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Smartphones: história, questões
éticas, propriedade intelectual e
comunidades de desenvolvimento
independente
Gabriel de Oliva Bemfica
Uma breve história dos smartphones
O primeiro “smartphone” que se tem notícia é o
IBM Simon, cujo protótipo foi revelado em 1992, com a
versão de produção surgindo em 1994. O termo
“smartphone”, todavia, só surgiria anos mais tarde, em
1997, quando a Ericsson usou a expressão para descrever
um de seus telefones-conceito. O IBM Simon possuía
funções básicas, como envio e recebimento de fax e e-
mail, além de chamadas telefônicas, e já usava uma
interface baseada em uma tela sensível ao toque.
Todavia, à época isso já era o suficiente para considerá-lo
algo acima dos telefones celulares tradicionais. Mas ainda
havia um passo importante a ser tomado na linha dos
smartphones: a adoção de sistemas operacionais.
Apesar de não ter equipado smartphones reais
(isto é, com capacidades de telefone e de “Assistente
Pessoal Digital”) até anos mais tarde (mais
precisamente, até 1999), o primeiro sistema operacional
móvel com as características que o definem como tal foi o
Palm OS, lançado pela Palm, Inc. em 1996, equipando o
Palm Pilot 1000.
IBM Simon
O que é um smartphone?
A principal característica que define um sistema operacional móvel é
a capacidade de se instalar aplicativos além dos originalmente presentes no
sistema, aplicativos esses criados com o uso de uma API (application
programming interface, ou interface de programação de aplicativos) específica
para o sistema. Essa característica é importante para, por
exemplo, diferenciar smartphones dos chamados feature phones, aparelhos
com características similares aos smartphones, mas com limitações
específicas.Outra diferença é no hardware:
considerando-se dispositivos contemporâneos,
smartphones tendem a possuir especificações muito
mais robustas que feature phones, em termos de
processador, memória RAM, armazenamento interno,
tela, câmera, conectividade, entre outros. Todavia,
não é difícil encontrar feature phones atuais que
possuam especificações bem superiores a
smartphones de outrora.
Um smartphone Pantech e
um feature phone Samsung
Os sistemas operacionais móveis e os
smartphones atuais
O uso de sistemas operacionais móveis em smartphones vem sendo largamente
discutido e aplicado desde, praticamente, a existência dos smartphones em si. Antigamente,
tanto os sistemas como os aparelhos possuíam discrepâncias tremendas, como o form factor e
as funcionalidades dos sistemas em si. Aparelhos da linha Nokia Communicator, como o 9000,
lançado em 1996, usavam um formato conhecido como clamshell: fechado, o aparelho
lembrava um celular normal, com visor reduzido e teclas numéricas; aberto, o flip revelava uma
tela de proporção 16:5, um teclado QWERTY completo e teclas auxiliares, transformando-o em
um PDA completo. Rodava o sistema GeOS. A Nokia continuou praticamente sozinha na luta,
enquanto empresas como a Research In Motion (recentemente rebatizada como BlackBerry
Limited) e a Palm ainda estavam por desenvolver seus telefones inteligentes. A primeira vinha
desenvolvendo aparelhos de pager, como o RIM 850, e a segunda continuava criando os PDAs
que rodavam seu sistema, o Palm OS. À época, era comum que as pessoas utilizassem um
aparelho celular para suas necessidades de telefonia móvel, e um outro aparelho, como um
pager BlackBerry ou um PDA Palm, para funções de internet e multimídia.
Finalmente, em junho de 1999, a Qualcomm lança o primeiro
smartphone baseado no Palm OS, o PDQ 800. Nesse meio tempo, outras
empresas de telefonia já se preparavam para a mais nova tendência do mercado:
aparelhos com múltiplas funcionalidades, especialmente ligadas à internet e
produtividade corporativa. A Ericsson lançou, em 2000, o R380, primeiro aparelho
rodando o sistema Symbian, que viria a ser a menina dos olhos da Nokia anos
mais tarde. Apenas em 2002 a RIM lança o primeiro BlackBerry com capacidade
de telefone móvel, o 5810. Também em 2002, a Nokia revela o 7650, considerado
vanguardista por ser o primeiro aparelho de produção em massa a contar com uma
câmera, e também o primeiro Nokia a rodar o sistema Symbian. Fechando o ano, a
HTC, através de sua subsidiária O2, anuncia o XDA, primeiro smartphone rodando
um sistema Microsoft (à época, Windows CE 3.0). A Palm foi lançar seu próprio
smartphone apenas em 2003, após comprar a Handspring, empresa fundada por
ex-funcionários da própria Palm, que estava desenvolvendo o aparelho.Qualcomm PDQ 800
Ainda em 2003, uma empresa chamada Android, Inc. era criada na Califórnia, contendo,
entre seus fundadores, Andy Rubin, um dos criadores do então extremamente popular T-
Mobile Sidekick e o vice-presidente também da T-Mobile, Nick Sears. Pouco se sabia (e
menos ainda se era revelado) sobre a empresa, apenas que estaria trabalhando em software
para dispositivos móveis, desenvolvendo, segundo Rubin, “dispositivos móveis mais
inteligentes, mais cientes da localização e preferências de seu proprietário”. Em 2005, a
Google compra a Android, Inc., e Rubin é nomeado vice-presidente sênior de conteúdo móvel
e digital. Começam, então, a surgir rumores: a Google estaria insatisfeita com sua presença
na internet móvel, e buscava uma maneira de contornar isso. À época, o mercado era
disputado, principalmente, pelos sistemas BlackBerry OS e Windows Mobile, além do
onipresente Symbian, esse último dando vida a mais de metade dos smartphones da época.
Haviam também diversas variantes do Linux (mais notavelmente o Maemo, desenvolvido
pela Nokia) com relativo market share até 2009.
Além dos rumores sobre a Google, em 2007 um player improvável entrou no ramo dos
celulares inteligentes: com seu iPhone, a Apple massificou o mercado de smartphones. De repente,
todos queriam um. Era novo, era bonito, era moda. Muitas fabricantes chineses, como a CECT, logo se
apressaram em produzir cópias do novo produto. Haviam, inclusive, argumentos de venda dessas
cópias sobre o iPhone original: à época, aplicações em java eram extremamente populares (mesmo
que já houvesse ecossistemas bem definidos para Palm, Symbian e BlackBerry, todas as plataformas
possuíam maneiras de rodar aplicações java dentro de seus sistemas), mas o iPhone não dava
suporte às mesmas. Alguns outros pontos a favor dos chineses eram o fato de virem desbloqueados
de fábrica (o desbloqueio de iPhones só surgiu muito tempo mais tarde), possuir bateria removível, 2
slots para SIM cards e suporte a cartão de memória. Não se entendia muito bem a diferença de
performance entre os aparelhos, e questões como tela resistiva versus tela capacitiva (ou mesmo a
necessidade de uma tela sensível ao toque) ainda não estavam em discussão. Já existiam,
obviamente, aparelhos full touch: vários dispositivos com Windows Mobile e alguns com Maemo
empregando telas resistivas, e, mais notavelmente, o LG Prada, que, assim como o iPhone,
empregava uma tela capacitiva, sendo anunciado menos de um mês antes do aparelho da Apple.
Ainda assim o iPhone se tornou um sucesso estrondoso de vendas: no terceiro trimestre de 2007,
cerca de 30% das vendas de smartphones nos EUA já eram da Apple. Em um mercado onde
tradicionalmente a penetração do Symbian nunca foi forte, RIM e Microsoft viram suas vendas caírem
vertiginosamente.
O iPhone original
Ainda em 2007, em novembro, um consórcio
chamado de Open Handset Alliance (aliança para telefones
abertos) foi anunciado, com vários players importantes do
mercado de telefonia móvel, como as fabricantes HTC e
Samsung, as operadoras Sprint Nextel e T-Mobile, e as
fabricantes de componentes, como Qualcomm (cuja divisão
de celulares foi vendida à Kyocera pouco depois de lançar o
PDQ 800) e Texas Instruments, além do Google, entre seus
fundadores. O objetivo do consórcio foi descrito como
“desenvolver padrões abertos para tecnologias móveis”.
Juntamente com a OHA, foi anunciado o Android, sistema
operacional para celulares baseado no kernel Linux. Em 22
de outubro de 2008, o primeiro aparelho com Android, o
HTC Dream (nos EUA, T-Mobile G1) foi lançado. O sistema
estava na sua versão 1.0. Suas principais funções eram a
integração com os serviços Google, loja de
aplicativos, sistema de notificações integrado e a interface
baseada no toque.
O Android como motivador de inovação
A versão de lançamento do Android era bem diferente dos dispositivos de demonstração e
do SDK mostrados no anúncio da OHA. Algumas funções, como o navegador e o aplicativo de
mapas, haviam apenas ganho melhorias em relação a suas versões de desenvolvimento, mas a
interface em geral lembrava muito mais os sistemas já existentes no mercado que algo completamente
novo. O primeiro aparelho, HTC Dream (e seu irmão, HTC Magic, lançado em agosto de
2009), todavia, possuía algumas características interessantes: a RIM e a Nokia ainda detinham poder
no mercado corporativo, e o Windows Mobile gozava de certa popularidade entre os entusiastas de
tecnologia, mas apenas o Android e o iOS possuíam uma interface pensada para o uso full
touch, praticamente sem botões físicos. Aqueles que não podiam ou queriam ficar presos ao
ecossistema da Apple podiam, finalmente, recorrer a uma alternativa.
O Android, assim como o Windows Mobile e o Symbian, foi pensado desde o início para
abranger hardwares diversos, com as grandes vantagens de não exigir licença (diferentemente do que
fazia a Microsoft) e já possuir, entre seus trendsetters, diversas fabricantes (ao contrário do
Symbian, que estava muito limitado nesse aspecto). Logo, aparelhos de diversas marcas surgiram
estampando o Android: Samsung (com o Galaxy), Huawei (com o T-Mobile Pulse), LG (com o
GW620), Motorola (com a dupla DEXT/Cliq e Quench, e depois com o Droid/Milestone), SonyEricsson
(com o XPeria X10) e Dell (com o Mini 3). É importante ressaltar que diversas dessas fabricantes, até
então, focavam seus esforços de smartphones no Windows Mobile, mas viram o Android como uma
plataforma com mais fôlego para o que viria a ser chamado de “a guerra dos smartphones”.
A essa altura, a Palm estava em vias de ser comprada pela HP, que chegou a lançar
alguns dispositivos rodando Windows Mobile (tanto com a marca Palm quanto com a marca
HP, anteriormente à transação), mas preferiu focar seus esforços no desenvolvimento do WebOS, que
a Palm já distribuía anteriormente à compra pela HP.
O diferencial do Android estava na capacidade de
customização: desde que o dispositivo retivesse determinadas
funcionalidades, e passasse no teste de compatibilidade com a
plataforma, as fabricantes eram livres para alterar a interface
do sistema. Algumas fabricantes, como a Samsung com seu
TouchWiz e a HTC com o Sense, portaram suas interfaces de
usuário do Windows Mobile, com maior ou menor grau de
sucesso, para o Android. Outras, como a SonyEricsson
(TimeScape) e a Motorola (MotoBLUR), desenvolveram
interfaces completamente novas. Isso pavimentou a via para as
maiores inovações no Android desde então, sendo que
atualmente as maiores diferenças entre determinados
dispositivos da mesma categoria, em marcas diferentes, se dá
exatamente por funcionalidades dessas interfaces
customizadas. Todavia, essas alterações se dão, por vezes, em
níveis muito profundos do sistema, e são muito comuns os
casos em que desenvolvedores independentes (ou mesmo
operadoras de celular, que possuem exigências específicas
para aprovar determinados aparelhos em suas lojas)
conseguiram ganhos consideráveis de performance
simplesmente por retirar essas interfaces do sistema de seus
aparelhos.
Primeira demonstração
do Android
Interface Sense, da HTC
A propriedade intelectual no Android
Para entender a guerra das patentes, é necessário primeiro entender o conceito de
patent troll. O termo, cunhado no começo da década de 90 e popularizado no início dos anos
2000, se refere a pessoas ou empresas que vivem da compra, venda e licenciamento de
patentes, devido a brechas em diversas leis de direitos autorais e propriedade intelectual, no
mundo inteiro. Embora, no geral, patent trolls não fabriquem produtos, é comum usar o termo
para referir-se a empresas que sejam realmente indústrias, mas que usem brechas na lei para
processar outras empresas em ramos de atuação que em nada se relacionam aos seus
próprios. Esses casos geralmente se referem ao registro de marcas mais do que a ideias de
produtos ou produtos reais.
Outro ponto importante também é verificar o quanto o sistema de
patentes, especialmente nos EUA, é confuso e vago, permitindo patentes extremamente
genéricas. Um excelente exemplo recente dessa falha é o registro, concedido à Apple no final
de 2012, do formato de “retângulo com bordas arredondadas” para aparelhos eletrônicos. Tal
regime de registros permitiu a diversas empresas, ao longo dos últimos anos, registrar patentes
que não constituem exatamente uma ideia original, e que não são usadas para proteger a
propriedade intelectual dessas empresas, mas sim para inibir a livre concorrência.
A guerra de patentes começou, aparentemente, de forma autêntica: a Nokia, no final de
2009, abriu processo contra a Apple por utilizar diversas de suas propriedades intelectuais relativas a conexões
sem fio. Segundo a Nokia, cerca de 40 empresas já possuíam acordos com a fabricante para uso dessas
patentes, mas a Apple usava essas tecnologias sem licenciamento. O valor pedido pela fabricante finlandesa
girava em torno de 1 a 2% do valor final de cada iPhone vendido. Essas patentes da Nokia fazem parte de um
conjunto de mais de 150 patentes consideradas essenciais para o funcionamento de qualquer aparelho com
tecnologia GSM, e o caso foi considerado “sólido” por analistas da época. Visto que o processo foi aberto em
uma corte nos EUA, mercado onde a Nokia possuía pouquíssima penetração, ficou claro que a intenção não era
a de comprometer as vendas de produtos da Apple em favor dos da Nokia. A briga continuou: a Apple contra-
atacou, com um processo onde afirmava que a Nokia infringia 13 de suas patentes, seguido de um outro
processo da Nokia incluindo mais 7 patentes e, finalmente, outro processo da Apple alegando que mais 9 de
suas propriedades intelectuais estavam sendo usadas sem autorização.
A próxima vítima foi a HTC: a Apple alegou que mais 20 de suas patentes estavam sendo usadas
pela fabricante taiwanesa, que respondeu com 2 processos, totalizando 8 patentes. A mesma HTC entrou em
um acordo com a Microsoft, que rende à desenvolvedora do Windows cerca de US$5,00 por aparelho HTC com
Android vendido.
O próximo grande episódio da guerra de patentes se iniciou em agosto de 2010, com a
Oracle, que há poucos meses adquirira a Sun Microsystems, desenvolvedora do Java, abriu processo contra a
Google por usar código proprietário do Java no sistema Android. A Google havia, de fato, negociado com a Sun
(e depois com a Oracle) em relação a um valor para licenciar as APIs às quais o processo se referia, mas sem
sucesso. O processo possuía uma falha grande, o fato da influência minúscula das APIs em relação ao sistema
(e a proporção do código proprietário usado em relação ao tamanho do código-fonte do Android), e sofreu um
grande golpe quando a Google noticiou que o código proprietário havia sido retirado do Android, enfraquecendo
ainda mais os argumentos da Oracle. O processo terminou em acordo, em maio de 2012, e a Google não
precisou pagar indenização alguma ou valor de licença pelo código usado.
Mas o maior acontecimento ainda estava por vir: a Samsung, durante a explosão do uso do
Android, criou uma estratégia de lançamento: seus produtos cobriam, virtualmente, qualquer nicho de mercado
de smartphones e tablets. Com produtos de boa qualidade voltados para praticamente todos os públicos, logo
se tornou a maior fabricante de dispositivos Android. Steve Jobs, CEO da Apple, estava determinado a destruir
o sistema da OHA, que chamava de “um produto roubado”. O caminho mais óbvio para a empresa, a partir de
então, era atacar a maior fabricante de hardware com o sistema. Isso levou a diversos processos da Apple
contra a Samsung e vice-versa. Os entusiastas de ambas as empresas logo notaram uma rivalidade histórica se
formando, e a mídia especializada em tecnologia, até hoje, compara imediatamente o lançamento de uma das
marcas com o produto equivalente da outra. Ficou claro, então, que a intenção dos processos não era mais
proteger a propriedade intelectual: qualquer ícone levemente parecido era motivo para abrir uma ação legal,
qualquer possibilidade de diálogo extra-judicial estava descartada. A guerra das patentes chegou no seu ápice:
Apple e Samsung processavam-se mutuamente e, como medida inicial, já requeriam o impedimento das vendas
de produtos da empresa concorrente. Não tinha mais relação com remunerar os inventores, as patentes, agora,
eram argumentos (e armas) mercadológicos.
Os diversos processos surtiram algum efeito, para ambos os lados. No Reino Unido, a Apple
perdeu o processo e foi condenada a avisar, na sua página inicial, que a Samsung não infringia suas patentes.
Na Coreia do Sul (país de origem da Samsung) e no Japão, a Apple também não obteve êxito nos processos, e
os produtos da fabricante coreana continuaram sendo vendidos quase sem alterações. Na Alemanha, a
Samsung foi impedida de vender um modelo de tablet de 10 polegadas, mas alterações mínimas no design
foram aprovadas pela corte que julgou o caso, e o aparelho voltou a ser vendido no país. Na Holanda, uma
decisão similar fez com que o aplicativo de visualização de imagens da Samsung fosse modificado apenas
naquele país, e uma proibição válida em toda a União Europeia impediu a Samsung de vender o Galaxy Tab de
7,7 polegadas. Nos EUA, país de origem da Apple, a Samsung foi condenada a pagar mais de US$1 bilhão à
Apple, em uma série de processos e julgamentos considerados extremamente controversos, com patentes
extremamente genéricas, relacionadas a simples ícones da interface e outros pormenores técnicos. Nenhum
aparelho, porém, teve sua venda ou distribuição proibida nos EUA, apesar de diversas tentativas da Apple de
barrar os produtos da Samsung.
Diferença entre o Galaxy Tab vendido na Alemanha (esquerda) e o
vendido no resto do mundo (direita)
A guerra das patentes e suas extensões em todo o mundo mostram claramente que a propriedade
intelectual não é mais apenas uma forma de garantir que o criador de determinada solução detenha os direitos
por seu invento. Casos como a clássica rixa Apple versus Samsung mostram como as empresas, no desespero
de perder mercado para a concorrência, e renegando uma cultura de inovação tecnológica, apelam para
medidas que podem ser consideradas covardes para manter ou ampliar seu market share. Chega-se ao
absurdo, cometido pela Apple, de patentear o formato de um retângulo com bordas arredondadas,
transformando virtualmente todos os tablets fabricados nos últimos 4 anos em cópias do iPad. É importante
ressaltar que tão grande número de requisições de patentes e ações judiciais acarretam em um custo elevado,
que é repassado ao cliente. Ou seja: comprando-se produtos de uma empresa que tem a cultura de abrir
processos desnecessários por patentes ridículas, não só se arca parcialmente com o custo dessas patentes e
processos, como também se estimula essa prática no mercado, que só leva à concorrência desleal e falta de
inovação tecnológica.
Do outro lado, os patent trolls são excelentes exemplos de como uma ética dúbia pode levar a
lucros formidáveis. Empresas como a NTP, que obteve mais de US$600 milhões de indenização da Research In
Motion, e ameaçam processar toda a indústria de dispositivos móveis baseados em uma patente extremamente
genérica (envio e recebimento de e-mails por redes sem fio), mostram claramente que empresas que alegam ter
sido “prejudicadas” pela disseminação de determinadas tecnologias, sem nunca ter feito uso de suas
propriedades intelectuais, nada têm a colaborar com o desenvolvimento tecnológico. Pelo contrário, os patent
trolls são claros inimigos do avanço da tecnologia, encarecendo produtos que deveriam ser abrangentes,
atrapalhando claramente a inclusão digital e a disseminação do conhecimento. Tal atitude não pode ser
chamada de ética, visto que os reais inventores das tecnologias nada ganham com isso, e que nenhum avanço
social real é conquistado de tais litigâncias judiciais.
Porém, os conflitos entre empresas diversas, mesmo os que incluem os patent trolls, são de grau
menor comparado ao que será visto a seguir. Empresas possuem verba para arcar com tais processos, mas a
situação muda quando os afetados são indivíduos simples, desenvolvedores independentes ou mesmo
consumidores finais.
A política autoral do Android e os
desenvolvedores independentes
O ano é 2008. Pouco após o lançamento do HTC
Dream, usuários descobriram que, considerando que o
Android nada mais era que uma distribuição altamente
modificada do Linux, seria possível ganhar privilégios de
super-usuário e modificar arquivos do sistema. Alguns
desenvolvedores, oriundos do Windows Mobile, passaram a
se esforçar para modificar o firmware original do aparelho,
incluindo otimizações de performance e outras
modificações. Um desses desenvolvedores era Steve
Kondik, mais conhecido pelo apelido de Cyanogen. Em
agosto de 2009, Steve desenvolveu uma modificação do
firmware baseada nas suas necessidades, como maior
personalização e performance. O firmware desenvolvido por
Kondik tinha uma única exigência: todo o sistema deveria
estar disponível com o código fonte aberto, assim como
todos os aplicativos integrados. O chamado CyanogenMod
logo se tornou extremamente popular, e outros
desenvolvedores se juntaram a Steve para portar o projeto
para outros modelos. Em pouco tempo, diversos aparelhos
eram suportados pela plataforma, que se tornou a principal
distro de Android criada pela comunidade.
Tela inicial do CyanogenMod 7
No final de setembro de 2009, porém, Cyanogen recebe um aviso de cease and
desist da Google, por usar seus aplicativos proprietários no sistema. Tais aplicativos eram
integrados ao sistema Android, mas não faziam parte dele, sendo seu código-fonte e licença de
distribuição propriedades da Google, Inc. O desenvolvimento do CyanogenMod parou por
alguns dias, e o motivo causou a ira dos desenvolvedores independentes e de toda a
comunidade de usuários da distro. A principal reclamação da comunidade era de que o Android
era anunciado como um sistema livre, aberto, e ações com o teor da usada pela Google iam
completamente contra o que se propagandeava sobre o sistema. A Google retificou a atitude
anterior, e reuniu-se com Steve Kondik para negociar os termos de uso. Ficou-se acertado que
o desenvolvimento do CyanogenMod por cima do Android poderia continuar, mas que os
aplicativos de propriedade da Google deveriam ser disponibilizados como um pacote
separado, e não integrados ao sistema. Esses termos, segundo a Google, não estariam
infringindo o copyright como se fazia anteriormente, e possibilitariam o desenvolvimento
continuado da distro. Cyanogen, todavia, avisa à comunidade que os problemas com a Google
poderiam não ser os únicos: drivers proprietários eram usados em diversos dispositivos com
Android e, caso os detentores dos direitos desses drivers exigissem sua exclusão, o
desenvolvimento para todos os dispositivos que usassem aquele driver não poderia continuar.
Não houve, porém, nenhum caso registrado de fabricantes exigindo tais mudanças.
Atualmente, o CyanogenMod está em sua 11ª versão, 10.1, correspondente ao
Android 4.2 Jelly Bean, com versões (da mais recente ou, em alguns casos, mais antigas) para
cerca de 200 versões de quase 100 dispositivos, entre smartphones, tablets e outros aparelhos
com Android embarcado e conta com aproximadamente 3 milhões de usuários.
Política autoral e direito de cópia dentro do
ecossistema Android
A Google Play Store tem uma diferença primordial
frente à sua maior rival, a Apple App Store: na loja da
Google, o conteúdo não passa por uma verificação inicial
exceto a automatizada, o que permite que qualquer
conteúdo seja incluído a qualquer hora. Embora o sistema
de verificação utilizado pela Apple receba diversas críticas
por suas normas confusas e extremamente rígidas, ele
permite verificar, entre outras questões, conteúdos
impróprios e violação de propriedade intelectual. Na Play
Store isso não acontece: há maior liberdade para os
desenvolvedores, mas não são raros os casos de conteúdo
malicioso passar pela verificação automática, fazendo com
que muitos usuários acabem caindo em fraudes ou
contraindo malwares nos seus dispositivos. A
verificação, porém, é eficaz em ambos os casos contra
conteúdo protegido por direitos autorais, o que leva à
pergunta: não estaria a segurança do usuário sendo posta
em segundo plano frente à propriedade intelectual de
empresas? Google Play Store
Muitas fabricantes de aparelhos incluem uma trava no chamado bootloader: bootloader é um dos primeiros
programas carregados na inicialização do dispositivo, é ele responsável por iniciar o sistema operacional. Bootloaders
travados, em computadores, são considerados péssimos hábitos da fabricante e/ou do desenvolvedor do sistema, mas
são comuns em dispositivos móveis. Teoricamente, um bootloader travado impede a instalação de um sistema
operacional diferente do original, mas, na prática, apenas atrasa essa etapa, visto que desenvolvedores independentes de
Android e de outros sistemas vêm, ao longo dos anos, descobrindo métodos diversos para driblar essa verificação nos
mais diferentes aparelhos. Um excelente exemplo é o HTC HD2, smartphone lançado em 2009, que originalmente rodava
Windows Mobile. Por ter componentes de hardware extremamente genéricos, com drivers de fácil portabilidade, o HD2
ganhou não apenas versões customizadas do Windows Mobile, mas também ports funcionais de Windows Phone 7,
Android, Ubuntu (e outras distros de Linux), MeeGo e, recentemente, uma versão pouquíssimo funcional do Windows
Phone 8. Tais alterações só foram possíveis porque o HD2 possui um bootloader destravável, permitindo os testes com
kernels de diferentes tipos.
Casos não tão bem sucedidos são os de aparelhos com o bootloader travado. Muitos fabricantes utilizam o
argumento de que a segurança do usuário está sendo priorizada. Esse argumento não é necessariamente verdade: em
maio de 2011 foi descoberta uma falha de segurança que afeta todas as versões do Android anteriores à 2.3.4
Gingerbread. Como dezenas de modelos não receberam atualização para essa versão, à época 99% dos usuários de
Android estavam com dados de login e senha de diversos serviços expostos. Muitos aparelhos, em especial os mais
antigos, continuam com essa falha em aberto até hoje. Ou continuariam, não fosse o trabalho da comunidade
independente. O HTC Dream, primeiro aparelho lançado com Android, teve seu suporte oficial descontinuado na versão
1.6 Donut. Através da comunidade de desenvolvedores, porém, chegou à versão 2.3.7 completamente funcional, e à 4.0.4
com algumas limitações.
Além do bootloader travado, muitas fabricantes incluíram em seus aparelhos um dispositivo chamado de
eFuse: embutido na placa-mãe está uma série de fusíveis que, uma vez que determinada versão do sistema é instalada,
um desses fusíveis é propositalmente queimado. Usando isso como verificação, versões do sistema anteriores àquela que
queimou o fusível não permitem mais que o aparelho acesse o sistema, sendo necessário voltar à versão mais recente
para que se possa usá-lo novamente. Essa tática é usada para encerrar a garantia de aparelhos que sofrem atualizações
não oficiais, embora tenha uma série de outros efeitos, como impedir que um usuário repense a atualização, mesmo que
tenha sido feita para uma versão oficial, ao descobrir que a versão mais recente tem pioras consideráveis (o que é muito
Tais fatos mostram que, embora seja um sistema aberto, o Android ainda tem um caminho muito longo em
relação às questões éticas e autorais. Fabricantes e operadoras ditam quais atualizações serão disponibilizadas para
quais dispositivos e quando, e a comunidade independente de desenvolvedores sofre para oferecer um suporte
inexistente pelos meios oficiais a aparelhos mais antigos. Enquanto isso, as empresas lucram não apenas com as vendas
de aparelhos e contratação de planos de telefonia, mas também pelo conteúdo usado pelo usuário: o chamado Traffic
Aquisition Cost (TAC) rende, às empresas envolvidas, uma receita considerável: se um usuário do Android paga por
determinado conteúdo da Play Store, recebe anúncios de aplicativos gratuitos, ou vê publicidade online pelo dispositivo, a
fabricante e a operadora daquele usuário dividem entre 15 (para aplicativos pagos) e 50% (para anúncios in-app e
publicidade online) do valor pago/gerado (no caso de publicidade) pelo usuário nessas interações.
Isso mostra claramente que as fabricantes poderiam abrir mão do lucro instantâneo gerado por novos
aparelhos para oferecer um suporte continuado aos usuários, dando uma sobrevida maior aos aparelhos e mais
satisfação aos consumidores. O lucro estimado por aparelho por ano é de US$10,00 para as fabricantes, seguindo o
esquema do TAC. Considerando-se o valor repassado às operadoras por venda, o preço das diversas licenças de
patentes, o custo de produção e transporte, entre outros fatores, esse valor ainda é baixo em relação ao lucro que a
venda de um aparelho gera (aproximadamente US$40 por aparelho, considerando-se apenas smartphones
Samsung), mas pode ser aumentado estimulando-se o uso do aparelho, com atualizações do Android e melhor suporte
para os usuários, especialmente levando-se em consideração o risco do usuário trocar de plataforma, ou simplesmente de
marca, ao comprar um aparelho novo. Considerando que um comprador médio passa 2 anos com o aparelho celular
(segundo pesquisa realizada pela Samsung, o comprador médio do seu atual topo-de-linha, o Galaxy S3, utiliza o
aparelho por 18 meses antes de procurar um aparelho novo – para faixas de preço menores, esse período aumenta), o
lucro cai para US$20 ao ano, por aparelho. Ainda é o dobro do gerado pelo conteúdo visualizado no próprio
aparelho, mas os fatos mostram claramente que mais comprometimento com a experiência prolongada de uso, aliado ao
risco de afastamento do cliente para trocas mais constantes de aparelho, proporcionariam uma melhora na imagem da
marca, e um aumento no lucro por conteúdo a longo prazo.
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• http://en.wikipedia.org/wiki/Android_version_history
• http://en.wikipedia.org/wiki/Android_(operating_system)
• http://forum.xda-developers.com/showthread.php?t=518851
• http://en.wikipedia.org/wiki/CyanogenMod
• http://projectgus.com/2010/07/eken-m001-phone-home/
• https://forums.motorola.com/posts/c3c7c6ad8b
• http://tecnoblog.net/75874/motorola-dext-consumidor-justica/
• http://www.asymco.com/2012/05/14/the-android-income-statement/
• http://www.guardian.co.uk/technology/2012/mar/29/google-earns-more-iphone-android
• http://www.techtudo.com.br/noticias/noticia/2012/05/samsung-explica-por-que-adotou-tela-pentile-no-
galaxy-s-iii.html
• http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/falha-de-seguranca-pode-afetar-99-dos-usuarios-android
• http://www.bbc.co.uk/news/business-21191431
• http://hexus.net/mobile/news/general/50437-nokia-samsung-enjoy-profits-q4-2012-mobile-sales/
• http://www.datamation.com/news/strong-smartphone-sales-propel-samsung-to-record-profits.html

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História dos smartphones, sistemas operacionais móveis e comunidades de desenvolvimento independente

  • 1. Smartphones: história, questões éticas, propriedade intelectual e comunidades de desenvolvimento independente Gabriel de Oliva Bemfica
  • 2. Uma breve história dos smartphones
  • 3. O primeiro “smartphone” que se tem notícia é o IBM Simon, cujo protótipo foi revelado em 1992, com a versão de produção surgindo em 1994. O termo “smartphone”, todavia, só surgiria anos mais tarde, em 1997, quando a Ericsson usou a expressão para descrever um de seus telefones-conceito. O IBM Simon possuía funções básicas, como envio e recebimento de fax e e- mail, além de chamadas telefônicas, e já usava uma interface baseada em uma tela sensível ao toque. Todavia, à época isso já era o suficiente para considerá-lo algo acima dos telefones celulares tradicionais. Mas ainda havia um passo importante a ser tomado na linha dos smartphones: a adoção de sistemas operacionais. Apesar de não ter equipado smartphones reais (isto é, com capacidades de telefone e de “Assistente Pessoal Digital”) até anos mais tarde (mais precisamente, até 1999), o primeiro sistema operacional móvel com as características que o definem como tal foi o Palm OS, lançado pela Palm, Inc. em 1996, equipando o Palm Pilot 1000. IBM Simon
  • 4. O que é um smartphone?
  • 5. A principal característica que define um sistema operacional móvel é a capacidade de se instalar aplicativos além dos originalmente presentes no sistema, aplicativos esses criados com o uso de uma API (application programming interface, ou interface de programação de aplicativos) específica para o sistema. Essa característica é importante para, por exemplo, diferenciar smartphones dos chamados feature phones, aparelhos com características similares aos smartphones, mas com limitações específicas.Outra diferença é no hardware: considerando-se dispositivos contemporâneos, smartphones tendem a possuir especificações muito mais robustas que feature phones, em termos de processador, memória RAM, armazenamento interno, tela, câmera, conectividade, entre outros. Todavia, não é difícil encontrar feature phones atuais que possuam especificações bem superiores a smartphones de outrora. Um smartphone Pantech e um feature phone Samsung
  • 6. Os sistemas operacionais móveis e os smartphones atuais
  • 7. O uso de sistemas operacionais móveis em smartphones vem sendo largamente discutido e aplicado desde, praticamente, a existência dos smartphones em si. Antigamente, tanto os sistemas como os aparelhos possuíam discrepâncias tremendas, como o form factor e as funcionalidades dos sistemas em si. Aparelhos da linha Nokia Communicator, como o 9000, lançado em 1996, usavam um formato conhecido como clamshell: fechado, o aparelho lembrava um celular normal, com visor reduzido e teclas numéricas; aberto, o flip revelava uma tela de proporção 16:5, um teclado QWERTY completo e teclas auxiliares, transformando-o em um PDA completo. Rodava o sistema GeOS. A Nokia continuou praticamente sozinha na luta, enquanto empresas como a Research In Motion (recentemente rebatizada como BlackBerry Limited) e a Palm ainda estavam por desenvolver seus telefones inteligentes. A primeira vinha desenvolvendo aparelhos de pager, como o RIM 850, e a segunda continuava criando os PDAs que rodavam seu sistema, o Palm OS. À época, era comum que as pessoas utilizassem um aparelho celular para suas necessidades de telefonia móvel, e um outro aparelho, como um pager BlackBerry ou um PDA Palm, para funções de internet e multimídia. Finalmente, em junho de 1999, a Qualcomm lança o primeiro smartphone baseado no Palm OS, o PDQ 800. Nesse meio tempo, outras empresas de telefonia já se preparavam para a mais nova tendência do mercado: aparelhos com múltiplas funcionalidades, especialmente ligadas à internet e produtividade corporativa. A Ericsson lançou, em 2000, o R380, primeiro aparelho rodando o sistema Symbian, que viria a ser a menina dos olhos da Nokia anos mais tarde. Apenas em 2002 a RIM lança o primeiro BlackBerry com capacidade de telefone móvel, o 5810. Também em 2002, a Nokia revela o 7650, considerado vanguardista por ser o primeiro aparelho de produção em massa a contar com uma câmera, e também o primeiro Nokia a rodar o sistema Symbian. Fechando o ano, a HTC, através de sua subsidiária O2, anuncia o XDA, primeiro smartphone rodando um sistema Microsoft (à época, Windows CE 3.0). A Palm foi lançar seu próprio smartphone apenas em 2003, após comprar a Handspring, empresa fundada por ex-funcionários da própria Palm, que estava desenvolvendo o aparelho.Qualcomm PDQ 800
  • 8. Ainda em 2003, uma empresa chamada Android, Inc. era criada na Califórnia, contendo, entre seus fundadores, Andy Rubin, um dos criadores do então extremamente popular T- Mobile Sidekick e o vice-presidente também da T-Mobile, Nick Sears. Pouco se sabia (e menos ainda se era revelado) sobre a empresa, apenas que estaria trabalhando em software para dispositivos móveis, desenvolvendo, segundo Rubin, “dispositivos móveis mais inteligentes, mais cientes da localização e preferências de seu proprietário”. Em 2005, a Google compra a Android, Inc., e Rubin é nomeado vice-presidente sênior de conteúdo móvel e digital. Começam, então, a surgir rumores: a Google estaria insatisfeita com sua presença na internet móvel, e buscava uma maneira de contornar isso. À época, o mercado era disputado, principalmente, pelos sistemas BlackBerry OS e Windows Mobile, além do onipresente Symbian, esse último dando vida a mais de metade dos smartphones da época. Haviam também diversas variantes do Linux (mais notavelmente o Maemo, desenvolvido pela Nokia) com relativo market share até 2009. Além dos rumores sobre a Google, em 2007 um player improvável entrou no ramo dos celulares inteligentes: com seu iPhone, a Apple massificou o mercado de smartphones. De repente, todos queriam um. Era novo, era bonito, era moda. Muitas fabricantes chineses, como a CECT, logo se apressaram em produzir cópias do novo produto. Haviam, inclusive, argumentos de venda dessas cópias sobre o iPhone original: à época, aplicações em java eram extremamente populares (mesmo que já houvesse ecossistemas bem definidos para Palm, Symbian e BlackBerry, todas as plataformas possuíam maneiras de rodar aplicações java dentro de seus sistemas), mas o iPhone não dava suporte às mesmas. Alguns outros pontos a favor dos chineses eram o fato de virem desbloqueados de fábrica (o desbloqueio de iPhones só surgiu muito tempo mais tarde), possuir bateria removível, 2 slots para SIM cards e suporte a cartão de memória. Não se entendia muito bem a diferença de performance entre os aparelhos, e questões como tela resistiva versus tela capacitiva (ou mesmo a necessidade de uma tela sensível ao toque) ainda não estavam em discussão. Já existiam, obviamente, aparelhos full touch: vários dispositivos com Windows Mobile e alguns com Maemo empregando telas resistivas, e, mais notavelmente, o LG Prada, que, assim como o iPhone, empregava uma tela capacitiva, sendo anunciado menos de um mês antes do aparelho da Apple. Ainda assim o iPhone se tornou um sucesso estrondoso de vendas: no terceiro trimestre de 2007, cerca de 30% das vendas de smartphones nos EUA já eram da Apple. Em um mercado onde tradicionalmente a penetração do Symbian nunca foi forte, RIM e Microsoft viram suas vendas caírem vertiginosamente. O iPhone original
  • 9. Ainda em 2007, em novembro, um consórcio chamado de Open Handset Alliance (aliança para telefones abertos) foi anunciado, com vários players importantes do mercado de telefonia móvel, como as fabricantes HTC e Samsung, as operadoras Sprint Nextel e T-Mobile, e as fabricantes de componentes, como Qualcomm (cuja divisão de celulares foi vendida à Kyocera pouco depois de lançar o PDQ 800) e Texas Instruments, além do Google, entre seus fundadores. O objetivo do consórcio foi descrito como “desenvolver padrões abertos para tecnologias móveis”. Juntamente com a OHA, foi anunciado o Android, sistema operacional para celulares baseado no kernel Linux. Em 22 de outubro de 2008, o primeiro aparelho com Android, o HTC Dream (nos EUA, T-Mobile G1) foi lançado. O sistema estava na sua versão 1.0. Suas principais funções eram a integração com os serviços Google, loja de aplicativos, sistema de notificações integrado e a interface baseada no toque.
  • 10. O Android como motivador de inovação
  • 11. A versão de lançamento do Android era bem diferente dos dispositivos de demonstração e do SDK mostrados no anúncio da OHA. Algumas funções, como o navegador e o aplicativo de mapas, haviam apenas ganho melhorias em relação a suas versões de desenvolvimento, mas a interface em geral lembrava muito mais os sistemas já existentes no mercado que algo completamente novo. O primeiro aparelho, HTC Dream (e seu irmão, HTC Magic, lançado em agosto de 2009), todavia, possuía algumas características interessantes: a RIM e a Nokia ainda detinham poder no mercado corporativo, e o Windows Mobile gozava de certa popularidade entre os entusiastas de tecnologia, mas apenas o Android e o iOS possuíam uma interface pensada para o uso full touch, praticamente sem botões físicos. Aqueles que não podiam ou queriam ficar presos ao ecossistema da Apple podiam, finalmente, recorrer a uma alternativa. O Android, assim como o Windows Mobile e o Symbian, foi pensado desde o início para abranger hardwares diversos, com as grandes vantagens de não exigir licença (diferentemente do que fazia a Microsoft) e já possuir, entre seus trendsetters, diversas fabricantes (ao contrário do Symbian, que estava muito limitado nesse aspecto). Logo, aparelhos de diversas marcas surgiram estampando o Android: Samsung (com o Galaxy), Huawei (com o T-Mobile Pulse), LG (com o GW620), Motorola (com a dupla DEXT/Cliq e Quench, e depois com o Droid/Milestone), SonyEricsson (com o XPeria X10) e Dell (com o Mini 3). É importante ressaltar que diversas dessas fabricantes, até então, focavam seus esforços de smartphones no Windows Mobile, mas viram o Android como uma plataforma com mais fôlego para o que viria a ser chamado de “a guerra dos smartphones”. A essa altura, a Palm estava em vias de ser comprada pela HP, que chegou a lançar alguns dispositivos rodando Windows Mobile (tanto com a marca Palm quanto com a marca HP, anteriormente à transação), mas preferiu focar seus esforços no desenvolvimento do WebOS, que a Palm já distribuía anteriormente à compra pela HP.
  • 12. O diferencial do Android estava na capacidade de customização: desde que o dispositivo retivesse determinadas funcionalidades, e passasse no teste de compatibilidade com a plataforma, as fabricantes eram livres para alterar a interface do sistema. Algumas fabricantes, como a Samsung com seu TouchWiz e a HTC com o Sense, portaram suas interfaces de usuário do Windows Mobile, com maior ou menor grau de sucesso, para o Android. Outras, como a SonyEricsson (TimeScape) e a Motorola (MotoBLUR), desenvolveram interfaces completamente novas. Isso pavimentou a via para as maiores inovações no Android desde então, sendo que atualmente as maiores diferenças entre determinados dispositivos da mesma categoria, em marcas diferentes, se dá exatamente por funcionalidades dessas interfaces customizadas. Todavia, essas alterações se dão, por vezes, em níveis muito profundos do sistema, e são muito comuns os casos em que desenvolvedores independentes (ou mesmo operadoras de celular, que possuem exigências específicas para aprovar determinados aparelhos em suas lojas) conseguiram ganhos consideráveis de performance simplesmente por retirar essas interfaces do sistema de seus aparelhos. Primeira demonstração do Android Interface Sense, da HTC
  • 14. Para entender a guerra das patentes, é necessário primeiro entender o conceito de patent troll. O termo, cunhado no começo da década de 90 e popularizado no início dos anos 2000, se refere a pessoas ou empresas que vivem da compra, venda e licenciamento de patentes, devido a brechas em diversas leis de direitos autorais e propriedade intelectual, no mundo inteiro. Embora, no geral, patent trolls não fabriquem produtos, é comum usar o termo para referir-se a empresas que sejam realmente indústrias, mas que usem brechas na lei para processar outras empresas em ramos de atuação que em nada se relacionam aos seus próprios. Esses casos geralmente se referem ao registro de marcas mais do que a ideias de produtos ou produtos reais. Outro ponto importante também é verificar o quanto o sistema de patentes, especialmente nos EUA, é confuso e vago, permitindo patentes extremamente genéricas. Um excelente exemplo recente dessa falha é o registro, concedido à Apple no final de 2012, do formato de “retângulo com bordas arredondadas” para aparelhos eletrônicos. Tal regime de registros permitiu a diversas empresas, ao longo dos últimos anos, registrar patentes que não constituem exatamente uma ideia original, e que não são usadas para proteger a propriedade intelectual dessas empresas, mas sim para inibir a livre concorrência.
  • 15. A guerra de patentes começou, aparentemente, de forma autêntica: a Nokia, no final de 2009, abriu processo contra a Apple por utilizar diversas de suas propriedades intelectuais relativas a conexões sem fio. Segundo a Nokia, cerca de 40 empresas já possuíam acordos com a fabricante para uso dessas patentes, mas a Apple usava essas tecnologias sem licenciamento. O valor pedido pela fabricante finlandesa girava em torno de 1 a 2% do valor final de cada iPhone vendido. Essas patentes da Nokia fazem parte de um conjunto de mais de 150 patentes consideradas essenciais para o funcionamento de qualquer aparelho com tecnologia GSM, e o caso foi considerado “sólido” por analistas da época. Visto que o processo foi aberto em uma corte nos EUA, mercado onde a Nokia possuía pouquíssima penetração, ficou claro que a intenção não era a de comprometer as vendas de produtos da Apple em favor dos da Nokia. A briga continuou: a Apple contra- atacou, com um processo onde afirmava que a Nokia infringia 13 de suas patentes, seguido de um outro processo da Nokia incluindo mais 7 patentes e, finalmente, outro processo da Apple alegando que mais 9 de suas propriedades intelectuais estavam sendo usadas sem autorização. A próxima vítima foi a HTC: a Apple alegou que mais 20 de suas patentes estavam sendo usadas pela fabricante taiwanesa, que respondeu com 2 processos, totalizando 8 patentes. A mesma HTC entrou em um acordo com a Microsoft, que rende à desenvolvedora do Windows cerca de US$5,00 por aparelho HTC com Android vendido. O próximo grande episódio da guerra de patentes se iniciou em agosto de 2010, com a Oracle, que há poucos meses adquirira a Sun Microsystems, desenvolvedora do Java, abriu processo contra a Google por usar código proprietário do Java no sistema Android. A Google havia, de fato, negociado com a Sun (e depois com a Oracle) em relação a um valor para licenciar as APIs às quais o processo se referia, mas sem sucesso. O processo possuía uma falha grande, o fato da influência minúscula das APIs em relação ao sistema (e a proporção do código proprietário usado em relação ao tamanho do código-fonte do Android), e sofreu um grande golpe quando a Google noticiou que o código proprietário havia sido retirado do Android, enfraquecendo ainda mais os argumentos da Oracle. O processo terminou em acordo, em maio de 2012, e a Google não precisou pagar indenização alguma ou valor de licença pelo código usado.
  • 16. Mas o maior acontecimento ainda estava por vir: a Samsung, durante a explosão do uso do Android, criou uma estratégia de lançamento: seus produtos cobriam, virtualmente, qualquer nicho de mercado de smartphones e tablets. Com produtos de boa qualidade voltados para praticamente todos os públicos, logo se tornou a maior fabricante de dispositivos Android. Steve Jobs, CEO da Apple, estava determinado a destruir o sistema da OHA, que chamava de “um produto roubado”. O caminho mais óbvio para a empresa, a partir de então, era atacar a maior fabricante de hardware com o sistema. Isso levou a diversos processos da Apple contra a Samsung e vice-versa. Os entusiastas de ambas as empresas logo notaram uma rivalidade histórica se formando, e a mídia especializada em tecnologia, até hoje, compara imediatamente o lançamento de uma das marcas com o produto equivalente da outra. Ficou claro, então, que a intenção dos processos não era mais proteger a propriedade intelectual: qualquer ícone levemente parecido era motivo para abrir uma ação legal, qualquer possibilidade de diálogo extra-judicial estava descartada. A guerra das patentes chegou no seu ápice: Apple e Samsung processavam-se mutuamente e, como medida inicial, já requeriam o impedimento das vendas de produtos da empresa concorrente. Não tinha mais relação com remunerar os inventores, as patentes, agora, eram argumentos (e armas) mercadológicos. Os diversos processos surtiram algum efeito, para ambos os lados. No Reino Unido, a Apple perdeu o processo e foi condenada a avisar, na sua página inicial, que a Samsung não infringia suas patentes. Na Coreia do Sul (país de origem da Samsung) e no Japão, a Apple também não obteve êxito nos processos, e os produtos da fabricante coreana continuaram sendo vendidos quase sem alterações. Na Alemanha, a Samsung foi impedida de vender um modelo de tablet de 10 polegadas, mas alterações mínimas no design foram aprovadas pela corte que julgou o caso, e o aparelho voltou a ser vendido no país. Na Holanda, uma decisão similar fez com que o aplicativo de visualização de imagens da Samsung fosse modificado apenas naquele país, e uma proibição válida em toda a União Europeia impediu a Samsung de vender o Galaxy Tab de 7,7 polegadas. Nos EUA, país de origem da Apple, a Samsung foi condenada a pagar mais de US$1 bilhão à Apple, em uma série de processos e julgamentos considerados extremamente controversos, com patentes extremamente genéricas, relacionadas a simples ícones da interface e outros pormenores técnicos. Nenhum aparelho, porém, teve sua venda ou distribuição proibida nos EUA, apesar de diversas tentativas da Apple de barrar os produtos da Samsung.
  • 17. Diferença entre o Galaxy Tab vendido na Alemanha (esquerda) e o vendido no resto do mundo (direita)
  • 18. A guerra das patentes e suas extensões em todo o mundo mostram claramente que a propriedade intelectual não é mais apenas uma forma de garantir que o criador de determinada solução detenha os direitos por seu invento. Casos como a clássica rixa Apple versus Samsung mostram como as empresas, no desespero de perder mercado para a concorrência, e renegando uma cultura de inovação tecnológica, apelam para medidas que podem ser consideradas covardes para manter ou ampliar seu market share. Chega-se ao absurdo, cometido pela Apple, de patentear o formato de um retângulo com bordas arredondadas, transformando virtualmente todos os tablets fabricados nos últimos 4 anos em cópias do iPad. É importante ressaltar que tão grande número de requisições de patentes e ações judiciais acarretam em um custo elevado, que é repassado ao cliente. Ou seja: comprando-se produtos de uma empresa que tem a cultura de abrir processos desnecessários por patentes ridículas, não só se arca parcialmente com o custo dessas patentes e processos, como também se estimula essa prática no mercado, que só leva à concorrência desleal e falta de inovação tecnológica. Do outro lado, os patent trolls são excelentes exemplos de como uma ética dúbia pode levar a lucros formidáveis. Empresas como a NTP, que obteve mais de US$600 milhões de indenização da Research In Motion, e ameaçam processar toda a indústria de dispositivos móveis baseados em uma patente extremamente genérica (envio e recebimento de e-mails por redes sem fio), mostram claramente que empresas que alegam ter sido “prejudicadas” pela disseminação de determinadas tecnologias, sem nunca ter feito uso de suas propriedades intelectuais, nada têm a colaborar com o desenvolvimento tecnológico. Pelo contrário, os patent trolls são claros inimigos do avanço da tecnologia, encarecendo produtos que deveriam ser abrangentes, atrapalhando claramente a inclusão digital e a disseminação do conhecimento. Tal atitude não pode ser chamada de ética, visto que os reais inventores das tecnologias nada ganham com isso, e que nenhum avanço social real é conquistado de tais litigâncias judiciais. Porém, os conflitos entre empresas diversas, mesmo os que incluem os patent trolls, são de grau menor comparado ao que será visto a seguir. Empresas possuem verba para arcar com tais processos, mas a situação muda quando os afetados são indivíduos simples, desenvolvedores independentes ou mesmo consumidores finais.
  • 19. A política autoral do Android e os desenvolvedores independentes
  • 20. O ano é 2008. Pouco após o lançamento do HTC Dream, usuários descobriram que, considerando que o Android nada mais era que uma distribuição altamente modificada do Linux, seria possível ganhar privilégios de super-usuário e modificar arquivos do sistema. Alguns desenvolvedores, oriundos do Windows Mobile, passaram a se esforçar para modificar o firmware original do aparelho, incluindo otimizações de performance e outras modificações. Um desses desenvolvedores era Steve Kondik, mais conhecido pelo apelido de Cyanogen. Em agosto de 2009, Steve desenvolveu uma modificação do firmware baseada nas suas necessidades, como maior personalização e performance. O firmware desenvolvido por Kondik tinha uma única exigência: todo o sistema deveria estar disponível com o código fonte aberto, assim como todos os aplicativos integrados. O chamado CyanogenMod logo se tornou extremamente popular, e outros desenvolvedores se juntaram a Steve para portar o projeto para outros modelos. Em pouco tempo, diversos aparelhos eram suportados pela plataforma, que se tornou a principal distro de Android criada pela comunidade. Tela inicial do CyanogenMod 7
  • 21. No final de setembro de 2009, porém, Cyanogen recebe um aviso de cease and desist da Google, por usar seus aplicativos proprietários no sistema. Tais aplicativos eram integrados ao sistema Android, mas não faziam parte dele, sendo seu código-fonte e licença de distribuição propriedades da Google, Inc. O desenvolvimento do CyanogenMod parou por alguns dias, e o motivo causou a ira dos desenvolvedores independentes e de toda a comunidade de usuários da distro. A principal reclamação da comunidade era de que o Android era anunciado como um sistema livre, aberto, e ações com o teor da usada pela Google iam completamente contra o que se propagandeava sobre o sistema. A Google retificou a atitude anterior, e reuniu-se com Steve Kondik para negociar os termos de uso. Ficou-se acertado que o desenvolvimento do CyanogenMod por cima do Android poderia continuar, mas que os aplicativos de propriedade da Google deveriam ser disponibilizados como um pacote separado, e não integrados ao sistema. Esses termos, segundo a Google, não estariam infringindo o copyright como se fazia anteriormente, e possibilitariam o desenvolvimento continuado da distro. Cyanogen, todavia, avisa à comunidade que os problemas com a Google poderiam não ser os únicos: drivers proprietários eram usados em diversos dispositivos com Android e, caso os detentores dos direitos desses drivers exigissem sua exclusão, o desenvolvimento para todos os dispositivos que usassem aquele driver não poderia continuar. Não houve, porém, nenhum caso registrado de fabricantes exigindo tais mudanças. Atualmente, o CyanogenMod está em sua 11ª versão, 10.1, correspondente ao Android 4.2 Jelly Bean, com versões (da mais recente ou, em alguns casos, mais antigas) para cerca de 200 versões de quase 100 dispositivos, entre smartphones, tablets e outros aparelhos com Android embarcado e conta com aproximadamente 3 milhões de usuários.
  • 22. Política autoral e direito de cópia dentro do ecossistema Android
  • 23. A Google Play Store tem uma diferença primordial frente à sua maior rival, a Apple App Store: na loja da Google, o conteúdo não passa por uma verificação inicial exceto a automatizada, o que permite que qualquer conteúdo seja incluído a qualquer hora. Embora o sistema de verificação utilizado pela Apple receba diversas críticas por suas normas confusas e extremamente rígidas, ele permite verificar, entre outras questões, conteúdos impróprios e violação de propriedade intelectual. Na Play Store isso não acontece: há maior liberdade para os desenvolvedores, mas não são raros os casos de conteúdo malicioso passar pela verificação automática, fazendo com que muitos usuários acabem caindo em fraudes ou contraindo malwares nos seus dispositivos. A verificação, porém, é eficaz em ambos os casos contra conteúdo protegido por direitos autorais, o que leva à pergunta: não estaria a segurança do usuário sendo posta em segundo plano frente à propriedade intelectual de empresas? Google Play Store
  • 24. Muitas fabricantes de aparelhos incluem uma trava no chamado bootloader: bootloader é um dos primeiros programas carregados na inicialização do dispositivo, é ele responsável por iniciar o sistema operacional. Bootloaders travados, em computadores, são considerados péssimos hábitos da fabricante e/ou do desenvolvedor do sistema, mas são comuns em dispositivos móveis. Teoricamente, um bootloader travado impede a instalação de um sistema operacional diferente do original, mas, na prática, apenas atrasa essa etapa, visto que desenvolvedores independentes de Android e de outros sistemas vêm, ao longo dos anos, descobrindo métodos diversos para driblar essa verificação nos mais diferentes aparelhos. Um excelente exemplo é o HTC HD2, smartphone lançado em 2009, que originalmente rodava Windows Mobile. Por ter componentes de hardware extremamente genéricos, com drivers de fácil portabilidade, o HD2 ganhou não apenas versões customizadas do Windows Mobile, mas também ports funcionais de Windows Phone 7, Android, Ubuntu (e outras distros de Linux), MeeGo e, recentemente, uma versão pouquíssimo funcional do Windows Phone 8. Tais alterações só foram possíveis porque o HD2 possui um bootloader destravável, permitindo os testes com kernels de diferentes tipos. Casos não tão bem sucedidos são os de aparelhos com o bootloader travado. Muitos fabricantes utilizam o argumento de que a segurança do usuário está sendo priorizada. Esse argumento não é necessariamente verdade: em maio de 2011 foi descoberta uma falha de segurança que afeta todas as versões do Android anteriores à 2.3.4 Gingerbread. Como dezenas de modelos não receberam atualização para essa versão, à época 99% dos usuários de Android estavam com dados de login e senha de diversos serviços expostos. Muitos aparelhos, em especial os mais antigos, continuam com essa falha em aberto até hoje. Ou continuariam, não fosse o trabalho da comunidade independente. O HTC Dream, primeiro aparelho lançado com Android, teve seu suporte oficial descontinuado na versão 1.6 Donut. Através da comunidade de desenvolvedores, porém, chegou à versão 2.3.7 completamente funcional, e à 4.0.4 com algumas limitações. Além do bootloader travado, muitas fabricantes incluíram em seus aparelhos um dispositivo chamado de eFuse: embutido na placa-mãe está uma série de fusíveis que, uma vez que determinada versão do sistema é instalada, um desses fusíveis é propositalmente queimado. Usando isso como verificação, versões do sistema anteriores àquela que queimou o fusível não permitem mais que o aparelho acesse o sistema, sendo necessário voltar à versão mais recente para que se possa usá-lo novamente. Essa tática é usada para encerrar a garantia de aparelhos que sofrem atualizações não oficiais, embora tenha uma série de outros efeitos, como impedir que um usuário repense a atualização, mesmo que tenha sido feita para uma versão oficial, ao descobrir que a versão mais recente tem pioras consideráveis (o que é muito
  • 25. Tais fatos mostram que, embora seja um sistema aberto, o Android ainda tem um caminho muito longo em relação às questões éticas e autorais. Fabricantes e operadoras ditam quais atualizações serão disponibilizadas para quais dispositivos e quando, e a comunidade independente de desenvolvedores sofre para oferecer um suporte inexistente pelos meios oficiais a aparelhos mais antigos. Enquanto isso, as empresas lucram não apenas com as vendas de aparelhos e contratação de planos de telefonia, mas também pelo conteúdo usado pelo usuário: o chamado Traffic Aquisition Cost (TAC) rende, às empresas envolvidas, uma receita considerável: se um usuário do Android paga por determinado conteúdo da Play Store, recebe anúncios de aplicativos gratuitos, ou vê publicidade online pelo dispositivo, a fabricante e a operadora daquele usuário dividem entre 15 (para aplicativos pagos) e 50% (para anúncios in-app e publicidade online) do valor pago/gerado (no caso de publicidade) pelo usuário nessas interações. Isso mostra claramente que as fabricantes poderiam abrir mão do lucro instantâneo gerado por novos aparelhos para oferecer um suporte continuado aos usuários, dando uma sobrevida maior aos aparelhos e mais satisfação aos consumidores. O lucro estimado por aparelho por ano é de US$10,00 para as fabricantes, seguindo o esquema do TAC. Considerando-se o valor repassado às operadoras por venda, o preço das diversas licenças de patentes, o custo de produção e transporte, entre outros fatores, esse valor ainda é baixo em relação ao lucro que a venda de um aparelho gera (aproximadamente US$40 por aparelho, considerando-se apenas smartphones Samsung), mas pode ser aumentado estimulando-se o uso do aparelho, com atualizações do Android e melhor suporte para os usuários, especialmente levando-se em consideração o risco do usuário trocar de plataforma, ou simplesmente de marca, ao comprar um aparelho novo. Considerando que um comprador médio passa 2 anos com o aparelho celular (segundo pesquisa realizada pela Samsung, o comprador médio do seu atual topo-de-linha, o Galaxy S3, utiliza o aparelho por 18 meses antes de procurar um aparelho novo – para faixas de preço menores, esse período aumenta), o lucro cai para US$20 ao ano, por aparelho. Ainda é o dobro do gerado pelo conteúdo visualizado no próprio aparelho, mas os fatos mostram claramente que mais comprometimento com a experiência prolongada de uso, aliado ao risco de afastamento do cliente para trocas mais constantes de aparelho, proporcionariam uma melhora na imagem da marca, e um aumento no lucro por conteúdo a longo prazo.
  • 27. • http://www.unwiredview.com/2011/07/13/the-real-cost-of-android-potentially-60-per-device-in-patent-fees/ • http://www.wpcentral.com/analyst-microsoft-collects-444-million-patent-fees-android • http://arstechnica.com/information-technology/2011/10/microsoft-collects-license-fees-on-50-of-android- devices-tells-google-to-wake-up/ • http://blogs.technet.com/b/microsoft_on_the_issues/archive/2011/10/23/microsoft-s-new-patent-agreement- with-compal-a-new-milestone-for-our-android-licensing-program.aspx • http://source.android.com/faqs.html • http://androidforums.com/android-applications/203776-list-googles-apps-android.html • http://drippler.com/htc/evo_3d#!259672 • http://www.asymco.com/2012/05/13/android-economics-an-introduction/ • http://articles.cnn.com/1999-12-03/tech/qualcomm.pdq_1_cell-phone-palm-vii-palmnet?_s=PM:TECH • http://www.pcworld.com/article/199243/a_brief_history_of_smartphones.html • http://tecnoblog.net/78004/empresa-nexus-telecom-google/
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