ENTREVISTA - Dr. Cleber Godinho
Síndrome do olho seco: alternativas para o tratamento e uso de lentes de contato.
ARTIGO - Dr. Sérgio Felberg
A importância da lágrima artificial: olho seco, suas causas e tratamentos.
1. VOLUME 2
NÚMERO 2
AGOSTO DE 2013
ENTREVISTA
Dr. Cleber Godinho
ARTIGO
Dr. Sérgio Felberg
Síndrome do olho seco:
alternativas para o
tratamento e uso de
lentes de contato
A importância da
lágrima artificial:
olho seco, suas causas
e tratamentos
2. Barreira microporosa1
Evita o uso de conservantes
memBrana filtrante de 0,2µ1
tuBo flexível e ergonômico1
gotas
caliBradas (30µl)1
Doses precisas
Até 2 meses
de utilização após aberto2
ReferênciasBibliográficas:1)PatentedeLaboratoiresThéa.2)Buladoproduto:Hyabak.RegistroMSnº8042140002.
HYABAK®
.Soluçãosemconservantesparahidrataçãoelubrificaçãodosolhoselentesdecontacto.FrascoABAK®
.COMPOSIÇÃO:Hialuronatodesódio0,15g.Cloretodesódio,trometamol,ácidoclorídrico,águaparapreparaçõesinjetáveisq.b.p.100mL.NOMEEMORADADOFABRICANTE:LaboratoiresThéa,12rueLouis
Blériot,63017CLERMONT-FERRANDCEDEX2-França.QUANDOSEDEVEUTILIZARESTEDISPOSITIVO:HYABAK®
contémumasoluçãodestinadaaseradministradanosolhosounaslentesdecontato.Foiconcebido:•Parahumedecimentoelubrificaçãodosolhos,emcasodesensaçõesde
securaoudefadigaocularinduzidasporfatoresexteriores,taiscomo,ovento,ofumo,apoluição,aspoeiras,ocalorseco,oarcondicionado,umaviagemdeaviãoouotrabalhoprolongadoàfrentedeumecrãdecomputador.•Nosutilizadoresdelentesdecontato,permitealubrificaçãoea
hidrataçãodalente,comvistaafacilitaracolocaçãoearetirada,eproporcionandoumconfortoimediatonautilizaçãoaolongodetodoodia.GraçasaodispositivoABAK®
,HYABAK®
permitefornecergotasdesoluçãosemconservantes.Pode,assim,serutilizadocomqualquertipodelente
decontato.Aausênciadeconservantespermiteigualmenterespeitarostecidosoculares.ADVERTÊNCIASEPRECAUÇÕESESPECIAISDEUTILIZAÇÃO:•Evitartocarnosolhoscomapontadofrasco.•Nãoinjetar,nãoengolir.Nãoutilizeoprodutocasooinvólucrodeinviolabilidade
estejadanificado.MANTERFORADOALCANCEDASCRIANÇAS.INTERAÇÕES:Éconvenienteaguardar10minutosentreaadministraçãodedoisprodutosoculares.COMOUTILIZARESTEDISPOSITIVO:POSOLOGIA:1gotaemcadaolhoduranteodia,semprequenecessário.
Nosutilizadoresdelentes:umagotaemcadalenteaocolocareretiraraslentesetambémsemprequenecessárioaolongododia.MODOEVIADEADMINISTRAÇÃO:INSTILAÇÃOOCULAR.STERILEA-Paraumautilizaçãocorretadoprodutoénecessárioteremcontadeterminadas
precauções:•Lavarcuidadosamenteasmãosantesdeprocederàaplicação.•Evitarocontatodaextremidadedofrascocomosolhosouaspálpebras.Instilar1gotadeprodutonocantodosacolacrimalinferior,puxandoligeiramenteapálpebrainferiorparabaixoedirigindooolharpara
cima.Otempodeapariçãodeumagotaémaislongodoquecomumfrascoclássico.Taparofrascoapósautilização.Aocolocaraslentesdecontato:instilarumagotadeHYABAK®
naconcavidadedalente.FREQUÊNCIAEMOMENTOEMQUEOPRODUTODEVESERADMINISTRADO:
Distribuirasinstilaçõesaolongododia,conformenecessário.EFEITOSNÃOPRETENDIDOSEINCÔMODOS(EFEITOSINDESEJÁVEIS):Rarapossibilidadedeligeirasirritaçõesoculares.CONSERVAÇÃODEDISPOSITIVO:NÃOEXCEDEROPRAZOLIMITEDEUTILIZAÇÃO,INDICADO
NAEMBALAGEMEXTERIOR.PRECAUÇÕESESPECIAISDECONSERVAÇÃO:Conservaraumatemperaturainferiora25ºC.Depoisdeaberto,ofrasconãodeveserconservadomaisde8semanas.DATADEREVISÃODESTEFOLHETOINFORMATIVO:04/2009.RegistroMSnº80424140002.
Material dirigido exclusivamente a profissionais habilitados a prescrever e/ou dispensar medicamentos.
uso compátivel com
lentes de contato2
facilita a colocação
e a retirada, e proporciona
conforto imediato Produzidoem:Abril/2013
4. 4 Volume 02 | No
02 | agosto/2013
Síndrome do
olho seco
Alternativas para o tratamento
e uso de lentes de contato
Quando se olha para um indivíduo,é pos-
sível notar a cor dos seus olhos. Essa
cor percebida pertence à íris. Mais anterior
a ela,existe a córnea,como se fosse o vidro
de um relógio, sendo a íris o seu mostrador.
Ela é transparente, pois não há irrigação
sanguínea em seu interior.Trata-se de um
órgão segregado.
Toda célula viva do organismo humano pre-
cisa buscar o oxigênio de alguma fonte. No
caso da córnea,que não é irrigada,é neces-
sário encontrar uma alternativa.
Quando o indivíduo pisca os olhos, ele re-
nova o filme lacrimal por toda a córnea.
Este é rico em oxigênio, proveniente do ar;
dessa forma, a camada mais superficial da
córnea “respira” por meio do oxigênio at-
mosférico pelo ato de piscar. Por isso que
o Dr. Cleber Godinho, Chefe do Serviço de
Lentes de Contato do Instituto de Olhos de
Belo Horizonte (MG),professor de lentes de
contato da Fundação Hilton Rocha (BH) e
vice-presidente da Sociedade Brasileira de
Lentes de Contato e de Córnea (SOBLEC),
afirma que piscar é um ato importantíssi-
mo, fisiológico, sendo necessário realizá-lo,
em média, de 15 a 17 vezes por minuto.
Isso tudo descrito previamente é o processo
observado em um olho saudável. Dr. Go-
dinho concedeu uma entrevista à revista
Oftalmo em Evidência na qual discorre
sobre a síndrome do olho seco e as alter-
nativas de tratamento, inclusive com o uso
de lentes de contato.
Dr. Cleber Godinho
CRM-MG 7383
Chefe do Serviço de Lentes de Contato do Instituto de Olhos
de Belo Horizonte (MG), Professor de Lentes de Contato da
Fundação Hilton Rocha (BH) eVice-Presidente da Sociedade
Brasileira de Lentes de Contato e de Córnea (SOBLEC).
ENTREVISTA
5. O QUE É XEROFTALMIA? TRATA-
-SE DE UM SINÔNIMO PARA O
OLHO SECO?
Não, pois a xeroftalmia é o
olho seco ocasionado pela de-
ficiência nutricional de vita-
mina A. Ela é muito comum
em países com alto índice de
desnutrição, como África, e
também no sertão brasileiro,
por exemplo. O olho desses
pacientes tem como caracte-
rística um olhar parado, res-
secado e esbranquiçado. Ele
perde a sua transparência.
QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS SIN-
TOMAS DA SÍNDROME DO OLHO
SECO?
A síndrome do olho seco é ex-
tremamente desagradável. Os
principais sintomas incluem
uma sensação de areia nos
olhos, ressecamento, cocei-
ra e queimação. Os pacientes
relatam a vontade de colocar
uma toalha úmida nos olhos
para aliviar os incômodos.
Os portadores dessa sín-
drome também sofrem de fo-
tofobia, pois a córnea é afeta-
da e o olho fica hiperemiado.
Nos estágios mais avançados,
o indivíduo pode ter, concomi-
tantemente, uma conjuntivite
filamentosa. Esses filamentos
são ligados à mucosa, o que
leva ao aparecimento de cros-
tas, embaçamento visual e
um desconforto significativo.
Quando o indivíduo passa
muito tempo em um ambiente
refrigerado por ar condicio-
nado, os olhos podem resse-
car. A baixa umidade relativa
do ar também desencadeia os
episódios, assim como a ex-
posição ao vento em excesso.
Os casos mais graves de
olho seco podem surgir ao
Volume 02 | No
02 | agosto/2013 5
O QUE É A SÍNDROME DO OLHO
SECO?
O olho seco é um grupo de si-
nais e de sintomas que o pa-
ciente começa a sentir pela
falta de lubrificação da cór-
nea. Isso pode acontecer por
diversos fatores, como pela
qualidade da lágrima ou do
piscar. Desse modo, é impor-
tante aprender a piscar.
Quando o paciente usa o
computador, por exemplo, ele
pisca, em média, cinco vezes
por minuto. Isso deixa o olho
ressecado, pois falta oxigena-
ção para lubrificar e nutrir a
córnea. Consequentemente,
surgem os sintomas de olho
seco, como a ardência e o
próprio ressecamento.
Outra causa da síndrome
do olho seco é a deficiência
na produção de lágrimas. A
lágrima é composta por três
camadas: mucina (muco), li-
pídeos (gordura) e água (Fi-
gura 1). A síndrome afeta
mais as mulheres, em função
da sua complexidade hormo-
nal, e indivíduos com defici-
ências nutricionais.
Filme lacrimal
Camada de mucina
Camada aquosa
Camada lipídica
Glândula lacrimal
Glândula de Meibomus
Conjuntiva
Figura 1. Composição lacrimal.
6. 6 Volume 02 | No
02 | agosto/2013
mesmo tempo que outras
enfermidades. A síndrome
de Sjögren (autoimune),
que acomete alguns pacien-
tes com reumatismo, é uma
grande causa do olho seco.
A síndrome leva ao não re-
conhecimento de determina-
da estrutura do organismo, e
este começa a se auto agre-
dir. Nós também recebemos
muitos pacientes que foram
submetidos à cirurgia plás-
tica palpebral. A pálpebra
passa a não fechar comple-
tamente e, à noite, durante
o sono, os olhos ficam semi-
cerrados. Ao amanhecer, o
paciente apresenta fotofo-
bia e dor, pois o olho passou
a noite exposto, tornando-se
ressecado. Qualquer fato que
acontece no epitélio corne-
ano, que é muito inervado e
irrigado, desencadeia os sin-
tomas desagradáveis da foto-
fobia. O paciente submetido
à cirurgia refrativa pode re-
latar sintomas de olho seco.
COMO É FEITO O DIAGNÓSTICO?
Quando o paciente refere es-
ses sintomas supracitados, é
preciso avaliar alguns fato-
res, com a possível falta de
algum dos componentes da
lágrima. Nesse caso, realiza-
mos o teste de Schirmer, que
avalia a sua parte aquosa.
O exame clínico associa-
do às queixas do paciente
permite avaliar se o quadro
é mais grave ou transitório.
No aparelho oftalmológico,
é possível fazer um diagnós-
tico, pois, quando o pacien-
te pisca, pode-se avaliar a
estabilidade do filme lacri-
mal (BUT – break up time).
Quando ele está rompendo
a intervalo rápido, ajuda o
diagnóstico.
Alguns corantes podem
ser pingados na córnea para
fazer a citologia de impres-
são (clearence) e avaliar o
seu estado.
QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS MEDI-
DAS A SEREM ADOTADAS QUANDO
A SÍNDROME É DIAGNOSTICADA?
Em primeiro lugar, é preciso
ensinar o paciente a piscar. A
maneira correta de fazê-lo é
fechar o olho completamente,
de tal forma que a pálpebra
superior encoste na inferior.
Piscar é um ato reflexo, mas,
se o indivíduo pensar sobre
ele, fazendo-o de forma cons-
ciente, é possível avaliar se
pisca corretamente ou não e,
se preciso, corrigir-se.
Outra coisa a ser avaliada
é se o paciente pisca 15 ve-
zes por minuto, número su-
ficiente para hidratar a cór-
nea. Para que isso ocorra, ele
deve piscar, contar até três,
piscar novamente, e assim
sucessivamente.
Inclusive, eu desenvolvi
um aparelho que estimula
o paciente a piscar 15 vezes
por minuto. Ele se chama
PISC (Figura 2) e foi publi-
cado recentemente em um
periódico da Inglaterra como
inovação científica. Um co-
lega desenvolveu a sua tese
Figura 2. PISC.
7. Volume 02 | No
02 | agosto/2013 7
com o PISC em pacientes
com Parkinson, que tendem
a piscar menos. Com o PISC,
eles piscaram mais e, conse-
quentemente, melhoraram os
sintomas de olho seco. O apa-
relho condiciona o reflexo de
piscar a cada “piscada” do
instrumento (na realidade,
é emitida uma luz, um som
ou uma vibração). Quando
ele pisca, o paciente “imita”
o ato. Por exemplo, o indiví-
duo mantém o PISC em fren-
te ao computador. Enquanto
trabalha, ele é lembrado por
ele a piscar, por meio de cada
sinal emitido.
E O TRATAMENTO MEDICAMENTOSO?
Nós indicamos o uso de al-
guns colírios e lágrimas ar-
tificiais para oferecer o con-
forto ocular ao paciente.
Atualmente, existe também
uma cirurgia que consiste
na transposição de glându-
las salivares para a lubrifi-
cação dos olhos.
QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS CON-
SEQUÊNCIAS PARA OS INDIVÍ-
DUOS COM OLHOS SECOS NÃO
TRATADOS?
Isso é quase impossível de
acontecer, pois o paciente
sofre tanto com os sintomas
que, cedo ou tarde, busca o
auxílio médico. Mas, quan-
do não tratada, pode evoluir
para uma córnea que entra
em sofrimento, conjuntivi-
te filamentar que leva à ce-
ratite filamentar, e também
pode ocorrer formação de
placas sobre a córnea ade-
ridas ao globo ocular. Todos
esses fatores geram sintomas
significativos.
Quando o olho está em so-
frimento, ele pode criar vasos
no interior da córnea como
forma de suprir o oxigênio,
só que isso faz com que fique
cada vez mais opaco, dificul-
tando a visão do paciente. O
quadro pode evoluir para úl-
cera de córnea bacteriana ou
rotura do epitélio. Por isso a
importância de iniciar o tra-
tamento antes dessas conse-
quências surgirem.
OS PORTADORES DESSA SÍNDRO-
ME PODEM UTILIZAR LENTES DE
CONTATO?
Sim. Se o indivíduo tem uma
síndrome de olho seco inicial
ou com filamentos, ele pode
utilizar determinados tipos
de lentes. Existem algumas
lentes gelatinosas que pos-
suem um menor volume de
água. A lente busca a água
do filme lacrimal, portanto,
se o paciente usa uma len-
te que vai proteger a córnea
e que possui um volume de
água menor, ela irá respeitar
melhor a fisiologia da córnea.
As lentes esclerais são
grandes, rígidas e ocupam
toda a face anterior do olho.
Elas criam entre a córnea e
o meio interior uma camada
de líquido, o que a protege.
Elas podem ser utilizadas, in-
clusive, com fins terapêuticos
nos casos mais graves de sín-
drome do olho seco.
QUAL É O MANEJO CLÍNICO DO
PACIENTE COM SÍNDROME DO
OLHO SECO?
Basicamente, é o uso das lá-
grimas artificiais. Por exem-
plo, o colírio à base de hia-
luronato de sódio (0,15%)
ajuda o paciente a manter
o olho lubrificado. Quase to-
das as substâncias das lá-
grimas artificiais são base-
adas na reposição aquosa
do olho. Alguns colírios con-
tém, também, óleo de rícino
para manter a camada lipí-
dica do olho. Os melhores
colírios são aqueles que não
têm conservante, pois estes
agridem os olhos.
O hialuronato de sódio é
o componente de algumas
lágrimas artificiais. Estudos
demonstram que ele pode
promover a cicatrização do
epitélio corneano, portanto,
é muito indicado na presença
de um sofrimento corneano
grande. O hialuronato está
presente na composição da
8. 8 Volume 02 | No
02 | agosto/2013
lágrima, sendo, dessa forma,
essencial lançar mão de um
colírio onde ele é o compo-
nente principal, já que, as-
sim, melhoram os sintomas
do paciente.
É muito importante quan-
do conseguimos determinar o
fator principal que está cau-
sando o olho seco para então
fazer a indicação correta do
tratamento.
Eu sou especializado em
lentes de contato. Quando
percebo que o paciente usu-
ário de lente está com o olho
seco, indico o Hyabak®
, pois
ele age satisfatoriamente e é
bem tolerado. Ele é compos-
to somente pelo hialuronato
de sódio.
ESTUDO COMPARATIVO ENTRE O HIALURONATO DE SÓDIO
0,15% VERSUS ÁLCOOL POLIVINÍLICO NO TRATAMENTO DE
OLHO SECO
Pesquisadores espanhóis condu-
ziram um estudo para avaliar a
eficácia de duas lágrimas artifi-
ciais no tratamento da síndrome
do olho seco: hialuronato de só-
dio 0,15% e o álcool polivinílico.
O estudo incluiu 30 pacien-
tes, totalizando 60 olhos secos.
Quinze deles foram tratados com
o hialuronato de sódio 0,15% e
15 com o álcool polivinílico. Os
pacientes de ambos os grupos
receberam cinco gotas de colírio
por dia, durante um mês. Foram
avaliados os seguintes parâme-
tros: acuidade visual, teste de
Schirmer, clearence, sintomas
do olho seco (via questionário),
tingimento da superfície ocu-
lar com corante Rosa Bengala
e fluoresceína, sensibilidade da
córnea, hiperemia, detritos lacri-
mais, eritema da pálpebra e ede-
ma antes e após o tratamento.
Os sintomas de olho seco re-
portados no questionário, assim
como o tingimento da superfície
ocular com corante Rosa Ben-
gala e fluoresceína, melhoraram
com o uso do hialuronato de só-
dio 0,15%. Os pacientes trata-
dos com álcool polivinílico não
demonstraram melhora signifi-
cativa em qualquer parâmetro.
Desse modo, conclui-se que
o hialuronato de sódio 0,15% foi
mais eficaz do que o álcool po-
livinílico no tratamento dos pa-
cientes com síndrome do olho
seco.
Referência. Vico E, Quereda A, Benítez-Del-Castillo JM, Fernández C, García-Sánchez J. A
comparative study of 0.15% sodium hyaluronate versus polyvinyl alcohol in the treatment of dry
eyes. Arch Soc Esp Oftalmol. 2005 Jul;80(7):387-94.
QUAL É A POSOLOGIA DA LÁGRI-
MA ARTIFICIAL?
Geralmente, a bula indica
quatro vezes ao dia. Mas,
dependendo da gravidade
do quadro de olho seco, faz-
-se necessário aumentar essa
dose. Isso acontece sem pre-
juízo algum, pois a ausência
de conservantes não agride
o olho.
O QUE É O SISTEMA ABAK, PRE-
SENTE NO HYABAK®
?
O ABAK é um sistema paten-
teado que permite disponi-
bilizar 300 gotas de colírio
sem conservantes, preser-
9. Volume 02 | No
02 | agosto/2013 9
vando, assim, a superfície
ocular. Aparentemente seme-
lhante a um colírio normal
com conservantes, o sistema
ABAK contém uma tecnologia
inovadora que filtra o colírio
tanto na instilação como após
a instilação, conservando o
conteúdo esterilizado duran-
te dois meses (oito semanas).
O CONSUMO DE ÔMEGA 3 PODE
MELHORAR O QUADRO DE OLHO
SECO?
Existem duas fontes de ôme-
ga 3: a proveniente da gor-
dura do peixe (salmão, sar-
dinha) e a vegetal, como a
linhaça. O ômega 3 animal
é produzido pelo organismo
humano. Eu recomendo aos
pacientes com síndrome do
olho seco o consumo de cáp-
sulas de óleo de linhaça. O
efeito é observado 15 dias
após o início do tratamento,
sendo importante a posologia
de dois a três gramas diárias.
Referências. Investigação ao serviço da oftalmologia. Disponível em: http://www.thea.pt/rad/rad. Iyer JV,
Lee SY, Tong L. The dry eye disease activity log study.ScientificWorldJournal. 2012;2012:589875. Mon-
tagni G. Intrasubject tear osmolarity changes with two different types of eyedrops.Optom Vis Sci. 2013
Apr;90(4):372-7
10. 10 Volume 02 | No
02 | agosto/2013
A importância da
lágrima artificial
Olho seco, suas causas e tratamentos
FILME LACRIMAL: ESTRUTURA E FUNÇÕES
O
filme lacrimal apresenta cons-
tituição complexa e dinâmica,
sendo formado pelo produto
da secreção de diversas glândulas.
Seu volume distribuído na superfície
ocular é cerca de 5 mL a 10 mL, sendo
completamente substituído, em condi-
ções normais, na velocidade de 1 mL a
2 mL por minuto1-3
. Fazem parte da sua
composição proteínas e glicoproteínas,
como albumina, lisozima, lactoferrina,
betalisina, transferrina, ceruploplas-
mina, imunoglobulinas, mucinas, en-
tre outras. Também estão presentes
complemento, fatores de crescimento
(EGF, FGF, HGF, KGF, TGF-beta), ci-
tocinas (interleucinas 1, 2, 6 e o fator
de necrose tumoral), lipídios, eletróli-
tos (como sódio, potássio, cálcio, mag-
nésio, cloreto, bicarbonato, entre ou-
tros), hormônios (insulina e prolactina)
e nutrientes (lactato e glicose). O filme
lacrimal contém, ainda, o produto do
metabolismo das células epiteliais da
córnea e conjuntiva, como ureia e gás
carbônico4,5
.
As glândulas de Meibomius, cer-
ca de trinta em cada pálpebra, assim
como as de Zeiss (localizadas anterior-
mente às de Meibomius), são as prin-
cipais responsáveis pela produção do
componente lipídico da lágrima. Essa
camada oleosa é a mais externa do fil-
me, contendo ésteres de ácidos graxos
e de colesterol, triglicérides e lípides
polares e não polares ainda não total-
mente identificados. Sua principal fun-
ção é a de retardar a evaporação da
camada aquosa subjacente6,7
.
O conteúdo aquoso é formado pelo
produto da secreção das glândulas la-
ARTIGO
Dr. Sergio Felberg
CRM-SP 92504
Chefe da Seção de Córnea e Doenças Externas –
Departamento de Oftalmologia da Santa Casa de São
Paulo. Preceptor do Ambulatório de Superfície Ocular e
Lágrima (SOL) - Departamento de Oftalmologia da Santa
Casa de São Paulo. Doutor em Ciências pela UNIFESP.
11. Volume 02 | No
02 | agosto/2013 11
crimais principais (uma em cada hemiface,
localizada na fossa lacrimal do osso frontal)
e acessórias de Krause (cerca de vinte e cin-
co localizadas no fórnice superior e cinco no
inferior) e Wolfring (cerca de dez, presentes
principalmente na face interna da pálpebra
superior), todas com organização histológi-
ca semelhante. Corresponde à porção mais
espessa do filme lacrimal e a mais de 99%
do seu volume. Nessa camada, estão difun-
didos sais minerais, fatores de crescimento,
proteínas, nutrientes, catabólitos e moléculas
glicoproteicas. Além de permitir a lubrifica-
ção da superfície ocular, a camada aquosa
cria uma interface translúcida e lisa, essen-
cial à visão1,4,5
.
Por fim, a porção mucinosa do filme é
oriunda, em sua maior parte, da secreção
das células caliciformes localizadas por toda
a conjuntiva, porém, concentradas na região
da prega semilunar. A principal glicoprote-
ína produzida é a MUC 58,9
. A camada de
mucina está difundida por toda a camada
aquosa, no entanto, sua concentração e vis-
cosidade aumentam em direção ao epitélio
da córnea, onde adquire consistência gela-
tinosa. A mucina produzida pela célula ca-
liciforme é responsável pela regularização
da interface epitélio-lágrima, permitindo a
distribuição laminar e contínua do filme por
toda a superfície ocular9-11
.
A lágrima permite, ainda, a oxigenação
dos tecidos da superfície ocular, o transpor-
te de nutrientes, hormônios e catabólitos,
a remoção de detritos e micro-organismos,
a atenuação do atrito das pálpebras com o
bulbo ocular durante o ato de piscar, além
de contribuir com as propriedades ópticas
da córnea ao proporcionar maior regulari-
dade da superfície epitelial1
. Seu papel con-
tra a adesão e penetração microbiana é fun-
damental para reduzir o risco de infecções
oculares12,13
.
OLHO SECO: DEFINIÇÃO ATUAL
A reunião de renomados pesquisadores espe-
cialistas em olho seco em 2007, a qual culmi-
nou com a publicação do Dry Eye WorkShop
(DEWS), manuscrito que analisa os principais
aspectos relacionados ao diagnóstico e tra-
tamento relacionados ao olho seco, originou
a definição mais aceita atualmente para a
doença: “olho seco é uma doença multifato-
rial, da lágrima e da superfície ocular, que
resulta em sintomas de desconforto, distúr-
bios visuais e instabilidade do filme lacrimal
e que pode, potencialmente, desencadear
dano à superfície ocular. É acompanhado do
aumento da osmolaridade do filme lacrimal
e da inflamação da superfície ocular”14
.
O ressecamento ocular ocasionado pelas
diversas causas de olho seco podem dar ori-
gem a queixas como ardor, queimação, foto-
fobia, sensação de corpo estranho, turvação
e oscilação visual, intolerância ao uso de
lentes de contato, desconforto para ativida-
des diárias como a leitura, uso de televisão,
smartphones e computadores, insegurança
para dirigir automóveis, caminhar na rua,
entre outros, apresentando importante im-
pacto na queda da qualidade de vida. Os
sintomas, geralmente, pioram em ambientes
secos, poluídos, com correntes de ar ou ar
condicionado. Já as consequências do olho
seco para a superfície dependerão da sua
etiologia, gravidade, tempo de duração e da
natureza do tratamento estabelecido. Cera-
tite de intensidade variável (Figuras 1 e 2),
filamentos de muco aderidos à superfície,
úlceras de córnea (Figura 3) e até perfu-
12. 12 Volume 02 | No
02 | agosto/2013
Figura 1.
Ceratite moderada
(cortesia Dr. S. Felberg).
Figura 2.
Ceratite intensa
(cortesia Dr. S. Felberg).
Figura 3.
Úlcera de córnea por olho seco
(cortesia Dr. S. Felberg).
13. Volume 02 | No
02 | agosto/2013 13
rações oculares poderão ocorrer nos casos
mais graves14
.
CAUSAS DE OLHO SECO
A classificação etiológica de olho seco pro-
posta pelo “Report of National Eye Institute/
Industry Dry Eye Workshop”, em 199515
, ex-
posta na Figura 4, ainda é a mais aceita, em-
bora tenha sofrido, posteriormente, algumas
adaptações pelo grupo do DEWS (Figura 5).
Com relação à classificação etiológica, as
causas de olho seco podem ser divididas em
dois grupos maiores: olho seco por deficiên-
cia na produção do componente aquoso e
por excessiva evaporação do filme lacrimal.
No olho seco aquoso-deficiente, a falta de
produção lacrimal poderá ocorrer tanto pela
destruição ou disfunção acinar como também
pelas alterações neurossensoriais do estímu-
lo ao lacrimejamento. Também podem estar
incluídas no grupo as condições nas quais
ocorre obstrução à drenagem do fluido lacri-
mal14
. O grupo de olho seco aquoso-deficiente
foi dividido em dois subgrupos: síndrome
Figura 4. Classificação etiológica do olho seco: Report of National Eye Institute/Industry Dry EyeWorkshop, 1995.
Olho seco ou ceratoconjuntivite sicca
Deficiência de lágrima Evaporativo
S.de Sjögren Não Sjögren
Primária
Secundária
Artrite reumatóide
Lupus e.sistêmico
G.deWegener
Esclerose sistêmica
Cirrose biliar primária
Poliarterite nodosa
Doença mista do
tecido conectivo
Outras
Doença lacrimal
Primária
Alacrima
congênita
Doença primária
da glândula
lacrimal
Secundária
Sarcoidose
Xeroftalmia,
HIV,GVHD
Tracoma
Queimadura
alcalina
Eritema
multiforme
Penfigóide
cicatricial
Obstrução da
secreção lacrimal Reflexa
Infecção
Cirurgia
Medicações
Diabetes mellitus
Envelhecimento
Ceratopatia
neuroparalítica
Lesão do nervo
trigêmeo
Deficiência
de lípides
Ausência de
glândulas
Distiquiase
Blefarite posterior
Disfunção de
G.de Meibomius
Blefarite anterior
Alterações
do piscar
Alterações da
fenda palpebral
Alteração da
superfície
Xeroftalmia
Relacionada
a pálpebra
Lentes de contato
Incongruências
da pálpebra
14. 14 Volume 02 | No
02 | agosto/2013
DRY EYE
Environment
Milieu Interieur
Low blink rate
behavior, VTU,
microscopy
Wide lid aperture
gaze position
Aging
Low androgen pool
Systemic Drugs:
antihistamines,
beta-blockers,
antispasmodics,
diuretics, and
some psychotropic
drugs
Milieu Exterieur
Low relative humidity
High wind velocity
Occupational
environment
Aqueous-de cient
Sjogren
Syndrome
Dry Eye
Primary
Secondary
Non-Sjogren
Dry Eye
Lacrimal
Re ex Block
Lacrimal
Gland Duct
Obstruction
Systemic
Drugs
Evaporative
Extrinsic
Meibomian Oil
Intrinsic
Vitamin A-
Topical Drugs
Preservatives
Low Blink
Rate
Drug Action
Accutane
Contact Lens
Wear
Disorders
of Lid
Aperture
Ocular Surface
Disease
eg, Allergy
Fonte: International Dry EyeWorkShop (DEWS)14
Figura 5. Classificação etiológica do olho seco: International Dry EyeWorkShop (DEWS) - 2007.
de Sjögren e não síndrome de Sjögren. Do
subgrupo síndrome de Sjögren, fazem parte
as doenças de etiologia multifatorial, com
envolvimento do sistema autoimune e pro-
dução de autoanticorpos contra as glându-
las lacrimais, caracterizadas pela infiltração
linfoplasmocitária progressiva das glândulas
exócrinas e consequente substituição do te-
cido acinar secretor por material fibroso16
.
Podem estar acompanhadas de alguma doen-
ça do colágeno, como a artrite reumatoide,
lúpus eritematoso sistêmico, esclerodermia,
poliarterite nodosa, entre outras (síndrome
de Sjögren na forma secundária), ou existir
isolada, sem mesenquimopatias associadas
(síndrome de Sjögren na forma primária)16
.
Todas as demais causas de olho seco aquo-
so-deficiente são, então, classificadas como
não síndrome de Sjögren e incluem a ausên-
cia congênita das glândulas lacrimais, pro-
cessos infecciosos, traumáticos ou tumorais
que lesam o parênquima secretor, disauto-
nomias nervosas que comprometem o lacri-
mejamento reflexo, uso de medicamentos tó-
picos ou sistêmicos cujos efeitos colaterais
reduzem a produção lacrimal, obstruções dos
ductos excretores das glândulas e, ainda, de
acordo com o grupo do DEWS, a involução
senil das glândulas secretoras14
.
Já o olho seco classificado como “evapo-
rativo” pressupõe excessiva evaporação do
filme lacrimal como origem do ressecamen-
to, porém com a produção do componente
aquoso ocorrendo em quantidade normal.
15. Volume 02 | No
02 | agosto/2013 15
De acordo com o DEWS, pode ser induzido
por doenças que afetam a produção lipídica
em quantidade ou qualidade, como as mei-
bomites (Figura 6), ou ainda que compro-
metam a dinâmica do filme lacrimal, como
as disfunções e alterações anatômicas das
pálpebras (todas, nesse caso, classificadas
como olho seco evaporativo “intrínsecas”).
Causas externas, como a toxicidade pelo
uso de medicamentos tópicos, uso de len-
tes de contato ou doenças carenciais, são
classificadas como causas de olho seco eva-
porativo “extrínsecas”14
.
O TRATAMENTO CLÍNICO DO OLHO SECO
O tratamento do olho seco pode ser tão com-
plexo quanto a patogênese da doença, pois
envolve diversas modalidades terapêuticas
e sua estratégia deve ser individualizada,
levando-se em consideração particularida-
des de cada caso. Em algumas situações,
o tratamento é capaz de curar o olho seco;
em outras, alivia os sintomas e minimiza ou
evita as consequências, melhorando, dessa
maneira, a qualidade de vida dos portado-
res. O controle clínico das doenças sistêmi-
cas apresenta impacto positivo no quadro
da secura ocular.
Como medidas gerais, os pacientes de-
vem ser orientados a evitar locais poluídos,
secos ou com correntes de ar. O trabalho
com computador e as leituras prolongadas
devem ser feitos com intervalos frequentes
de descanso. Umidificadores ambientais es-
tão disponíveis comercialmente para elevar
a umidade relativa do ar no recinto no qual
o paciente desenvolve suas atividades17
. Nos
casos mais avançados, óculos especiais com
protetores laterais podem criar uma câmara
úmida, reduzindo a taxa de evaporação do
filme lacrimal. Todas as condições oculares
que possam colaborar para causar ou agra-
var o olho seco devem ser diagnosticadas e
tratadas, como as inflamações palpebrais e
conjuntivais, as deformidades anatômicas da
margem palpebral, a presença de cílios anô-
Figura 6.
Meibomite
(cortesia Dr. S. Felberg).
16. 16 Volume 02 | No
02 | agosto/2013
malos, entre outras. Os usuários de lentes de
contato deverão ser reorientados com rela-
ção à necessidade da interrupção do uso ou,
então, nos casos mais leves e compensados,
para a utilização de lentes mais adequadas
à sua condição ocular17
.
O controle da inflamação ocular nos casos
moderados e graves é parte fundamental do
tratamento do olho seco, especialmente na-
queles associados às disfunções do sistema
imune.17
Formulações tópicas derivadas dos
anti-inflamatórios hormonais, como a metil-
prednisolona ou a dexametasona, podem ser
utilizadas. Devido aos potenciais efeitos adver-
sos locais (dentre eles, aumento da pressão
intraocular, opacidade do cristalino, reativa-
ção de infecções herpéticas e persistência de
defeitos epiteliais da córnea), devem ser sem-
pre prescritos na menor dose e concentração
necessárias e, se possível, por curto período
de tempo, cabendo ao oftalmologista decidir
entre os riscos e benefícios do tratamento18
.
Os imunomoduladores, como a ciclos-
porina A e19
, mais recentemente, o tacroli-
mus20
, têm sido empregados em diferentes
concentrações no controle da inflamação
ocular por meio de formulações tópicas.
Atuam inibindo a ação dos linfócitos T e,
consequentemente, a liberação de mediado-
res inflamatórios que promovem a ativação
e recrutamento de células do sistema imune
para o local da inflamação20
.
Os colírios derivados do soro autólogo são
muito utilizados nos casos graves de olho
seco, com intensa supressão da secreção
lacrimal, principalmente quando há defeitos
epiteliais persistentes e úlceras tróficas
da córnea. As maiores limitações ao uso
incluem, além da necessidade da retirada de
sangue, o risco da contaminação dos frascos
e, consequentemente, a possibilidade de
infecções oculares21
.
Medicamentos sistêmicos também podem
ser prescritos em casos selecionados para
o tratamento do olho seco. A tetraciclina e
seus derivados são utilizados como adjuvan-
tes no controle das meibomites moderadas
e graves. Tornam a secreção lipídica mais
fluida por atuarem nas lípases. Seus efeitos
sobre colagenases também fazem com que
sejam prescritas quando os portadores de
olho seco apresentam úlceras de córnea de
difícil cicatrização17
.
Alguns estudos sustentam que a suple-
mentação alimentar com ácidos graxos es-
senciais, dos grupos do ômega 3 e ômega 6,
podem desempenhar ação anti-inflamatória e
mudar o curso de diversas doenças crônicas.
Nos casos de olho seco associado a doenças
autoimunes ou a disfunções das glândulas
de Meibomius, essas substâncias demons-
traram reduzir a inflamação da superfície
ocular e melhorar a fluidez do filme lacrimal
por modificações na composição lipídica22,23
.
Os secretagogos são substâncias capazes
de induzir a produção dos componentes do
filme lacrimal e podem ser administrados
tópica ou sistemicamente. Não são con-
siderados parte do tratamento de primeira
linha nos casos de olho seco, principalmente
pelos efeitos adversos descritos quando pres-
critos sistemicamente ou pela fraca ação das
formulações tópicas. Diversas drogas com
ação secretagoga, principalmente sobre as
glândulas exócrinas, já foram testadas, como
a pilocarpina, a cevimelina, a bromexina e
o ambroxol16
.
AS LÁGRIMAS ARTIFICIAIS
A lubrificação ocular com colírios lubrifican-
tes artificiais continua sendo a modalidade
de tratamento mais utilizada no controle do
olho seco e das suas consequências. Além
disso, na maioria dos casos da prática clínica
17. Volume 02 | No
02 | agosto/2013 17
diária e do consultório, o uso dos lubrifican-
tes representa a medida isolada mais eficaz
para o alívio dos sintomas. É também mo-
dalidade essencial na estratégia terapêutica
dos casos moderados e graves, geralmente
em associação com algum dos tratamentos
descritos anteriormente.
A variedade de formulações disponíveis
comercialmente é vasta e elas diferem ba-
sicamente no seu mecanismo de ação, com-
posição e viscosidade, pH, osmolaridade e
duração da ação lubrificante, sendo o hia-
luronato de sódio, a carboximetilcelulose, a
hipromelose e o álcool polivinílico os lubri-
ficantes mais utilizados17
. Os lubrificantes
oculares repõe o volume de lágrima na su-
perfície, estabilizam o filme lacrimal, restau-
ram a função refrativa do filme, reduzem a
osmolaridade lacrimal e protegem a super-
fície do atrito palpebral durante o piscar24
.
O ácido hialurônico ou hialuronato é um
mucopolissacarídeo de elevado peso molecu-
lar, com propriedades viscoelásticas, encon-
trado naturalmente na matriz extracelular
de diversos tecidos, como na epiderme, no
líquido sinovial, no humor vítreo, na córnea,
na conjuntiva e na própria lágrima25
. Para
fins comerciais, o hialuronato biocompatível
pode ser obtido através da técnica do DNA
recombinante a partir de bactérias, principal-
mente Streptococcus. Estudos relacionaram
o hialuronato à atividade anti-inflamatória,
à proteção contra danos oxidativos pela ini-
bição de radicais livres, à promoção da mi-
gração de células epiteliais e à umidifica-
ção e hidratação de tecidos em função da
sua propriedade retentora de água. Desse
modo, colabora com a redução de feridas na
superfície ocular nos casos de ressecamen-
tos moderados e graves, auxilia no rápido
alívio dos sintomas, aumenta a estabilidade
do filme lacrimal, reduz sua evaporação ao
aumentar o break-up time e, em função da
sua viscosidade, seu efeito é relativamente
prolongado. Nas formulações tópicas ocula-
res, a viscosidade ideal deve proporcionar
ação prolongada e conforto no alívio dos sin-
tomas, não devendo ser muito aumentada a
ponto de causar borramento visual ou pre-
cipitações nos cílios e pálpebras26
.
Alguns produtos possuem conservantes
considerados mais tóxicos para as células da
superfície ocular, como o cloreto de benzalcô-
nio; outros contém conservantes considera-
dos menos prejudiciais, como o perborato de
sódio. Algumas das desvantagens dos conser-
vantes é que podem desencadear toxicidade
epitelial e reações de hipersensibilidade, co-
laborar para o aumento do processo inflama-
tório na superfície ocular e reduzir a viabili-
dade celular, muitas vezes gerando sintomas
similares aos causados pelo olho seco. Por
esses motivos, a presença de conservantes
nas formulações pode limitar a frequência
do uso e a duração do tratamento24,27
.
Finalmente, estão disponíveis comercial-
mente produtos livres de conservantes, ideais
para serem utilizados em todo tipo de olho
seco, principalmente quando a lubrificação
frequente é necessária. Os colírios sem con-
servantes são armazenados na forma de fla-
conetes para uso único ou então em frascos
de colírios contendo mecanismos altamente
especializados capazes de garantir a esterili-
dade do produto durante o período de uso27
.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em grande parte das vezes, o uso dos colí-
rios lubrificantes será recomendado de ma-
neira contínua, geralmente com instilações
diárias, fato que pode contribuir para a des-
continuidade do tratamento com abandono
da recomendação médica. Tratamentos per-
sonalizados, capazes de proporcionar signi-
18. 18 Volume 02 | No
02 | agosto/2013
ficativamente o alívio dos sintomas, com co-
modidade na administração do medicamento
e ausência de efeitos adversos associados à
droga ou aos conservantes colaboram para
a maior fidelidade do paciente ao tratamen-
to proposto.
REFERÊNCIAS
1. Tomlinson A, Khanal S. Assessment of tear film dynamics:
quantification approach. Ocul Surf. 2005 Apr;3(2):81-95.
2. Rocha EM, Rocha FJ, Kara-José Jr N, Aguilar AJ. Olho
seco. In: Gomes JAP, Alves MR. Superfície ocular. Rio de
Janeiro: Cultura Médica;2006. p.57-68.
3. Paschides CA, Stefaniotou M, Papageorgiou J, Skourtis
P, Psilas K. Ocular surface and environmental changes.
Acta Ophthalmol Scand. 1998 Feb;76(1):74-7.
4. Tiffany JM. The normal tear film. Dev Ophthalmol. 2008;
41:1-20.
5. Tiffany JM. Tears in health and disease. Eye (Lond). 2003
Nov;17(8):923-6.
6. Sullivan DA, Yamagami H, Liu M, Steagall RJ, Schirra F, Su-
zuki T, et al. Sex steroids, the meibomian gland and evapo-
rative dry eye. Adv Exp Med Biol. 2002;506(Pt A):389-99.
7. Khanal S, Tomlinson A, Diaper CJ. Tear physiology of
aqueous deficiency and evaporative dry eye. Optom Vis
Sci. 2009 Nov;86(11):1235-40.
8. Argueso P, Balaram M, Spurr-Michaud S, Keutmann HT,
Dana MR, Gipson IK. Decreased levels of the goblet cell
mucin MUC5AC in tears of patients with Sjogren syndrome.
Invest Ophthalmol Vis Sci. 2002 Apr;43(4): 1004-11.
9. Gipson IK, Inatomi T. Cellular origin of mucins of the ocu-
lar surface tear film. Adv Exp Med Biol. 1998;438:221-7.
10. Nichols BA, Chiappino ML, Dawson CR. Demonstration
of the mucous layer of the tear film by electron micros-
copy. Invest Ophthalmol Vis Sci. 1985 Apr;26(4):464-73.
11. Berry M, Ellingham RB, Corfield AP. Human preocular
mucins reflect changes in surface physiology. Br J Oph-
thalmol. 2004 Mar;88(3):377-83.
12. deLuise VP, Tabbara KF. Quantitation of tear lysozyme
levels in dry-eye disorders. Arch Ophthalmol. 1983 Apr;
101(4):634-5.
13. Janssen PT, Muytjens HL, van Bijsterveld OP. Nonlyso-
zyme antibacterial factor in human tears. Fact or fiction?
Invest Ophthalmol Vis Sci. 1984 Oct;25(10):1156-60.
14. The definition and classification of dry eye disease: report
of the Definition and Classification Subcommittee of the
International Dry Eye WorkShop (2007). Ocul Surf. 2007
Apr;5(2):75-92.
15. Lemp MA. Report of the National Eye Institute/Industry
workshop on Clinical Trials in Dry Eyes. Clao J. 1995 Oct;
21(4):221-32.
16. Felberg S, Dantas PE. Síndrome de Sjögren: diagnóstico
e tratamento. Arq Bras Oftalmol. 2006 Nov-Dec;69(6):
959-63.
17. Management and therapy of dry eye disease: report of
the Management and Therapy Subcommittee of the In-
ternational Dry Eye WorkShop (2007). Ocul Surf. 2007
Apr;5(2):163-78.
18. Calonge M. The treatment of dry eye. Surv Ophthalmol.
2001 Mar;45 Suppl 2:S227-39.
19. Foulks GN. Topical cyclosporine for treatment of ocu-
lar surface disease. Int Ophthalmol Clin. 2006 Fall;
46(4):105-22.
20. Wyrsch S, Thiel MA, Becht CN. [Safety of treatment
with tacrolimus ointment for anterior segment inflam-
matory diseases]. Klin Monbl Augenheilkd. 2009 Apr;
226(4):234-6.
21. Geerling G, Maclennan S, Hartwig D. Autologous serum
eye drops for ocular surface disorders. Br J Ophthalmol.
2004 Nov;88(11):1467-74.
22. Ramos-Casals M, Brito-Zeron P. New approaches in Sjo-
gren’s syndrome therapy. Expert Rev Clin Immunol. 2007
Mar;3(2):195-204.
23. Roncone M, Bartlett H, Eperjesi F. Essential fatty acids
for dry eye: A review. Cont Lens Anterior Eye. 2010 Apr;
33(2):49-54; quiz 100.
24. Asbell PA. Increasing importance of dry eye syndrome and
the ideal artificial tear: consensus views from a roundta-
ble discussion. Curr Med Res Opin. 2006;22:2149–2157.
25. Gaffney J, Matou-Nasri S, Grau-Olivares M, Slevin M.
Therapeutic applications of hyaluronan. Mol Biosyst.
2010 Mar;6(3):437-43.
26. Rah MJ. A review of hyaluronan and its ophthalmic ap-
plications. Optometry. 2011 Jan;82(1):38-43.
27. Tong L, Petznick A, Lee S, Tan J. Choice of artificial tear
formulation for patients with dry eye: where do we start?
Cornea. 2012 Nov;31 Suppl 1:S32-6.
20. O cuidado
com seus olhos
pode mudar
Referência Bibliográfica: 1) Bula do produto: Blephagel®
.
SE PERSISTIREM OS SINTOMAS, O MÉDICO DEVERÁ SER CONSULTADO.
Informações adicionais disponíveis à classe médica mediante solicitação.
®
RondaPropaganda
UNIÃO QUÍMICA FARMACÊUTICA NACIONAL S/A
Divisão GENOM
BLEPHAGEL®
Gel hipoalergênico.Higiene diária das pálpebras e dos cílios.Tubo de 40 g.Conteúdo: Gel para a higiene
das pálpebras e dos cílios.Tubo de 40 g e 100 compressas.Composição: Aqua, poloxamer 188, PEG-90, sodium borate,
carbomer, methylparaben.Indicações: BLEPHAGEL®
, gel hipoalergênico, demaquilante, cuida suavemente da limpeza da
área dos olhos.Pode ser recomendado aos utilizadores de lentes de contato.Propriedades:BLEPHAGEL®
, hipoalergênico
(formulado para minimizar os riscos de reação alérgica), sem perfume, não é gorduroso, limpa de forma adequada as
pálpebras. A sua fórmula: • Facilita a aderência do produto; • Produz uma agradável sensação de frescor, descongestionando
as pálpebras e respeitando o pH da pele;• Não deixa resíduos.Precauções de utilização:• Produto destinado a aplicação sobre
as pálpebras e cílios, não aplicar no olho; • Não utilizar em crianças. NÃO USAR EM PELE LESIONADA OU IRRITADA.Modo
de usar: Em média duas vezes por dia, de manhã e à noite, ou quantas vezes seja necessária a limpeza das pálpebras. 1)
Aplicar uma pequena quantidade de BLEPHAGEL®
sobre uma gaze limpa e macia.2) Frente ao espelho, aplicar com delicadeza
a gaze sobre as pálpebras e a base dos cílios com o olho fechado. 3) Passar suavemente, várias vezes a gaze com o
BLEPHAGEL®
sobre as pálpebras e a base dos cílios, friccionar com pequenos movimentos circulares a fim de retirar todos os
resíduos. 4) Eliminar o BLEPHAGEL®
restante com a ajuda de uma gaze limpa. 5) Repetir cada etapa para o outro olho
utilizando sempre gazes limpas.Reg.M.S.nº 2.5203.0006.Importado por: UNIÃO QUÍMICA FARMACÊUTICA NACIONAL
S/A. Rua Cel. Luiz Tenório de Brito, 90 – Embu-Guaçu – SP – CEP 06900-000 – SAC 0800 11 1559 – CNPJ
60.665.981/0001-18 – Farm.Resp.:Daniela Batista Paiva – CRF-MG nº 20617.Fabricado por:LABORATOIRES
THÉA – 12, rue Louis Blériot – 63017 CLERMONT-FERRAND Cedex 2 – FRANCE / FRANÇA.
ProduzidoemJunho/20125000935-REVISTAOFTEVIDENCIAS4-AGOSTO13