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Um sistema eleitoral falsificado e enganador

1 - Mais de um milhão de eleitores fantasmas

Aspecto particularmente caricatural é a forma descarada,
despudorada, como é apresentado, de modo solene, institucional, um
recenseamento eleitoral mas, que não passa de um ridículo envólucro
que simboliza a desastrosa gestão PS/PSD, das últimas três décadas. O
menosprezo pela democracia e para com os eleitores, tendo como
referência essa bagunça administrativa, contradiz os constantes apelos
aos cidadãos eleitores quanto aos seus deveres cívicos e ao exercício
da democracia. E, não deixa de ser hilariante, ver os apelos do triste
Cavaco, para se votar, em massa.

Esse menosprezo é reforçado, porquanto a actualização de um
recenseamento eleitoral não passa de um elemento de ordem técnico-
administrativa de fácil resolução, com a utilização de meios de
tratamento de informação disponíveis há muitos anos. Só
recentemente, com a questão do cartão de cidadão ficou resolvida a
introdução automática dos novos eleitores na base de dados do
recenseamento, bem como a actualização da afectação territorial do
voto, sempre que seja substituido o anterior formato de identificação - o
conhecido BI - para cidadãos que mudem de residência, estado civil,
etc.

Continuam por não resolver, por exemplo, a questão do abate
automático no recenseamento, dos óbitos, assim como fica excluida a
actualização da afectação territorial da população mais idosa, que é
possuidora dos antigos bilhetes de identidade, com carácter vitalício.

Mais, nunca os governos admitiram fórmulas expeditas de os cidadãos
votarem em local diverso daqueles em que estão recenseados, numa
tentativa de promover a participação dos eleitores. Se a eleição de
mandarins está assegurada, independentemente do nível de
participação dos eleitores, para que haveriam eles de investir no
recenseamento ou na facilidade do exercício da cidadania, ou
preocuparem-se com algo afastado das suas rotundas barrigas?

Elaborámos um pequeno exercício onde isso se evidencia,
quantificadamente, para todo o território e, depois em detalhe para os
vários distritos, de acordo com a metodologia implícita no quadro
seguinte:

     População residente total (1)                         10 627 250
     (-) População com menos de 19 anos (1)                 2 198 344
     (+) Jovens com 18/19 anos (2)                            230 141
     ( - ) Residentes estrangeiros (3)                        440 277



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(+) Residentes estrangeiros com direito a voto(4)                    27 194
     (=) Eleitores potenciais                                          8 245 964
     ( - ) Inscritos no Recenseamento eleitoral                        9 347 315
     (=) Eleitores fantasmas                                           1 101 351
      (1) Estimativa do INE para fim de 2008
      (2) Cálculo nosso sobre as estimativas do INE
      (3) Dados do SEF para 2008
      (4) D Republica, 2ª série, nº 43, 3 de Março 2009


Estes eleitores fantasmas garantem – antes de entrar um só voto na urna
– uma abstenção de 11.8%, relativamente aos inscritos no
recenseamento, sendo de 13.4% o excesso face aos eleitores
potenciais. Assim, consoante se utilizem os dados do recenseamento ou
o volume plausível de população com capacidade eleitoral, a
abstenção é muito distinta:

 Revelada pela CNE e pela superficialidade mediática           3 688 830      39.5%
 Abstenção real, descontados os fantasmas                                     27.7%
                                                               2 587 479
 Baseada no eleitorado potencial, real                                        31.4%

Um exercício aritmético, paralelo ao acima efectuado para a
população total, pode efectuar-se por distritos, apresentando-se, nesse
contexto, elementos reveladores da variedade de situações.

                                                                        % dos
             População     Eleitores   Eleitores  Eleitores   % dos    eleitores
                total      possíveis recenseados fantasmas recenseados possíveis
  Portugal   10.627.250    8.245.964    9.347.315 1.101.351    11,8      13,4
  Aveiro        735.090      585.272      643.937    58.665    9,1       10,0
  Beja          151.599      122.339      138.251    15.912    11,5      13,0
  Braga         864.182      677.937      762.944    85.007    11,1      12,5
  Bragança      140.635      119.330      156.335    37.005    23,7      31,0
  C Branco      197.185      165.525      193.761    28.236    14,6      17,1
  Coimbra       432.555      351.689      393.881    42.192    10,7      12,0
  Évora         168.893      137.796      147.649     9.853    6,7        7,2
  Faro          430.084      283.186      351.874    68.688    19,5      24,3
  Guarda        170.532      144.035      175.522    31.487    17,9      21,9
  Leiria        480.165      379.114      421.010    41.896    10,0      11,1
  Lisboa      2.238.484    1.613.883    1.856.903   243.020    13,1      15,1
  Portalegre    116.830       96.397      108.632    12.235    11,3      12,7
  Porto       1.824.123    1.439.292    1.550.752   111.460    7,2        7,7
  Santarém      458.806      360.265      404.095    43.830    10,8      12,2
  Setúbal       860.134      653.236      699.006    45.770    6,5        7,0
  V Castelo     250.951      207.240      255.700    48.460    19,0      23,4
  Vila Real     215.521      179.611      236.322    56.711    24,0      31,6
  Viseu         398.640      325.066      381.883    56.817    14,9      17,5
  Açores        244.780      184.847      216.759    31.912    14,7      17,3
  Madeira       247.161      187.104      252.099    64.995    25,8      34,7

Do quadro atrás sobressaem os seguintes factos:
• É enorme a parcela de eleitores fantasmas, em regiões como a
  Madeira, Vila Real e Bragança;


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•   Setúbal, seguido dos distritos de Évora e Porto surgem como aqueles
    em que os eleitores inexistentes têm menos significado relativo;

•   Em Bragança, Guarda, Viana do Castelo, Vila Real e na Madeira, o
    surrealista recenseamento consegue contabilizar um número de
    eleitores superior à população residente total, mesmo incluindo
    crianças e imigrantes;

•   A redistribuição dos 226 deputados actuais eleitos no território
    nacional, de acordo com o volume de eleitores possíveis, provocaria
    algumas alterações ao número de eleitos por alguns distritos:

    Lisboa perderia três deputados e a Madeira um;
    Castelo Branco, Évora, Portalegre e Setúbal aumentariam a sua
    representação em um deputado, cada.

A questão dos eleitores fantasmas revela ainda um aspecto de ordem
política assaz interessante, pelo que revela sobre o calculismo cúpido e
oportunista do mandarinato.

O empolamento do número de eleitores tem vantagens económicas
para o mandarinato, uma vez que desse número depende o volume de
cargos surgidos das eleições autárquicas. De acordo com artigo
publicado (JN de 3/7/2009), o número de eleitores foi acrescentado
recentemente com 738 000 cidadãos, estes existentes, contrariamente,
a muitos dos que estão registados, como atrás se disse. Assim, em 22
concelhos passam a existir mais dois vereadores e, em outros sete, onde
o número de eleitores ultrapassa os 40000, a vereação beneficia de um
aumento de salário. De acordo com critérios similares nasceram, após
as eleições autárquicas de 11 de Outubro, mais 400 cargos de vogais de
juntas de freguesia.

Em relação aos sete concelhos, o número oficial de eleitores ultrapassa,
em todos, de facto, os 40000. Mas, tudo indica que, em alguns casos
isso só seja possível contabilizando eleitores fantasmas.

                População total   População <18 anos   Eleitores potenciais (1)-
                      (1)                 (2)                     (2)              Eleitores recenseados
Guarda             44 121              7 550                  36 571                     40 482
Ponte de Lima      44 527              8 602                  35 925                     43 586
Portimão           49 881              9 991                  39 890                     41 949
                      (1) Estimativa do INE para fim de 2008
                      (2) Cálculo nosso sobre as estimativas do INE


Na Guarda e em Ponte de Lima é bastante claro que a consideração
de eleitores inexistentes dota os seus autarcas de uma categoria – com
vantagens remuneratórias - que, de acordo com os preceitos legais, só
beneficiam porque existe um recenseamento mal feito. Para o caso de


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Portimão a diferença poderia justificar alguma reserva mas, convém
que se não olvide que a população imigrante é significativa no
concelho e, a sua dedução, alargará, claramente, o fosso existente
entre os eleitores recenseados e os reais.

Andam por aí muitos fantasmas à solta e demasiados mandarins a
beneficiar disso. Apetece versejar:

                         Fátimas, isaltinos, valentins
                          Avelinos e porcarias afins

2 - Como se montou a bipolarização no PS/PSD

Apresentaram-se      algumas      questões    relacionadas    com     o
recenseamento e que evidenciam bem, o programada descuido do
mandarinato, mormente aquartelado na mafia bicéfala que vem
gerindo a máquina de extorsão de todos quantos trabalham em
Portugal. Passa-se, de imediato, para as fórmulas anti-democráticas que
vêm sendo usadas para perpetuar uma maioria confortável para o
PS/PSD, através de uma das suas alas, agora o PS de Sócrates, antes o
PSD com o seu acólito Portas.

Constitui elemento basilar da democracia que os cidadãos sejam iguais
no direito de votar (ou não votar) e, se votam, as suas opções não
podem ser objecto de aferições diversas.

As democracias de mercado são verdadeiras adulterações da
democracia, sob muitos pontos de vista. Algumas já foram explanadas
neste blog (1), circunscrevendo-se agora a análise, aos resultados de
exercícios aritméticos, que se inserem na linha do que atrás se
apresentou.

A estanquicidade dos círculos eleitorais nas eleições para deputados (o
distrito) e a aplicação do método de Hondt distorcem os resultados
expressos pela vontade dos cidadãos, prejudicando todos os partidos,
para o benefício evidente do PS/PSD que, esclareça-se, é o arquitecto
do sistema eleitoral.

Os votos dirigidos a partidos, apurados no território português (excluindo,
portanto, os emigrantes) elegem 226 deputados e, manda a mais
elementar democracia que cada deputado seja eleito pelo mesmo
número de cidadãos que elegeram um concorrente de outro partido.
Porém, nada disso acontece, no sistema eleitoral luso, como se pode
observar no quadro seguinte:

                                                2005              2009
     Votos dirigidos a partidos               5.543.089         5.485.231



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Nº médio de eleitores por deputado
      Total                                  24.527           24.271
      Esquerda                               36.209           32.363
         BE                                  45.543           34.818
         PCP-PEV                             30.876           29.745
      Direita                                21.934           21.348
         PS                                  21.434           21.548
         PSD                                 22.768           21.103
      Direita xenófoba (CDS)                 34.596           28.188

•   São evidentes as diferenças entre o número de votos médio para
    eleger os deputados do PS/PSD e os necessários às restantes forças
    políticas. Esse desequilíbrio entre o PS/PSD e os outros partidos
    reduziu-se claramente de 2005 para este ano, uma vez que, nos
    casos do BE e do CDS, o número de deputados cresceu bastante,
    permitindo assim, um maior aproveitamento dos votos;

•   As variações positivas ou negativas – que foram notórias - no número
    de votos e deputados, para o caso do PS/PSD, mantêm estes sempre
    em situação favorável e com ligeiras alterações, quanto a número
    de votos por deputado;

•   A segmentação do território por distritos – unidade territorial cuja
    utilidade se desconhece perante a nomenclatura usada na UE e já
    transposta em diversas áreas da administração pública – visa isolar os
    votos não dirigidos ao PS/PSD e torná-los inúteis, em termos de
    eleição de deputados. Dito de outro modo, o sistema eleitoral,
    pretende neutralizar muitas centenas de milhar de cidadãos que se
    não revejam no PS/PSD;

•   Essa situação, acompanhada pela polarização dos media em
    noticias sobre aquelas duas seitas, conduz, em muitos casos a forte
    distorção do significado do voto expresso. Um cidadão cuja
    preferência seja por um partido diferente do PS/PSD poderá ser
    levado a votar num deles, numa lógica de mal menor, tendo em
    conta a inutilidade prática de votar na formação política que
    realmente aprecia;

•   Assim, existe um reforço implícito à bipolarização empobrecedora, à
    lógica do voto útil, em detrimento de verdadeiras alternativas, com
    toda a máquina de propaganda mediática mobilizada para o
    denegrimento ou desvalorização de quaisquer outras formações
    políticas que não o PS/PSD. Só a conjugação de uma sofrível cultura
    democrática com a arrogância dos ocupantes PS/PSD do país,
    permite como comentadores de serviço, indivíduos tão pouco
    isentos como Marcelo ou Vitorino;




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•   Esta concentração de votos favorece ainda o PS/PSD quanto à
    distribuição dos subsídios estatais, proporcional ao número de votos
    que recolheram e indexados ao salário mínimo. O cinismo do sistema
    revela-se, neste contexto, na grande preocupação dos mandarins
    pela elevação do valor do salário mínimo – base para a elevação
    do valor dos subsídios aos partidos presentes na AR – e menos com a
    sua aplicação, pelas empresas, aos trabalhadores (2);

•   Para culminar todo este elenco de iniquidades e de manobras anti-
    democráticas, o PS/PSD recusa os subsídios públicos aos partidos
    concorrentes que não elejam deputados, como se essa situação
    fosse merecedora de um anátema, de uma verdadeira expulsão do
    debate político e democrático.

3 – Como seria com um sistema eleitoral tecnicamente democrático?

Procede-se, de seguida, a um exercício de redistribuição democrática
dos votos, de acordo com princípios conhecidos e não da nossa
autoria. A sua discussão está feita mas, como a sua aplicação depende
do PS/PSD… Para esse exercício toma-se como base:

•   A nível global e como no quadro anterior se expôs, cada deputado
    deveria representar, em 2009, 24271 desses eleitores (24527 em 2005),
    aplanando-se, liminarmente, as diferenças apuradas para os diversos
    partidos;

•   Mantém-se a divisão dos círculos eleitorais coincidentes com os
    distritos (Continente), para além das duas regiões autónomas;

•   Para cada distrito e para cada força política, o número de votos é
    dividido pelo indicador acima referido (24271) e o maior número
    inteiro, sem arredondamento, daí resultante forneceria o número de
    deputados directamente eleitos pelo seu círculo. Nesse contexto,
    seriam eleitos directamente apenas 172 deputados, destinando-se os
    restantes 54 a ser eleitos numa segunda instância;

•   Essa segunda instância – o chamado círculo nacional – seria
    constituido pelos votos sobrantes, em cada distrito e de cada partido
    que excedessem o resultado de 24271*nº de deputados
    directamente eleitos. Seriam, desta forma eleitos mais 47 deputados;

•   Como se depreende, cada partido concorrente ficaria sempre com
    um saldo de votos, inferior a 24271 e restariam ainda 7 deputados
    por definir a que partido pertenceriam. Ora, nada mais simples do
    que afectá-los aos partidos concorrentes, com maiores saldos,
    garantindo-se assim que quase todos os cidadãos estariam
    representados na AR.


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O quadro seguinte resume a composição da AR actual e evidencia a
sua maior representatividade

    Composição da AR após redistribuição democrática dos votos - 2009
                      Eleição Círculo nacional                        Comparação
                                                    Total Actual
                      directa 1ª volta 2ª volta                    Ganhos Perdas
    Esquerda             24        18       1        43      31       12
    BE                   15        7        1        23      16        7
    PCP-PEV               9        9                 18      15        3
    PCTP/MRPP                      2                  2                2
    Direita             133        20       4       157     174        4      -21
    PS                   77        8                 85      96               -11
    PPD/PSD              56        11       1        68      78               -10
    MEP                            1                  1                1
    MMS                                     1         1                1
    PPM                                     1         1                1
    MPT/PH                                  1         1                1
    Direita xenófoba     15        9        2        26      21        5
    CDS-PP               15        9                 24      21        3
    PND                                     1         1                1
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    Total               172        47       7       226     226       21      -21

•   É óbvio que uma maior democraticidade na distribuição dos votos,
    resultante da consideração de um “círculo nacional” que
    congregue os votos que não elegeram deputados na eleição
    directa como mandatários distritais, prejudica, exclusivamente o
    PS/PSD, apresentando como principal benefiário, a esquerda
    institucional;

•   Inversamente, a situação actual, dá ao PS/PSD um benefício de 21
    deputados a que se devem juntar os da emigração, como já se
    referiu;

•   Um círculo nacional aumentaria substancialmente a diversidade
    política da AR acrescentando-se aos deputados dos actuais cinco
    partidos, dois eleitos pelo PCTP/MRPP – o principal prejudicado com
    o modelo eleitoral existente – e um para cada uma de várias outras
    áreas da direita tradicional ou xenófoba;

•   Neste contexto, o surgimento de maiorias absolutas de um partido
    seria extremamente difícil. Os cálculos efectuados para 2005 revelam
    que o gang socratóide apenas teria tido 105 deputados, muito
    aquém da maioria absoluta com que empobreceu os trabalhadores
    e os pobres, com que reduziu direitos na área da saúde, da
    educação e do trabalho, durante quatro anos;

Há muito referida como uma possibilidade de dotar o sistema eleitoral
de maior democraticidade, a consideração de um círculo nacional,


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nunca foi considerada seriamente pela mafia bicéfala. Esperar que a
democracia seja aprofundada e desenvolvida pelo PS/PSD – os grandes
beneficiários da falsificação eleitoral que se vem aqui explanando – é
estar defronte de uma abóbora podre à espera que dê nêsperas.

A integração dos emigrantes – não considerada no exercício anterior -
revela aspectos curiosos que, invariavelmente, favorecem o PS/PSD.

•   Para além de o recenseamento não considerar com direito a voto
    uma enorme parcela, maioritária, dos portugueses na emigração, a
    baixa participação eleitoral fornece ao PS/PSD, 4 deputados de
    baixo custo. Assim, o PSD recentemente, elegeu dois deputados pelo
    círculo “Fora da Europa” com uma média de 2368 votos,
    quantitativos que, para a “Europa” se elevam a 7219 para o
    deputado do PS e 3970 para o do PSD;

•   Trata-se de quatro deputados que pouco ou nada representam mas
    cuja existência pode ser decisiva, se se considerar que, numa AR em
    que a maioria se consegue com 116 deputados, o seu número –
    garantido ao PS/PSD – é um auxiliar precioso para a constituição de
    maiorias.

4 – A democracia que faz falta

•   Seria infantil admitirmos que a democracia para os trabalhadores
    portugueses, para os reformados, os desempregados, os precários e
    os pobres se conseguiria tecnicamente, através de uma reforma do
    sistema eleitoral ou com um recenseamento actualizado;

•   Demonstra-se aqui e apenas, que a democracia de mercado tem
    como inerência a prática de manobras anti-democráticas que
    sirvam de almofada de segurança contra reviravoltas eleitorais.

•   A democracia de mercado, com os seus partidos tresandando
    marketing, frases ocas e imagens estudadas para apresentar no
    telejornal e nos “debates” é uma violência e uma imbecilidade. As
    fórmulas de eleição de mandarins, com mandatos longos,
    irreversíveis, vagos e irrestritos, configuram de facto uma forma de
    ditadura do capital;
•   A própria existência de mandarins, profissionais da mistificação, da
    trafulhice e do tráfego de influências é uma verdadeira usurpação
    do poder da multidão sobre o seu próprio destino;

•   Pretende-se tratar a multidão como uma vasta mole de gente
    infantilizada, ignorante, incapaz de pensar, de se auto-gerir no
    estabelecimento das condições para o seu bem-estar; e que se veve



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sentir eternamente grata para com a existência de mandarins,
    benevolentes e sacrificados;

•   De modo simplista pretende-se demonstrar que os cidadãos se
    podem manifestar, pelo voto, na expressão verbal e escrita e de se
    associarem, ao invés do que acontece no fascismo clássico e nas
    ditaduras banais. Esse arsenal fora de moda nas sociedades
    desenvolvidas e deram lugar às as novas fórmulas de controlo
    biopolítico. Este, baseia-se nos seus modelos de quotas, de
    avaliação, de dependência da arbitrariedade do chefe e do
    patrão, do crédito bancário, com um vasto e complexo leque de leis
    e regulamentos. É a opressão de sempre novas formas de opressão,
    como se observou na criação dos SIADAP, no modelo de avaliação
    dos professores, a cargo da execranda varejeira Milu, nas
    “competências” de gestão do fascistóide Correia de Campos e
    cujas técnicas são, há muito tempo, aplicadas nas empresas;

•   A contínua subida do abstencionismo que se verifica em toda a
    parte, testemunha o desprezo e o descrédito que os sistemas
    partidários e eleitorais e que tem maior visibilidade entre os jovens. A
    bipolarização entre dois partidos de direita – o modelo proposto nas
    democracias de mercado – são emanações de um evidente
    pensamento único, qual teologia que não dispensa actos litúrgicos
    de exposição do poder, como as eleições;

•   E as esquerdas institucionais, sem grandes soluções, funcionam como
    um harmónio que estica ao encolhe ao sabor da conjuntura, com
    propostas tímidas, inseridas num quadro reformista que a direita
    muitas vezes é capaz de subscrever, propondo um socialismo vago
    ou sem conteúdo, que não capta duradouramente ninguém; e para
    os quais, as ideias de “poder para os trabalhadores”, capitalismo e
    anti-capitalismo, anto-gestão, etc, são incómodos tabus;

•   A democracia política passa, forçosamente por novas formas de
    organização política nas quais se inscreve o poder dos trabalhadores
    no que respeita à gestão e decisão no seio das empresas. Não há
    democracia política onde o poder económico pode apropriar-se da
    riqueza criada, onde pode despedir, reduzir direitos e salários, etc.
    Democracia é a expulsão dos capitalistas para o refugo da História.

(1) Os últimos 30 anos de eleições legislativas; perspectivas para Setembro
       http://www.scribd.com/doc/17283662/Os-ultimos-30-anos-de-eleicoes-
       legislativas-perspectivas-para-Setembro

     Eleições europeias 2009 – limitações e oportunidades
       http://www.scribd.com/doc/16494875/Eleicoes-europeias-2009-
       limitacoes-e-oportunidades



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A democracia de mercado e a actuação da esquerda
     http://esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt/1459.html

    DEMOCRACIA OU CLEPTOCRACIA
     http://esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt/1252.html

    Novos partidos. Mais do mesmo ?
     http://esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt/18530.html

    O sistema partidário português
     http://www.scribd.com/doc/15634632/O-sistema-partidario-portugues

(2) O novo valor do salário mínimo é um logro
     http://esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt/3567.html




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Sistema eleitoral português inflacionado com mais de 1 milhão de eleitores fantasmas

  • 1. Um sistema eleitoral falsificado e enganador 1 - Mais de um milhão de eleitores fantasmas Aspecto particularmente caricatural é a forma descarada, despudorada, como é apresentado, de modo solene, institucional, um recenseamento eleitoral mas, que não passa de um ridículo envólucro que simboliza a desastrosa gestão PS/PSD, das últimas três décadas. O menosprezo pela democracia e para com os eleitores, tendo como referência essa bagunça administrativa, contradiz os constantes apelos aos cidadãos eleitores quanto aos seus deveres cívicos e ao exercício da democracia. E, não deixa de ser hilariante, ver os apelos do triste Cavaco, para se votar, em massa. Esse menosprezo é reforçado, porquanto a actualização de um recenseamento eleitoral não passa de um elemento de ordem técnico- administrativa de fácil resolução, com a utilização de meios de tratamento de informação disponíveis há muitos anos. Só recentemente, com a questão do cartão de cidadão ficou resolvida a introdução automática dos novos eleitores na base de dados do recenseamento, bem como a actualização da afectação territorial do voto, sempre que seja substituido o anterior formato de identificação - o conhecido BI - para cidadãos que mudem de residência, estado civil, etc. Continuam por não resolver, por exemplo, a questão do abate automático no recenseamento, dos óbitos, assim como fica excluida a actualização da afectação territorial da população mais idosa, que é possuidora dos antigos bilhetes de identidade, com carácter vitalício. Mais, nunca os governos admitiram fórmulas expeditas de os cidadãos votarem em local diverso daqueles em que estão recenseados, numa tentativa de promover a participação dos eleitores. Se a eleição de mandarins está assegurada, independentemente do nível de participação dos eleitores, para que haveriam eles de investir no recenseamento ou na facilidade do exercício da cidadania, ou preocuparem-se com algo afastado das suas rotundas barrigas? Elaborámos um pequeno exercício onde isso se evidencia, quantificadamente, para todo o território e, depois em detalhe para os vários distritos, de acordo com a metodologia implícita no quadro seguinte: População residente total (1) 10 627 250 (-) População com menos de 19 anos (1) 2 198 344 (+) Jovens com 18/19 anos (2) 230 141 ( - ) Residentes estrangeiros (3) 440 277 WWW.ESQUERDA_DESALINHADA.BLOGS.SAPO.PT 17-07-2010 1
  • 2. (+) Residentes estrangeiros com direito a voto(4) 27 194 (=) Eleitores potenciais 8 245 964 ( - ) Inscritos no Recenseamento eleitoral 9 347 315 (=) Eleitores fantasmas 1 101 351 (1) Estimativa do INE para fim de 2008 (2) Cálculo nosso sobre as estimativas do INE (3) Dados do SEF para 2008 (4) D Republica, 2ª série, nº 43, 3 de Março 2009 Estes eleitores fantasmas garantem – antes de entrar um só voto na urna – uma abstenção de 11.8%, relativamente aos inscritos no recenseamento, sendo de 13.4% o excesso face aos eleitores potenciais. Assim, consoante se utilizem os dados do recenseamento ou o volume plausível de população com capacidade eleitoral, a abstenção é muito distinta: Revelada pela CNE e pela superficialidade mediática 3 688 830 39.5% Abstenção real, descontados os fantasmas 27.7% 2 587 479 Baseada no eleitorado potencial, real 31.4% Um exercício aritmético, paralelo ao acima efectuado para a população total, pode efectuar-se por distritos, apresentando-se, nesse contexto, elementos reveladores da variedade de situações. % dos População Eleitores Eleitores Eleitores % dos eleitores total possíveis recenseados fantasmas recenseados possíveis Portugal 10.627.250 8.245.964 9.347.315 1.101.351 11,8 13,4 Aveiro 735.090 585.272 643.937 58.665 9,1 10,0 Beja 151.599 122.339 138.251 15.912 11,5 13,0 Braga 864.182 677.937 762.944 85.007 11,1 12,5 Bragança 140.635 119.330 156.335 37.005 23,7 31,0 C Branco 197.185 165.525 193.761 28.236 14,6 17,1 Coimbra 432.555 351.689 393.881 42.192 10,7 12,0 Évora 168.893 137.796 147.649 9.853 6,7 7,2 Faro 430.084 283.186 351.874 68.688 19,5 24,3 Guarda 170.532 144.035 175.522 31.487 17,9 21,9 Leiria 480.165 379.114 421.010 41.896 10,0 11,1 Lisboa 2.238.484 1.613.883 1.856.903 243.020 13,1 15,1 Portalegre 116.830 96.397 108.632 12.235 11,3 12,7 Porto 1.824.123 1.439.292 1.550.752 111.460 7,2 7,7 Santarém 458.806 360.265 404.095 43.830 10,8 12,2 Setúbal 860.134 653.236 699.006 45.770 6,5 7,0 V Castelo 250.951 207.240 255.700 48.460 19,0 23,4 Vila Real 215.521 179.611 236.322 56.711 24,0 31,6 Viseu 398.640 325.066 381.883 56.817 14,9 17,5 Açores 244.780 184.847 216.759 31.912 14,7 17,3 Madeira 247.161 187.104 252.099 64.995 25,8 34,7 Do quadro atrás sobressaem os seguintes factos: • É enorme a parcela de eleitores fantasmas, em regiões como a Madeira, Vila Real e Bragança; WWW.ESQUERDA_DESALINHADA.BLOGS.SAPO.PT 17-07-2010 2
  • 3. Setúbal, seguido dos distritos de Évora e Porto surgem como aqueles em que os eleitores inexistentes têm menos significado relativo; • Em Bragança, Guarda, Viana do Castelo, Vila Real e na Madeira, o surrealista recenseamento consegue contabilizar um número de eleitores superior à população residente total, mesmo incluindo crianças e imigrantes; • A redistribuição dos 226 deputados actuais eleitos no território nacional, de acordo com o volume de eleitores possíveis, provocaria algumas alterações ao número de eleitos por alguns distritos: Lisboa perderia três deputados e a Madeira um; Castelo Branco, Évora, Portalegre e Setúbal aumentariam a sua representação em um deputado, cada. A questão dos eleitores fantasmas revela ainda um aspecto de ordem política assaz interessante, pelo que revela sobre o calculismo cúpido e oportunista do mandarinato. O empolamento do número de eleitores tem vantagens económicas para o mandarinato, uma vez que desse número depende o volume de cargos surgidos das eleições autárquicas. De acordo com artigo publicado (JN de 3/7/2009), o número de eleitores foi acrescentado recentemente com 738 000 cidadãos, estes existentes, contrariamente, a muitos dos que estão registados, como atrás se disse. Assim, em 22 concelhos passam a existir mais dois vereadores e, em outros sete, onde o número de eleitores ultrapassa os 40000, a vereação beneficia de um aumento de salário. De acordo com critérios similares nasceram, após as eleições autárquicas de 11 de Outubro, mais 400 cargos de vogais de juntas de freguesia. Em relação aos sete concelhos, o número oficial de eleitores ultrapassa, em todos, de facto, os 40000. Mas, tudo indica que, em alguns casos isso só seja possível contabilizando eleitores fantasmas. População total População <18 anos Eleitores potenciais (1)- (1) (2) (2) Eleitores recenseados Guarda 44 121 7 550 36 571 40 482 Ponte de Lima 44 527 8 602 35 925 43 586 Portimão 49 881 9 991 39 890 41 949 (1) Estimativa do INE para fim de 2008 (2) Cálculo nosso sobre as estimativas do INE Na Guarda e em Ponte de Lima é bastante claro que a consideração de eleitores inexistentes dota os seus autarcas de uma categoria – com vantagens remuneratórias - que, de acordo com os preceitos legais, só beneficiam porque existe um recenseamento mal feito. Para o caso de WWW.ESQUERDA_DESALINHADA.BLOGS.SAPO.PT 17-07-2010 3
  • 4. Portimão a diferença poderia justificar alguma reserva mas, convém que se não olvide que a população imigrante é significativa no concelho e, a sua dedução, alargará, claramente, o fosso existente entre os eleitores recenseados e os reais. Andam por aí muitos fantasmas à solta e demasiados mandarins a beneficiar disso. Apetece versejar: Fátimas, isaltinos, valentins Avelinos e porcarias afins 2 - Como se montou a bipolarização no PS/PSD Apresentaram-se algumas questões relacionadas com o recenseamento e que evidenciam bem, o programada descuido do mandarinato, mormente aquartelado na mafia bicéfala que vem gerindo a máquina de extorsão de todos quantos trabalham em Portugal. Passa-se, de imediato, para as fórmulas anti-democráticas que vêm sendo usadas para perpetuar uma maioria confortável para o PS/PSD, através de uma das suas alas, agora o PS de Sócrates, antes o PSD com o seu acólito Portas. Constitui elemento basilar da democracia que os cidadãos sejam iguais no direito de votar (ou não votar) e, se votam, as suas opções não podem ser objecto de aferições diversas. As democracias de mercado são verdadeiras adulterações da democracia, sob muitos pontos de vista. Algumas já foram explanadas neste blog (1), circunscrevendo-se agora a análise, aos resultados de exercícios aritméticos, que se inserem na linha do que atrás se apresentou. A estanquicidade dos círculos eleitorais nas eleições para deputados (o distrito) e a aplicação do método de Hondt distorcem os resultados expressos pela vontade dos cidadãos, prejudicando todos os partidos, para o benefício evidente do PS/PSD que, esclareça-se, é o arquitecto do sistema eleitoral. Os votos dirigidos a partidos, apurados no território português (excluindo, portanto, os emigrantes) elegem 226 deputados e, manda a mais elementar democracia que cada deputado seja eleito pelo mesmo número de cidadãos que elegeram um concorrente de outro partido. Porém, nada disso acontece, no sistema eleitoral luso, como se pode observar no quadro seguinte: 2005 2009 Votos dirigidos a partidos 5.543.089 5.485.231 WWW.ESQUERDA_DESALINHADA.BLOGS.SAPO.PT 17-07-2010 4
  • 5. Nº médio de eleitores por deputado Total 24.527 24.271 Esquerda 36.209 32.363 BE 45.543 34.818 PCP-PEV 30.876 29.745 Direita 21.934 21.348 PS 21.434 21.548 PSD 22.768 21.103 Direita xenófoba (CDS) 34.596 28.188 • São evidentes as diferenças entre o número de votos médio para eleger os deputados do PS/PSD e os necessários às restantes forças políticas. Esse desequilíbrio entre o PS/PSD e os outros partidos reduziu-se claramente de 2005 para este ano, uma vez que, nos casos do BE e do CDS, o número de deputados cresceu bastante, permitindo assim, um maior aproveitamento dos votos; • As variações positivas ou negativas – que foram notórias - no número de votos e deputados, para o caso do PS/PSD, mantêm estes sempre em situação favorável e com ligeiras alterações, quanto a número de votos por deputado; • A segmentação do território por distritos – unidade territorial cuja utilidade se desconhece perante a nomenclatura usada na UE e já transposta em diversas áreas da administração pública – visa isolar os votos não dirigidos ao PS/PSD e torná-los inúteis, em termos de eleição de deputados. Dito de outro modo, o sistema eleitoral, pretende neutralizar muitas centenas de milhar de cidadãos que se não revejam no PS/PSD; • Essa situação, acompanhada pela polarização dos media em noticias sobre aquelas duas seitas, conduz, em muitos casos a forte distorção do significado do voto expresso. Um cidadão cuja preferência seja por um partido diferente do PS/PSD poderá ser levado a votar num deles, numa lógica de mal menor, tendo em conta a inutilidade prática de votar na formação política que realmente aprecia; • Assim, existe um reforço implícito à bipolarização empobrecedora, à lógica do voto útil, em detrimento de verdadeiras alternativas, com toda a máquina de propaganda mediática mobilizada para o denegrimento ou desvalorização de quaisquer outras formações políticas que não o PS/PSD. Só a conjugação de uma sofrível cultura democrática com a arrogância dos ocupantes PS/PSD do país, permite como comentadores de serviço, indivíduos tão pouco isentos como Marcelo ou Vitorino; WWW.ESQUERDA_DESALINHADA.BLOGS.SAPO.PT 17-07-2010 5
  • 6. Esta concentração de votos favorece ainda o PS/PSD quanto à distribuição dos subsídios estatais, proporcional ao número de votos que recolheram e indexados ao salário mínimo. O cinismo do sistema revela-se, neste contexto, na grande preocupação dos mandarins pela elevação do valor do salário mínimo – base para a elevação do valor dos subsídios aos partidos presentes na AR – e menos com a sua aplicação, pelas empresas, aos trabalhadores (2); • Para culminar todo este elenco de iniquidades e de manobras anti- democráticas, o PS/PSD recusa os subsídios públicos aos partidos concorrentes que não elejam deputados, como se essa situação fosse merecedora de um anátema, de uma verdadeira expulsão do debate político e democrático. 3 – Como seria com um sistema eleitoral tecnicamente democrático? Procede-se, de seguida, a um exercício de redistribuição democrática dos votos, de acordo com princípios conhecidos e não da nossa autoria. A sua discussão está feita mas, como a sua aplicação depende do PS/PSD… Para esse exercício toma-se como base: • A nível global e como no quadro anterior se expôs, cada deputado deveria representar, em 2009, 24271 desses eleitores (24527 em 2005), aplanando-se, liminarmente, as diferenças apuradas para os diversos partidos; • Mantém-se a divisão dos círculos eleitorais coincidentes com os distritos (Continente), para além das duas regiões autónomas; • Para cada distrito e para cada força política, o número de votos é dividido pelo indicador acima referido (24271) e o maior número inteiro, sem arredondamento, daí resultante forneceria o número de deputados directamente eleitos pelo seu círculo. Nesse contexto, seriam eleitos directamente apenas 172 deputados, destinando-se os restantes 54 a ser eleitos numa segunda instância; • Essa segunda instância – o chamado círculo nacional – seria constituido pelos votos sobrantes, em cada distrito e de cada partido que excedessem o resultado de 24271*nº de deputados directamente eleitos. Seriam, desta forma eleitos mais 47 deputados; • Como se depreende, cada partido concorrente ficaria sempre com um saldo de votos, inferior a 24271 e restariam ainda 7 deputados por definir a que partido pertenceriam. Ora, nada mais simples do que afectá-los aos partidos concorrentes, com maiores saldos, garantindo-se assim que quase todos os cidadãos estariam representados na AR. WWW.ESQUERDA_DESALINHADA.BLOGS.SAPO.PT 17-07-2010 6
  • 7. O quadro seguinte resume a composição da AR actual e evidencia a sua maior representatividade Composição da AR após redistribuição democrática dos votos - 2009 Eleição Círculo nacional Comparação Total Actual directa 1ª volta 2ª volta Ganhos Perdas Esquerda 24 18 1 43 31 12 BE 15 7 1 23 16 7 PCP-PEV 9 9 18 15 3 PCTP/MRPP 2 2 2 Direita 133 20 4 157 174 4 -21 PS 77 8 85 96 -11 PPD/PSD 56 11 1 68 78 -10 MEP 1 1 1 MMS 1 1 1 PPM 1 1 1 MPT/PH 1 1 1 Direita xenófoba 15 9 2 26 21 5 CDS-PP 15 9 24 21 3 PND 1 1 1 PNR 1 1 1 Total 172 47 7 226 226 21 -21 • É óbvio que uma maior democraticidade na distribuição dos votos, resultante da consideração de um “círculo nacional” que congregue os votos que não elegeram deputados na eleição directa como mandatários distritais, prejudica, exclusivamente o PS/PSD, apresentando como principal benefiário, a esquerda institucional; • Inversamente, a situação actual, dá ao PS/PSD um benefício de 21 deputados a que se devem juntar os da emigração, como já se referiu; • Um círculo nacional aumentaria substancialmente a diversidade política da AR acrescentando-se aos deputados dos actuais cinco partidos, dois eleitos pelo PCTP/MRPP – o principal prejudicado com o modelo eleitoral existente – e um para cada uma de várias outras áreas da direita tradicional ou xenófoba; • Neste contexto, o surgimento de maiorias absolutas de um partido seria extremamente difícil. Os cálculos efectuados para 2005 revelam que o gang socratóide apenas teria tido 105 deputados, muito aquém da maioria absoluta com que empobreceu os trabalhadores e os pobres, com que reduziu direitos na área da saúde, da educação e do trabalho, durante quatro anos; Há muito referida como uma possibilidade de dotar o sistema eleitoral de maior democraticidade, a consideração de um círculo nacional, WWW.ESQUERDA_DESALINHADA.BLOGS.SAPO.PT 17-07-2010 7
  • 8. nunca foi considerada seriamente pela mafia bicéfala. Esperar que a democracia seja aprofundada e desenvolvida pelo PS/PSD – os grandes beneficiários da falsificação eleitoral que se vem aqui explanando – é estar defronte de uma abóbora podre à espera que dê nêsperas. A integração dos emigrantes – não considerada no exercício anterior - revela aspectos curiosos que, invariavelmente, favorecem o PS/PSD. • Para além de o recenseamento não considerar com direito a voto uma enorme parcela, maioritária, dos portugueses na emigração, a baixa participação eleitoral fornece ao PS/PSD, 4 deputados de baixo custo. Assim, o PSD recentemente, elegeu dois deputados pelo círculo “Fora da Europa” com uma média de 2368 votos, quantitativos que, para a “Europa” se elevam a 7219 para o deputado do PS e 3970 para o do PSD; • Trata-se de quatro deputados que pouco ou nada representam mas cuja existência pode ser decisiva, se se considerar que, numa AR em que a maioria se consegue com 116 deputados, o seu número – garantido ao PS/PSD – é um auxiliar precioso para a constituição de maiorias. 4 – A democracia que faz falta • Seria infantil admitirmos que a democracia para os trabalhadores portugueses, para os reformados, os desempregados, os precários e os pobres se conseguiria tecnicamente, através de uma reforma do sistema eleitoral ou com um recenseamento actualizado; • Demonstra-se aqui e apenas, que a democracia de mercado tem como inerência a prática de manobras anti-democráticas que sirvam de almofada de segurança contra reviravoltas eleitorais. • A democracia de mercado, com os seus partidos tresandando marketing, frases ocas e imagens estudadas para apresentar no telejornal e nos “debates” é uma violência e uma imbecilidade. As fórmulas de eleição de mandarins, com mandatos longos, irreversíveis, vagos e irrestritos, configuram de facto uma forma de ditadura do capital; • A própria existência de mandarins, profissionais da mistificação, da trafulhice e do tráfego de influências é uma verdadeira usurpação do poder da multidão sobre o seu próprio destino; • Pretende-se tratar a multidão como uma vasta mole de gente infantilizada, ignorante, incapaz de pensar, de se auto-gerir no estabelecimento das condições para o seu bem-estar; e que se veve WWW.ESQUERDA_DESALINHADA.BLOGS.SAPO.PT 17-07-2010 8
  • 9. sentir eternamente grata para com a existência de mandarins, benevolentes e sacrificados; • De modo simplista pretende-se demonstrar que os cidadãos se podem manifestar, pelo voto, na expressão verbal e escrita e de se associarem, ao invés do que acontece no fascismo clássico e nas ditaduras banais. Esse arsenal fora de moda nas sociedades desenvolvidas e deram lugar às as novas fórmulas de controlo biopolítico. Este, baseia-se nos seus modelos de quotas, de avaliação, de dependência da arbitrariedade do chefe e do patrão, do crédito bancário, com um vasto e complexo leque de leis e regulamentos. É a opressão de sempre novas formas de opressão, como se observou na criação dos SIADAP, no modelo de avaliação dos professores, a cargo da execranda varejeira Milu, nas “competências” de gestão do fascistóide Correia de Campos e cujas técnicas são, há muito tempo, aplicadas nas empresas; • A contínua subida do abstencionismo que se verifica em toda a parte, testemunha o desprezo e o descrédito que os sistemas partidários e eleitorais e que tem maior visibilidade entre os jovens. A bipolarização entre dois partidos de direita – o modelo proposto nas democracias de mercado – são emanações de um evidente pensamento único, qual teologia que não dispensa actos litúrgicos de exposição do poder, como as eleições; • E as esquerdas institucionais, sem grandes soluções, funcionam como um harmónio que estica ao encolhe ao sabor da conjuntura, com propostas tímidas, inseridas num quadro reformista que a direita muitas vezes é capaz de subscrever, propondo um socialismo vago ou sem conteúdo, que não capta duradouramente ninguém; e para os quais, as ideias de “poder para os trabalhadores”, capitalismo e anti-capitalismo, anto-gestão, etc, são incómodos tabus; • A democracia política passa, forçosamente por novas formas de organização política nas quais se inscreve o poder dos trabalhadores no que respeita à gestão e decisão no seio das empresas. Não há democracia política onde o poder económico pode apropriar-se da riqueza criada, onde pode despedir, reduzir direitos e salários, etc. Democracia é a expulsão dos capitalistas para o refugo da História. (1) Os últimos 30 anos de eleições legislativas; perspectivas para Setembro http://www.scribd.com/doc/17283662/Os-ultimos-30-anos-de-eleicoes- legislativas-perspectivas-para-Setembro Eleições europeias 2009 – limitações e oportunidades http://www.scribd.com/doc/16494875/Eleicoes-europeias-2009- limitacoes-e-oportunidades WWW.ESQUERDA_DESALINHADA.BLOGS.SAPO.PT 17-07-2010 9
  • 10. A democracia de mercado e a actuação da esquerda http://esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt/1459.html DEMOCRACIA OU CLEPTOCRACIA http://esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt/1252.html Novos partidos. Mais do mesmo ? http://esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt/18530.html O sistema partidário português http://www.scribd.com/doc/15634632/O-sistema-partidario-portugues (2) O novo valor do salário mínimo é um logro http://esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt/3567.html WWW.ESQUERDA_DESALINHADA.BLOGS.SAPO.PT 17-07-2010 10