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Este livro é um protótipo, resultante de uma experiência literária vivida
por 30 pessoas durante um treinamento de 4 horas ministrado por Celso
Rodrigues Simões da Vital Consultoria. Não foi realizado nenhum tipo de
revisão, sendo mantidas todas as características do texto original.
Direitos exclusivos para publicação,
Grupo Águia Branca
Coordenação editorial
CARLOS RENATO DOS S. DE JESUS
Preparação dos Originais
CELSO RODRIGUES SIMÕES
Assistente de Produção
ABÍLIO MARCOS C. DE AZEVEDO
Organização da Amigab
RAFAEL DE JESUS
________________________________________________
2012,
The Other Side, O Outro Lado, 2012
1. Responsabilidade Social, 2.Liderança, 3.Gestão de equipes
SUMÁRIO
Prefácio...................................................................05
Capítulo I
Uma Lição de Acolhimento.......................................07
Capítulo II
Um Novo Olhar.........................................................10
Capítulo III
Distante Lado a Lado................................................13
Capítulo IV
Surge um Nome.......................................................16
Capítulo V
Um Dia Libertador....................................................19
Capítulo VI
A Festa Completa.....................................................21
Prefácio
Hoje, reconhecida publicamente como uma marca de cidadania do Grupo
Águia Branca, a Amigab representa uma oportunidade para todos nós, de
diretores a funcionários, manifestarmos a solidariedade e o compromisso
com o próximo, levando esperança e oportunidades para quem precisa.
Através de um trabalho coletivo, realizamos e incentivamos ações que
contribuem para mudar a realidade de pessoas, grupos e até mesmo
comunidades. Por isso, para nós, a Amigab tem o sabor de uma nobre
missão, carregada de valores medidos por significados e princípios
humanitários. Sabemos que essa não é uma tarefa de um só. Desafiadora
devido a sua natureza social, o programa de voluntariado depende da
nossa vontade, motivação e necessidade de fazer o bem.
Portanto, para a AmiGab alcançar seus objetivos, é preciso a participação
de todos na construção e na integração de uma rede de solidariedade
envolvendo o Grupo Águia Branca e várias entidades filantrópicas. Além
disso, cada equipe precisa ter uma visão sistêmica do voluntariado a que
vai servir; planejar essa ação que irá empreender e dar continuidade a elas
ao longo do tempo.
A razão do sucesso da AmiGab, nesses 14 anos de história, está no
compartilhamento desta missão, cujo maior benefício é o bem-estar de
contribuir para um país mais justo.
Neste livro, não está apenas a história de uma criança, mas sim a história
de grandes líderes que movimentam as ações sociais do Grupo Águia
Branca e que a cada edição inspiram novas histórias.
Nilton Carlos Chieppe
Presidente da Águia Branca Participações
CAPÍTULO PRIMEIRO
Uma lição de acolhimento
“Líderes fracos se mostram invencíveis, líderes fortes
conhecem seus limites”
Meu nome é Sophia, tenho 39 anos, sou separada e tenho um filho de 13
anos que vive comigo. São quase oito horas da noite, estou atrasada para
a reunião do SER que agendei para 19:30h. A chuva não para, o trânsito
está caótico, vou acabar me atrasando demais.
O SER é um grupo que faz parte do programa de voluntariado da empresa
em que trabalho. Há mais de dois anos aceitei a liderança desse grupo na
certeza de que o trabalho iria me proporcionar uma imensa satisfação
pessoal, o que ocorreu até o ano passado. Entretanto, nesse ano, vários
acontecimentos mudaram esse cenário.
Nosso grupo atua no Centro de Desenvolvimento da Criança e do
Adolescente. O CDCA, como é mais conhecido cuida de crianças carentes
oferecendo-lhes apoio escolar, cursos, lazer e oportunidades. O trabalho é
lindo, as crianças são cativantes e a direção muito comprometida, apesar
das dificuldades. O Centro fica na subida do morro de Antares, uma favela
que cresceu ao lado de uma área nobre da cidade.
Meu desânimo começou quando fui avisada que Fabinho, meu único
filho, tinha chances de perder seu ano letivo se continuasse com o seu
desempenho. Recebi esse alerta da coordenadora de sua escola, que além
disso, relatou que ele estava andando com adolescentes de péssima
reputação na redondeza. Fiquei arrasada, péssima, me sentindo culpada,
6
nervosa. Isso me fez mudar várias atitudes. Não estou sabendo cuidar dos
meus, como vou cuidar dos outros?
Outro fato que me abalou demais foi saber que três meninos do CDCA
tinham abandonado o Centro e se voltado para a vida de rua e de
pequenos furtos. Agora percebo que muito do que temos feito não passa
de festividade, doações e pirotecnia. As atividades estão mal planejadas,
a participação do grupo está pequena, não estamos conseguindo
contribuir para o progresso do centro. São muitos erros, está pesado pra
mim. Não dá mais para eu continuar.
Ufa! Consegui chegar após 20 minutos de atraso.
O clima está totalmente diferente do que eu imaginava, as pessoas estão
calmas e interagindo, sou recebida com o carinho de sempre, desejo boa
noite á todos e Margarida me oferece um suco de maracujá, que por sinal
estava delicioso e aliviou um pouco minha tensão.
Finalmente conseguimos dar inicio a reunião e logo relatei minhas
preocupações. Devido alguns acontecimentos recentes, tenho refletido
muito e cheguei a conclusão que não estou em condições de prosseguir
com o programa, no papel de Líder da equipe. Logo fui questionada pelo
George, que procurou saber o que estava acontecendo.
George é um membro do grupo, que apesar de solteiro, tem irmãos
casados e é muito sensível a problemas alheios.
Sophia então conta os problemas que está passando.
Estou passando por problemas particulares com o meu filho, que está com
baixo desempenho escolar, além de estar andando com más companhias.
O que me preocupou demais com o fato de ser sozinha e ter que dar conta
de tudo. Juntando esse problema, ao fato de três adolescentes terem
abandonado o programa que apadrinhamos, sinto-me sem condições
físicas e psicológicas de continuar na liderança da equipe.
7
Neste momento, Sônia toma a palavra em defesa a Sophia e argumenta
sobre o que ela falou.
- Você é uma pessoa guerreira, dedicada e sempre com ações úteis e
positivas. Percebo inclusive, que deixamos muitas coisas por sua
responsabilidade, é hora de distribuirmos melhor as tarefas para o grupo,
dando-lhe oportunidade de resolver seus próprios problemas. Para isso,
sairemos com um pequeno planejamento.
Concorda com o que estamos propondo?
Você é muito importante para nos, e não pode nos abandonar neste
momento difícil em que estamos passando. Pense nas coisas boas que já
fez para nós e as crianças, e quanto é querida pela instituição.
Neste momento, Sophia se emociona, acena positivamente para Sonia,
decidindo continuar no programa e todos aplaudem emocionados. Logo
Sonia chama George e traçam um plano imediato.
Cuja primeira ação, será uma reunião com os pais dos adolescentes, no
próximo sábado, com o objetivo de resgatar a confiança, motivação e
credibilidade no programa SER.
Desta forma, Sophia sente-se mais leve para dar continuidade ao trabalho
e terá mais tempo para lidar com o seu filho.
Em seguida, Sophia agradece o apoio de todos, diz estar mais aliviada e
encerra a reunião desejando boa noite a todos.
8
CAPÍTULO SEGUNDO
Um novo olhar
“Ouvir é uma virtude indispensável na arte de influenciar”
Meu nome é George, tenho 28 anos, participo do grupo SER desde o ano
passado, assim que ingressei na empresa. Achei muito legal o fato de
existir um programa de voluntariado, sempre quis participar de trabalhos
sociais, tenho muita criatividade e jeito com criança, mas não sabia onde e
como contribuir. O programa me deu um suporte e passei a atuar com
muito prazer.
Concordo com Sophia de que o grupo se desarticulou um pouco esse ano,
a atuação foi mal planejada e a nossa participação no CDCA ficou pouco
representativa. Acho que no ano passado foi bem diferente, estávamos
mas próximos a direção do centro, mais motivados e as atividades
realizadas estavam focados no nosso objetivo: contribuir com o aumento
da auto-estima e auto-confiança das crianças, que são o alvo da
instituição.
Acho que Sophia estava precisando do nosso apoio e aquela reunião foi
muito positiva para isso. Ela estava se culpando demais pelo desempenho
da instituição. O fato ocorrido com o filho e a notícia das três crianças que
decidiram voltar para as ruas, mexeu muito com ela. Sophia conhecia
aquelas três crianças como ninguém - Márcio, Sóstenes e Juninho. Eles
estavam sempre sorrindo, demonstravam gostar muito do centro, mas
não percebemos o que se passava no coração delas, o outro lado da
história.
É claro que não podemos esquecer que somos colaboradores apenas, não
comandamos o CDCA, não podemos nos responsabilizar pelo que
9
acontece no dia a dia. Podemos contribuir muito, mas nossa participação
tem um limite claro
Acabo de chegar ao centro. Quinzenalmente comando uma oficina com
eles usando materiais reciclados. Durante o trabalho vou aproveitar para
ouví-las e perceber o que se passa no coraçãozinho delas.
- Bom tarde criançada! Hoje a Idéia é fazer brinquedos com garrafa pet.
Porque eu escolhi esse material? Muitas pessoas jogam lixo na rua, na
água, estragando o meio ambiente. Com esses materiais a gente pode
fazer muitas coisas e olha que legal! Vamos aprender a fazer brinquedo.
Alguém conhece biboquê?
- Eu conheço com lata, mas com garrafa nunca vi!
- Que legal tio!
- Oba! Vou ter um brinquedo...
- Agora eu não jogo mais no lixo, eu vou fazer brinquedo.
Percebi, nesse momento como um gesto tão simples pode causar um
brilho tão intenso nos olhos daquelas crianças, trazendo esperança que
provavelmente elas não tem em casa. Como será a infância deles fora
daqui?
- Agora vou distribuir o material e explicar para vocês como se faz o
biboquê.
Notei então que poderia me aproximar ainda mais daquelas crianças,
distribui o material uma a uma, com um leve sorriso, tentando disseminar
uma cumplicidade como nunca havia feito antes.
Encantado com tamanha dedicação e empolgação das crianças me
aproximei de Rafa para saber um pouco mais da sua vida:
- E ai Rafa, me fala um pouco mais de você. Você tem irmãos?
- Tenho cinco irmãos, três mais novos e dois eu não conheço. Esses dois
meu pai teve depois que abandonou mamãe.
10
- É mesmo? Seu pai foi embora? E hoje, como é?
- Eu tenho que cuidar dos meus irmãos porque mamãe sai de madrugada
para trabalhar para gente não passar fome.
Caramba! Ele é tão alegre aqui e nunca imaginei que ele tivesse uma
história tão triste. Ele sente falta da mãe e tão jovem já assume um papel
de tanta responsabilidade.
- Isso mesmo Rafa, corta aqui e passa o barbante por aqui.
Enquanto todos estavam construindo os brinquedos percebi que uma das
crianças estava parada em um canto e nem havia tocado nos materiais.
Era Aline que estava calada, me aproximei com preocupação:
- O que foi Aline? Não está animada hoje?
Ela me olha com olhar distante. Insisti um pouco mais:
- Fala, pode falar pra mim. Você está com algum problema? Pode confiar
em mim.
- Fico muito sozinha em casa, não tenho com quem brincar.
- Você mora com quem?
- Minha mãe, mas ela trabalha a noite e arrumou um namorado que fica
comigo....
De repente, todas as crianças correm em direção ao muro e voltam com
um bilhete que dizia “ajuda mim”, que as crianças disseram ter sido
entregue pelo “menino do muro”.
- Tem mesmo alguém precisando de ajuda? Ou será uma brincadeira...
Quem será? Do que precisa? O que eu devo fazer?
12
CAPÍTULO TERCEIRO
Distantes lado a lado
“Nem todas as barreiras devem ser superadas”
George fica intrigado com o bilhete.
Fiquei pensativo olhando para aquele papel amassado na mão, quem
poderia ter escrito aquilo? Será que era brincadeira das crianças ou será
que alguém da casa ao lado estava mandando uma mensagem.
Ainda estava em frente ao CDCA e resolvi entrar de novo e ver de onde o
bilhete havia saído. Era um pequeno buraco no tijolo, tentei olhar para ver
o outro lado mas era impossível. Resolvi sair e olhar a casa ao lado. A casa
possuía uma muro bem alto sem pintura e um grande portão azul escuro
com aparência de novo. Nunca tinha reparado muito naquela casa. Na
favela, o tamanho do muro indica quanto dinheiro você tem e também se
você tem algo a esconder.
Voltei para o CDCA, algumas crianças ainda não haviam saído, fui até o
Wallace, um menino muito inteligente que mora bem próximo a
instituição e perguntei:
- Wallace, você conhece quem mora naquela casa de portão azul?
Ele me respondeu:
- Não conheço ninguém, mas já vi uma vez três pessoas entrando nessa
casa, um casal e uma criança.
13
Tentei tirar mais informações com Wallace com relação à idade, se era
menino ou menina, da rotina das pessoas e se moravam ali há muito
tempo, porém Wallace não soube me dizer muita coisa e nem soube me
indicar alguém que soubesse mais sobre as pessoas que moravam ali.
Achei curioso o fato de algumas pessoas freqüentarem a casa e tão poucas
saberem algo sobre o assunto, por isso questionei também Dona Divina,
Presidente do CDCA, que assim como os outros pouco sabia sobre aquelas
pessoas.
Intrigado com toda a situação resolvi tomar uma atitude que considerei
mais apropriada diante de tanto mistério, voltei ao muro e comecei a
gritar, na tentativa de chamar atenção e ver se alguém atendia. Com essa
tentativa frustrada resolvi então pegar uma escada que estava num canto
do pátio do CDCA. Subi na escada para observar o que havia do outro lado
do muro e vi apenas o telhado da casa. Com isso decidi então enviar um
bilhete de volta com a seguinte pergunta “Qual o seu nome?”.
Na esperança de uma rápida resposta esperei aproximadamente vinte
minutos, porém já estava tarde e eu precisava ir para casa.
No caminho para casa fui pensado muito sobre esse curioso “menino do
muro”. Seria uma criança seqüestrada? Seria uma criança vitima de maus
tratos? Passavam mil coisas na minha cabeça e não chegava a nenhuma
conclusão.
Pensei também o que fez o “menino do muro” escrever esse bilhete com o
pedido de ajuda e por que ninguém conhecia as pessoas que moravam
naquela casa.
Como não conseguia para de pensar sobre esse assunto, decidi então
compartilhar com Sophia a minha angústia e saber a opinião dela, pois
pelo fato de ser a líder da equipe SER acreditei que ela poderia saber algo
a respeito.
14
Assim que cheguei em casa peguei o telefone e liguei para ela, perguntei
como ela estava e percebi pela sua voz que ela estava desanimada.
Conclui então que a situação com seu filho ainda não havia sido resolvida.
Na tentativa de animá-la contei como foi à oficina, que várias crianças
perguntaram por ela e até a Dona Divina. Mesmo assim o desânimo
permaneceu.
Diante disso compartilhei com ela toda essa história do “menino do muro”
e perguntei se ela sabia algo a respeito e o que eu deveria fazer.
Por estar um pouco aérea e concentrada em outros assuntos, Sophia
pediu mais algumas informações a respeito desse fato e precisei contar
novamente toda a história, com mais detalhes.
Nesse momento Sophia me jogou um balde de água fria, dizendo para eu
esquecer isso e não me envolver tanto com esses assuntos, pois precisava
dar mais atenção a minha vida pessoal.
Argumentei com ela que aquelas crianças precisavam do nosso apoio e
que o “menino do muro” poderia ser alguém em apuros, precisando de
nossa ajuda.
Mesmo assim Sophia foi firme em sua posição: “George, esquece isso!”
Depois disso desligamos o telefone e fiquei um pouco decepcionado com
a postura de Sophia e isso me levou a pensar se realmente ela estaria
certa e me veio uma pergunta:
O que estaria acontecendo com Sophia?
15
CAPÍTULO QUARTO
Surge um nome
“Comunicação não se faz apenas com palavras,
mas com o coração”
Sophia retoma sua liderança e volta ao CDCA
Na manhã seguinte ao telefone de George tive que passar no CDCA bem
cedo para pegar um relatório com Dona Divina. Lembrei do bilhete que
George havia comentado e, por curiosidade, resolvi ir até o muro verificar.
Para minha surpresa existia um pequeno papel enrolado no buraco que
dizia assim:
- Me nome Lio, quer sair.
Me arrepiei por completo ao ver aquele bilhete. Nesse momento percebi
uma sombra no buraco, me aproximei rápido tentando ver algo naquele
pequeno orifício. Consegui ver um pequeno olhinho cintilante de criança.
Não consegui me conter e falei:
- Olá! Seu nome é Lio, meu nome é Sophia, você pode falar comigo?
Tive o silêncio como resposta, mas o olhinho continuava lá. De repente um
outro bilhete apareceu com a seguinte descrição:
- Não falo ajuda mim.
Estava convencida de que havia um problema ali. O que me impressionava
era constatar que eu estava mais próxima daquele menino do que de
muitos outros do centro, simplesmente por que parei para ouvir a sua
angústia.
Fui até o administrativo do CDCA, precisava conversar com Dona Divina,
George tinha razão.
16
Durante o caminho para a área administrativo, Sofia pensava em como
falar toda situação a Dona Divina e ao mesmo tempo não conseguia
esquecer o olhinho cintilante de Lio. Ao chegar na sala encontrou-a ao
telefone, que fez sinal para que ela aguardasse pois já estava desligando.
Durante os cinco minutos de espera várias situações passavam pela
cabeça da Sofia. Será que esta criança está em cativeiro, será que ela tem
comida? Quem cuida? Será que é um filho de um traficante? Será que ele
não sabe falar ou não pode? Meu Deus, esses cinco minutos pareciam
cinco anos.
Foi quando finalmente a Dona Divina desligou o telefone.
- Pois não Sofia, você veio buscar o relatório?
Sofia nem lembrava mais do relatório e começa a falar aflita.
- Aconteceu uma coisa super estranha, ontem o George me ligou e falou
de um bilhete que as crianças entregaram com um pedido de ajuda. Até
então tinha dado pouca importância ao assunto. Porém hoje ao chegar
aqui a primeira coisa que me veio a cabeça foi a conversa do George
ontem a noite e por curiosidade resolvi ir até o muro verificar. Tomei um
susto muito grande porque encontrei outro bilhete, a criança interagiu
comigo e me pediu ajuda. Precisamos fazer alguma coisa!
- Sofia, eu te entendo, mas preciso proteger as minhas crianças. Não
sabemos o que podemos encontrar atrás do muro. E não posso colocar
todos os que estão aqui em risco, por causa de um simples bilhete. Você
sabe, as crianças gostam de fantasiar.
- Entendo a sua argumentação, mas o olhar dela era tão verdadeiro, fico
imaginando, e se fosse meu filho?
- Sofia! Pense o contrario. E se seu filho estivesse aqui no centro?
Sofia sai cabisbaixa, mas entende as argumentações da Dona Divina.
17
Caminhando pelo centro a imagem do olhar da criança não lhe sai do
pensamento. Sofia resolve ligar para George e conta que conseguiu ver os
olhos da criança e interagir com ele, mas que a Dona Divina disse que não
é para eles tomarem nenhuma ação por uma questão de segurança.
- George, ele não sabe falar! Você acha que ele está brincando?
- Claro que não! Ele está precisando de ajuda, precisamos fazer algo.
- Mas e se a Dona Divina tiver razão? Se nós nos envolvermos nisso
poderemos ser penalizados e sairmos da equipe de voluntários. As
crianças do CDCA precisam do nosso apoio. Eles já entram na entidade na
esperança de encontrar a nossa equipe para fazermos os passeios que
oferecemos anualmente. Existem passeios que já entraram até no nosso
calendário. O parque aquático Guriri Beach e a baleia, lembra?
- É mesmo, não tinha pensado nisso.
- Mas essa experiência me serviu para repensar nas nossas crianças, temos
que conhecê-las melhor.
George e Sofia aceitaram, afinal, eles são apenas colaboradores. E por um
momento esqueceram do menino do muro e começaram a pensar nos
novos projetos que poderiam fazer por aquelas crianças.
18
CAPÍTULO QUINTO
Um dia libertador
“O muro que você vê pode ser o seu”
Aquele foi um dia difícil para mim, depois do trabalho cheguei em casa
exausta, ainda me lembrando de Lio e da impossibilidade de fazer alguma
coisa em função dos riscos que poderiam ser gerados para o CDCA. Mas
outro desafio me aguardava, havia combinado com meu filho uma
conversa séria sobre tudo que vinha acontecendo.
Chamei-o na sala e nos sentamos no sofá. Contei a ele a história de Lio e
disse que o que me impedia de fazer alguma coisa pelo menino era um
grande muro que nos separava, nesse momento meio emocionada falei
abraçando-o bem próximo a mim:
- As vezes sinto que você também está atrás de um muro muito alto e que
não consigo penetrar.
Então com muita sabedoria ele me respondeu:
- Mãe, parte desse muro está no seu terreno, nós precisamos destruir os
dois muros juntos.
Sophia fica surpresa com a resposta de Fabinho e por um momento os
dois ficam em silêncio. Sophia pensa na fala do filho e fica emocionada ao
lembrar do nascimento de Fabinho.
- Filho, me lembro quando eu seu pai nos preparávamos para irmos para o
hospital onde seria o parto, eu estava muito nervosa e seu pai muito
ansioso, tivemos algumas dificuldades no hospital mas no final deu tudo
certo, você veio para os meus braços e seu pai te olhava no berçário muito
emocionado e feliz com o seu nascimento.
Fabinho pergunta a sua mãe:
19
- Mãe você lembra o dia que consegui andar de bicicleta sozinho a
primeira vez, depois de ter caído e me machucado no dia anterior? Os dois
dão boas risadas.
- Fabinho, me lembro de cada momento, quando você começou a andar,
desenvolver sua fala e cresceu aos cuidados de seu pai, pois sempre me
dediquei muito ao trabalho pensando em seu futuro, em poder lhe
oferecer a melhor educação, mas hoje percebo que errei, pois perdi boa
parte do seu crescimento e as melhores fases da sua vida.
Fabinho também emocionado com as lembranças de sua mãe, diz:
- Mãe, sinto muita falta do meu pai, pois éramos uma família muito feliz e
unida, a separação de vocês me deixou um pouco carente e como você
sempre ficou envolvida em seus trabalhos, sentia um pouco de dificuldade
para fazer as atividades da escola, pois você chegava em casa cansada e
não tinha tempo para me ajudar, com o tempo fui conhecendo alguns
colegas que se aproximaram de mim e acabei me apegando a eles.
- Filho, reconheço que minha ausência contribuiu para o seu envolvimento
com estas pessoas que você acolheu como amigos. Mas eles não são bons
amigos, pois eles faltam as aulas, não obedecem a seus pais e não
estudam para tirar boas notas e acabaram te levando para o mesmo
caminho. Precisamos quebrar esse muro juntos, sei que não será fácil, mas
a partir de hoje, quero você distante destes meninos, gostaria que você
passasse a visitar o CDCA comigo, para que você conheça as crianças que
ajudamos no projeto. Você concorda?
- Mãe, concordo sim, mas preciso da sua ajuda. Gostaria que você
passasse mais tempo comigo, me desse mais atenção e me ajudasse nas
tarefas de casa.
- Fabinho, me perdoe por ter falhado em sua educação todos esses anos e
me comprometo a participar mais de sua vida.
Sophia abraça Fabinho e juntos selam o compromisso de quebrar o muro.
20
CAPÍTULO SEXTO
A festa completa
“O passado é história, o futuro é mistério e o presente é dádiva,
por isso se chama presente.”
O Grupo Ser tinha retomado sua energia e disposição, e aos poucos o
CDCA voltava a receber uma contribuição relevante e consistente da nossa
equipe. E isso fazia toda a diferença para aquela instituição tão
acolhedora, mas tão carente de recursos e pessoas.
Em uma linda manhã, preparamos uma grande festa para comemorar o
Dia das Crianças no CDCA, em que os pais foram convidados e
compareceram em peso, o que dava outra dinâmica ao objetivo daquela
festividade.
Minha alegria estava ainda mais completa com a presença do Fabinho,
meu filho, o que representava para mim uma grande barreira vencida em
minha vida pessoal. Aproveitei essa oportunidade para apresentar a ele a
importância do voluntariado.
A festa tinha mágico, bolas, presentes e tudo que uma criança gosta! A
alegria estava presente neste dia tão especial. Conseguimos reunir para
este evento muitos voluntários da empresa. Penso que nossos objetivos
de retomar as ações e fortalecer novamente a equipe foram alcançados.
Foi uma lição aprendida, pois quando eu estava mais fraca a equipe
conseguiu reunir esforços para continuar e alavancar os trabalhos, me
apoiando de uma maneira muito especial. Mas sentia que ainda faltava
alguma coisa. Comecei a pensar o que tinha acontecido com Lio?
Ele tinha me ensinado que existem muitas barreiras entre as pessoas,
mesmo entre aquelas que estão dentro da mesma casa, que podem se
ver, se tocar e conversar. O que faz diferença nas relações é o quanto
você está disposto a se aproximar, a ouvir e a agir, questionando se a
21
barreira que você vê pode ter sido criada por você mesmo. Dona Divina
havia fechado o buraco do muro e a comunicação com Lio havia cessado.
O que será que teria acontecido com aquele menino?
A festa prosseguia com muita alegria, até que de repente ouviu-se um
grande barulho, de fogos, sirene da policia e uma grande gritaria. Tive
muito medo neste momento, logo pensei nos riscos para os participantes
da festa. Todos correram para ver o que era, chegando lá fora vimos que a
policia estava subindo o morro e os vizinhos da casa do muro alto bateram
em retirada de forma desordenada e desorganizada. Era a primeira vez
que os víamos. Tratavam-se de cinco homens e três mulheres jovens e
muito estranhos.
Ao saírem deixaram para trás muitos objetos e pertences, e ainda o portão
azul aberto. Na hora, só pensei em Lio, pois não vimos levarem nenhuma
criança. George, mais afoito ainda, não se conteve e adentrou a casa;
pensando em protegê-lo o segui.
Fomos direto ao muro que separava a casa do CDCA, procurando por Lio,
quando encontramos a criança sentada no cantinho sozinha, próxima ao
buraco do muro, num choro contido. Emocionados corremos para resgatá-
la. Para nossa surpresa Lio era uma menina de aproximadamente de nove
anos, muda e encantadora, que lutou como pode para chamar a atenção
de alguém e que acabara de ser libertada para viver uma nova vida.
Levamos Lio para o CDCA, e a equipe, não se contendo, caiu em choro por
constatar que, de fato, a necessidade de Lio era real. Ao mesmo tempo,
sentíamos alegria por ter resgatado aquela criança.
Essa experiência nos fez perceber o quanto devemos estar atentos às
pessoas ao nosso redor para que os muros não sejam vistos como
barreiras intransponíveis, mas sim como oportunidades de promover o
bem e aprende
22
OS AUTORES
29.06.2012
Alexandre Bitencourt da Rocha (Vitória Motors)
Amanda Furtado Costa (Unidade Comércio)
Clarice Vasconcelos (Vitória Diesel)
Cleci Kruger (Holding)
Daniel Sena Silvério (Viação Salutaris)
Erick Xavier Silvério (Viação Águia Branca)
Fabiano Antonio Keffer (Viação Águia Branca
Frederico de Lima (Viação Salutaris);
Gilberto Quinquin (VIX Logística)
Gleyciane Amorim (Unidade Comércio)
Jeferson Anderson Silva Santana (Viação Águia Branca)
João Henrique Stefenon (VIX Logística)
Kelly Cristina Simmer (Holding)
Leonardo Rodrigues (Viação Águia Branca)
Letícia Oliveira Lima (Viação Águia Branca)
Letícia Vanzo (Holding)
Linamara de Souza Gonçalves (Viação Salutaris)
Luanna Christina Nunes dos Santos (Viação Águia Branca)
Marcele Ocleys dos Santos (Holding)
Monica Novaes (Holding)
Monica Silva Cavalcanti (VIX Logística)
Natalia Rigolon de Oliveira (Viação Salutaris)
Pamella de Oliveira Santos (VIX Logística)
Raimundo Ueverson de Oliveira Santos (Viação Águia Branca)
Roberto da Silva Barros (Viação Águia Branca)
Romero de Freitas Ventura (Kurumá Veículos)
Romildo dos Santos (Viação Águia Branca)
Valesca Falqueto (Unidade Passageiros)
23
Uma nova perspectiva para o grupo SER

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Uma nova perspectiva para o grupo SER

  • 1.
  • 2. Este livro é um protótipo, resultante de uma experiência literária vivida por 30 pessoas durante um treinamento de 4 horas ministrado por Celso Rodrigues Simões da Vital Consultoria. Não foi realizado nenhum tipo de revisão, sendo mantidas todas as características do texto original. Direitos exclusivos para publicação, Grupo Águia Branca Coordenação editorial CARLOS RENATO DOS S. DE JESUS Preparação dos Originais CELSO RODRIGUES SIMÕES Assistente de Produção ABÍLIO MARCOS C. DE AZEVEDO Organização da Amigab RAFAEL DE JESUS ________________________________________________ 2012, The Other Side, O Outro Lado, 2012 1. Responsabilidade Social, 2.Liderança, 3.Gestão de equipes
  • 3. SUMÁRIO Prefácio...................................................................05 Capítulo I Uma Lição de Acolhimento.......................................07 Capítulo II Um Novo Olhar.........................................................10 Capítulo III Distante Lado a Lado................................................13 Capítulo IV Surge um Nome.......................................................16 Capítulo V Um Dia Libertador....................................................19 Capítulo VI A Festa Completa.....................................................21
  • 4. Prefácio Hoje, reconhecida publicamente como uma marca de cidadania do Grupo Águia Branca, a Amigab representa uma oportunidade para todos nós, de diretores a funcionários, manifestarmos a solidariedade e o compromisso com o próximo, levando esperança e oportunidades para quem precisa. Através de um trabalho coletivo, realizamos e incentivamos ações que contribuem para mudar a realidade de pessoas, grupos e até mesmo comunidades. Por isso, para nós, a Amigab tem o sabor de uma nobre missão, carregada de valores medidos por significados e princípios humanitários. Sabemos que essa não é uma tarefa de um só. Desafiadora devido a sua natureza social, o programa de voluntariado depende da nossa vontade, motivação e necessidade de fazer o bem. Portanto, para a AmiGab alcançar seus objetivos, é preciso a participação de todos na construção e na integração de uma rede de solidariedade envolvendo o Grupo Águia Branca e várias entidades filantrópicas. Além disso, cada equipe precisa ter uma visão sistêmica do voluntariado a que vai servir; planejar essa ação que irá empreender e dar continuidade a elas ao longo do tempo. A razão do sucesso da AmiGab, nesses 14 anos de história, está no compartilhamento desta missão, cujo maior benefício é o bem-estar de contribuir para um país mais justo. Neste livro, não está apenas a história de uma criança, mas sim a história de grandes líderes que movimentam as ações sociais do Grupo Águia Branca e que a cada edição inspiram novas histórias. Nilton Carlos Chieppe Presidente da Águia Branca Participações
  • 5. CAPÍTULO PRIMEIRO Uma lição de acolhimento “Líderes fracos se mostram invencíveis, líderes fortes conhecem seus limites” Meu nome é Sophia, tenho 39 anos, sou separada e tenho um filho de 13 anos que vive comigo. São quase oito horas da noite, estou atrasada para a reunião do SER que agendei para 19:30h. A chuva não para, o trânsito está caótico, vou acabar me atrasando demais. O SER é um grupo que faz parte do programa de voluntariado da empresa em que trabalho. Há mais de dois anos aceitei a liderança desse grupo na certeza de que o trabalho iria me proporcionar uma imensa satisfação pessoal, o que ocorreu até o ano passado. Entretanto, nesse ano, vários acontecimentos mudaram esse cenário. Nosso grupo atua no Centro de Desenvolvimento da Criança e do Adolescente. O CDCA, como é mais conhecido cuida de crianças carentes oferecendo-lhes apoio escolar, cursos, lazer e oportunidades. O trabalho é lindo, as crianças são cativantes e a direção muito comprometida, apesar das dificuldades. O Centro fica na subida do morro de Antares, uma favela que cresceu ao lado de uma área nobre da cidade. Meu desânimo começou quando fui avisada que Fabinho, meu único filho, tinha chances de perder seu ano letivo se continuasse com o seu desempenho. Recebi esse alerta da coordenadora de sua escola, que além disso, relatou que ele estava andando com adolescentes de péssima reputação na redondeza. Fiquei arrasada, péssima, me sentindo culpada, 6
  • 6. nervosa. Isso me fez mudar várias atitudes. Não estou sabendo cuidar dos meus, como vou cuidar dos outros? Outro fato que me abalou demais foi saber que três meninos do CDCA tinham abandonado o Centro e se voltado para a vida de rua e de pequenos furtos. Agora percebo que muito do que temos feito não passa de festividade, doações e pirotecnia. As atividades estão mal planejadas, a participação do grupo está pequena, não estamos conseguindo contribuir para o progresso do centro. São muitos erros, está pesado pra mim. Não dá mais para eu continuar. Ufa! Consegui chegar após 20 minutos de atraso. O clima está totalmente diferente do que eu imaginava, as pessoas estão calmas e interagindo, sou recebida com o carinho de sempre, desejo boa noite á todos e Margarida me oferece um suco de maracujá, que por sinal estava delicioso e aliviou um pouco minha tensão. Finalmente conseguimos dar inicio a reunião e logo relatei minhas preocupações. Devido alguns acontecimentos recentes, tenho refletido muito e cheguei a conclusão que não estou em condições de prosseguir com o programa, no papel de Líder da equipe. Logo fui questionada pelo George, que procurou saber o que estava acontecendo. George é um membro do grupo, que apesar de solteiro, tem irmãos casados e é muito sensível a problemas alheios. Sophia então conta os problemas que está passando. Estou passando por problemas particulares com o meu filho, que está com baixo desempenho escolar, além de estar andando com más companhias. O que me preocupou demais com o fato de ser sozinha e ter que dar conta de tudo. Juntando esse problema, ao fato de três adolescentes terem abandonado o programa que apadrinhamos, sinto-me sem condições físicas e psicológicas de continuar na liderança da equipe. 7
  • 7. Neste momento, Sônia toma a palavra em defesa a Sophia e argumenta sobre o que ela falou. - Você é uma pessoa guerreira, dedicada e sempre com ações úteis e positivas. Percebo inclusive, que deixamos muitas coisas por sua responsabilidade, é hora de distribuirmos melhor as tarefas para o grupo, dando-lhe oportunidade de resolver seus próprios problemas. Para isso, sairemos com um pequeno planejamento. Concorda com o que estamos propondo? Você é muito importante para nos, e não pode nos abandonar neste momento difícil em que estamos passando. Pense nas coisas boas que já fez para nós e as crianças, e quanto é querida pela instituição. Neste momento, Sophia se emociona, acena positivamente para Sonia, decidindo continuar no programa e todos aplaudem emocionados. Logo Sonia chama George e traçam um plano imediato. Cuja primeira ação, será uma reunião com os pais dos adolescentes, no próximo sábado, com o objetivo de resgatar a confiança, motivação e credibilidade no programa SER. Desta forma, Sophia sente-se mais leve para dar continuidade ao trabalho e terá mais tempo para lidar com o seu filho. Em seguida, Sophia agradece o apoio de todos, diz estar mais aliviada e encerra a reunião desejando boa noite a todos. 8
  • 8. CAPÍTULO SEGUNDO Um novo olhar “Ouvir é uma virtude indispensável na arte de influenciar” Meu nome é George, tenho 28 anos, participo do grupo SER desde o ano passado, assim que ingressei na empresa. Achei muito legal o fato de existir um programa de voluntariado, sempre quis participar de trabalhos sociais, tenho muita criatividade e jeito com criança, mas não sabia onde e como contribuir. O programa me deu um suporte e passei a atuar com muito prazer. Concordo com Sophia de que o grupo se desarticulou um pouco esse ano, a atuação foi mal planejada e a nossa participação no CDCA ficou pouco representativa. Acho que no ano passado foi bem diferente, estávamos mas próximos a direção do centro, mais motivados e as atividades realizadas estavam focados no nosso objetivo: contribuir com o aumento da auto-estima e auto-confiança das crianças, que são o alvo da instituição. Acho que Sophia estava precisando do nosso apoio e aquela reunião foi muito positiva para isso. Ela estava se culpando demais pelo desempenho da instituição. O fato ocorrido com o filho e a notícia das três crianças que decidiram voltar para as ruas, mexeu muito com ela. Sophia conhecia aquelas três crianças como ninguém - Márcio, Sóstenes e Juninho. Eles estavam sempre sorrindo, demonstravam gostar muito do centro, mas não percebemos o que se passava no coração delas, o outro lado da história. É claro que não podemos esquecer que somos colaboradores apenas, não comandamos o CDCA, não podemos nos responsabilizar pelo que 9
  • 9. acontece no dia a dia. Podemos contribuir muito, mas nossa participação tem um limite claro Acabo de chegar ao centro. Quinzenalmente comando uma oficina com eles usando materiais reciclados. Durante o trabalho vou aproveitar para ouví-las e perceber o que se passa no coraçãozinho delas. - Bom tarde criançada! Hoje a Idéia é fazer brinquedos com garrafa pet. Porque eu escolhi esse material? Muitas pessoas jogam lixo na rua, na água, estragando o meio ambiente. Com esses materiais a gente pode fazer muitas coisas e olha que legal! Vamos aprender a fazer brinquedo. Alguém conhece biboquê? - Eu conheço com lata, mas com garrafa nunca vi! - Que legal tio! - Oba! Vou ter um brinquedo... - Agora eu não jogo mais no lixo, eu vou fazer brinquedo. Percebi, nesse momento como um gesto tão simples pode causar um brilho tão intenso nos olhos daquelas crianças, trazendo esperança que provavelmente elas não tem em casa. Como será a infância deles fora daqui? - Agora vou distribuir o material e explicar para vocês como se faz o biboquê. Notei então que poderia me aproximar ainda mais daquelas crianças, distribui o material uma a uma, com um leve sorriso, tentando disseminar uma cumplicidade como nunca havia feito antes. Encantado com tamanha dedicação e empolgação das crianças me aproximei de Rafa para saber um pouco mais da sua vida: - E ai Rafa, me fala um pouco mais de você. Você tem irmãos? - Tenho cinco irmãos, três mais novos e dois eu não conheço. Esses dois meu pai teve depois que abandonou mamãe. 10
  • 10. - É mesmo? Seu pai foi embora? E hoje, como é? - Eu tenho que cuidar dos meus irmãos porque mamãe sai de madrugada para trabalhar para gente não passar fome. Caramba! Ele é tão alegre aqui e nunca imaginei que ele tivesse uma história tão triste. Ele sente falta da mãe e tão jovem já assume um papel de tanta responsabilidade. - Isso mesmo Rafa, corta aqui e passa o barbante por aqui. Enquanto todos estavam construindo os brinquedos percebi que uma das crianças estava parada em um canto e nem havia tocado nos materiais. Era Aline que estava calada, me aproximei com preocupação: - O que foi Aline? Não está animada hoje? Ela me olha com olhar distante. Insisti um pouco mais: - Fala, pode falar pra mim. Você está com algum problema? Pode confiar em mim. - Fico muito sozinha em casa, não tenho com quem brincar. - Você mora com quem? - Minha mãe, mas ela trabalha a noite e arrumou um namorado que fica comigo.... De repente, todas as crianças correm em direção ao muro e voltam com um bilhete que dizia “ajuda mim”, que as crianças disseram ter sido entregue pelo “menino do muro”. - Tem mesmo alguém precisando de ajuda? Ou será uma brincadeira... Quem será? Do que precisa? O que eu devo fazer? 12
  • 11. CAPÍTULO TERCEIRO Distantes lado a lado “Nem todas as barreiras devem ser superadas” George fica intrigado com o bilhete. Fiquei pensativo olhando para aquele papel amassado na mão, quem poderia ter escrito aquilo? Será que era brincadeira das crianças ou será que alguém da casa ao lado estava mandando uma mensagem. Ainda estava em frente ao CDCA e resolvi entrar de novo e ver de onde o bilhete havia saído. Era um pequeno buraco no tijolo, tentei olhar para ver o outro lado mas era impossível. Resolvi sair e olhar a casa ao lado. A casa possuía uma muro bem alto sem pintura e um grande portão azul escuro com aparência de novo. Nunca tinha reparado muito naquela casa. Na favela, o tamanho do muro indica quanto dinheiro você tem e também se você tem algo a esconder. Voltei para o CDCA, algumas crianças ainda não haviam saído, fui até o Wallace, um menino muito inteligente que mora bem próximo a instituição e perguntei: - Wallace, você conhece quem mora naquela casa de portão azul? Ele me respondeu: - Não conheço ninguém, mas já vi uma vez três pessoas entrando nessa casa, um casal e uma criança. 13
  • 12. Tentei tirar mais informações com Wallace com relação à idade, se era menino ou menina, da rotina das pessoas e se moravam ali há muito tempo, porém Wallace não soube me dizer muita coisa e nem soube me indicar alguém que soubesse mais sobre as pessoas que moravam ali. Achei curioso o fato de algumas pessoas freqüentarem a casa e tão poucas saberem algo sobre o assunto, por isso questionei também Dona Divina, Presidente do CDCA, que assim como os outros pouco sabia sobre aquelas pessoas. Intrigado com toda a situação resolvi tomar uma atitude que considerei mais apropriada diante de tanto mistério, voltei ao muro e comecei a gritar, na tentativa de chamar atenção e ver se alguém atendia. Com essa tentativa frustrada resolvi então pegar uma escada que estava num canto do pátio do CDCA. Subi na escada para observar o que havia do outro lado do muro e vi apenas o telhado da casa. Com isso decidi então enviar um bilhete de volta com a seguinte pergunta “Qual o seu nome?”. Na esperança de uma rápida resposta esperei aproximadamente vinte minutos, porém já estava tarde e eu precisava ir para casa. No caminho para casa fui pensado muito sobre esse curioso “menino do muro”. Seria uma criança seqüestrada? Seria uma criança vitima de maus tratos? Passavam mil coisas na minha cabeça e não chegava a nenhuma conclusão. Pensei também o que fez o “menino do muro” escrever esse bilhete com o pedido de ajuda e por que ninguém conhecia as pessoas que moravam naquela casa. Como não conseguia para de pensar sobre esse assunto, decidi então compartilhar com Sophia a minha angústia e saber a opinião dela, pois pelo fato de ser a líder da equipe SER acreditei que ela poderia saber algo a respeito. 14
  • 13. Assim que cheguei em casa peguei o telefone e liguei para ela, perguntei como ela estava e percebi pela sua voz que ela estava desanimada. Conclui então que a situação com seu filho ainda não havia sido resolvida. Na tentativa de animá-la contei como foi à oficina, que várias crianças perguntaram por ela e até a Dona Divina. Mesmo assim o desânimo permaneceu. Diante disso compartilhei com ela toda essa história do “menino do muro” e perguntei se ela sabia algo a respeito e o que eu deveria fazer. Por estar um pouco aérea e concentrada em outros assuntos, Sophia pediu mais algumas informações a respeito desse fato e precisei contar novamente toda a história, com mais detalhes. Nesse momento Sophia me jogou um balde de água fria, dizendo para eu esquecer isso e não me envolver tanto com esses assuntos, pois precisava dar mais atenção a minha vida pessoal. Argumentei com ela que aquelas crianças precisavam do nosso apoio e que o “menino do muro” poderia ser alguém em apuros, precisando de nossa ajuda. Mesmo assim Sophia foi firme em sua posição: “George, esquece isso!” Depois disso desligamos o telefone e fiquei um pouco decepcionado com a postura de Sophia e isso me levou a pensar se realmente ela estaria certa e me veio uma pergunta: O que estaria acontecendo com Sophia? 15
  • 14. CAPÍTULO QUARTO Surge um nome “Comunicação não se faz apenas com palavras, mas com o coração” Sophia retoma sua liderança e volta ao CDCA Na manhã seguinte ao telefone de George tive que passar no CDCA bem cedo para pegar um relatório com Dona Divina. Lembrei do bilhete que George havia comentado e, por curiosidade, resolvi ir até o muro verificar. Para minha surpresa existia um pequeno papel enrolado no buraco que dizia assim: - Me nome Lio, quer sair. Me arrepiei por completo ao ver aquele bilhete. Nesse momento percebi uma sombra no buraco, me aproximei rápido tentando ver algo naquele pequeno orifício. Consegui ver um pequeno olhinho cintilante de criança. Não consegui me conter e falei: - Olá! Seu nome é Lio, meu nome é Sophia, você pode falar comigo? Tive o silêncio como resposta, mas o olhinho continuava lá. De repente um outro bilhete apareceu com a seguinte descrição: - Não falo ajuda mim. Estava convencida de que havia um problema ali. O que me impressionava era constatar que eu estava mais próxima daquele menino do que de muitos outros do centro, simplesmente por que parei para ouvir a sua angústia. Fui até o administrativo do CDCA, precisava conversar com Dona Divina, George tinha razão. 16
  • 15. Durante o caminho para a área administrativo, Sofia pensava em como falar toda situação a Dona Divina e ao mesmo tempo não conseguia esquecer o olhinho cintilante de Lio. Ao chegar na sala encontrou-a ao telefone, que fez sinal para que ela aguardasse pois já estava desligando. Durante os cinco minutos de espera várias situações passavam pela cabeça da Sofia. Será que esta criança está em cativeiro, será que ela tem comida? Quem cuida? Será que é um filho de um traficante? Será que ele não sabe falar ou não pode? Meu Deus, esses cinco minutos pareciam cinco anos. Foi quando finalmente a Dona Divina desligou o telefone. - Pois não Sofia, você veio buscar o relatório? Sofia nem lembrava mais do relatório e começa a falar aflita. - Aconteceu uma coisa super estranha, ontem o George me ligou e falou de um bilhete que as crianças entregaram com um pedido de ajuda. Até então tinha dado pouca importância ao assunto. Porém hoje ao chegar aqui a primeira coisa que me veio a cabeça foi a conversa do George ontem a noite e por curiosidade resolvi ir até o muro verificar. Tomei um susto muito grande porque encontrei outro bilhete, a criança interagiu comigo e me pediu ajuda. Precisamos fazer alguma coisa! - Sofia, eu te entendo, mas preciso proteger as minhas crianças. Não sabemos o que podemos encontrar atrás do muro. E não posso colocar todos os que estão aqui em risco, por causa de um simples bilhete. Você sabe, as crianças gostam de fantasiar. - Entendo a sua argumentação, mas o olhar dela era tão verdadeiro, fico imaginando, e se fosse meu filho? - Sofia! Pense o contrario. E se seu filho estivesse aqui no centro? Sofia sai cabisbaixa, mas entende as argumentações da Dona Divina. 17
  • 16. Caminhando pelo centro a imagem do olhar da criança não lhe sai do pensamento. Sofia resolve ligar para George e conta que conseguiu ver os olhos da criança e interagir com ele, mas que a Dona Divina disse que não é para eles tomarem nenhuma ação por uma questão de segurança. - George, ele não sabe falar! Você acha que ele está brincando? - Claro que não! Ele está precisando de ajuda, precisamos fazer algo. - Mas e se a Dona Divina tiver razão? Se nós nos envolvermos nisso poderemos ser penalizados e sairmos da equipe de voluntários. As crianças do CDCA precisam do nosso apoio. Eles já entram na entidade na esperança de encontrar a nossa equipe para fazermos os passeios que oferecemos anualmente. Existem passeios que já entraram até no nosso calendário. O parque aquático Guriri Beach e a baleia, lembra? - É mesmo, não tinha pensado nisso. - Mas essa experiência me serviu para repensar nas nossas crianças, temos que conhecê-las melhor. George e Sofia aceitaram, afinal, eles são apenas colaboradores. E por um momento esqueceram do menino do muro e começaram a pensar nos novos projetos que poderiam fazer por aquelas crianças. 18
  • 17. CAPÍTULO QUINTO Um dia libertador “O muro que você vê pode ser o seu” Aquele foi um dia difícil para mim, depois do trabalho cheguei em casa exausta, ainda me lembrando de Lio e da impossibilidade de fazer alguma coisa em função dos riscos que poderiam ser gerados para o CDCA. Mas outro desafio me aguardava, havia combinado com meu filho uma conversa séria sobre tudo que vinha acontecendo. Chamei-o na sala e nos sentamos no sofá. Contei a ele a história de Lio e disse que o que me impedia de fazer alguma coisa pelo menino era um grande muro que nos separava, nesse momento meio emocionada falei abraçando-o bem próximo a mim: - As vezes sinto que você também está atrás de um muro muito alto e que não consigo penetrar. Então com muita sabedoria ele me respondeu: - Mãe, parte desse muro está no seu terreno, nós precisamos destruir os dois muros juntos. Sophia fica surpresa com a resposta de Fabinho e por um momento os dois ficam em silêncio. Sophia pensa na fala do filho e fica emocionada ao lembrar do nascimento de Fabinho. - Filho, me lembro quando eu seu pai nos preparávamos para irmos para o hospital onde seria o parto, eu estava muito nervosa e seu pai muito ansioso, tivemos algumas dificuldades no hospital mas no final deu tudo certo, você veio para os meus braços e seu pai te olhava no berçário muito emocionado e feliz com o seu nascimento. Fabinho pergunta a sua mãe: 19
  • 18. - Mãe você lembra o dia que consegui andar de bicicleta sozinho a primeira vez, depois de ter caído e me machucado no dia anterior? Os dois dão boas risadas. - Fabinho, me lembro de cada momento, quando você começou a andar, desenvolver sua fala e cresceu aos cuidados de seu pai, pois sempre me dediquei muito ao trabalho pensando em seu futuro, em poder lhe oferecer a melhor educação, mas hoje percebo que errei, pois perdi boa parte do seu crescimento e as melhores fases da sua vida. Fabinho também emocionado com as lembranças de sua mãe, diz: - Mãe, sinto muita falta do meu pai, pois éramos uma família muito feliz e unida, a separação de vocês me deixou um pouco carente e como você sempre ficou envolvida em seus trabalhos, sentia um pouco de dificuldade para fazer as atividades da escola, pois você chegava em casa cansada e não tinha tempo para me ajudar, com o tempo fui conhecendo alguns colegas que se aproximaram de mim e acabei me apegando a eles. - Filho, reconheço que minha ausência contribuiu para o seu envolvimento com estas pessoas que você acolheu como amigos. Mas eles não são bons amigos, pois eles faltam as aulas, não obedecem a seus pais e não estudam para tirar boas notas e acabaram te levando para o mesmo caminho. Precisamos quebrar esse muro juntos, sei que não será fácil, mas a partir de hoje, quero você distante destes meninos, gostaria que você passasse a visitar o CDCA comigo, para que você conheça as crianças que ajudamos no projeto. Você concorda? - Mãe, concordo sim, mas preciso da sua ajuda. Gostaria que você passasse mais tempo comigo, me desse mais atenção e me ajudasse nas tarefas de casa. - Fabinho, me perdoe por ter falhado em sua educação todos esses anos e me comprometo a participar mais de sua vida. Sophia abraça Fabinho e juntos selam o compromisso de quebrar o muro. 20
  • 19. CAPÍTULO SEXTO A festa completa “O passado é história, o futuro é mistério e o presente é dádiva, por isso se chama presente.” O Grupo Ser tinha retomado sua energia e disposição, e aos poucos o CDCA voltava a receber uma contribuição relevante e consistente da nossa equipe. E isso fazia toda a diferença para aquela instituição tão acolhedora, mas tão carente de recursos e pessoas. Em uma linda manhã, preparamos uma grande festa para comemorar o Dia das Crianças no CDCA, em que os pais foram convidados e compareceram em peso, o que dava outra dinâmica ao objetivo daquela festividade. Minha alegria estava ainda mais completa com a presença do Fabinho, meu filho, o que representava para mim uma grande barreira vencida em minha vida pessoal. Aproveitei essa oportunidade para apresentar a ele a importância do voluntariado. A festa tinha mágico, bolas, presentes e tudo que uma criança gosta! A alegria estava presente neste dia tão especial. Conseguimos reunir para este evento muitos voluntários da empresa. Penso que nossos objetivos de retomar as ações e fortalecer novamente a equipe foram alcançados. Foi uma lição aprendida, pois quando eu estava mais fraca a equipe conseguiu reunir esforços para continuar e alavancar os trabalhos, me apoiando de uma maneira muito especial. Mas sentia que ainda faltava alguma coisa. Comecei a pensar o que tinha acontecido com Lio? Ele tinha me ensinado que existem muitas barreiras entre as pessoas, mesmo entre aquelas que estão dentro da mesma casa, que podem se ver, se tocar e conversar. O que faz diferença nas relações é o quanto você está disposto a se aproximar, a ouvir e a agir, questionando se a 21
  • 20. barreira que você vê pode ter sido criada por você mesmo. Dona Divina havia fechado o buraco do muro e a comunicação com Lio havia cessado. O que será que teria acontecido com aquele menino? A festa prosseguia com muita alegria, até que de repente ouviu-se um grande barulho, de fogos, sirene da policia e uma grande gritaria. Tive muito medo neste momento, logo pensei nos riscos para os participantes da festa. Todos correram para ver o que era, chegando lá fora vimos que a policia estava subindo o morro e os vizinhos da casa do muro alto bateram em retirada de forma desordenada e desorganizada. Era a primeira vez que os víamos. Tratavam-se de cinco homens e três mulheres jovens e muito estranhos. Ao saírem deixaram para trás muitos objetos e pertences, e ainda o portão azul aberto. Na hora, só pensei em Lio, pois não vimos levarem nenhuma criança. George, mais afoito ainda, não se conteve e adentrou a casa; pensando em protegê-lo o segui. Fomos direto ao muro que separava a casa do CDCA, procurando por Lio, quando encontramos a criança sentada no cantinho sozinha, próxima ao buraco do muro, num choro contido. Emocionados corremos para resgatá- la. Para nossa surpresa Lio era uma menina de aproximadamente de nove anos, muda e encantadora, que lutou como pode para chamar a atenção de alguém e que acabara de ser libertada para viver uma nova vida. Levamos Lio para o CDCA, e a equipe, não se contendo, caiu em choro por constatar que, de fato, a necessidade de Lio era real. Ao mesmo tempo, sentíamos alegria por ter resgatado aquela criança. Essa experiência nos fez perceber o quanto devemos estar atentos às pessoas ao nosso redor para que os muros não sejam vistos como barreiras intransponíveis, mas sim como oportunidades de promover o bem e aprende 22
  • 21. OS AUTORES 29.06.2012 Alexandre Bitencourt da Rocha (Vitória Motors) Amanda Furtado Costa (Unidade Comércio) Clarice Vasconcelos (Vitória Diesel) Cleci Kruger (Holding) Daniel Sena Silvério (Viação Salutaris) Erick Xavier Silvério (Viação Águia Branca) Fabiano Antonio Keffer (Viação Águia Branca Frederico de Lima (Viação Salutaris); Gilberto Quinquin (VIX Logística) Gleyciane Amorim (Unidade Comércio) Jeferson Anderson Silva Santana (Viação Águia Branca) João Henrique Stefenon (VIX Logística) Kelly Cristina Simmer (Holding) Leonardo Rodrigues (Viação Águia Branca) Letícia Oliveira Lima (Viação Águia Branca) Letícia Vanzo (Holding) Linamara de Souza Gonçalves (Viação Salutaris) Luanna Christina Nunes dos Santos (Viação Águia Branca) Marcele Ocleys dos Santos (Holding) Monica Novaes (Holding) Monica Silva Cavalcanti (VIX Logística) Natalia Rigolon de Oliveira (Viação Salutaris) Pamella de Oliveira Santos (VIX Logística) Raimundo Ueverson de Oliveira Santos (Viação Águia Branca) Roberto da Silva Barros (Viação Águia Branca) Romero de Freitas Ventura (Kurumá Veículos) Romildo dos Santos (Viação Águia Branca) Valesca Falqueto (Unidade Passageiros) 23