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Tratado de Cooperação
           Amazônica: política
           sustentável Brasil-Venezuela
           Ana Georgina Ferreira Ribeiro
           Antonio Carvalho Ferreira
           Raimundo Nonato de Souza Bouth

               Professora da Escola de Aplicação da Universidade Federal
               do Pará - UFPa, Mestre em Desenvolvimento e Meio
               Ambiente Urbano pela Universidade da Amazônia - UNAMA;
               Mestre em Relações Internacionais pela Universidad
               Autónoma de Asunción – UAA.
               Doutorando em Ciências da Educação - Universidad
               Autónoma de Asunción – UAA, Mestre em Ciências da
               Educação pela Universidad Autónoma de Asunción.




                                                      Introdução


                                                      E   sse trabalho analisa o Tratado de Cooperação
                                                          Amazônica (TCA) e a Organização do Tratado de
                                                      Cooperação Amazônica (OTCA), como instrumentos
                                                      para elaborar políticas integradas de desenvolvimen-
                                                      to sustentável na região amazônica envolvendo Brasil
                                                      e Venezuela.
                                                        A Amazônia, desde os anos 50, quando se iniciou
                                                      o processo de descolonização afro-asiática, passou a
                                                      ser vista como novo espaço de ação do capital, visão
                                                      essa consolidada pelos Estados brasileiro e venezue-
                                                      lano, que passaram a desenvolver políticas públicas
                                                      e setoriais voltadas a promover o processo de instala-
                                                      ção do capital na região, estruturando, para esse fim,
                                                      redes de transportes, de energia, de comunicação e
                                                      infraestrutura sem observar um modelo de desenvol-


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Dossiê – Os desafios da integração sul-americana
      Ana Georgina Ferreira Ribeiro, Antonio Carvalho Ferreira e Raimundo Nonato de Souza Bouth

           vimento baseado na preservação e con-         A presença desses novos atores sociais
           servação do meio ambiente.                  e situações não tão novas, juntamente
              Estas políticas têm como resultados      com o entrelaçamento de interesses,
           econômicos, em países latinos, produ-       mostram-se evidentes e desencadeado-
           ção sem relação com as necessidades re-     ras de novas necessidades na região.
           ais; exportações e importações nocivas      Dentre elas está a de agregar os Estados
           à economia nacional; superutilização        Nacionais cujos territórios integram a
           dos recursos humanos e matérias-pri-        Amazônia, objetivando organizar uma
           mas em benefício das grandes mul-           política para a Amazônia Internacional,
           tinacionais; desvalorização da força        com base num modelo de desenvol-
           de trabalho e dos recursos naturais; e      vimento sustentável, emergente com
           principalmente a não preocupação com        maior intensidade a partir da década de
           a proteção ambiental, resultando num        70, quando uma nova ordem mundial
           crescimento econômico desordenado.          se impõe.
           No plano social, ressalta-se o agrava-        É nesse contexto, que o artigo anali-
           mento do não emprego; da pobreza;           sa especificamente a relação entre Bra-
           das condições de habitat; da pouca          sil e Venezuela, a partir do TCA, sob a
           oferta de educação, de saúde e de ali-      ótica do desenvolvimento sustentável,
           mentação.                                   haja vista que este modelo de desen-
                                                       volvimento tem gerado nova consci-
                                                       ência ambiental, especialmente após
                                                       a Conferência de Estocolmo (1972),
                                                       quando a necessidade de um pensar
               A partir de meados                      ambiental em escala global começou a
               do séc. XX, o                           ser definido.
               processo de inserção                      A partir de meados do século XX, o
                                                       processo de inserção da Amazônia ao
               da Amazônia                             capitalismo monopolista internacional,
               ao capitalismo                          promoveu uma reordenação espacial
               monopolista,                            na região, com a definição de políticas
               promoveu uma                            que determinavam não só a presença
               reordenação espacial                    do capital, mas fundamentalmente a
                                                       presença do Estado que de acordo com
               na região, com a                        o modelo Keynesiano adota a postura
               definição de políticas                  de intervenção, identificada nos dois
               que determinavam a                      países estudados quanto à integração
               presença do Estado.                     da região Amazônica, por razões de
                                                       acumulação e legitimação.
                                                         Historicamente constata-se que as
                                                       ações e políticas identificadas para re-


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Dossiê – Os desafios da integração sul-americana
                                               Tratado de Cooperação Amazônica: política sustentável Brasil-Venezuela

               gião tiveram prioritariamente caráter                    O TCA também prevê a colaboração
               desenvolvimentista e foram instaladas                 entre os países membros para promo-
               sem o pensamento da Amazônia como                     ver a pesquisa científica e tecnológica
               região, na verdade não foi elaborado                  e o intercâmbio de informações atra-
               um conceito em que o pensar fosse da                  vés da criação de centros de pesquisa
               problemática regional levando em con-                 e de infraestrutura de transportes e
               sideração as realidades de toda a Ama-                comunicação; a liberdade de navega-
               zônia, lendo-se o espaço através das                  ção e proteção nos rios amazônicos; o
               fronteiras.                                           incremento do comércio fronteiriço; a
                 Assim, busca-se identificar os limites              preservação do patrimônio cultural; os
               e possibilidades de uma política inte-                cuidados com a saúde e o incremento
               grada de desenvolvimento sustentável                  do turismo. Todas essas medidas de-
               na área geográfica da Amazônia brasi-                 vem ser adotadas mediante ações bi-
               leira e da Amazônia venezuelana com                   laterais ou de grupos de países, com
               base no Tratado de Cooperação Ama-                    o objetivo de promover o desenvolvi-
               zônica, a partir de sua criação, o que po-            mento harmônico dos respectivos ter-
               derá se traduzir em fortalecimento para               ritórios.
               ambos os países, com a construção de                     A OTCA foi estabelecida a partir da
               ações e políticas que busquem o desen-                assinatura do protocolo de emenda ao
               volvimento regional como alternativa                  TCA em Caracas no dia 14 de dezem-
               frente à internacionalização da região.               bro de 1998. No entanto o protocolo de
                                                                     emenda somente entrou em vigor qua-
                                                                     tro anos depois, após o último depósito
               O TCA e a transição                                   do instrumento de ratificação pela Co-
               institucional para a Otca                             lômbia, em 2 de agosto de 2002.
                                                                        Desde a assinatura do TCA em 1978
               O TCA foi assinado em Brasília, em                    sua evolução política passou por fases
               3 de julho de 1978, pelos oito países                 distintas, ora de paralisia, ora de reto-
               amazônicos: Bolívia, Brasil, Colômbia,                mada e fortalecimento político até o
               Equador, Guiana, Peru, Suriname e                     momento atual que é de consolidação
               Venezuela. É um instrumento jurídico                  da OTCA.
               de natureza técnica que visa à promo-                    Didaticamente esta evolução políti-
               ção do desenvolvimento harmonioso e                   co-institucional tem como destaque a
               integrado da Amazônia, como base de                   fase, de “consciência amazônica”, a par-
               sustentação de um modelo de comple-                   tir da institucionalização e instalação da
               mentação econômica regional que con-                  secretaria permanente da OTCA como
               temple o melhoramento da qualidade                    mecanismo operacional, de modo a
               de vida de seus habitantes, a preserva-               considerar que a partir de então é que
               ção, a conservação e utilização racional              seus funcionários tiveram condições es-
               de seus recursos naturais.                            truturais para efetivamente dar início


               Comunicação&política, v.30, nº1, p.157-175                                                           159


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Dossiê – Os desafios da integração sul-americana
      Ana Georgina Ferreira Ribeiro, Antonio Carvalho Ferreira e Raimundo Nonato de Souza Bouth

           aos trabalhos. Ao ser aprovado e assi-      as necessidades do presente sem com-
           nado o acordo sede em 2002, a OTCA          prometer as gerações futuras (SILVA,
           foi provisoriamente instalada no Itama-     2006).
           raty e posteriormente, em 2005, para           Ressaltam-se as contribuições do
           sede própria em Brasília.                   TCA e essencialmente do OTCA para
             Considera-se que a OTCA é um Or-          estes avanços, os instrumentos de co-
           ganismo Internacional porque é con-         operação entre os referidos países, as
           formada por Estados Soberanos e foi         estratégias espaciais, regionais e nacio-
           instituída por um Tratado Constitu-         nais sobre o assunto, e, por fim, as es-
           cional, nomeado de Tratado de Co-           tratégias de cooperação entre os países.
           operação Amazônica. Organizações               O desenvolvimento baseado no eco-
           Internacionais (OI) são sujeitos do Di-     nomicismo resultou numa postura
           reito Internacional Público, cuja base      antropocêntrica que fez do homem a
           jurídica se encontra no Direito dos Tra-    medida de todas as coisas e de todas
           tados, cuja disciplina regula a missão da   as partes do ambiente ao seu dispor. O
           Organização determinando suas com-          Clube de Roma, em 1972, já denuncia-
           petências, funções e obrigações aos Es-     va que o crescente consumo mundial
           tados Membros. Os países amazônicos         levaria a humanidade ao limite de cres-
           passam a ter um instrumento de maior        cimento e possivelmente a um colapso
           representação institucional e de caráter    em relação à disponibilidade de recur-
           permanente para poder cumprir me-           sos naturais. No mesmo ano, realizava-
           lhor com os propósitos que haviam se        -se em Estocolmo, Suécia, a Conferência
           comprometido. A organização possui          da ONU sobre o Ambiente Humano,
           em sua estrutura básica o Conselho de       considerada o marco histórico político
           Cooperação Amazônica (CCA) com              internacional para o surgimento de po-
           suas Comissões Especiais da Amazônia,       líticas de gerenciamento ambiental. A
           Comissão de Coordenação do CCA e a          Conferência de Estocolmo gerou a De-
           Secretaria Permanente.                      claração sobre o Ambiente Humano e
                                                       estabeleceu o Plano de Ação Mundial,
                                                       com vistas a inspirar e orientar a huma-
           As políticas de integração                  nidade para a preservação e melhoria
           da otca em busca do                         do ambiente humano.
           desenvolvimento sustentável                    Constata-se que nos países em desen-
                                                       volvimento como o Brasil, e, neste es-
           As legislações do Brasil e Venezuela        tudo específico, a Venezuela, a adoção
           avançaram na concepção de desenvol-         desse conceito de desenvolvimento im-
           vimento sustentável definido pelo Re-       plica considerar limitações da ordem de
           latório Brundtland, em 1987, como a         viabilidade econômica e social, pois ain-
           necessidade de uma ética de uso racio-      da sobrevivem da economia primária,
           nal dos recursos naturais para atender      como agropecuária, mineração, garim-


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Dossiê – Os desafios da integração sul-americana
                                               Tratado de Cooperação Amazônica: política sustentável Brasil-Venezuela

               po dentre outros modos de exploração,                 cadores ambientais que compilem da-
               e sua população que é formada na sua                  dos obtidos pelas agências de controle
               maioria por pobres, a quem o Estado                   que poderia facilitar essa integração,
               não consegue garantir seus direitos                   definindo áreas prioritárias de ação.
               básicos e que dependem de assistência                 Essa série de problemas levou ao ques-
               social (VASCONCELOS, 2005 apud                        tionamento do atual sistema de gestão,
               SILVA, 2006). E o autor prossegue:                    baseado nos instrumentos de comando
                                                                     e controle.
                  “Tal questão compromete a aceitação do               Outra solução proposta é a utilização
                  padrão de desenvolvimento seguido pelos            de instrumentos econômicos que vem
                  países mais ricos, não ecologicamente sus-         sendo considerada como alternativa
                  tentáveis, com crescimento econômico ele-          economicamente eficiente e ambien-
                  vado, mas pouca preocupação com aspectos           talmente eficaz para complementar as
                  distributivos e com o impacto dos custos am-       restritas abordagens de comando e con-
                  bientais para as pessoas. Ressalta a autora        trole e/ou direcionar investimentos e
                  que, nesses países, parte dos altos níveis de      políticas públicas levando em conside-
                  consumo é garantida pelo uso intensivo de          ração a preservação do meio ambiente.
                  recursos naturais dos países em desenvolvi-
                  mento, frequentemente levando à destruição
                  do ambiente, estendendo-se para além dos
                  limites físicos e geográficos, ocorrendo o que
                  se denomina como a internacionalização
                  das externalidades.” (SILVA, 2006, p. 2)
                                                                                    Os aspectos
                                                                         ambientais ainda estão
                 Nesse cenário, a sustentabilidade tor-                      pouco integrados
               na-se um importante discurso teórico                           na formulação de
               à criação de ambiente favorável para a                     políticas públicas e o
               promoção de benefícios sociais, garan-
                                                                          problema é agravado
               tia de conservação da biodiversidade e
               a viabilidade de atividades econômicas                              pela carência
               compatíveis com as especificidades da                            de informações
               área.                                                          sobre a extensão
                 No entanto, os aspectos ambientais                          e a relevância dos
               ainda estão pouco integrados na formu-                    problemas resultantes
               lação de políticas públicas e o problema
               é agravado pela carência de informa-
                                                                                 da degradação
               ções sobre a extensão e a relevância dos                               ambiental.
               problemas resultantes da degradação
               ambiental. Indica-se como provável
               solução a criação de sistemas de indi-


               Comunicação&política, v.30, nº1, p.157-175                                                           161


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Dossiê – Os desafios da integração sul-americana
      Ana Georgina Ferreira Ribeiro, Antonio Carvalho Ferreira e Raimundo Nonato de Souza Bouth

             Os instrumentos de controle como          micos mostraram-se, na maioria das
           o Estudo de Impacto Ambiental - EIA         vezes, como mecanismos geradores de
           e o Relatório de Impacto Ambiental -        receitas.
           RIMA, não criam normas determinan-            Em que pese os instrumentos eco-
           tes de comportamentos obrigatórios.         nômicos constituírem-se tanto em
           Voltam-se à indução de comportamen-         complemento quanto em substitutos
           tos preservacionistas do meio ambiente      imediatos para ineficientes e ultra-
           na medida em que atuam diretamente          passados procedimentos regulatórios
           nas licenças, e nos custos de produção      do tipo “comando e controle”, Motta
           e consumo dos agentes. Outros instru-       (1996) identifica, nos países, algumas
           mentos econômicos utilizados foram:         restrições e problemas frequentes que
           incentivos creditícios e fiscais, subsí-    limitam sua efetiva implementação,
           dios, tarifas de recuperação de custos,     tais como: as dimensões sociais dos
           sistemas de depósito-reembolso, co-         instrumentos econômicos, em razão da
           brança pelo uso do recurso, tributação      trilogia “distribuição x pobreza x inci-
           convencional e instrumento de deman-        dência de tributos” e o fato dos países
           da final, podendo-se destacar a experi-     integrantes do TCA possuírem um dos
           ência de Brasil e Venezuela na adoção       níveis mais altos de desigualdade do
           de um ou mais dos instrumentos eco-         mundo; a possibilidade de adoção de
           nômicos supramencionados.                   instrumentos econômicos implicarem
             O setor de gestão ambiental vem se        em efeitos adversos aos seus objetivos;
           aprimorando nestes dois países. Tendo       a conexão existente com reformas eco-
           como base a democratização, o olhar         nômicas, o que pode ajudar ou prejudi-
           internacional sobre a forma política da     car a implementação dos instrumentos
           prática de preservação na região, bem       econômicos; a fragilidade institucional,
           como, avanço de tecnologias e urbani-       como insuficiência de recursos, juris-
           zação, a ideia de uma conscientização       dição mal definida ou falta de vontade
           ambiental é uma constante. Entretanto,      política; e, por último, falta de infraes-
           na prática ainda não tem surtido o efei-    trutura e base institucional forte, visto
           to esperado de realocação de recursos       que as estruturas tradicionais de “co-
           orçamentários, ficando o setor ambien-      mando e controle” são insuficientes.
           tal em segundo plano frente a outros        Segundo o autor “o desafio é fazer dos
           setores de maior urgência nas políticas     instrumentos econômicos (IEs) uma
           econômicas desses Estados.                  ferramenta útil, considerando a atual
             Vários países vêm adotando instru-        fragilidade institucional e as restrições
           mentos econômicos como complemen-           de ordem macroeconômica e social.”
           tação aos instrumentos de “comando          (Mota, 1996, p.48)
           e controle” na gestão de seus recursos        Mesmo diante da existência de me-
           naturais. Todavia, em muitos deles, a       canismos de controle de degradação
           implantação dos instrumentos econô-         ambiental e diversas políticas públicas


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Dossiê – Os desafios da integração sul-americana
                                               Tratado de Cooperação Amazônica: política sustentável Brasil-Venezuela

               implementadas, sem que seja dada a                    ções de sobrevivência diferenciada, e
               devida prioridade dos Estados, torna-se               nesse caso as relações sociais manifestas
               um desafio para sociedade global e local              implicam cada vez mais na dinamiza-
               encontrar a praticidade dessa sustenta-               ção dos significados por ele assumido.
               bilidade. O uso sustentável de recursos                  Beni (2004, p. 61) destaca, com pro-
               pode ser conduzido apenas com crité-                  priedade, que localidades com recursos
               rios tecnocráticos, já o desenvolvimen-               naturais podem sofrer com a pressão
               to sustentável necessita da participação              antrópica. Há a necessidade de conser-
               efetiva do homem, pois são envolvidos                 vação desses recursos, considerando
               valores sócio-culturais, que fluem do                 a aplicação de normas ecológicas que
               seu interior. Assim, entendemos que                   devem, obrigatoriamente, estarem pre-
               o desenvolvimento sustentável tem                     sentes em toda metodologia de formu-
               dimensão política, legitimada na par-                 lação de políticas de desenvolvimento.
               ticipação democrática da comunidade,                     O desafio da sociedade contemporâ-
               com escolha de estilos e padrões de                   nea é reverter o atual quadro caracteri-
               vida e respeito ao meio ambiente.                     zado por políticas de descontinuidades
                  O território é entendido como iden-                e iniciar um processo de saber compar-
               tidade cultural, ou seja, da relação que              tilhado. Deixa-se claro que “a partici-
               o homem desempenha no seu e com o                     pação emerge nesse cenário como um
               seu espaço vivido, segundo é, sobretu-                elemento de contracultura; mas prova-
               do, uma identidade territorial, ou seja,              velmente constitui a única garantia éti-
               tem como referencial primordial na sua                ca de sustentabilidade de um processo
               construção e representação, a condição                efetivo de desenvolvimento” (IRVING,
               geográfica, relações concreto-simbóli-                2002, p. 39). No entanto, o que não se
               cas, imaginárias e é que se define sua                pode desconsiderar é o modo errôneo
               identidade territorial como espaço de                 com os donos do capital encaram as po-
               referência identitária, ocorre processo               líticas públicas, ou seja, buscando a mais
               histórico ligado à reestruturação regio-              valia como alternativa de desenvolvi-
               nal (SANTOS, 1996).                                   mento econômico e não raro, negando
                  A Amazônia seja do lado do Brasil                  a existência e a sobrevivência de quem
               seja da Venezuela enquanto território                 está na ponta desse processo produtivo,
               sofre mudanças ocorridas no campo                     os residentes locais de áreas potenciais
               econômico, político e social, o que vêm               para a atividade. Portanto, o sucesso
               construindo nova significação no espa-                das ações que devem conduzir ao desen-
               ço, sinalizando novas feições no proces-              volvimento sustentável dependerá em
               so de inserção humana. No contexto                    grande parte da influencia da opinião
               (SANTOS, 1996) afirma que o espaço                    pública, do comportamento das pesso-
               geográfico é resultante da perspectiva                as, e de suas decisões individuais.
               histórica que evidencia a presença de                    A OTCA pode fomentar a discussão
               inúmeros atores que vivem em condi-                   sobre desenvolvimento sustentável nos


               Comunicação&política, v.30, nº1, p.157-175                                                           163


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Dossiê – Os desafios da integração sul-americana
      Ana Georgina Ferreira Ribeiro, Antonio Carvalho Ferreira e Raimundo Nonato de Souza Bouth

           países-membros do tratado amazôni-               como pessoa jurídica e assim podendo
           co, pois dispõe atualmente de diversos           programar diversas parcerias. Em ní-
           programas e projetos em parceria com             vel operacional, a OTCA se configura
           outros organismos internacionais; além           como um foro permanente de consul-
           de se preocupar com a articulação com            tas, articulação entre os países e pro-
           a sociedade civil. O debate sobre possi-         motor de projetos de desenvolvimento
           bilidades de desenvolvimento sustentá-           sustentável para a região Amazônica. A
           vel na Amazônia “requer a análise do             organização pode atuar conjuntamente
           papel do TCA, como um instrumento                com as agências e órgãos responsáveis
           de integração regional e mecanismo pa-           pela coordenação, implementação e
           raestatal de políticas públicas” (ARA-           acompanhamento de programas e pro-
           GÓN, 2002, p. 8).                                jetos de cooperação técnica dos Países
             O impacto e o papel preponderante              Membros.
           que o TCA pode e deve jogar no atu-                A OTCA representa o maior esforço
           al processo de globalização dependem,            de integração sub-regional na história
           em parte, da superação pelos países              da Amazônia, por meio do qual será
           signatários de seus próprios conflitos           possível acordar os princípios básicos
           (fundamentalmente internos) para pôr             que nortearão o desenvolvimento da
           em prática os princípios que regem o             região Amazônica (ARAGÓN, 2002).
           Tratado, assim resumidos em seu Arti-            Sob a perspectiva regional, a OTCA sur-
           go Primeiro onde afirma que:                     ge em meio a outros organismos como
                                                            o Mercado Comum do Sul – MERCO-
             “As partes contratantes convêm em realizar     SUL e a Comunidade do Caribe que,
             esforços e ações conjuntas a fim de promo-     embora dotados de missões diferentes,
             ver o desenvolvimento harmônico de seus        são importantes interlocutores e repre-
             respectivos territórios amazônicos, de modo    sentam dimensões complementares
             que essas ações conjuntas produzam resul-      para alcançar os propósitos de desen-
             tados equitativos e mutuamente proveitosos,    volvimento dos Países Membros.
             assim como para a preservação do meio am-        O estabelecimento do TCA, em 1978,
             biente e a conservação e utilização racional   na forma pioneira como foi tomada tra-
             dos recursos naturais desses territórios.”     balhava a expressão desenvolvimento
             (Art. I do TCA)                                harmônico da Pan-Amazônia, antes da
                                                            formulação do termo desenvolvimen-
             A iniciativa dos países signatários de         to sustentável ter sido criada em 1987.
           fortalecer o TCA foi saudada pela maio-          Durante a pequena reforma do TCA, na
           ria dos autores da área, por se tratar de        emenda que aprovou a criação da Secre-
           um comprometimento maior com os                  taria Permanente, não houve reformu-
           objetivos do Tratado, além de facilitar          lação jurídica do termo, atualizando-o.
           sua inserção no Direito Internacional,           Mesmo assim, o discurso deste novo
           através de um organismo multilateral,            paradigma foi incorporado tacitamente


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Dossiê – Os desafios da integração sul-americana
                                               Tratado de Cooperação Amazônica: política sustentável Brasil-Venezuela

               à prática das reuniões e, com a criação               ções locais de usufruir os benefícios ge-
               da OTCA não podia haver outra estra-                  rados pelas iniciativas desenvolvidas, na
               tégia de desenvolvimento que não esta.                forma de geração de emprego e renda,
               Enquanto definição não há divergências                como parte das metas governamentais
               quanto ao que é apresentado pela OTCA                 de luta contra a pobreza, em consonân-
               e o que foi preconizado pelos teóricos                cia com os Objetivos e Metas do Milê-
               do desenvolvimento sustentável. Cita-                 nio das Nações Unidas e o Programa
               mos os trechos a seguir como exemplo:                 21, estabelecidos na Cúpula Mundial de
                                                                     Desenvolvimento Sustentável.
                  “Declaração da Amazônia (1989): Firmou               Assim, é preciso observar a atuação
                  o desenvolvimento sustentável como interesse       da OTCA, frente à própria importância
                  comum, reiterando que o patrimônio amazô-          crescente da região amazônica na geo-
                  nico deve ser conservado por meio da utiliza-      política mundial, bem como os avanços
                  ção racional dos recursos da região para que       no debate e na promoção do paradig-
                  as gerações atuais e futuras possam aprovei-       ma do “desenvolvimento sustentável”
                  tar os benefícios desse legado da natureza.”       e ainda o papel significativo dos países
                  (TCA: Amazônia sin mitos, 1992)                    amazônicos no processo de integração
                                                                     regional e sua vinculação à economia
                 O princípio cardinal de desenvolvi-                 internacional. Fatores estes, aliados ao
               mento sustentável para a Amazônia                     caráter global dos desafios da proteção
               deve ser o bem-estar de seus habitantes               ambiental, assim como a responsabili-
               e a satisfação de seus interesses legíti-             dade soberana dos países amazônicos
               mos. Deve assegurar a manutenção de                   pelo futuro da região reiteram a neces-
               seus ciclos naturais, de seus recursos na-            sidade de disposição política e o apoio
               turais renováveis e de sua biodiversida-              irrestrito das Partes para realizar ações
               de biológica. Tal desenvolvimento para                adicionais para que a cooperação regio-
               ser sustentável, para além do plano eco-              nal amazônica seja mais eficaz e alcance
               lógico deve assegurar também que sub-                 resultados de maior projeção.
               sistirão as comunidades humanas, ou                     Em 2004 foi aprovado o Plano Estra-
               seja, deve ser socialmente sustentável.               tégico da OTCA, que seria o mecanis-
               Somente um desenvolvimento assim                      mo a dar o tom, sobre como promover
               pode assegurara salvação para a Amazô-                e fazer Desenvolvimento Sustentável,
               nia. Melhorar a qualidade de vida dos                 segundo os mandatos dos países mem-
               povos, aproveitando sustentavelmente                  bros para a Organização. O Plano é ins-
               a rica herança cultural e natural que                 trumento de orientação do trabalho de
               hospeda o bioma mais importante do                    médio prazo, no qual foram inclusos os
               planeta e o coração do país: a Amazônia.              resultados dos mandatos dos países sig-
                 No preâmbulo do plano estratégico                   natários, estabelecendo em quais áreas
               da OTCA consta o compromisso social                   a OTCA tem competência de atuação
               de aumentar a capacidade das popula-                  como órgão executivo, para orientar


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Dossiê – Os desafios da integração sul-americana
      Ana Georgina Ferreira Ribeiro, Antonio Carvalho Ferreira e Raimundo Nonato de Souza Bouth

           a formulação, a execução e o acompa-        junto a seis áreas programáticas, quais
           nhamento de projetos, programas e           sejam: a) Água; b) Florestas, Solos e
           iniciativas viáveis de alcance regional,    Áreas Naturais Protegidas; c) Diversi-
           visando avançar em seus propósitos.         dade Biológica, Biotecnologia e Bioco-
             Segundo o plano estratégico acima         mércio; d) Ordenamento Territorial,
           mencionado a SP/OTCA observará os           Assentamentos Humanos e Assuntos
           compromissos resultantes das conven-        Indígenas; e) Infraestrutura Social: Saú-
           ções multilaterais relevantes, tais como    de e Educação; e f) Infraestrutura de
           a Convenção sobre a Diversidade Bio-        Transporte, Energia e Comunicações.
           lógica, Comércio Internacional de Es-         A OTCA executa mais de 20 progra-
           pécies Ameaçadas, Convenção sobre a         mas e projetos em parceria com diversas
           Proteção ao Patrimônio Mundial, Cul-        instituições, organismos internacionais
           tural e Natural, a Mudança Climática,       e agencias de cooperação, alguns países
           Luta contra a Desertificação, Convenção     extra membros como a Holanda, Ale-
           de Ramsar sobre pântanos, entre outras.     manha e Grã Bretanha, além dos países
             O Plano estratégico reafirma o com-       membros através das Comissões Na-
           promisso desta organização com o            cionais Permanentes (CNPs). Dentre
           desenvolvimento sustentável da Ama-         os programas, alguns se destacam por
           zônia e informa ainda que a decisão dos     envolver maior amplitude de ação da
           Governos dos Países Membros de criar        OTCA nos últimos anos (2004 a 2010),
           a OTCA e sua Secretaria Permanente,         como o projeto Fortalecimento da Ges-
           está dirigida a fortalecer institucional-   tão Regional Conjunta para o Uso Sus-
           mente a coordenação e a ação conjunta       tentável da Biodiversidade Amazônica;
           frente às demandas da região Amazôni-       o projeto Manejo Integrado e Susten-
           ca e representa uma demonstração ine-       tável dos Recursos Hídricos Transfron-
           quívoca da prioridade que outorgam os       teiriços na Bacia do Rio Amazonas,
           oito países membros a esse mecanismo        considerando a variabilidade e as mu-
           de cooperação regional e a necessidade      danças climáticas; o projeto Uso Sus-
           de criar uma visão comum do desenvol-       tentável e Conservação dos Bosques e
           vimento sustentável amazônico.              da Biodiversidade na Região Amazôni-
             Dentro do enfoque estratégico da Or-      ca; a construção da Agenda Regional In-
           ganização foram estabelecidos quatro        dígena (legitimar e integrar as políticas
           eixos estratégicos para a promoção do       públicas em benefício dos povos indíge-
           desenvolvimento sustentável: 1) Con-        nas); A criação da Rede Pan-Amazônica
           servação e uso sustentável dos recursos     de Tecnologia, Ciência e Inovação em
           naturais; 2) Gestão do conhecimento e       Saúde; e, a abertura de diálogo para a
           intercâmbio tecnológico; 3) Integração      Iniciativa: Destino Amazônia 2009.
           e competitividade regional; 4) Fortale-       A Secretaria Permanente da OTCA
           cimento institucional. Tais eixos devem     é fortalecida, em novembro de 2009,
           ser articulados de forma transversal        por ocasião da Cúpula dos Presidentes


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Dossiê – Os desafios da integração sul-americana
                                               Tratado de Cooperação Amazônica: política sustentável Brasil-Venezuela

               Amazônicos, da qual emanou a Decla-                   Presidentes dos países amazônicos re-
               ração sobre a OTCA. Chefes de Esta-                   afirmaram a importância que, de acor-
               dos decidiram dar a OTCA um papel                     do com o artigo 23 do TCA, os Países
               renovado e moderno como fórum de                      Membros estabeleçam ou reativem
               cooperação, reconhecendo ser o de-                    as Comissões Nacionais Permanentes
               senvolvimento sustentável da Amazô-                   como instâncias encarregadas de apli-
               nia uma prioridade, por meio de uma                   car as disposições do TCA, executar
               administração integral, participativa,                projetos e programas e implementar
               compartilhada e equitativa, como for-                 as decisões adotadas pelas reuniões de
               ma de dar uma resposta autônoma e so-                 Ministros de Relações Exteriores e pelo
               berana aos desafios ambientais atuais.                Conselho de Cooperação Amazônica
                 A XIV Reunião do Conselho de Coo-                   em seus países. Têm o propósito de
               peração Amazônica (CCA), em novem-                    reunir todas as entidades responsáveis
               bro de 2010, em Lima no Peru, teve                    pelo desenvolvimento e cooperação
               entre seus objetivos a realização de uma              amazônica em seus respectivos territó-
               revisão das atividades desenvolvidas,                 rios. As Chancelarias presidem as Co-
               dos avanços alcançados, como também                   missões Nacionais Permanentes.
               discutir as novas ações para o trabalho                 Assim compreendida esta comissão é
               conjunto para a preservação e desenvol-               fundamental para um maior concerto
               vimento sustentável da Região Amazô-                  e articulação institucional e estratégica
               nica. Os ministros adotaram uma nova                  dos objetivos do Tratado de Coopera-
               Agenda Estratégica de Cooperação com                  ção, pois enquanto instancia local da
               ações especificas de curto, meio e longo              OTCA pode proporcionar aos países
               prazo reafirmando os vínculos de co-                  membros um maior engajamento em
               operação que os países mantêm há 30                   termos de formulação de políticas pú-
               anos. A Agenda Estratégica 2010-2020                  blicas de caráter transversal e articula-
               deve refletir as prioridades dos países               das coma questão da Amazônia dentro
               amazônicos, de acordo com a nova rea-                 de seus próprios países. Ressalte-se que
               lidade política e social da região.                   as CNP´s são presididas pelos respec-
                 Dentro do discurso sobre desenvolvi-                tivos ministros das relações exteriores
               mento sustentável no âmbito da OTCA                   de cada país.
               e para cumprir os objetivos desta pes-                  O caráter multisetorial das CNPs,
               quisa analisando o papel dos países                   onde as Comissões Especiais da Amazô-
               Brasil e Venezuela cabe mencionar a                   nia têm um importante papel em suas
               importância de um mecanismo de apli-                  áreas de competência (ciência e tecno-
               cação do TCA que são as Comissões                     logia, saúde, meio ambiente, assuntos
               Nacionais Permanentes (CNPs) dos                      indígenas, turismo, educação e trans-
               Países Membros.                                       portes, comunicações e infraestrutura),
                 Na Declaração sobre a OTCA apro-                    permitirá realizar de maneira integral
               vada em 2009, em Manaus, Brasil, os                   e complementar as ações nos diferen-


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      Ana Georgina Ferreira Ribeiro, Antonio Carvalho Ferreira e Raimundo Nonato de Souza Bouth

           tes eixos estratégicos e dos elementos      quisas Científicas e Tecnológicas; e 15)
           transversais contemplados no Plano          Corporação Venezuelana de Guayana.
           Estratégico e os espaços de intervenção       A criação destes organismos e prin-
           dos programas da SP/OTCA.                   cipalmente da OTCA de forma geral,
             No Brasil, a Comissão Nacional Per-       demonstra que o TCA se trata de um
           manente do Tratado de Cooperação            acordo-quadro flexível, capaz de nor-
           Amazônica, constituída por 13 Minis-        tear matrizes coerentes para o desen-
           térios, a saber: 1. A Casa Civil da Pre-    volvimento da cooperação regional
           sidência da República; 2. O Ministério      e assim as estratégias que os países
           da Ciência e tecnologia; 3. O Ministério    membros adotam em relação ao de-
           das Comunicações; 4. O Ministério da        senvolvimento para a Amazônia ado-
           Defesa; 5. O Ministério do Desenvolvi-      tada nacionalmente e as iniciativas
           mento, Indústria e Comércio Exterior;       e estratégias de cooperação entre os
           6. O Ministério da Educação; 7. O Mi-       países-membros são importantes e se
           nistério da Justiça; 8. O Ministério do     destacam. Tais iniciativas devem ser ar-
           Meio Ambiente; 9. O Ministério do           ticuladas dentro da ótica de desenvol-
           Planejamento, Orçamento e Gestão;           vimento sustentável da OTCA, como
           10. O Ministério das Relações Exterio-      veremos a seguir.
           res; 11. O Ministério da Saúde; 12. O
           Ministério dos Transportes; 13. O Mi-
           nistério do Turismo.                        Brasil e Venezuela: estratégias
             Na Venezuela, a CNP é composta,           de cooperação à luz do
           além de Ministérios, por outras insti-      desenvolvimento sustentável
           tuições de caráter Federal, quais sejam:
           1) Escritório Central de Coordenação e      A troca de serviços e mercadorias entre
           Planejamento da Presidência; 2) Minis-      as nações tem aumentado de tal forma
           tério das Relações Exteriores; 3) Minis-    que, nas duas últimas décadas, supera
           tério da Saúde e Assistência Social; 4)     o crescimento da produção mundial. A
           Ministério do Ambiente e de Recursos        origem desta troca entre as nações está
           Naturais Renováveis; 5) Ministério da       no fato de os Estados não produzirem
           Educação e Cultura (direção de assun-       todos os bens de que necessitam, seja
           tos indígenas); 6) Ministério da Pro-       por falta de condições, seja por falta de
           dução e Comércio (Vice Ministério do        interesse.
           Turismo); 7) Ministério do Fomento;           A fim de obter maiores vantagens no
           8) Ministério de Transporte e Comu-         mercado internacional, os países pro-
           nicação; 9) Ministério da Fazenda; 10)      curam especializar-se na produção de
           Ministério da Defesa; 11) Ministério        bens valorizados em outros pólos de
           da Agricultura e Terras; 12) Ministério     consumo e por eles gerados com maior
           da Justiça; 13) Ministério de Energia e     eficiência. Estados de clima quente, por
           Minas; 14) Conselho Nacional de Pes-        exemplo, são tradicionalmente grandes


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Dossiê – Os desafios da integração sul-americana
                                               Tratado de Cooperação Amazônica: política sustentável Brasil-Venezuela

               exportadores de alimentos tropicais                   ticas bilaterais conheceram um surto de
               para as regiões de clima frio.                        adensamento superior ao que se verifi-
                 As nações mais ricas, como EUA, Ale-                ca entre estes países e outros parceiros.
               manha e Japão, possuem parques in-                       Esta convergência pode ser explicada
               dustriais desenvolvidos que viabilizam                através da visão estratégica externa ado-
               a fabricação de bens de alta tecnologia.              tada pelos países sob parâmetros como:
                 Assim, com cada país investindo                     o conceito de globalização assimétrica
               em setores que tem maior vantagem                     como correção ao conceito neoliberal
               e excluindo os demais, o comércio se                  de globalização benéfica; o conceito po-
               tornou fundamental para a vida econô-                 lítico e estratégico de América do Sul;
               mica das nações, e é um dos elementos                 o reforço do núcleo central robusto da
               centrais do processo de globalização.                 economia nacional como condicionan-
                  Criado em 1991, o Mercado Comum                    te da interdependência global; a per-
               do Sul é composto por Argentina,                      cepção de nocividade da ALCA, caso se
               Brasil, Paraguai e Uruguai, países sul-               estabeleça sem as condicionantes ante-
               americanos que adotam políticas de                    riores e sem reciprocidade comercial
               integração econômica e aduaneira. Até                 efetiva; entre outros.
               agosto de 2011 a Venezuela ainda não                     Os acordos entre Brasil e Venezuela
               fazia parte do MERCOSUL.                              vão desde o fornecimento de tecnolo-
                 Ressalte-se que esta busca pela inte-               gia para aprimoramento da produção
               gração regional encontra resistências,                de milho, soja e carne até uma carta de
               a exemplo do ocorrido quando foi ce-                  intenções que se destina à questão dos
               lebrado o acordo entre a Venezuela, o                 sobrevôos nos dois países.
               Brasil e a Argentina para a construção                   Os presidentes Luiz Inácio Lula da
               de gasoduto - através do qual a Vene-                 Silva e Hugo Chávez assinaram em
               zuela forneceria gás ao Brasil e à Argen-             2008, em Caracas, na Venezuela, 21
               tina, e que estaria pronto a partir de                acordos nas áreas energética, indus-
               2017 - foi motivo de protesto por parte               trial, agrícola, tecnológica, ambiental e
               dos presidentes do Uruguai e do Pa-                   educacional.
               raguai, membros do MERCOSUL que                          Ainda na área energética, os dois pa-
               uniram suas vozes para deixar claro                   íses acertaram a troca de energia entre
               que “assim como está, o MERCOSUL                      as usinas hidrelétricas de Guri, na Ve-
               não serve”, pela prepotência dos sócios               nezuela, e Tucuruí, Belo Monte, no es-
               maiores.                                              tado do Pará, Brasil.
                 Em que pese os choques e conflitos                     Esse projeto ainda depende da cons-
               comerciais com alguns países da Amé-                  trução de uma linha de transmissão
               rica do sul, Brasil e Venezuela, segundo              entre os dois países. A compra de gás
               os dados disponíveis acerca da relação                natural liquefeito da Venezuela está
               entre ambos levam a seguinte conclu-                  prevista para depois de 2014. Os dois
               são: nos últimos anos, as relações polí-              presidentes ressaltaram a necessidade


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Dossiê – Os desafios da integração sul-americana
      Ana Georgina Ferreira Ribeiro, Antonio Carvalho Ferreira e Raimundo Nonato de Souza Bouth

           de integração entre os países da Amé-        Há parcerias para que os venezuelanos
           rica Latina para fortalecer a economia       possam comprar azeite refinado brasi-
           da região.                                   leiro, além de memorandos de entendi-
              Á época, o presidente do Brasil dis-      mentos para eteno e polietileno.
           se na solenidade que já não existe mais        Um acordo assinado no ano de 2010
           desconfiança do empresariado brasilei-       representou um memorando de en-
           ro para investir na Venezuela.               tendimento para supervisionar os pla-
              Os presidentes Lula e Chávez se com-      nos bilaterais de cooperação, e depois
           prometeram a trabalhar juntos para           uma “ata compromisso” para estabe-
           conservação do meio ambiente, da Re-         lecer mecanismos de planejamento
           gião Amazônica e para fortalecera eco-       territorial tanto na faixa petrolífera do
           nomia da fronteira entre os dois países.     Orinoco como no litoral oriental vene-
              A Venezuela vai fornecer ao Brasil        zuelano, que conta com jazidas de gás.
           uma linha de conexão por fibra ótica           A realização desta reunião foi estipu-
           para ampliar o acesso à internet de alta     lada em reunião trimestral, realizada
           velocidade no Norte do país. Os dois         entre Chávez e o presidente Lula.
           países também vão trocar experiências          A equipe brasileira foi liderada pelo
           de tecnologia na área de TV digital.         ministro chefe da Secretaria de Assun-
              O Brasil vai ajudar a Venezuela a de-     tos Estratégicos, Samuel Pinheiro, e o
           senvolver suas áreas industriais e agríco-   embaixador do país na Venezuela, An-
           las por meio dos escritórios da Agência      tonio Simões.
           Brasileira de Desenvolvimento Indus-           Os presidentes assinaram ainda um
           trial (ABDI) e da Empresa Brasileira de      acordo entre o Banco da Venezuela e
           Pesquisa Agropecuária (Embrapa).             a Caixa Econômica Federal (CEF) para
              Outro acordo visa garantir a segu-        aumentar o acesso a serviços bancários
           rança das aeronaves que sobrevoam a          nos dois países.
           região de fronteira entre os dois países.      Também foi assinado um ato que
              Também foi firmado acordo para re-        define a ampliação da venda de nafta,
           gulamentar o intercâmbio de pessoas          um derivado de petróleo, da empresa
           condenadas para que possam cumprir           brasileira Brasken para a Petróleos de
           as sentenças em seus países de origem.       Venezuela SA (PDVSA). Atualmente,
              Atualmente a Venezuela vive o agra-       a empresa brasileira vende 500 mil
           vamento da crise energética acentuada        toneladas do produto à Venezuela. O
           pelo desabastecimento de alguns ali-         objetivo do novo acordo é aumentar as
           mentos e também de água. O Brasil            vendas para 750 mil toneladas.
           se comprometeu também a colaborar              Com a Embrapa, Lula e Chávez defi-
           para o fornecimento de energia ao país.      niram que será realizada uma parceria
              Os acordos de cooperação com o Bra-       para efetivar pesquisas agropecuárias
           sil contribuem para minimizar essas di-      na Venezuela e também para adiantar
           ficuldades enfrentadas pela Venezuela.       projetos que buscam a ampliação da


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Dossiê – Os desafios da integração sul-americana
                                               Tratado de Cooperação Amazônica: política sustentável Brasil-Venezuela

               colheita de soja na região de Valle de                cooperação técnica mais profunda para
               Quibor, no estado de Lara.                            proteger o meio ambiente.
                 Os governos do Brasil e da Venezuela                   Entretanto Segundo Batista (2009)
               ainda devem ampliar os acordos bilate-                “de acordo com o Ministério de Rela-
               rais nas áreas de mineração e petróleo.               ções Exteriores – Divisão da América
                 As negociações foram intensificadas a               meridional IV o posicionamento oficial
               partir de fevereiro de 2011, quando o                 com relação a este memorando de en-
               ministro das Relações Exteriores Anto-                tendimento sobre cooperação ambien-
               nio Patriota se reuniu com o chanceler                tal não havia iniciativas específicas no
               venezuelano, Nicolas Maduro, em Ca-                   âmbito deste instrumento.” (BATISTA,
               racas. Patriota e Maduro vão examinar                 2009, p.36)
               também projetos nas áreas de habita-                     Ao longo da pesquisa também foi ve-
               ção, agricultura, indústria, energia e                rificada a existência de acordos entre os
               desenvolvimento fronteiriço.                          Estados de Roraima/Brasil e Bolívar/Ve-
                 As empresas do Brasil e da Venezuela                nezuela para a proteção dos espaços pro-
               mantêm ligações, principalmente, nos                  tegidos nas áreas fronteiriças, habitados
               setores de mineração e construção civil.              por populações indígenas ou não. Po-
                 No ano de 2010, o comércio entre os                 rém estas iniciativas carecem de medidas
               dois países atingiu US$ 4,68 bilhões,                 mais efetivas por parte dos dois países.
               com saldo positivo para o Brasil de
               mais de US$ 3 bilhões, atualmente, o
               Brasil é o terceiro parceiro comercial da             Conclusão
               Venezuela.
                 No que se refere aos acordos interna-               Considerando que no âmbito do Direi-
               cionais na área ambiental, Brasil e Ve-               to Internacional Latino Americano o
               nezuela assinaram na cidade de Caracas                TCA representa a materialização de um
               em 27 de junho de 2008, um memoran-                   foro regional voltado para a realidade
               do de entendimento entre o governo                    local e que aponta diretrizes gerais para
               de ambos os países.                                   uma gestão que tenta combinar desen-
                 Este documento considera que ambos                  volvimento, economia e meio ambien-
               os países reconhecem a importância do                 te. Pode-se afirmar que o tratado se
               desenvolvimento sustentável para pro-                 constitui num documento de referência
               teger e melhorar o ambiente, saúde e o                que poderá inspirar e liderar iniciativas
               bem estar das gerações presentes e fu-                que objetivem organizar uma política
               turas e de que a cooperação ambiental                 para a Amazônia Internacional, com
               é mutuamente proveitosa.                              base num modelo de Desenvolvimento
                 Há referencia também sobre o desejo                 Sustentável envolvendo todos os oito
               de fortalecimento das relações Sul-Sul e              países amazônicos.
               de amizade entre os países. Afirma este                 Destaca-se que isso é um processo
               documento sobre a necessidade de uma                  lento, pois só após 17 anos da concep-


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Dossiê – Os desafios da integração sul-americana
      Ana Georgina Ferreira Ribeiro, Antonio Carvalho Ferreira e Raimundo Nonato de Souza Bouth

           ção do TCA é que foi efetivada a mais       avanço de tecnologias da urbanização e
           importante ação derivada deste, que é a     a ideia de uma conscientização ambien-
           criação da OTCA (1995), com funções         tal tem sido uma constante preocupa-
           específicas de promover os caminhos         ção dos países amazônicos.
           do desenvolvimento regional sustentá-         Assim, do ponto de vista jurídico são
           vel, que possibilitou nova caracteriza-     numerosos os decretos e resoluções ge-
           ção ao tratado.                             radas pelos países estudados, mas não
             A OTCA representa a concretização         foi possível identificar ações e políticas
           da cooperação (intra) regional. Isso        integradas realizadas por eles, tento
           porque foi o órgão capaz de definir e       como pano de fundo a integração e sus-
           direcionar políticas de desenvolvimento     tentabilidade da Região.
           que atentem tanto para a cooperação           Desta feita, em que pese existirem
           externa, como para acordos externos         marco legal como: as legislações na-
           objetivando a consecução do modelo          cionais, o tratado, demonstrando que
           de Desenvolvimento Sustentável, con-        a questão ambiental na Amazônia está
           tento principalmente o ponto de im-         teoricamente bem amparada, de fato o
           pulso e potencialização das estratégias     que ocorre é que as pressões da socieda-
           de integração física e energética; além     de civil e em especial das ONG’s tanto
           de consolidar um espaço privilegiado        nacionais quanto internacionais, é que
           de relacionamento com oito dos doze         obrigam aos Estados brasileiro e vene-
           países sul-americanos.                      zuelano a programarem algumas estra-
             Entre outras ações importantes de-        tégias de desenvolvimento sustentável.
           rivadas do TCA destacamos a criação           Neste contexto, ressalte-se que as
           da Secretaria Permanente da OTCA            histórias do Brasil e da Venezuela pos-
           (2002), que visa orientar estratégias       suem similitudes, ambas tem íntima
           e propósitos segundo os desígnios es-       relação com a busca e com o aproveita-
           tabelecidos pelos Países Membros e o        mento dos seus recursos naturais, que
           Plano Estratégico 2004-2012. A partir       sempre contribuíram com importantes
           da qual, aumentou o número de acor-         insumos para a economia nacional, fa-
           dos bilaterais assinados entre os países    zendo parte da ocupação territorial e da
           membros, bem como a implementação           história nacional.
           de programas e projetos com o objeti-         Para efetivar a ocupação da Amazônia
           vo de estimular o desenvolvimento sus-      os governos brasileiro e venezuelano
           tentável da Amazônia.                       investiram igualmente no modelo de
             Estes fatos destacam que nesta dé-        desenvolvimento baseado em pólos de
           cada o setor de gestão ambiental vem        desenvolvimento, de forma a estruturar,
           se aprimorando no TCA, tendo como           ordenar e tornar os espaços produtivos,
           base a democratização, o olhar interna-     com investimentos em créditos e incen-
           cional sobre a forma política da prática    tivos visando a tornar os países mais
           de preservação na região, bem como,         competitivos na economia mundial.


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Dossiê – Os desafios da integração sul-americana
                                               Tratado de Cooperação Amazônica: política sustentável Brasil-Venezuela

                  Entretanto, tais ações até os dias atu-            de Caracas em 27 de junho de 2008,
               ais não levaram em consideração os                    este instrumento considera que ambos
               interesses de todos os grupos que divi-               os países reconhecem a importância do
               dem este território, tendo como base                  desenvolvimento sustentável para pro-
               uma política ambiental voltada para                   teger e melhorar o ambiente, saúde e o
               a sustentabilidade, o que perpassaria                 bem estar das gerações presentes e fu-
               pela prática do planejamento participa-               turas e de que a cooperação ambiental
               tivo e da negociação entre os diferentes              é mutuamente proveitosa. Afirma este
               setores sociais envolvidos, como instru-              documento sobre a necessidade de uma
               mentos de solução de conflitos, para                  cooperação técnica mais profunda para
               atingir o desenvolvimento desejado.                   proteger o meio ambiente. Entretanto
                  Nessa contextualização, deve se con-               no período estudado não verificamos
               siderar que ambas as sociedades, bra-                 nenhuma iniciativa concreta no âmbito
               sileira e venezuelana, carregam uma                   deste instrumento.
               marca autoritária, com largas tradi-                     Frente a esta realidade, o desafio pos-
               ções de relações políticas paternalistas              to é dar condições para o início de uma
               e clientelistas, e longos períodos de                 mudança social e um possível encontro
               governos não democráticos. Até hoje                   de novos paradigmas que concilie con-
               são sociedades marcadas por relações                  servação ambiental, solidariedade, jus-
               sociais hierarquizadas e por privilégios              tiça social e prudência econômica.
               que reproduzem um altíssimo nível de                     Assim, ressalta-se que para realizar
               desigualdade, injustiça e exclusão so-                ações e políticas de meio ambiente in-
               cial, na medida em que boa parte da                   tegradas, o êxito dos projetos a serem
               população não tem acesso a condições                  executados nas áreas dos tratados
               de vida digna, encontra-se excluída da                bilaterais para a consecução do de-
               plena participação nas decisões que de-               senvolvimento tendo como base a sus-
               terminam os rumos da política.                        tentabilidade, dependerá da decisão
                  Fato é que ambos os países, apesar                 dos dois países em colocar a capacidade
               dos esforços legislativos apresentados                de suas instituições técnicas e os recur-
               na área ambiental, vêm priorizando                    sos financeiros necessários para sua im-
               uma estratégia de cooperação nas áreas                plementação de programas e projetos
               comercial, energética e de defesa, que                concretos que tenham como prioridade
               de alguma forma pode entrar em con-                   o desenvolvimento sustentável. Caso
               flito com os dispositivos do TCA e da                 contrário o TCA e a OTCA tornam-se
               OTCA quanto ao desenvolvimento sus-                   apenas uma “carta de intenções”.
               tentável e a integração da região.                       Desta feita, emerge a necessidade de
                  Concretamente, quanto ao desen-                    se fomentar novos modelos de desen-
               volvimento sustentável, existe um                     volvimento baseados no planejamen-
               memorando de entendimentos entre                      to regional e que possam formular
               Brasil e Venezuela assinado na cidade                 estratégias capazes de promover o


               Comunicação&política, v.30, nº1, p.157-175                                                           173


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Dossiê – Os desafios da integração sul-americana
      Ana Georgina Ferreira Ribeiro, Antonio Carvalho Ferreira e Raimundo Nonato de Souza Bouth

           desenvolvimento sustentável local,                 jurídicas que atenderam a motivos e
           tendo como base os princípios da so-               propósitos parciais, muitas delas res-
           lidariedade, introduzido pelo Direito              ponderam a demandas momentâneas
           Internacional latino-americano e pre-              de caráter sócio-econômico e políticos,
           sente no TCA.                                      enfim, tem-se avançado, sim, neste de-
             Durante as últimas décadas foram                 bate, nos últimos anos, mas ainda fica
           criadas fundamentalmente medidas                   um amplo caminho a ser percorrido.



           Referências bibliográficas

           ARAGON, L. E. Háfuturo para o desenvolvimento sustentável na Amazônia? 2002. Disponível em
             http://www.desenvolvimento.gov.org.br.
           BATISTA, F. L. Políticas e ações nos Espaços fronteiriços Brasil (Terra Indígena Raposa Serra
             do Sol) e Venezuela (Parque nacional de Canaima). Dissertação em mestrado profissional
             Interinstitucional em Economia – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade
             de Ciências Econômicas. Programa de Pós-graduação em Economia, Porto Alegre;
             Universidade Federal de Roraima, Boa Vista, Brasil, 2009.
           BENI, M. C. Análise estrutural do turismo. 10ª ed. São Paulo: Editora Senac, 2004.
           BID: In: Amazonia sin mitos. Washington D.C: PNUD, TCA, 1992.
           IRVING, M. A. Refletindo sobre o ecoturismo em áreas protegidas: tendências no contexto brasileiro.
              In: Azevedo, J. Turismo: o desafio da sustentabilidade. São Paulo: Futura, 2002. pp. 47-68.
           MOTTA, Ronaldo Seroa. “Instrumento econômico e política ambiental”. Revista de Direito
             Ambiental Nº 20, São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 2000.
           OTCA: Base jurídica. Brasília, Secretaria Permanente 2003.
           ______. Boletim Eletrônico – Nº I a VIII. Brasília, 2004.
           ______. Informe de Gestión: Síntese 2004 - 2007. Brasília, Secretaria Permanente, 2008.
           ______. Informe de Gestión: 2007 - 2008. Brasília, Secretaria Permanente, 2010.
           ______. Plan estratégico de la OTCA (2004-2012).Brasília, 2004.
           SANTOS, M. A natureza do espaço. Espaço e tempo. Razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1996.
           SANTOS, M. et al. Território e sociedade: entrevista com Milton Santos. São Paulo: Editora
             Fundação Perseu Abramo, 1996.
           Secretaria Permanente da OTCA. Relatório de Gestão da Organização do Tratado de Cooperação
              Amazônica: síntese 2004-2007.
           ______. Relatório de Gestão da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica 2007-2008.
           SILVA, C. B. P. “Desenvolvimento sustentável: uma abordagem em construção no transporte
              público”. In: Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente. 2006.
           TCA – Tratado de Cooperação Amazônica. Programs and Projects of The Amazon Cooperation
             Treaty. Quito: TCA, 1992.




   174


3DOS3 Ana Georgina Ferreira Ribeiro.indd 174                                                                21.05.2012 13:11:35
Tratado de Cooperação Amazônica:
                    política sustentável Brasil-Venezuela
                    Ana Georgina Ferreira Ribeiro, Antonio Carvalho Ferreira e
                    Raimundo Nonato de Souza Bouth

                    Resumo                                        Abstract
                    O trabalho analisa o Tratado de Coo-          The work analyze the Amazon Coopera-
                    peração Amazônica e a Organização             tion Treaty and the Amazon Cooperation
                    do Tratado de Cooperação Amazônica,           Treaty Organization, like instruments to
                    como instrumentos para elaborar po-           prepare integrated politics of sustainable
                    líticas integradas de desenvolvimento         development in the Amazon region wra-
                    sustentável na região amazônica envol-        pping Brazil and Venezuela. The article
                    vendo Brasil e Venezuela. O artigo apre-      presents qualitative approach, descripti-
                    senta enfoque qualitativo, descritivo e       ve and bibliographic-documental. While
                    bibliográfico-documental. Constata-se         that Brazil and Venezuela in their laws
                    que Brasil e Venezuela reconhecem nas         recognize the importance of sustainable
                    suas legislações a importância do de-         development and environmental coope-
                    senvolvimento sustentável e que a co-         ration through international treaties are
                    operação ambiental através de tratados        mutually beneficial, but do not have bila-
                    internacionais é mutuamente proveito-         teral agreements for environmental pro-
                    sa, mas, não possuem acordos bilaterais       tection and sustainable development from
                    de proteção ambiental e desenvolvi-           the perspective of the ACTO, and the two
                    mento sustentável, assim os dois países,      countries do not prioritize actions and po-
                    não priorizam ações e políticas de coo-       litics of cooperation in the environmental
                    peração na área ambiental, mas estraté-       area, but strategies for cooperation in tra-
                    gias de cooperação nas áreas comercial,       de, energy and defense, that conflict with
                    energética e de defesa, que conflitam         the provisions of ACTO and sustainable
                    com os dispositivos da OTCA e com o           development.
                    desenvolvimento sustentável.
                                                                  Key words
                    Palavras-chave                                Amazon Cooperation Treaty – Organiza-
                    Tratado de Cooperação Amazônica               tion of the Amazon Cooperation Treaty
                    – Organização do Tratado de                   – Integrated Politicies – Sustainable De-
                    Cooperação Amazônica – políticas              velopment – Brazil-Venezuela
                    integradas – desenvolvimento
                    sustentável – Brasil-Venezuela
                                                                                                E-mail
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                                                                    Artigo recebido em 08 de janeiro de 2012 e
                                                            aprovado para publicação em 20 de março de 2012.


               Comunicação&política, v.30, nº1, p.157-175                                                           175


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Tratado de cooperação amazônica nonato bouth, carvalho e georgina

  • 1. Tratado de Cooperação Amazônica: política sustentável Brasil-Venezuela Ana Georgina Ferreira Ribeiro Antonio Carvalho Ferreira Raimundo Nonato de Souza Bouth Professora da Escola de Aplicação da Universidade Federal do Pará - UFPa, Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano pela Universidade da Amazônia - UNAMA; Mestre em Relações Internacionais pela Universidad Autónoma de Asunción – UAA. Doutorando em Ciências da Educação - Universidad Autónoma de Asunción – UAA, Mestre em Ciências da Educação pela Universidad Autónoma de Asunción. Introdução E sse trabalho analisa o Tratado de Cooperação Amazônica (TCA) e a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), como instrumentos para elaborar políticas integradas de desenvolvimen- to sustentável na região amazônica envolvendo Brasil e Venezuela. A Amazônia, desde os anos 50, quando se iniciou o processo de descolonização afro-asiática, passou a ser vista como novo espaço de ação do capital, visão essa consolidada pelos Estados brasileiro e venezue- lano, que passaram a desenvolver políticas públicas e setoriais voltadas a promover o processo de instala- ção do capital na região, estruturando, para esse fim, redes de transportes, de energia, de comunicação e infraestrutura sem observar um modelo de desenvol- Comunicação&política, v.30, nº1, p.157-175 157 3DOS3 Ana Georgina Ferreira Ribeiro.indd 157 21.05.2012 13:11:33
  • 2. Dossiê – Os desafios da integração sul-americana Ana Georgina Ferreira Ribeiro, Antonio Carvalho Ferreira e Raimundo Nonato de Souza Bouth vimento baseado na preservação e con- A presença desses novos atores sociais servação do meio ambiente. e situações não tão novas, juntamente Estas políticas têm como resultados com o entrelaçamento de interesses, econômicos, em países latinos, produ- mostram-se evidentes e desencadeado- ção sem relação com as necessidades re- ras de novas necessidades na região. ais; exportações e importações nocivas Dentre elas está a de agregar os Estados à economia nacional; superutilização Nacionais cujos territórios integram a dos recursos humanos e matérias-pri- Amazônia, objetivando organizar uma mas em benefício das grandes mul- política para a Amazônia Internacional, tinacionais; desvalorização da força com base num modelo de desenvol- de trabalho e dos recursos naturais; e vimento sustentável, emergente com principalmente a não preocupação com maior intensidade a partir da década de a proteção ambiental, resultando num 70, quando uma nova ordem mundial crescimento econômico desordenado. se impõe. No plano social, ressalta-se o agrava- É nesse contexto, que o artigo anali- mento do não emprego; da pobreza; sa especificamente a relação entre Bra- das condições de habitat; da pouca sil e Venezuela, a partir do TCA, sob a oferta de educação, de saúde e de ali- ótica do desenvolvimento sustentável, mentação. haja vista que este modelo de desen- volvimento tem gerado nova consci- ência ambiental, especialmente após a Conferência de Estocolmo (1972), quando a necessidade de um pensar A partir de meados ambiental em escala global começou a do séc. XX, o ser definido. processo de inserção A partir de meados do século XX, o processo de inserção da Amazônia ao da Amazônia capitalismo monopolista internacional, ao capitalismo promoveu uma reordenação espacial monopolista, na região, com a definição de políticas promoveu uma que determinavam não só a presença reordenação espacial do capital, mas fundamentalmente a presença do Estado que de acordo com na região, com a o modelo Keynesiano adota a postura definição de políticas de intervenção, identificada nos dois que determinavam a países estudados quanto à integração presença do Estado. da região Amazônica, por razões de acumulação e legitimação. Historicamente constata-se que as ações e políticas identificadas para re- 158 3DOS3 Ana Georgina Ferreira Ribeiro.indd 158 21.05.2012 13:11:33
  • 3. Dossiê – Os desafios da integração sul-americana Tratado de Cooperação Amazônica: política sustentável Brasil-Venezuela gião tiveram prioritariamente caráter O TCA também prevê a colaboração desenvolvimentista e foram instaladas entre os países membros para promo- sem o pensamento da Amazônia como ver a pesquisa científica e tecnológica região, na verdade não foi elaborado e o intercâmbio de informações atra- um conceito em que o pensar fosse da vés da criação de centros de pesquisa problemática regional levando em con- e de infraestrutura de transportes e sideração as realidades de toda a Ama- comunicação; a liberdade de navega- zônia, lendo-se o espaço através das ção e proteção nos rios amazônicos; o fronteiras. incremento do comércio fronteiriço; a Assim, busca-se identificar os limites preservação do patrimônio cultural; os e possibilidades de uma política inte- cuidados com a saúde e o incremento grada de desenvolvimento sustentável do turismo. Todas essas medidas de- na área geográfica da Amazônia brasi- vem ser adotadas mediante ações bi- leira e da Amazônia venezuelana com laterais ou de grupos de países, com base no Tratado de Cooperação Ama- o objetivo de promover o desenvolvi- zônica, a partir de sua criação, o que po- mento harmônico dos respectivos ter- derá se traduzir em fortalecimento para ritórios. ambos os países, com a construção de A OTCA foi estabelecida a partir da ações e políticas que busquem o desen- assinatura do protocolo de emenda ao volvimento regional como alternativa TCA em Caracas no dia 14 de dezem- frente à internacionalização da região. bro de 1998. No entanto o protocolo de emenda somente entrou em vigor qua- tro anos depois, após o último depósito O TCA e a transição do instrumento de ratificação pela Co- institucional para a Otca lômbia, em 2 de agosto de 2002. Desde a assinatura do TCA em 1978 O TCA foi assinado em Brasília, em sua evolução política passou por fases 3 de julho de 1978, pelos oito países distintas, ora de paralisia, ora de reto- amazônicos: Bolívia, Brasil, Colômbia, mada e fortalecimento político até o Equador, Guiana, Peru, Suriname e momento atual que é de consolidação Venezuela. É um instrumento jurídico da OTCA. de natureza técnica que visa à promo- Didaticamente esta evolução políti- ção do desenvolvimento harmonioso e co-institucional tem como destaque a integrado da Amazônia, como base de fase, de “consciência amazônica”, a par- sustentação de um modelo de comple- tir da institucionalização e instalação da mentação econômica regional que con- secretaria permanente da OTCA como temple o melhoramento da qualidade mecanismo operacional, de modo a de vida de seus habitantes, a preserva- considerar que a partir de então é que ção, a conservação e utilização racional seus funcionários tiveram condições es- de seus recursos naturais. truturais para efetivamente dar início Comunicação&política, v.30, nº1, p.157-175 159 3DOS3 Ana Georgina Ferreira Ribeiro.indd 159 21.05.2012 13:11:33
  • 4. Dossiê – Os desafios da integração sul-americana Ana Georgina Ferreira Ribeiro, Antonio Carvalho Ferreira e Raimundo Nonato de Souza Bouth aos trabalhos. Ao ser aprovado e assi- as necessidades do presente sem com- nado o acordo sede em 2002, a OTCA prometer as gerações futuras (SILVA, foi provisoriamente instalada no Itama- 2006). raty e posteriormente, em 2005, para Ressaltam-se as contribuições do sede própria em Brasília. TCA e essencialmente do OTCA para Considera-se que a OTCA é um Or- estes avanços, os instrumentos de co- ganismo Internacional porque é con- operação entre os referidos países, as formada por Estados Soberanos e foi estratégias espaciais, regionais e nacio- instituída por um Tratado Constitu- nais sobre o assunto, e, por fim, as es- cional, nomeado de Tratado de Co- tratégias de cooperação entre os países. operação Amazônica. Organizações O desenvolvimento baseado no eco- Internacionais (OI) são sujeitos do Di- nomicismo resultou numa postura reito Internacional Público, cuja base antropocêntrica que fez do homem a jurídica se encontra no Direito dos Tra- medida de todas as coisas e de todas tados, cuja disciplina regula a missão da as partes do ambiente ao seu dispor. O Organização determinando suas com- Clube de Roma, em 1972, já denuncia- petências, funções e obrigações aos Es- va que o crescente consumo mundial tados Membros. Os países amazônicos levaria a humanidade ao limite de cres- passam a ter um instrumento de maior cimento e possivelmente a um colapso representação institucional e de caráter em relação à disponibilidade de recur- permanente para poder cumprir me- sos naturais. No mesmo ano, realizava- lhor com os propósitos que haviam se -se em Estocolmo, Suécia, a Conferência comprometido. A organização possui da ONU sobre o Ambiente Humano, em sua estrutura básica o Conselho de considerada o marco histórico político Cooperação Amazônica (CCA) com internacional para o surgimento de po- suas Comissões Especiais da Amazônia, líticas de gerenciamento ambiental. A Comissão de Coordenação do CCA e a Conferência de Estocolmo gerou a De- Secretaria Permanente. claração sobre o Ambiente Humano e estabeleceu o Plano de Ação Mundial, com vistas a inspirar e orientar a huma- As políticas de integração nidade para a preservação e melhoria da otca em busca do do ambiente humano. desenvolvimento sustentável Constata-se que nos países em desen- volvimento como o Brasil, e, neste es- As legislações do Brasil e Venezuela tudo específico, a Venezuela, a adoção avançaram na concepção de desenvol- desse conceito de desenvolvimento im- vimento sustentável definido pelo Re- plica considerar limitações da ordem de latório Brundtland, em 1987, como a viabilidade econômica e social, pois ain- necessidade de uma ética de uso racio- da sobrevivem da economia primária, nal dos recursos naturais para atender como agropecuária, mineração, garim- 160 3DOS3 Ana Georgina Ferreira Ribeiro.indd 160 21.05.2012 13:11:34
  • 5. Dossiê – Os desafios da integração sul-americana Tratado de Cooperação Amazônica: política sustentável Brasil-Venezuela po dentre outros modos de exploração, cadores ambientais que compilem da- e sua população que é formada na sua dos obtidos pelas agências de controle maioria por pobres, a quem o Estado que poderia facilitar essa integração, não consegue garantir seus direitos definindo áreas prioritárias de ação. básicos e que dependem de assistência Essa série de problemas levou ao ques- social (VASCONCELOS, 2005 apud tionamento do atual sistema de gestão, SILVA, 2006). E o autor prossegue: baseado nos instrumentos de comando e controle. “Tal questão compromete a aceitação do Outra solução proposta é a utilização padrão de desenvolvimento seguido pelos de instrumentos econômicos que vem países mais ricos, não ecologicamente sus- sendo considerada como alternativa tentáveis, com crescimento econômico ele- economicamente eficiente e ambien- vado, mas pouca preocupação com aspectos talmente eficaz para complementar as distributivos e com o impacto dos custos am- restritas abordagens de comando e con- bientais para as pessoas. Ressalta a autora trole e/ou direcionar investimentos e que, nesses países, parte dos altos níveis de políticas públicas levando em conside- consumo é garantida pelo uso intensivo de ração a preservação do meio ambiente. recursos naturais dos países em desenvolvi- mento, frequentemente levando à destruição do ambiente, estendendo-se para além dos limites físicos e geográficos, ocorrendo o que se denomina como a internacionalização das externalidades.” (SILVA, 2006, p. 2) Os aspectos ambientais ainda estão Nesse cenário, a sustentabilidade tor- pouco integrados na-se um importante discurso teórico na formulação de à criação de ambiente favorável para a políticas públicas e o promoção de benefícios sociais, garan- problema é agravado tia de conservação da biodiversidade e a viabilidade de atividades econômicas pela carência compatíveis com as especificidades da de informações área. sobre a extensão No entanto, os aspectos ambientais e a relevância dos ainda estão pouco integrados na formu- problemas resultantes lação de políticas públicas e o problema é agravado pela carência de informa- da degradação ções sobre a extensão e a relevância dos ambiental. problemas resultantes da degradação ambiental. Indica-se como provável solução a criação de sistemas de indi- Comunicação&política, v.30, nº1, p.157-175 161 3DOS3 Ana Georgina Ferreira Ribeiro.indd 161 21.05.2012 13:11:34
  • 6. Dossiê – Os desafios da integração sul-americana Ana Georgina Ferreira Ribeiro, Antonio Carvalho Ferreira e Raimundo Nonato de Souza Bouth Os instrumentos de controle como micos mostraram-se, na maioria das o Estudo de Impacto Ambiental - EIA vezes, como mecanismos geradores de e o Relatório de Impacto Ambiental - receitas. RIMA, não criam normas determinan- Em que pese os instrumentos eco- tes de comportamentos obrigatórios. nômicos constituírem-se tanto em Voltam-se à indução de comportamen- complemento quanto em substitutos tos preservacionistas do meio ambiente imediatos para ineficientes e ultra- na medida em que atuam diretamente passados procedimentos regulatórios nas licenças, e nos custos de produção do tipo “comando e controle”, Motta e consumo dos agentes. Outros instru- (1996) identifica, nos países, algumas mentos econômicos utilizados foram: restrições e problemas frequentes que incentivos creditícios e fiscais, subsí- limitam sua efetiva implementação, dios, tarifas de recuperação de custos, tais como: as dimensões sociais dos sistemas de depósito-reembolso, co- instrumentos econômicos, em razão da brança pelo uso do recurso, tributação trilogia “distribuição x pobreza x inci- convencional e instrumento de deman- dência de tributos” e o fato dos países da final, podendo-se destacar a experi- integrantes do TCA possuírem um dos ência de Brasil e Venezuela na adoção níveis mais altos de desigualdade do de um ou mais dos instrumentos eco- mundo; a possibilidade de adoção de nômicos supramencionados. instrumentos econômicos implicarem O setor de gestão ambiental vem se em efeitos adversos aos seus objetivos; aprimorando nestes dois países. Tendo a conexão existente com reformas eco- como base a democratização, o olhar nômicas, o que pode ajudar ou prejudi- internacional sobre a forma política da car a implementação dos instrumentos prática de preservação na região, bem econômicos; a fragilidade institucional, como, avanço de tecnologias e urbani- como insuficiência de recursos, juris- zação, a ideia de uma conscientização dição mal definida ou falta de vontade ambiental é uma constante. Entretanto, política; e, por último, falta de infraes- na prática ainda não tem surtido o efei- trutura e base institucional forte, visto to esperado de realocação de recursos que as estruturas tradicionais de “co- orçamentários, ficando o setor ambien- mando e controle” são insuficientes. tal em segundo plano frente a outros Segundo o autor “o desafio é fazer dos setores de maior urgência nas políticas instrumentos econômicos (IEs) uma econômicas desses Estados. ferramenta útil, considerando a atual Vários países vêm adotando instru- fragilidade institucional e as restrições mentos econômicos como complemen- de ordem macroeconômica e social.” tação aos instrumentos de “comando (Mota, 1996, p.48) e controle” na gestão de seus recursos Mesmo diante da existência de me- naturais. Todavia, em muitos deles, a canismos de controle de degradação implantação dos instrumentos econô- ambiental e diversas políticas públicas 162 3DOS3 Ana Georgina Ferreira Ribeiro.indd 162 21.05.2012 13:11:34
  • 7. Dossiê – Os desafios da integração sul-americana Tratado de Cooperação Amazônica: política sustentável Brasil-Venezuela implementadas, sem que seja dada a ções de sobrevivência diferenciada, e devida prioridade dos Estados, torna-se nesse caso as relações sociais manifestas um desafio para sociedade global e local implicam cada vez mais na dinamiza- encontrar a praticidade dessa sustenta- ção dos significados por ele assumido. bilidade. O uso sustentável de recursos Beni (2004, p. 61) destaca, com pro- pode ser conduzido apenas com crité- priedade, que localidades com recursos rios tecnocráticos, já o desenvolvimen- naturais podem sofrer com a pressão to sustentável necessita da participação antrópica. Há a necessidade de conser- efetiva do homem, pois são envolvidos vação desses recursos, considerando valores sócio-culturais, que fluem do a aplicação de normas ecológicas que seu interior. Assim, entendemos que devem, obrigatoriamente, estarem pre- o desenvolvimento sustentável tem sentes em toda metodologia de formu- dimensão política, legitimada na par- lação de políticas de desenvolvimento. ticipação democrática da comunidade, O desafio da sociedade contemporâ- com escolha de estilos e padrões de nea é reverter o atual quadro caracteri- vida e respeito ao meio ambiente. zado por políticas de descontinuidades O território é entendido como iden- e iniciar um processo de saber compar- tidade cultural, ou seja, da relação que tilhado. Deixa-se claro que “a partici- o homem desempenha no seu e com o pação emerge nesse cenário como um seu espaço vivido, segundo é, sobretu- elemento de contracultura; mas prova- do, uma identidade territorial, ou seja, velmente constitui a única garantia éti- tem como referencial primordial na sua ca de sustentabilidade de um processo construção e representação, a condição efetivo de desenvolvimento” (IRVING, geográfica, relações concreto-simbóli- 2002, p. 39). No entanto, o que não se cas, imaginárias e é que se define sua pode desconsiderar é o modo errôneo identidade territorial como espaço de com os donos do capital encaram as po- referência identitária, ocorre processo líticas públicas, ou seja, buscando a mais histórico ligado à reestruturação regio- valia como alternativa de desenvolvi- nal (SANTOS, 1996). mento econômico e não raro, negando A Amazônia seja do lado do Brasil a existência e a sobrevivência de quem seja da Venezuela enquanto território está na ponta desse processo produtivo, sofre mudanças ocorridas no campo os residentes locais de áreas potenciais econômico, político e social, o que vêm para a atividade. Portanto, o sucesso construindo nova significação no espa- das ações que devem conduzir ao desen- ço, sinalizando novas feições no proces- volvimento sustentável dependerá em so de inserção humana. No contexto grande parte da influencia da opinião (SANTOS, 1996) afirma que o espaço pública, do comportamento das pesso- geográfico é resultante da perspectiva as, e de suas decisões individuais. histórica que evidencia a presença de A OTCA pode fomentar a discussão inúmeros atores que vivem em condi- sobre desenvolvimento sustentável nos Comunicação&política, v.30, nº1, p.157-175 163 3DOS3 Ana Georgina Ferreira Ribeiro.indd 163 21.05.2012 13:11:34
  • 8. Dossiê – Os desafios da integração sul-americana Ana Georgina Ferreira Ribeiro, Antonio Carvalho Ferreira e Raimundo Nonato de Souza Bouth países-membros do tratado amazôni- como pessoa jurídica e assim podendo co, pois dispõe atualmente de diversos programar diversas parcerias. Em ní- programas e projetos em parceria com vel operacional, a OTCA se configura outros organismos internacionais; além como um foro permanente de consul- de se preocupar com a articulação com tas, articulação entre os países e pro- a sociedade civil. O debate sobre possi- motor de projetos de desenvolvimento bilidades de desenvolvimento sustentá- sustentável para a região Amazônica. A vel na Amazônia “requer a análise do organização pode atuar conjuntamente papel do TCA, como um instrumento com as agências e órgãos responsáveis de integração regional e mecanismo pa- pela coordenação, implementação e raestatal de políticas públicas” (ARA- acompanhamento de programas e pro- GÓN, 2002, p. 8). jetos de cooperação técnica dos Países O impacto e o papel preponderante Membros. que o TCA pode e deve jogar no atu- A OTCA representa o maior esforço al processo de globalização dependem, de integração sub-regional na história em parte, da superação pelos países da Amazônia, por meio do qual será signatários de seus próprios conflitos possível acordar os princípios básicos (fundamentalmente internos) para pôr que nortearão o desenvolvimento da em prática os princípios que regem o região Amazônica (ARAGÓN, 2002). Tratado, assim resumidos em seu Arti- Sob a perspectiva regional, a OTCA sur- go Primeiro onde afirma que: ge em meio a outros organismos como o Mercado Comum do Sul – MERCO- “As partes contratantes convêm em realizar SUL e a Comunidade do Caribe que, esforços e ações conjuntas a fim de promo- embora dotados de missões diferentes, ver o desenvolvimento harmônico de seus são importantes interlocutores e repre- respectivos territórios amazônicos, de modo sentam dimensões complementares que essas ações conjuntas produzam resul- para alcançar os propósitos de desen- tados equitativos e mutuamente proveitosos, volvimento dos Países Membros. assim como para a preservação do meio am- O estabelecimento do TCA, em 1978, biente e a conservação e utilização racional na forma pioneira como foi tomada tra- dos recursos naturais desses territórios.” balhava a expressão desenvolvimento (Art. I do TCA) harmônico da Pan-Amazônia, antes da formulação do termo desenvolvimen- A iniciativa dos países signatários de to sustentável ter sido criada em 1987. fortalecer o TCA foi saudada pela maio- Durante a pequena reforma do TCA, na ria dos autores da área, por se tratar de emenda que aprovou a criação da Secre- um comprometimento maior com os taria Permanente, não houve reformu- objetivos do Tratado, além de facilitar lação jurídica do termo, atualizando-o. sua inserção no Direito Internacional, Mesmo assim, o discurso deste novo através de um organismo multilateral, paradigma foi incorporado tacitamente 164 3DOS3 Ana Georgina Ferreira Ribeiro.indd 164 21.05.2012 13:11:34
  • 9. Dossiê – Os desafios da integração sul-americana Tratado de Cooperação Amazônica: política sustentável Brasil-Venezuela à prática das reuniões e, com a criação ções locais de usufruir os benefícios ge- da OTCA não podia haver outra estra- rados pelas iniciativas desenvolvidas, na tégia de desenvolvimento que não esta. forma de geração de emprego e renda, Enquanto definição não há divergências como parte das metas governamentais quanto ao que é apresentado pela OTCA de luta contra a pobreza, em consonân- e o que foi preconizado pelos teóricos cia com os Objetivos e Metas do Milê- do desenvolvimento sustentável. Cita- nio das Nações Unidas e o Programa mos os trechos a seguir como exemplo: 21, estabelecidos na Cúpula Mundial de Desenvolvimento Sustentável. “Declaração da Amazônia (1989): Firmou Assim, é preciso observar a atuação o desenvolvimento sustentável como interesse da OTCA, frente à própria importância comum, reiterando que o patrimônio amazô- crescente da região amazônica na geo- nico deve ser conservado por meio da utiliza- política mundial, bem como os avanços ção racional dos recursos da região para que no debate e na promoção do paradig- as gerações atuais e futuras possam aprovei- ma do “desenvolvimento sustentável” tar os benefícios desse legado da natureza.” e ainda o papel significativo dos países (TCA: Amazônia sin mitos, 1992) amazônicos no processo de integração regional e sua vinculação à economia O princípio cardinal de desenvolvi- internacional. Fatores estes, aliados ao mento sustentável para a Amazônia caráter global dos desafios da proteção deve ser o bem-estar de seus habitantes ambiental, assim como a responsabili- e a satisfação de seus interesses legíti- dade soberana dos países amazônicos mos. Deve assegurar a manutenção de pelo futuro da região reiteram a neces- seus ciclos naturais, de seus recursos na- sidade de disposição política e o apoio turais renováveis e de sua biodiversida- irrestrito das Partes para realizar ações de biológica. Tal desenvolvimento para adicionais para que a cooperação regio- ser sustentável, para além do plano eco- nal amazônica seja mais eficaz e alcance lógico deve assegurar também que sub- resultados de maior projeção. sistirão as comunidades humanas, ou Em 2004 foi aprovado o Plano Estra- seja, deve ser socialmente sustentável. tégico da OTCA, que seria o mecanis- Somente um desenvolvimento assim mo a dar o tom, sobre como promover pode assegurara salvação para a Amazô- e fazer Desenvolvimento Sustentável, nia. Melhorar a qualidade de vida dos segundo os mandatos dos países mem- povos, aproveitando sustentavelmente bros para a Organização. O Plano é ins- a rica herança cultural e natural que trumento de orientação do trabalho de hospeda o bioma mais importante do médio prazo, no qual foram inclusos os planeta e o coração do país: a Amazônia. resultados dos mandatos dos países sig- No preâmbulo do plano estratégico natários, estabelecendo em quais áreas da OTCA consta o compromisso social a OTCA tem competência de atuação de aumentar a capacidade das popula- como órgão executivo, para orientar Comunicação&política, v.30, nº1, p.157-175 165 3DOS3 Ana Georgina Ferreira Ribeiro.indd 165 21.05.2012 13:11:34
  • 10. Dossiê – Os desafios da integração sul-americana Ana Georgina Ferreira Ribeiro, Antonio Carvalho Ferreira e Raimundo Nonato de Souza Bouth a formulação, a execução e o acompa- junto a seis áreas programáticas, quais nhamento de projetos, programas e sejam: a) Água; b) Florestas, Solos e iniciativas viáveis de alcance regional, Áreas Naturais Protegidas; c) Diversi- visando avançar em seus propósitos. dade Biológica, Biotecnologia e Bioco- Segundo o plano estratégico acima mércio; d) Ordenamento Territorial, mencionado a SP/OTCA observará os Assentamentos Humanos e Assuntos compromissos resultantes das conven- Indígenas; e) Infraestrutura Social: Saú- ções multilaterais relevantes, tais como de e Educação; e f) Infraestrutura de a Convenção sobre a Diversidade Bio- Transporte, Energia e Comunicações. lógica, Comércio Internacional de Es- A OTCA executa mais de 20 progra- pécies Ameaçadas, Convenção sobre a mas e projetos em parceria com diversas Proteção ao Patrimônio Mundial, Cul- instituições, organismos internacionais tural e Natural, a Mudança Climática, e agencias de cooperação, alguns países Luta contra a Desertificação, Convenção extra membros como a Holanda, Ale- de Ramsar sobre pântanos, entre outras. manha e Grã Bretanha, além dos países O Plano estratégico reafirma o com- membros através das Comissões Na- promisso desta organização com o cionais Permanentes (CNPs). Dentre desenvolvimento sustentável da Ama- os programas, alguns se destacam por zônia e informa ainda que a decisão dos envolver maior amplitude de ação da Governos dos Países Membros de criar OTCA nos últimos anos (2004 a 2010), a OTCA e sua Secretaria Permanente, como o projeto Fortalecimento da Ges- está dirigida a fortalecer institucional- tão Regional Conjunta para o Uso Sus- mente a coordenação e a ação conjunta tentável da Biodiversidade Amazônica; frente às demandas da região Amazôni- o projeto Manejo Integrado e Susten- ca e representa uma demonstração ine- tável dos Recursos Hídricos Transfron- quívoca da prioridade que outorgam os teiriços na Bacia do Rio Amazonas, oito países membros a esse mecanismo considerando a variabilidade e as mu- de cooperação regional e a necessidade danças climáticas; o projeto Uso Sus- de criar uma visão comum do desenvol- tentável e Conservação dos Bosques e vimento sustentável amazônico. da Biodiversidade na Região Amazôni- Dentro do enfoque estratégico da Or- ca; a construção da Agenda Regional In- ganização foram estabelecidos quatro dígena (legitimar e integrar as políticas eixos estratégicos para a promoção do públicas em benefício dos povos indíge- desenvolvimento sustentável: 1) Con- nas); A criação da Rede Pan-Amazônica servação e uso sustentável dos recursos de Tecnologia, Ciência e Inovação em naturais; 2) Gestão do conhecimento e Saúde; e, a abertura de diálogo para a intercâmbio tecnológico; 3) Integração Iniciativa: Destino Amazônia 2009. e competitividade regional; 4) Fortale- A Secretaria Permanente da OTCA cimento institucional. Tais eixos devem é fortalecida, em novembro de 2009, ser articulados de forma transversal por ocasião da Cúpula dos Presidentes 166 3DOS3 Ana Georgina Ferreira Ribeiro.indd 166 21.05.2012 13:11:34
  • 11. Dossiê – Os desafios da integração sul-americana Tratado de Cooperação Amazônica: política sustentável Brasil-Venezuela Amazônicos, da qual emanou a Decla- Presidentes dos países amazônicos re- ração sobre a OTCA. Chefes de Esta- afirmaram a importância que, de acor- dos decidiram dar a OTCA um papel do com o artigo 23 do TCA, os Países renovado e moderno como fórum de Membros estabeleçam ou reativem cooperação, reconhecendo ser o de- as Comissões Nacionais Permanentes senvolvimento sustentável da Amazô- como instâncias encarregadas de apli- nia uma prioridade, por meio de uma car as disposições do TCA, executar administração integral, participativa, projetos e programas e implementar compartilhada e equitativa, como for- as decisões adotadas pelas reuniões de ma de dar uma resposta autônoma e so- Ministros de Relações Exteriores e pelo berana aos desafios ambientais atuais. Conselho de Cooperação Amazônica A XIV Reunião do Conselho de Coo- em seus países. Têm o propósito de peração Amazônica (CCA), em novem- reunir todas as entidades responsáveis bro de 2010, em Lima no Peru, teve pelo desenvolvimento e cooperação entre seus objetivos a realização de uma amazônica em seus respectivos territó- revisão das atividades desenvolvidas, rios. As Chancelarias presidem as Co- dos avanços alcançados, como também missões Nacionais Permanentes. discutir as novas ações para o trabalho Assim compreendida esta comissão é conjunto para a preservação e desenvol- fundamental para um maior concerto vimento sustentável da Região Amazô- e articulação institucional e estratégica nica. Os ministros adotaram uma nova dos objetivos do Tratado de Coopera- Agenda Estratégica de Cooperação com ção, pois enquanto instancia local da ações especificas de curto, meio e longo OTCA pode proporcionar aos países prazo reafirmando os vínculos de co- membros um maior engajamento em operação que os países mantêm há 30 termos de formulação de políticas pú- anos. A Agenda Estratégica 2010-2020 blicas de caráter transversal e articula- deve refletir as prioridades dos países das coma questão da Amazônia dentro amazônicos, de acordo com a nova rea- de seus próprios países. Ressalte-se que lidade política e social da região. as CNP´s são presididas pelos respec- Dentro do discurso sobre desenvolvi- tivos ministros das relações exteriores mento sustentável no âmbito da OTCA de cada país. e para cumprir os objetivos desta pes- O caráter multisetorial das CNPs, quisa analisando o papel dos países onde as Comissões Especiais da Amazô- Brasil e Venezuela cabe mencionar a nia têm um importante papel em suas importância de um mecanismo de apli- áreas de competência (ciência e tecno- cação do TCA que são as Comissões logia, saúde, meio ambiente, assuntos Nacionais Permanentes (CNPs) dos indígenas, turismo, educação e trans- Países Membros. portes, comunicações e infraestrutura), Na Declaração sobre a OTCA apro- permitirá realizar de maneira integral vada em 2009, em Manaus, Brasil, os e complementar as ações nos diferen- Comunicação&política, v.30, nº1, p.157-175 167 3DOS3 Ana Georgina Ferreira Ribeiro.indd 167 21.05.2012 13:11:34
  • 12. Dossiê – Os desafios da integração sul-americana Ana Georgina Ferreira Ribeiro, Antonio Carvalho Ferreira e Raimundo Nonato de Souza Bouth tes eixos estratégicos e dos elementos quisas Científicas e Tecnológicas; e 15) transversais contemplados no Plano Corporação Venezuelana de Guayana. Estratégico e os espaços de intervenção A criação destes organismos e prin- dos programas da SP/OTCA. cipalmente da OTCA de forma geral, No Brasil, a Comissão Nacional Per- demonstra que o TCA se trata de um manente do Tratado de Cooperação acordo-quadro flexível, capaz de nor- Amazônica, constituída por 13 Minis- tear matrizes coerentes para o desen- térios, a saber: 1. A Casa Civil da Pre- volvimento da cooperação regional sidência da República; 2. O Ministério e assim as estratégias que os países da Ciência e tecnologia; 3. O Ministério membros adotam em relação ao de- das Comunicações; 4. O Ministério da senvolvimento para a Amazônia ado- Defesa; 5. O Ministério do Desenvolvi- tada nacionalmente e as iniciativas mento, Indústria e Comércio Exterior; e estratégias de cooperação entre os 6. O Ministério da Educação; 7. O Mi- países-membros são importantes e se nistério da Justiça; 8. O Ministério do destacam. Tais iniciativas devem ser ar- Meio Ambiente; 9. O Ministério do ticuladas dentro da ótica de desenvol- Planejamento, Orçamento e Gestão; vimento sustentável da OTCA, como 10. O Ministério das Relações Exterio- veremos a seguir. res; 11. O Ministério da Saúde; 12. O Ministério dos Transportes; 13. O Mi- nistério do Turismo. Brasil e Venezuela: estratégias Na Venezuela, a CNP é composta, de cooperação à luz do além de Ministérios, por outras insti- desenvolvimento sustentável tuições de caráter Federal, quais sejam: 1) Escritório Central de Coordenação e A troca de serviços e mercadorias entre Planejamento da Presidência; 2) Minis- as nações tem aumentado de tal forma tério das Relações Exteriores; 3) Minis- que, nas duas últimas décadas, supera tério da Saúde e Assistência Social; 4) o crescimento da produção mundial. A Ministério do Ambiente e de Recursos origem desta troca entre as nações está Naturais Renováveis; 5) Ministério da no fato de os Estados não produzirem Educação e Cultura (direção de assun- todos os bens de que necessitam, seja tos indígenas); 6) Ministério da Pro- por falta de condições, seja por falta de dução e Comércio (Vice Ministério do interesse. Turismo); 7) Ministério do Fomento; A fim de obter maiores vantagens no 8) Ministério de Transporte e Comu- mercado internacional, os países pro- nicação; 9) Ministério da Fazenda; 10) curam especializar-se na produção de Ministério da Defesa; 11) Ministério bens valorizados em outros pólos de da Agricultura e Terras; 12) Ministério consumo e por eles gerados com maior da Justiça; 13) Ministério de Energia e eficiência. Estados de clima quente, por Minas; 14) Conselho Nacional de Pes- exemplo, são tradicionalmente grandes 168 3DOS3 Ana Georgina Ferreira Ribeiro.indd 168 21.05.2012 13:11:34
  • 13. Dossiê – Os desafios da integração sul-americana Tratado de Cooperação Amazônica: política sustentável Brasil-Venezuela exportadores de alimentos tropicais ticas bilaterais conheceram um surto de para as regiões de clima frio. adensamento superior ao que se verifi- As nações mais ricas, como EUA, Ale- ca entre estes países e outros parceiros. manha e Japão, possuem parques in- Esta convergência pode ser explicada dustriais desenvolvidos que viabilizam através da visão estratégica externa ado- a fabricação de bens de alta tecnologia. tada pelos países sob parâmetros como: Assim, com cada país investindo o conceito de globalização assimétrica em setores que tem maior vantagem como correção ao conceito neoliberal e excluindo os demais, o comércio se de globalização benéfica; o conceito po- tornou fundamental para a vida econô- lítico e estratégico de América do Sul; mica das nações, e é um dos elementos o reforço do núcleo central robusto da centrais do processo de globalização. economia nacional como condicionan- Criado em 1991, o Mercado Comum te da interdependência global; a per- do Sul é composto por Argentina, cepção de nocividade da ALCA, caso se Brasil, Paraguai e Uruguai, países sul- estabeleça sem as condicionantes ante- americanos que adotam políticas de riores e sem reciprocidade comercial integração econômica e aduaneira. Até efetiva; entre outros. agosto de 2011 a Venezuela ainda não Os acordos entre Brasil e Venezuela fazia parte do MERCOSUL. vão desde o fornecimento de tecnolo- Ressalte-se que esta busca pela inte- gia para aprimoramento da produção gração regional encontra resistências, de milho, soja e carne até uma carta de a exemplo do ocorrido quando foi ce- intenções que se destina à questão dos lebrado o acordo entre a Venezuela, o sobrevôos nos dois países. Brasil e a Argentina para a construção Os presidentes Luiz Inácio Lula da de gasoduto - através do qual a Vene- Silva e Hugo Chávez assinaram em zuela forneceria gás ao Brasil e à Argen- 2008, em Caracas, na Venezuela, 21 tina, e que estaria pronto a partir de acordos nas áreas energética, indus- 2017 - foi motivo de protesto por parte trial, agrícola, tecnológica, ambiental e dos presidentes do Uruguai e do Pa- educacional. raguai, membros do MERCOSUL que Ainda na área energética, os dois pa- uniram suas vozes para deixar claro íses acertaram a troca de energia entre que “assim como está, o MERCOSUL as usinas hidrelétricas de Guri, na Ve- não serve”, pela prepotência dos sócios nezuela, e Tucuruí, Belo Monte, no es- maiores. tado do Pará, Brasil. Em que pese os choques e conflitos Esse projeto ainda depende da cons- comerciais com alguns países da Amé- trução de uma linha de transmissão rica do sul, Brasil e Venezuela, segundo entre os dois países. A compra de gás os dados disponíveis acerca da relação natural liquefeito da Venezuela está entre ambos levam a seguinte conclu- prevista para depois de 2014. Os dois são: nos últimos anos, as relações polí- presidentes ressaltaram a necessidade Comunicação&política, v.30, nº1, p.157-175 169 3DOS3 Ana Georgina Ferreira Ribeiro.indd 169 21.05.2012 13:11:35
  • 14. Dossiê – Os desafios da integração sul-americana Ana Georgina Ferreira Ribeiro, Antonio Carvalho Ferreira e Raimundo Nonato de Souza Bouth de integração entre os países da Amé- Há parcerias para que os venezuelanos rica Latina para fortalecer a economia possam comprar azeite refinado brasi- da região. leiro, além de memorandos de entendi- Á época, o presidente do Brasil dis- mentos para eteno e polietileno. se na solenidade que já não existe mais Um acordo assinado no ano de 2010 desconfiança do empresariado brasilei- representou um memorando de en- ro para investir na Venezuela. tendimento para supervisionar os pla- Os presidentes Lula e Chávez se com- nos bilaterais de cooperação, e depois prometeram a trabalhar juntos para uma “ata compromisso” para estabe- conservação do meio ambiente, da Re- lecer mecanismos de planejamento gião Amazônica e para fortalecera eco- territorial tanto na faixa petrolífera do nomia da fronteira entre os dois países. Orinoco como no litoral oriental vene- A Venezuela vai fornecer ao Brasil zuelano, que conta com jazidas de gás. uma linha de conexão por fibra ótica A realização desta reunião foi estipu- para ampliar o acesso à internet de alta lada em reunião trimestral, realizada velocidade no Norte do país. Os dois entre Chávez e o presidente Lula. países também vão trocar experiências A equipe brasileira foi liderada pelo de tecnologia na área de TV digital. ministro chefe da Secretaria de Assun- O Brasil vai ajudar a Venezuela a de- tos Estratégicos, Samuel Pinheiro, e o senvolver suas áreas industriais e agríco- embaixador do país na Venezuela, An- las por meio dos escritórios da Agência tonio Simões. Brasileira de Desenvolvimento Indus- Os presidentes assinaram ainda um trial (ABDI) e da Empresa Brasileira de acordo entre o Banco da Venezuela e Pesquisa Agropecuária (Embrapa). a Caixa Econômica Federal (CEF) para Outro acordo visa garantir a segu- aumentar o acesso a serviços bancários rança das aeronaves que sobrevoam a nos dois países. região de fronteira entre os dois países. Também foi assinado um ato que Também foi firmado acordo para re- define a ampliação da venda de nafta, gulamentar o intercâmbio de pessoas um derivado de petróleo, da empresa condenadas para que possam cumprir brasileira Brasken para a Petróleos de as sentenças em seus países de origem. Venezuela SA (PDVSA). Atualmente, Atualmente a Venezuela vive o agra- a empresa brasileira vende 500 mil vamento da crise energética acentuada toneladas do produto à Venezuela. O pelo desabastecimento de alguns ali- objetivo do novo acordo é aumentar as mentos e também de água. O Brasil vendas para 750 mil toneladas. se comprometeu também a colaborar Com a Embrapa, Lula e Chávez defi- para o fornecimento de energia ao país. niram que será realizada uma parceria Os acordos de cooperação com o Bra- para efetivar pesquisas agropecuárias sil contribuem para minimizar essas di- na Venezuela e também para adiantar ficuldades enfrentadas pela Venezuela. projetos que buscam a ampliação da 170 3DOS3 Ana Georgina Ferreira Ribeiro.indd 170 21.05.2012 13:11:35
  • 15. Dossiê – Os desafios da integração sul-americana Tratado de Cooperação Amazônica: política sustentável Brasil-Venezuela colheita de soja na região de Valle de cooperação técnica mais profunda para Quibor, no estado de Lara. proteger o meio ambiente. Os governos do Brasil e da Venezuela Entretanto Segundo Batista (2009) ainda devem ampliar os acordos bilate- “de acordo com o Ministério de Rela- rais nas áreas de mineração e petróleo. ções Exteriores – Divisão da América As negociações foram intensificadas a meridional IV o posicionamento oficial partir de fevereiro de 2011, quando o com relação a este memorando de en- ministro das Relações Exteriores Anto- tendimento sobre cooperação ambien- nio Patriota se reuniu com o chanceler tal não havia iniciativas específicas no venezuelano, Nicolas Maduro, em Ca- âmbito deste instrumento.” (BATISTA, racas. Patriota e Maduro vão examinar 2009, p.36) também projetos nas áreas de habita- Ao longo da pesquisa também foi ve- ção, agricultura, indústria, energia e rificada a existência de acordos entre os desenvolvimento fronteiriço. Estados de Roraima/Brasil e Bolívar/Ve- As empresas do Brasil e da Venezuela nezuela para a proteção dos espaços pro- mantêm ligações, principalmente, nos tegidos nas áreas fronteiriças, habitados setores de mineração e construção civil. por populações indígenas ou não. Po- No ano de 2010, o comércio entre os rém estas iniciativas carecem de medidas dois países atingiu US$ 4,68 bilhões, mais efetivas por parte dos dois países. com saldo positivo para o Brasil de mais de US$ 3 bilhões, atualmente, o Brasil é o terceiro parceiro comercial da Conclusão Venezuela. No que se refere aos acordos interna- Considerando que no âmbito do Direi- cionais na área ambiental, Brasil e Ve- to Internacional Latino Americano o nezuela assinaram na cidade de Caracas TCA representa a materialização de um em 27 de junho de 2008, um memoran- foro regional voltado para a realidade do de entendimento entre o governo local e que aponta diretrizes gerais para de ambos os países. uma gestão que tenta combinar desen- Este documento considera que ambos volvimento, economia e meio ambien- os países reconhecem a importância do te. Pode-se afirmar que o tratado se desenvolvimento sustentável para pro- constitui num documento de referência teger e melhorar o ambiente, saúde e o que poderá inspirar e liderar iniciativas bem estar das gerações presentes e fu- que objetivem organizar uma política turas e de que a cooperação ambiental para a Amazônia Internacional, com é mutuamente proveitosa. base num modelo de Desenvolvimento Há referencia também sobre o desejo Sustentável envolvendo todos os oito de fortalecimento das relações Sul-Sul e países amazônicos. de amizade entre os países. Afirma este Destaca-se que isso é um processo documento sobre a necessidade de uma lento, pois só após 17 anos da concep- Comunicação&política, v.30, nº1, p.157-175 171 3DOS3 Ana Georgina Ferreira Ribeiro.indd 171 21.05.2012 13:11:35
  • 16. Dossiê – Os desafios da integração sul-americana Ana Georgina Ferreira Ribeiro, Antonio Carvalho Ferreira e Raimundo Nonato de Souza Bouth ção do TCA é que foi efetivada a mais avanço de tecnologias da urbanização e importante ação derivada deste, que é a a ideia de uma conscientização ambien- criação da OTCA (1995), com funções tal tem sido uma constante preocupa- específicas de promover os caminhos ção dos países amazônicos. do desenvolvimento regional sustentá- Assim, do ponto de vista jurídico são vel, que possibilitou nova caracteriza- numerosos os decretos e resoluções ge- ção ao tratado. radas pelos países estudados, mas não A OTCA representa a concretização foi possível identificar ações e políticas da cooperação (intra) regional. Isso integradas realizadas por eles, tento porque foi o órgão capaz de definir e como pano de fundo a integração e sus- direcionar políticas de desenvolvimento tentabilidade da Região. que atentem tanto para a cooperação Desta feita, em que pese existirem externa, como para acordos externos marco legal como: as legislações na- objetivando a consecução do modelo cionais, o tratado, demonstrando que de Desenvolvimento Sustentável, con- a questão ambiental na Amazônia está tento principalmente o ponto de im- teoricamente bem amparada, de fato o pulso e potencialização das estratégias que ocorre é que as pressões da socieda- de integração física e energética; além de civil e em especial das ONG’s tanto de consolidar um espaço privilegiado nacionais quanto internacionais, é que de relacionamento com oito dos doze obrigam aos Estados brasileiro e vene- países sul-americanos. zuelano a programarem algumas estra- Entre outras ações importantes de- tégias de desenvolvimento sustentável. rivadas do TCA destacamos a criação Neste contexto, ressalte-se que as da Secretaria Permanente da OTCA histórias do Brasil e da Venezuela pos- (2002), que visa orientar estratégias suem similitudes, ambas tem íntima e propósitos segundo os desígnios es- relação com a busca e com o aproveita- tabelecidos pelos Países Membros e o mento dos seus recursos naturais, que Plano Estratégico 2004-2012. A partir sempre contribuíram com importantes da qual, aumentou o número de acor- insumos para a economia nacional, fa- dos bilaterais assinados entre os países zendo parte da ocupação territorial e da membros, bem como a implementação história nacional. de programas e projetos com o objeti- Para efetivar a ocupação da Amazônia vo de estimular o desenvolvimento sus- os governos brasileiro e venezuelano tentável da Amazônia. investiram igualmente no modelo de Estes fatos destacam que nesta dé- desenvolvimento baseado em pólos de cada o setor de gestão ambiental vem desenvolvimento, de forma a estruturar, se aprimorando no TCA, tendo como ordenar e tornar os espaços produtivos, base a democratização, o olhar interna- com investimentos em créditos e incen- cional sobre a forma política da prática tivos visando a tornar os países mais de preservação na região, bem como, competitivos na economia mundial. 172 3DOS3 Ana Georgina Ferreira Ribeiro.indd 172 21.05.2012 13:11:35
  • 17. Dossiê – Os desafios da integração sul-americana Tratado de Cooperação Amazônica: política sustentável Brasil-Venezuela Entretanto, tais ações até os dias atu- de Caracas em 27 de junho de 2008, ais não levaram em consideração os este instrumento considera que ambos interesses de todos os grupos que divi- os países reconhecem a importância do dem este território, tendo como base desenvolvimento sustentável para pro- uma política ambiental voltada para teger e melhorar o ambiente, saúde e o a sustentabilidade, o que perpassaria bem estar das gerações presentes e fu- pela prática do planejamento participa- turas e de que a cooperação ambiental tivo e da negociação entre os diferentes é mutuamente proveitosa. Afirma este setores sociais envolvidos, como instru- documento sobre a necessidade de uma mentos de solução de conflitos, para cooperação técnica mais profunda para atingir o desenvolvimento desejado. proteger o meio ambiente. Entretanto Nessa contextualização, deve se con- no período estudado não verificamos siderar que ambas as sociedades, bra- nenhuma iniciativa concreta no âmbito sileira e venezuelana, carregam uma deste instrumento. marca autoritária, com largas tradi- Frente a esta realidade, o desafio pos- ções de relações políticas paternalistas to é dar condições para o início de uma e clientelistas, e longos períodos de mudança social e um possível encontro governos não democráticos. Até hoje de novos paradigmas que concilie con- são sociedades marcadas por relações servação ambiental, solidariedade, jus- sociais hierarquizadas e por privilégios tiça social e prudência econômica. que reproduzem um altíssimo nível de Assim, ressalta-se que para realizar desigualdade, injustiça e exclusão so- ações e políticas de meio ambiente in- cial, na medida em que boa parte da tegradas, o êxito dos projetos a serem população não tem acesso a condições executados nas áreas dos tratados de vida digna, encontra-se excluída da bilaterais para a consecução do de- plena participação nas decisões que de- senvolvimento tendo como base a sus- terminam os rumos da política. tentabilidade, dependerá da decisão Fato é que ambos os países, apesar dos dois países em colocar a capacidade dos esforços legislativos apresentados de suas instituições técnicas e os recur- na área ambiental, vêm priorizando sos financeiros necessários para sua im- uma estratégia de cooperação nas áreas plementação de programas e projetos comercial, energética e de defesa, que concretos que tenham como prioridade de alguma forma pode entrar em con- o desenvolvimento sustentável. Caso flito com os dispositivos do TCA e da contrário o TCA e a OTCA tornam-se OTCA quanto ao desenvolvimento sus- apenas uma “carta de intenções”. tentável e a integração da região. Desta feita, emerge a necessidade de Concretamente, quanto ao desen- se fomentar novos modelos de desen- volvimento sustentável, existe um volvimento baseados no planejamen- memorando de entendimentos entre to regional e que possam formular Brasil e Venezuela assinado na cidade estratégias capazes de promover o Comunicação&política, v.30, nº1, p.157-175 173 3DOS3 Ana Georgina Ferreira Ribeiro.indd 173 21.05.2012 13:11:35
  • 18. Dossiê – Os desafios da integração sul-americana Ana Georgina Ferreira Ribeiro, Antonio Carvalho Ferreira e Raimundo Nonato de Souza Bouth desenvolvimento sustentável local, jurídicas que atenderam a motivos e tendo como base os princípios da so- propósitos parciais, muitas delas res- lidariedade, introduzido pelo Direito ponderam a demandas momentâneas Internacional latino-americano e pre- de caráter sócio-econômico e políticos, sente no TCA. enfim, tem-se avançado, sim, neste de- Durante as últimas décadas foram bate, nos últimos anos, mas ainda fica criadas fundamentalmente medidas um amplo caminho a ser percorrido. Referências bibliográficas ARAGON, L. E. Háfuturo para o desenvolvimento sustentável na Amazônia? 2002. Disponível em http://www.desenvolvimento.gov.org.br. BATISTA, F. L. Políticas e ações nos Espaços fronteiriços Brasil (Terra Indígena Raposa Serra do Sol) e Venezuela (Parque nacional de Canaima). Dissertação em mestrado profissional Interinstitucional em Economia – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Ciências Econômicas. Programa de Pós-graduação em Economia, Porto Alegre; Universidade Federal de Roraima, Boa Vista, Brasil, 2009. BENI, M. C. Análise estrutural do turismo. 10ª ed. São Paulo: Editora Senac, 2004. BID: In: Amazonia sin mitos. Washington D.C: PNUD, TCA, 1992. IRVING, M. A. Refletindo sobre o ecoturismo em áreas protegidas: tendências no contexto brasileiro. In: Azevedo, J. Turismo: o desafio da sustentabilidade. São Paulo: Futura, 2002. pp. 47-68. MOTTA, Ronaldo Seroa. “Instrumento econômico e política ambiental”. Revista de Direito Ambiental Nº 20, São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 2000. OTCA: Base jurídica. Brasília, Secretaria Permanente 2003. ______. Boletim Eletrônico – Nº I a VIII. Brasília, 2004. ______. Informe de Gestión: Síntese 2004 - 2007. Brasília, Secretaria Permanente, 2008. ______. Informe de Gestión: 2007 - 2008. Brasília, Secretaria Permanente, 2010. ______. Plan estratégico de la OTCA (2004-2012).Brasília, 2004. SANTOS, M. A natureza do espaço. Espaço e tempo. Razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1996. SANTOS, M. et al. Território e sociedade: entrevista com Milton Santos. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 1996. Secretaria Permanente da OTCA. Relatório de Gestão da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica: síntese 2004-2007. ______. Relatório de Gestão da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica 2007-2008. SILVA, C. B. P. “Desenvolvimento sustentável: uma abordagem em construção no transporte público”. In: Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente. 2006. TCA – Tratado de Cooperação Amazônica. Programs and Projects of The Amazon Cooperation Treaty. Quito: TCA, 1992. 174 3DOS3 Ana Georgina Ferreira Ribeiro.indd 174 21.05.2012 13:11:35
  • 19. Tratado de Cooperação Amazônica: política sustentável Brasil-Venezuela Ana Georgina Ferreira Ribeiro, Antonio Carvalho Ferreira e Raimundo Nonato de Souza Bouth Resumo Abstract O trabalho analisa o Tratado de Coo- The work analyze the Amazon Coopera- peração Amazônica e a Organização tion Treaty and the Amazon Cooperation do Tratado de Cooperação Amazônica, Treaty Organization, like instruments to como instrumentos para elaborar po- prepare integrated politics of sustainable líticas integradas de desenvolvimento development in the Amazon region wra- sustentável na região amazônica envol- pping Brazil and Venezuela. The article vendo Brasil e Venezuela. O artigo apre- presents qualitative approach, descripti- senta enfoque qualitativo, descritivo e ve and bibliographic-documental. While bibliográfico-documental. Constata-se that Brazil and Venezuela in their laws que Brasil e Venezuela reconhecem nas recognize the importance of sustainable suas legislações a importância do de- development and environmental coope- senvolvimento sustentável e que a co- ration through international treaties are operação ambiental através de tratados mutually beneficial, but do not have bila- internacionais é mutuamente proveito- teral agreements for environmental pro- sa, mas, não possuem acordos bilaterais tection and sustainable development from de proteção ambiental e desenvolvi- the perspective of the ACTO, and the two mento sustentável, assim os dois países, countries do not prioritize actions and po- não priorizam ações e políticas de coo- litics of cooperation in the environmental peração na área ambiental, mas estraté- area, but strategies for cooperation in tra- gias de cooperação nas áreas comercial, de, energy and defense, that conflict with energética e de defesa, que conflitam the provisions of ACTO and sustainable com os dispositivos da OTCA e com o development. desenvolvimento sustentável. Key words Palavras-chave Amazon Cooperation Treaty – Organiza- Tratado de Cooperação Amazônica tion of the Amazon Cooperation Treaty – Organização do Tratado de – Integrated Politicies – Sustainable De- Cooperação Amazônica – políticas velopment – Brazil-Venezuela integradas – desenvolvimento sustentável – Brasil-Venezuela E-mail nonatobouth@hotmail.com Artigo recebido em 08 de janeiro de 2012 e aprovado para publicação em 20 de março de 2012. Comunicação&política, v.30, nº1, p.157-175 175 3DOS3 Ana Georgina Ferreira Ribeiro.indd 175 21.05.2012 13:11:35