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O interesse pela biografia de Freud tem
uma motivação maior do que simples-
mente a de se conhecer datas e fatos re-
lativos à sua pessoa. A teoria que ele
criou parece estar inextricavelmente as-
sociada às peculiaridades da sua vida e
conhece-las é, pois, essencial para bem
compreender-se o que ele produziu teo-
ricamente.
Jacob, o pai de Freud, nasceu em
1815 na Tismênica, cidadezinha que fi-
cava localizada na Galícia Oriental, pro-
víncia do antigo Império Austro-
Húngaro. Amalie Nathason, sua mãe,
também nasceu lá, em 1835. Assim, ela
era cerca de 20 anos mais nova que o
marido e foi, como se verá, a terceira
esposa do pai de Freud.
As gerações mais antigas da família
tinham o sobrenome Freide, que, em al-
gum momento, mudaram para Freud,
talvez por motivos religiosos. Ainda jo-
vem, ele também mudou seu prenome,
de Sigismund para Sigmund, por razões
que não são bem conhecidas.
O avô de Freud era mascate e tinha
o costume de levar o filho Jacob (que
viria ser o pai de Freud) em suas andanças,
o que deve ter possibilitado a este adqui-
rir uma visão de mundo além da estrita
cultura judaica. O pai de Freud comerci-
ava lãs entre as províncias da Galícia e
da Moravia, e num certo momento mu-
dou-se da primeira para a segunda, onde
Freud viria a nascer. Aos dezesseis anos,
ainda em Tismênica, desposou Sally Ka-
ner com quem teve dois filhos: Emma-
nuel (nascido em 1832) e Philippe (nascido
em 1836). Sally faleceu em 1852, após o
que Jacob parece ter vagado por vários
lugares na Europa e ter tido uma breve
união com uma outra mulher, chamada
Rebeca, da qual tem-se poucas notícias.
Em 1855, casou-se novamente com a-
quela que viria a ser a mãe de Sigis-
mund. Nesta época ele já era avô porque
seu filho mais velho do primeiro casa-
mento já tivera o primeiro de seus fi-
lhos, John, nascido em 1854. Uma se-
gunda filha dele, Pauline, nasceria em
1856 e uma terceira, Berta, em 1859.
Freud nasceu as 18:30 horas do dia
06 de maio de 1856, uma terça-feira, em
Freiberg, uma cidadezinha de 6.000 ha-
bitantes, no nordeste da Morávia. A ci-
dade estava localizada em território do
que era, na época, o Império Austro-
Húngaro, mas que com as mudanças de
fronteiras posteriores fica hoje localiza-
da na República Tcheca. Freiberg, atu-
almente Pribor, dista 240 km. de Viena,
para onde a família de Freud se mudou,
quando ele tinha pouco mais de três a-
de Frieberg a Londres
Uma biografia
de Freud
2
nos de idade, e lá se estabeleceu, depois
de ter passado alguns meses em Leipzig.
O Império Austro-Húngaro era, na
época, uma vasta extensão de terras que
incluía, além das atuais Áustria e Hun-
gria, parte do norte da Itália e daquilo
que veio a ser a Iugoslávia, além de ou-
tros territórios vizinhos. O Império or-
gulhava-se de seu poderio, tinha um
Imperador jovem - Francisco José - e uma
bonita Imperatriz - Sissi.
Freud viveu quase toda a sua vida
em Viena e só deixou a cidade em 1938,
um ano antes de sua morte, vitimado
pela perseguição que os nazistas movi-
am aos judeus e da qual tanto ele como
sua família foram alvos. Sua filha Ana
chegou a ser presa e interrogada pela
Gestapo e quatro de suas cinco suas ir-
mãs morreram em campos de concen-
tração. Graças ao reconhecimento inter-
nacional com que já contava e às inter-
venções do embaixador dos Estados
Unidos, William Bullitt, e da condessa
Marie Bonaparte, da Grécia, os alemães
permitiram a emigração de Freud para
Londres. Suas obras, no entanto, foram
proibidas de circular e queimadas em
praça pública.
O fato de ter vivido em Viena não
foi sem conseqüências benéficas. Em
fins do século XVIII e início do XIX a
cidade era exuberante em todos os sen-
tidos. As artes e as ciências estavam em
pleno florescimento e ela disputava com
Paris a liderança mundial da cultura. Lá
trabalharam os principais luminares de
vários campos do conhecimento e, na
Medicina, quase todos foram professo-
res de Freud.
Sigismund foi o primeiro filho do
terceiro casamento de seu pai e teve sete
irmãos, dos quais apenas ele e o caçula,
Alexander, exatamente dez anos mais
novo que ele, eram homens. Aquele que
seria o terceiro homem (Julius, o segundo
filho de Amalie), morreu ainda recém nas-
cido, quando Sigismund contava deze-
nove meses de idade. Refletindo o espí-
rito da época e já demonstrando gosto
pelas analogias, de que foi pródigo,
Freud comparava sua família a um livro,
do qual ele e o irmão constituíam a capa
que protegia páginas, as irmãs Ana, Ro-
sa, Marie, Adolphine e Paula.
Quando Sigismund nasceu, sua mãe
tinha vinte e um anos e seu pai, mais de
quarenta. Seu sobrinho e principal com-
panheiro de infância era um ano e meio
mais velho que ele e Pauline, a sobrinha,
apenas seis meses mais nova. Muitos
autores-biógrafos acham que esta pecu-
liar constituição da família tenha sido
muito intrigante para a criança e tenha
motivado algumas das as suas futuras
teorias.
A família era de posses modestas e
quando o ramo de negócios de seu pai
entrou em crise este foi forçado a mu-
dar-se para Viena, onde ele continuou
no mesmo ramo de atividade, mas pro-
vavelmente passou a receber também
ajuda de Emmanuel e Philippe, que ha-
viam emigrado para Manchester, na In-
glaterra, onde tinham se tornado relati-
vamente prósperos.
3
Freud parece ter sido, desde peque-
no, muito devotado aos estudos. Por
sete anos seguidos foi o primeiro de sua
turma e graduou-se no Gymnasium com
louvor, aos 17 anos. Leu Shakespeare
desde pequeno e para ler o Dom Quixo-
te no original, aprendeu sozinho o espa-
nhol. Sua aversão pela música, no entan-
to, era proverbial, no que parece ter
contado com apoio dos que o cercavam.
Quando entravam em conflito o piano
da irmã e os estudos dele, a família sem-
pre se decidia em favor do segundo. No
entanto, quando adulto, costumava ir à
opera de Viena.
Na infância, Freud teve uma babá
que o levava à missa católica, mas ele
nunca chegou a aderir a qualquer con-
vicção religiosa. Ao contrário, escreveria
mais tarde, em 1927, o texto O futuro de
uma Ilusão, no qual consideraria as religi-
ões como falácias. Por toda a vida, no
entanto, conservou hábitos judeus. Ao
completar trinta anos de idade, seu pai
presenteou-lhe com uma Bíblia, que ele
parece ter lido apenas com interesse ci-
entífico.
Em sua juventude Freud era inclina-
do à especulação, a qual foi depois subs-
tituída por apaixonada defesa do empi-
rismo e à qual retornaria em seus textos
do final da vida. Depois de cogitar de
uma carreira de Direito, cogitação que
logo abandonou, estudou Medicina, in-
gressando na Universidade de Viena em
1873, graduando-se a 30 de março de
1881. Os oito anos que passou na Fa-
culdade, quando o seu curso podia ter
sido concluído em cinco, não foram de-
vidos à insuficiência de seus dotes inte-
lectuais, mas aos interesses diversifica-
dos que o levaram a atividades a que
não estava obrigado, inclusive aulas de
filosofia, com Franz Brentano. Segundo
ele, sua decisão pela Medicina foi toma-
da ao ouvir uma conferência de Karl
Brühl sobre o poema de Göethe, ’Da
Natureza’. É interessante observar que
ela tenha sido motivada não por uma
sessão em que se exibisse um conheci-
mento empírico da Natureza, mas por
uma que a tratava de forma especulativa.
Mais tarde ele diria que “em nenhum
momento sentia uma inclinação especial pela
carreira de médico... e era movido, antes, por
uma espécie de curiosidade dirigida para o gêne-
ro humano do que para os objetos naturais’ e
que ‘depois de 41 anos de atividade médica,
meu auto-conhecimento me diz que nunca fui
realmente um médico no sentido próprio. Tornei-
me médico ao ser compelido a me desviar de meu
propósito original; e o triunfo de minha vida
consiste em eu ter, depois de uma longa e tortuo-
sa jornada, encontrado o caminho de volta para
minha trajetória inicial”. (Pós-Escrito de 1927
a “Um Estudo Autobiográfico”, ESB., Imago
Editora, Vol. XX).
Entre 1876 e 1882 Freud trabalhou
no laboratório de fisiologia de Ernst
Brücke, o qual abandonou a conselho
do mestre, premido por necessidades
financeiras. A partir de 1882 prestou
serviços em diversos departamentos do
Hospital Geral de Viena, de modo espe-
cial no de neuropatologia, então chefia-
4
do pelo Dr. Scholz. Aos 29 anos tor-
nou-se professor de neuropatologia.
Em 1884 recebeu de um laboratório
farmacêutico, para estudos, amostras de
uma planta originária da América do Sul,
a coca. Sem saber ainda dos malefícios
do seu princípio ativo, a cocaína, entusi-
asmou-se com as suas propriedades eu-
forisantes e anestésicas e pensou que ela
poderia ser útil no tratamento da neuras-
tenia. Ao usá-la na tentativa de tratar um
colega de trabalho no laboratório de fi-
siologia, o qual adquirira um vício pela
morfina, acabou ocasionando a substitu-
ição daquela dependência pela da cocaí-
na, da qual aquele amigo veio a falecer.
Deixou escapar por pouco o reconhe-
cimento do efeito anestésico dela e o
mérito a respeito coube a Koeller, um
oftalmologista, que a usou com esse
propósito em cirurgias oculares.
Como precisava ganhar dinheiro, en-
tre outras razões porque desejava casar-
se, Freud acabou acatando o conselho
de Brücke e começou a atender pacien-
tes. Iniciou sua clínica como neurologis-
ta e logo se interessou pela histeria, à
época muito incidente e ainda misterio-
sa. Freqüentemente a enfermidade con-
fundia-se com condições neurológicas
porque seus sintomas às vezes consisti-
am em paralisias, espasmos, tremores
etc. O tratamento dela envolvia, então,
eletroterapia, massagens, repouso e...
sugestão hipnótica.
Em 1892 um prestigioso médico vi-
enense, Joseph Breuer (1845-1925), que
conhecera no laboratório de Brücke, re-
latou-lhe o tratamento de um caso de
histeria que havia conduzido dez anos
antes - entre dezembro de 1880 e junho de
1882 -, no qual utilizara a hipnose de um
modo diferente do tradicional. Empre-
gara-a não para produzir sugestão, mas
para possibilitar uma conversação minu-
ciosa com a paciente - que passou à história
da psicanálise com o codinome de Ana O -,
durante a qual ela conseguia acesso a
lembranças que já haviam sido perdidas
na vida de vigília, mas que guardavam
relações com seus sintomas. Ao recor-
dá-las a moça experimentava as emo-
ções que deveriam ter sido desencadea-
das pelas situações originais, mas que
por quaisquer motivos não haviam sido
expressas então. Dessa maneira ele veri-
ficou que rastreando os sintomas até su-
as origens eles desapareciam, sem que
nenhuma sugestão tivesse de ser feita
nesse sentido. A esse modo novo de u-
sar a hipnose ele denominou método catár-
tico. Breuer deparou-se, contudo, com o
que julgou ser uma complicação do seu
método: a paciente desenvolveu fortes
emoções eróticas a seu respeito e ele,
assustado, abandonou o caso e essa
forma de tratar.
Freud sentiu-se vivamente interessa-
do pelo método e começou a praticá-lo,
verificando que os fatos relatados por
Breuer ocorriam com regularidade e e-
ram comuns a todas as pessoas. Sob
hipnose era possível recuperar lembran-
ças perdidas que ao serem recordadas
mobilizavam emoções que haviam sido
retidas à época dos acontecimentos ori-
5
ginais. Os sentimentos eróticos surgiam
sempre, mesmo quando o hipnotizador
não oferecesse qualquer pretexto para
tal, fato que mais tarde ele viria a deno-
minar transferência e que se tornaria a pe-
dra angular da terapia psicanalítica.
Abandonando a hipnose, Freud cria-
ria o método das associações livres, uti-
lizado atualmente. A partir daí e de ou-
tras experiências mais, ele observara que
mantendo as pacientes recostadas sobre
um divã e deixando-as falar livremente
sobre tudo que lhes ocorresse à mente,
poderia chegar a resultados parecidos
com os do método catártico. Observou
que tanto hipnotizadas quanto em vigília
as pacientes apresentavam dificuldades e
mesmo oposições em resgatar recorda-
ções penosas e chamou a isso de resistên-
cia. Na hipnose procurava vence-las de
modo ativo, por meio de sugestões, per-
suasões e pressões; com a paciente a-
cordada tentava supera-las conversando
sobre elas, tornando-as conscientes, isto
é, realizando uma análise psíquica, como
dizia na época.
Depois de vencer a barreiras que se
antepunham a um judeu, recebeu uma
bolsa para estagiar em Paris, com Char-
cot, no hospital de La Salpetiere, onde
esteve entre outubro de 1885 e março
de l886. Lá aprendeu que a histeria po-
dia ser criada e removida por meio da
hipnose, prática que não era bem vista
no meio científico de Viena. Com o fito
de aperfeiçoar-se na sugestão hipnótica
voltou à França em 1889, desta vez a
Nancy, onde estagiou com Liebault e
Bernheim.
Na volta de seu estágio em Paris, a-
briu seu consultório em Viena, na R-
thausstrasse, em 07 de abril de 1886 e
em setembro do mesmo ano casou-se
com Marta Bernays, de Hamburg, com a
qual achava-se comprometido desde ju-
nho de 1882. Com ela trocou uma copi-
osa correspondência, hoje inteiramente
publicada. (Mais de 900 cartas!).
Parece ter tido uma vida conjugal fe-
liz da qual resultaram seis filhos. [Ma-
thilde (1887), Jean Martin (1889), Oliver
(1891), Ernst (1892), Sophie (1893) e
Ana (1895)], dos quais só a última se-
guiu seus passos e se tornou psicanalista.
Freud publicou em 1893, juntamente
com Breuer, os Estudos Sobre a Histeria,
nos quais pode-se ver a passagem pro-
gressiva do método catártico para o das
associações livres. Neles, Breuer lançou
sua famosa idéia dos estados hipnoides,
para justificar que as emoções ficassem
retidas originariamente, à qual Freud a-
deriu a princípio e rejeitou logo depois.
Por tais estados ele entendia certas con-
dições especiais que alteravam a estrutu-
ra normal da consciência, como aquelas
geradas pela fadiga, pelo susto, pela dis-
persão etc., que dificultavam e expressão
emocional.
Em 1897 Freud iniciou sua auto-
análise, baseada em seus sonhos, a qual
não só foi-lhe de grande valia pessoal
como contribuiu para uma melhor
compreensão de muitos pontos de sua
teoria. Sua obra A Interpretação dos Sonhos
6
(ESB, Editora Imago, vols. IV e V, 1974),
que publicou em 1899, datada de 1900,
foi, em parte pelo menos, resultado dela
e relata como exemplos muitos de seus
sonhos.
Neste mesmo ano Freud conheceu
Emil Fliess, um obscuro otorrinolarin-
gologista de Berlim que acreditava na
relação das neuroses com a mucosa na-
sal e por quem desenvolveu uma grande
(e injustificada!) admiração. São também
de Fliess as idéias de uma periodicidade
masculina e outra, feminina e a da bisse-
xualidade. (Essa última, adotada por
Freud, irá jogar um importante papel na
sua teoria das neuroses). A partir de en-
tão é a ele que Freud passa a comunicar
suas idéias emergentes e a submeter seus
manuscritos. Fliess passa a ser o seu pú-
blico privado e seu referencial. Esse encan-
tamento parece ter fornecido dimensão
transferencial à auto-análise que Freud
desenvolvia então mas nos primeiro a-
nos do novo século rompeu com essa
ligação, depois de um longo período de
divergências que foi minando-a.
Até 1891 Freud morou com sua fa-
mília no número 8 da Maria Theresiens-
trasse e a partir dai na 19, Bergasse, de
onde só saiu em 1938, para transferir-se
para Londres. Nesse endereço ele aten-
deu seus pacientes, escreveu seus traba-
lhos, reuniu seus seguidores e criou sua
família, por quase 40 anos.
Freud escreveu em alemão, língua fa-
lada na Áustria, o que tem motivado vá-
rias questões quanto à tradução de sua
obra para outros idiomas. Vários auto-
res, entre os quais Bruno Bethelheim, P-
B Pontalis e Kemper, entre nós, escre-
veram sobre o fato e mostraram que,
entre outros problemas, as nuanças de
certas palavras alemãs não têm exatos
equivalentes em outros idiomas, o que
muitas vezes levou os tradutores a false-
ar as idéias do autor. De fato, o idioma
alemão é mais apto para expressar vi-
vências interiores do que, por exemplo,
o inglês, mais afeito ao que é objetivo,
técnico e pragmático.
Aos poucos ele foi se convencendo
do papel da vida sexual na etiologia das
neuroses, ao mesmo tempo em que foi
refinando suas concepções sobre a se-
xualidade e diferenciando-a da mera ge-
nitalidade. Em 1894 suas teses a respeito
já estavam bem sedimentadas e como
Breuer não as referendou, começou a
dar-se um afastamento entre eles, o qual
se completaria em 1896. Pouco depois,
Freud elaboraria suas teorias sobre as
defesas, as quais iriam consolidar as i-
déias sobre o inconsciente reprimido.
Até 1897 Freud acreditava que o
neurótico, quando criança, fora vítima
de abuso sexual por parte de um adulto
ou de uma criança maior, mas aos pou-
cos foi mudando esse ponto de vista, já
que tal ocorrência, embora relatada por
eles, em geral não encontrava compro-
vação na realidade. Constatou, então,
que os episódios relatados pelos pacien-
tes eram meras fantasias, conseqüência
de impulsos interiores, e que a realidade
psíquica não era uma cópia fiel da reali-
dade fática. Abrira, assim, as portas para
7
a compreensão da vida de fantasias, a
qual viria a ter tão grande importância
em suas teorias.
As décadas de 1890 e 1900 foram
cruciais para o desenvolvimento da Psi-
canálise. Depois de ter publicado com
Breuer os Estudos Sobre a Histeria, em
1899 veio à luz A Interpretação dos sonhos;
em 1902 tornou-se professor da Univer-
sidade de Viena e iniciou, com alguns
discípulos, a Sociedade Psicológica das
Quartas-Feiras, que logo se tornou Soci-
edade Psicanalítica de Viena; em 1905 ,
no caso Dora, ele reconheceu de modo
explícito o papel da transferência; em
1910 nasceu a Internacional Psycho-
Analytical Association (IPA), que existe até
hoje.
Mas, mesmo depois, continuou a
produzir idéias. Em 1914 concebeu a
tese do narcisismo; em 1920 formulou a
segunda tópica; em 1923 chegou a uma
nova tese sobre os impulsos, dividindo-
os em pulsões de vida e de morte.
Sua paixão pelo passado levou a co-
lecionar pequenas peças e estatuetas an-
tigas, as quais mantinha cuidadosamente
arrumadas em seu gabinete de trabalho.
Quando de sua imigração, os nazistas,
provavelmente considerando-as velharias,
permitiram que fossem levadas consigo
para Londres, onde repousam no Freud
Museum, na casa onde morreu.
O interesse de Freud pela arqueolo-
gia não deve causar surpresa, pois ele
mesmo registrou, já quase no final da
vida, em 1937, que “seu trabalho [do analis-
ta] de construção, ou, se preferir-se, de recons-
trução, assemelha-se muito à escavação, feita
por um arqueólogo, de alguma morada que foi
destruída e soterrada, ou de algum antigo edifí-
cio. Os dois processos são de fato idênticos, exce-
to pelo fato de que o analista trabalha em me-
lhores condições e tem mais material à sua dis-
posição para ajudá-lo, já que aquilo com que
está tratando não é algo destruído, mas algo
que ainda está vivo — e talvez por outra razão
também. Mas assim como o arqueólogo ergue as
paredes do prédio a partir dos alicerces que
permaneceram de pé, determina o número e a
posição das colunas pelas depressões no chão e
reconstrói as decorações e as pinturas murais a
partir dos restos encontrados nos escombros,
assim também o analista procede quando extrai
suas inferências a partir dos fragmentos de lem-
branças, das associações e do comportamento do
sujeito da análise”. (Construções em Análise.
ESB, 1974, vol. XXIII. p. 293).
Neste mesmo ano de 1923 foi aco-
metido por um câncer na mandíbula, o
qual o molestou pelo resto da vida e que
motivou mais de trinta cirurgias. Mesmo
assim, continuou atendendo e escreven-
do e alguns de seus mais importantes
trabalhos são posteriores a esta época.
Em 1938 os alemães invadiram a
Áustria e ele foi perseguido. Contudo,
os nazistas permitiram a ele que emi-
grasse. Seu destino foi a Inglaterra, onde
morreu a 23 de setembro de 1939, na
casa de número 20, de Maresfield Gar-
den, Londres. Lá ainda produziu vários
artigos, deixando sem concluir o Esboço
de Psicanálise (ESB, Imago Editora, vol.
XXIII), no qual trabalhava ao expirar.
Freud foi cremado e suas cinzas repou-
8
sam em Londres, no interior de um vaso
grego, pertencente à sua coleção de pe-
ças arqueológicas antigas.
9
Cronologia de Freud
1815- Nasce Jacob Schlomo, pai de
Freud
1832- Nasce Emmauel, meio-irmão de
Freud
1835- Nasce Amalie Nathason, mãe de
Freud
1836- Nasce Philippe, meio-irmão de
Freud.
1855- Nasce John, o sobrinho
Casamento de Jacob e Amalie.
1856- Nasce Sigmund Freud, a 6 de
maio.
1859- Outubro: Freud muda-se para
Viena.
1865- Freud entra para o Gynasium
1870- Única volta de Freud a Frieberg
1873- Gradua-se no Gynasium;
Ingressa no curso de Medicina, na
Universidade de Viena.
1876-1882- Atua no laboratório de
Brücke
1878- Muda seu prenome para Sigmund.
1881- Obtém seu grau em Medicina.
1882- Breuer termina o caso Ana O;
Começa a trabalhar no Hospital
Psiquiátrico, sob orientação de
Theodor Meynert.
1884-885- Experimentos com a cocaína.
1885-1886- Estagia com Charcot
1886- Abre seu primeiro consultório;
Casa-se com Martha Bernays;
Conhece Emil Fliess
1887-1888- Estuda o uso da hipnose.
1889- Estagia com Liebault e Bernheim
1889-1890- Inicia amizade com Fliess
1891- Muda-se para Bergasse, 19
1893-1894- Publica com Breuer os
Estudos sobre a Histeria
1894- Rompe com Breuer.
1895- Analisa os próprios sonhos
1896- Primeiro uso do termo Psicanálise
1897- Começa sua auto-analise.
1899- Publica A Interpretação dos Sonhos.
1900- Rompe com Fliess
1901- Inicia a análise de Dora
1902- Torna-se professor da
Universidade de Viena;
Funda a Sociedade Psicológica
das Quartas-feiras.
1905- Publica vários importantes
trabalhos. Entre eles: Três Ensaios
sobre a Teoria da Sexualidade, Os
Chistes e Suas Relações com o
Inconsciente, Fragmentos da Análise de
um Caso de Histeria
1909- Visita os Estados Unidos
1906- Inicia amizade com Carl Gustav
Jung
1910- Funda a International
Psycho-Analytical Association
1913- Rompe com Jung.
1923- Primeira operação no maxilar,
para controlar um câncer.
1933- Hitler torna-se Chanceler da
Alemanha
1938- A casa de Freud e a Associação
Vienense de Psicanálise são
vasculhadas;
Ana Freud é presa e interrogada
pela Gestapo.
Emigra para a Inglaterra
1939- Morre em Londres, a 23 de
setembro
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  • 1.
  • 2. 1 O interesse pela biografia de Freud tem uma motivação maior do que simples- mente a de se conhecer datas e fatos re- lativos à sua pessoa. A teoria que ele criou parece estar inextricavelmente as- sociada às peculiaridades da sua vida e conhece-las é, pois, essencial para bem compreender-se o que ele produziu teo- ricamente. Jacob, o pai de Freud, nasceu em 1815 na Tismênica, cidadezinha que fi- cava localizada na Galícia Oriental, pro- víncia do antigo Império Austro- Húngaro. Amalie Nathason, sua mãe, também nasceu lá, em 1835. Assim, ela era cerca de 20 anos mais nova que o marido e foi, como se verá, a terceira esposa do pai de Freud. As gerações mais antigas da família tinham o sobrenome Freide, que, em al- gum momento, mudaram para Freud, talvez por motivos religiosos. Ainda jo- vem, ele também mudou seu prenome, de Sigismund para Sigmund, por razões que não são bem conhecidas. O avô de Freud era mascate e tinha o costume de levar o filho Jacob (que viria ser o pai de Freud) em suas andanças, o que deve ter possibilitado a este adqui- rir uma visão de mundo além da estrita cultura judaica. O pai de Freud comerci- ava lãs entre as províncias da Galícia e da Moravia, e num certo momento mu- dou-se da primeira para a segunda, onde Freud viria a nascer. Aos dezesseis anos, ainda em Tismênica, desposou Sally Ka- ner com quem teve dois filhos: Emma- nuel (nascido em 1832) e Philippe (nascido em 1836). Sally faleceu em 1852, após o que Jacob parece ter vagado por vários lugares na Europa e ter tido uma breve união com uma outra mulher, chamada Rebeca, da qual tem-se poucas notícias. Em 1855, casou-se novamente com a- quela que viria a ser a mãe de Sigis- mund. Nesta época ele já era avô porque seu filho mais velho do primeiro casa- mento já tivera o primeiro de seus fi- lhos, John, nascido em 1854. Uma se- gunda filha dele, Pauline, nasceria em 1856 e uma terceira, Berta, em 1859. Freud nasceu as 18:30 horas do dia 06 de maio de 1856, uma terça-feira, em Freiberg, uma cidadezinha de 6.000 ha- bitantes, no nordeste da Morávia. A ci- dade estava localizada em território do que era, na época, o Império Austro- Húngaro, mas que com as mudanças de fronteiras posteriores fica hoje localiza- da na República Tcheca. Freiberg, atu- almente Pribor, dista 240 km. de Viena, para onde a família de Freud se mudou, quando ele tinha pouco mais de três a- de Frieberg a Londres Uma biografia de Freud
  • 3. 2 nos de idade, e lá se estabeleceu, depois de ter passado alguns meses em Leipzig. O Império Austro-Húngaro era, na época, uma vasta extensão de terras que incluía, além das atuais Áustria e Hun- gria, parte do norte da Itália e daquilo que veio a ser a Iugoslávia, além de ou- tros territórios vizinhos. O Império or- gulhava-se de seu poderio, tinha um Imperador jovem - Francisco José - e uma bonita Imperatriz - Sissi. Freud viveu quase toda a sua vida em Viena e só deixou a cidade em 1938, um ano antes de sua morte, vitimado pela perseguição que os nazistas movi- am aos judeus e da qual tanto ele como sua família foram alvos. Sua filha Ana chegou a ser presa e interrogada pela Gestapo e quatro de suas cinco suas ir- mãs morreram em campos de concen- tração. Graças ao reconhecimento inter- nacional com que já contava e às inter- venções do embaixador dos Estados Unidos, William Bullitt, e da condessa Marie Bonaparte, da Grécia, os alemães permitiram a emigração de Freud para Londres. Suas obras, no entanto, foram proibidas de circular e queimadas em praça pública. O fato de ter vivido em Viena não foi sem conseqüências benéficas. Em fins do século XVIII e início do XIX a cidade era exuberante em todos os sen- tidos. As artes e as ciências estavam em pleno florescimento e ela disputava com Paris a liderança mundial da cultura. Lá trabalharam os principais luminares de vários campos do conhecimento e, na Medicina, quase todos foram professo- res de Freud. Sigismund foi o primeiro filho do terceiro casamento de seu pai e teve sete irmãos, dos quais apenas ele e o caçula, Alexander, exatamente dez anos mais novo que ele, eram homens. Aquele que seria o terceiro homem (Julius, o segundo filho de Amalie), morreu ainda recém nas- cido, quando Sigismund contava deze- nove meses de idade. Refletindo o espí- rito da época e já demonstrando gosto pelas analogias, de que foi pródigo, Freud comparava sua família a um livro, do qual ele e o irmão constituíam a capa que protegia páginas, as irmãs Ana, Ro- sa, Marie, Adolphine e Paula. Quando Sigismund nasceu, sua mãe tinha vinte e um anos e seu pai, mais de quarenta. Seu sobrinho e principal com- panheiro de infância era um ano e meio mais velho que ele e Pauline, a sobrinha, apenas seis meses mais nova. Muitos autores-biógrafos acham que esta pecu- liar constituição da família tenha sido muito intrigante para a criança e tenha motivado algumas das as suas futuras teorias. A família era de posses modestas e quando o ramo de negócios de seu pai entrou em crise este foi forçado a mu- dar-se para Viena, onde ele continuou no mesmo ramo de atividade, mas pro- vavelmente passou a receber também ajuda de Emmanuel e Philippe, que ha- viam emigrado para Manchester, na In- glaterra, onde tinham se tornado relati- vamente prósperos.
  • 4. 3 Freud parece ter sido, desde peque- no, muito devotado aos estudos. Por sete anos seguidos foi o primeiro de sua turma e graduou-se no Gymnasium com louvor, aos 17 anos. Leu Shakespeare desde pequeno e para ler o Dom Quixo- te no original, aprendeu sozinho o espa- nhol. Sua aversão pela música, no entan- to, era proverbial, no que parece ter contado com apoio dos que o cercavam. Quando entravam em conflito o piano da irmã e os estudos dele, a família sem- pre se decidia em favor do segundo. No entanto, quando adulto, costumava ir à opera de Viena. Na infância, Freud teve uma babá que o levava à missa católica, mas ele nunca chegou a aderir a qualquer con- vicção religiosa. Ao contrário, escreveria mais tarde, em 1927, o texto O futuro de uma Ilusão, no qual consideraria as religi- ões como falácias. Por toda a vida, no entanto, conservou hábitos judeus. Ao completar trinta anos de idade, seu pai presenteou-lhe com uma Bíblia, que ele parece ter lido apenas com interesse ci- entífico. Em sua juventude Freud era inclina- do à especulação, a qual foi depois subs- tituída por apaixonada defesa do empi- rismo e à qual retornaria em seus textos do final da vida. Depois de cogitar de uma carreira de Direito, cogitação que logo abandonou, estudou Medicina, in- gressando na Universidade de Viena em 1873, graduando-se a 30 de março de 1881. Os oito anos que passou na Fa- culdade, quando o seu curso podia ter sido concluído em cinco, não foram de- vidos à insuficiência de seus dotes inte- lectuais, mas aos interesses diversifica- dos que o levaram a atividades a que não estava obrigado, inclusive aulas de filosofia, com Franz Brentano. Segundo ele, sua decisão pela Medicina foi toma- da ao ouvir uma conferência de Karl Brühl sobre o poema de Göethe, ’Da Natureza’. É interessante observar que ela tenha sido motivada não por uma sessão em que se exibisse um conheci- mento empírico da Natureza, mas por uma que a tratava de forma especulativa. Mais tarde ele diria que “em nenhum momento sentia uma inclinação especial pela carreira de médico... e era movido, antes, por uma espécie de curiosidade dirigida para o gêne- ro humano do que para os objetos naturais’ e que ‘depois de 41 anos de atividade médica, meu auto-conhecimento me diz que nunca fui realmente um médico no sentido próprio. Tornei- me médico ao ser compelido a me desviar de meu propósito original; e o triunfo de minha vida consiste em eu ter, depois de uma longa e tortuo- sa jornada, encontrado o caminho de volta para minha trajetória inicial”. (Pós-Escrito de 1927 a “Um Estudo Autobiográfico”, ESB., Imago Editora, Vol. XX). Entre 1876 e 1882 Freud trabalhou no laboratório de fisiologia de Ernst Brücke, o qual abandonou a conselho do mestre, premido por necessidades financeiras. A partir de 1882 prestou serviços em diversos departamentos do Hospital Geral de Viena, de modo espe- cial no de neuropatologia, então chefia-
  • 5. 4 do pelo Dr. Scholz. Aos 29 anos tor- nou-se professor de neuropatologia. Em 1884 recebeu de um laboratório farmacêutico, para estudos, amostras de uma planta originária da América do Sul, a coca. Sem saber ainda dos malefícios do seu princípio ativo, a cocaína, entusi- asmou-se com as suas propriedades eu- forisantes e anestésicas e pensou que ela poderia ser útil no tratamento da neuras- tenia. Ao usá-la na tentativa de tratar um colega de trabalho no laboratório de fi- siologia, o qual adquirira um vício pela morfina, acabou ocasionando a substitu- ição daquela dependência pela da cocaí- na, da qual aquele amigo veio a falecer. Deixou escapar por pouco o reconhe- cimento do efeito anestésico dela e o mérito a respeito coube a Koeller, um oftalmologista, que a usou com esse propósito em cirurgias oculares. Como precisava ganhar dinheiro, en- tre outras razões porque desejava casar- se, Freud acabou acatando o conselho de Brücke e começou a atender pacien- tes. Iniciou sua clínica como neurologis- ta e logo se interessou pela histeria, à época muito incidente e ainda misterio- sa. Freqüentemente a enfermidade con- fundia-se com condições neurológicas porque seus sintomas às vezes consisti- am em paralisias, espasmos, tremores etc. O tratamento dela envolvia, então, eletroterapia, massagens, repouso e... sugestão hipnótica. Em 1892 um prestigioso médico vi- enense, Joseph Breuer (1845-1925), que conhecera no laboratório de Brücke, re- latou-lhe o tratamento de um caso de histeria que havia conduzido dez anos antes - entre dezembro de 1880 e junho de 1882 -, no qual utilizara a hipnose de um modo diferente do tradicional. Empre- gara-a não para produzir sugestão, mas para possibilitar uma conversação minu- ciosa com a paciente - que passou à história da psicanálise com o codinome de Ana O -, durante a qual ela conseguia acesso a lembranças que já haviam sido perdidas na vida de vigília, mas que guardavam relações com seus sintomas. Ao recor- dá-las a moça experimentava as emo- ções que deveriam ter sido desencadea- das pelas situações originais, mas que por quaisquer motivos não haviam sido expressas então. Dessa maneira ele veri- ficou que rastreando os sintomas até su- as origens eles desapareciam, sem que nenhuma sugestão tivesse de ser feita nesse sentido. A esse modo novo de u- sar a hipnose ele denominou método catár- tico. Breuer deparou-se, contudo, com o que julgou ser uma complicação do seu método: a paciente desenvolveu fortes emoções eróticas a seu respeito e ele, assustado, abandonou o caso e essa forma de tratar. Freud sentiu-se vivamente interessa- do pelo método e começou a praticá-lo, verificando que os fatos relatados por Breuer ocorriam com regularidade e e- ram comuns a todas as pessoas. Sob hipnose era possível recuperar lembran- ças perdidas que ao serem recordadas mobilizavam emoções que haviam sido retidas à época dos acontecimentos ori-
  • 6. 5 ginais. Os sentimentos eróticos surgiam sempre, mesmo quando o hipnotizador não oferecesse qualquer pretexto para tal, fato que mais tarde ele viria a deno- minar transferência e que se tornaria a pe- dra angular da terapia psicanalítica. Abandonando a hipnose, Freud cria- ria o método das associações livres, uti- lizado atualmente. A partir daí e de ou- tras experiências mais, ele observara que mantendo as pacientes recostadas sobre um divã e deixando-as falar livremente sobre tudo que lhes ocorresse à mente, poderia chegar a resultados parecidos com os do método catártico. Observou que tanto hipnotizadas quanto em vigília as pacientes apresentavam dificuldades e mesmo oposições em resgatar recorda- ções penosas e chamou a isso de resistên- cia. Na hipnose procurava vence-las de modo ativo, por meio de sugestões, per- suasões e pressões; com a paciente a- cordada tentava supera-las conversando sobre elas, tornando-as conscientes, isto é, realizando uma análise psíquica, como dizia na época. Depois de vencer a barreiras que se antepunham a um judeu, recebeu uma bolsa para estagiar em Paris, com Char- cot, no hospital de La Salpetiere, onde esteve entre outubro de 1885 e março de l886. Lá aprendeu que a histeria po- dia ser criada e removida por meio da hipnose, prática que não era bem vista no meio científico de Viena. Com o fito de aperfeiçoar-se na sugestão hipnótica voltou à França em 1889, desta vez a Nancy, onde estagiou com Liebault e Bernheim. Na volta de seu estágio em Paris, a- briu seu consultório em Viena, na R- thausstrasse, em 07 de abril de 1886 e em setembro do mesmo ano casou-se com Marta Bernays, de Hamburg, com a qual achava-se comprometido desde ju- nho de 1882. Com ela trocou uma copi- osa correspondência, hoje inteiramente publicada. (Mais de 900 cartas!). Parece ter tido uma vida conjugal fe- liz da qual resultaram seis filhos. [Ma- thilde (1887), Jean Martin (1889), Oliver (1891), Ernst (1892), Sophie (1893) e Ana (1895)], dos quais só a última se- guiu seus passos e se tornou psicanalista. Freud publicou em 1893, juntamente com Breuer, os Estudos Sobre a Histeria, nos quais pode-se ver a passagem pro- gressiva do método catártico para o das associações livres. Neles, Breuer lançou sua famosa idéia dos estados hipnoides, para justificar que as emoções ficassem retidas originariamente, à qual Freud a- deriu a princípio e rejeitou logo depois. Por tais estados ele entendia certas con- dições especiais que alteravam a estrutu- ra normal da consciência, como aquelas geradas pela fadiga, pelo susto, pela dis- persão etc., que dificultavam e expressão emocional. Em 1897 Freud iniciou sua auto- análise, baseada em seus sonhos, a qual não só foi-lhe de grande valia pessoal como contribuiu para uma melhor compreensão de muitos pontos de sua teoria. Sua obra A Interpretação dos Sonhos
  • 7. 6 (ESB, Editora Imago, vols. IV e V, 1974), que publicou em 1899, datada de 1900, foi, em parte pelo menos, resultado dela e relata como exemplos muitos de seus sonhos. Neste mesmo ano Freud conheceu Emil Fliess, um obscuro otorrinolarin- gologista de Berlim que acreditava na relação das neuroses com a mucosa na- sal e por quem desenvolveu uma grande (e injustificada!) admiração. São também de Fliess as idéias de uma periodicidade masculina e outra, feminina e a da bisse- xualidade. (Essa última, adotada por Freud, irá jogar um importante papel na sua teoria das neuroses). A partir de en- tão é a ele que Freud passa a comunicar suas idéias emergentes e a submeter seus manuscritos. Fliess passa a ser o seu pú- blico privado e seu referencial. Esse encan- tamento parece ter fornecido dimensão transferencial à auto-análise que Freud desenvolvia então mas nos primeiro a- nos do novo século rompeu com essa ligação, depois de um longo período de divergências que foi minando-a. Até 1891 Freud morou com sua fa- mília no número 8 da Maria Theresiens- trasse e a partir dai na 19, Bergasse, de onde só saiu em 1938, para transferir-se para Londres. Nesse endereço ele aten- deu seus pacientes, escreveu seus traba- lhos, reuniu seus seguidores e criou sua família, por quase 40 anos. Freud escreveu em alemão, língua fa- lada na Áustria, o que tem motivado vá- rias questões quanto à tradução de sua obra para outros idiomas. Vários auto- res, entre os quais Bruno Bethelheim, P- B Pontalis e Kemper, entre nós, escre- veram sobre o fato e mostraram que, entre outros problemas, as nuanças de certas palavras alemãs não têm exatos equivalentes em outros idiomas, o que muitas vezes levou os tradutores a false- ar as idéias do autor. De fato, o idioma alemão é mais apto para expressar vi- vências interiores do que, por exemplo, o inglês, mais afeito ao que é objetivo, técnico e pragmático. Aos poucos ele foi se convencendo do papel da vida sexual na etiologia das neuroses, ao mesmo tempo em que foi refinando suas concepções sobre a se- xualidade e diferenciando-a da mera ge- nitalidade. Em 1894 suas teses a respeito já estavam bem sedimentadas e como Breuer não as referendou, começou a dar-se um afastamento entre eles, o qual se completaria em 1896. Pouco depois, Freud elaboraria suas teorias sobre as defesas, as quais iriam consolidar as i- déias sobre o inconsciente reprimido. Até 1897 Freud acreditava que o neurótico, quando criança, fora vítima de abuso sexual por parte de um adulto ou de uma criança maior, mas aos pou- cos foi mudando esse ponto de vista, já que tal ocorrência, embora relatada por eles, em geral não encontrava compro- vação na realidade. Constatou, então, que os episódios relatados pelos pacien- tes eram meras fantasias, conseqüência de impulsos interiores, e que a realidade psíquica não era uma cópia fiel da reali- dade fática. Abrira, assim, as portas para
  • 8. 7 a compreensão da vida de fantasias, a qual viria a ter tão grande importância em suas teorias. As décadas de 1890 e 1900 foram cruciais para o desenvolvimento da Psi- canálise. Depois de ter publicado com Breuer os Estudos Sobre a Histeria, em 1899 veio à luz A Interpretação dos sonhos; em 1902 tornou-se professor da Univer- sidade de Viena e iniciou, com alguns discípulos, a Sociedade Psicológica das Quartas-Feiras, que logo se tornou Soci- edade Psicanalítica de Viena; em 1905 , no caso Dora, ele reconheceu de modo explícito o papel da transferência; em 1910 nasceu a Internacional Psycho- Analytical Association (IPA), que existe até hoje. Mas, mesmo depois, continuou a produzir idéias. Em 1914 concebeu a tese do narcisismo; em 1920 formulou a segunda tópica; em 1923 chegou a uma nova tese sobre os impulsos, dividindo- os em pulsões de vida e de morte. Sua paixão pelo passado levou a co- lecionar pequenas peças e estatuetas an- tigas, as quais mantinha cuidadosamente arrumadas em seu gabinete de trabalho. Quando de sua imigração, os nazistas, provavelmente considerando-as velharias, permitiram que fossem levadas consigo para Londres, onde repousam no Freud Museum, na casa onde morreu. O interesse de Freud pela arqueolo- gia não deve causar surpresa, pois ele mesmo registrou, já quase no final da vida, em 1937, que “seu trabalho [do analis- ta] de construção, ou, se preferir-se, de recons- trução, assemelha-se muito à escavação, feita por um arqueólogo, de alguma morada que foi destruída e soterrada, ou de algum antigo edifí- cio. Os dois processos são de fato idênticos, exce- to pelo fato de que o analista trabalha em me- lhores condições e tem mais material à sua dis- posição para ajudá-lo, já que aquilo com que está tratando não é algo destruído, mas algo que ainda está vivo — e talvez por outra razão também. Mas assim como o arqueólogo ergue as paredes do prédio a partir dos alicerces que permaneceram de pé, determina o número e a posição das colunas pelas depressões no chão e reconstrói as decorações e as pinturas murais a partir dos restos encontrados nos escombros, assim também o analista procede quando extrai suas inferências a partir dos fragmentos de lem- branças, das associações e do comportamento do sujeito da análise”. (Construções em Análise. ESB, 1974, vol. XXIII. p. 293). Neste mesmo ano de 1923 foi aco- metido por um câncer na mandíbula, o qual o molestou pelo resto da vida e que motivou mais de trinta cirurgias. Mesmo assim, continuou atendendo e escreven- do e alguns de seus mais importantes trabalhos são posteriores a esta época. Em 1938 os alemães invadiram a Áustria e ele foi perseguido. Contudo, os nazistas permitiram a ele que emi- grasse. Seu destino foi a Inglaterra, onde morreu a 23 de setembro de 1939, na casa de número 20, de Maresfield Gar- den, Londres. Lá ainda produziu vários artigos, deixando sem concluir o Esboço de Psicanálise (ESB, Imago Editora, vol. XXIII), no qual trabalhava ao expirar. Freud foi cremado e suas cinzas repou-
  • 9. 8 sam em Londres, no interior de um vaso grego, pertencente à sua coleção de pe- ças arqueológicas antigas.
  • 10. 9 Cronologia de Freud 1815- Nasce Jacob Schlomo, pai de Freud 1832- Nasce Emmauel, meio-irmão de Freud 1835- Nasce Amalie Nathason, mãe de Freud 1836- Nasce Philippe, meio-irmão de Freud. 1855- Nasce John, o sobrinho Casamento de Jacob e Amalie. 1856- Nasce Sigmund Freud, a 6 de maio. 1859- Outubro: Freud muda-se para Viena. 1865- Freud entra para o Gynasium 1870- Única volta de Freud a Frieberg 1873- Gradua-se no Gynasium; Ingressa no curso de Medicina, na Universidade de Viena. 1876-1882- Atua no laboratório de Brücke 1878- Muda seu prenome para Sigmund. 1881- Obtém seu grau em Medicina. 1882- Breuer termina o caso Ana O; Começa a trabalhar no Hospital Psiquiátrico, sob orientação de Theodor Meynert. 1884-885- Experimentos com a cocaína. 1885-1886- Estagia com Charcot 1886- Abre seu primeiro consultório; Casa-se com Martha Bernays; Conhece Emil Fliess 1887-1888- Estuda o uso da hipnose. 1889- Estagia com Liebault e Bernheim 1889-1890- Inicia amizade com Fliess 1891- Muda-se para Bergasse, 19 1893-1894- Publica com Breuer os Estudos sobre a Histeria 1894- Rompe com Breuer. 1895- Analisa os próprios sonhos 1896- Primeiro uso do termo Psicanálise 1897- Começa sua auto-analise. 1899- Publica A Interpretação dos Sonhos. 1900- Rompe com Fliess 1901- Inicia a análise de Dora 1902- Torna-se professor da Universidade de Viena; Funda a Sociedade Psicológica das Quartas-feiras. 1905- Publica vários importantes trabalhos. Entre eles: Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade, Os Chistes e Suas Relações com o Inconsciente, Fragmentos da Análise de um Caso de Histeria 1909- Visita os Estados Unidos 1906- Inicia amizade com Carl Gustav Jung 1910- Funda a International Psycho-Analytical Association 1913- Rompe com Jung. 1923- Primeira operação no maxilar, para controlar um câncer. 1933- Hitler torna-se Chanceler da Alemanha 1938- A casa de Freud e a Associação Vienense de Psicanálise são vasculhadas; Ana Freud é presa e interrogada pela Gestapo. Emigra para a Inglaterra 1939- Morre em Londres, a 23 de setembro