Em 1690, naquela que seria a
primeira tese de doutoramento em jornalismo, Tobias Peucer apresenta sua
lista de fatos que devem e os que não devem ser noticiados. Muito próximo dos
dias atuais, Peucer elenca critérios que vão desde as obras da natureza até
notícias de guerra. Porém, aconselha não divulgar "aquelas coisas dos
príncipes que não querem que sejam divulgadas", pelo menos até a morte
destes.
A noticiabilidade é constituída pelo conjunto de requisitos que se
exigem de acontecimentos para adquirirem a existência pública das notícias.
Tudo que não corresponde á esses requisitos é “excluído”, por não ser
adequado às rotinas e aos cânones da cultura profissional. Não adquirido o
estatuto de notícia, permanece simplesmente um acontecimento que se perde
entre a “matéria-prima” que o órgão de informação não consegue transformar e
que, por conseguinte, não irá fazer parte dos conhecimentos do mundo
adquiridos pelo público através das comunicações em massa. Ou seja, quanto
maior o grau de noticiabilidade do fato, maior será sua capacidade de tornar-se
notícia ou não.
As notícias são a matéria-prima do jornalismo, pois somente depois
de conhecidas ou divulgadas é que os assuntos aos quais se referem podem
ser comentados, interpretados e pesquisados. A notícia pode ser entendida
como resultado do processo produtivo de informações, tendo natureza
semelhante à da informação, implicando veracidade, objetividade, honestidade,
exatidão e credibilidade. Nesse sentido, o jornalismo seria a apuração, seleção
e organização de informações transformadas em notícia num processo
recheado de critérios e procedimentos padrão. Assim a notícia contém
informação. Por outro lado nem toda informação pode ser notícia. A notícia é
pensada para um público que poderá utilizá-la para tomar decisões e se inserir
6. na vida social. Inteirar-se sobre o que se passa no mundo é hoje uma
obrigatoriedade. Uma boa notícia também rende um jornalismo sintonizado
com os interesses do público e apoiado num conjunto de valores positivos.
“Notícias são artefatos lingüísticos que procuram
representar determinados aspectos da realidade e que
resultam de um processo de construção e de fabricação
onde interagem, entre outros, diversos fatores da
natureza pessoal, social, ideológica, cultural, histórica e
do meio físico/tecnológico, que são difundidos pelos
meios jornalísticos e aportam novidades com sentido
compreensível num determinado momento histórico e
num determinado meio sociocultural (ou seja, num
determinado contexto), embora a atribuição última de
sentido dependa do consumidor da notícia.”
(SOUSA, 2002)
O que escapa muitas vezes a um jornalista iniciante é a notabilidade
dos fatos, conceito explicitado por Nelson Traquina. De acordo com o autor
português, só é transformado em notícia aquilo que é tangível, ou seja, uma
greve é algo tangível, enquanto a insatisfação do trabalhador, seu
relacionamento com a chefia, é algo intangível. Assim, a notícia foca-se no fato,
e não em uma problemática. Também se pode entender a notabilidade pela
quantidade de pessoas envolvidas, a falha, o excesso, a escassez e a
inversão.
As notícias representam a surpresa, o novo, o interessante, o que
vale a pena comunicar, é improvável que venham a acontecer todos os dias,
mas os meios de comunicação, especialmente o jornalismo, criaram o hábito
das informações diárias – aqui se coloca a questão temporal como um dos
pilares do trabalho jornalístico. Luhmann lista uma série de fatores que
identificam, nos acontecimentos, o caráter da notícia: novidade,
excepcionalidade, quantidade (números maiores), contravenção, valor moral,
personagens, possibilidade da fotografia. A informação deve conter uma cota
de surpresa e ser inteligível. Os critérios de seleção das notícias, em seu
conjunto devem ser entendidos como garantidores da liberdade dos meios de
comunicação de massa. Nos seletores “contravenção” e “valor moral” estão
7. incluídas notícias de escândalos, falcatruas, posições politicamente incorretas
e outras que causem indignação no público e reforcem as normas sociais.
Os valores-notícias operam, na prática, de maneira complementar e
atuam ao longo do processo de produção jornalística, figurando não apenas no
momento da seleção das notícias, mas também nas operações posteriores, de
forma diferente. Os valores-notícias não seguem um rigor de classificação
abstrata, coerente e organizada, mas resultam de uma tipificação que tem
objetivos práticos, de tornar possível a repetição de certos procedimentos. Wolf
complementa que os valores-notícia, embora revelem uma forte
homogeneidade no interior da cultura profissional, mudam ao longo do tempo,
incorporando novos componentes como parte do processo de avaliação.
“Os valores-notícia derivam de pressupostos implícitos
ou de considerações relativas: a) às características
substantivas das notícias; ao seu conteúdo; b) à
disponibilidade do material e aos seus critérios relativos
ao produto informativo; c) ao público; d) à concorrência.”
(WOLF, 1995)
O primeiro conjunto de valores-notícia, de caráter substantivo, está
relacionado ao acontecimento que se transformará em notícia. E se divide
basicamente em dois fatores: importância e interesse. Associado ao critério de
impacto sobre os interesses nacionais está o valo-notícia proximidade, tanto
geográfica quanto cultural. A quantidade de pessoas que o acontecimento
envolve ou afeta é outro valor-notícia sempre citado. Na fala do profissional é
possível também encontrar o próximo valor-notícia: relevância e
significatividade do acontecimento quanto à evolução futura de uma
determinada situação.
Entre os valores-notícia ligados ao produto, Wolf cita a
disponibilidade de materiais e as características específicas do produto
informativo. Assim a disponibilidade se refere ao acesso e às possibilidades
técnicas de cobertura do fato. Há também a negatividade que não é vista
apenas como valor-notícia, mas como um elemento integrante do
profissionalismo dos jornalistas. As notícias tendem a enfatizar conflitos,
desentendimentos e batalhas. Outro valor-notícia relativo ao produto
8. informativo é a atualidade, intimamente relacionada à periodicidade do veículo.
Os dois últimos valores-notícia do produto são a qualidade da história,
entendida mais como composição textual onde entram os aspectos de ação,
ritmo, clareza da linguagem e o fato de terem sido ouvidos os vários lados do
acontecimento, e o equilíbrio, definido como balanço entre os vários assuntos
que podem compor um produto informativo de forma a despertar interesse em
diferentes fatias do público. Os valores-notícia são mutáveis e
interdependentes, mas seu conhecimento é essencial para a atividade diária do
jornalismo.
As notícias apresentadas no texto foram publicadas porque de certa
maneira atingiram todos os critérios de seleção. Ganhou destaque como muitas
outras notícias que estampam diariamente as páginas policiais, são essas
notícias as que mais atraem a atenção do leitor. Ou seja, notícias ruins são
boas notícias, ou o equivalente: notícia boa não vende jornal.
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Oliveira Filha, Elza Aparecida de. Olhares sobre uma cobertura: a eleição de
2002 para o governo do Paraná em três jornais locais. Curitiba: Pós-Escrito,
2007.
Wolf, Mauro. Teorias da comunicação em massa. 2° Ed – São Paulo: Martins
Fontes, 2005.
Wolf, Mauro. Teorias da comunicação. Barcarena: Editorial Presença.
Traquina, Nelson. O Estudo do Jornalismo no século XX. São Leopoldo –
Editora Unisinos, 2001.
Medina, Cremilda. Símbolos e Narrativas: rodízio 97 na cobertura jornalística.
São Paulo: Secretaria do Meio Ambiente, 1998.