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The right man in the right place?
Relendo o livro Administração – Fundamentos da Teoria e da Ciência, Koontz – O’Donnell –
Weihrich, 14ª Edição, encontrei a citação que faltava para explicitar as minhas inquietações no
que tange ao posicionamento de pessoas – as autoridades técnicas nos seus respectivos
lugares, ao invés de alienígenas.

           Em sua discussão com Nicomachides (Platão e Xenophon). Socratic Discourses, livro
           III,Capítulo 4, (Nova York: E.P. Dutton & Co.,Inc.,1910), diz-se que Sócrates fez as seguintes
           observações sobre administração: “ Digo que seja lá o que for que um homem venha a
           presidir, ele será, se souber do que necessita, e for capaz de consegui-lo, um bom
           presidente, esteja ele dirigindo um coral, uma família, uma cidade, ou um exército...
           Também não é um dever.... nomear as pessoas apropriadas para as diversas tarefas?
           ... Punir os maus, e premiar os bons... Assim sendo, Nicomachides, não despreze os
           competentes na administração de uma casa, pois a conduta de negócios particulares
           difere das de negócios públicos somente em magnitude; em outros aspectos, elas são
           semelhantes, mas o que deve ser observado é o fato de que nenhum deles pode ser
           gerido sem homens; e que os negócios privados não são administrados por uma
           espécie de homem, e os públicos por outra espécie; pois os que administram negócios
           públicos fazem uso de homens em nada distintos dos empregados por
           administradores de negócios privados; e os que sabem como empregá-los conduzem
           negócios privados ou públicos judiciosamente, enquanto aqueles que não o sabem
           erram na administração de ambos”.

A história tem nos mostrado que a cada período que transcorre os fatos vão se repetindo, a
cada geração com uma nova roupagem. Erros cometidos no passado, se bem examinados,
servirão como acerto no futuro, e assim, o ciclo dos acontecimentos segue – é o mínimo que se
espera.
Seja no cotidiano normal, seja na administração pública ou privada a observação é um dos
pontos principais para um bom subordinado e um bom chefe. Por vezes, confunde-se vida
pessoal com trabalho, interesses pessoais com objetivos corporativos, essa equação sempre
resulta em algo comprometido.
Contudo, na administração pública não deve ser assim, e aqui façamos a devida diferenciação
do poder e do dever. Quando se fala em Administração Pública está implícito que toda ação
será regida por uma norma jurídica, compreendendo-a como um imperativo de conduta.
Entende-se, ademais, que o poder imprime uma idéia de faculdade, ao contrário do dever que
incute o conceito de obrigação.
Feitas essas considerações gerais, é necessário ater-se ao real sentido da expressão “the
right man in the right place”?
Sem partirmos para uma tradução completa, ainda, ressaltemos as palavras “man/homem” e
“place/lugar”.
Homem, o agente, isto é, a pessoa que executará as ações pretendidas. Lugar, compreendido
nesse sentido como espaço ocupado, contexto ou localização. Dois elementos importantes e
que direcionam o cerne da expressão.
Quanto aos conceitos sobreditos não há uma relatividade, todavia, quando introduzimos o
adjetivo “right/certo” na afirmativa, temos uma relativização do significado, quer dizer, o
entendimento da frase será diferente a cada leitura subjetiva.
Se partirmos para a acepção da palavra teremos conceitos como: verdadeiro; regular;
indubitável; seguro; e que nunca varia. Ora, o problema é adequar um status de absolutividade
a um vocábulo que, na sua essência, é altamente relativo.
Traduzindo a frase, temos “o homem certo no lugar certo”.
Aprendemos que para compreendermos um texto, leia-se aqui a frase, existem algumas
técnicas. Podemos elencar algumas quanto à sua natureza: a literal, a histórica e a teleológica.
Vale dizer que são considerações gerais, e que buscados autores diversos se terá uma
classificação diferente. A intenção atual é apenas contextualizar o argumento.
Na interpretação literal busca-se exame do significado e alcance de cada uma das palavras da
assertiva. A histórica questiona as condições de meio e momento da elaboração do texto. Por
sua vez, a teleológica enfatiza o fim que a afirmação projetava servir ou cuidar.
Realizando as três citadas espécies de hermenêutica perceberíamos três distintas acepções.
Atentemos para as duas principais: a literal e a teleológica.
Pela exegese literal transmite-se que aquele homem é o único a pertencer àquele lugar. Não
haveria outro para substituí-lo, haveria uma relação necessária de uma para o outro.
Tomando a teleológica, teríamos que o homem que ocupasse aquele lugar deveria atender às
expectativas que foram propostas. Percebe-se, então, que neste caso há uma idéia de
adequação de um para o outro, e não de determinismo. Relembrando o conceito retro
mencionado a interpretação teleológica dispõe sobre a intenção do texto, sobre os fins
pretendidos.
Destarte uma parte da resposta do questionamento em epígrafe estaria dada. Cabe agora
esclarecer quais seriam as tais expectativas. Eis o âmago da questão.
Uma vez que as expectativas atendessem as vontades de alguém ou alguma coisa estaria
realmente àquele homem atingindo o objetivo proposto, ou ele estaria sendo um homem que
convém no lugar que convém. Indaga-se.
Não obstante, quando esse homem atende as necessidades da coletividade ele estaria
servindo, isto é, cumprindo com a intenção da máxima quanto às expectativas propostas, é o
nosso entendimento. Vale dizer, compreendendo necessidade como obrigação imprescindível;
força maior; ou ainda impossibilidade de deixar de agir.
Quando percebemos que na sociedade atual sempre temos a sensação de dèjá vu, significa
que famílias, instituições, corporações e governantes estão percorrendo o mesmo ciclo vicioso
do erro. Se todos seguissem a máxima ora aludida o progresso deixaria de ser uma dúvida e
tornar-se-ia uma certeza.
Que bom seria se todas as organizações optassem pelo Homem certo no lugar certo, ao
invés de alienígenas!!!

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  • 2. Se partirmos para a acepção da palavra teremos conceitos como: verdadeiro; regular; indubitável; seguro; e que nunca varia. Ora, o problema é adequar um status de absolutividade a um vocábulo que, na sua essência, é altamente relativo. Traduzindo a frase, temos “o homem certo no lugar certo”. Aprendemos que para compreendermos um texto, leia-se aqui a frase, existem algumas técnicas. Podemos elencar algumas quanto à sua natureza: a literal, a histórica e a teleológica. Vale dizer que são considerações gerais, e que buscados autores diversos se terá uma classificação diferente. A intenção atual é apenas contextualizar o argumento. Na interpretação literal busca-se exame do significado e alcance de cada uma das palavras da assertiva. A histórica questiona as condições de meio e momento da elaboração do texto. Por sua vez, a teleológica enfatiza o fim que a afirmação projetava servir ou cuidar. Realizando as três citadas espécies de hermenêutica perceberíamos três distintas acepções. Atentemos para as duas principais: a literal e a teleológica. Pela exegese literal transmite-se que aquele homem é o único a pertencer àquele lugar. Não haveria outro para substituí-lo, haveria uma relação necessária de uma para o outro. Tomando a teleológica, teríamos que o homem que ocupasse aquele lugar deveria atender às expectativas que foram propostas. Percebe-se, então, que neste caso há uma idéia de adequação de um para o outro, e não de determinismo. Relembrando o conceito retro mencionado a interpretação teleológica dispõe sobre a intenção do texto, sobre os fins pretendidos. Destarte uma parte da resposta do questionamento em epígrafe estaria dada. Cabe agora esclarecer quais seriam as tais expectativas. Eis o âmago da questão. Uma vez que as expectativas atendessem as vontades de alguém ou alguma coisa estaria realmente àquele homem atingindo o objetivo proposto, ou ele estaria sendo um homem que convém no lugar que convém. Indaga-se. Não obstante, quando esse homem atende as necessidades da coletividade ele estaria servindo, isto é, cumprindo com a intenção da máxima quanto às expectativas propostas, é o nosso entendimento. Vale dizer, compreendendo necessidade como obrigação imprescindível; força maior; ou ainda impossibilidade de deixar de agir. Quando percebemos que na sociedade atual sempre temos a sensação de dèjá vu, significa que famílias, instituições, corporações e governantes estão percorrendo o mesmo ciclo vicioso do erro. Se todos seguissem a máxima ora aludida o progresso deixaria de ser uma dúvida e tornar-se-ia uma certeza. Que bom seria se todas as organizações optassem pelo Homem certo no lugar certo, ao invés de alienígenas!!!