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TOTEM.
CASA DE UM CHEFE HAIDA (ÍNDIO PELE-VERMELHA). MODELO EXISTENTE NO
MUSEU AMERICANO DE HISTÓRIA NATURAL. NOVA YORK
Em algumas partes do mundo, os artistas
primitivos desenvolveram elaborados sistemas
para representar as várias figuras e totens de
seus mitos dessa maneira ornamental. Entre os
índios peles-vermelhas da América do Norte, por
exemplo, os artistas combinam uma observação
muito penetrante das formas naturais com esse
descaso pelo que chamamos a aparência real
das coisas. Como caçadores, conhecem o
verdadeiro formato do bico da águia, ou das
orelhas do castor, muito melhor do que qualquer
de nós. Mas consideram que uma dessas
características é suficiente. Uma máscara com
um bico de águia é uma águia. A fig. 27 é um
modelo de uma casa de cacique da tribo Haida
de peles-vermelhas com três dos chamados
mastros totêmicos na frente dela. Poderemos ver
apenas uma barafunda de feias máscaras, mas,
para o nativo, esses mastros ilustram uma antiga
lenda de sua tribo. A própria lenda poderá
impressionar-nos por ser quase tão insólita e
incoerente quanto a sua representação, mas já
não nos deveríamos surpreender pelo fato de as
idéias nativas serem diferentes das nossas.
Era uma vez um jovem na cidade de Gwais
Kun que costumava passar o dia todo
mandriando na cama até que sua sogra o
repreendeu por isso; ele sentiu-se
envergonhado, saiu de casa e decidiu
matar um monstro que vivia num lago e se
alimentava de seres humanos e baleias.
Com a ajuda de um pássaro encantado,
preparou uma armadilha feita de um tronco
de árvore e pendurou nele duas crianças
como isca. O monstro foi apanhado, o
jovem vestiu a pele dele e pescava peixes,
que deixava regularmente na soleira da
porta de sua sogra. Ela ficou tão lisonjeada
com essas inesperadas oferendas que se
julgou uma poderosa feiticeira. Quando o
jovem, finalmente, a desenganou, ela
sentiu-se de tal modo envergonhada que
morreu.
Todos os participantes nessa história estão
representados no mastro central. A máscara abaixo
da entrada é uma das baleias que o monstro
costumava comer. A grande máscara acima da
entrada é o monstro; por cima dele, a forma humana
da infeliz sogra. A máscara com um bico, logo a
seguir, é o pássaro que ajudou o herói; este é visto
imediatamente depois, vestido com a pele do
monstro e apresentando os peixes que pescou. As
figuras humanas no final do mastro são as crianças
que o herói usou como isca.
NENFIDIO – TOTEM.
BIBLIOGRAFIA TEXTUAL:
GOMBRICH, E.H. – história da Arte.

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  • 5. Em algumas partes do mundo, os artistas primitivos desenvolveram elaborados sistemas para representar as várias figuras e totens de seus mitos dessa maneira ornamental. Entre os índios peles-vermelhas da América do Norte, por exemplo, os artistas combinam uma observação muito penetrante das formas naturais com esse descaso pelo que chamamos a aparência real das coisas. Como caçadores, conhecem o verdadeiro formato do bico da águia, ou das orelhas do castor, muito melhor do que qualquer de nós. Mas consideram que uma dessas características é suficiente. Uma máscara com um bico de águia é uma águia. A fig. 27 é um modelo de uma casa de cacique da tribo Haida de peles-vermelhas com três dos chamados mastros totêmicos na frente dela. Poderemos ver apenas uma barafunda de feias máscaras, mas, para o nativo, esses mastros ilustram uma antiga lenda de sua tribo. A própria lenda poderá impressionar-nos por ser quase tão insólita e incoerente quanto a sua representação, mas já não nos deveríamos surpreender pelo fato de as idéias nativas serem diferentes das nossas. Era uma vez um jovem na cidade de Gwais Kun que costumava passar o dia todo mandriando na cama até que sua sogra o repreendeu por isso; ele sentiu-se envergonhado, saiu de casa e decidiu matar um monstro que vivia num lago e se alimentava de seres humanos e baleias. Com a ajuda de um pássaro encantado, preparou uma armadilha feita de um tronco de árvore e pendurou nele duas crianças como isca. O monstro foi apanhado, o jovem vestiu a pele dele e pescava peixes, que deixava regularmente na soleira da porta de sua sogra. Ela ficou tão lisonjeada com essas inesperadas oferendas que se julgou uma poderosa feiticeira. Quando o jovem, finalmente, a desenganou, ela sentiu-se de tal modo envergonhada que morreu.
  • 6. Todos os participantes nessa história estão representados no mastro central. A máscara abaixo da entrada é uma das baleias que o monstro costumava comer. A grande máscara acima da entrada é o monstro; por cima dele, a forma humana da infeliz sogra. A máscara com um bico, logo a seguir, é o pássaro que ajudou o herói; este é visto imediatamente depois, vestido com a pele do monstro e apresentando os peixes que pescou. As figuras humanas no final do mastro são as crianças que o herói usou como isca.
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