O documento discute como a caridade pode ser vivida durante a Quaresma através do jejum, oração e esmola. Estas práticas levam à conversão e expiação dos pecados, e quando vividas com motivação correta, conduzem a viver para os outros com o amor incondicional de Deus. As doações da Quaresma na diocese serão divididas igualmente entre as Conferências de São Vicente de Paulo, o Centro Pastoral Paulo VI, e um lar para estudantes pobres em Moçambique.
A caridade como vivência da fé e anúncio do evangelho
1. A CARIDADE COMO VIVÊNCIA DA FÉ E ANÚNCIO DO EVANGELHO
Mensagem quaresmal para a Diocese de Viana do Castelo
1. Chegaram os dias de penitência: expiemos nossos pecados e salvaremos nossas almas. É
com estas palavras que a Liturgia das Horas, numa das antífonas da Hora Intermédia de Quarta
Feira de Cinzas, nos anuncia o tempo da Quaresmae nos indica como vivê-lo: na penitência,
isto é, no arrependimento dos pecados e na conversão a uma vida de acordo com a nossa fé
em Deus, o único quenos pode salvar.
Esta penitência e a consequente expiação ou reparação do mal causado pelo pecado têm de
ser concretas. O Catecismo da Igreja Católica (n.º 1434) destaca as trêsformas em que a
Escritura e os Padres da Igreja mais insistem: o jejum, a oração e a esmola. E fundamenta
assim a sua importância:nelas cada um de nós exprime “a conversão em relação a si mesmo, a
Deus e aos outros”.Alarguemospois asnossas vidas a estas três dimensões, e receberemos de
Deus a salvação prometida.
2. Para isso,atendamosao aviso de Jesusno início da Quaresma: Tende cuidado em não praticar
as vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles. Aliás, não tereis nenhuma
recompensa do vosso Pai que está nos Céus (Mt 6,1). Nãoteremos recompensa, porque na
prática a rejeitamos à partida. Quemjejua, reza ou dá esmola, para dar nas vistas ou obter
outros dividendos, fecha-se ainda mais nos limites do seu egoísmo e rejeita o amor infinito
com que Deus nos conquista para a fé– aquela fé que, no dizer de São Paulo,actua pela
caridade (Gl 5,6).
E se esta caridade, como a fé em que está enraizada,é dom de Deus,não podereduzir-se à
oferta do que nos sobeja. Não é assim que os verdadeiros pais amam os filhos. Nem é assim
que nos ama o nosso Pai que está nos Céus. Pelo contrário: sem o merecermos, deu-nosJesus
Cristo, seu Filho Único; eJesus por todosofereceu toda a sua vida na cruz, abrindo-nos assim o
caminho para o triunfo definitivo sobre o egoísmo,o pecado e a morte.
3. Quer isto dizer que tanto o jejum e a abstinência como a oração devem, por um lado,
conduzir-nos à práticadacaridade e são, por outro lado, condição para a sua
autenticidade.Abstemo-nos até daquilo que nos pode fazer falta,para o oferecermos aos
outros;rezamos com maior intensidade, para nos darmos mais pelos outros. Por outro lado,
sem o auxílio divino da oração e a renúncia a nós próprios, dificilmenteviveremos para os
outros, com a caridade pura e incondicional, ilimitada e persistente do nosso Deus.
Juntemos as três formas de penitência nesta sua complementaridade,efaremos da caridade,
neste Ano da Fé, o anúncio mais eficaz do Evangelho em que acreditamos e de que o mundo
tanto precisa. Para nós, é muito mais fácil falar daquilo que já se manifesta nas nossas vidas. E
para quem nos escuta é muito mais convincente o que já vê ao vivo em nós.
4. Foi nesse sentido que, depois de ouvir o Conselho Presbiteral, escolhi os três destinos que,
neste ano e em partes iguais, daremos ao contributo penitencial recolhido na nossa Diocese:
- A nível paroquial, as Conferências de São Vicente de Paulo da Diocese. São um movimento
socio-caritativo há muitos anos activo entre nós e no qual a ajuda aos mais carenciados é
prestada de modo absolutamente gratuito e a partir da permanente comunhão com Deus,
pela oração.
2. - A nível diocesano, o Centro Pastoral Paulo VI de Viana do Castelo. É um lugar de
espiritualidade onde muitíssimos cristãos, sobretudo da nossa Diocese, têm encontrado o
caminho para Deus e para os outros e que, dentro em breve, irá ser sujeito a profundas obras
de conservação e restauro.
- A nível internacional, um lar para estudantes mais pobres, a ser construído na Missão de
Itoculo, da Diocese moçambicana de Nacala. Nela trabalha, com outros sacerdotes e religiosas,
o Padre Raúl Viana (um espiritanode Vitorino de Piães, Ponte de Lima), na evangelização e na
promoção humana de pessoas carenciadas de toda espécie de bens.
Viana do Castelo, 13 de Fevereiro de 2013 – Quarta Feira de Cinzas
† Anacleto Oliveira