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Ano 18 | Nº 01 | R$ 13,90
AS MULHERES DA
GUERRA INSPIRAM A
FORÇA FEMININA ATÉ
OS DIAS ATUAIS
A MODA DAS NOIVAS SE
ADEQUA A TODOS OS CORPOS
MESMO PROVANDO SUA
COMPETÊNCIA O FUTEBOL FEMININO
AINDA BUSCA O SEU ESPAÇO
2 3
CARTA À LEIToRA
A
desigualdade de gênero é uma falha antiga na sociedade e até hoje
há quem acredite que as mulheres são inferiores aos homens e que
seu papel é cuidar da casa e dos filhos.
A presente edição desta revista traz a leitora à reflexão quanto ao
papel da mulher na sociedade, pois ainda que a mulher tenha ven-
cido em muitos aspectos, como o direito de votar, a igualdade na jornada de
trabalho, a conquista da graduação, o direito de ir e vir desacompanhada, e a
independência financeira, a desigualdade salarial por gênero é um problema
social desde sempre.
Em março de 2018, um estudo salarial de gênero realizado pela Catho mostrou
que, independentemente da área, as mulheres ganham metade dos homens.
Mesmo as áreas de maior predominância feminina, como saúde, o salário cos-
tuma ser mais baixo. A maior discrepância registrada soma 38% entre presi-
dentes, diretores ou gerentes de empresas. Enquanto o piso para mulheres na
presidência das empresas costuma ser de R$ 8.183,24, para os homens é de R$
12.006,26. As mulheres na chefia estão em baixa no mercado de trabalho bra-
sileiro, registrando também 38%, em 2018.
Está na hora de mudar os índices. A luta continua, ela nunca acabou. Os direi-
tos foram conquistados, mas ainda não há a devida igualdade. O sonho das mu-
lheres é viver num mundo onde os termos “sociedade patriarcal” e “machismo”
sejam desconhecidos.
Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e
totalmente livres. Mudem o futuro das próximas gerações, mulheres! Façam do
mundo um lugar melhor para viver, já chega de retrocesso, continuem na luta
pelo reconhecimento porque juntas somos mais fortes. Sejamos a revolução.
SO. RO. RI. DA. DE
Relação de irmandade, união,
afeto ou amizade entre mulhe-
res, assemelhando-se àquela
estabelecidade entre irmãs.
União de mulheres que compar-
tilham os mesmo ideais e pro-
pósitos, normalmente de teor
feminista.
Equipe Editorial
Kelly Lorrana Tayna Vismari
4 5
O FEMININO TAMBÉM CONQUISTA
Foto: Kelly Lorrana
É
um esporte pratica-
do majoritariamente
por homens e, por
conta disso, envolvi-
do em um universo
completamente machista. Mu-
lheres que se arriscam a tentar
a sorte no futebol enfrentam
dificuldades. As equipes femini-
nas lutam para conquistar o seu
espaço no esporte, apesar dos
treinos em condições precárias,
clubes sem patrocínios e a falta
de reconhecimento.
	 As meninas do Água San-
ta, equipe da periferia de Diade-
ma, contam suas dificuldade em
ter que provar a sua capacidade
dia após dia. “Eu como mulher
acho muito complicado e difícil
a gente ter que provar que a gen-
te tem a mesma capacidade, o
mesmo valor e o mesmo direito
que o masculino tem”, explica a
atacante, Hellen Souza.
	 Em um amistoso que
acompanhamos, vimos muitas
meninas na faixa etária entre 15
e 23 anos com o desejo de se-
rem reconhecidas pelo futebol.
“Eu acho que essa falta de visi-
bilidade atrapalha e leva muitas
KELLY LORRANA
ESPORTE
meninas a não terem motivação
nenhuma. Têm meninas talen-
tosas que jogam melhor que
os homens não tem o reconhe-
cimento que deveria ter, que
seria a igualdade de gênero”,
completa Hellen.
	 Outro ponto que desmo-
tiva essas garotas é a falta de di-
vulgação e cobertura nos jogos
femininos. Um exemplo foi na
primeira rodada da Copa Amé-
rica, em abril de 2018, em ple-
no ano de Copa do Mundo. As
brasileiras venceram as argen-
tinas por 3 a 1. Mesmo sendo
um clássico do futebol mundial,
não houve a transmissão nas
grandes emissoras brasileiras.
Falta de reconhecimento
	 O time masculino Água
Santa conquistou a vaga para a
elite do futebol paulista. Nes-
sa época a cidade parou para a
conquista: a prefeitura promo-
veu passeatas e uma grande fes-
ta na cidade. Em 2016, o time
jogou na elite do futebol paulis-
ta.
	 No mesmo ano foi cria-
do o projeto do time feminino.
Em seu primeiro jogo, a equipe
venceu de 10 a 0 o Rio Claro e
já mostrou toda a sua qualida-
de. Em 2017, o time foi campeão
da Libertadores da Várzea após
vencer o Luvence por 1 a 0 nos
dois jogos da final. Esse título
faz com que equipe e treinador
ficassem esperançosos em rela-
ção a investimentos e patrocínio.
“Organizar um time feminino é
muito difícil, tenho que ser par-
ceiro delas o tempo todo para
entender a dificuldade de cada
uma. Precisamos de ajuda, os
clubes têm que valorizar. Co-
mecei a trabalhar nesse proje-
to sem recurso, salário e apoio.
Conseguimos fazer um bom tra-
balho em 2017 e vamos ver o que
o clube fará. Se eles investirem
no nosso feminino, viraremos
uma potência”, diz.
	 Diferente da equipe mas-
culina, as meninas do Água San-
ta não recebem para defender
a camisa do clube, nem ajuda
de custo. “O amor ao futebol é
o que nos motiva a continuar
no clube, nós estamos buscan-
do a nossa colocação, mesmo
com meninas qualificadas não
temos a visibilidade, o mesmo
reconhecimento do masculino,
jogamos com camisas usadas e
cada partida é uma batalha a
ser vencida”, declara Hellen.
ÍNDICE
ESPORTE
5 | O feminino também conquista
Time de futebol feminino de Diadema não tem reconhecimento
CULTURA
6 | Perfil - Haira Moraes
Cantora de barzinho noturno ganha a vida fazendo shows
8 | Mulher na música clássica
Orquestra formada apenas por mulheres cresce
MODA
10 | Moda agênero
Marcas de roupas quebram barreiras de estilos
12 | Todas vestidas de noivas
As dificuldades encontradas por noivas plus size
CIÊNCIAS
14 | Cresce o número de mulheres cientistas
Estudante brasileira do ensino médio ganha concurso da Nasa
POLÍTICA
24 | Mulheres na política pelo mundo
Ruanda, Cuba e Bolívia lideram ranking de cargos políticos femininos
EMPREENDEDORISMO
28 | CEO da Pandora é
mulher e negra
COTIDIANO
30 | Mulheres no trânsito
Motoristas de aplicativos de carro
particular contam sua experiência
3 | Carta à leitora
Rachel Maia veio de família
humilde e enfrentou dificuldades
para entrar no mercado de luxo
18 | WE CAN DO IT
Morre aos 96 anos inspiradora da obra
feminista "We Can Do It", Naomi Parker Fraley
Foto: Bill Wagner/The Daily News
6 7
CULTURA
Entrevista
HAIRA MORAES
Foto: Arquivo Pessoal/Facebook
E
ntrevistamos a cantora
chamada Haira Mora-
es de 25 anos e ela nos
contou um pouco de
suatrajetória,comoen-
frenta as dificuldades de ser uma
cantora na noite paulista, o que
almeja para sua carreira e como as
mulheres conquistaram o seu es-
paço.
Qual sua idade? Há quanto
tempo canta?
25 anos, tenho mais ou menos
uns quatro anos que vivo da mú-
sica.
Como começou a cantar em
bares?
Tudo começou com uma brinca-
deira. Amigos já tinham que vis-
to cantando e tocando em casa
e em vídeos amadores, então
disseram que eu poderia tentar
cantar em barzinhos e ganhar
dinheiro fazendo com o que eu
realmente amava. Foi quando
surgiu uma oportunidade de dar
KELLY LORRANA
uma palinha em um barzinho, e
depois disso eu percebi o quanto
eu queria aquilo pra minha vida,
pois foi uma das sensações mais
prazerosa da minha vida. Então
comecei a investir nisso e não
parei nunca mais!
Como é ser mulher de
barzinho noturno?
É prazeroso por poder trabalhar
com o que eu realmente amo, e
ao mesmo tempo muito difícil,
pois infelizmente ainda existe
muito machismo.
Você acha perigoso manter
sua profissão em um
ambiente machista?
Hoje já não é tão perigoso, por-
que as mulheres já conquista-
ram seu espaço na área artística,
isso acabou resultando em um
respeito maior.
Já sofreu algum tipo de as-
sédio físico?
Sim, em questão de abraços e
o fato de querer tocar e beijar
é muito grande, mas algo sé-
rio que vai, além disso, graças a
Deus nunca aconteceu.
Qual o seu maior sonho?
Desejo ter uma boa qualidade de
vida trabalhando com o que eu
mais amo que é a música, e pro-
porcionar uma vida melhor para
a minha família.
Como é o reconhecimento
feminino na música?
Hoje em dia o reconhecimento
feminino na música é mui-
to grande, principalmente no
sertanejo, porque antigamen-
te a maioria eram cantores
(homens).
Depois dos sucessos das can-
toras Marília Mendonça, Simo-
ne e Simaria, Maiara e Maraisa
etc, as oportunidades em ba-
res melhoraram muito.
Como você imagina a sua
carreira daqui a 10 anos?
Eu imagino ser reconhecida na	
mídia pelo meu talento e ter
uma vida estável.
Sua família te apoia a
seguir carreira de cantora?
Sim, no começo eles não levaram
a sério, mas depois viram que a
coisa ficou séria e que eu realmen-
te era feliz vivendo da música.
Você tem músicas de sua
própria autoria? Como é es-
crever para o sertanejo?
Não, infelizmente eu nunca ten-
tei escrever músicas, eu gosto
particularmente dos instrumen-
tos musicais, tenho mais criati-
vidade tocando neles.
Qual foi sua maior realiza-
ção na música?
Até hoje a minha maior reali-
zação na música foi poder fazer
uma maratona de quatro dias de
carnaval em cidades diferen-
tes em Minas Gerais, tive uma
boa experiência de cantar para
muitas pessoas com uma ban-
da maravilhosa. Sem contar o
trio elétrico e a energia gostosa
que é a galera na época de car-
naval. Foi uma grande con-
quista.
Qual é a sua atitude de
mulher empoderada?
Acredito que encarar a noitada,
e ter o respeito nos bares e fes-
tas pela minha profissão, mesmo
sendo uma mulher, mostrando
que não há diferença entre
homens e mulheres e que po-
demos fazer o que quisermos.
Que conselho você daria
para as meninas que que-
rem cantar na noite assim
como você?
Primeiramente acreditar em
si mesma e no talento que pos-
sui. Em segundo lugar, estudar,
correr atrás, se esforçar, pro-
curar ser melhor todos os dias
e não abaixar a cabeça quan-
do desacreditarem de você!
Quem acredita sempre al-
cança.
8 9
LUGAR DE MULHER É NA
MÚSICA CLÁSSICA
Foto: Arquivo Pessoal/Facebook
KELLY LORRANA
	 As mulheres ficaram mui-
to tempo na sombra, inclusive
na música clássica, porque a ide-
ologia dominante era masculina
e as sociedades, patriarcais. Che-
gou até a circular como verda-
de “científica” que as mulheres
eram carentes do pensamento
abstrato, indispensável à criação
musical.
	 Mesmo assim, houve al-
gumas que romperam esse pen-
samento até o século 20 trazer,
enfim, a “libertação”. No Brasil,
uma musicista que sofreu muito
com esse preconceito foi Fran-
cisca Edwiges Neves, popular-
mente conhecida como Chiqui-
nha Gonzaga. Em pleno século
19, ela foi a primeira mulher a
comandar uma orquestra e a
primeira a tocar piano em lojas
de música. Compôs sua primei-
ra marchinha de carnaval, “Abre
Alas” em 1899.
	 Sempre envolvida na mú-
sica, brigou por seus direitos
autorais em 1917 ela fundou a
SBAT (Sociedade Brasileira de
Autores Teatrais), sendo esta a
entidade pioneira de defesa de
direitos autorais no país. Chi-
quinha sempre quis mostrar sua
força e gostava de evidenciar
até onde uma mulher poderia
ir se fosse empenhada. “Quan-
do estreou como compositora
de teatro musicado, a imprensa
não sabia como me tratar: ma-
estra? Será lícito afeminar esse
termo? Perguntaram. Fui a pri-
meira mulher a reger orquestra
no Brasil, ou melhor, em lín-
gua portuguesa. (...) Foi preciso
muita coragem, e, graças a Deus,
ela nunca me faltou. Trabalhei
muito. Fui eu só a mulher
que escreveu para o teatro,
eu só, sem ter ido estudar
na Europa, sem amparo de
governos, só e com a mi-
nha força de vontade. Fiz
o que tinha que ser feito.
Se serei lembrada, não sei,
o que importa? (...) Hoje e
sempre: liberdade com dig-
nidade através do trabalho,
muito trabalho”, dizia Chi-
quinha.
Atualmente o projeto La-
dies Ensemble continua
rompendo barreiras na mú-
sica clássica e mostra que as
mulheres também podem
fazer parte do mundo da
música erudita.
Ladies Ensemble
	 O projeto Ladies Ensem-
ble nasceu em 2008 e foi ideali-
zado pela diretora Fabíola Bach
Akel. No início era um quarteto
de cordas, mas já em 2009 tor-
nou uma orquestra profissional
formada só por mulheres. O gru-
po participou de várias apresen-
tações nos principais palcos de
Curitiba como no Teatro do Mu-
seu Oscar Niemeyer e ao redor
do Estado.
	 Em 2013, o grupo parti-
cipou do Projeto de cultura ita-
liana Mia cara Curitiba, dando
início a parceria com a Unicul-
tura, e na sequência, veio o pro-
jeto Concerto das Rosas, que já
percorreu diversas cidades do
Brasil. A orquestra tem por ob-
jetivo apoiar e divulgar a mulher
instrumentista e o grupo ressal-
ta que detestam quando alguém
se refere à aparência delas para
falar dos concertos.
	 Violino, viola, acordeão,
contrabaixo, piano, percus-
são, violoncelo, oboé e gaita
são tocados em pé, com direito
a um balanço aqui e outro ali.
O projeto tem feito sucesso e
ano passado o grupo encheu
o prestigiado Guairão em dois
eventos, no Concerto das Ro-
sas e no Carmen. Ainda com
todo esse sucesso ainda existe
alguma resistência do públi-
co em relação à música clás-
sica: “Quando você fala em con-
certo, a pessoa dá até um passo
para trás”, afirma Akel, em en-
trevista a UOL.
	 Mesmo com toda pre-
sença feminina, os compo-
sitores, o maestro e o arran-
jador ainda são homens.
Foto: Arquivo Pessoal/Facebook
10 11
MODA
VOCÊ SABE O QUE É
MODA AGÊNERO?
M
oda agênero é uma
moda sem especi-
ficação de femini-
no ou masculino.
A função do termo
é uma roupa feita para ambos os
sexos.
	 Sabe aquela camisetona
larga que você compra na seção
masculina? Pois, então! Essa é
a chamada moda sem gênero. E
não, ela não surgiu recentemen-
te. Como toda boa tendência, a
moda é cíclica, saindo e entran-
do como febre novamente.
	 Muitas marcas famo-
sas começaram a fazer uso de
roupas unissex, tanto nas vitri-
nes como nas passarelas, como
Gucci, Hermès, Saint Laurent e
Zara. Algumas marcas brasilei-
ras também entraram no con-
ceito de moda agênero: Trendt,
Cemfreio, Pangea, Approve e é
bom citar também a Matiz, uma
loja de roupa infantis e para be-
bês, sem papo de “rosa para me-
nina e azul para menino”.
	 A apresentadora e come-
diante, Ellen Degeneres, criou
uma marca com o nome de “ED”.
A marca traz camisetas, blazers,
jaquetas e suéteres sem gênero
definido. “Estamos aprendendo
muito sobre gênero, sexualidade
e fluidez, e eu acho que isso tem
de se misturar e espalhar para o
mundo da moda”, contou a apre-
sentadora ao Refinery 29.
	 A Sharpe, marca famosa
de ternos em Los Angeles, foi
criada há duas décadas e traba-
lha com o slogan: “Nós acredi-
tamos que é o seu terno que
deve se encaixar em você
independente do seu tipo
de corpo, gênero ou iden-
tidade. E não o contrário”.
Sharpe ganhou a mídia em 2017,
quando fez sob medida um ter-
no para uma adolescente ir à
formatura do colegial, após sua
escola proibi-la de dançar valsa
TAYNA VISMARI
A
primeira vez que
o mundo da moda
quebrou os padrões
impostos de moda
por gênero foi em
1920, com a pioneira Coco
Chanel vestindo roupas mas-
culinas.
	 Chanel teve esse olhar
visionário, numa época em que
todas mulheres vestiam saias e
vestidos, preferindo trazer para
o closet feminino um estilo mais
prático e confortável como as
roupas masculinas.
	 A calça pantalona e a ca-
miseta bretão (ambas inspiradas
nos uniformes da marinha fran-
cesa) foram as primeiras peças
masculinas a desfilarem por mu-
lheres na passarela.
Coco Chanel revolucionou a moda
do século XIX libertando a mulher
dos trajes desconfortavéis e rígidos.
Foto: Getty Images/Cecil Beaton
O intuito da moda
agênero é incluir
estilos e modelos de
roupas para todas
as pessoas se ves-
tirem de modo que
melhor entenderem,
e deixar explicíto
que roupa não tem o
poder de identificar
o gênero de
alguém.
Calça pantalona, antigamente.
Calça pantalona, hoje.
por causa da roupa, levando en-
tão a jovem a ganhar o apoio da
internet.
	 A moda tem o objetivo de
te fazer sentir bem consigo mes-
ma vestindo o melhor tipo de
roupa que te agrade, e daí sur-
ge o movimento agênero após
designers e marcas perceberem
que criavam barreiras e excluí-
am pessoas que se identificavam
com outros estilos e gostos.
	 Jaden Smith, filho do ator
Will Smith, posou de jaqueta de
couro e saia na campanha pu-
blicitária da Louis Vuitton de
2016 para dar força ao movi-
mento.
Coco Chanel
12 13
TODAS VESTIDAS DE
NOIVAS
KELLY LORRANA
S
e a sociedade segue um
padrão, alguns segmentos
dentro dela, infelizmente,
continuam pelo mesmo
caminho. No ramo dos
casamentos, por exemplo, isso che-
ga a ser chocante. São incontáveis
as páginas na internet que ensinam
dietas para que futuras noivas per-
cam peso até a cerimônia é só pes-
quisar dieta e casamento no Google
que aparecem receitas milagrosas de
emagrecimento.
	 Além disso, modelos con-
sideradas plus size dificilmente são
escolhidas para campanhas publici-
tárias de moda noiva, à medida que
encontrar o vestido dos sonhos, em
tamanhos grandes, seja para se casar
ou ir a uma festa, costuma ser uma
verdadeira saga, pois é necessário
paciência, dinheiro de sobra e, mui-
tas vezes, a confecção de um mode-
lo sob medida. Os padrões estão aí
para serem quebrados, e é possível,
sim, amar seu corpo do jeitinho que
ele é sem ter de transformá-lo por
pura estética ainda mais para uma
ocasião especial (e passageira).
	 Em fevereiro deste ano
aconteceu uma confusão na loja de
noivas RK Bridal, em Manhattan,-
noivas fazendo fila para experimen-
tar vestidos, consultoras correndo
pela loja com apetrechos de costura
para alterações, mães aflitas preocu-
padas com as filhas.
	 Na verdade, as principais
atrações não eram as noivas, mas os
vestidos em exibição naquele dia:
seis modelos novinhos (de um total
de quinze) criados por Justin Ale-
xander especialmente para as mu-
lheres fora dos padrões que usam da
Foto: Arquivo Pessoal/ Facebook
Foto: Divulgação/Série Noivas Plus Size
numeração 48 para cima.
	 O estilista estava presen-
te para exibir os novos trabalhos e
promover sua campanha “Be You”
(“Seja Você”), cuja coleção que bus-
ca atender noivas de diferentes esti-
los de corpos que desejam acentuar
suas curvas com elegância no gran-
de dia.
	 “Uma garota plus size não
quer ficar limitada à escolha de
um ou dois modelos tradicionais;
ela quer moda, quer detalhes in-
teressantes, mas não pode nem
experimentar porque não há nada
no mercado, afirma o estilista em
entrevista ao The New York Ti-
mes.
	
	 Alexander, reconhecido por
sua inspiração vintage e detalhes
progressistas, também fez mudan-
ças mínimas. “O padrão dos nossos
vestidos geralmente é o mesmo, seja
em 36 ou 46. Para os números maio-
res talvez seja preciso reforçar ou
ampliar algumas áreas, como o qua-
dril ou a manga. O forro é de uma
malha que beneficia a noiva plus
size, pois adere e segura às curvas”,
completa ele. Com isso, são as con-
sumidoras que têm que brigar pelas
mudanças. “O plus size na passare-
la nada mais é que uma necessida-
de motivada pela consumidora, e
não uma tendência. Até agora havia
lojas que ou forneciam para a noi-
va média, ou para as plus size; não
existiam muitas que ofereciam as
duas opções", expressa.
14 15
CIÊNCIAS
NÚMERO DE MULHERES NA
CIÊNCIA CRESCE
TAYNA VISMARI
E
stamos acostuma-
dos a ler sobre ho-
mens quando o as-
sunto é “ciências”.
Em 2015, um estu-
do feito pelo Censo da Educação
Superior - INEP constatou que
apesar do número de mulheres
graduadas representar 60%,
quando os cursos são da área
da ciências: biologia, farmácia,
engenharias, matemática, me-
dicina, física, química, ciência
da computação, entre outros, a
participação feminina cai para
41%.
	 No entanto, apesar dos
números desanimadores, de
acordo com uma pesquisa de
2017 realizada pela Editora El-
sevier, referência em produção
científica no mundo, retrata que
Brasil e Portugal têm os maiores
percentuais da participação fe-
minina em pesquisa científica,
quantificando 49% entre o quin-
quênio 2011-2015.
	 O Brasil que no quinquê-
nio 1996-2000 estava quantifi-
cado em 38% de pesquisas feitas
por mulheres, hoje empata com
Portugal, e ganha num ranking
se comparado a outros países.
	 O estudo Gender in the
Global Research Landscape
(Gênero no Cenário Global de
Pesquisa) mede o desempenho
da pesquisa e representação de
gênero em 12 países, e mostra
que Austrália, Brasil, Canadá,
Dinamarca, União Europeia,
França, Portugal, Reino Unido
Foto: Arte/Kelly Lorrana
CAROLINA MOTTER CA-
TARINO
A pesquisadora brasileira ga-
nhou destaque internacional
pelo seu trabalho com modelos
de pele humana reconstituída
em 2017. A cientista fez suces-
so após vencer o The 2017 Lush
Prize, prêmio da Lush, empresa
britânica de cosméticos, para
promover cientistas que traba-
lhem em prol do fim do uso de
animais na pesquisa. O valor
que recebeu, 45 mil reais, se-
rão investidos na sua formação
como cientista.
FERNANDA WERNECK
Bióloga brasileira ganha prêmio
global da UNESCO para Mulhe-
res na Ciência, em 2016. “Foi
uma honra poder representar o
Brasil na cerimônia de premia-
ção do For Women in Science!
Estive ao lado de mulheres in-
casos de SUCESSO
críveis e fiquei fascinada com o
discurso das cinco laureadas.
Mulheres na Ciência têm real-
mente MUITO poder de mudar
o mundo”, disse a pesquisadora
goiana. Werneck foi uma das 15
cientistas homenageadas pelo
International Rising Talents,
premiação global oferecida pela
Fundação L’Oréal, em parceria
com a Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ci-
ência e a Cultura - Unesco. O
foco de seu trabalho é estudar os
efeitos das mudanças climáticas
na vida animal, sobretudo em
répteis e anfíbios, espécies estas
mais sensíveis às variações das
temperaturas, provocadas pelo
aquecimento global. O prêmio
Rising Talents é uma iniciativa
que tem como objetivo principal
impulsionar o trabalho de mu-
lheres, jovens cientistas promis-
soras, até que se tornem pesqui-
sadoras reconhecidas em todo
mundo. Cada uma delas rece-
bem uma bolsa-auxílio para suas
pesquisas de 15 mil euros, cerca
de 50 mil reais. Fernanda foi es-
colhida na categoria “Estudando
o passado para trazer luz para o
futuro”. Fernanda estuda tanto a
Amazônia, como o Cerrado, para
tentar compreender mais sobre
a capacidade de adaptação e so-
brevivência da fauna nesses dois
biomas brasileiros.
e Estados Unidos igualam ou
ultrapassam 40% de pesqui-
sas por mulheres, enquanto
apenas Chile, México e Japão
têm participação de mulheres
na produção científica abaixo
desse percentual, sendo Japão o
país com a média mais baixa que
representa 20% de mulheres e
80% de homens.
	 “O Brasil evoluiu bem em
termos de presença feminina na
pesquisa científica. No primei-
ro quinquênio pesquisado, já
havia uma participação impor-
tante e nesse último quinquênio,
a participação feminina pulou
para 49%, colocando o Brasil
em primeiro lugar junto com
Portugal”, disse o vice-presiden-
te de Relações Acadêmicas para
a América Latina da Elsevier,
Dante Cid.
	 Na análise feita pela El-
sevier, pode ser visto que o Bra-
sil está quase em empate técni-
co em relação aos homens, que
aparecem com 51% na pesquisa.
Também revela que a presen-
ça das mulheres nas pesquisas
científicas é muito maior que a
masculina em áreas ligadas à
saúde, como medicina, bioquí-
mica, genética, odontologia e en-
fermagem. Enquanto os homens
lideram as ciências exatas, como
engenharia, física, computação,
energia e ciências econômicas.
	 Ainda foi relatado que
24% das mulheres se dedicam
à medicina, enquanto homens
representa 17%, ou seja, 80,6
mil mulheres e 65 mil homens,
em números absolutos.
	 Com isso, o represen-
tante da Elsevier calcula que
no próximo quinquênio a ser
analisado, a participação de
mulheres na produção cientí-
fica brasileira deve ultrapas-
sar os homens, em especial na
área de saúde.
16 17
casos de SUCESSO
RAFAELA FERREIRA
Professora de Bioquímica e Imu-
nologia da Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG), ga-
nhou a versão brasileira do prê-
mio da Unesco, “Para Mulheres
na Ciência”, em 2017. Rafaela
recebeu uma premiação de 15
mil euros para dar continuidade
a uma pesquisa que busca de-
senvolver medicamentos para o
tratamento do vírus da Zika e da
doença de Chagas.
THAISA STORCHI BERG-
MANN
É uma das vencedoras do prê-
mio internacional L’Oréal-U-
nesco Para Mulheres na Ciência
(“For Women in Science”). Pro-
fessora em Porto Alegre e espe-
cialista em física e astronomia,
a cientista foi escolhida pelo
trabalho que levou ao entendi-
mento de como buracos negros
maciços se formam nos centros
casos de SUCESSO
JOANA D’ARC FÉLIX DE
SOUZA
A cientista superou o preconcei-
to para se tornar cientista, PhD
em química pela Universidade
de Harvard, dos Estados Uni-
AMANDA SILVA
A estudante do ensino médio re-
cebeu, no fim de 2017, o prêmio
“Cassini – Cientista por um dia”,
por um artigo científico enviado
para a NASA. A jovem foi sele-
cionada para participar de um
curso em Huston, nos EUA, que
vai colocá-la na rotina de um as-
tronauta da agência espacial de
lá. Amanda criou uma espécie de
“vakinha” virtual, em dezembro
de 2017, para arrecadar os R$ 12
mil que precisava para viajar até
o dia 15/07/2018. Decidida a ser
astrônoma desde os nove anos
de idade, Amanda é a única es-
tudante do Estado de São Paulo
a participar do curso na NASA
(outros 30 alunos de escolas
do Nordeste devem participar
do treinamento). A capacitação
acontece em julho.
das galáxias, como evoluem e
as moldam. “Fico muito feliz e
realizada por ter meu trabalho
reconhecido, tanto como cientis-
ta como mulher. Faz sentir que
minha dedicação valeu a pena”.
Suas descobertas são essenciais
para o conhecimento sobre este
fenômeno que, como muitas
pessoas acreditam, poderia con-
ter o segredo de uma das ques-
tões mais misteriosas da história
da humanidade: como o univer-
dos. Hoje, ela soma 56 prêmios
na carreira, com destaque para
a eleição de “Pesquisadora do
Ano” no Kurt Politizer de Tec-
nologia de 2014, concedido pela
Associação Brasileira da Indús-
tria Química (Abquim). Desde
2008, ela também é professora
da Escola Agrícola de Franca,
cidade do interior de São Paulo,
e molda novas gerações a segui-
rem sua trajetória inspiradora.
Entre os projetos de Joana e sua
equipe estão o desenvolvimento
de uma pele similar à humana a
partir da pele de porcos, propor-
cionando o abastecimento dos
bancos de pele especializados e
de hospitais e um barateamento
no custo das pesquisas; e a cria-
ção de um “cimento ósseo”, feito
a partir de escamas de peixes e
colágeno de curtume, que pode
favorecer o crescimento de novo
tecido ósseo por pessoas que
pessoas perderam parte dele e é
absorvido pelo organismo sem
rejeição.
so se formou. As notáveis des-
cobertas de Thaisa contribuirão
para a ciência avançar de forma
significativa na compreensão da
formação do universo e sua re-
putação mundial vem de suas
contribuições para o nosso en-
tendimento dos buracos negros,
cujos misteriosos espaços no
universo não podem ser vistos
diretamente, mas que têm uma
força gravitacional tão grande
que chegam a “engolir” matéria.
Entre suas descobertas revolu-
cionárias, ela foi a primeira pes-
quisadora a discernir o padrão
de movimento de um disco de
matéria acumulada que havia se
formado em torno de um bura-
co negro supermaciço, um passo
muito importante para o avan-
ço da nossa compreensão sobre
como ele se comporta.
Ela também foi a primeira a
mostrar que gás e poeira pode-
riam ser absorvidos por buracos
negros.
Nóspodemos
fazer isso
We Can Do It! de J. Howard Miller, 1943.
Conheça a musa inspira-
dora da famosa imagem
de empoderamento fe-
minino
nos tempos de guerra
	 Sabe a famosa imagem
que circula na mídia como uma
das mais conhecidas do movi-
mento feminista? A imagem “We
Can Do It!”, que significa “Nós
podemos fazer isso!”, é a frase
bordão que chama a atenção do
público.
	 Você conhece a verdadeira
história da imagem? Ao contrá-
rio do que muitos pensam esse
cartaz não foi utilizado na época
para o empoderamento femini-
no. 	
	 A real intenção do artis-
ta responsável pela criação, J.
Howard Miller, em 1943, que se
inspirou numa fotografia de um
fotógrafo da United Press Inter-
national, foi divulgar a guerra
dos Estados Unidos para a fá-
brica Westinghouse Electric Cor-
poration para atrair mulheres
americanas para trabalhar fora
de casa durante a guerra.
1918
TAYNA VISMARI
CAPA
Naomi Parker
Naomi Parker Fraley, em 1942, com
apenas 20 anos, trabalhava em uma
estação Naval na Califórnia quando
foi fotografada pelo desconhecido
fotógrafo que inspirou Howard Mil-
ler a criar o cartaz de guerra. Parker
começou a trabalhar na estação de
aérea naval em Alameda, na Califór-
nia, como garçonete, mas permitiram
que ela se tornasse uma das primeiras
mulheres operárias antes do ataque
japonês em Pearl Harbor, no final de
1941.
	 No entanto, a história contada
não foi sempre essa. Até 2015, acre-
ditava-se que a musa inspiradora da
foto era Geraldine Hoff Doyle, que
trabalhou em uma fábrica em Mi-
chigan. Naomi só descobriu 30 anos
depois que sua foto inspirou a famo-
síssima imagem.
é notável que somente em períodos
de guerra a ideologia de gênero é
parcialmente esquecida, passando a
não diferenciar “trabalho de homem
x trabalho de mulher” para atender
a interesses financeiros e de guerra.
Com isso, a maior participação femi-
nina na esfera extra-doméstica, ou
seja, fora do lar, é durante as guerras,
sobretudo nas duas grandes guerras
mundiais.
	 A moça da imagem de olhar
determinado, a manga da camisa
arregaçada com um bíceps musculoso
à mostra e cabelo preso a um lenço
foi nomeada de Rosie the Riveter
(Rosie, a rebitadeira). Após o período
Historicamente,
de guerra, foi esquecida completa-
mente. O cartaz foi recuperado num
artigo sobre a coleção dos arquivos
nacionais, intitulado Poster Art for
Patriotism’s Sake e foi publicado
na Washington Post Magazine, em
1982. Foi assim que a imagem ficou
famosa, sendo considerada um sím-
bolo da força de trabalho feminina
durante a guerra, tornando-se uma
das representações mais usadas pela
luta feminista. Rosie, a rebitadeira,
se tornou um ícone para as mulheres,
passando a ideia de que “sim, nós
mulheres podemos fazer isso!”, sendo
o “isso” as atividades “exclusivas” aos
homens.
20 21
“Eu não podia
acreditar que era
eu na foto, mas
havia o nome de
outra pessoa na
legenda: Geral-
dine. Fiquei es-
pantada”,
disse à revista People em 2016.
Naomi à esquerda, sua irmã no
centro, e outra operária à direi-
ta, 1942
	 O erro foi reconhecido
pela própria Naomi quando,
em 2009, foi com a sua irmã a
uma convenção das operárias
norte-americanas homenagea-
das pelo seu trabalho durante
a Segunda Guerra Mundial.
Foi então que Naomi viu a sua
fotografia no Memorial Rosie,
no Museu Nacional de História
em Richmond, na Califórnia,
e percebeu que o retrato as-
sociado ao cartaz identificava
Geraldine Doyle como a mulher
fotografada.
	 No regresso à casa, Na-
omi e a sua irmã procuraram
uma outra foto capturada no
mesmo dia, pelo mesmo fotó-
grafo. A fotografia foi capa em
alguns jornais.
	 Naomi tinha guardado um
desses exemplares e enviou-o
ao Museu Nacional de História
para provar a sua identidade.
A capa do jornal mostra Nao-
mi, a sua irmã, Ada Wyn Loy,
e uma terceira operária nas
imediações da Base Aeronaval
de Alameda. Foi o início da luta
pela recuperação da identidade
da verdadeira “Rosie”, mas não
obteve resultado.
	 Em 2010, e depois da mor-
te de Doyle, o professor univer-
sitário James Kimble, da Seton
Hall, decidiu dedicar-se a uma
investigação para conferir se a
identidade de “Rosie” dedicada
nos obituários de Doyle tinha
sido alguma vez verificada. Na
sua investigação, que durou
quase seis anos, acabou encon-
trando uma das cópias da foto-
grafia que acrescentava a data
e a localização do momento
captado, com a legenda: “Pare-
ce que o nariz da bonita Naomi
Parker pode ser apanhado pelo
torno mecânico enquanto está
a trabalhar. As mulheres usam
vestuário seguro e não roupas
femininas. E as raparigas não
se importam. Estão a fazer o
seu trabalho. O glamour é se-
cundário neste momento”.
	 O professor encontrou Na-
omi, finalmente, em 2015. E ela
foi reconhecida como a verda-
deira inspiradora do cartaz. Em
setembro de 2016, Naomi posou
para a revista People, recriando
a famosa imagem, com seus 95
anos. “As mulheres desse país
atualmente precisam de alguns
ícones. Se elas acham que eu
sou um, então fico feliz com
isso”, disse à publicação.
	 Naomi, considerada gran-
de ícone feminista, morreu aos
96 anos, no dia 20 de janeiro
de 2018. Apesar da demora, ga-
nhou seu devido reconhecimen-
to e hoje muitas mulheres que
exercem trabalhos considerados
masculinos se inspiram nela.
22 23
24 25
POLÍTICA
MULHERES NA
POLÍTICA PELO MUNDO
Quando se fala de
mulher na política,
é nítido que a desi-
gualdade de gêne-
ro está em grande
peso nessa categoria. De acordo
com uma pesquisa realizada em
193 países pela União Interpar-
lamentar Internacional - UIP,
até o dia 1 de abril de 2018, os
dados cujo países foram classifi-
cados levando em consideração
o número de assentos ocupados
por mulheres nas duas casas,
sendo Câmara ou Senado de seus
respectivos congressos, compro-
vam que a maioria dos países é
regido por homens. O país que
ficou em primeiro lugar foi Ru-
anda com a maior porcentagem
de mulheres em cargos políticos,
sendo 49 dos 80 lugares ocupa-
Brasil
A
luta das mulheres
brasileiras pelo es-
paço político sem-
pre existiu. O voto
feminino se tornou
direito nacional em 1932 durante o
governo de Getúlio Vargas, quase 40
anos depois da Nova Zelândia, pri-
meiro país a ter voto feminino, em
1893.
	 Também puderam se candi-
datar a cargos políticos, mas só em
1965 que os direitos e obrigações
eleitorais foram igualados entre os
homens e as mulheres.
Dilma
D
ilma Rousseff foi a
36ª presidente do
Brasil, em 2011,
sendo a primeira
mulher eleita a che-
fe de Estado, que sucedeu o ex-
-presidente Lula, ambos do Partido
dos Trabalhadores - PT.
	 Dilma nasceu em 14 de de-
zembro de 1947 e foi criada num
ambiente de classe média alta, com
um pai advogado e uma mãe profes-
sora. Ela frequentava escola parti-
cular e foi no ensino médio que co-
nheceu e se interessou por política,
batendo de frente contra a ditadura
militar de 64 no Brasil.
	 Durante o período de dita-
dura, a ex-presidente foi integrante
dos grupos Colina (Comando de Li-
bertação Nacional) e a VAR-Palma-
res (Vanguarda Armada Revolucio-
nária Palmares) ambos marxistas.
Ela era a responsável por planejar
ações, guardar documentos e guar-
dar armas, e participava de encon-
tros secretos sobre o socialismo.
Apesar de não ter participado dire-
tamente das lutas armadas, Dilma
foi descoberta e foi para diversos lu-
gares, como São Paulo, Rio de Janei-
ro e Rio Grande do Sul para fugir da
perseguição da polícia e do Exérci-
to. Ela foi encontrada e julgada pelo
tribunal militar sob a acusação de
defender a luta armada e ser contra
o regime militar.
	 Com isso, cumpriu pena de
1970 a 1972, em São Paulo. Enquan-
to esteve na prisão, sofreu torturas,
como sessões de pau-de-arara, cho-
ques elétricos, socos e palmatória
durante 22 dias. Também teve os
direitos políticos cassados. Quando
o país foi redemocratizado, denun-
ciou as torturas em processos judi-
ciais, sendo indenizada pela Secre-
taria de Direitos Humanos do Rio
de Janeiro.
	 Dilma cursou faculdade de
Economia na Universidade Fede-
ral do Rio Grande do Sul (UFRGS),
após sair da prisão e ir morar com
seu marido, Carlos Franklin Paixão
de Araújo, com quem teve sua única
filha, Paula Rousseff Araújo.
	 Dilma passou a maior par-
te de sua vida profissional política
antes de chegar à presidência junto
com seu marido, quando atuou na
fundação do Partido Democrático
Trabalhista (PDT). Foi assessora de
bancada do PDT de 1980 a 1985. Em
1986, é nomeada como titular da Se-
cretaria de Fazenda de Porto Alegre.
Atuou na campanha de Leonel Bri-
zola à Presidência da República em
1989, em dois turnos. No segundo
turno, o PDT apoiou o candidato do
PT, Luiz Inácio Lula da Silva. O ven-
cedor do pleito foi Fernando Collor
de Mello, do Partido de Reconstru-
ção Nacional (PRN), logo depois
afastado por Impeachment.
	 Entre 1990 e 1993, Dilma
permaneceu no secretariado do go-
verno do Rio Grande do Sul. Foi se-
cretária de Minas, Energia e Comu-
nicação do estado gaúcho durante
o governo petista de Olívio Dutra,
iniciado em 1998. Já filiada ao PT,
TAYNA VISMARI
dos por elas. Na sequência, apa-
recem Cuba, em segundo lugar,
e Bolívia, em terceiro. O Brasil
ocupa o 152º lugar, com apenas
55 cargos ocupados pela presen-
ça feminina dos 513 disponíveis.
	 Em último lugar estão países
como Omã, com 85 parlamentares e
uma única mulher, e Ilhas Salomão,
com 50 lugares e apenas uma mu-
lher. Zeram na lista a Confederação
de Estados da Micronésia, com 14
representantes e nenhuma mulher, e
também Papua Nova Guiné e Vanu-
atu.
	 O fato que chocou nessa pes-
quisa quantitativa é quem quando o
assunto é proporção de mulheres na
Câmara e no Senado, o Brasil perde
para o Afeganistão (54º lugar), um
país extremista, que vive em guerra
e não é permitido que a mulher saia
às ruas sem a presença de um ho-
mem. Além disso, mulheres soltei-
ras não conseguem tirar passaporte,
não fazem documento de identida-
de e nem viajam sozinhas. Em um
estudo do Instituto de Economia e
Paz - IEP sobre os países mais pe-
rigosos do mundo, o Afeganistão
aparece em quarto lugar. Enquanto
27,4% dos representantes do con-
gresso afegão são mulheres, aqui
elas ocupam apenas 11,2% dos car-
gos parlamentares. O Afeganistão
não é um exemplo de nação demo-
crática, mas mesmo assim estão à
frente de países progressistas, como
a França, a Austrália e o Uruguai.
	 No Brasil, são quase 200
anos de história de luta pela partici-
pação política das mulheres e ainda
temos muito a enfrentar pela igual-
dade de gênero.
1933
1935 19581815
1822
1870 1929
A primeira mulher Chefe de Estado na
História do Brasil foi D. Maria I, Rainha
Reinante do Reino Unido de Portugal,
Brasil e Algarves (1815-1822);
A terceira mulher Chefe de Estado na
história do Brasil foi D. Isabel, Regente
do Brasil em vários períodos (1870 —
1871, 1876 — 1877 e 1887 — 1888).
Diploma de Vereadora de Nilda Iris Vaz
Borges, expedido pela zona eleitoral de
Patos de Minas no ano de 1912;
Em 1929, Alzira Soriano conquistou 60% dos votos em
eleição indireta e tornou-se prefeita de Lajes, no Rio
Grande do Norte. Foi a primeira mulher da América
Latina a assumir o governo de uma cidade;
1912
Em 1933, Carlota Pereira de Queirós
tornou-se a primeira deputada federal
brasileira por São Paulo;
Em 1935 Maria do Céu Fernandes foi
eleita para a Assembleia Legislativa do
Rio Grande do Norte;
Em 1947, Tereza Delta tornou-se
prefeita de São Bernardo do Campo;
1947
Em 1958, Aldamira Guedes Fernandes torna-se prefeita
de Quixeramobim, no Ceará. Pela primeira vez, uma
mulher assumia o cargo por meio do voto livre;
1979
Em 1979, Eunice Michiles
tornou-se a primeira senadora do
Brasil;
1982 1989
1990
1994
2006
2010
20181986
Entre 24 de agosto de 1982 e 15 de março de 1985,
o Brasil teve a primeira mulher ministra de Estado,
Esther de Figueiredo Ferraz, ocupando a pasta da
Educação e Cultura;
Em 1986, Iolanda Fleming se
tornou a primeira mulher a
governar um estado
brasileiro - Acre;
Em 1986, Maria Luíza Fontenele
tomou posse como a primeira
mulher prefeita de uma capital
estadual brasileira - Fortaleza;
Em 1989, ocorre a primeira candidatura de
uma mulher para a presidência da República.
A candidata era Lívia Maria Pio, do PN
(Partido Nacional);
Em 1990, Zélia Cardoso de Mello foi
empossada como a primeira e
única mulher a ocupar o cargo de
ministra da Fazenda;
Em 2006, Micarla de Sousa foi
eleita pelo PV e em
empossada em 2007, como
prefeita de Natal;
Em 2018, a presidente do STF, ministra
Cármen Lúcia, assumiu a presidência da
República interinamente.
26 27
é escolhida para o cargo de Minis-
tra de Minas e Energia do governo
de Lula, em 2003. Em 2005, com a
queda de José Dirceu, Dilma passou
a chefiar a Casa Civil, cargo pos-
teriormente entregue à secretária-
-executiva da pasta, Erenice Guerra.
Em 2010, Dilma elegeu-se pelo PT
para a Presidência do país, sendo a
primeira mulher a assumir o Palácio
do Planalto. Apesar das denúncias
do Mensalão contra o PT, Dilma foi
eleita pela maioria de votos. Tinha
63 anos quando assumiu a Presi-
dência em 2010, juntamente com o
vice, Michel Temer. A chapa venceu
o candidato do Partido da Social
Democracia Brasileira (PSDB), José
Serra.
	 O primeiro mandato da pre-
sidente foi iniciado em janeiro de
2011 e concluído em dezembro de
2014. Contudo, nesse meio termo,
em 2013 enfrentou diversos protes-
tos realizados em todo o país, mar-
cados por críticas direcionadas aos
políticos em geral e aos integrantes
dos três poderes: Executivo, Legis-
lativo e Judiciário. As manifestações
de rua duraram até a realização da
Copa do Mundo de Futebol, quan-
do a presidente foi vaiada ao chegar
para a abertura dos jogos.
	 Foi eleita novamente em
2014, com 55,7 milhões de votos.
Disputou a eleição no segundo tur-
no com Aécio Neves, também do
PSDB.
	 Foi um momento marcado
pelo declínio do PIB, crescimen-
to da inflação e início das inves-
tigações da operação Lava Jato,
envolvendo a Petrobras, políticos,
empreiteiras e empresários. Dilma
assumiu seu segundo mandato em
1º de janeiro de 2015, enfraquecida
pela crise econômica aguda e pelas
denúncias que atingiam os partidos
que a apoiaram. A partir de feve-
reiro, sua popularidade entrou em
declínio por todo o país e começa-
ram as manifestações conhecidas
como “panelaço”. Em dezembro de
2015, o então presidente da Câma-
ra dos Deputados, Eduardo Cunha,
deu início ao processo que pedia o
impeachment de Dilma, assinado
pelos juristas Hélio Bicudo, Janaina
Paschoal e Miguel Reale Júnior. No
dia 17 de abril de 2016, a Câmara
dos Deputados autorizou o Senado
a instaurar o processo. Em maio do
mesmo ano, o Senado autorizou a
abertura do processo de impeach-
ment e determinou o afastamento
da Presidência da República por
180 dias, com 55 votos favoráveis e
22 contrários. Acusada de improbi-
dade administrativa, Dilma foi afas-
tada pelo Senado Federal em agosto
de 2016, após seis dias de julgamen-
to com intensos debates, por 61
votos a favor do impeachment e 20
votos contra, do cargo de presidente
da República. Em seu lugar assumiu
o vice-presidente Michel Temer, do
PMDB.
	 No entendimento da maio-
ria dos senadores, o crime pelo
qual a presidente foi condenada
ficou conhecido como "pedaladas
fiscais", operações orçamentárias
realizadas pelo Tesouro Nacional
não previstas na legislação, que
consistem em atrasar o repasse
de verba a bancos públicos e pri-
vados com a intenção de aliviar a
situação fiscal do governo em um
determinado período, apresen-
tando melhores indicadores eco-
nômicos ao mercado financeiro
e aos especialistas em contas pú-
blicas.
CONHEÇA AS MULHERES PRÉ-CANDIDATAS À
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA EM 2018
Foto: Joana Berwanger/Sul21
Foto: Edilson Rodrigues/CB/D.A Press
A ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, do partido Rede Sus-
tentabilidade fundado por ela própria, é candidata à Presidência. Terceira colocada em
2014, quando recebeu cerca de 20 milhões de votos. Marina disputou as duas últimas
eleições presidenciais, uma pelo Partido Verde (PV) e outra pelo Partido Socialista Bra-
sileiro (PSB). Ela começou a carreira política no Partido dos Trabalhadores (PT).
A deputada estadual gaúcha, Manuela D’Ávila, do Partido Comunista do Brasil (PC-
doB), é candidata à Presidência. Manuela, aos 26 anos, é jornalista de formação e foi a
vereadora mais jovem da história de Porto Alegre, eleita aos 23 anos. Apesar de ter sido
deputada federal por dois mandatos e líder do PCdoB da Câmara, Manuela não é um
nome conhecido em todo o país. Atualmente, é uma das principais vozes políticas em
defesa do ex-presidente Lula.
28 29
EMPREENDEDORISMO
CEO DA PANDORA É
MULHER E NEGRA
TAYNA VISMARI
Foto: Deco Cury/Estilo
R
achel Maia, 46, é a fi-
lha caçula de sete ir-
mãos de uma família
humilde. Sua histó-
ria não foi um conto
de fadas até se tornar CEO de uma
das maiores joalherias do mundo.
Rachel, além de vir de uma famí-
lia negra, é mulher e apenas 16%
de mulheres, registrado em 2017,
segundo a pesquisa International
Business Report (IBR) – Women in
Business, da Grant Thornton, pos-
suem cargos de liderança no país.
“O luxo é loiro, magro e tem olhos
azuis. Como eu vim parar aqui? Não
é fácil!”, disse, em entrevista para a
Revista Exame.
	 Rachel faz questão de exal-
tar que é negra e contar a sua his-
tória em todas as entrevistas, reuni-
ões e palestras que dá ou participa.
“Eu sou hoje a precursora de mui-
tas mulheres negras ou que se sen-
tem desprestigiadas dentro de uma
sociedade, e ter uma heroína! Não
necessariamente que eu sou, mas eu
represento bem”, disse em entrevista
para o canal do Youtube Programa
Mulheres Positivas.
	 A CEO da Pandora relembra
que, quando criança, em sua casa
um frango assado tinha de ser o su-
ficiente para alimentar onze pesso-
as, porque, além dos sete filhos, dois
primos moravam com a família.
Rachel conta sua gratidão pelo seu
pai que, apesar de não ter recursos
financeiros, obrigou que todos os fi-
lhos fizessem faculdade para poder
sair de casa, e foi assim que sua tra-
jetória começou.
	 Rachel se formou em Ciên-
cias Contábeis pela FMU e traba-
lhava na 7-Eleven, em 1990, uma
empresa americana com uma ca-
deia de lojas de conveniência em
vários países. A empresa, na época,
deixou o país e então Rachel usou
o dinheiro de sua rescisão para via-
jar ao Canadá para estudar inglês e
fez um curso de administração. Ao
voltar ao Brasil dois anos depois,
tornou-se gerente financeira da No-
vartis, grupo farmacêutico onde ela
trabalhou cerca de quatro anos e
seus únicos interesses se limitavam
em farmacêutica e automobilística.
Rachel ainda passou um tempo nos
EUA morando com seu irmão em
Miami, enquanto trabalhava na No-
vartis americana, e acabou fazendo
um curso de liderança e negócios na
Harvard.
	 A empreendedora sempre
foi apaixonada por artes e enquan-
to estava nos EUA descobriu que a
filha de um de seus pintores favori-
tos, Paloma Picasso, estaria no Bra-
sil para lançar a linha de joias com
a Tiffany & Co., uma das joalherias
mais tradicionais do mundo, pela
primeira vez em nosso país. Foi aí o
seu primeiro contato com o mundo
do luxo, porém ela não tinha inte-
resse nenhum no ramo. Em 2000,
um headhunter descobriu que a Ti-
ffany buscava uma mulher especia-
lizada em contabilidade e capaz de
falar inglês e sugeriu para que Ra-
chel participasse do processo seleti-
vo. “Eu não queria aquele emprego,
mas decidi que, se as outras empre-
sas não entrassem em contato, acei-
taria”, comenta Rachel em entrevista
com a Exame. Foi então que Rachel
foi aprovada e passou quase oito
anos trabalhando como diretora fi-
nanceira da Tiffany & Co.
	 Em 2008 a futura CEO foi
abordada por um representante
de uma das maiores joalherias do
mundo, nos dias de hoje, a Pandora,
com o desafio de trazer a joalheria
dinamarquesa para se instalar no
Brasil. “Tive o desafio de aplicar o
conceito de uma joalheria AAA,
uma das maiores do mundo, em um
mercado em que as pessoas ainda
não entendiam o que era a Tiffany.
Foi um desafio, primeiro porque no
caso da Pandora estava trazendo
uma marca, enquanto a outra joa-
lheria estava totalmente estabeleci-
da”, conta em entrevista ao Correio
24h, jornal Baiano.
	 Rachel se tornou CEO da
Pandora, em 2009, no país e desde
então obteve sucesso no negócio de
luxo. Se em 2009 eram dois pon-
tos de venda, hoje a Pandora soma
92, entre franquias e lojas próprias,
além do canal de e-commerce. Ra-
chel pretende expandir a joalheria
em 2018, além de ter a ambição de
fazer com que a liderança femini-
na vire realidade no Brasil. "Faltam
mulheres nas mesas de decisão, falta
diversidade. É uma mudança de cul-
tura, mas alguém tem de começar a
fazê-la”, conta em entrevista para a
Revista Época.
	 Como ativista, Rachel tra-
balha com a ONU Mulheres e com
a campanha HeForShe, criada pela
atriz Emma Watson, e está prepa-
rando para 2018 um projeto vol-
tado para a capacitação de jovens
mulheres da periferia para o varejo.
“Eu quero me dedicar mais ao social
em 2018. Quero tangibilizar aquilo
que eu defendo tanto. Esse mercado
que tanto me ajudou, que é o varejo,
eu quero prestigiá-lo, capacitando
pessoas para entrar dentro deste
mercado. Espero contar com o SE-
NAC, SEBRAE”, contou ao Mulhe-
res Positivas.
30 31
COTIDIANO
MULHERES NO
TRÂNSITO
TAYNA VISMARI
H
oje em dia pos-
sui diversos apli-
cativos de carros
particulares para
que os passageiros
possam se locomover sem precisar
usar o transporte público, principal-
mente de madrugada, horário que
transportes públicos não costumam
funcionar.
	 Existemmuitoscasosdemu-
lheres assediadas tanto fisicamente
como verbalmente durante sua via-
gem solicitada, e após a experiência
se sentiram desconfortáveis, além
de sujas como ser humano. Por con-
ta disso muitas mulheres têm medo
de solicitar viagens, mas por não ter
outra opção, compartilham a rota
do destino com algum membro de
confiança, sendo família ou amigo.
E mesmo assim, muitas evitam vol-
tar fora do horário de expediente de
transportes públicos para que não
precisem se arriscar. Devido a isso,
foram criados diversos aplicativos
de transporte em que só podem se
cadastrar como motoristas se você
for do gênero feminino, e isso tem
ajudado muito a crescer a confian-
ça e conforto de meninas e mulhe-
res que utilizam esses aplicativos de
locomoção, porém a maioria ainda
não é muito conhecido e a frota de
motoristas mulheres é bem menor
que a quantidade de motoristas ho-
mens que existem.
	 Além do Uber, aplicativos
como 99táxis (associado do Táxi
comum), há também aplicativos
voltados exclusivamente para mu-
lheres como o Lady Driver, Femi-
Taxi, Venuxx e Nüshu que come-
çaram a ser mais procurados após a
escritora Clara Averbuck expor em
seu perfil do Facebook sua indigna-
ção de como “o mundo é um lugar
horrível para ser mulher”, depois de
ser violentada por um motorista de
Uber, em agosto do ano passado.
Averbuck lançou uma campanha
chamada “MeuMotoristaAbusador
para incentivar outras mulheres que
já passaram por isso a quebrarem
o silêncio nas redes sociais e teve
muita repercussão. A motorista de
Uber, 99 táxis e Lady Driver há um
ano, Meire Cristina, 32, conta que já
teve problema uma vez com assédio
de passageiro, mas não deu atenção,
mas que sua maior dificuldade é li-
dar com passageiros homens que
querem ensiná-la a conduzir o car-
ro da maneira deles. “Aqui no Bra-
sil existe preconceito com mulher
motorista sim, nada muito explícito,
mas já percebi que quando são pas-
sageiros homens, eles querem ficar
me direcionando o tempo todo e
isso me incomoda”, conta.
	 Como é ser motorista mu-
lher num universo em que a socie-
dade é acostumada com homens
dirigindo? Meire ainda continua:
“Eles sempre querem ir na frente
e acredito que seja por inseguran-
ça e também por costume de estar
sempre como condutor e de repente
ser conduzido por uma mulher. Dá
para sentir a frustração deles”, afir-
ma.
	 Em contrapartida, a moto-
rista de 40 anos, Adriana Santana
Alves responde após vinte e um anos
de experiência com táxi. “Do táxi
nunca ouvi história de preconceito
ou assédio de passageiro homem re-
ferente a motorista ser uma mulher.
Eles respeitam muito a questão do
profissionalismo taxista”. Adriana
acredita que existe falta de profissio-
nalismo dos motoristas de aplicati-
vos de carros particulares: “Já ouvi
várias situações de motoristas sendo
assediadas por passageiros homens,
ou passageiras que entram dentro
do carro e reclamam que os ‘ubers’
a assediam mesmo, sem contar os
casos de estupro, porque não são
profissionais, né? Então você pode
esperar realmente qualquer coisa”,
explica seu ponto de vista.
	 Para a segurança e conforto
das mulheres, sobretudo de madru-
gada, o app 99 relacionado ao táxi,
criou uma ferramenta de preferên-
cia de gênero quando solicita a cor-
rida.
	 Natalie Cardoso Castaldi,
33, trabalhou por apenas um mês
no 99 Táxis, e também no aplicativo
“Lady Driver”, voltado especialmen-
te e exclusivamente para mulheres.
“Acho uma pena o universo de mo-
toristas pertencer quase que exclusi-
vamente a homens, pois o mercado
está precisando de mais motoristas
mulheres”, relata. Sobre o universo
feminino, Natalie acrescenta: “Em
todas as corridas que eu fiz, todas as
passageiras comentavam que se sen-
tiam mais confortável com moto-
ristas mulheres. Houve um caso de
uma passageira ir o caminho todo
dormindo devido o cansaço do tra-
balho, coisa que talvez ela não faria
caso fosse um homem no volante”,
explica.
	 De acordo com uma pesqui-
sa realizada pela Universidade Stan-
ford, nos EUA, que coletou dados
entre 2015 e 2017, de pelo menos 2
milhões de motoristas do Uber, foi
concluído que motoristas mulheres
ganham 7% menos do que homens,
embora não exista qualquer discri-
minação de salário por gênero vinda
do aplicativo de transporte. “Acredi-
to que talvez isso acontece pelo fato
das mulheres, em sua maioria não
trabalhar tarde da noite e madru-
gada por medo e insegurança. Isso
faz um pouco de diferença”, explica
Meire Cristina sobre a desigualdade
salarial.
	 Além disso, diversos estudos
vindos, principalmente, do Detran,
concluem que mulher dirige melhor
que homem em questão de respei-
tar as leis de trânsito. Com isso, em
março do ano passado, a Renault
do Brasil lançou campanha em que
incentiva o uso da hashtag #EU-
DIRIJOQUENEMMULHER, com
uma montadora explicando em ví-
deo dados colhidos, que dizem que
70% das infrações de trânsito são
causadas por homens. A beleza da
campanha da Renault #EUDIRIJO-
QUENEMMULHER é um incenti-
vo para a prudência no trânsito. O
objetivo da campanha não é mos-
trar que as mulheres têm mais habi-
lidade ao volante e sim que são mais
cautelosas e menos agressivas no
trânsito. Então, a marca incentiva
todos a dirigirem igual mulher.
	 Contudo, ainda sim é mui-
to reduzido o número de mulheres
no volante, por quê? “Isso aconte-
ce, principalmente pelo fato das
mulheres ter muito medo da di-
reção, sem contar que além disso,
elas não recebem apoio o suficien-
te para o fato, muito pelo contrá-
rio: elas são desencorajadas a nem
aprenderem a dirigir com argu-
mentos agravantes sobre o perigo
nas ruas entre outros motivos”,
acrescenta Meire.
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  • 1. 1 empodere Ano 18 | Nº 01 | R$ 13,90 AS MULHERES DA GUERRA INSPIRAM A FORÇA FEMININA ATÉ OS DIAS ATUAIS A MODA DAS NOIVAS SE ADEQUA A TODOS OS CORPOS MESMO PROVANDO SUA COMPETÊNCIA O FUTEBOL FEMININO AINDA BUSCA O SEU ESPAÇO
  • 2. 2 3 CARTA À LEIToRA A desigualdade de gênero é uma falha antiga na sociedade e até hoje há quem acredite que as mulheres são inferiores aos homens e que seu papel é cuidar da casa e dos filhos. A presente edição desta revista traz a leitora à reflexão quanto ao papel da mulher na sociedade, pois ainda que a mulher tenha ven- cido em muitos aspectos, como o direito de votar, a igualdade na jornada de trabalho, a conquista da graduação, o direito de ir e vir desacompanhada, e a independência financeira, a desigualdade salarial por gênero é um problema social desde sempre. Em março de 2018, um estudo salarial de gênero realizado pela Catho mostrou que, independentemente da área, as mulheres ganham metade dos homens. Mesmo as áreas de maior predominância feminina, como saúde, o salário cos- tuma ser mais baixo. A maior discrepância registrada soma 38% entre presi- dentes, diretores ou gerentes de empresas. Enquanto o piso para mulheres na presidência das empresas costuma ser de R$ 8.183,24, para os homens é de R$ 12.006,26. As mulheres na chefia estão em baixa no mercado de trabalho bra- sileiro, registrando também 38%, em 2018. Está na hora de mudar os índices. A luta continua, ela nunca acabou. Os direi- tos foram conquistados, mas ainda não há a devida igualdade. O sonho das mu- lheres é viver num mundo onde os termos “sociedade patriarcal” e “machismo” sejam desconhecidos. Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres. Mudem o futuro das próximas gerações, mulheres! Façam do mundo um lugar melhor para viver, já chega de retrocesso, continuem na luta pelo reconhecimento porque juntas somos mais fortes. Sejamos a revolução. SO. RO. RI. DA. DE Relação de irmandade, união, afeto ou amizade entre mulhe- res, assemelhando-se àquela estabelecidade entre irmãs. União de mulheres que compar- tilham os mesmo ideais e pro- pósitos, normalmente de teor feminista. Equipe Editorial Kelly Lorrana Tayna Vismari
  • 3. 4 5 O FEMININO TAMBÉM CONQUISTA Foto: Kelly Lorrana É um esporte pratica- do majoritariamente por homens e, por conta disso, envolvi- do em um universo completamente machista. Mu- lheres que se arriscam a tentar a sorte no futebol enfrentam dificuldades. As equipes femini- nas lutam para conquistar o seu espaço no esporte, apesar dos treinos em condições precárias, clubes sem patrocínios e a falta de reconhecimento. As meninas do Água San- ta, equipe da periferia de Diade- ma, contam suas dificuldade em ter que provar a sua capacidade dia após dia. “Eu como mulher acho muito complicado e difícil a gente ter que provar que a gen- te tem a mesma capacidade, o mesmo valor e o mesmo direito que o masculino tem”, explica a atacante, Hellen Souza. Em um amistoso que acompanhamos, vimos muitas meninas na faixa etária entre 15 e 23 anos com o desejo de se- rem reconhecidas pelo futebol. “Eu acho que essa falta de visi- bilidade atrapalha e leva muitas KELLY LORRANA ESPORTE meninas a não terem motivação nenhuma. Têm meninas talen- tosas que jogam melhor que os homens não tem o reconhe- cimento que deveria ter, que seria a igualdade de gênero”, completa Hellen. Outro ponto que desmo- tiva essas garotas é a falta de di- vulgação e cobertura nos jogos femininos. Um exemplo foi na primeira rodada da Copa Amé- rica, em abril de 2018, em ple- no ano de Copa do Mundo. As brasileiras venceram as argen- tinas por 3 a 1. Mesmo sendo um clássico do futebol mundial, não houve a transmissão nas grandes emissoras brasileiras. Falta de reconhecimento O time masculino Água Santa conquistou a vaga para a elite do futebol paulista. Nes- sa época a cidade parou para a conquista: a prefeitura promo- veu passeatas e uma grande fes- ta na cidade. Em 2016, o time jogou na elite do futebol paulis- ta. No mesmo ano foi cria- do o projeto do time feminino. Em seu primeiro jogo, a equipe venceu de 10 a 0 o Rio Claro e já mostrou toda a sua qualida- de. Em 2017, o time foi campeão da Libertadores da Várzea após vencer o Luvence por 1 a 0 nos dois jogos da final. Esse título faz com que equipe e treinador ficassem esperançosos em rela- ção a investimentos e patrocínio. “Organizar um time feminino é muito difícil, tenho que ser par- ceiro delas o tempo todo para entender a dificuldade de cada uma. Precisamos de ajuda, os clubes têm que valorizar. Co- mecei a trabalhar nesse proje- to sem recurso, salário e apoio. Conseguimos fazer um bom tra- balho em 2017 e vamos ver o que o clube fará. Se eles investirem no nosso feminino, viraremos uma potência”, diz. Diferente da equipe mas- culina, as meninas do Água San- ta não recebem para defender a camisa do clube, nem ajuda de custo. “O amor ao futebol é o que nos motiva a continuar no clube, nós estamos buscan- do a nossa colocação, mesmo com meninas qualificadas não temos a visibilidade, o mesmo reconhecimento do masculino, jogamos com camisas usadas e cada partida é uma batalha a ser vencida”, declara Hellen. ÍNDICE ESPORTE 5 | O feminino também conquista Time de futebol feminino de Diadema não tem reconhecimento CULTURA 6 | Perfil - Haira Moraes Cantora de barzinho noturno ganha a vida fazendo shows 8 | Mulher na música clássica Orquestra formada apenas por mulheres cresce MODA 10 | Moda agênero Marcas de roupas quebram barreiras de estilos 12 | Todas vestidas de noivas As dificuldades encontradas por noivas plus size CIÊNCIAS 14 | Cresce o número de mulheres cientistas Estudante brasileira do ensino médio ganha concurso da Nasa POLÍTICA 24 | Mulheres na política pelo mundo Ruanda, Cuba e Bolívia lideram ranking de cargos políticos femininos EMPREENDEDORISMO 28 | CEO da Pandora é mulher e negra COTIDIANO 30 | Mulheres no trânsito Motoristas de aplicativos de carro particular contam sua experiência 3 | Carta à leitora Rachel Maia veio de família humilde e enfrentou dificuldades para entrar no mercado de luxo 18 | WE CAN DO IT Morre aos 96 anos inspiradora da obra feminista "We Can Do It", Naomi Parker Fraley Foto: Bill Wagner/The Daily News
  • 4. 6 7 CULTURA Entrevista HAIRA MORAES Foto: Arquivo Pessoal/Facebook E ntrevistamos a cantora chamada Haira Mora- es de 25 anos e ela nos contou um pouco de suatrajetória,comoen- frenta as dificuldades de ser uma cantora na noite paulista, o que almeja para sua carreira e como as mulheres conquistaram o seu es- paço. Qual sua idade? Há quanto tempo canta? 25 anos, tenho mais ou menos uns quatro anos que vivo da mú- sica. Como começou a cantar em bares? Tudo começou com uma brinca- deira. Amigos já tinham que vis- to cantando e tocando em casa e em vídeos amadores, então disseram que eu poderia tentar cantar em barzinhos e ganhar dinheiro fazendo com o que eu realmente amava. Foi quando surgiu uma oportunidade de dar KELLY LORRANA uma palinha em um barzinho, e depois disso eu percebi o quanto eu queria aquilo pra minha vida, pois foi uma das sensações mais prazerosa da minha vida. Então comecei a investir nisso e não parei nunca mais! Como é ser mulher de barzinho noturno? É prazeroso por poder trabalhar com o que eu realmente amo, e ao mesmo tempo muito difícil, pois infelizmente ainda existe muito machismo. Você acha perigoso manter sua profissão em um ambiente machista? Hoje já não é tão perigoso, por- que as mulheres já conquista- ram seu espaço na área artística, isso acabou resultando em um respeito maior. Já sofreu algum tipo de as- sédio físico? Sim, em questão de abraços e o fato de querer tocar e beijar é muito grande, mas algo sé- rio que vai, além disso, graças a Deus nunca aconteceu. Qual o seu maior sonho? Desejo ter uma boa qualidade de vida trabalhando com o que eu mais amo que é a música, e pro- porcionar uma vida melhor para a minha família. Como é o reconhecimento feminino na música? Hoje em dia o reconhecimento feminino na música é mui- to grande, principalmente no sertanejo, porque antigamen- te a maioria eram cantores (homens). Depois dos sucessos das can- toras Marília Mendonça, Simo- ne e Simaria, Maiara e Maraisa etc, as oportunidades em ba- res melhoraram muito. Como você imagina a sua carreira daqui a 10 anos? Eu imagino ser reconhecida na mídia pelo meu talento e ter uma vida estável. Sua família te apoia a seguir carreira de cantora? Sim, no começo eles não levaram a sério, mas depois viram que a coisa ficou séria e que eu realmen- te era feliz vivendo da música. Você tem músicas de sua própria autoria? Como é es- crever para o sertanejo? Não, infelizmente eu nunca ten- tei escrever músicas, eu gosto particularmente dos instrumen- tos musicais, tenho mais criati- vidade tocando neles. Qual foi sua maior realiza- ção na música? Até hoje a minha maior reali- zação na música foi poder fazer uma maratona de quatro dias de carnaval em cidades diferen- tes em Minas Gerais, tive uma boa experiência de cantar para muitas pessoas com uma ban- da maravilhosa. Sem contar o trio elétrico e a energia gostosa que é a galera na época de car- naval. Foi uma grande con- quista. Qual é a sua atitude de mulher empoderada? Acredito que encarar a noitada, e ter o respeito nos bares e fes- tas pela minha profissão, mesmo sendo uma mulher, mostrando que não há diferença entre homens e mulheres e que po- demos fazer o que quisermos. Que conselho você daria para as meninas que que- rem cantar na noite assim como você? Primeiramente acreditar em si mesma e no talento que pos- sui. Em segundo lugar, estudar, correr atrás, se esforçar, pro- curar ser melhor todos os dias e não abaixar a cabeça quan- do desacreditarem de você! Quem acredita sempre al- cança.
  • 5. 8 9 LUGAR DE MULHER É NA MÚSICA CLÁSSICA Foto: Arquivo Pessoal/Facebook KELLY LORRANA As mulheres ficaram mui- to tempo na sombra, inclusive na música clássica, porque a ide- ologia dominante era masculina e as sociedades, patriarcais. Che- gou até a circular como verda- de “científica” que as mulheres eram carentes do pensamento abstrato, indispensável à criação musical. Mesmo assim, houve al- gumas que romperam esse pen- samento até o século 20 trazer, enfim, a “libertação”. No Brasil, uma musicista que sofreu muito com esse preconceito foi Fran- cisca Edwiges Neves, popular- mente conhecida como Chiqui- nha Gonzaga. Em pleno século 19, ela foi a primeira mulher a comandar uma orquestra e a primeira a tocar piano em lojas de música. Compôs sua primei- ra marchinha de carnaval, “Abre Alas” em 1899. Sempre envolvida na mú- sica, brigou por seus direitos autorais em 1917 ela fundou a SBAT (Sociedade Brasileira de Autores Teatrais), sendo esta a entidade pioneira de defesa de direitos autorais no país. Chi- quinha sempre quis mostrar sua força e gostava de evidenciar até onde uma mulher poderia ir se fosse empenhada. “Quan- do estreou como compositora de teatro musicado, a imprensa não sabia como me tratar: ma- estra? Será lícito afeminar esse termo? Perguntaram. Fui a pri- meira mulher a reger orquestra no Brasil, ou melhor, em lín- gua portuguesa. (...) Foi preciso muita coragem, e, graças a Deus, ela nunca me faltou. Trabalhei muito. Fui eu só a mulher que escreveu para o teatro, eu só, sem ter ido estudar na Europa, sem amparo de governos, só e com a mi- nha força de vontade. Fiz o que tinha que ser feito. Se serei lembrada, não sei, o que importa? (...) Hoje e sempre: liberdade com dig- nidade através do trabalho, muito trabalho”, dizia Chi- quinha. Atualmente o projeto La- dies Ensemble continua rompendo barreiras na mú- sica clássica e mostra que as mulheres também podem fazer parte do mundo da música erudita. Ladies Ensemble O projeto Ladies Ensem- ble nasceu em 2008 e foi ideali- zado pela diretora Fabíola Bach Akel. No início era um quarteto de cordas, mas já em 2009 tor- nou uma orquestra profissional formada só por mulheres. O gru- po participou de várias apresen- tações nos principais palcos de Curitiba como no Teatro do Mu- seu Oscar Niemeyer e ao redor do Estado. Em 2013, o grupo parti- cipou do Projeto de cultura ita- liana Mia cara Curitiba, dando início a parceria com a Unicul- tura, e na sequência, veio o pro- jeto Concerto das Rosas, que já percorreu diversas cidades do Brasil. A orquestra tem por ob- jetivo apoiar e divulgar a mulher instrumentista e o grupo ressal- ta que detestam quando alguém se refere à aparência delas para falar dos concertos. Violino, viola, acordeão, contrabaixo, piano, percus- são, violoncelo, oboé e gaita são tocados em pé, com direito a um balanço aqui e outro ali. O projeto tem feito sucesso e ano passado o grupo encheu o prestigiado Guairão em dois eventos, no Concerto das Ro- sas e no Carmen. Ainda com todo esse sucesso ainda existe alguma resistência do públi- co em relação à música clás- sica: “Quando você fala em con- certo, a pessoa dá até um passo para trás”, afirma Akel, em en- trevista a UOL. Mesmo com toda pre- sença feminina, os compo- sitores, o maestro e o arran- jador ainda são homens. Foto: Arquivo Pessoal/Facebook
  • 6. 10 11 MODA VOCÊ SABE O QUE É MODA AGÊNERO? M oda agênero é uma moda sem especi- ficação de femini- no ou masculino. A função do termo é uma roupa feita para ambos os sexos. Sabe aquela camisetona larga que você compra na seção masculina? Pois, então! Essa é a chamada moda sem gênero. E não, ela não surgiu recentemen- te. Como toda boa tendência, a moda é cíclica, saindo e entran- do como febre novamente. Muitas marcas famo- sas começaram a fazer uso de roupas unissex, tanto nas vitri- nes como nas passarelas, como Gucci, Hermès, Saint Laurent e Zara. Algumas marcas brasilei- ras também entraram no con- ceito de moda agênero: Trendt, Cemfreio, Pangea, Approve e é bom citar também a Matiz, uma loja de roupa infantis e para be- bês, sem papo de “rosa para me- nina e azul para menino”. A apresentadora e come- diante, Ellen Degeneres, criou uma marca com o nome de “ED”. A marca traz camisetas, blazers, jaquetas e suéteres sem gênero definido. “Estamos aprendendo muito sobre gênero, sexualidade e fluidez, e eu acho que isso tem de se misturar e espalhar para o mundo da moda”, contou a apre- sentadora ao Refinery 29. A Sharpe, marca famosa de ternos em Los Angeles, foi criada há duas décadas e traba- lha com o slogan: “Nós acredi- tamos que é o seu terno que deve se encaixar em você independente do seu tipo de corpo, gênero ou iden- tidade. E não o contrário”. Sharpe ganhou a mídia em 2017, quando fez sob medida um ter- no para uma adolescente ir à formatura do colegial, após sua escola proibi-la de dançar valsa TAYNA VISMARI A primeira vez que o mundo da moda quebrou os padrões impostos de moda por gênero foi em 1920, com a pioneira Coco Chanel vestindo roupas mas- culinas. Chanel teve esse olhar visionário, numa época em que todas mulheres vestiam saias e vestidos, preferindo trazer para o closet feminino um estilo mais prático e confortável como as roupas masculinas. A calça pantalona e a ca- miseta bretão (ambas inspiradas nos uniformes da marinha fran- cesa) foram as primeiras peças masculinas a desfilarem por mu- lheres na passarela. Coco Chanel revolucionou a moda do século XIX libertando a mulher dos trajes desconfortavéis e rígidos. Foto: Getty Images/Cecil Beaton O intuito da moda agênero é incluir estilos e modelos de roupas para todas as pessoas se ves- tirem de modo que melhor entenderem, e deixar explicíto que roupa não tem o poder de identificar o gênero de alguém. Calça pantalona, antigamente. Calça pantalona, hoje. por causa da roupa, levando en- tão a jovem a ganhar o apoio da internet. A moda tem o objetivo de te fazer sentir bem consigo mes- ma vestindo o melhor tipo de roupa que te agrade, e daí sur- ge o movimento agênero após designers e marcas perceberem que criavam barreiras e excluí- am pessoas que se identificavam com outros estilos e gostos. Jaden Smith, filho do ator Will Smith, posou de jaqueta de couro e saia na campanha pu- blicitária da Louis Vuitton de 2016 para dar força ao movi- mento. Coco Chanel
  • 7. 12 13 TODAS VESTIDAS DE NOIVAS KELLY LORRANA S e a sociedade segue um padrão, alguns segmentos dentro dela, infelizmente, continuam pelo mesmo caminho. No ramo dos casamentos, por exemplo, isso che- ga a ser chocante. São incontáveis as páginas na internet que ensinam dietas para que futuras noivas per- cam peso até a cerimônia é só pes- quisar dieta e casamento no Google que aparecem receitas milagrosas de emagrecimento. Além disso, modelos con- sideradas plus size dificilmente são escolhidas para campanhas publici- tárias de moda noiva, à medida que encontrar o vestido dos sonhos, em tamanhos grandes, seja para se casar ou ir a uma festa, costuma ser uma verdadeira saga, pois é necessário paciência, dinheiro de sobra e, mui- tas vezes, a confecção de um mode- lo sob medida. Os padrões estão aí para serem quebrados, e é possível, sim, amar seu corpo do jeitinho que ele é sem ter de transformá-lo por pura estética ainda mais para uma ocasião especial (e passageira). Em fevereiro deste ano aconteceu uma confusão na loja de noivas RK Bridal, em Manhattan,- noivas fazendo fila para experimen- tar vestidos, consultoras correndo pela loja com apetrechos de costura para alterações, mães aflitas preocu- padas com as filhas. Na verdade, as principais atrações não eram as noivas, mas os vestidos em exibição naquele dia: seis modelos novinhos (de um total de quinze) criados por Justin Ale- xander especialmente para as mu- lheres fora dos padrões que usam da Foto: Arquivo Pessoal/ Facebook Foto: Divulgação/Série Noivas Plus Size numeração 48 para cima. O estilista estava presen- te para exibir os novos trabalhos e promover sua campanha “Be You” (“Seja Você”), cuja coleção que bus- ca atender noivas de diferentes esti- los de corpos que desejam acentuar suas curvas com elegância no gran- de dia. “Uma garota plus size não quer ficar limitada à escolha de um ou dois modelos tradicionais; ela quer moda, quer detalhes in- teressantes, mas não pode nem experimentar porque não há nada no mercado, afirma o estilista em entrevista ao The New York Ti- mes. Alexander, reconhecido por sua inspiração vintage e detalhes progressistas, também fez mudan- ças mínimas. “O padrão dos nossos vestidos geralmente é o mesmo, seja em 36 ou 46. Para os números maio- res talvez seja preciso reforçar ou ampliar algumas áreas, como o qua- dril ou a manga. O forro é de uma malha que beneficia a noiva plus size, pois adere e segura às curvas”, completa ele. Com isso, são as con- sumidoras que têm que brigar pelas mudanças. “O plus size na passare- la nada mais é que uma necessida- de motivada pela consumidora, e não uma tendência. Até agora havia lojas que ou forneciam para a noi- va média, ou para as plus size; não existiam muitas que ofereciam as duas opções", expressa.
  • 8. 14 15 CIÊNCIAS NÚMERO DE MULHERES NA CIÊNCIA CRESCE TAYNA VISMARI E stamos acostuma- dos a ler sobre ho- mens quando o as- sunto é “ciências”. Em 2015, um estu- do feito pelo Censo da Educação Superior - INEP constatou que apesar do número de mulheres graduadas representar 60%, quando os cursos são da área da ciências: biologia, farmácia, engenharias, matemática, me- dicina, física, química, ciência da computação, entre outros, a participação feminina cai para 41%. No entanto, apesar dos números desanimadores, de acordo com uma pesquisa de 2017 realizada pela Editora El- sevier, referência em produção científica no mundo, retrata que Brasil e Portugal têm os maiores percentuais da participação fe- minina em pesquisa científica, quantificando 49% entre o quin- quênio 2011-2015. O Brasil que no quinquê- nio 1996-2000 estava quantifi- cado em 38% de pesquisas feitas por mulheres, hoje empata com Portugal, e ganha num ranking se comparado a outros países. O estudo Gender in the Global Research Landscape (Gênero no Cenário Global de Pesquisa) mede o desempenho da pesquisa e representação de gênero em 12 países, e mostra que Austrália, Brasil, Canadá, Dinamarca, União Europeia, França, Portugal, Reino Unido Foto: Arte/Kelly Lorrana CAROLINA MOTTER CA- TARINO A pesquisadora brasileira ga- nhou destaque internacional pelo seu trabalho com modelos de pele humana reconstituída em 2017. A cientista fez suces- so após vencer o The 2017 Lush Prize, prêmio da Lush, empresa britânica de cosméticos, para promover cientistas que traba- lhem em prol do fim do uso de animais na pesquisa. O valor que recebeu, 45 mil reais, se- rão investidos na sua formação como cientista. FERNANDA WERNECK Bióloga brasileira ganha prêmio global da UNESCO para Mulhe- res na Ciência, em 2016. “Foi uma honra poder representar o Brasil na cerimônia de premia- ção do For Women in Science! Estive ao lado de mulheres in- casos de SUCESSO críveis e fiquei fascinada com o discurso das cinco laureadas. Mulheres na Ciência têm real- mente MUITO poder de mudar o mundo”, disse a pesquisadora goiana. Werneck foi uma das 15 cientistas homenageadas pelo International Rising Talents, premiação global oferecida pela Fundação L’Oréal, em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ci- ência e a Cultura - Unesco. O foco de seu trabalho é estudar os efeitos das mudanças climáticas na vida animal, sobretudo em répteis e anfíbios, espécies estas mais sensíveis às variações das temperaturas, provocadas pelo aquecimento global. O prêmio Rising Talents é uma iniciativa que tem como objetivo principal impulsionar o trabalho de mu- lheres, jovens cientistas promis- soras, até que se tornem pesqui- sadoras reconhecidas em todo mundo. Cada uma delas rece- bem uma bolsa-auxílio para suas pesquisas de 15 mil euros, cerca de 50 mil reais. Fernanda foi es- colhida na categoria “Estudando o passado para trazer luz para o futuro”. Fernanda estuda tanto a Amazônia, como o Cerrado, para tentar compreender mais sobre a capacidade de adaptação e so- brevivência da fauna nesses dois biomas brasileiros. e Estados Unidos igualam ou ultrapassam 40% de pesqui- sas por mulheres, enquanto apenas Chile, México e Japão têm participação de mulheres na produção científica abaixo desse percentual, sendo Japão o país com a média mais baixa que representa 20% de mulheres e 80% de homens. “O Brasil evoluiu bem em termos de presença feminina na pesquisa científica. No primei- ro quinquênio pesquisado, já havia uma participação impor- tante e nesse último quinquênio, a participação feminina pulou para 49%, colocando o Brasil em primeiro lugar junto com Portugal”, disse o vice-presiden- te de Relações Acadêmicas para a América Latina da Elsevier, Dante Cid. Na análise feita pela El- sevier, pode ser visto que o Bra- sil está quase em empate técni- co em relação aos homens, que aparecem com 51% na pesquisa. Também revela que a presen- ça das mulheres nas pesquisas científicas é muito maior que a masculina em áreas ligadas à saúde, como medicina, bioquí- mica, genética, odontologia e en- fermagem. Enquanto os homens lideram as ciências exatas, como engenharia, física, computação, energia e ciências econômicas. Ainda foi relatado que 24% das mulheres se dedicam à medicina, enquanto homens representa 17%, ou seja, 80,6 mil mulheres e 65 mil homens, em números absolutos. Com isso, o represen- tante da Elsevier calcula que no próximo quinquênio a ser analisado, a participação de mulheres na produção cientí- fica brasileira deve ultrapas- sar os homens, em especial na área de saúde.
  • 9. 16 17 casos de SUCESSO RAFAELA FERREIRA Professora de Bioquímica e Imu- nologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ga- nhou a versão brasileira do prê- mio da Unesco, “Para Mulheres na Ciência”, em 2017. Rafaela recebeu uma premiação de 15 mil euros para dar continuidade a uma pesquisa que busca de- senvolver medicamentos para o tratamento do vírus da Zika e da doença de Chagas. THAISA STORCHI BERG- MANN É uma das vencedoras do prê- mio internacional L’Oréal-U- nesco Para Mulheres na Ciência (“For Women in Science”). Pro- fessora em Porto Alegre e espe- cialista em física e astronomia, a cientista foi escolhida pelo trabalho que levou ao entendi- mento de como buracos negros maciços se formam nos centros casos de SUCESSO JOANA D’ARC FÉLIX DE SOUZA A cientista superou o preconcei- to para se tornar cientista, PhD em química pela Universidade de Harvard, dos Estados Uni- AMANDA SILVA A estudante do ensino médio re- cebeu, no fim de 2017, o prêmio “Cassini – Cientista por um dia”, por um artigo científico enviado para a NASA. A jovem foi sele- cionada para participar de um curso em Huston, nos EUA, que vai colocá-la na rotina de um as- tronauta da agência espacial de lá. Amanda criou uma espécie de “vakinha” virtual, em dezembro de 2017, para arrecadar os R$ 12 mil que precisava para viajar até o dia 15/07/2018. Decidida a ser astrônoma desde os nove anos de idade, Amanda é a única es- tudante do Estado de São Paulo a participar do curso na NASA (outros 30 alunos de escolas do Nordeste devem participar do treinamento). A capacitação acontece em julho. das galáxias, como evoluem e as moldam. “Fico muito feliz e realizada por ter meu trabalho reconhecido, tanto como cientis- ta como mulher. Faz sentir que minha dedicação valeu a pena”. Suas descobertas são essenciais para o conhecimento sobre este fenômeno que, como muitas pessoas acreditam, poderia con- ter o segredo de uma das ques- tões mais misteriosas da história da humanidade: como o univer- dos. Hoje, ela soma 56 prêmios na carreira, com destaque para a eleição de “Pesquisadora do Ano” no Kurt Politizer de Tec- nologia de 2014, concedido pela Associação Brasileira da Indús- tria Química (Abquim). Desde 2008, ela também é professora da Escola Agrícola de Franca, cidade do interior de São Paulo, e molda novas gerações a segui- rem sua trajetória inspiradora. Entre os projetos de Joana e sua equipe estão o desenvolvimento de uma pele similar à humana a partir da pele de porcos, propor- cionando o abastecimento dos bancos de pele especializados e de hospitais e um barateamento no custo das pesquisas; e a cria- ção de um “cimento ósseo”, feito a partir de escamas de peixes e colágeno de curtume, que pode favorecer o crescimento de novo tecido ósseo por pessoas que pessoas perderam parte dele e é absorvido pelo organismo sem rejeição. so se formou. As notáveis des- cobertas de Thaisa contribuirão para a ciência avançar de forma significativa na compreensão da formação do universo e sua re- putação mundial vem de suas contribuições para o nosso en- tendimento dos buracos negros, cujos misteriosos espaços no universo não podem ser vistos diretamente, mas que têm uma força gravitacional tão grande que chegam a “engolir” matéria. Entre suas descobertas revolu- cionárias, ela foi a primeira pes- quisadora a discernir o padrão de movimento de um disco de matéria acumulada que havia se formado em torno de um bura- co negro supermaciço, um passo muito importante para o avan- ço da nossa compreensão sobre como ele se comporta. Ela também foi a primeira a mostrar que gás e poeira pode- riam ser absorvidos por buracos negros.
  • 10. Nóspodemos fazer isso We Can Do It! de J. Howard Miller, 1943. Conheça a musa inspira- dora da famosa imagem de empoderamento fe- minino nos tempos de guerra Sabe a famosa imagem que circula na mídia como uma das mais conhecidas do movi- mento feminista? A imagem “We Can Do It!”, que significa “Nós podemos fazer isso!”, é a frase bordão que chama a atenção do público. Você conhece a verdadeira história da imagem? Ao contrá- rio do que muitos pensam esse cartaz não foi utilizado na época para o empoderamento femini- no. A real intenção do artis- ta responsável pela criação, J. Howard Miller, em 1943, que se inspirou numa fotografia de um fotógrafo da United Press Inter- national, foi divulgar a guerra dos Estados Unidos para a fá- brica Westinghouse Electric Cor- poration para atrair mulheres americanas para trabalhar fora de casa durante a guerra. 1918 TAYNA VISMARI CAPA
  • 11. Naomi Parker Naomi Parker Fraley, em 1942, com apenas 20 anos, trabalhava em uma estação Naval na Califórnia quando foi fotografada pelo desconhecido fotógrafo que inspirou Howard Mil- ler a criar o cartaz de guerra. Parker começou a trabalhar na estação de aérea naval em Alameda, na Califór- nia, como garçonete, mas permitiram que ela se tornasse uma das primeiras mulheres operárias antes do ataque japonês em Pearl Harbor, no final de 1941. No entanto, a história contada não foi sempre essa. Até 2015, acre- ditava-se que a musa inspiradora da foto era Geraldine Hoff Doyle, que trabalhou em uma fábrica em Mi- chigan. Naomi só descobriu 30 anos depois que sua foto inspirou a famo- síssima imagem. é notável que somente em períodos de guerra a ideologia de gênero é parcialmente esquecida, passando a não diferenciar “trabalho de homem x trabalho de mulher” para atender a interesses financeiros e de guerra. Com isso, a maior participação femi- nina na esfera extra-doméstica, ou seja, fora do lar, é durante as guerras, sobretudo nas duas grandes guerras mundiais. A moça da imagem de olhar determinado, a manga da camisa arregaçada com um bíceps musculoso à mostra e cabelo preso a um lenço foi nomeada de Rosie the Riveter (Rosie, a rebitadeira). Após o período Historicamente, de guerra, foi esquecida completa- mente. O cartaz foi recuperado num artigo sobre a coleção dos arquivos nacionais, intitulado Poster Art for Patriotism’s Sake e foi publicado na Washington Post Magazine, em 1982. Foi assim que a imagem ficou famosa, sendo considerada um sím- bolo da força de trabalho feminina durante a guerra, tornando-se uma das representações mais usadas pela luta feminista. Rosie, a rebitadeira, se tornou um ícone para as mulheres, passando a ideia de que “sim, nós mulheres podemos fazer isso!”, sendo o “isso” as atividades “exclusivas” aos homens. 20 21
  • 12. “Eu não podia acreditar que era eu na foto, mas havia o nome de outra pessoa na legenda: Geral- dine. Fiquei es- pantada”, disse à revista People em 2016. Naomi à esquerda, sua irmã no centro, e outra operária à direi- ta, 1942 O erro foi reconhecido pela própria Naomi quando, em 2009, foi com a sua irmã a uma convenção das operárias norte-americanas homenagea- das pelo seu trabalho durante a Segunda Guerra Mundial. Foi então que Naomi viu a sua fotografia no Memorial Rosie, no Museu Nacional de História em Richmond, na Califórnia, e percebeu que o retrato as- sociado ao cartaz identificava Geraldine Doyle como a mulher fotografada. No regresso à casa, Na- omi e a sua irmã procuraram uma outra foto capturada no mesmo dia, pelo mesmo fotó- grafo. A fotografia foi capa em alguns jornais. Naomi tinha guardado um desses exemplares e enviou-o ao Museu Nacional de História para provar a sua identidade. A capa do jornal mostra Nao- mi, a sua irmã, Ada Wyn Loy, e uma terceira operária nas imediações da Base Aeronaval de Alameda. Foi o início da luta pela recuperação da identidade da verdadeira “Rosie”, mas não obteve resultado. Em 2010, e depois da mor- te de Doyle, o professor univer- sitário James Kimble, da Seton Hall, decidiu dedicar-se a uma investigação para conferir se a identidade de “Rosie” dedicada nos obituários de Doyle tinha sido alguma vez verificada. Na sua investigação, que durou quase seis anos, acabou encon- trando uma das cópias da foto- grafia que acrescentava a data e a localização do momento captado, com a legenda: “Pare- ce que o nariz da bonita Naomi Parker pode ser apanhado pelo torno mecânico enquanto está a trabalhar. As mulheres usam vestuário seguro e não roupas femininas. E as raparigas não se importam. Estão a fazer o seu trabalho. O glamour é se- cundário neste momento”. O professor encontrou Na- omi, finalmente, em 2015. E ela foi reconhecida como a verda- deira inspiradora do cartaz. Em setembro de 2016, Naomi posou para a revista People, recriando a famosa imagem, com seus 95 anos. “As mulheres desse país atualmente precisam de alguns ícones. Se elas acham que eu sou um, então fico feliz com isso”, disse à publicação. Naomi, considerada gran- de ícone feminista, morreu aos 96 anos, no dia 20 de janeiro de 2018. Apesar da demora, ga- nhou seu devido reconhecimen- to e hoje muitas mulheres que exercem trabalhos considerados masculinos se inspiram nela. 22 23
  • 13. 24 25 POLÍTICA MULHERES NA POLÍTICA PELO MUNDO Quando se fala de mulher na política, é nítido que a desi- gualdade de gêne- ro está em grande peso nessa categoria. De acordo com uma pesquisa realizada em 193 países pela União Interpar- lamentar Internacional - UIP, até o dia 1 de abril de 2018, os dados cujo países foram classifi- cados levando em consideração o número de assentos ocupados por mulheres nas duas casas, sendo Câmara ou Senado de seus respectivos congressos, compro- vam que a maioria dos países é regido por homens. O país que ficou em primeiro lugar foi Ru- anda com a maior porcentagem de mulheres em cargos políticos, sendo 49 dos 80 lugares ocupa- Brasil A luta das mulheres brasileiras pelo es- paço político sem- pre existiu. O voto feminino se tornou direito nacional em 1932 durante o governo de Getúlio Vargas, quase 40 anos depois da Nova Zelândia, pri- meiro país a ter voto feminino, em 1893. Também puderam se candi- datar a cargos políticos, mas só em 1965 que os direitos e obrigações eleitorais foram igualados entre os homens e as mulheres. Dilma D ilma Rousseff foi a 36ª presidente do Brasil, em 2011, sendo a primeira mulher eleita a che- fe de Estado, que sucedeu o ex- -presidente Lula, ambos do Partido dos Trabalhadores - PT. Dilma nasceu em 14 de de- zembro de 1947 e foi criada num ambiente de classe média alta, com um pai advogado e uma mãe profes- sora. Ela frequentava escola parti- cular e foi no ensino médio que co- nheceu e se interessou por política, batendo de frente contra a ditadura militar de 64 no Brasil. Durante o período de dita- dura, a ex-presidente foi integrante dos grupos Colina (Comando de Li- bertação Nacional) e a VAR-Palma- res (Vanguarda Armada Revolucio- nária Palmares) ambos marxistas. Ela era a responsável por planejar ações, guardar documentos e guar- dar armas, e participava de encon- tros secretos sobre o socialismo. Apesar de não ter participado dire- tamente das lutas armadas, Dilma foi descoberta e foi para diversos lu- gares, como São Paulo, Rio de Janei- ro e Rio Grande do Sul para fugir da perseguição da polícia e do Exérci- to. Ela foi encontrada e julgada pelo tribunal militar sob a acusação de defender a luta armada e ser contra o regime militar. Com isso, cumpriu pena de 1970 a 1972, em São Paulo. Enquan- to esteve na prisão, sofreu torturas, como sessões de pau-de-arara, cho- ques elétricos, socos e palmatória durante 22 dias. Também teve os direitos políticos cassados. Quando o país foi redemocratizado, denun- ciou as torturas em processos judi- ciais, sendo indenizada pela Secre- taria de Direitos Humanos do Rio de Janeiro. Dilma cursou faculdade de Economia na Universidade Fede- ral do Rio Grande do Sul (UFRGS), após sair da prisão e ir morar com seu marido, Carlos Franklin Paixão de Araújo, com quem teve sua única filha, Paula Rousseff Araújo. Dilma passou a maior par- te de sua vida profissional política antes de chegar à presidência junto com seu marido, quando atuou na fundação do Partido Democrático Trabalhista (PDT). Foi assessora de bancada do PDT de 1980 a 1985. Em 1986, é nomeada como titular da Se- cretaria de Fazenda de Porto Alegre. Atuou na campanha de Leonel Bri- zola à Presidência da República em 1989, em dois turnos. No segundo turno, o PDT apoiou o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva. O ven- cedor do pleito foi Fernando Collor de Mello, do Partido de Reconstru- ção Nacional (PRN), logo depois afastado por Impeachment. Entre 1990 e 1993, Dilma permaneceu no secretariado do go- verno do Rio Grande do Sul. Foi se- cretária de Minas, Energia e Comu- nicação do estado gaúcho durante o governo petista de Olívio Dutra, iniciado em 1998. Já filiada ao PT, TAYNA VISMARI dos por elas. Na sequência, apa- recem Cuba, em segundo lugar, e Bolívia, em terceiro. O Brasil ocupa o 152º lugar, com apenas 55 cargos ocupados pela presen- ça feminina dos 513 disponíveis. Em último lugar estão países como Omã, com 85 parlamentares e uma única mulher, e Ilhas Salomão, com 50 lugares e apenas uma mu- lher. Zeram na lista a Confederação de Estados da Micronésia, com 14 representantes e nenhuma mulher, e também Papua Nova Guiné e Vanu- atu. O fato que chocou nessa pes- quisa quantitativa é quem quando o assunto é proporção de mulheres na Câmara e no Senado, o Brasil perde para o Afeganistão (54º lugar), um país extremista, que vive em guerra e não é permitido que a mulher saia às ruas sem a presença de um ho- mem. Além disso, mulheres soltei- ras não conseguem tirar passaporte, não fazem documento de identida- de e nem viajam sozinhas. Em um estudo do Instituto de Economia e Paz - IEP sobre os países mais pe- rigosos do mundo, o Afeganistão aparece em quarto lugar. Enquanto 27,4% dos representantes do con- gresso afegão são mulheres, aqui elas ocupam apenas 11,2% dos car- gos parlamentares. O Afeganistão não é um exemplo de nação demo- crática, mas mesmo assim estão à frente de países progressistas, como a França, a Austrália e o Uruguai. No Brasil, são quase 200 anos de história de luta pela partici- pação política das mulheres e ainda temos muito a enfrentar pela igual- dade de gênero. 1933 1935 19581815 1822 1870 1929 A primeira mulher Chefe de Estado na História do Brasil foi D. Maria I, Rainha Reinante do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves (1815-1822); A terceira mulher Chefe de Estado na história do Brasil foi D. Isabel, Regente do Brasil em vários períodos (1870 — 1871, 1876 — 1877 e 1887 — 1888). Diploma de Vereadora de Nilda Iris Vaz Borges, expedido pela zona eleitoral de Patos de Minas no ano de 1912; Em 1929, Alzira Soriano conquistou 60% dos votos em eleição indireta e tornou-se prefeita de Lajes, no Rio Grande do Norte. Foi a primeira mulher da América Latina a assumir o governo de uma cidade; 1912 Em 1933, Carlota Pereira de Queirós tornou-se a primeira deputada federal brasileira por São Paulo; Em 1935 Maria do Céu Fernandes foi eleita para a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte; Em 1947, Tereza Delta tornou-se prefeita de São Bernardo do Campo; 1947 Em 1958, Aldamira Guedes Fernandes torna-se prefeita de Quixeramobim, no Ceará. Pela primeira vez, uma mulher assumia o cargo por meio do voto livre; 1979 Em 1979, Eunice Michiles tornou-se a primeira senadora do Brasil; 1982 1989 1990 1994 2006 2010 20181986 Entre 24 de agosto de 1982 e 15 de março de 1985, o Brasil teve a primeira mulher ministra de Estado, Esther de Figueiredo Ferraz, ocupando a pasta da Educação e Cultura; Em 1986, Iolanda Fleming se tornou a primeira mulher a governar um estado brasileiro - Acre; Em 1986, Maria Luíza Fontenele tomou posse como a primeira mulher prefeita de uma capital estadual brasileira - Fortaleza; Em 1989, ocorre a primeira candidatura de uma mulher para a presidência da República. A candidata era Lívia Maria Pio, do PN (Partido Nacional); Em 1990, Zélia Cardoso de Mello foi empossada como a primeira e única mulher a ocupar o cargo de ministra da Fazenda; Em 2006, Micarla de Sousa foi eleita pelo PV e em empossada em 2007, como prefeita de Natal; Em 2018, a presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, assumiu a presidência da República interinamente.
  • 14. 26 27 é escolhida para o cargo de Minis- tra de Minas e Energia do governo de Lula, em 2003. Em 2005, com a queda de José Dirceu, Dilma passou a chefiar a Casa Civil, cargo pos- teriormente entregue à secretária- -executiva da pasta, Erenice Guerra. Em 2010, Dilma elegeu-se pelo PT para a Presidência do país, sendo a primeira mulher a assumir o Palácio do Planalto. Apesar das denúncias do Mensalão contra o PT, Dilma foi eleita pela maioria de votos. Tinha 63 anos quando assumiu a Presi- dência em 2010, juntamente com o vice, Michel Temer. A chapa venceu o candidato do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), José Serra. O primeiro mandato da pre- sidente foi iniciado em janeiro de 2011 e concluído em dezembro de 2014. Contudo, nesse meio termo, em 2013 enfrentou diversos protes- tos realizados em todo o país, mar- cados por críticas direcionadas aos políticos em geral e aos integrantes dos três poderes: Executivo, Legis- lativo e Judiciário. As manifestações de rua duraram até a realização da Copa do Mundo de Futebol, quan- do a presidente foi vaiada ao chegar para a abertura dos jogos. Foi eleita novamente em 2014, com 55,7 milhões de votos. Disputou a eleição no segundo tur- no com Aécio Neves, também do PSDB. Foi um momento marcado pelo declínio do PIB, crescimen- to da inflação e início das inves- tigações da operação Lava Jato, envolvendo a Petrobras, políticos, empreiteiras e empresários. Dilma assumiu seu segundo mandato em 1º de janeiro de 2015, enfraquecida pela crise econômica aguda e pelas denúncias que atingiam os partidos que a apoiaram. A partir de feve- reiro, sua popularidade entrou em declínio por todo o país e começa- ram as manifestações conhecidas como “panelaço”. Em dezembro de 2015, o então presidente da Câma- ra dos Deputados, Eduardo Cunha, deu início ao processo que pedia o impeachment de Dilma, assinado pelos juristas Hélio Bicudo, Janaina Paschoal e Miguel Reale Júnior. No dia 17 de abril de 2016, a Câmara dos Deputados autorizou o Senado a instaurar o processo. Em maio do mesmo ano, o Senado autorizou a abertura do processo de impeach- ment e determinou o afastamento da Presidência da República por 180 dias, com 55 votos favoráveis e 22 contrários. Acusada de improbi- dade administrativa, Dilma foi afas- tada pelo Senado Federal em agosto de 2016, após seis dias de julgamen- to com intensos debates, por 61 votos a favor do impeachment e 20 votos contra, do cargo de presidente da República. Em seu lugar assumiu o vice-presidente Michel Temer, do PMDB. No entendimento da maio- ria dos senadores, o crime pelo qual a presidente foi condenada ficou conhecido como "pedaladas fiscais", operações orçamentárias realizadas pelo Tesouro Nacional não previstas na legislação, que consistem em atrasar o repasse de verba a bancos públicos e pri- vados com a intenção de aliviar a situação fiscal do governo em um determinado período, apresen- tando melhores indicadores eco- nômicos ao mercado financeiro e aos especialistas em contas pú- blicas. CONHEÇA AS MULHERES PRÉ-CANDIDATAS À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA EM 2018 Foto: Joana Berwanger/Sul21 Foto: Edilson Rodrigues/CB/D.A Press A ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, do partido Rede Sus- tentabilidade fundado por ela própria, é candidata à Presidência. Terceira colocada em 2014, quando recebeu cerca de 20 milhões de votos. Marina disputou as duas últimas eleições presidenciais, uma pelo Partido Verde (PV) e outra pelo Partido Socialista Bra- sileiro (PSB). Ela começou a carreira política no Partido dos Trabalhadores (PT). A deputada estadual gaúcha, Manuela D’Ávila, do Partido Comunista do Brasil (PC- doB), é candidata à Presidência. Manuela, aos 26 anos, é jornalista de formação e foi a vereadora mais jovem da história de Porto Alegre, eleita aos 23 anos. Apesar de ter sido deputada federal por dois mandatos e líder do PCdoB da Câmara, Manuela não é um nome conhecido em todo o país. Atualmente, é uma das principais vozes políticas em defesa do ex-presidente Lula.
  • 15. 28 29 EMPREENDEDORISMO CEO DA PANDORA É MULHER E NEGRA TAYNA VISMARI Foto: Deco Cury/Estilo R achel Maia, 46, é a fi- lha caçula de sete ir- mãos de uma família humilde. Sua histó- ria não foi um conto de fadas até se tornar CEO de uma das maiores joalherias do mundo. Rachel, além de vir de uma famí- lia negra, é mulher e apenas 16% de mulheres, registrado em 2017, segundo a pesquisa International Business Report (IBR) – Women in Business, da Grant Thornton, pos- suem cargos de liderança no país. “O luxo é loiro, magro e tem olhos azuis. Como eu vim parar aqui? Não é fácil!”, disse, em entrevista para a Revista Exame. Rachel faz questão de exal- tar que é negra e contar a sua his- tória em todas as entrevistas, reuni- ões e palestras que dá ou participa. “Eu sou hoje a precursora de mui- tas mulheres negras ou que se sen- tem desprestigiadas dentro de uma sociedade, e ter uma heroína! Não necessariamente que eu sou, mas eu represento bem”, disse em entrevista para o canal do Youtube Programa Mulheres Positivas. A CEO da Pandora relembra que, quando criança, em sua casa um frango assado tinha de ser o su- ficiente para alimentar onze pesso- as, porque, além dos sete filhos, dois primos moravam com a família. Rachel conta sua gratidão pelo seu pai que, apesar de não ter recursos financeiros, obrigou que todos os fi- lhos fizessem faculdade para poder sair de casa, e foi assim que sua tra- jetória começou. Rachel se formou em Ciên- cias Contábeis pela FMU e traba- lhava na 7-Eleven, em 1990, uma empresa americana com uma ca- deia de lojas de conveniência em vários países. A empresa, na época, deixou o país e então Rachel usou o dinheiro de sua rescisão para via- jar ao Canadá para estudar inglês e fez um curso de administração. Ao voltar ao Brasil dois anos depois, tornou-se gerente financeira da No- vartis, grupo farmacêutico onde ela trabalhou cerca de quatro anos e seus únicos interesses se limitavam em farmacêutica e automobilística. Rachel ainda passou um tempo nos EUA morando com seu irmão em Miami, enquanto trabalhava na No- vartis americana, e acabou fazendo um curso de liderança e negócios na Harvard. A empreendedora sempre foi apaixonada por artes e enquan- to estava nos EUA descobriu que a filha de um de seus pintores favori- tos, Paloma Picasso, estaria no Bra- sil para lançar a linha de joias com a Tiffany & Co., uma das joalherias mais tradicionais do mundo, pela primeira vez em nosso país. Foi aí o seu primeiro contato com o mundo do luxo, porém ela não tinha inte- resse nenhum no ramo. Em 2000, um headhunter descobriu que a Ti- ffany buscava uma mulher especia- lizada em contabilidade e capaz de falar inglês e sugeriu para que Ra- chel participasse do processo seleti- vo. “Eu não queria aquele emprego, mas decidi que, se as outras empre- sas não entrassem em contato, acei- taria”, comenta Rachel em entrevista com a Exame. Foi então que Rachel foi aprovada e passou quase oito anos trabalhando como diretora fi- nanceira da Tiffany & Co. Em 2008 a futura CEO foi abordada por um representante de uma das maiores joalherias do mundo, nos dias de hoje, a Pandora, com o desafio de trazer a joalheria dinamarquesa para se instalar no Brasil. “Tive o desafio de aplicar o conceito de uma joalheria AAA, uma das maiores do mundo, em um mercado em que as pessoas ainda não entendiam o que era a Tiffany. Foi um desafio, primeiro porque no caso da Pandora estava trazendo uma marca, enquanto a outra joa- lheria estava totalmente estabeleci- da”, conta em entrevista ao Correio 24h, jornal Baiano. Rachel se tornou CEO da Pandora, em 2009, no país e desde então obteve sucesso no negócio de luxo. Se em 2009 eram dois pon- tos de venda, hoje a Pandora soma 92, entre franquias e lojas próprias, além do canal de e-commerce. Ra- chel pretende expandir a joalheria em 2018, além de ter a ambição de fazer com que a liderança femini- na vire realidade no Brasil. "Faltam mulheres nas mesas de decisão, falta diversidade. É uma mudança de cul- tura, mas alguém tem de começar a fazê-la”, conta em entrevista para a Revista Época. Como ativista, Rachel tra- balha com a ONU Mulheres e com a campanha HeForShe, criada pela atriz Emma Watson, e está prepa- rando para 2018 um projeto vol- tado para a capacitação de jovens mulheres da periferia para o varejo. “Eu quero me dedicar mais ao social em 2018. Quero tangibilizar aquilo que eu defendo tanto. Esse mercado que tanto me ajudou, que é o varejo, eu quero prestigiá-lo, capacitando pessoas para entrar dentro deste mercado. Espero contar com o SE- NAC, SEBRAE”, contou ao Mulhe- res Positivas.
  • 16. 30 31 COTIDIANO MULHERES NO TRÂNSITO TAYNA VISMARI H oje em dia pos- sui diversos apli- cativos de carros particulares para que os passageiros possam se locomover sem precisar usar o transporte público, principal- mente de madrugada, horário que transportes públicos não costumam funcionar. Existemmuitoscasosdemu- lheres assediadas tanto fisicamente como verbalmente durante sua via- gem solicitada, e após a experiência se sentiram desconfortáveis, além de sujas como ser humano. Por con- ta disso muitas mulheres têm medo de solicitar viagens, mas por não ter outra opção, compartilham a rota do destino com algum membro de confiança, sendo família ou amigo. E mesmo assim, muitas evitam vol- tar fora do horário de expediente de transportes públicos para que não precisem se arriscar. Devido a isso, foram criados diversos aplicativos de transporte em que só podem se cadastrar como motoristas se você for do gênero feminino, e isso tem ajudado muito a crescer a confian- ça e conforto de meninas e mulhe- res que utilizam esses aplicativos de locomoção, porém a maioria ainda não é muito conhecido e a frota de motoristas mulheres é bem menor que a quantidade de motoristas ho- mens que existem. Além do Uber, aplicativos como 99táxis (associado do Táxi comum), há também aplicativos voltados exclusivamente para mu- lheres como o Lady Driver, Femi- Taxi, Venuxx e Nüshu que come- çaram a ser mais procurados após a escritora Clara Averbuck expor em seu perfil do Facebook sua indigna- ção de como “o mundo é um lugar horrível para ser mulher”, depois de ser violentada por um motorista de Uber, em agosto do ano passado. Averbuck lançou uma campanha chamada “MeuMotoristaAbusador para incentivar outras mulheres que já passaram por isso a quebrarem o silêncio nas redes sociais e teve muita repercussão. A motorista de Uber, 99 táxis e Lady Driver há um ano, Meire Cristina, 32, conta que já teve problema uma vez com assédio de passageiro, mas não deu atenção, mas que sua maior dificuldade é li- dar com passageiros homens que querem ensiná-la a conduzir o car- ro da maneira deles. “Aqui no Bra- sil existe preconceito com mulher motorista sim, nada muito explícito, mas já percebi que quando são pas- sageiros homens, eles querem ficar me direcionando o tempo todo e isso me incomoda”, conta. Como é ser motorista mu- lher num universo em que a socie- dade é acostumada com homens dirigindo? Meire ainda continua: “Eles sempre querem ir na frente e acredito que seja por inseguran- ça e também por costume de estar sempre como condutor e de repente ser conduzido por uma mulher. Dá para sentir a frustração deles”, afir- ma. Em contrapartida, a moto- rista de 40 anos, Adriana Santana Alves responde após vinte e um anos de experiência com táxi. “Do táxi nunca ouvi história de preconceito ou assédio de passageiro homem re- ferente a motorista ser uma mulher. Eles respeitam muito a questão do profissionalismo taxista”. Adriana acredita que existe falta de profissio- nalismo dos motoristas de aplicati- vos de carros particulares: “Já ouvi várias situações de motoristas sendo assediadas por passageiros homens, ou passageiras que entram dentro do carro e reclamam que os ‘ubers’ a assediam mesmo, sem contar os casos de estupro, porque não são profissionais, né? Então você pode esperar realmente qualquer coisa”, explica seu ponto de vista. Para a segurança e conforto das mulheres, sobretudo de madru- gada, o app 99 relacionado ao táxi, criou uma ferramenta de preferên- cia de gênero quando solicita a cor- rida. Natalie Cardoso Castaldi, 33, trabalhou por apenas um mês no 99 Táxis, e também no aplicativo “Lady Driver”, voltado especialmen- te e exclusivamente para mulheres. “Acho uma pena o universo de mo- toristas pertencer quase que exclusi- vamente a homens, pois o mercado está precisando de mais motoristas mulheres”, relata. Sobre o universo feminino, Natalie acrescenta: “Em todas as corridas que eu fiz, todas as passageiras comentavam que se sen- tiam mais confortável com moto- ristas mulheres. Houve um caso de uma passageira ir o caminho todo dormindo devido o cansaço do tra- balho, coisa que talvez ela não faria caso fosse um homem no volante”, explica. De acordo com uma pesqui- sa realizada pela Universidade Stan- ford, nos EUA, que coletou dados entre 2015 e 2017, de pelo menos 2 milhões de motoristas do Uber, foi concluído que motoristas mulheres ganham 7% menos do que homens, embora não exista qualquer discri- minação de salário por gênero vinda do aplicativo de transporte. “Acredi- to que talvez isso acontece pelo fato das mulheres, em sua maioria não trabalhar tarde da noite e madru- gada por medo e insegurança. Isso faz um pouco de diferença”, explica Meire Cristina sobre a desigualdade salarial. Além disso, diversos estudos vindos, principalmente, do Detran, concluem que mulher dirige melhor que homem em questão de respei- tar as leis de trânsito. Com isso, em março do ano passado, a Renault do Brasil lançou campanha em que incentiva o uso da hashtag #EU- DIRIJOQUENEMMULHER, com uma montadora explicando em ví- deo dados colhidos, que dizem que 70% das infrações de trânsito são causadas por homens. A beleza da campanha da Renault #EUDIRIJO- QUENEMMULHER é um incenti- vo para a prudência no trânsito. O objetivo da campanha não é mos- trar que as mulheres têm mais habi- lidade ao volante e sim que são mais cautelosas e menos agressivas no trânsito. Então, a marca incentiva todos a dirigirem igual mulher. Contudo, ainda sim é mui- to reduzido o número de mulheres no volante, por quê? “Isso aconte- ce, principalmente pelo fato das mulheres ter muito medo da di- reção, sem contar que além disso, elas não recebem apoio o suficien- te para o fato, muito pelo contrá- rio: elas são desencorajadas a nem aprenderem a dirigir com argu- mentos agravantes sobre o perigo nas ruas entre outros motivos”, acrescenta Meire. CONHEÇA APLICATIVOS DE "CARRO PARTICULAR" PARA MULHERES EM SÃO PAULO
  • 17. 32