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A tragédia da boate de Santa Maria
Entrevista concedida para a Revista da Editora Roncarati (https://www.editoraroncarati.com.br/v2/Table/HOMEArtigos/Artigos/)

Antonio Fernando Navarro.1

Repórter: A que o senhor, como professor de cursos de formação de engenheiros de segurança do
trabalho há mais de 30 anos atribui o desastre que se abateu sobre a população Gaúcha de Santa
Maria?
Antonio Fernando Navarro: No momento informar o que causou a tragédia, que ceifou mais de
duas centenas de jovens estudantes, que fariam parte do nosso futuro, pode ser prematuro.
Não temos as informações técnicas suficientes e os especialistas estão coletando os dados
necessários, principalmente aqueles relativos à polícia civil, que irá ser importante na apuração
das responsabilidades civis.
Todavia, pelo que se lê nos jornais e se vê nos noticiários das televisões, pode se afirmar que essa,
assim como todas as outras que ocorreram em ambientes semelhantes e em várias partes do
mundo, foi uma tragédia pré-anunciada.
Repórter: Por que o senhor afirma ser uma tragédia pré-anunciada?
Antonio Fernando Navarro: Em primeiro lugar, baseando-nos em declaração de um coronel
bombeiro do Rio Grande do Sul, o local tinha menos do que 700 m2 e, conforme algumas pessoas
relataram deveriam estar no local cerca de 1.500 pessoas. Para um ambiente com 700 m2, que
poderia comportar com segurança até 400 pessoas, uma porta com a largura da apresentada nos
noticiários (da ordem de 140 cm) poderia ser suficiente.
O excesso de pessoas, a precariedade dos materiais empregados na decoração, alguns altamente
combustíveis, a falta de uma correta sinalização e outras questões mais de caráter normativo, já
seriam suficientes para se afirmar que o risco era iminente.
Repórter: Qual deveria ser o procedimento de evacuação do local naquelas circunstâncias?
Antonio Fernando Navarro: Uma discoteca é um local normalmente escuro, com iluminação
direcionada. Na hora do show, muitos estavam prestando atenção à banda que se apresentava,

1

Antonio Fernando de Araújo Navarro Pereira, Físico, Matemático, Engenheiro Civil, Engenheiro de Segurança do
Trabalho, Especialista em Gestão de Riscos, Mestre em Saúde e Meio Ambiente pela Universidade da Região de
Joinville – UNIVILLE, professor da Universidade Federal Fluminense.
outros conversavam e o restante circulava pelo local. Na hora que um incêndio começa, atingindo
materiais combustíveis que liberam fumaça tóxica, pega a todos de surpresa. A bebida deixa as
pessoas com as reações mais lentas. A fumaça tira a visão plena do local. A iluminação que não é
geral dificulta os deslocamentos.
Associando-se a surpresa com a baixa visibilidade devido à fumaça e à iluminação local de um
ambiente com cores escuras nas paredes, a desocupação ideal seria aquela onde funcionários da
discoteca, atuando como brigadistas e com lanternas nas mãos poderiam direcionar as pessoas
para a porta, que teria que estar plenamente aberta. O pânico que muitas pessoas passam a ter
nesses momentos faz com que suas reações sejam imprevisíveis. Os funcionários da discoteca
deveriam estar preparados para isso.
Repórter: O senhor acha que casos como esse podem se repetir?
Antonio Fernando Navarro: Certamente, já que existem em nosso País centenas de
estabelecimentos iguais ao de Santa Maria. Normalmente são locais de médio porte, praticamente
sem janelas, pintados internamente com tintas de cores escuras, com o emprego de madeira
como elementos decorativos e outros materiais facilmente afetados pelo fogo. Nesses locais um
dos quesitos menos importantes para os frequentadores e mesmo para os proprietários é para
com as questões de segurança. Por exemplo, cita-se a ausência de hidrantes no local. Como esse
equipamento seria operado em um momento como aquele, no qual não havia nem espaço físico
para se desenrolar as mangueiras e nem conectá-las? Fala-se que não havia sprinklers. O
dispositivo é eficaz quando a sensibilidade do elemento sensor, o bulbo de vidro, absorve o calor
vindo de baixo. Se o incêndio se propaga pelo forro ou entre forro o sistema não é eficaz. Fala-se
também da falta de extintores. Daquelas quase 1.500 pessoas quantas teriam algum tipo de
treinamento para apagar os princípios de incêndio usando os extintores? Como esses heróis iriam
se deslocar com o ambiente lotado, com mais de 4 pessoas por m2?
Repórter: Então, em sua opinião nada então seria adequado?
Antonio Fernando Navarro: Não disse isso. Todo o dispositivo de combate a incêndios ou a
princípios de incêndios não é adequado se não for empregado por pessoas que não tenham a
capacitação necessária. Para que sejam adequados os proprietários deveriam ter funcionários que
seriam os brigadistas nessas ocasiões. O item mais importante seria o emprego de sensores de
fumaça, conectados a portas automáticas, onde, com o incremento da fumaça as portas seriam
abertas imediatamente e também entrariam em ação exaustores de fumaça.
Repórter: Como o senhor avalia essa tragédia em um momento em que o País se prepara para
receber delegações de todas as partes do mundo para eventos esportivos?
Antonio Fernando Navarro: Vejo-a com uma enorme preocupação. Não podemos afirmar hoje
que tenhamos local onde poderão ficar centenas ou milhares de pessoas 100% seguros. Quando
digo isso acrescento os hotéis e pousadas, centros de eventos, teatros, escolas, igrejas, ambientes
universitários, estádios de futebol, ginásios desportivos, entre tantos outros locais.
As normas de segurança em vigor apresentam sempre as exigências mínimas. Se as larguras dos
corredores devem ser de no mínimo 120 centímetros por que não podemos estabelecer larguras
maiores? Por que as fileiras de poltronas dos cinemas e teatros têm que ser longas com vinte ou
trinta cadeiras? Por que não podem ser menores, com oito cadeiras, e com corredores entre essas
filas. Por que não pode ser obrigatório que existam pelo menos duas saídas, com no mínimo 120
cm de largura para todo e qualquer local que abrigue 300 ou mais pessoas? Por que não se
obrigam os locais a terem luzes de emergência com faroletes que direcionem a população para as
rotas de saída?
Já tive a oportunidade de inspecionar em hotéis de luxo caixa de hidrantes sem mangueiras, rede
de sprinklers (chuveiros automáticos contra incêndio) sem água, ou seja, sem pressurização,
detectores de calor ou de fumaça com os painéis de alarme desligados. Também já tive a
oportunidade de ver extintores com danos provocados pelos próprios usuários do local, como por
exemplo, inserindo palitos nas saídas das mangueiras de extintores de água-gás.
Quando fomos inspecionar o local onde seria montado o primeiro Rock in Rio, na década de 80,
nossa preocupação ia além, incluindo a substituição dos espelhos dos banheiros, de vidros por
finas lâminas plásticas coladas nas paredes, de modo que os expectadores, em brigas não
quebrassem os vidros e cortassem pessoas, da mesma maneira que nos preocupávamos com o
estado geral das instalações elétricas, não somente as que ficavam nas torres de andaimes com as
caixas de som e os projetores de luz. Naquele local foram instalados três chafarizes, com bacias ao
redor. Nossa preocupação se voltou também para a altura que as muretas de contenção de água
deveriam ter de modo que uma pessoa bêbada que caísse em seu interior não se afogasse.
Repórter: Quais as propostas que o senhor apresentaria aos governantes nesse momento, para
evitar as novas tragédias?
Antonio Fernando Navarro: Complementarmente ao que dissemos a essa Revista, urge que os
nossos dirigentes tomem algumas medidas técnico-políticas que podem minorar a situação de
fragilidade a que nos encontramos expostos, assim como sejam implementadas medidas de
segurança simples mais necessárias, como a seguir:
1. O País deve ter uma única norma de segurança contra incêndios de deva ser obrigatória
para os mais de 5.600 municípios brasileiros, ou seja, os corpos de bombeiros militares de
todos os estados devem consensar um só padrão de segurança, que seja eficiente. De
norte a sul do País, daqui para a frente, quem quiser ter uma casa de shows deverá
obedecer às mesmas regras. Há normas muito boas que podem ser aprimoradas. Assim,
não se deve ignorar todo o conhecimento já adquirido. O Governo deve associar a essas
comissões que irão compilar e unificar as normas representantes dos Corpos de
Bombeiros, CREAS e Clubes de Engenharia, e convidar representantes de Universidades.
Assim, poder-se-á associar o saber, à técnica e ao conhecimento das ações.
2. Enquanto as normas de segurança não são implantadas e implementadas, os corpos de
bombeiros e as prefeituras devem intensificar a fiscalização desses ambientes, não com
uma fiscalização protocolar, mas sim com uma fiscalização técnica, com visitas in loco, e
com o poder de interditar os estabelecimentos se houver o descumprimento das normas.
3. Os estabelecimentos, começando com aqueles com capacidade de receber mais de 1.500
pessoas deverão se adequar às normas de segurança de imediato. Os requisitos das
normas serão repassados pelos Corpos de Bombeiros que serão e são os co-responsáveis,
caso as normas e procedimentos não sejam eficazes.
4. Deve-se entender que eventos como o que ocorreu na Boate Kiss podem perfeitamente
bem ocorrer em locais cujos projetos não levaram em consideração questões de proteção
das pessoas em casos de catástrofes, como incêndios, alagamentos, desabamentos,
vendavais, entre outros eventos, e que seja necessária a desocupação imediata dos locais
para se evitar que a quantidade de pessoas atingidas seja grande. Assim, incluímos nesta
relação os estádios de futebol, os ginásios de esportes, os templos e igrejas, as boates,
discotecas, casas de shows, cinemas, teatros, colégios, salas de aula com maior capacidade
de público, prédios públicos, edifícios edilícios, e todos as demais edificações e atividades
assemelhadas.
5. De imediato, essas edificações devem ter no mínimo duas saídas, em lados opostos, e com
áreas de refúgio externas que tenham capacidade de abrigar as pessoas que irão
desocupar os locais. Essas edificações não poderão ter elementos decorativos ou
obstáculos em suas fachadas que dificulte o acesso das escadas de incêndio dos
bombeiros.
6. Além de uma segunda porta de emergência, as boates devem prever a possibilidade de ter,
como alternativa, uma terceira saída, bastando para isso que no local a parede seja menos
espessa e existam ferramentas para abrir passagens para a desocupação (marretas e
picaretas).
7. Os vigilantes e seguranças dessas casas de shows devem ser capacitados no combate a
incêndios e na desocupação dos locais.
8. As casas de shows devem instalar baterias de emergência com holofotes que estejam
direcionados para as saídas de emergência. As rotas de fuga devem ser demarcadas no
chão, preferencialmente com dispositivos de sinalização no piso do tipo “olhos de gato”,
reflexivos. Nessas faixas não podem ser depositados materiais e posicionadas mesas e
cadeiras. Devem ser faixas livres que as pessoas devam empregar para se dirigir às portas
de saída.
9. Todas as casas de shows devem ter brigadas de incêndio, que serão responsáveis pelo
combate aos princípios de incêndio, e pela orientação aos frequentadores para a
desocupação dos locais para áreas seguras.
Creio que todas essas medidas sejam possíveis de serem postas em prática e, algumas, já de
imediato, com as ações políticas necessárias. Nós, o Brasil, temos experiência mais do que
necessária para controlar situações como essas. O que nos falta é encarar com seriedade das
situações e fazer o que deve ser feito. P.Ex.: se um empresário não cumpre a lei o
estabelecimento é interditado até que ele consiga provar que cumpriu o determinado. CHEGA
DE JEITINHOS, TÃO AO GOSTO DOS BRASILEIROS, e de acordos que envolvem subornos, na
tentativa de fingir-se que se cumpriu o estabelecido em Lei. Somente agindo com seriedade
conseguiremos demonstrar que somos competentes.
Cabe aqui um exemplo: em 1982 trabalhávamos no grupo do Banco Nacional, como gerente
de risco para as quatro seguradoras do Grupo. As seguradoras haviam sido transferidas para
um só prédio, com 22 pavimentos, no centro da cidade do Rio de Janeiro, na esquina da
Avenida Passos com a Avenida Presidente Vargas. Nas duas laterais haviam outros prédios.
Estabelecemos um plano de desocupação do prédio, estabelecendo acordos com os prédios
vizinhos. Do lado do prédio comercial afinamos as paredes de cinco andares, assinalamos o
vão com faixa vermelha e colocamos no piso demarcações. Havendo uma situação
emergencial o funcionário poderia pegar a marreta que se encontrava em um abrigo e romper
a parede. Com o outro prédio vizinho, ocupado na época pala Embratel, abrimos cinco portas,
em andares específicos e instalamos portas corta fogo. As chaves das portas ficavam em caixas
com vidro na tampa. Quando essa era rompida para a retirada da chave soava o alarme na
portaria e a vigilância patrimonial saberia dizer qual a porta estava sendo aberta. Para o
dimensionamento das saídas laterais, através dos prédios vizinhos, levamos em consideração a
quantidade de pessoas que ocupava os andares. Tínhamos macas a cada três andares e uma
profissional de saúde de prontidão. Tudo isso foi elaborado e posto em prática em 1982,
portanto, há 31 anos. Não esperamos que as normas mudassem. Nós mesmos mudamos
nossos procedimentos. As normas estabelecem as condições mínimas necessárias. O que for
feito, além disso, não é contrário à norma e sim favorável à preservação da vida, quando o
assunto é segurança do trabalho.
Repórter: O senhor gostaria de acrescentar algo a mais?
Antonio Fernando Navarro: Sim. Inicialmente lamentar as perdas e as dores daqueles que
ficaram. Depois de dizer que nosso País, assim como todos os demais do mundo, possui farta
legislação, que não foi redigida por neófitos e sim por especialistas. Se há normas, porque essas
não são cumpridas? Porque temos sempre a visão míope de cumprir o mínimo exigido? Nesses
momentos, onde a preocupação passa do individual para o coletivo é que se percebe que o
investimento em segurança é nada diante das centenas de pessoas mortas ou mutiladas. O que
poderíamos dizer às centenas de famílias que perderam seus filhos na tragédia? Que um Alvará
estava vencido? Talvez não seja a frase correta. O correto seria dizer que efetivamente eventos
que isoladamente não significam muita coisa quando associados redundam em centenas de
vítimas. Ocorreu o despreparo da Nação, do Estado e do Município, para a tragédia, a ponto de
envolver a Nação como um todo para se obter as doações de sangue, de peles, de água e gelo,
enfim, do que era necessário para o atendimento às vítimas. Ocorreu o inesperado para a cidade e
para aqueles que têm por dever fiscalizar o cumprimento da Lei: houve um acidente. Podemos
dizer também que temos que olhar para nós mesmos e avaliar o quanto se tem de problemas ao
nosso redor, seja em nossos lares, com os descuidos na rede elétrica e no gás, em nossos prédios,
com problemas os mais diversos, em nossos trabalhos, enfim, terminamos por ver coisas que são
erradas como se fossem naturais, já que existem na lanchonete onde comemos e na sala onde
trabalhamos. Temos o dever de encarar os problemas e resolvê-los, e não deixa-los para trás de
modo que gerações futuras saiam mais cedo de junto de nós. Não podemos, em hipótese
nenhuma, ver algo errado e não denunciar. Não podemos deixar que fiscais deixem de fiscalizar e
que os donos das discotecas deixem de investir em segurança dos usuários, para não perderem
seus lucros. Se temos que conseguir os espaços para que os frequentadores possam se deslocar e
desocupar o ambiente estaremos tirando os espaços das mesas e cadeiras, já que nos projetos
originais isso não foi considerado.
Que Deus, um sua infinita misericórdia tenha compaixão de todos e receba aqueles que se foram
antes de nós.

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A tragédia da discoteca de santa maria entrevista em 29 01-2013

  • 1. A tragédia da boate de Santa Maria Entrevista concedida para a Revista da Editora Roncarati (https://www.editoraroncarati.com.br/v2/Table/HOMEArtigos/Artigos/) Antonio Fernando Navarro.1 Repórter: A que o senhor, como professor de cursos de formação de engenheiros de segurança do trabalho há mais de 30 anos atribui o desastre que se abateu sobre a população Gaúcha de Santa Maria? Antonio Fernando Navarro: No momento informar o que causou a tragédia, que ceifou mais de duas centenas de jovens estudantes, que fariam parte do nosso futuro, pode ser prematuro. Não temos as informações técnicas suficientes e os especialistas estão coletando os dados necessários, principalmente aqueles relativos à polícia civil, que irá ser importante na apuração das responsabilidades civis. Todavia, pelo que se lê nos jornais e se vê nos noticiários das televisões, pode se afirmar que essa, assim como todas as outras que ocorreram em ambientes semelhantes e em várias partes do mundo, foi uma tragédia pré-anunciada. Repórter: Por que o senhor afirma ser uma tragédia pré-anunciada? Antonio Fernando Navarro: Em primeiro lugar, baseando-nos em declaração de um coronel bombeiro do Rio Grande do Sul, o local tinha menos do que 700 m2 e, conforme algumas pessoas relataram deveriam estar no local cerca de 1.500 pessoas. Para um ambiente com 700 m2, que poderia comportar com segurança até 400 pessoas, uma porta com a largura da apresentada nos noticiários (da ordem de 140 cm) poderia ser suficiente. O excesso de pessoas, a precariedade dos materiais empregados na decoração, alguns altamente combustíveis, a falta de uma correta sinalização e outras questões mais de caráter normativo, já seriam suficientes para se afirmar que o risco era iminente. Repórter: Qual deveria ser o procedimento de evacuação do local naquelas circunstâncias? Antonio Fernando Navarro: Uma discoteca é um local normalmente escuro, com iluminação direcionada. Na hora do show, muitos estavam prestando atenção à banda que se apresentava, 1 Antonio Fernando de Araújo Navarro Pereira, Físico, Matemático, Engenheiro Civil, Engenheiro de Segurança do Trabalho, Especialista em Gestão de Riscos, Mestre em Saúde e Meio Ambiente pela Universidade da Região de Joinville – UNIVILLE, professor da Universidade Federal Fluminense.
  • 2. outros conversavam e o restante circulava pelo local. Na hora que um incêndio começa, atingindo materiais combustíveis que liberam fumaça tóxica, pega a todos de surpresa. A bebida deixa as pessoas com as reações mais lentas. A fumaça tira a visão plena do local. A iluminação que não é geral dificulta os deslocamentos. Associando-se a surpresa com a baixa visibilidade devido à fumaça e à iluminação local de um ambiente com cores escuras nas paredes, a desocupação ideal seria aquela onde funcionários da discoteca, atuando como brigadistas e com lanternas nas mãos poderiam direcionar as pessoas para a porta, que teria que estar plenamente aberta. O pânico que muitas pessoas passam a ter nesses momentos faz com que suas reações sejam imprevisíveis. Os funcionários da discoteca deveriam estar preparados para isso. Repórter: O senhor acha que casos como esse podem se repetir? Antonio Fernando Navarro: Certamente, já que existem em nosso País centenas de estabelecimentos iguais ao de Santa Maria. Normalmente são locais de médio porte, praticamente sem janelas, pintados internamente com tintas de cores escuras, com o emprego de madeira como elementos decorativos e outros materiais facilmente afetados pelo fogo. Nesses locais um dos quesitos menos importantes para os frequentadores e mesmo para os proprietários é para com as questões de segurança. Por exemplo, cita-se a ausência de hidrantes no local. Como esse equipamento seria operado em um momento como aquele, no qual não havia nem espaço físico para se desenrolar as mangueiras e nem conectá-las? Fala-se que não havia sprinklers. O dispositivo é eficaz quando a sensibilidade do elemento sensor, o bulbo de vidro, absorve o calor vindo de baixo. Se o incêndio se propaga pelo forro ou entre forro o sistema não é eficaz. Fala-se também da falta de extintores. Daquelas quase 1.500 pessoas quantas teriam algum tipo de treinamento para apagar os princípios de incêndio usando os extintores? Como esses heróis iriam se deslocar com o ambiente lotado, com mais de 4 pessoas por m2? Repórter: Então, em sua opinião nada então seria adequado? Antonio Fernando Navarro: Não disse isso. Todo o dispositivo de combate a incêndios ou a princípios de incêndios não é adequado se não for empregado por pessoas que não tenham a capacitação necessária. Para que sejam adequados os proprietários deveriam ter funcionários que seriam os brigadistas nessas ocasiões. O item mais importante seria o emprego de sensores de fumaça, conectados a portas automáticas, onde, com o incremento da fumaça as portas seriam abertas imediatamente e também entrariam em ação exaustores de fumaça.
  • 3. Repórter: Como o senhor avalia essa tragédia em um momento em que o País se prepara para receber delegações de todas as partes do mundo para eventos esportivos? Antonio Fernando Navarro: Vejo-a com uma enorme preocupação. Não podemos afirmar hoje que tenhamos local onde poderão ficar centenas ou milhares de pessoas 100% seguros. Quando digo isso acrescento os hotéis e pousadas, centros de eventos, teatros, escolas, igrejas, ambientes universitários, estádios de futebol, ginásios desportivos, entre tantos outros locais. As normas de segurança em vigor apresentam sempre as exigências mínimas. Se as larguras dos corredores devem ser de no mínimo 120 centímetros por que não podemos estabelecer larguras maiores? Por que as fileiras de poltronas dos cinemas e teatros têm que ser longas com vinte ou trinta cadeiras? Por que não podem ser menores, com oito cadeiras, e com corredores entre essas filas. Por que não pode ser obrigatório que existam pelo menos duas saídas, com no mínimo 120 cm de largura para todo e qualquer local que abrigue 300 ou mais pessoas? Por que não se obrigam os locais a terem luzes de emergência com faroletes que direcionem a população para as rotas de saída? Já tive a oportunidade de inspecionar em hotéis de luxo caixa de hidrantes sem mangueiras, rede de sprinklers (chuveiros automáticos contra incêndio) sem água, ou seja, sem pressurização, detectores de calor ou de fumaça com os painéis de alarme desligados. Também já tive a oportunidade de ver extintores com danos provocados pelos próprios usuários do local, como por exemplo, inserindo palitos nas saídas das mangueiras de extintores de água-gás. Quando fomos inspecionar o local onde seria montado o primeiro Rock in Rio, na década de 80, nossa preocupação ia além, incluindo a substituição dos espelhos dos banheiros, de vidros por finas lâminas plásticas coladas nas paredes, de modo que os expectadores, em brigas não quebrassem os vidros e cortassem pessoas, da mesma maneira que nos preocupávamos com o estado geral das instalações elétricas, não somente as que ficavam nas torres de andaimes com as caixas de som e os projetores de luz. Naquele local foram instalados três chafarizes, com bacias ao redor. Nossa preocupação se voltou também para a altura que as muretas de contenção de água deveriam ter de modo que uma pessoa bêbada que caísse em seu interior não se afogasse. Repórter: Quais as propostas que o senhor apresentaria aos governantes nesse momento, para evitar as novas tragédias? Antonio Fernando Navarro: Complementarmente ao que dissemos a essa Revista, urge que os nossos dirigentes tomem algumas medidas técnico-políticas que podem minorar a situação de fragilidade a que nos encontramos expostos, assim como sejam implementadas medidas de segurança simples mais necessárias, como a seguir:
  • 4. 1. O País deve ter uma única norma de segurança contra incêndios de deva ser obrigatória para os mais de 5.600 municípios brasileiros, ou seja, os corpos de bombeiros militares de todos os estados devem consensar um só padrão de segurança, que seja eficiente. De norte a sul do País, daqui para a frente, quem quiser ter uma casa de shows deverá obedecer às mesmas regras. Há normas muito boas que podem ser aprimoradas. Assim, não se deve ignorar todo o conhecimento já adquirido. O Governo deve associar a essas comissões que irão compilar e unificar as normas representantes dos Corpos de Bombeiros, CREAS e Clubes de Engenharia, e convidar representantes de Universidades. Assim, poder-se-á associar o saber, à técnica e ao conhecimento das ações. 2. Enquanto as normas de segurança não são implantadas e implementadas, os corpos de bombeiros e as prefeituras devem intensificar a fiscalização desses ambientes, não com uma fiscalização protocolar, mas sim com uma fiscalização técnica, com visitas in loco, e com o poder de interditar os estabelecimentos se houver o descumprimento das normas. 3. Os estabelecimentos, começando com aqueles com capacidade de receber mais de 1.500 pessoas deverão se adequar às normas de segurança de imediato. Os requisitos das normas serão repassados pelos Corpos de Bombeiros que serão e são os co-responsáveis, caso as normas e procedimentos não sejam eficazes. 4. Deve-se entender que eventos como o que ocorreu na Boate Kiss podem perfeitamente bem ocorrer em locais cujos projetos não levaram em consideração questões de proteção das pessoas em casos de catástrofes, como incêndios, alagamentos, desabamentos, vendavais, entre outros eventos, e que seja necessária a desocupação imediata dos locais para se evitar que a quantidade de pessoas atingidas seja grande. Assim, incluímos nesta relação os estádios de futebol, os ginásios de esportes, os templos e igrejas, as boates, discotecas, casas de shows, cinemas, teatros, colégios, salas de aula com maior capacidade de público, prédios públicos, edifícios edilícios, e todos as demais edificações e atividades assemelhadas. 5. De imediato, essas edificações devem ter no mínimo duas saídas, em lados opostos, e com áreas de refúgio externas que tenham capacidade de abrigar as pessoas que irão desocupar os locais. Essas edificações não poderão ter elementos decorativos ou obstáculos em suas fachadas que dificulte o acesso das escadas de incêndio dos bombeiros. 6. Além de uma segunda porta de emergência, as boates devem prever a possibilidade de ter, como alternativa, uma terceira saída, bastando para isso que no local a parede seja menos
  • 5. espessa e existam ferramentas para abrir passagens para a desocupação (marretas e picaretas). 7. Os vigilantes e seguranças dessas casas de shows devem ser capacitados no combate a incêndios e na desocupação dos locais. 8. As casas de shows devem instalar baterias de emergência com holofotes que estejam direcionados para as saídas de emergência. As rotas de fuga devem ser demarcadas no chão, preferencialmente com dispositivos de sinalização no piso do tipo “olhos de gato”, reflexivos. Nessas faixas não podem ser depositados materiais e posicionadas mesas e cadeiras. Devem ser faixas livres que as pessoas devam empregar para se dirigir às portas de saída. 9. Todas as casas de shows devem ter brigadas de incêndio, que serão responsáveis pelo combate aos princípios de incêndio, e pela orientação aos frequentadores para a desocupação dos locais para áreas seguras. Creio que todas essas medidas sejam possíveis de serem postas em prática e, algumas, já de imediato, com as ações políticas necessárias. Nós, o Brasil, temos experiência mais do que necessária para controlar situações como essas. O que nos falta é encarar com seriedade das situações e fazer o que deve ser feito. P.Ex.: se um empresário não cumpre a lei o estabelecimento é interditado até que ele consiga provar que cumpriu o determinado. CHEGA DE JEITINHOS, TÃO AO GOSTO DOS BRASILEIROS, e de acordos que envolvem subornos, na tentativa de fingir-se que se cumpriu o estabelecido em Lei. Somente agindo com seriedade conseguiremos demonstrar que somos competentes. Cabe aqui um exemplo: em 1982 trabalhávamos no grupo do Banco Nacional, como gerente de risco para as quatro seguradoras do Grupo. As seguradoras haviam sido transferidas para um só prédio, com 22 pavimentos, no centro da cidade do Rio de Janeiro, na esquina da Avenida Passos com a Avenida Presidente Vargas. Nas duas laterais haviam outros prédios. Estabelecemos um plano de desocupação do prédio, estabelecendo acordos com os prédios vizinhos. Do lado do prédio comercial afinamos as paredes de cinco andares, assinalamos o vão com faixa vermelha e colocamos no piso demarcações. Havendo uma situação emergencial o funcionário poderia pegar a marreta que se encontrava em um abrigo e romper a parede. Com o outro prédio vizinho, ocupado na época pala Embratel, abrimos cinco portas, em andares específicos e instalamos portas corta fogo. As chaves das portas ficavam em caixas com vidro na tampa. Quando essa era rompida para a retirada da chave soava o alarme na portaria e a vigilância patrimonial saberia dizer qual a porta estava sendo aberta. Para o
  • 6. dimensionamento das saídas laterais, através dos prédios vizinhos, levamos em consideração a quantidade de pessoas que ocupava os andares. Tínhamos macas a cada três andares e uma profissional de saúde de prontidão. Tudo isso foi elaborado e posto em prática em 1982, portanto, há 31 anos. Não esperamos que as normas mudassem. Nós mesmos mudamos nossos procedimentos. As normas estabelecem as condições mínimas necessárias. O que for feito, além disso, não é contrário à norma e sim favorável à preservação da vida, quando o assunto é segurança do trabalho. Repórter: O senhor gostaria de acrescentar algo a mais? Antonio Fernando Navarro: Sim. Inicialmente lamentar as perdas e as dores daqueles que ficaram. Depois de dizer que nosso País, assim como todos os demais do mundo, possui farta legislação, que não foi redigida por neófitos e sim por especialistas. Se há normas, porque essas não são cumpridas? Porque temos sempre a visão míope de cumprir o mínimo exigido? Nesses momentos, onde a preocupação passa do individual para o coletivo é que se percebe que o investimento em segurança é nada diante das centenas de pessoas mortas ou mutiladas. O que poderíamos dizer às centenas de famílias que perderam seus filhos na tragédia? Que um Alvará estava vencido? Talvez não seja a frase correta. O correto seria dizer que efetivamente eventos que isoladamente não significam muita coisa quando associados redundam em centenas de vítimas. Ocorreu o despreparo da Nação, do Estado e do Município, para a tragédia, a ponto de envolver a Nação como um todo para se obter as doações de sangue, de peles, de água e gelo, enfim, do que era necessário para o atendimento às vítimas. Ocorreu o inesperado para a cidade e para aqueles que têm por dever fiscalizar o cumprimento da Lei: houve um acidente. Podemos dizer também que temos que olhar para nós mesmos e avaliar o quanto se tem de problemas ao nosso redor, seja em nossos lares, com os descuidos na rede elétrica e no gás, em nossos prédios, com problemas os mais diversos, em nossos trabalhos, enfim, terminamos por ver coisas que são erradas como se fossem naturais, já que existem na lanchonete onde comemos e na sala onde trabalhamos. Temos o dever de encarar os problemas e resolvê-los, e não deixa-los para trás de modo que gerações futuras saiam mais cedo de junto de nós. Não podemos, em hipótese nenhuma, ver algo errado e não denunciar. Não podemos deixar que fiscais deixem de fiscalizar e que os donos das discotecas deixem de investir em segurança dos usuários, para não perderem seus lucros. Se temos que conseguir os espaços para que os frequentadores possam se deslocar e desocupar o ambiente estaremos tirando os espaços das mesas e cadeiras, já que nos projetos originais isso não foi considerado.
  • 7. Que Deus, um sua infinita misericórdia tenha compaixão de todos e receba aqueles que se foram antes de nós.