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SERMÕES DO ANO
DE AVIVAMENTO
Pregados no Surrey Music Hall, Londres
1859
C. H. Spurgeon
PUBLICAÇÕES EVANGÉLICAS SELECIONADAS
Caixa Postal 1287
01059-970 - São Paulo, SP
Título original:
Revival Year Sermons
Editora:
The Banner of Truth Trust
Primeira edição em inglês:
1959
Tradutor:
Edgard Leitão
Capa:
Ailton Oliveira Lotres
Revisão:
Antonio Poccinelli
Printeíra edição em português:
NOTA BIOGRÁFICA SOBRE SPURGEON
Charles Haddon Spurgeon, filho de um pastor calvinista
independente, nasceu em Kelvedon, Essex, na Inglaterra em
1834. Seus grandes dons como pregador não tardaram em
manifestar-se. Com a idade de apenas 16 anos já encontramos o
jovem Spurgeon pregando em diferentes congregações
independentes. Um ano mais tarde o vemos à frente de uma
humilde obra batista próximo de Cambridge. A partir de então a
fama do jovem pregador se estendeu por toda a Inglaterra,
alcançando inclusive a populosa cidade de Londres.
Em abril de 1854, antes de completar os 20 anos, ele
aceitou o pastorado da Igreja de New Park Street. Esta congre­
gação estava numa fase de decadência, reunindo não mais de
200 pessoas num santuário com capacidade para 1.200. Em
menos de um ano o templo se encheu totalmente e em fevereiro
de 1855, tornou-se uma urgente necessidade a ampliação do
antigo edifício.
Toda a Londres se deu conta do novo pregador a ponto
de os jornais anunciarem que “desde os tempos de Wesley e
Whitefield não havia existido um interesse religoso tão profun­
do”. Em 1861 foi inaugurado o famoso Tabernáculo, com
capacidade para mais de 9.000 pessoas. Neste lugar, e por mais
de 30 anos, Spurgeon deu poderoso testemunho da verdade
evangélica. As conversões foram incontáveis, e tanto na Ingla­
terra como na América seus sermões impressos se tornaram um
meio maravilhoso de bênção para milhões de almas. Além de
seus esforços como pregador, Spurgeon fundou um colégio para
a formação teológica de pastores, um orfanato e uma sociedade
de colportores.
O ministério de Spurgeon começou subitamente e
concluiu de maneira semelhante. Terminou sua gloriosa carreira
em 1892, quando contava com 58 anos de idade. A notícia da
sua morte ocupou a primeira página dos jornais ingleses e
europeus, e com ele morria “o último dos puritanos”.
O poder do ministério de Spurgeon residia em sua
teologia. Ele redescobriu o que a Igreja por muito tempo havia
esquecido - o poder evangélico das chamadas doutrinas calvi-
nistas. Seu ministério constituiu um poderoso testemunho da
única verdade salvadora.
“A antiga verdade que Calvino, Agostinho e o apóstolo
Paulo pregaram é a verdade que eu também devo pregar hoje;
do contrário deixaria de ser fiel à minha consciência e ao meu
Deus. Não posso remodelar a verdade; desconheço tal coisa
como lapidar uma doutrina bíblica. O evangelho de John Knox
é o meu evangelho. Aquilo que trovejou por toda a Escócia
precisa trovejar novamente por toda a Inglaterra. ”
“Uma inércia espiritual é nossa inimiga; uma tempes­
tade talvez seja nossa amiga. A controvérsia talvez provoque
pensamento, e por meio dele talvez venha a mudança espiritual
necessária. ”
-C . H. Spurgeon
ÍNDICE
Introdução ....................................................................... 9
1 A história dos poderosos feitos de Deus...................... 21
“Ouvimos, ó Deus, com os nossos próprios ouvidos:
nossos pais nos tem contato o que outrora fizeste em
seus dias ”
-Sal. 44:1
2 O sangue do concerto eterno.......................................... 44
“O sangue do concerto eterno”
-H eb. 13:20
3 A necessidade da obra do Espírito Santo.................... 63
“Eporei dentro de vós o meu Espírito”
- Ex. 36:27
4 Predestinação e chamada............................................... 83
“E aos que predestinou, a estes também chamou ”
- Rom. 8:30
5 Um sermão de despedida................................................102
“Portanto, no dia de hoje, vos protesto que estou
limpo do sangue de todos; porque nunca deixei de
anunciar-vos todo o conselho de Deus”
-A t. 20:26-27
INTRODUÇÃO
O ano de 1859 foi de pouco significado político para
fazê-lo permanentemente memorável. A agonia da guerra da
Criméia e os efeitos causados pelo Motim da índia, já haviam
passado. A Guerra Civil Americana, com suas repercussões
sobre o comércio inglês, ainda não havia começado. No outro
lado do Canal da Mancha, os conflitos entre a França e a Áustria
se desenvolviam sobre a península italiana sem interferência
inglesa. Com normalidade rotineira, a rainha Vitória cumpria
seus vinte e dois anos de reinado, e em Westminster, pela
segunda vez, Lord Palmerston tomava posse do cargo de
primeiro-ministro, função que desempenharia sem aconteci­
mento algum de importância. Sem dúvida, nos anais da Igreja
Cristã, este ano se destaca como um verdadeiro ano de graça.
Desde então a Inglaterra não conheceu outro ano como este, e é
por isso que os notáveis episódios do período merecem um
registro duradouro.
Numa terça-feira à noite, exatamente no dia 4 de janeiro
de 1859, Charles Haddon Spurgeon, que na época contava com
24 anos de idade, dirigia a palavra a uma grande multidão
reunida no Exeter Hall, sob os auspícios da Associação Cristã de
Moços. O tema do seu discurso versou sobre a propagação da fé
e no decorrer do mesmo, Spurgeon destacou a necessidade de
um avivamento. “Devemos confessar que nesta hora não
gozamos da presença do Espírito Santo na medida que a
desejaríamos. Oh, que resultados se produziriam nos que se
congregam aqui nesta noite, e sobre todas as assembléias dos
santos, se o Espírito de Deus descesse! Não buscamos
exaltações extraordinárias - as quais são as falsas acompanhan­
tes de todo avivamento genuíno - mas realmente aspiramos que
o Espírito Santo seja derramado sobre nós. O Espírito está
soprando sobre nossas igrejas com Seu alento afável, porém não
é mais que um sopro suave. Oh, se viesse como um vento
impetuoso que arrebatasse tudo após si! Esta é a necessidade
destes tempos - a grande falta em nossa nação. Oh, que nos
venha como uma bênção do Altíssimo!” Este desejo se cumpriu.
Na primavera do ano de 1859, deflagrado pela notícia do aviva­
mento que iniciara na América no inverno de 1857-58, se iniciou
um grande despertamento na Irlanda do Norte e no País de
Gales. No princípio do verão já se havia propagado desde a
Irlanda até à Escócia, e no final do ano Spurgeon podia escrever:
“Os dias de refrigério pela presença do Senhor, finalmente se
deixam sentir em nossa nação”.
Dentre todos os pregadores daquele ano de graça, o
Senhor Se serviu de maneira extraordinária de C. H. Spurgeon; e
embora Londres não chegasse a ser o centro de cenas de
avivamento, tais como as que se presenciavam noutros lugares,
contudo não existia em toda a nação uma voz mais influente que
a do jovem pastor da capela de New Park Street. Cinco anos
antes, com apenas 19 anos, Spurgeon deixara uma humilde obra
batista em Waterbeach, perto de Cambridge, para aceitar o
pastorado desta igreja londrinense. A igreja se encontrava em
avançado estado de decadência. Não mais que 200 pessoas se
reuniam num edifício com capacidade para 1.200. Entretanto,
num período de doze meses, o templo se encheu totalmente. Em
fevereiro de 1855, a ampliação da antiga estrutura tornou-se uma
urgente necessidade e a congregação decidiu realizar as reuniões
* Spurgeon pregou em New Park Street pela primeira vez em dezembro
de 1853; foi-lhe oferecido o pastorado em abril de 1854. Permaneceu nessa
congregação até a morte.
em Exeter Hall (capaz de congregar mais de 2.500 pessoas) até
maio, data em que seriam concluídas as reformas. No entanto, a
ampliação da capela de New Park Street tornou-se insuficiente,
pois toda a Londres se dera conta do novo pregador, e inclusive
os jornais anunciavam que “desde os tempos de Wesley e
Whitefield não havia existido um interesse religioso tão
profundo”. Em junho de 1856, a congregação se viu obrigada a
voltar de novo ao Exeter Hall para os cultos da noite, e se
destinou uma verba especial para construir um novo edifício.
Em novembro a congregação outra vez teve que transferir-se, e
durante três anos a igreja de New Park Street se reuniu no Surrey
Gardens Music Hall. Domingo após domingo, durante todo este
tempo, Spurgeon pregou o evangelho a uma audiência que
oscilava entre 5.000 e 9.000 pessoas. Além disso, durante a
semana geralmente pregava cerca de dez vezes. Ao chegar o
ano de 1859, já havia pregado na Escócia, Irlanda e a maior
parte da Inglaterra. Recusou repetidos convites para ir à
América, mas tanto ali como em outras partes do mundo seus
sermões encontravam elevado número de leitores.
Era, pois, evidente que muito antes de 1859 o poder do
Espírito Santo já se havia manifestado eficazmente no minis­
tério de Spurgeon. No final desse ano de avivamento e no
prólogo do 59 volume do New Park Street Pulpit, Spurgeon
escrevia: “Em meio destas novas mostras do amor divino, é
bastante agradável visitar os lugares que por muito tempo têm
sido favorecidos, não somente com desejados frutos, porém com
alegria e gozo indizível. E este é o caso com a igreja na qual
foram proferidos estes sermões. Seu “arco” permanece com
firmeza... Por seis anos o orvalho não cessou de descer, nem a
chuva deixou de cair.” E acrescenta: “Atualmente o número de
convertidos é mais numeroso que em tempos passados, e o zelo
da igreja cresce extraordinariamente”. De maneira indiscutível,
inclusive para seu ministério, o ano de 1859 foi extraordinário.
Talvez alguns fatos deste ano memorável merecem
destaque. No dia l9 de março, Spurgeon pregou a uma nume­
rosa afluência de ouvintes no Tabernáculo de Whitefield. Em 10
de julho, em vista de ter perecido um homem em Clapham
Common, vítima de um raio, Spurgeon falou nesse lugar a mais
de 10.000 pessoas. A reunião foi ao ar livre e o tema do seu
sermão foi: “Estejam também prontos”. Dois dias depois, noutra
reunião ao ar livre, Spurgeon pregou a outra multidão em
Rowland’s Castle, num vale próximo a Havant. Nesse lugar as
próprias montanhas recolhiam o som de sua voz, enquanto as
multidões, em suspenso, podiam ouvir a comovedora exortação,
repetida ao longe através do eco: "v i n d e , v i n d e , v i n d e , v i n d e !"
No dia 20 do mesmo mês, Spurgeon pregou no País de Gales
pela primeira vez, novamente ao ar livre, a uma multidão de
9.000 a 10.000 pessoas. Os habitantes de Castleton, aldeia
situada entre Newport e Cardiff, onde se realizou a reunião,
tiveram motivos de sobra para recordar tal acontecimento até o
dia de suas mortes.
Estas reuniões ao ar livre efetuadas em distritos rurais
constituíram uma faceta distintiva do ministério de Spurgeon
naquele ano. Quase no final do ano, em outubro de 1859, ainda
encontramos Spurgeon pregando ao ar livre a uma congregação
de 4.000 pessoas em Carlton, Bedfordshire.
O ano de 1859 foi também o último em que Spurgeon
pregou no Surrey Gardens Music Hall. Por algum tempo os
proprietários do mesmo não se atreveram a abrir o auditório e
suas dependências aos domingos para diversões públicas, pois
haviam sido advertidos por Spurgeon de que, se o fizessem, a
congregação deixaria de usar o edifício e com isso os proprie­
tários se privariam de um aluguel muito respeitável. Mais tarde,
porém, confiando obter maior lucro, abriram o lugar para
diversões, forçando assim a Spurgeon a cumprir sua palavra. Na
ocasião em que teve de deixar o Music Hall, Spurgeon pregou o
sermão de despedida que aparece neste livro. Depois disso, os
empresários do edifício se arruinaram completamente, não
apenas moral como também financeiramente, e em junho de
1861 o Hall foi destruído por um incêndio. Anos mais tarde,
alguém escreveu as seguintes impressões das últimas reuniões
no Music Hall: “Jamais esquecerei aquele sermão de 17 de julho
de 1859: “A história dos poderosos feitos de Deus.” Como
Spurgeon se empolgou na pregação daquela manhã! Havia
muito calor, e ele constantemente enxugava o suor da sua fronte,
mas esse desconforto em nada afetou seu discurso; as palavras
fluíam como uma torrente de sagrada eloqüência...Eu estava
também presente no último culto que se celebrou no Music Hall,
a 11 de dezembro de 1859. Densa era a neblina naquele dia, não
obstante o local estava tão repleto quanto podia ser. Eu ocupava
um dos assentos da frente na segunda galeria, de modo que
desfrutava de uma vista esplêndida de toda a multidão. Num
fervoroso sermão, Spurgeon apresentou todo o conselho de
Deus. Sempre há uma nota triste naquilo que põe fim a algo; e
assim, enquanto abandonava o lugar, me dei conta de que uma
das experiências mais felizes da minha juventude pertencia já ao
passado. E assim foi, também, em minha opinião, como
terminou uma das mais românticas cenas da maravilhosa vida do
Sr. Spurgeon”.
Os sermões incluídos neste livro foram todos pregados
no Surrey Music Hall e são típicos dos muitos ali proferidos.
Neles se encontrará a razão que explica o extraordinário êxito
que em todo o tempo acompanhou o ministério de Spurgeon. O
que seria que reunia e sustentava uma congregação de 8.000
pessoas? Propaganda? Cultos vistosos? Acompanhamentos
musicais? Conselheiros organizados? Não! Spurgeon não
dependia de nenhuma destas coisas. “Ora, era o mesmo
evangelho que se prega hoje em dia por toda a parte”, talvez diga
alguém. Certamente, o que ele pregava era o evangelho, todavia
no evangelismo que tão profusamente se apresenta hoje em dia,
encontraríamos o mesmo evangelho de Spurgeon? Que o leitor
destes sermões - com toda a seriedade - responda por si mesmo
a essa pergunta.
O poder do ministério de Spurgeon residia em sua teo­
logia. Ele descobriu novamente o que a Igreja há tempo havia
esquecido - o poder evangélico das chamadas doutrinas
“calvinistas”. No sermão que pregou no lançamento da pedra
fundamental do Tabernáculo Metropolitano (15 de agosto de
1859) ele declarou: "Nós cremos nos cinco pontos que comu-
mente se chamam calvinistas; os reputamos como cinco grandes
luzes que irradiam da cruz de Cristo.” Na inauguração do
Tabernáculo em 1861, o tema dos diferentes sermões foi
precisamente sobre estes cinco pontos: eleição, depravação total,
redenção particular, chamada eficaz e perseverança final dos
santos. Longe de considerá-las como um estorvo para seu
evangelismo, Spurgeon reputava essas verdades como a força
impulsora que move o ministério evangélico. “A eleição - e me
refiro aqui a todo o conjunto de verdades que se agrupam em
torno dela, como se esta fora um sol central - não somente tem
um poder salvador, mas exerce também um poder que comunica
gosto e qualidade a todas as demais doutrinas. O evangelismo
mais puro brota desta verdade. . . Esta doutrina, que à primeira
vista parece como se condenara todo o esforço à indolência e
fizera sentar o homem em morbidez e desespero, é
verdadeiramente nada menos que a trombeta de Deus para des­
pertar os mortos. E visto que ela honra a Deus, Deus a honrará.”
Além disso, Spurgeon percebeu uma conexão vital entra
a proclamação destas verdades e o irrompimento de aviva-
mentos. "Na história da Igreja, excetuando uns poucos casos,
não encontrarão nenhum avivamento que não tenha sido
produzido por uma fé ortodoxa. Não foi assim com a grande
obra produzida por Agostinho, ao despertar subitamente a Igreja
do sono funesto e mortal dentro do qual o pelagianismo a
colocara? Que foi a Reforma, senão um despertar das mentes
humanas para estas verdades antigas? Mesmo que luteranos
modernistas de hoje tenham abandonado suas doutrinas antigas,
e ainda que alguns deles não estejam de acordo comigo, de todos
os modos devo dizer que Lutero e Calvino não mantiveram
argumento algum concernente à predestinação. Seus pontos de
vista eram idênticos, e a obra de Lutero sobre O Cativeiro da
Vontade é tão enfática com respeito à livre graça de Deus como
se fosse um escrito de Calvino. Escutem esse grande trovejador
quando exclama nesse livro: “Que o leitor cristão saiba que Deus
não prevê nada de maneira contingente, porém que, pelo
contrário, Ele prevê, propõe e atua de acordo com Sua eterna e
imutável vontade. Ela é o baque de trovão que rompe e vence o
livre-arbítrio.”
Acaso precisaria mencionar-lhes nomes mais célebres
que os de Huss, Jerônimo de Praga, Farei, Knox, Wicliffe,
Wishart e Bradford? Todos estes sustentaram os mesmos pontos
de vista, e em sua época um avivamento arminiano não só teria
sido inconcebível, como também impossível de sonhar. E no
tocante a um avivamento mais recente, sob João Wesley, e no
qual os metodistas wesleyanos contribuíram tão extensamente,
parece ser, à primeira vista, que este avivamento constituiu uma
exceção ao que foi afirmado até aqui; no entanto, permitam-me
afirmar que o poder doutrinai do metodismo wesleyano reside
em seu calvinismo.A maioria dos metodistas reprovou
totalmente as doutrinas do pelagianismo. Defendeu a doutrina
da depravação total do homem, a necessidade de uma
O arminianismo foi oficialmente condenado no Sínodo de Dort
(1618-1619), mas é importante notar que, na atualidade, este sistema
doutrinário tão contrário aos ensinamentos bíblicos, se transformou na
teologia oficial de um grande setor do protestantismo. Nota do tradutor.
intervenção direta do Espírito Santo na salvação, e que o
primeiro passo na conversão provém, não do homem, e sim de
Deus. Essas pessoas negaram ser pelagianas. Acaso o
metodista não sustenta, com a mesma firmeza que nós, que o
homem é salvo unicamente pela operação do Espírito Santo?
Não é certo, porventura, que muitos dos sermões de João Wesley
estão saturados daquela grande verdade, ou seja, que o Espírito
Santo é necessário para a regeneração? Sejam quais forem os
seus erros, o certo é que ele continuamente pregou a absoluta
necessidade do novo nascimento através da atuação do Espírito
Santo. E, também, há outros pontos em que estamos de acordo
com Wesley, como por exemplo, no que diz respeito à
incapacidade humana. Não importa como alguns nos ridicu­
larizem, quando dizemos que o homem por si só não pode se
arrepender nem crer; contudo os antigos manuais arminianos
afirmavam a mesma coisa. E verdade que eles afirmam que
Deus dá graça a todo homem; no entanto não debatem o fato de
que, à parte daquela graça, não há capacidade no homem para
fazer algo de valor quanto à sua própria salvação.
E voltando agora nossa atenção aos avivamentos do
continente americano, descobrimos quão falsa é a acusação de
que as doutrinas calvinistas são contrárias a todo avivamento.
Recordem o abalo espiritual produzido pela pregação de
Jonathan Edwards e também por muitos outros pregadores
americanos. Ou, se preferem, voltem a atenção para a Escócia:
que diremos de M’Cheyne? E daqueles famosos calvinistas tais
como Livingstone, Chalmers, Wardlaw, Haldane, Erskine e
muitos outros? Todos esses servos de Deus sustentaram e
proclamaram sem vacilação alguma as grandes verdades do
calvinismo, e com que resultado? Deus aprovou a mensagem
deles e multidões foram salvas. E sem que agora trate de
engrandecer-me de meu trabalho para o Senhor, me atrevo a
dizer que nunca pude observar que a pregação destas doutrinas
por minha parte puseram esta igreja a dormir; antes, pelo con­
trário, seus membros, além de amar e sustentar estas verdades,
agonizam pelas almas dos homens. As 1.600 ou mais pessoas
que batizei, ao confessarem sua fé, constituem testemunho vivo
de que estas antigas verdades não perderam seu poder para
promover avivamentos religiosos.*
Para explicar a falta de poder nos sermões de alguns
pregadores que pareciam não afetar alma alguma, Spurgeon
dizia: “A razão está, creio, em que eles não sabem o que na
realidade é o evangelho', têm medo do verdadeiro evangelho
calvinista, e por conseguinte o Senhor não reconhece seu minis­
tério”. Falando da influência destas doutrinas sobre sua própria
igreja, Spurgeon escreveu: “Entre os muitos candidatos para o
batismo e para a membresia desta igreja, havia um grande
número de jovens e também de pessoas de mais idade. Eu me
deleitava em ouvir-lhes expressar tão claramente, não só as
grandes verdades da justificação pela fé, mas também ao darem
clara evidência de haver sido instruídos nas doutrinas
relacionadas com o pacto da graça. Creio que uma das razões
pelas quais esta igreja tem sido tão distintamente abençoada por
Deus, é porque a maioria daqueles que se agregaram a nossas
fileiras está bem fundamentada na antiga fé dos puritanos e
O avivamento de 1859 foi uma ilustração do vínculo entre as
doutrinas calvinistas e os avivamentos. Outros líderes envolvidos no
avivamento, tais como Brownlow North (cujo pregação foi tão influente
na Escócia e na Irlanda), reconheceram isto: “Não deixa de ser digna de
observação que a vasta maioria dos servos de Deus, honrados por Ele para
produzir avivamentos em escala nacional, desde o inglês W ycliffe e o
boêmio Huss até os da atualidade, tem sido agostiniano ou calvinista em
seus pontos de vista teológicos. O ensino de Brownlow North foi
decididamente calvinista. De fato, era tão calvinista que é de se admirar
que obteve tanta popularidade”. (Records and Recollections of Brownlow
North (1810-75), por K. Moody-Stuart, p. 258.)
portanto não se afastou de nós.” Exortando a seus companheiros
de ministério, Spurgeon afirmava: “Irmãos, na proporção em que
um ministro é fiel, dependerá a bênção de Deus. Podem esperar
que o Espírito Santo ponha o Seu selo de aprovação a uma
mentira? Podem esperar que Ele abençoe aquilo que não
revelou ou confirme com sinais o que não é verdadeiro? Cada
vez estou mais convencido de que se desejamos ter Deus ao
nosso lado, devemos guardar a Sua verdade”.
Qualquer erro referente às doutrinas mencionadas ante­
riormente, Spurgeon o considerava como um atentado à própria
essência do evangelho. O arminianismo - o erro que sustenta
que Cristo morreu para a salvação de todos e de que o homem
tem de decidir-se por Cristo antes de que Deus possa convertê­
-lo - foi severamente condenado por Spurgeon: “A heresia de
Roma não é outra senão a de acrescentar algo aos perfeitos
méritos de Cristo, o acréscimo das obras da carne para ajudar a
nossa justiça. Não seria essa também a heresia do arminianismo
ao acrescentar algo à obra do Redentor? Minha opinião é que
não é possível pregar a Cristo crucificado, a menos que não
preguemos também o que hoje em dia se chama calvinismo. O
nome calvinismo é só apelativo; o calvinismo é o evangelho e
nada mais. Não podemos dizer que pregamos o evangelho se
não pregamos a justificação pela fé, sem as obras. Tampouco
podemos dizer que pregamos o evangelho se não pregamos a
soberania de Deus na dispensação da Sua graça e muito menos
se não destacamos o amor eletivo, invariável, eterno e imutável
do Senhor. Ainda mais, não podemos dizer que pregamos o
evangelho a menos que o baseemos na redenção especial e
particular do povo eleito, povo que Cristo resgatou ao morrer na
cruz. Acima de tudo, não podemos aceitar um evangelho que
permita aos santos cairem da graça uma vez que foram
chamados. Tal evangelho eu detesto”.
No ano de 1859, Spurgeon também pregou em Brighton.
Depois desta visita, os jornais locais anunciaram que ele havia
abandonado as doutrinas calvinistas. Como resultado desta falsa
afirmação, Spurgeon enviou as seguintes linhas ao Brighton
Examiner: “A afirmação segundo a qual abjurei a doutrina
calvinista é - desde o princípio até ao fim - pura invenção e
somente podia ser idealizada com propósitos maliciosos. Minha
posição doutrinária é a mesma de antes, e espero que até ao dia
de minha morte permanecerei fiel à mesma verdade sublime”.
Após revisar seus primeiros sermões para serem publicados,
declarou: “Regozijo-me no fato de que não tive necessidade de
mudar nenhuma das doutrinas que preguei nos primeiros dias do
meu ministério. Com respeito a estas verdades, minha posição é
a mesma que quando o Senhor as revelou para mim pela
primeira vez”.
Spurgeon faleceu em 1892. Viveu o suficiente para
observar ao seu redor um terrível declínio das doutrinas funda­
mentais do evangelho. Perto do fim da sua vida ele foi
considerado “o último dos puritanos” e parecia como se fora o
único que se mantinha firme pela verdade. “Sentimos -
declarava ele - como se um processo de endurecimento estivesse
agindo nas massas. A situação agora não é a mesma como no
princípio do meu ministério. E a que se deve isso? Qual a razão
desse desagrado pelos cultos simples do santuário? Creio que a
resposta, em grande parte, aponta a uma direção que pouco se
suspeita. Tem havido uma crescente tendência para o
sensualismo. Não condeno a ninguém, mas confesso que me
sinto profundamente entristecido ao ver algumas das invenções
empregadas na obra missionária moderna.”
Em 1892 o fluxo do pensamento popular nas igrejas era
muito diferente do de 1859. A teologia de 1892 veio a ser -
como predissera Spurgeon - a teologia da primeira metade do
século vinte. “O que está ocorrendo agora afetará os próximos
séculos. Da minha parte estou completamente disposto a ser
devorado pelos cães nos próximos cinqüenta anos; mas as gera­
ções de um futuro mais distante me darão a razão.” Cem anos
já se passaram desde o último grande avivamento nacional.
Certamente chegou o momento de submetermos a um exame os
frutos das mudanças teológicas registradas desde então. Eles
teriam contribuído realmente para um crescimento maior de
avivamentos? Acaso eles aumentaram o poder da santidade?
Porventura trouxeram convicção do pecado ao mundo? Eles
estariam enchendo as igrejas com ouvintes sequiosos? Ao ler
estes sermões e ver-nos confrontados com a mudança teológica
de hoje em dia, perguntemo-nos: essa mudança tem contribuído
para o bem ou para o mal? As idéias modernas sobre o evange­
lho e os métodos evangelísticos recentes têm enriquecido ou
empobrecido a Igreja? Se o evangelho pregado por Spurgeon
era o evangelho genuíno, então atualmente em quantos lugares
se anuncia com poder o puro evangelho? Que o centenário do
avivamento de 1859 faça com que muitos crentes considerem
tais questões e busquem um despertamento semelhante ao que
ocorreu há cem anos na Inglaterra.
março de 1959 OS EDITORES
A HISTÓRIA DOS PODEROSOS
FEITOS DE DEUS*
“Ouvimos, 6 Deus, com os nossos próprios ouvidos: nossos
pais nos tem contado o que outrorafizeste em seus dias”
-Sal. 44:1.
Talvez não haja histórias que permaneçam por tanto
tempo gravadas em nossa memória como as que ouvimos da
boca de nossos pais, em nossa infância. É triste lembrar que
muitas delas eram inúteis e vãs, de modo que desde crianças
nossas mentes tenham sido influenciadas por fábulas e narrativas
estranhas, todas manchadas de falsidade. Entre os primeiros
cristãos e crentes do passado, os contos infantis eram muito
diferentes dos da atualidade, e as histórias com as quais
entretinham os filhos eram de classe bem distinta das que nos
fascinavam nos dias de nossa infância. Sem dúvida Abraão teria
falado às crianças a respeito do dilúvio e de que maneira as
águas chegaram a cobrir a terra, de modo que apenas Noé foi
salvo pela arca. Os antigos israelitas, quando habitavam a Terra
Prometida, teriam contado a seus filhos o milagre realizado por
Deus no Mar Vermelho, e falado das pragas lançadas sobre o
Domingo de manhã, 17 de julho de 1859.
Egito quando o Senhor libertou o Seu povo do cativeiro.
Sabemos que entre os primeiros cristãos, os pais costumavam
relatar a seus filhos tudo concernente à vida de Jesus, o que os
apóstolos fizeram e narrativas semelhantes. Também foram
essas as histórias que deleitaram a infância dos nossos
antepassados, os puritanos. Sentados ao redor da lareira e em
frente daqueles mosaicos holandeses, com desenhos antigos da
vida de Cristo, as mães instruiam os seus filhos acerca de Jesus e
lhes falavam de como Ele andou sobre as águas, da
multiplicação dos pães, da Sua maravilhosa transfiguração e
principalmente sobre a Sua crucificação. Oh, quanto desejaria
que essas histórias fossem repetidas e que as narrações feitas na
nossa infância versassem outra vez sobre a vida de Cristo!
Deveríamos convencer-nos de que, finalmente, não pode haver
nada mais interessante do que aquilo que é verdadeiro, e que
coisa nenhuma pode produzir uma impressão mais viva na mente
do que as histórias contidas no Livro Sagrado. Nada pode
influenciar mais profundamente o coração de uma criança como
as obras maravilhosas que Deus realizou nos tempos antigos.
Parece que o salmista que escreveu esta ode tão poética havia
ouvido dos lábios do seu pai, o qual, por sua vez, aprendera da
tradição familiar, a descrição das maravilhosas obras de Deus; e
mais tarde o doce cantor de Israel a contou a seus filhos, e assim,
de geração em geração, se louvaria a Deus pelos Seus poderosos
feitos.
Nesta manhã pretendo recordar-lhes algumas das coisas
maravilhosas que Deus fez nos tempos antigos. Meu propósito e
objetivo será estimular suas mentes a se voltarem para tais
coisas, de modo que, recordando-se do que Deus fez, vocês
possam ser levados a olhar para frente com olhos de expecta­
tiva, esperançosos de que Ele estenda novamente Seu braço
santo e Sua mão poderosa, para repetir aquelas grandes obras das
épocas passadas.
Primeiro lhes falarei das histórias maravilhosas que
nossos pais relataram e que temos ouvido referentes aos tempos
antigos. Em segundo lugar mencionarei algumas dificuldades
quanto a nossa compreensão dessas antigas histórias. Por
último, extrairei certas conclusões naturais destas obras
maravilhosas que temos ouvido que o Senhor efetuou em tempos
passados.
I. Iniciarei, pois, com AS HISTÓRIAS
MARAVILHOSAS QUE TEMOS OUVIDO REFERENTES
AOS ANTIGOS FEITOS DO SENHOR.
Temos ouvido que Deus, por vezes, tem realizado feitos
poderosos. O curso comum da vida no mundo tem sido alterado
com prodígios, diante dos quais, os homens ficaram grande­
mente maravilhados. Nem sempre Deus tem permitido que Sua
Igreja suba aos cumes da vitória em intervalos curtos, contudo
em certas ocasiões tem derribado de um só golpe os inimigos do
Seu povo e ordenado aos Seus filhos que avancem sobre os
corpos prostrados dos adversários. Voltem-se então para os
relatos antigos e lembrem-se como Deus agiu. Porventura não
se lembram do que Ele fez no Mar Vermelho, de que maneira
Ele feriu a cavalaria dos egípcios, sepultando-a, junto com a
carruagem e os cavalos de Faraó, nas profundezas do Mar
Vermelho? Não ouviram falar de que modo Deus derrotou
Ogue, rei de Basã, e a Sion, rei dos amorreus, porque eles se
opuseram ao avanço do Seu povo? Não aprenderam como Ele
provou que a Sua misericórdia é eterna quando destruiu esses
grandes reis e derrubou os poderosos dos seus tronos? Não
leram também como Deus feriu os cananeus e os lançou fora da
sua terra para a entregar aos filhos de Israel por herança
perpétua? Não ouviram que quando os exércitos de Jabin mar­
charam contra eles, as próprias estrelas desde as suas órbitas
pelejaram contra Sísera? “A torrente de Quisom os arrastou, a
antiga torrente, e nem um se salvou.” Não ouviram, também,
como Deus pela mão de Davi feriu os filisteus, e como pelo
poder de Sua destra os filhos de Amon foram desbaratados? Não
ouviram como Midiã foi entregue à confusão e como as miríades
da Arábia foram dispersas por Asa no dia de sua fé? Acaso não
ouviram, também como o Senhor enviou um ataque sobre os
exércitos de Senaqueribe, de modo que pela manhã todos eles
eram homens mortos? Proclamem - proclamem estas
maravilhas de Deus! Falem sobre elas nas ruas! Transmitam
esses feitos a seus filhos e jamais os deixem ficar no
esquecimento. A destra do Senhor tem operado coisas maravi­
lhosas e Seu nome é conhecido em toda a terra.
Entretanto, as maravilhas que de modo mais direto se
relacionam conosco são as da era cristã; certamente não pode­
mos relegá-las a segundo plano com respeito às maravilhas do
Antigo Testamento. Nunca leram como Deus obteve para Si
mesmo grande renome no dia de Pentecoste? Voltem-se para o
livro dos relatos das maravilhas de Deus e leiam-no. Pedro, o
pescador, levantou-se e pregou em nome do Senhor, seu Deus.
Afluiu uma grande multidão e o Espírito Santo desceu sobre ela.
E, que ocorreu? Umas três mil pessoas foram compungidas de
coração e creram no Senhor Jesus Cristo. Porventura não
sabem como os doze apóstolos junto com os discípulos foram a
todas as partes anunciando a Palavra e como caíram os ídolos de
seus tronos como resultado de sua pregação? As portas de
muitas cidades se abriam e os mensageiros de Cristo percorriam
as suas ruas pregando a mensagem da salvação. Na realidade, os
discípulos no início foram perseguidos por toda parte e como
perdizes foram perseguidos nos campos; mas, não sabem que
mesmo nessas circunstâncias o Senhor obteve para Si a vitória, e
que cem anos depois de haver Cristo ter sido cravado na cruz, o
evangelho já havia sido pregado em todas as nações, e até as
ilhas mais remotas haviam sido alcançadas pela pregação? Já se
esqueceram, de como em todos os rios, milhares e milhares de
gentios eram batizados ao mesmo tempo? Que área existe na
Europa que nunca tenha ouvido a mensagem sublime do
evangelho? Que cidade há em nosso país que não possa
testemunhar como a verdade de Deus tem triunfado e como os
pagãos, abandonando seus falsos deuses, dobraram os joelhos
diante de Jesus Cristo, o Crucificado? A maneira como o
evangelho foi propagado nos primeiros séculos, é, realmente, um
milagre que jamais poderá ser eclipsado. O que quer que Deus
tenha realizado no Mar Vermelho, Ele realizou ainda mais
durante os primeiros cem anos que se seguiram a vinda de Cristo
ao mundo. Parecia como se um fogo do céu houvesse corrido
pelo chão e que nada pudesse resistir à sua força. A
relampejante seta da verdade fez em pedaços o pináculo do
templo idólatra e o nome do Senhor Jesus Cristo era adorado
desde o levantar do sol até o seu ocaso. Isso é uma das coisas
que temos ouvido dos tempos antigos!
Acaso vocês nunca ouviram das coisas poderosas que
Deus efetuou através de pregadores durante os séculos desde
aquela época? Nunca lhes foi relatado o caso de Crisóstomo, o
pregador apelidado “boca de ouro”? Sempre que ele pregava,
uma grande e bem atenta multidão se comprimia no templo para
escutá-lo. Crisóstomo, de pé e levantando mãos santas, com
majestade incomparável, lhes falava a palavra de Deus em
verdade e justiça. As pessoas o ouviam e inclusive se curvavam
para a frente, para captar cada palavra; de vez em quando
rompiam o silêncio com seus aplausos e com o ruído dos pés;
logo o silêncio voltava e ficavam cativados pelas palavras do
grande pregador, até que outra vez, levados pelo entusiasmo,
punham-se em pé e aplaudiam, gritando de alegria. Em seus dias
as conversões foram inumeráveis e o nome de Deus foi
altamente glorificado na salvação de muitos pecadores.
Porventura não lhes contaram seus pais as maravilhas
operadas mais tarde naqueles tempos de superstição e densas
trevas, quando o romanismo, entronizado, estendia sua vara de
ferro sobre as nações, fechava as janelas do céu, apagava as
próprias estrelas de Deus e fazia com que a escuridão cobrisse o
povo? Não ouviram como Martinho Lutero se levantou para
anunciar o evangelho da graça de Deus, como as nações treme­
ram, e o mundo reviveu ao escutar de novo a voz de Deus? Não
ouviram a respeito de Zwínglio, entre os suíços, e Calvino, na
cidade de Genebra, e dos poderosos feitos que Deus efetuou por
meio deles? E como britânicos, já se esqueceram dos grandes
pregadores da verdade - cessaram de vibrar seus ouvidos ao
ouvirem a maravilhosa história dos pregadores enviados por
Wicliffe a cada cidadezinha e aldeia da Inglaterra, para pro­
clamar o evangelho de Deus? Não nos informa a história que
esses homens foram como tochas de fogo no meio de palhas
secas; que suas vozes se assemelhavam ao rugir de leões e seus
ministérios como o ataque de leõesinhos? Eles empurraram a
nação para a frente e com respeito aos inimigos, clamavam:
“Destruam-nos”. Ninguém podia resisti-los, porquanto o Senhor
os revestira de poder.
Aproximando-nos de tempos mais recentes, estou certo
de que nossos pais nos relataram as coisas maravilhosas que
Deus operou nos dias de Wesley e Whitefield. Naqueles dias
todas as igrejas estavam adormecidas. A falta de religião era a
regra do dia. As próprias ruas pareciam estar cheias de iniqüi­
dade e as sarjetas estavam repletas da perversidade do pecado.
Levantaram-se, então, Whitefield e Wesley, homens cujos
corações o Senhor havia tocado e que se atreveram a anunciar o
evangelho da graça de Deus. De repente, como num momento,
ouviu-se o tatalar de asas e a Igreja interrogou: “Quem são estes
que voam como uma nuvem, e como pombas às suas janelas?”
Elas vêm! Elas vêm! São incontáveis como os pássaros do céu,
e seu ímpeto é como vento forte a que não pode resistir-se. Em
poucos anos, como fruto da pregação destes dois homens, toda a
Inglaterra foi permeada pela verdade evangélica. A Palavra de
Deus era conhecida em cada cidade, e raramente encontrava-se
uma aldeia na qual os metodistas não tivessem penetrado.
Naqueles dias dos transportes vagarosos, quando o cristianismo
parecia ter comprado os vagões nos quais os nossos pais
viajaram - onde a vida comercial se movia a vapor e muitas
vezes a religião rastejava seu ventre sobre a terra - ficamos
atônitos diante de tais histórias, e nós as vemos como
maravilhas. Apesar disso, creiamos nelas, pois foram parte
substancial da história. E as maravilhas que Deus operou em
tempos passados, pela Sua graça Ele ainda fará outra vez.
“Aquele que é poderoso tem feito grandes coisas e santo é o seu
nome.”
Há uma característica especial nestas obras que Deus
efetuou nos tempos antigos, para a qual gostaria de chamar a sua
atenção: é que elas despertam nosso interesse e nossa admiração
pelo fato de que foram efetuadas de maneira repentina. Os
velhotes de nossas igrejas crêem que as coisas devem
desenvolver-se paulatina e gradativamente; que se deve avançar
passo a passo. A ação concentrada e o labor progressivo - dizem
- nos levarão finalmente ao êxito. Mas a maravilha é que todos
os feitos de Deus aconteceram subitamente. Quando Pedro se
levantou para pregar, não levou seis semanas para que fossem
convertidos os três mil. A conversão deles foi instantânea e o seu
batismo ocorreu no mesmo dia. Naquela mesma hora eles se
voltaram para Deus e chegaram a ser discípulos tão verdadeiros
de Cristo como se a conversão resultasse de um processo de
setenta anos. Assim foi também nos dias de Martinho Lutero: o
grande reformador não precisou de séculos para superar as
densas trevas de Roma. Deus acendeu a vela e a luz brilhou
num instante. Ele age de modo repentino. Se alguém pudesse
ter estado em Wurtemburg e ter perguntado: “Pode o papado
estremecer, pode o Vaticano ser abalado?” a resposta teria sido:
“Não, será preciso pelo menos mil anos para que isso aconteça.
O papado, a grande serpente, tem se enrolado nas nações e
apertado-as tão rapidamente em sua espiral, que elas não podem
ser libertadas a não ser por um longo processo”. Contudo, “não
é assim”, disse Deus. Ele feriu o dragão violentamente, e as
nações foram libertas; Ele partiu os portões de bronze, quebrou
em pedaços as barras de ferro e o povo foi liberto na mesma
hora. A liberdade não veio ao longo dos anos, e sim num
instante. “O povo que andava em trevas viu uma grande luz; aos
que moravam em terra de sombra de morte a luz resplandeceu
sobre eles.” O mesmo ocorreu nos dias de Whitefield. A censura
que pesava sobre uma igreja adormecida não foi trabalho de
eras; aconteceu imediatamente. Vocês nunca ouviram a respeito
do grande avivamento sob o ministério de Whitefield?
Tomemos, por exemplo, o que sucedeu em Cambuslang.
Enquanto pregava no pátio de uma igreja, pois nenhum edifício
podia comportar a multidão, o poder de Deus veio sobre as
pessoas, e uma após outra caía por terra como se tivesse sido
golpeado. Estima-se que uma multidão de não menos de três mil
indivíduos chorava em uníssono sob a convicção do pecado.
Whitefield prosseguia com a mensagem: ora suas palavras
faziam tremer como Boanerges, ora eram suaves como tons
consoladores de um Barnabé. Não há linguagem capaz de
descrever as grandes maravilhas operadas por Deus através
daquele sermão memorável. Nem ainda o sermão de Pedro no
dia de Pentecoste se assemelhou a ele.
Assim tem sido em todos os avivamentos; a obra de
Deus tem sido feita repentinamente. Como o rebombar do
trovão, Ele desce do alto; não de maneira lenta, porém majesto­
samente tem cavalgado sobre os querubins e voado sobre as asas
do vento impetuoso. Repentina tem sido a Sua obra, as pessoas
mal podiam crer que ela fosse verdadeira - foi realizada em
tempo tão breve. Considerem o grande avivamento que está
ocorrendo em Belfast e arredores. Depois de tê-lo acompanhado
cuidadosamente e após ter falado com um querido irmão que
morou naquela região, e que merece a minha confiança, estou
convencido, apesar do que os inimigos possam dizer, que se
trata de uma genuína obra da graça e que o Senhor está operando
maravilhas ali. Um amigo que veio me visitar ontem informou
que os homens mais sórdidos e vis, assim como as mulheres
mais depravadas de Belfast, têm sido alcançados por esta
extraordinária epilepsia - como diz o mundo - mas que sabemos
ser a influência poderosa do Espírito. Homens costumeiramente
bêbados de repente sentiram um grande impulso que os obrigou
a orar. Eles resistiram, voltaram à bebida, a fim de se livrarem
daquilo; mas mesmo no meio de suas blasfêmias e tentativas de
apagar o Espírito, Deus os fez dobrar os joelhos e se viram
obrigados a pedir misericórdia com gritos desesperados, e a
agonizar em oração. Então, depois de certo tempo, o maligno
parece ter saído deles; e, com a mente sossegada, santa e feliz,
eles fizeram profissão de sua fé em Cristo e têm andado em Seu
temor e amor.
Católicos romanos têm sido convertidos. Pensei que
fosse algo extraordinário; contudo eles têm sido convertidos
muito freqüentemente mesmo em Ballymena e em Belfast. De
fato, foi-me dito que os padres estão agora vendendo pequenas
garrafas de água benta para que o povo a beba, a fim de serem
imunizados contra este contágio irremediável do Espírito Santo.
Dizem que esta água benta possui tal eficácia que aqueles que
não freqüentaram nenhuma das reuniões muito provavelmente
estarão livres da ação do Espírito Santo - assim dizem-lhes os
padres. Todavia, se eles comparecerem às reuniões, até mesmo
esta água benta não poderá imunizá-los - tornam-se passíveis de
cair como presas da influência divina. Creio que eles são
passíveis desta influência, tanto com tal água benta como sem
ela.
Tudo isso tem acontecido de maneira súbita, e embora
possamos encontrar algum elemento de excitamento natural,
estou persuadido de que, em essência, é um avivamento verda­
deiro e espiritual, uma obra que permanecerá. Há um pouco de
espuma na superfície, mas existe uma corrente de água profunda
que não pode ser resistida e que arrasta e leva consigo tudo que
encontra. Pelo menos há algo que desperta nosso interesse ao
saber que na pequena cidade de Ballymena, nos dias de feira, os
donos de bares costumavam ganhar mais de cem libras
diariamente, pela venda de uísque, mas agora todos os
taverneiros juntos não ganham nem uma libra. Homens que
outrora eram beberrões, agora se reúnem para orar; depois de
ouvir um sermão, o povo esperará para ouvir outro e nalgumas
ocasiões para escutar um terceiro sermão, até que o pregador se
vê obrigado a dizer: “Agora vocês precisam se retirar; estou
esgotado”. Ao sair do templo, se espalham pelas ruas e pelas
casas em pequenos grupos, para suplicar que Deus continue Sua
obra poderosa e a fim de que os pecadores sejam convertidos.
“Nós não podemos crer”, talvez digam alguns de vocês.
Provavelmente não podem, porém alguns de nós podemos,
porque o temos ouvido com os nossos ouvidos e nossos pais nos
contaram as grandes obras que Deus fez em seus dias, de modo
que estamos dispostos a crer que hoje em dia Ele pode realizar
feitos semelhantes.
Devo destacar agora que em todas estas velhas histórias,
há uma característica bastante evidente. Sempre que Deus reali­
zou um feito poderoso, Ele o fez por meio de um instrumento
bem insignificante. Quando matou Golias, foi através do
pequeno Davi, que não passava de um jovem ruivo. Não
guardem a espada de Golias - sempre pensei que fosse um erro
de Davi - guardem, não a espada de Golias, e sim a pedra, e
entesourem a funda da armadura de Deus para sempre. Quando
Deus quis matar Sísera, foi uma mulher que teve de fazer isso
com um martelo e uma estaca. Deus tem executado Seus feitos
mais poderosos por meio dos instrumentos mais insignificantes:
este é um dos fatos mais verdadeiros com respeito a todos os
feitos de Deus - Pedro, o pescador, no Pentecoste; Lutero, o
humilde monge na Reforma; Whitefield, o atendente da antiga
hospedaria Bell de Gloucester na época do avivamento do século
passado - e assim deve ser até o fim. Deus não atua por
intermédio dos cavalos e da carruagem de Faraó, mas sim pela
vara de Moisés; Suas maravilhas não são feitas com o furacão
nem com a tempestade; Ele as realiza por meio de uma pequena
e calma voz, para que a glória possa ser Sua e a honra seja
absolutamente Sua. Acaso isso não abre espaço para que eu e
vocês sejamos encorajados? Por que não podemos ser usados
para realizar algum feito poderoso para Deus aqui?
Além disso, temos notado que, em todas estas narrativas
dos poderosos feitos de Deus no passado, onde quer que tenha
realizado algo de grandioso, Ele Se serviu de alguém que
possuía grande fé. Neste momento acredito firmemente que, se
Deus o quisesse, todas as pessoas neste auditório seriam
convertidas num só instante. Se fosse do Seu agrado pôr em
ação a operação do Seu Espírito, nem mesmo o coração mais
endurecido poderia resisti-la. Deus tem misericórdia de quem
Ele quer. Agirá conforme Lhe apraz; ninguém pode reter a Sua
mão. “Bem,” dirá alguém, “mas eu não espero ver grandes
coisas”. Então, meu caro amigo, você não ficará desapontado,
porque não irá vê-las; todavia aqueles que esperam grandes
coisas, as verão. Homens de grande fé realizam grandes coisas.
Foi a fé de Elias que pôs fim aos sacerdotes de Baal. Se ele
tivesse o pequeno coração que alguns de vocês têm, os
sacerdotes de Baal ainda teriam continuado a governar o povo e
jamais teriam sido destruídos pela espada. Foi sua fé que
impulsionou Elias a dizer: “Se o Senhor é Deus, segui-o; se
Baal, segui-o”. E mais tarde: “Escolham para si um dos
bezerros, e o dividam em pedaços, e o ponham sobre a lenha,
porém não lhe metam fogo. Invocai o nome do vosso deus e eu
invocarei o nome do Senhor”. Foi a sua nobre fé que fê-lo dizer:
“Tomem os profetas de Baal; que nenhum deles escape”; assim
ele os levou ao ribeiro de Quisom, e ali os matou - um
holocausto ao Senhor. A razão pela qual o nome de Deus foi tão
magnificado foi porque a fé que Elias possuía em Deus era
muito poderosa e heróica.
Quando o papa enviou sua bula de excomunhão a Lutero,
este a queimou. No meio de uma multidão, e sustentando nas
mãos o documento a ponto de ser devorado pelas chamas, Lutero
exclamou: “Olhem, isto é a bula do papa.” Que importância
tinha para ele todos os papas que já estavam dentro ou fora do
inferno? Quando Lutero tinha que ir a Worms a fim de
comparecer diante da Dieta, os seus seguidodres lhe disseram:
“Não vá; sua vida corre perigo.” “Ora”, replicou Lutero, “Ainda
que houvesse tantos diabos em Worms como telhas nos telhados
das casas, ainda assim não temeria; eu irei à Dieta”. E se dirigiu
a Worms, confiando no Senhor seu Deus. O mesmo aconteceu
com Whitefield; ele cria e esperava que Deus realizasse grandes
coisas. Cada vez que subia ao púlpito estava convencido de que
Ele abençoaria o povo, e assim Deus o fez. Uma pequena fé só
fará pequenas coisas, mas uma fé robusta será grandemente
recompensada. Ó Senhor, nossos pais nos tem contado que
sempre que exibiram uma grande fé, Tu os honraste realizando
grandes obras.
Não os deterei mais neste ponto, exceto para fazer uma
observação. Todos os poderosos feitos de Deus têm sido o
resultado de muita oração, junto com uma grande fé. Já ouviram
como iniciou o grande avivamento americano? Certo homem,
desconhecido e ignorado, propôs no coração orar para que Deus
abençoasse o seu país. Depois de orar intensamente e de fazer a
pergunta que estremece a alma: “Senhor, que queres que eu
faça? Senhor, que queres que eu façaT, alugou um casa e pôs
um anúncio de que se realizaria uma reunião de oração numa
determinada hora do dia. À hora indicada ele não encontrou
ninguém na casa; novamente se pôs a orar e por meia hora orou
sozinho. No fim dessa meia hora chegou uma pessoa e em
seguida outras duas, e penso que a reunião terminou com seis
pessoas. Na outra semana, cerca de cinqüenta pessoas se
reuniram para orar; afinal, quando eram mais de cem as pessoas
que partcipavam das reuniões, resolveu-se iniciar outras reuniões
de oração. Semanas mais tarde era quase impossível encontrar
uma rua em Nova Iorque onde não houvesse reuniões de oração.
Os comerciantes reservavam tempo para orar no meio do dia.
Reuniões de oração chegaram a ser realizadas diariamente por
uma hora. Comunicavam os pedidos e os assuntos de oração e de
maneira simples as pessoas as apresentavam ao Senhor, e as
respostas vieram. Muitos eram os corações alegres que se
levantavam para testificar que a oração feita na semana anterior
já havia sido respondida. Foi então, quando todos se dedicavam
ardentemente à oração, que o Espírito de Deus desceu sobre eles
de maneira repentina. Menciona-se o caso de certo pregador
numa pequena povoação, que dentro duma semana viu como o
Senhor havia usado sua pregação para conversão de centenas de
almas. O avivamento se estendeu aos estados do Norte e pode
afirmar-se que chegou a ser generalizado. Calcula-se que em
menos de três meses, mais de duzentas e cinqüenta mil pessoas
foram convertidas ao Senhor.
Os mesmos efeitos foram produzidos em Ballymena e
Belfast através de meios semelhantes. Um crente fez o propósito
de orar e orou. Mais tarde organizou uma reunião de oração
periódica. Dia após dia se congregava um grupo de irmãos para
suplicar um avivamento, e assim o fizeram até que o fogo
celestial desceu e o avivamento se tornou uma realidade.
Pecadores foram convertidos, não em pequeno número, mas às
centenas e milhares, de modo que o nome do Senhor era
intensamente glorificado pelo progresso do Seu evangelho.
Amados, apenas me limito a apresentar-lhes fatos. Façam cada
um de vocês suà própria estimativa dos mesmos.
II. De acordo com a divisão apresentada de início, ago
devo mencionar ALGUMAS DESVANTAGENS MUITAS
VEZES ALEGADAS COM RESPEITO A TAIS
HISTÓRIAS ANTIGAS.
Ao ouvir das maravilhas que Deus tem operado, uma das
coisas que as pessoas dizem é esta: “Ora, isso aconteceu há
muito tempo atrás”. Elas imaginam que desde então os tempos
mudaram. Alguém diz: “Posso acreditar em qualquer coisa
sobre a Reforma; por maiores que sejam os relatos, posso
admiti-los”. “O mesmo faria em relação a Whitefield e Wesley”,
diz outro, “tudo aquilo é absolutamente verdadeiro, ambos
trabalharam vigorosa e eficientemente, mas isso ocorreu há
muitos anos atrás. Naqueles tempos as coisas eram diferentes de
como são agora”. Está certo que os tempos mudaram, mas isso
que tem a ver? Pensei que foi Deus quem fez tudo aquilo.
Acaso Deus mudou? Não é Ele um Deus imutável, o mesmo
ontem, hoje e para sempre? Isso não seria uma prova para
demonstrar que o que Deus realizou numa ocasião, Ele pode
fazer numa outra? Certamente que sim; e ainda iria mais além,
porquanto me atreveria a afirmar que o que Ele já fez uma vez
constitui uma previsão do que Ele Se propõe a fazer novamente.
Os poderosos feitos que operou em tempos passados se repetirão
outra vez, e o cântico do Senhor será entoado novamente em
Sião, e o Seu nome será glorificado. Outros entre vocês
afirmam: “Bem, mas considero estas coisas como prodígios,
como milagres. E, portanto, não podemos esperar que ocorram
todos os dias”. Esta é precisamente a razão pela qual não
acontecem. Se houvéssemos aprendido a esperá-las, sem dúvida
as obteríamos, porém nós as arquivamos e separamos de nossa
religião moderada e as relegamos como meras curiosidades da
história bíblica. Imaginamos que tais coisas, ainda que
verdaderias, sejam prodígios da Providência e não podemos
imaginar que elas ocorram na área da Sua obra costumeira.
Rogo-lhes, meus amigos, que se desprendam de tal pensamento
c o afastem de suas mentes.
Tudo que Deus tem feito para converter os pecadores
deve ser considerado como um precedente, pois “não se enco­
lheu a mão do Senhor para salvar, nem está agravado o seu
ouvido para não ouvir”. Se nos sentimos limitados de alguma
íorma, não é por causa dEle, é por causa de nós mesmos.
Tomemos esta culpa sobre nós mesmos e com verdaderiro
;mseio supliquemos que Deus nos conceda a fé de nossos ante­
passados, a fim de que desfrutemos ricamente de Sua graça
como nos tempos de outrora.
Há ainda outra desvantagem referente àquelas histórias
antigas. E é a de que não as temos visto. Por mais que lhes fale
sobre avivamentos vocês não chegarão a crer tão firmemente
neles como fariam se ocorresse um entre vocês. Se o vissem
com os próprios olhos, então se convenceriam do poder do
mesmo. Se tivessem vivido nos tempos de Whitefield ou ouvido
a pregação de Grimshaw, vocês creriam totalmente. Por mais
quente que fosse o tempo e apesar de ter de viajar a cavalo,
(irimshaw costumava pregar, no mínimo, vinte e quatro vezes
por semana. Era um verdadeiro pregador. Parecia como se o
próprio céu descesse à terra para escutá-lo. Falava com ardor
extraordinário, com todo o fogo que jamais pudesse aquecer um
peito mortal, e o povo tremendo ante o que ouvia, exclamava:
"('ertamente esta é a voz de Deus”. O mesmo pode ser dito a
respeito de Whitefield. Enquanto ele pregava, as pessoas se
retorciam de um lado para outro, da mesma maneira que o trigo
no campo se move ao impulso do vento. De tal modo se
manifestava a energia de Deus, que mesmo o mais endurecido
dos corações tinha de confessar: “Nunca escutei algo
semelhante; tem que haver algo nisso”. Porventura vocês não
reconhecem que estes fatos são reais? Eles se levantam ante os
seus olhos com todo o seu brilho? Então creio que as histórias
que chegam hoje aos seus ouvidos devem produzir um
verdadeiro e transformador efeito em suas próprias vidas.
III. Em terceiro lugar, tratarei de CERTA
INFERÊNCIAS DECORRENTES DAS ANTIGAS
HISTÓRIAS DOS PODEROSOS FEITOS DE DEUS.
Como desejaria poder falar com o mesmo ardor
demonstrado por alguns desses homens cujos nomes mencionei!
Orem por mim, para que o Espírito de Deus repouse sobre mim,
para que eu possa pleitear com vocês por alguns minutos, com
toda minha força, procurando exortá-los e animá-los, a fim de
que também entre nós ocorra um avivamento. Meus queridos
amigos, o primeiro efeito que a leitura da história dos poderosos
feitos de Deus deveria produzir em nós é o de gratidão e louvor.
Existiria algo atualmente que nos impulsione a cantar? Se não
há, então louvemos ao Senhor pelas maravilhas operadas nos
tempos passados. Se não podemos elevar ao nosso Amado um
cântico pelo que Ele está fazendo em nosso meio, retiremos as
harpas dos salgueiros e entoemos uma canção antiga e
bendigamos o santo nome pelas maravilhas operadas na Igreja
do passado. Exaltemos o Seu nome pelas maravilhas realizadas
no Egito e em todas as terras por onde conduziu o Seu povo, e
das quais o libertou com mão poderosa e braço estendido.
Quando assim começarmos a louvar a Deus pelas maravilhas
que Ele tem realizado, creio que posso me aventurar a imprimir
nas suas mentes outra grande tarefa. Desejaria que o que Deus
tem feito os movesse a orar para pedir-Lhe que realize de novo
esses sinais e maravilhas entre nós. O irmãos, como se alegraria
o meu coração em saber que existe entre alguns de vocês o
desejo de regressar aos seus lares para orar por um avivamento.
Oxalá houvesse homens com uma fé tão grande e um amor tão
ardente que seriam movidos a cair sobre os joelhos para rogar
com súplicas incessantes para que o Senhor Se manifestasse
entre nós e realizasse aqui as mesmas maravilhas que operou nos
tempos antigos! } Lembrem-se dé que muitas das pessoas aqui
reunidas deveriam ser objeto de nossa compaixão. Olhando ao
meu redor, posso ver algumas pessoas cujas vidas conheço mais
ou menos, contudo quantos há que ainda não são convertidos!
Há aqui muitos que têm tremido - e eles mesmos sabem que o
lêm feito - pois se sentem atingidos por temores; estão
arriscando seu destino e havendo resolvido ser suicidas de suas
próprias almas, tem depreciado a graça que um dia parecia estar
operando em seus corações. Deram as costas às portas do céu e
agora estão correndo em direção às portas do inferno. Não
estenderão vocês as mãos a Deus para que Ele os detenha em sua
carreira louca? Se nesta congregação houvesse apenas um
incrédulo e eu pudesse assinalá-lo publicamente e dizer: “Ali
está sentado uma pessoa que nunca experimentou o amor de
Deus nem jamais foi movida ao arrependimento,” estou seguro
de que todos vocês lhe dirigiriam um olhar ansioso. Creio que
dentre os milhares de cristãos aqui reunidos, nem um só deixaria
de orar por essa alma não convertida. Todavia, meus irmãos,
não é somente uma alma que está em perigo do fogo do inferno;
aqui há centenas e milhares de nossos semelhantes nessa
condição.
Deveria lhes dar outra razão que justifique a necessidade
da oração? Até agora parece ser que todos os meios empregados
têm sido sem resultado algum. Deus me é testemunha de
quantas vezes deste púlpito Lhe supliquei que me usasse como
instrumento de salvação dos homens. Tenho lhes pregado
sempre do fundo de meu coração. Nunca lhes pude dizer mais
do que lhes tenho dito, e espero que a intimidade do meu quarto
um dia testifique do fato de que não termina meu afeto e amor
pelas almas ao concluir a pregação. Meu coração intercede por
aqueles que nunca foram afetados pela Palavra de Deus e pelos
que, depois de atingidos, tratam de apagar o Espírito de Deus.
Meus queridos ouvintes, tenho feito tudo o que posso. Vocês
não virão para ajudar o Senhor a lutar contra o poderoso
inimigo? Talvez suas orações possam fazer o que a minha
pregação não consegue. Ei-los aqui; eu os encomendo aos seus
cuidados. São homens e mulheres cujos corações recusam-se a
derreter, cujos joelhos obstinados não querem se dobrar;
entrego-lhes a vocês e peço que orem por eles. Apresentem-nos,
de joelhos, a Deus em oração. Esposa, nunca deixe de orar pelo
seu esposo incrédulo. Esposo, jamais interrompa as súplicas até
ver a sua esposa convertida. Pais e mães, vocês não têm filhos
não convertidos? Não os têm trazido aqui domingo após
domingo, e eles permanecem como sempre foram? Já os têm
enviado de uma igreja a outra, e eles ainda continuam na mesma.
A ira de Deus permanece sobre eles. Têm de morrer; e vocês
sabem que, se morressem agora, as chamas do inferno os
devorariam. Vocês ainda deixarão de orar por eles? Que
corações duros e almas embrutecidas têm vocês se, professando
conhecer a Cristo, não oram por aqueles que nasceram do seu
próprio sangue.
Não sabemos o que Deus faria por nós se de nossa parte
suplicássemos a Sua bênção. Temos sido testemunhas de como
o Exeter Hall, a Catedral de São Paulo e a Abadia de
Westminster ficam lotados inteiramente, contudo não temos
visto resultado algum desses enormes ajuntamentos. Será que
nós temos tentado pregar sem antes tentar orar? Acaso não
parece que a igreja tem estendido a mão da pregação, e não a da
oração? Ó amados amigos, agonizemos em oração, e neste
grande auditório se escutará os suspiros e gemidos dos peniten­
tes e os cânticos dos convertidos. Então esta grande multidão
não entrará e sairá deste recinto de forma rotineira, porém aban­
donará o local louvando a Deus e dizendo: “Foi bem estar alí.
Não é outro lugar senão a casa de Deus e a porta do céu!” Isso
deve impulsionar-nos à oração. Outra dedução que deve­
ríamos tirar dessas histórias que ouvimos, é a de que deveriam
corrigir qualquer sentimento de suficiência própria que possa
ter-se introduzido em nossos corações traiçoeiros. Quem sabe se
nós, como igreja, não temos confiado em demasia em nossos
números ou em qualquer outra coisa. Podemos ter pensado:
“Certamente o Senhor há de abençoar-nos através deste minis­
tério”. Pois bem, que as histórias que os nossos pais nos têm
contado façam-nos recordar, tanto a vocês como a mim, que não
é por muitos nem por poucos que o Senhor salva. Pelo contrá­
rio, é que não somos nós que fazemos a obra, e sim o Senhor que
a faz totalmente. Quem sabe, um pregador desconhecido, cujo
nome jamais se ouviu - até um estrangeiro naturalizado -
comece a pregar nesta cidade de Londres com um poder maior
do que o jamais experimentado pelos bispos e ministros locais.
Eu lhe daria as boas-vindas e pediria que Deus o acompanhasse.
Não importa o local de procedência; só desejo que o Senhor o
envie e que se realize a obra. Contudo, pode ser que Deus
pretenda usar este servo que lhes fala para seu bem e sua conver­
são. Nesse caso, meu gozo transbordaria até o limite. Mas não
ponham confiança no instrumento. Saibam: quanto mais os
homens riram e zombaram de nós, tanto mais Deus nos
abençoou. Atualmente não é um descrédito assistir às reuniões
do Music Hall. Não nos deprezam tanto agora como a princípio,
porém duvido que desfrutamos agora tantas bênçãos como
outrora. Estaríamos dispostos a sofrer, como escravos, e a
passar outras humilhações, tendo todos os jornais contra nós,
com todos os homens vaiando-nos e insultando-nos, se assim
Deus o quiser, se, com isso, Ele apenas nos enviasse uma
bênção. Mas abandonemos a idéia de que o nosso arco e a nossa
espada possam conduzir-nos à vitória. Nunca poderemos expe­
rimentar um avivamento, a não ser que creiamos que o Senhor, e
somente o Senhor, é quem pode realizá-lo.
Tendo feito essa declaração, tratarei agora de estimular­
-lhes a confiança de que, ainda hoje, podemos ter um
avivamento e de que as grandes obras que Deus efetuou nos
tempos antigos podem repetir-se. Por que razão não pode ser
convertido cada um dos meus ouvintes? Encontra-se o Espírito
de Deus limitado? Por que não deveria o mais simples ministro
chegar a ser o meio de salvação de milhares de almas?
Encolheu-se o braço de Deus? Meus queridos irmãos, quando
os concito a orar para que Deus torne o ministério deste seu
servo como espada de dois gumes para a salvação dos pecadores,
não requeiro de vocês uma tarefa árdua, muito menos um algo
impossível. Somente temos que pedir para receber. Antes que
clamemos, Deus responderá; e enquanto estamos falando, Ele
ouvirá. Só Deus sabe os frutos que resultariam deste sermão se
fosse do Seu agrado abençoá-lo. Doravante talvez orarão mais;
talvez daqui em diante o Senhor abençoe mais este ministério.
Quem sabe se a partir desta hora outros púlpitos irradiarão mais
vida e vigor. Deste momento em diante a Palavra de Deus talvez
irrompa com tanta força que alcance uma vitória assombrosa e
sem precedentes.
Apenas lutem em oração, reúnam-se em suas casas e
individualmente em seus quartos, instem a tempo e fora de
tempo; agonizem pelas almas. E assim notarão que o que ouvi­
ram será logo esquecido pelo que verão; o que os outros
contaram será como nada em comparação com o que ouvirão
com os ouvidos e verão com os próprios olhos.
Ó vocês, para quem tudo isso parece uma fábula oca, que
não amam a Deus, nem O servem, rogo-lhes que parem e
pensem por alguns momentos. Ó, Espírito de Deus, desça sobre
Seu servo e torne poderosas as suas palavras. Deus tem
contendido com alguns de vocês, de modo que têm experimen­
tado períodos de convicção. No entanto, agora estão tentando
adotar uma atitude ímpia e dizendo consigo mesmos: “Não
existe inferno, não há nada depois da morte”.
Isso não é verdade. Vocês sabem que há um inferno e
que nem mesmo as gargalhadas dos que desejam destruir suas
almas podem fazer com que acreditem o contrário. Não pre­
tendo discutir com vocês agora, pois suas consciências
testemunham que Deus os castigará por seus pecados. Podem
ter certeza que jamais terão felicidade enquanto tentarem
neutralizar o Espírito de Deus. Estão longe da senda da
felicidade por resistirem os pensamentos que os levariam a
Cristo. Rogo-lhes que retirem suas mãos do braço de Deus; não
resistam mais ao Seu Espírito. Dobrem os joelhos, apeguem-se
a Cristo e creiam nEle. Isso há de acontecer. O Espírito Santo
será vitorioso sobre vocês. Espero que, em resposta às muitas
orações, Deus ainda queira salvá-los. Rendam-se agora, tendo
em mente que se conseguirem apagar o Espírito, esse triunfo
será o desastre mais terrível que lhes pode ocorrer. Se o Espírito
os abandonar, vocês estarão perdidos para sempre. Talvez seja
este o último aviso que lhes será dado. A convicção que vocês
agora estão tentando abafar, talvez seja a última. Quem sabe, o
anjo já pode estar a ponto de pôr o selo e o lacre sobre seu
destino, dizendo: “Abandone-os. Eles preferem os vícios e a
concupiscência; que se cumpra, pois, seus desejos - que no fogo
do inferno recebam o salário do pecado”. Ouso dizer com
Pedro: pecadores, creiam no Senhor Jesus; arrependam-se e
sejam convertidos. Eu os exorto, em nome de Deus, a que se
arrependam e escapem da condenação. Mais algum tempo e
saberão o que significa a perdição, caso não se arrependam.
Apressem-se a vir a Cristo enquanto o azeite arde na lâmpada e
ainda se pregâ a misericórdia. A graça ainda está sendo
proclamada; aceitem a Cristo, não O rejeitem por mais tempo,
venham a Ele agora. As portas da misericórdia estão abertas de
par em par; venham agora, pecadores, para que seus pecados
lhes sejam perdoados.
Quando os soldados da antiga Roma atacavam uma
cidade, muitas vezes costumavam pôr uma bandeira branca no
alto da porta central da muralha, e se a guarnição se rendia
enquanto estava hasteada a bandeira branca, era-lhe poupada a
vida. Depois içavam uma bandeira negra e todos os que não
tinham aproveitado da oportunidade oferecida, pereciam sob a
espada inimiga. A bandeira branca está levantada hoje; talvez
amanhã a bandeira negra seja hasteada sobre o mastro da lei, e
então não haverá esperança de arrependimento ou salvação, nem
nesta vida nem na vida vindoura.
Um conquistador oriental, ao chegar às portas da cidade
que tencionava conquistar, acendia um braseiro de carvão e
colocando-o sobre um mastro bem alto, fazia soar a trombeta
com a condição de que todos aqueles que se rendessem enquanto
permanecesse o fogo, desfrutariam de sua clemência, mas ao
consumir-se o último tição, com seu exército acometeria com
ímpeto e não deixaria pedra sobre pedra. Tanto homens, como
mulheres e crianças, teriam morte cruel. De modo semelhante,
os trovões de Deus hoje os concitam a escutar o aviso divino.
Ainda permanecem a luz, a lâmpada e o braseiro aceso. Com o
correr dos anos o fogo vai se consumindo; no entanto ainda resta
um pouco de carvão. Neste instante, porém, o vento da morte
está tentando extinguir a última brasa viva. Ó pecador,
arrependa-se enquanto dura a chama do braseiro! Faça-o agora,
pois ao extinguir-se o último tição, de nada lhe aproveitará o
arrependimento. Uma vez no tormento, seu gemido eterno não
poderá comover o coração de Deus; seus gemidos e suas
lágrimas amargas não farão com que Ele tenha compaixão de
você. “Se ouvirdes hoje a Sua voz, não endureçais o coração
como na provocação”. Ó, apegue-se a Cristo hoje! “Beijai o
Filho para que não se ire e pereçais no caminho, quando se
acender em breve o seu furor. Bem-aventurados todos os que
nele confiam”.
O SANGUE DO CONCERTO
ETERNO*
“O sangue do concerto eterno”- Heb. 13:20.
Todas as relações que Deus tem mantido com o homem
têm o caráter de concerto. Agradou-Lhe dispor as coisas de tal
maneira, que todas as Suas relações com Suas criaturas deviam
verificar-se através de um pacto; e não sendo desse modo tam­
pouco podemos relacionar-nos com Ele. No Éden, Adão estava
sob um pacto com Deus, e Deus em aliança com ele. Mas Adão
logo rompeu aquele pacto. Todavia existe um concerto com
todo o seu terrível poder, e digo terrível porque tem sido des­
respeitado por parte do homem, e portanto Deus cumprirá as
solenes ameaças e sanções contidas nele. É o pacto das obras.
Por meio dele, Deus Se relacionou com Moisés, e através dele
Deus Se relaciona com toda a raça humana tal como estava
representada no primeiro Adão. Depois, nos tratos que Deus
teve com Noé, também foram em forma de aliança. Mais tarde
com Abraão, Lhe aprouve relacionar-Se mediante um pacto.
Abraão o manteve e o guardou, sendo o pacto renovado a muitos
da sua descendência depois dele. Inclusive com Davi, homem
segundo o Seu coração, Deus Se relacionou através de um pacto.
* Domingo de manhã, 2 de outubro de 1859.
Mesmo nesta época Se relaciona conosco mediante um concerto.
Quando em Seu furor vier a condenar, ferirá com um pacto, isto
é, com a espada do pacto do Sinai; quando, entretanto, vem no
esplendor da Sua graça para salvar, Ele o faz mediante um pacto,
isto é, o pacto de Sião, que é o que foi feito com o Senhor Jesus
Cristo, representante e cabeça do Seu povo. E notem bem, que
sempre que desejemos estabelecer estreitas e íntimas relações
com Deus, elas devem verificar-se, mesmo de nossa parte, na
forma de um concerto. Após a conversão, fazemos com Deus
uma aliança de gratidão; movidos pelo que Ele realizou por nós,
nos aproximamos e nos entregamos completamente a Ele.
Pomos nosso selo a este pacto quando através do batismo nos
unimos à Sua Igreja, e todas as vezes que participamos da Ceia
do Senhor renovamos o voto do nosso concerto e temos
comunhão pessoal com Deus. Não posso orar a Deus a não ser
através do pacto da graça; e não me torno Seu filho a menos que
não tenha sido comprado mediante o pacto de Cristo - através do
qual tenho-me entregue a Ele, e dedicado tudo que sou e possuo.
Posto que o pacto é a única escada que se estende da
terra ao céu, e o único caminho pelo qual Deus mantém comu­
nhão conosco, e mediante o qual podemos relacionar-nos com
Hle, é extremamente importante que saibamos distinguir entre
aliança e aliança. Seria lamentável manter algum erro ou dúvida
referente ao que significa e não significa o pacto da graça.
Portanto, nesta ocasião desejo falar-lhes, da maneira mais
simples possível, do valor e do significado do concerto
mencionado em nosso texto bíblico. Tratarei de fazê-lo com
franqueza e clareza. Inicialmente lhes falarei do concerto da
graça', a seguir, do seu caráter eterno; por último, da relação
(/ue o sangue tem com respeito ao mesmo - “O sangue do con­
certo eterno”.
I. Considerando, primeiramente, O CONCERTO
mencionado em nosso texto, destacaremos o seu caráter
específico, o que não será coisa fácil. Aqui não se fala do pacto
das obras, pois se o fosse, não seria chamado eterno. O pacto
das obras de modo algum possuiu um caráter eterno. Não era
eterno, uma vez que foi feito no jardim do Éden. Teve princípio;
não foi observado e constantemente foi violado. Aquele pacto
logo terminou e deixou de ser; portanto, não foi eterno em
nenhum sentido. O pacto das obras não pode levar um título
eterno; mas o concerto do nosso texto, por tratar-se de uma
aliança eterna, não pode de modo algum identificar-se com o
pacto das obras. O pacto que Deus fez primeiramente com a
raça humana incluía as seguintes promessas e condições: se o
homem fosse obediente, viveria e seria feliz; porém se
desobedecesse, pereceria. “No dia em que deixar de obedecer­
-me, certamente morrerá”. Esse pacto foi feito com todos nós na
pessoa do nosso representante, o primeiro Adão. Se Adão
houvesse observado o pacto, nós agora estaríamos isentos do
pecado. Mas Adão não o guardou, e com sua queda todos nós
também caímos. Como conseqüência de haver caído em Adão,
cada um dos seus descendentes se tomou filho da ira, herdeiro
do pecado e está inclinado a toda maldade e sujeito a toda
miséria. Esse pacto foi abolido com respeito aos filhos de Deus;
a vinda de uma nova e melhor aliança o eclipsou e o aboliu com
sua glória resplandecente.
Devo acrescentar que o concerto mencionado em nosso
texto não é o pacto de gratidão que se faz entre um filho de Deus
e o seu Salvador. Tal pacto existe e deve ocupar um lugar
próprio na vida de cada cristão. Espero que todos nós que
conhecemos o Salvador tenhamos exclamado em nossos
corações:
“Estáfeita! A grande transação estáfeita;
Pertenço ao meu Senhor e Ele me pertence a mim”
Já entregamos tudo a Ele. Não há que confundir este
pacto com o concerto que encontramos em nosso texto, pois o do
nosso versículo é eterno, enquanto que o nosso pacto pessoal foi
escrito há poucos anos. E mesmo esse teria sido depreciado por
nós nos primeiros anos da nossa vida, devido a nossa
incredulidade.
Tendo assim demonstrado negativamente o que este
concerto não é, estudemo-lo agora positivamente e vejamos em
que consiste. E aqui me será preciso fazer algumas sub-
-divisões. Primeiro, para entender o que seja um concerto,
temos de saber quais são as partes contratantes; a seguir, quais as
estipulações ou condições do contrato; e por último, qual o seu
conteúdo. E se desejamos aprofundar ainda mais sobre o tema,
teremos de compreender algo sobre os motivos que moveram as
partes contratantes para estabelecer um pacto entre si.
1. Observemos, pois, inicialmente, as ilustres partes
contratantes entre as quais se fez este concerto da graça. Foi
firmado antes da fundação do mundo entre Deus o Pai e Deus o
Filho; ou, expressando-o numa linguagem ainda mais bíblica, foi
feito entre as três pessoas divinas da adorável Trindade. Este
pacto não foi diretamente entre Deus e o homem; o homem
nesse tempo não existia; Cristo aparece neste concerto como
representante do homem. E é neste sentido que pode declarar-se
ter sido uma aliança entre Deus e o homem, mas nunca como um
pacto entre Deus e qualquer homem pessoal ou individual. Foi
uma aliança entre Deus e Cristo; e através de Cristo, de maneira
indireta, com toda a linhagem humana que foi comprada pelo
Seu sangue. Cristo amou a esta linhagem desde antes da
fundação do mundo. É um pensamento nobre e glorioso - o
mesmo lirismo da doutrina calvinista, a qual nós ensinamos -
que antes que a estrela matutina conhecesse seu lugar, antes que
do nada Deus criasse o universo, antes que a asa do anjo agitasse
os virgens espaços etéreos, e antes que um solitário cântico
perturbasse o silêncio no qual Deus reinava supremamente, Ele
já havia entrado em conselho conSigo mesmo, com Seu Filho e
com Seu Espírito, e havia determinado, proposto e predestinado
a salvação de Seu povo. Além disso, havia disposto neste
concerto a maneira e os meios e todas as coisas que deviam
operar conjuntamente para levar a efeito o propósito e o decreto.
Minha alma se transporta até ao passado, com as asas da
imaginação e da fé, e contempla no profundo dos mistérios
daquele conselho eterno, e através dos olhos da fé contempla o
Pai comprometendo-Se com o Filho e o Filho comprometendo-
Se com o Pai, enquanto o Espírito Se compromete com ambos, e
desta maneira, aquele convênio divino, que por muito tempo
estaria escondido na obscuridade, foi completado e ultimado.
Esta era a aliança que nos últimos tempos tem sido lida à luz do
céu e que veio a ser o gozo e a esperança e a glória de todos os
santos.
2. Quais foram as estipulações deste concerto? Pode
riam apresentar-se da seguinte maneira. Deus já havia previsto
que o homem, depois da criação, romperia o pacto das obras,
que apesar das delícias do paraíso, o homem julgaria estas
condições demasiadamente severas e chegaria a rebelar-se,
contribuindo para a sua própria ruína.
Deus também havia previsto que Seus eleitos, a quem
havia escolhido do resto da humanidade, cairiam pelo pecado de
Adão, já que eles, tanto quanto os outros mortais, estavam
representados no primeiro homem. Por conseguinte o concerto
devia ter como meta a restauração do povo escolhido. Agora
facilmente poderemos entender as condições do concerto.
Por parte do Pai assim se expressaria a aliança (e devo
confessar que não posso expressá-la na gloriosa linguagem
celestial; infelizmente me vejo obrigado a fazê-lo na que é
própria do mortal): “Eu, Jeová, o Altíssimo, dou ao Meu
unigênito e amado Filho, um povo que será mais numeroso que
as estrelas. Este povo será por Ele lavado do pecado, pre­
servado, guardado e guiado, e por último será apresentado por
Ele diante do Meu trono, sem mancha nem ruga, ou coisa seme­
lhante. Eu solenemente Me comprometo, e juro por Mim
mesmo, pois não posso jurar por ninguém superior, que estes,
que agora dou a Cristo, serão para sempre objetos do Meu amor
eterno. A eles perdoarei pelos méritos do Seu sangue; lhes darei
uma justiça perfeita; os adotarei, tornando-os Meus filhos e
Minhas filhas, e através de Cristo reinarão eternamente
coMigo”.
O Espírito Santo, outro dos ilustres contratantes do
concerto, faria semelhante declaração: “Pela presente Me com­
prometo a vivificar, no seu devido tempo, a todos aqueles que o
Pai tem dado ao Filho. Mostrar-lhes-ei a necessidade que têm de
redenção; removerei deles toda a esperança vã e destruirei seus
refúgios de mentiras. Eu os levarei ao sangue derramado e lhes
concederei fé para que este sangue lhes seja aplicado. Operarei
neles todas as graças; manterei a sua fé viva; os purificarei e
apartarei deles toda a depravação, para que possam ser
apresentados sem mancha e sem mácula”. Esta é uma das partes
do pacto que até hoje tem sido cumprida e rigorosamente
observada.
Em referência à outra parte do concerto, assumida e
prometida por Cristo, poderia ser expressa assim: “Meu Pai, de
Minha parte comprometo-Me que na plenitude dos tempos
assumirei a natureza humana. Tomarei sobre Mim a forma e a
natureza da raça decaída. Viverei no seu miserável mundo e
cumprirei perfeitamente a lei para Meu povo. Conseguirei uma
justiça irrepreensível que será aceita pelas demandas da Tua
justa e santa Lei. A seu devido tempo tomarei sobre Mim os
pecados do Meu povo. Tu reivindicarás de Mim suas culpas;
sofrerei o castigo de sua paz, e pelas Minhas chagas serão cura­
dos. Meu Pai, faço pacto e promessa de obediência até à morte,
e morte de cruz. Engrandecerei Tua Lei e a farei digna de toda a
honra. Sofrerei por tudo que deveriam sofrer. Padecerei a
maldição da Lei e toda a Tua ira se descarregará sobre Mim.
Depois ressuscitarei; subirei aos céus e, sentado à Tua destra,
farei intercessão por eles, a fim de que nenhum dos que Me deste
jamais seja perdido. No último dia trarei todo o rebanho do que
Tu, pelo Meu sangue, Me constituiste o Pastor”.
Desta maneira, mais ou menos, se espressariam os con­
tratantes divinos do concerto. Creio que agora já podemos ter
uma idéia bastante clara de como se formou a aliança, e de que
maneira ainda perdura. Apresentei, tão resumidamente quanto
possível, as suas condições. Desejaria que observassem de
modo especial que uma parte do pacto se cumpriu com toda a
exatidão: Deus o Filho já pagou pelas dívidas de todos os Seus
eleitos. Por nós e por nossa redenção sofreu toda a ira divina.
No que se refere a Cristo nada resta a cumprir-se, a não ser que
Ele continue intercedendo pelos remidos até conduzi-los
jubilosamente à glória.
No que concerne ao Pai, Sua parte no pacto se tem
cumprido para com incontáveis multidões. Deus o Pai e Deus o
Espírito Santo não têm retrocedido no cumprimento dos Seus
respectivos contratos divinos. Serão levados a bom termo tão
completa e perfeitamente como o de Cristo. Quanto ao que
havia prometido realizar, Cristo pode agora afirmar: “Está
consumado”; porém o mesmo poderão dizer as outras gloriosas
partes contratantes do pacto. Todos aqueles pelos quais Cristo
morreu receberão a justificação, o perdão e a adoção. O Espírito
Santo os vivificará a todos, lhes outorgará fé e os levará à glória;
de modo que cada um deles, sem estorvo nem impedimento, será
aceito no Amado naquele dia quando serão contados os
redimidos, e Jesus Cristo será glorificado.
3. E agora, havendo visto quais eram as ilustres parte
contratantes do concerto e os seus termos e condições,
consideraremos quais foram os seus objetivos. Fez-se esta
aliança para cada homem da raça adâmica? Certamente que não;
com os nossos próprios olhos podemos ver que não foi feita para
todo homem. Contemplo as grandes multidões que perecem e
que expressamente continuam em seus caminhos de perdição;
vejo-as, dia a dia, rejeitando a oferta que por meio do evangelho
se lhes faz de Cristo e as vejo pisando sob os pés o sangue do
Filho do homem. Observo-as desafiando o Espírito Santo que
trata de operar em seus corações; vejo estas multidões que vão
de mal a pior, até que finalmente perecem em seus pecados.
Portanto, não tenho a loucura de crer que tais pessoas tenham
alguma parte na aliança da graça. Os que morrem impenitentes,
os que desprezam ao Salvador, claramente provam que não têm
porção nem parte no sagrado pacto da graça divina, pois não
sendo assim haveria nelas certas notas e evidências que nos
demonstrariam o contrário. Se estivessem incluídas no pacto,
veríamos que em determinado tempo de suas vidas tais pessoas
passariam por uma experiência de arrependimento e chegariam a
ser salvas. O concerto - vamos diretamente ao assunto, não
importa quão ofensiva seja a doutrina - o concerto só se rela­
ciona com os eleitos e com ninguém mais. Você se ofende com
isso? Pois ofenda-se ainda mais. Que disse Cristo? “Rogo por
eles; não rogo pelo mundo, senão pelos que me deste, porque são
teus”. Se Cristo orou pelos Seus escolhidos e por ninguém mais,
por que alguns se enchem de ira quando a Palavra de Deus os
ensina que a provisão do concerto é somente para os eleitos, e
para que eles recebam a vida eterna? Todos quantos crerão,
todos quantos confiarão em Cristo, todos quantos perseverarão
até ao fim, todos quantos encontrarão o descanso eterno, e só
esses e ninguém mais, são os que estão incluídos no pacto da
graça divina.
4. Além disso temos de falar a respeito dos motivos do
concerto. E a primeira pergunta que vem aos nossos lábios é:
por que foi feito o concerto? Deus não estava sob compulsão ou
obrigação de nenhum tipo. Quando se estabeleceu o concerto
não existia ainda a criatura para poder de alguma forma
influenciar o Criador. O motivo pelo qual se fez o concerto, não
o podemos encontrar em nenhuma outra parte a não ser em Deus
mesmo, pois naquele instante se podia dizer literalmente a
respeito de Deus: “Eu sou e não há ninguém além de mim”. Por
que, pois, estabeleceu o concerto? A esta pergunta, respondo:
Ele o fez motivado por Sua absoluta soberania. Mas por que
certos homens foram os objetos do mesmo e outros não?
Respondo: a graça soberana guiou a pena que escreveu seus
nomes. Não foi por méritos humanos, nem porque Deus havia
previsto algo em nós que O motivou a escolher uns e deixar
outros a continuarem em seus pecados. Nada havia neles; foi,
sim, a graça e a soberania que juntas produziram a eleição
divina. Se vocês, irmãos e irmãs, têm a sã esperança de
pertencer ao pacto da graça, com razão podem entoar aquele
cântico:
“Que havia em mim que merecesse estima
ou desse ao meu Criador agrado?
Aconteceu assim, ó Pai, preciso cantar
porque assim agradou aos Teus olhos”.
“Ele terá misericórdia de quem tiver misericórdia”, pois
“não é do que quer, nem do que corre, senão de Deus que tem
misericórdia”. Sua soberania elegeu; Sua graça distinguiu; e Sua
imutabilidade decretou. Fora do motivo do Seu amor e da Sua
soberania divina, não houve outra razão que determinasse a
eleição dos indivíduos. Sem a menor dúvida, a grandiosa
intenção de Deus, ao fazer o concerto eterno, não foi outra senão
a da Sua própria glória. Qualquer outro motivo inferior a esse
não corresponderia à Sua dignidade. Deus tem que encontrar
Seus motivos em Si mesmo; para Seus propósitos, Ele não tem
que consultar a traças ou a vermes. ELE é o grande “EU SOU” .
“Não Se senta em trono instável,
nem tem de pedir permissão para ser. ”
Ele faz o que quer com os exércitos celestes. Quem pode
resistir Sua mão e perguntar: “Que fazes?” Perguntará o barro
ao oleiro o motivo pelo qual ele o transformou em vaso?
Poderá a coisa antes de ser criada ditar ao Criador? Não, deixem
que Deus seja Deus e que o homem se retraia para seu nada
natural, e se Deus Se compraz em exaltá-lo, que não se orgulhe
pensando que Ele encontrou nele algum motivo. Ele encontra os
Seus motivos em Si mesmo. Deus é auto-suficiente; Ele não
depende de nada fora de Si mesmo. Que o Espírito Santo nos
guie nesta sublime verdade que expus no meu primeiro ponto
sobre o concerto eterno.
II. Mas agora, prosseguindo, devemos notar O
CARÁTER ETERNO DO CONCERTO. Em nosso versículo
ele é chamado eterno. E com esta designação podemos dar-nos
conta imediata da sua antigüidade. De todas as coisas, o pacto
da graça é a mais antiga. As vezes é motivo de grande gozo para
mim pensar que o pacto da graça é mais antigo que o pacto das
obras. Este último teve um princípio, enquanto o da graça não
teve princípio; e bendito seja o Senhor que o pacto das obras
teve o seu fim, enquanto o da graça permanecerá firme mesmo
depois que céus e terra tenham passado. A antigüidade do pacto
da graça requer uma reconhecida atenção de nossa parte. A
verdade do mesmo eleva a mente. Não posso pensar em
nenhuma outra doutrina mais sublime que esta. Ela se constitui
a verdadeira alma e essência de toda a poesia, e ao recolher-me
para meditar sobre ela, devo confessar que às vezes meu espírito
tem sido arrebatado em puro deleite. Pode conceber que antes
de todas as coisas Deus já havia pensado em você? De que antes
que houvesse as montanhas, Ele já havia pensado em você,
pobre e insignificante verme? Antes que as esplêndidas
constelações começassem a brilhar, antes de que o centro do
universo se houvesse fixado, e planetas colossais e mundos
diversos iniciassem a girar, Deus já havia determinado o centro
do Seu pacto e ordenado o número daquelas estrelas,
subordinadas ao pacto, a que girassem em torno daquele bendito
centro e dele recebesse a luz. Certamente, quando alguém pensa
neste universo sem limites e voa (com os astrônomos) por estas
regiões sem fim, habitadas por incontável número de estrelas,
acaso não pareceria realmente maravilhoso que Deus tenha dado
preferência ao pobre e insignificante mortal antes que a todo o
universo? Isto não nos pode tornar orgulhosos, pois se trata de
uma verdade divina, mas deve encher-nos de gozo. Ó crente,
você se considera como o próprio nada, porém Deus tem outro
conceito a seu respeito. Os homens o depreciam, todavia antes
de criar qualquer coisa Deus Se lembrou de você. O pacto de
amor que realizou em seu benefício com Seu Filho é mais antigo
que a época mais remota; e se você retrocedesse até antes que se
iniciasse o tempo e anterior às rochas que agora levam o selo da
antigüidade começassem a sedimentar-se, Ele já o amava, Ele já
o havia escolhido e feito um pacto visando ao seu bem. Lembre­
-se bem destas coisas antigas dos cumes eternos.
Ainda mais: é um concerto eterno em face da sua
firmeza. Nada pode ser eterno se não permanece. O homem
pode erigir suas estruturas e julgar que permanecerão para
sempre, entretanto a torre de Babel foi destruída e as próprias
pirâmides egípcias revelam sinais de ruína. Nada que o homem
faz é eterno, nem possui garantia contra a destruição. Mas com
respeito ao pacto da graça, com razão Davi afirmou: “É firme e
em todas as coisas tem sido ordenado.” Foi
“Firmado, selado e ratificado,
e em tudo bem ordenado ”.
Desde o princípio até o final não há nem um “se” nem
um “mas”. Os que creem no livre-arbítrio do homem, detestam
o futuro enfático ou “farei” do Senhor, e preferem em seu lugar
os “se” e os “mas” no pacto da graça; porém não há um “se”
nem um “mas” nele. “Eu farei”, diz o Senhor, e em conse­
qüência os eleitos farão. Jeová o promete e o Filho o cumpre.
As promessas do pacto são firmes e verdadeiras. O EU SOU
lhes dá um caráter determinante e inquebrantável. “Havendo-o
dito, não o fará? Ou havendo-o prometido, não o cumprirá?” É
um pacto firme. Certas vezes tenho dito que se um homem,
estando para construir uma ponte ou uma casa, me deixasse
colocar uma pedra ou um ladrilho lá onde quisesse, garanto­
-lhes que sua casa viria a cair. Se o construtor de uma ponte me
permitisse colocar apenas uma pedra, eu escolheria a pedra
principal, e sobre ela ele poderia edificar quanto quisesse, mas
lhes asseguro que logo desabaria. Ora, o pacto defendido pelos
arminianos não pode manter-se de pé, porque alguns dos seus
ladrilhos os faz depender da vontade humana (e deste modo o
ponho da maneira mais suave, já que bem poderia ter dito:
“porque todos os seus ladrilhos os subordina à vontade huma­
na”- e isso estaria mais próximo do alvo!). De acordo com os
arminianos, a salvação depende, em última instância, da vontade
da criatura. Se esta não quer, não há influência nem poder que
consiga modificar essa vontade. Conforme os ensinos
arminianos não há promessa alguma que possa modificar a
vontade humana. De maneira que a questão depende do homem;
e Deus - o poderoso Construtor - mesmo que ponha pedra sobre
pedra e o faça sólido como o universo, em última instância pode
ser derrotado pela criatura. Fora com tal blasfêmia! Toda a
estrutura, desde o início até o fim, está nas mãos de Deus. Os
termos e condições do pacto se tornaram os selos e garantia do
mesmo, visto que o Senhor Jesus os cumpriu. E tudo será
cumprido em todos os seus detalhes, quer o homem queira, quer
não. Não é um pacto da criatura, e sim um pacto do Criador.
Não é o pacto do homem, é um pacto do Todo-poderoso, e Ele o
realizará e o levará a termo, apesar da vontade humana. Nisto
consiste a glória da graça, em que o homem rejeita a salvação e é
inimigo de Deus, e apesar de tudo Deus o redime. No pacto
Deus diz: “Será salvo”, enquanto o homem resiste: “Não serei
salvo”; mas o “será” de Deus conquista o “não serei”do homem.
A graça todo-poderosa cavalga vitoriosamente sobre o livre-
arbítrio, e o leva cativo, em glorioso cativeiro, o poder do amor e
da graça irresistível que tudo conquista. E um pacto firme e
portanto merece o título de eterno.
Igualmente, não apenas é firme, também é imutável. Se
não fosse imutável não poderia ser eterno. Tudo que muda é
perecível. Podemos estar seguros de que qualquer coisa que
possa incluir a palavra “mudança”, tarde ou cedo morrerá e será
considerado como algo inútil. Contudo, no pacto todas as coisas
são imutáveis. Tudo que Deus determinou há de acontecer, e
nenhuma palavra, nenhuma linha ou nenhuma frase podem ser
alteradas. O que o Espírito prometeu se realizará, e o que Deus,
o Filho, Se comprometeu a fazer já se cumpriu e se consumará
no dia da Sua volta. Se pudéssemos crer que as sagradas linhas
pudessem chegar a apagar-se, que o pacto pudesse ser anulado,
borrado ou manchado - aí então seria desesperadora a nossa
situação. Tenho ouvido alguns pregadores dizerem que quando
o cristão vive santamente, ele permanece no concerto, mas
quando peca é desligado dele. Ao arrepender-se, novamente se
põe no pacto, porém se volta a cair, outra vez seu nome é
riscado; e assim entra e sai da porta do concerto da mesma
maneira que entra e sai de casa. Entra por uma porta e sai por
outra. Nalgumas ocasiões é filho de Deus; noutras é filho do
diabo; às vezes é herdeiro do céu, e noutras é herdeiro do
inferno. Conheço um homem que chegou ao extremo de afirmar
que embora uma pessoa tenha perseverado sessenta anos na
graça, se no último ano da sua vida cair em pecado e morrer, tal
pessoa seria condenada eternamente e toda a fé e todo o amor
demonstrados nos anos anteriores seriam em vão. Apresso-me
em dizer que essa noção que tais pessoas têm de Deus é nada
menos que a noção que possuo a respeito do diabo. Não poderia
crer em tal Deus nem prostrar-me diante dEle. Um Deus que
ama hoje e amanhã odeia; um Deus que faz uma promessa e de
antemão sabe que esta promessa não se cumprirá no homem; um
Deus que perdoa e castiga, que justifica e mais tarde condena, é
um Deus que não posso suportar. Não é o Deus das Escrituras,
disso estou certo, porque Ele é imutável, justo, santo e
verdadeiro. E um Deus que “havendo amado aos seus, os amará
até o fim”. Um Deus que cumprirá e guardará as promessas que
tem dado aos Seus filhos, de modo que qualquer alma que foi
objeto de Sua graça, continuará para sempre nessa graça, até que
um dia, sem falta, entrará na glória.
E para concluir este ponto, devo acrescentar que o con­
certo é eterno porque nunca terminará. Cumprir-se-á, mas
permanecerá firme. Quando Cristo tiver completado tudo e
conduzido cada crente ao céu; quando o Pai tiver reunido a todo
o Seu povo, então verdadeiramente o pacto terá chegado a uma
consumação, porém não a uma conclusão, porque nele está
determinado que os herdeiros da graça para sempre serão bem­
-aventurados, e enquanto durar este “para sempre”, o pacto
demandará a felicidade, a segurança e a glorificação de toda
alma que foi o objeto do mesmo.
III. Havendo, pois, estudado o caráter eterno do
concerto, concluirei fazendo referência ao seu aspecto mais doce
e precioso, a relação que existe entre o sangue e o pacto: O
SANGUE DO CONCERTO ETERNO. O sangue de Cristo
mantém quatro relações distintas com o pacto. Com respeito a
Cristo, Seu sangue precioso derramado no Getsêmane e no
Gólgota significa o cumprimento do pacto. Por Seu sangue o
pecado foi apagado; com Sua agonia, a justiça foi satisfeita; com
Sua morte a lei foi honrada. Foi precisamente com Seu sangue
precioso, com toda a sua eficácia mediadora e com todo o seu
poder purificador, que Cristo cumpriu tudo quanto havia Se
comprometido efetuar a favor do Seu povo. Ó crente, contemple
o sangue de Cristo e recorde que essa foi a parte da aliança que
Ele realizou! Nada falta para ser cumprido; Jesus o realizou
totalmente; nada existe que o livre-arbítrio possa contribuir;
Cristo já cumpriu todas as demandas de Deus. As contas da
parte devedora do pacto foram saldadas graças ao sangue de
Cristo, e agora Deus está comprometido, por Sua própria e
solene promessa, a mostrar graça e misericórida a todos aqueles
que Cristo redimiu com o Seu sangue.
Noutro aspecto, o sangue significa, para Deus o Pai, o
compromisso do concerto. Quando vejo Cristo morrendo na
cruz, vejo Deus - cujo essência é verdadeira liberdade - com­
prometido desde então, por Sua própria promessa, a levar a
termo tudo o que fora estipulado. Porventura não nos promete o
pacto um novo coração e um espírito reto dentro de nós? Pois
deve cumprir-se, porquanto Jesus morreu, e Sua morte veio a ser
como o selo do pacto. Acaso não diz também: “Derramarei água
pura sobre eles e serão limpos; de todas as suas iniqüidades os
purificarei”? Então igualmente isto deve cumprir-se, pois Cristo
levou à perfeita consumação Sua parte no concerto. Portanto
agora não podemos falar do pacto como algo duvidoso, visto
que, graças a Cristo, tornou-se nosso próprio direito diante de
Deus. E ao achegar-nos humildemente sobre os nossos joelhos
reivindicando o pacto, nosso Pai celestial não nos negará as
promessas contidas nele, porém de cada uma delas fará um
“sim” e um “amém” através do sangue de Jesus Cristo.
A terceira relação que o sangue de Cristo mantém com o
pacto nos aponta como seu objeto. Não é só referente a Cristo o
cumprimento do concerto e com respeito ao Pai um com­
promisso solene, o mesmo constitui, também, uma evidência
com relação a nós. E sobre este particular, amados no Senhor,
permitam-me extravasar o meu afeto para com todos, pois o
tema me faz arder o coração por cada um. Vocês confiam
completamente no sangue de Cristo? O sangue - o precioso
sangue de Cristo - purificou suas consciências? Vocês experi­
mentaram o perdão dos seus pecados mediante o sangue de
Jesus? Gloriam-se em Seu sacrifício e é Sua cruz seu único
refúgio e sua única esperança? Se é assim, então estão no pacto.
Algumas pessoas querem saber se foram eleitas. Mas não
podemos dar-lhes segurança, a menos que nos respondam a estas
perguntas: “Crêem? Está sua fé fundamentada no sangue
precioso?” Se assim é, estão no pacto. E se você, pobre pecador,
não tem nada em que confiar e se mantém distante, dizendo:
“Não me atrevo a vir; tenho medo; não estou no pacto”, ainda
Cristo o convida a chegar-se: “Venha a M/m”, Ele apela. Se não
pode vir ao Pai do pacto, aproxime-se do seu Fiador. “Venha a
Mim e achará descanso.” Uma vez vindo a Ele e recebido o Seu
sangue, então jamais duvide que o seu nome esteja no livro
carmezim da eleição. Pode agora ler seu nome nos caracteres do
sangue de Cristo? Então um dia o lerá nas letras douradas da
eleição do Pai. Aquele que crê é um eleito. O sangue é o
símbolo, o sinal, a garantia, a segurança e o selo do concerto da
graça para você. Ele pode ser considerado um telescópio através
do qual cada um consegue ver as distâncias espirituais. Com seu
olho natural ninguém pode ver sua eleição, mas através do
sangue de Cristo pode enxergá-la com nítida clareza. Ponha sua
confiança no sangue, pobre pecador, e chegará a descobrir que o
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  • 1.
  • 2. SERMÕES DO ANO DE AVIVAMENTO Pregados no Surrey Music Hall, Londres 1859 C. H. Spurgeon PUBLICAÇÕES EVANGÉLICAS SELECIONADAS Caixa Postal 1287 01059-970 - São Paulo, SP
  • 3. Título original: Revival Year Sermons Editora: The Banner of Truth Trust Primeira edição em inglês: 1959 Tradutor: Edgard Leitão Capa: Ailton Oliveira Lotres Revisão: Antonio Poccinelli Printeíra edição em português:
  • 4. NOTA BIOGRÁFICA SOBRE SPURGEON Charles Haddon Spurgeon, filho de um pastor calvinista independente, nasceu em Kelvedon, Essex, na Inglaterra em 1834. Seus grandes dons como pregador não tardaram em manifestar-se. Com a idade de apenas 16 anos já encontramos o jovem Spurgeon pregando em diferentes congregações independentes. Um ano mais tarde o vemos à frente de uma humilde obra batista próximo de Cambridge. A partir de então a fama do jovem pregador se estendeu por toda a Inglaterra, alcançando inclusive a populosa cidade de Londres. Em abril de 1854, antes de completar os 20 anos, ele aceitou o pastorado da Igreja de New Park Street. Esta congre­ gação estava numa fase de decadência, reunindo não mais de 200 pessoas num santuário com capacidade para 1.200. Em menos de um ano o templo se encheu totalmente e em fevereiro de 1855, tornou-se uma urgente necessidade a ampliação do antigo edifício. Toda a Londres se deu conta do novo pregador a ponto de os jornais anunciarem que “desde os tempos de Wesley e Whitefield não havia existido um interesse religoso tão profun­ do”. Em 1861 foi inaugurado o famoso Tabernáculo, com capacidade para mais de 9.000 pessoas. Neste lugar, e por mais de 30 anos, Spurgeon deu poderoso testemunho da verdade evangélica. As conversões foram incontáveis, e tanto na Ingla­ terra como na América seus sermões impressos se tornaram um meio maravilhoso de bênção para milhões de almas. Além de
  • 5. seus esforços como pregador, Spurgeon fundou um colégio para a formação teológica de pastores, um orfanato e uma sociedade de colportores. O ministério de Spurgeon começou subitamente e concluiu de maneira semelhante. Terminou sua gloriosa carreira em 1892, quando contava com 58 anos de idade. A notícia da sua morte ocupou a primeira página dos jornais ingleses e europeus, e com ele morria “o último dos puritanos”. O poder do ministério de Spurgeon residia em sua teologia. Ele redescobriu o que a Igreja por muito tempo havia esquecido - o poder evangélico das chamadas doutrinas calvi- nistas. Seu ministério constituiu um poderoso testemunho da única verdade salvadora. “A antiga verdade que Calvino, Agostinho e o apóstolo Paulo pregaram é a verdade que eu também devo pregar hoje; do contrário deixaria de ser fiel à minha consciência e ao meu Deus. Não posso remodelar a verdade; desconheço tal coisa como lapidar uma doutrina bíblica. O evangelho de John Knox é o meu evangelho. Aquilo que trovejou por toda a Escócia precisa trovejar novamente por toda a Inglaterra. ” “Uma inércia espiritual é nossa inimiga; uma tempes­ tade talvez seja nossa amiga. A controvérsia talvez provoque pensamento, e por meio dele talvez venha a mudança espiritual necessária. ” -C . H. Spurgeon
  • 6. ÍNDICE Introdução ....................................................................... 9 1 A história dos poderosos feitos de Deus...................... 21 “Ouvimos, ó Deus, com os nossos próprios ouvidos: nossos pais nos tem contato o que outrora fizeste em seus dias ” -Sal. 44:1 2 O sangue do concerto eterno.......................................... 44 “O sangue do concerto eterno” -H eb. 13:20 3 A necessidade da obra do Espírito Santo.................... 63 “Eporei dentro de vós o meu Espírito” - Ex. 36:27 4 Predestinação e chamada............................................... 83 “E aos que predestinou, a estes também chamou ” - Rom. 8:30 5 Um sermão de despedida................................................102 “Portanto, no dia de hoje, vos protesto que estou limpo do sangue de todos; porque nunca deixei de anunciar-vos todo o conselho de Deus” -A t. 20:26-27
  • 7. INTRODUÇÃO O ano de 1859 foi de pouco significado político para fazê-lo permanentemente memorável. A agonia da guerra da Criméia e os efeitos causados pelo Motim da índia, já haviam passado. A Guerra Civil Americana, com suas repercussões sobre o comércio inglês, ainda não havia começado. No outro lado do Canal da Mancha, os conflitos entre a França e a Áustria se desenvolviam sobre a península italiana sem interferência inglesa. Com normalidade rotineira, a rainha Vitória cumpria seus vinte e dois anos de reinado, e em Westminster, pela segunda vez, Lord Palmerston tomava posse do cargo de primeiro-ministro, função que desempenharia sem aconteci­ mento algum de importância. Sem dúvida, nos anais da Igreja Cristã, este ano se destaca como um verdadeiro ano de graça. Desde então a Inglaterra não conheceu outro ano como este, e é por isso que os notáveis episódios do período merecem um registro duradouro. Numa terça-feira à noite, exatamente no dia 4 de janeiro de 1859, Charles Haddon Spurgeon, que na época contava com 24 anos de idade, dirigia a palavra a uma grande multidão reunida no Exeter Hall, sob os auspícios da Associação Cristã de Moços. O tema do seu discurso versou sobre a propagação da fé e no decorrer do mesmo, Spurgeon destacou a necessidade de um avivamento. “Devemos confessar que nesta hora não gozamos da presença do Espírito Santo na medida que a desejaríamos. Oh, que resultados se produziriam nos que se congregam aqui nesta noite, e sobre todas as assembléias dos santos, se o Espírito de Deus descesse! Não buscamos
  • 8. exaltações extraordinárias - as quais são as falsas acompanhan­ tes de todo avivamento genuíno - mas realmente aspiramos que o Espírito Santo seja derramado sobre nós. O Espírito está soprando sobre nossas igrejas com Seu alento afável, porém não é mais que um sopro suave. Oh, se viesse como um vento impetuoso que arrebatasse tudo após si! Esta é a necessidade destes tempos - a grande falta em nossa nação. Oh, que nos venha como uma bênção do Altíssimo!” Este desejo se cumpriu. Na primavera do ano de 1859, deflagrado pela notícia do aviva­ mento que iniciara na América no inverno de 1857-58, se iniciou um grande despertamento na Irlanda do Norte e no País de Gales. No princípio do verão já se havia propagado desde a Irlanda até à Escócia, e no final do ano Spurgeon podia escrever: “Os dias de refrigério pela presença do Senhor, finalmente se deixam sentir em nossa nação”. Dentre todos os pregadores daquele ano de graça, o Senhor Se serviu de maneira extraordinária de C. H. Spurgeon; e embora Londres não chegasse a ser o centro de cenas de avivamento, tais como as que se presenciavam noutros lugares, contudo não existia em toda a nação uma voz mais influente que a do jovem pastor da capela de New Park Street. Cinco anos antes, com apenas 19 anos, Spurgeon deixara uma humilde obra batista em Waterbeach, perto de Cambridge, para aceitar o pastorado desta igreja londrinense. A igreja se encontrava em avançado estado de decadência. Não mais que 200 pessoas se reuniam num edifício com capacidade para 1.200. Entretanto, num período de doze meses, o templo se encheu totalmente. Em fevereiro de 1855, a ampliação da antiga estrutura tornou-se uma urgente necessidade e a congregação decidiu realizar as reuniões * Spurgeon pregou em New Park Street pela primeira vez em dezembro de 1853; foi-lhe oferecido o pastorado em abril de 1854. Permaneceu nessa congregação até a morte.
  • 9. em Exeter Hall (capaz de congregar mais de 2.500 pessoas) até maio, data em que seriam concluídas as reformas. No entanto, a ampliação da capela de New Park Street tornou-se insuficiente, pois toda a Londres se dera conta do novo pregador, e inclusive os jornais anunciavam que “desde os tempos de Wesley e Whitefield não havia existido um interesse religioso tão profundo”. Em junho de 1856, a congregação se viu obrigada a voltar de novo ao Exeter Hall para os cultos da noite, e se destinou uma verba especial para construir um novo edifício. Em novembro a congregação outra vez teve que transferir-se, e durante três anos a igreja de New Park Street se reuniu no Surrey Gardens Music Hall. Domingo após domingo, durante todo este tempo, Spurgeon pregou o evangelho a uma audiência que oscilava entre 5.000 e 9.000 pessoas. Além disso, durante a semana geralmente pregava cerca de dez vezes. Ao chegar o ano de 1859, já havia pregado na Escócia, Irlanda e a maior parte da Inglaterra. Recusou repetidos convites para ir à América, mas tanto ali como em outras partes do mundo seus sermões encontravam elevado número de leitores. Era, pois, evidente que muito antes de 1859 o poder do Espírito Santo já se havia manifestado eficazmente no minis­ tério de Spurgeon. No final desse ano de avivamento e no prólogo do 59 volume do New Park Street Pulpit, Spurgeon escrevia: “Em meio destas novas mostras do amor divino, é bastante agradável visitar os lugares que por muito tempo têm sido favorecidos, não somente com desejados frutos, porém com alegria e gozo indizível. E este é o caso com a igreja na qual foram proferidos estes sermões. Seu “arco” permanece com firmeza... Por seis anos o orvalho não cessou de descer, nem a chuva deixou de cair.” E acrescenta: “Atualmente o número de convertidos é mais numeroso que em tempos passados, e o zelo da igreja cresce extraordinariamente”. De maneira indiscutível, inclusive para seu ministério, o ano de 1859 foi extraordinário.
  • 10. Talvez alguns fatos deste ano memorável merecem destaque. No dia l9 de março, Spurgeon pregou a uma nume­ rosa afluência de ouvintes no Tabernáculo de Whitefield. Em 10 de julho, em vista de ter perecido um homem em Clapham Common, vítima de um raio, Spurgeon falou nesse lugar a mais de 10.000 pessoas. A reunião foi ao ar livre e o tema do seu sermão foi: “Estejam também prontos”. Dois dias depois, noutra reunião ao ar livre, Spurgeon pregou a outra multidão em Rowland’s Castle, num vale próximo a Havant. Nesse lugar as próprias montanhas recolhiam o som de sua voz, enquanto as multidões, em suspenso, podiam ouvir a comovedora exortação, repetida ao longe através do eco: "v i n d e , v i n d e , v i n d e , v i n d e !" No dia 20 do mesmo mês, Spurgeon pregou no País de Gales pela primeira vez, novamente ao ar livre, a uma multidão de 9.000 a 10.000 pessoas. Os habitantes de Castleton, aldeia situada entre Newport e Cardiff, onde se realizou a reunião, tiveram motivos de sobra para recordar tal acontecimento até o dia de suas mortes. Estas reuniões ao ar livre efetuadas em distritos rurais constituíram uma faceta distintiva do ministério de Spurgeon naquele ano. Quase no final do ano, em outubro de 1859, ainda encontramos Spurgeon pregando ao ar livre a uma congregação de 4.000 pessoas em Carlton, Bedfordshire. O ano de 1859 foi também o último em que Spurgeon pregou no Surrey Gardens Music Hall. Por algum tempo os proprietários do mesmo não se atreveram a abrir o auditório e suas dependências aos domingos para diversões públicas, pois haviam sido advertidos por Spurgeon de que, se o fizessem, a congregação deixaria de usar o edifício e com isso os proprie­ tários se privariam de um aluguel muito respeitável. Mais tarde, porém, confiando obter maior lucro, abriram o lugar para diversões, forçando assim a Spurgeon a cumprir sua palavra. Na ocasião em que teve de deixar o Music Hall, Spurgeon pregou o
  • 11. sermão de despedida que aparece neste livro. Depois disso, os empresários do edifício se arruinaram completamente, não apenas moral como também financeiramente, e em junho de 1861 o Hall foi destruído por um incêndio. Anos mais tarde, alguém escreveu as seguintes impressões das últimas reuniões no Music Hall: “Jamais esquecerei aquele sermão de 17 de julho de 1859: “A história dos poderosos feitos de Deus.” Como Spurgeon se empolgou na pregação daquela manhã! Havia muito calor, e ele constantemente enxugava o suor da sua fronte, mas esse desconforto em nada afetou seu discurso; as palavras fluíam como uma torrente de sagrada eloqüência...Eu estava também presente no último culto que se celebrou no Music Hall, a 11 de dezembro de 1859. Densa era a neblina naquele dia, não obstante o local estava tão repleto quanto podia ser. Eu ocupava um dos assentos da frente na segunda galeria, de modo que desfrutava de uma vista esplêndida de toda a multidão. Num fervoroso sermão, Spurgeon apresentou todo o conselho de Deus. Sempre há uma nota triste naquilo que põe fim a algo; e assim, enquanto abandonava o lugar, me dei conta de que uma das experiências mais felizes da minha juventude pertencia já ao passado. E assim foi, também, em minha opinião, como terminou uma das mais românticas cenas da maravilhosa vida do Sr. Spurgeon”. Os sermões incluídos neste livro foram todos pregados no Surrey Music Hall e são típicos dos muitos ali proferidos. Neles se encontrará a razão que explica o extraordinário êxito que em todo o tempo acompanhou o ministério de Spurgeon. O que seria que reunia e sustentava uma congregação de 8.000 pessoas? Propaganda? Cultos vistosos? Acompanhamentos musicais? Conselheiros organizados? Não! Spurgeon não dependia de nenhuma destas coisas. “Ora, era o mesmo evangelho que se prega hoje em dia por toda a parte”, talvez diga alguém. Certamente, o que ele pregava era o evangelho, todavia
  • 12. no evangelismo que tão profusamente se apresenta hoje em dia, encontraríamos o mesmo evangelho de Spurgeon? Que o leitor destes sermões - com toda a seriedade - responda por si mesmo a essa pergunta. O poder do ministério de Spurgeon residia em sua teo­ logia. Ele descobriu novamente o que a Igreja há tempo havia esquecido - o poder evangélico das chamadas doutrinas “calvinistas”. No sermão que pregou no lançamento da pedra fundamental do Tabernáculo Metropolitano (15 de agosto de 1859) ele declarou: "Nós cremos nos cinco pontos que comu- mente se chamam calvinistas; os reputamos como cinco grandes luzes que irradiam da cruz de Cristo.” Na inauguração do Tabernáculo em 1861, o tema dos diferentes sermões foi precisamente sobre estes cinco pontos: eleição, depravação total, redenção particular, chamada eficaz e perseverança final dos santos. Longe de considerá-las como um estorvo para seu evangelismo, Spurgeon reputava essas verdades como a força impulsora que move o ministério evangélico. “A eleição - e me refiro aqui a todo o conjunto de verdades que se agrupam em torno dela, como se esta fora um sol central - não somente tem um poder salvador, mas exerce também um poder que comunica gosto e qualidade a todas as demais doutrinas. O evangelismo mais puro brota desta verdade. . . Esta doutrina, que à primeira vista parece como se condenara todo o esforço à indolência e fizera sentar o homem em morbidez e desespero, é verdadeiramente nada menos que a trombeta de Deus para des­ pertar os mortos. E visto que ela honra a Deus, Deus a honrará.” Além disso, Spurgeon percebeu uma conexão vital entra a proclamação destas verdades e o irrompimento de aviva- mentos. "Na história da Igreja, excetuando uns poucos casos, não encontrarão nenhum avivamento que não tenha sido produzido por uma fé ortodoxa. Não foi assim com a grande obra produzida por Agostinho, ao despertar subitamente a Igreja
  • 13. do sono funesto e mortal dentro do qual o pelagianismo a colocara? Que foi a Reforma, senão um despertar das mentes humanas para estas verdades antigas? Mesmo que luteranos modernistas de hoje tenham abandonado suas doutrinas antigas, e ainda que alguns deles não estejam de acordo comigo, de todos os modos devo dizer que Lutero e Calvino não mantiveram argumento algum concernente à predestinação. Seus pontos de vista eram idênticos, e a obra de Lutero sobre O Cativeiro da Vontade é tão enfática com respeito à livre graça de Deus como se fosse um escrito de Calvino. Escutem esse grande trovejador quando exclama nesse livro: “Que o leitor cristão saiba que Deus não prevê nada de maneira contingente, porém que, pelo contrário, Ele prevê, propõe e atua de acordo com Sua eterna e imutável vontade. Ela é o baque de trovão que rompe e vence o livre-arbítrio.” Acaso precisaria mencionar-lhes nomes mais célebres que os de Huss, Jerônimo de Praga, Farei, Knox, Wicliffe, Wishart e Bradford? Todos estes sustentaram os mesmos pontos de vista, e em sua época um avivamento arminiano não só teria sido inconcebível, como também impossível de sonhar. E no tocante a um avivamento mais recente, sob João Wesley, e no qual os metodistas wesleyanos contribuíram tão extensamente, parece ser, à primeira vista, que este avivamento constituiu uma exceção ao que foi afirmado até aqui; no entanto, permitam-me afirmar que o poder doutrinai do metodismo wesleyano reside em seu calvinismo.A maioria dos metodistas reprovou totalmente as doutrinas do pelagianismo. Defendeu a doutrina da depravação total do homem, a necessidade de uma O arminianismo foi oficialmente condenado no Sínodo de Dort (1618-1619), mas é importante notar que, na atualidade, este sistema doutrinário tão contrário aos ensinamentos bíblicos, se transformou na teologia oficial de um grande setor do protestantismo. Nota do tradutor.
  • 14. intervenção direta do Espírito Santo na salvação, e que o primeiro passo na conversão provém, não do homem, e sim de Deus. Essas pessoas negaram ser pelagianas. Acaso o metodista não sustenta, com a mesma firmeza que nós, que o homem é salvo unicamente pela operação do Espírito Santo? Não é certo, porventura, que muitos dos sermões de João Wesley estão saturados daquela grande verdade, ou seja, que o Espírito Santo é necessário para a regeneração? Sejam quais forem os seus erros, o certo é que ele continuamente pregou a absoluta necessidade do novo nascimento através da atuação do Espírito Santo. E, também, há outros pontos em que estamos de acordo com Wesley, como por exemplo, no que diz respeito à incapacidade humana. Não importa como alguns nos ridicu­ larizem, quando dizemos que o homem por si só não pode se arrepender nem crer; contudo os antigos manuais arminianos afirmavam a mesma coisa. E verdade que eles afirmam que Deus dá graça a todo homem; no entanto não debatem o fato de que, à parte daquela graça, não há capacidade no homem para fazer algo de valor quanto à sua própria salvação. E voltando agora nossa atenção aos avivamentos do continente americano, descobrimos quão falsa é a acusação de que as doutrinas calvinistas são contrárias a todo avivamento. Recordem o abalo espiritual produzido pela pregação de Jonathan Edwards e também por muitos outros pregadores americanos. Ou, se preferem, voltem a atenção para a Escócia: que diremos de M’Cheyne? E daqueles famosos calvinistas tais como Livingstone, Chalmers, Wardlaw, Haldane, Erskine e muitos outros? Todos esses servos de Deus sustentaram e proclamaram sem vacilação alguma as grandes verdades do calvinismo, e com que resultado? Deus aprovou a mensagem deles e multidões foram salvas. E sem que agora trate de engrandecer-me de meu trabalho para o Senhor, me atrevo a dizer que nunca pude observar que a pregação destas doutrinas
  • 15. por minha parte puseram esta igreja a dormir; antes, pelo con­ trário, seus membros, além de amar e sustentar estas verdades, agonizam pelas almas dos homens. As 1.600 ou mais pessoas que batizei, ao confessarem sua fé, constituem testemunho vivo de que estas antigas verdades não perderam seu poder para promover avivamentos religiosos.* Para explicar a falta de poder nos sermões de alguns pregadores que pareciam não afetar alma alguma, Spurgeon dizia: “A razão está, creio, em que eles não sabem o que na realidade é o evangelho', têm medo do verdadeiro evangelho calvinista, e por conseguinte o Senhor não reconhece seu minis­ tério”. Falando da influência destas doutrinas sobre sua própria igreja, Spurgeon escreveu: “Entre os muitos candidatos para o batismo e para a membresia desta igreja, havia um grande número de jovens e também de pessoas de mais idade. Eu me deleitava em ouvir-lhes expressar tão claramente, não só as grandes verdades da justificação pela fé, mas também ao darem clara evidência de haver sido instruídos nas doutrinas relacionadas com o pacto da graça. Creio que uma das razões pelas quais esta igreja tem sido tão distintamente abençoada por Deus, é porque a maioria daqueles que se agregaram a nossas fileiras está bem fundamentada na antiga fé dos puritanos e O avivamento de 1859 foi uma ilustração do vínculo entre as doutrinas calvinistas e os avivamentos. Outros líderes envolvidos no avivamento, tais como Brownlow North (cujo pregação foi tão influente na Escócia e na Irlanda), reconheceram isto: “Não deixa de ser digna de observação que a vasta maioria dos servos de Deus, honrados por Ele para produzir avivamentos em escala nacional, desde o inglês W ycliffe e o boêmio Huss até os da atualidade, tem sido agostiniano ou calvinista em seus pontos de vista teológicos. O ensino de Brownlow North foi decididamente calvinista. De fato, era tão calvinista que é de se admirar que obteve tanta popularidade”. (Records and Recollections of Brownlow North (1810-75), por K. Moody-Stuart, p. 258.)
  • 16. portanto não se afastou de nós.” Exortando a seus companheiros de ministério, Spurgeon afirmava: “Irmãos, na proporção em que um ministro é fiel, dependerá a bênção de Deus. Podem esperar que o Espírito Santo ponha o Seu selo de aprovação a uma mentira? Podem esperar que Ele abençoe aquilo que não revelou ou confirme com sinais o que não é verdadeiro? Cada vez estou mais convencido de que se desejamos ter Deus ao nosso lado, devemos guardar a Sua verdade”. Qualquer erro referente às doutrinas mencionadas ante­ riormente, Spurgeon o considerava como um atentado à própria essência do evangelho. O arminianismo - o erro que sustenta que Cristo morreu para a salvação de todos e de que o homem tem de decidir-se por Cristo antes de que Deus possa convertê­ -lo - foi severamente condenado por Spurgeon: “A heresia de Roma não é outra senão a de acrescentar algo aos perfeitos méritos de Cristo, o acréscimo das obras da carne para ajudar a nossa justiça. Não seria essa também a heresia do arminianismo ao acrescentar algo à obra do Redentor? Minha opinião é que não é possível pregar a Cristo crucificado, a menos que não preguemos também o que hoje em dia se chama calvinismo. O nome calvinismo é só apelativo; o calvinismo é o evangelho e nada mais. Não podemos dizer que pregamos o evangelho se não pregamos a justificação pela fé, sem as obras. Tampouco podemos dizer que pregamos o evangelho se não pregamos a soberania de Deus na dispensação da Sua graça e muito menos se não destacamos o amor eletivo, invariável, eterno e imutável do Senhor. Ainda mais, não podemos dizer que pregamos o evangelho a menos que o baseemos na redenção especial e particular do povo eleito, povo que Cristo resgatou ao morrer na cruz. Acima de tudo, não podemos aceitar um evangelho que permita aos santos cairem da graça uma vez que foram chamados. Tal evangelho eu detesto”.
  • 17. No ano de 1859, Spurgeon também pregou em Brighton. Depois desta visita, os jornais locais anunciaram que ele havia abandonado as doutrinas calvinistas. Como resultado desta falsa afirmação, Spurgeon enviou as seguintes linhas ao Brighton Examiner: “A afirmação segundo a qual abjurei a doutrina calvinista é - desde o princípio até ao fim - pura invenção e somente podia ser idealizada com propósitos maliciosos. Minha posição doutrinária é a mesma de antes, e espero que até ao dia de minha morte permanecerei fiel à mesma verdade sublime”. Após revisar seus primeiros sermões para serem publicados, declarou: “Regozijo-me no fato de que não tive necessidade de mudar nenhuma das doutrinas que preguei nos primeiros dias do meu ministério. Com respeito a estas verdades, minha posição é a mesma que quando o Senhor as revelou para mim pela primeira vez”. Spurgeon faleceu em 1892. Viveu o suficiente para observar ao seu redor um terrível declínio das doutrinas funda­ mentais do evangelho. Perto do fim da sua vida ele foi considerado “o último dos puritanos” e parecia como se fora o único que se mantinha firme pela verdade. “Sentimos - declarava ele - como se um processo de endurecimento estivesse agindo nas massas. A situação agora não é a mesma como no princípio do meu ministério. E a que se deve isso? Qual a razão desse desagrado pelos cultos simples do santuário? Creio que a resposta, em grande parte, aponta a uma direção que pouco se suspeita. Tem havido uma crescente tendência para o sensualismo. Não condeno a ninguém, mas confesso que me sinto profundamente entristecido ao ver algumas das invenções empregadas na obra missionária moderna.” Em 1892 o fluxo do pensamento popular nas igrejas era muito diferente do de 1859. A teologia de 1892 veio a ser - como predissera Spurgeon - a teologia da primeira metade do século vinte. “O que está ocorrendo agora afetará os próximos
  • 18. séculos. Da minha parte estou completamente disposto a ser devorado pelos cães nos próximos cinqüenta anos; mas as gera­ ções de um futuro mais distante me darão a razão.” Cem anos já se passaram desde o último grande avivamento nacional. Certamente chegou o momento de submetermos a um exame os frutos das mudanças teológicas registradas desde então. Eles teriam contribuído realmente para um crescimento maior de avivamentos? Acaso eles aumentaram o poder da santidade? Porventura trouxeram convicção do pecado ao mundo? Eles estariam enchendo as igrejas com ouvintes sequiosos? Ao ler estes sermões e ver-nos confrontados com a mudança teológica de hoje em dia, perguntemo-nos: essa mudança tem contribuído para o bem ou para o mal? As idéias modernas sobre o evange­ lho e os métodos evangelísticos recentes têm enriquecido ou empobrecido a Igreja? Se o evangelho pregado por Spurgeon era o evangelho genuíno, então atualmente em quantos lugares se anuncia com poder o puro evangelho? Que o centenário do avivamento de 1859 faça com que muitos crentes considerem tais questões e busquem um despertamento semelhante ao que ocorreu há cem anos na Inglaterra. março de 1959 OS EDITORES
  • 19. A HISTÓRIA DOS PODEROSOS FEITOS DE DEUS* “Ouvimos, 6 Deus, com os nossos próprios ouvidos: nossos pais nos tem contado o que outrorafizeste em seus dias” -Sal. 44:1. Talvez não haja histórias que permaneçam por tanto tempo gravadas em nossa memória como as que ouvimos da boca de nossos pais, em nossa infância. É triste lembrar que muitas delas eram inúteis e vãs, de modo que desde crianças nossas mentes tenham sido influenciadas por fábulas e narrativas estranhas, todas manchadas de falsidade. Entre os primeiros cristãos e crentes do passado, os contos infantis eram muito diferentes dos da atualidade, e as histórias com as quais entretinham os filhos eram de classe bem distinta das que nos fascinavam nos dias de nossa infância. Sem dúvida Abraão teria falado às crianças a respeito do dilúvio e de que maneira as águas chegaram a cobrir a terra, de modo que apenas Noé foi salvo pela arca. Os antigos israelitas, quando habitavam a Terra Prometida, teriam contado a seus filhos o milagre realizado por Deus no Mar Vermelho, e falado das pragas lançadas sobre o Domingo de manhã, 17 de julho de 1859.
  • 20. Egito quando o Senhor libertou o Seu povo do cativeiro. Sabemos que entre os primeiros cristãos, os pais costumavam relatar a seus filhos tudo concernente à vida de Jesus, o que os apóstolos fizeram e narrativas semelhantes. Também foram essas as histórias que deleitaram a infância dos nossos antepassados, os puritanos. Sentados ao redor da lareira e em frente daqueles mosaicos holandeses, com desenhos antigos da vida de Cristo, as mães instruiam os seus filhos acerca de Jesus e lhes falavam de como Ele andou sobre as águas, da multiplicação dos pães, da Sua maravilhosa transfiguração e principalmente sobre a Sua crucificação. Oh, quanto desejaria que essas histórias fossem repetidas e que as narrações feitas na nossa infância versassem outra vez sobre a vida de Cristo! Deveríamos convencer-nos de que, finalmente, não pode haver nada mais interessante do que aquilo que é verdadeiro, e que coisa nenhuma pode produzir uma impressão mais viva na mente do que as histórias contidas no Livro Sagrado. Nada pode influenciar mais profundamente o coração de uma criança como as obras maravilhosas que Deus realizou nos tempos antigos. Parece que o salmista que escreveu esta ode tão poética havia ouvido dos lábios do seu pai, o qual, por sua vez, aprendera da tradição familiar, a descrição das maravilhosas obras de Deus; e mais tarde o doce cantor de Israel a contou a seus filhos, e assim, de geração em geração, se louvaria a Deus pelos Seus poderosos feitos. Nesta manhã pretendo recordar-lhes algumas das coisas maravilhosas que Deus fez nos tempos antigos. Meu propósito e objetivo será estimular suas mentes a se voltarem para tais coisas, de modo que, recordando-se do que Deus fez, vocês possam ser levados a olhar para frente com olhos de expecta­ tiva, esperançosos de que Ele estenda novamente Seu braço santo e Sua mão poderosa, para repetir aquelas grandes obras das épocas passadas.
  • 21. Primeiro lhes falarei das histórias maravilhosas que nossos pais relataram e que temos ouvido referentes aos tempos antigos. Em segundo lugar mencionarei algumas dificuldades quanto a nossa compreensão dessas antigas histórias. Por último, extrairei certas conclusões naturais destas obras maravilhosas que temos ouvido que o Senhor efetuou em tempos passados. I. Iniciarei, pois, com AS HISTÓRIAS MARAVILHOSAS QUE TEMOS OUVIDO REFERENTES AOS ANTIGOS FEITOS DO SENHOR. Temos ouvido que Deus, por vezes, tem realizado feitos poderosos. O curso comum da vida no mundo tem sido alterado com prodígios, diante dos quais, os homens ficaram grande­ mente maravilhados. Nem sempre Deus tem permitido que Sua Igreja suba aos cumes da vitória em intervalos curtos, contudo em certas ocasiões tem derribado de um só golpe os inimigos do Seu povo e ordenado aos Seus filhos que avancem sobre os corpos prostrados dos adversários. Voltem-se então para os relatos antigos e lembrem-se como Deus agiu. Porventura não se lembram do que Ele fez no Mar Vermelho, de que maneira Ele feriu a cavalaria dos egípcios, sepultando-a, junto com a carruagem e os cavalos de Faraó, nas profundezas do Mar Vermelho? Não ouviram falar de que modo Deus derrotou Ogue, rei de Basã, e a Sion, rei dos amorreus, porque eles se opuseram ao avanço do Seu povo? Não aprenderam como Ele provou que a Sua misericórdia é eterna quando destruiu esses grandes reis e derrubou os poderosos dos seus tronos? Não leram também como Deus feriu os cananeus e os lançou fora da sua terra para a entregar aos filhos de Israel por herança perpétua? Não ouviram que quando os exércitos de Jabin mar­ charam contra eles, as próprias estrelas desde as suas órbitas pelejaram contra Sísera? “A torrente de Quisom os arrastou, a
  • 22. antiga torrente, e nem um se salvou.” Não ouviram, também, como Deus pela mão de Davi feriu os filisteus, e como pelo poder de Sua destra os filhos de Amon foram desbaratados? Não ouviram como Midiã foi entregue à confusão e como as miríades da Arábia foram dispersas por Asa no dia de sua fé? Acaso não ouviram, também como o Senhor enviou um ataque sobre os exércitos de Senaqueribe, de modo que pela manhã todos eles eram homens mortos? Proclamem - proclamem estas maravilhas de Deus! Falem sobre elas nas ruas! Transmitam esses feitos a seus filhos e jamais os deixem ficar no esquecimento. A destra do Senhor tem operado coisas maravi­ lhosas e Seu nome é conhecido em toda a terra. Entretanto, as maravilhas que de modo mais direto se relacionam conosco são as da era cristã; certamente não pode­ mos relegá-las a segundo plano com respeito às maravilhas do Antigo Testamento. Nunca leram como Deus obteve para Si mesmo grande renome no dia de Pentecoste? Voltem-se para o livro dos relatos das maravilhas de Deus e leiam-no. Pedro, o pescador, levantou-se e pregou em nome do Senhor, seu Deus. Afluiu uma grande multidão e o Espírito Santo desceu sobre ela. E, que ocorreu? Umas três mil pessoas foram compungidas de coração e creram no Senhor Jesus Cristo. Porventura não sabem como os doze apóstolos junto com os discípulos foram a todas as partes anunciando a Palavra e como caíram os ídolos de seus tronos como resultado de sua pregação? As portas de muitas cidades se abriam e os mensageiros de Cristo percorriam as suas ruas pregando a mensagem da salvação. Na realidade, os discípulos no início foram perseguidos por toda parte e como perdizes foram perseguidos nos campos; mas, não sabem que mesmo nessas circunstâncias o Senhor obteve para Si a vitória, e que cem anos depois de haver Cristo ter sido cravado na cruz, o evangelho já havia sido pregado em todas as nações, e até as ilhas mais remotas haviam sido alcançadas pela pregação? Já se
  • 23. esqueceram, de como em todos os rios, milhares e milhares de gentios eram batizados ao mesmo tempo? Que área existe na Europa que nunca tenha ouvido a mensagem sublime do evangelho? Que cidade há em nosso país que não possa testemunhar como a verdade de Deus tem triunfado e como os pagãos, abandonando seus falsos deuses, dobraram os joelhos diante de Jesus Cristo, o Crucificado? A maneira como o evangelho foi propagado nos primeiros séculos, é, realmente, um milagre que jamais poderá ser eclipsado. O que quer que Deus tenha realizado no Mar Vermelho, Ele realizou ainda mais durante os primeiros cem anos que se seguiram a vinda de Cristo ao mundo. Parecia como se um fogo do céu houvesse corrido pelo chão e que nada pudesse resistir à sua força. A relampejante seta da verdade fez em pedaços o pináculo do templo idólatra e o nome do Senhor Jesus Cristo era adorado desde o levantar do sol até o seu ocaso. Isso é uma das coisas que temos ouvido dos tempos antigos! Acaso vocês nunca ouviram das coisas poderosas que Deus efetuou através de pregadores durante os séculos desde aquela época? Nunca lhes foi relatado o caso de Crisóstomo, o pregador apelidado “boca de ouro”? Sempre que ele pregava, uma grande e bem atenta multidão se comprimia no templo para escutá-lo. Crisóstomo, de pé e levantando mãos santas, com majestade incomparável, lhes falava a palavra de Deus em verdade e justiça. As pessoas o ouviam e inclusive se curvavam para a frente, para captar cada palavra; de vez em quando rompiam o silêncio com seus aplausos e com o ruído dos pés; logo o silêncio voltava e ficavam cativados pelas palavras do grande pregador, até que outra vez, levados pelo entusiasmo, punham-se em pé e aplaudiam, gritando de alegria. Em seus dias as conversões foram inumeráveis e o nome de Deus foi altamente glorificado na salvação de muitos pecadores.
  • 24. Porventura não lhes contaram seus pais as maravilhas operadas mais tarde naqueles tempos de superstição e densas trevas, quando o romanismo, entronizado, estendia sua vara de ferro sobre as nações, fechava as janelas do céu, apagava as próprias estrelas de Deus e fazia com que a escuridão cobrisse o povo? Não ouviram como Martinho Lutero se levantou para anunciar o evangelho da graça de Deus, como as nações treme­ ram, e o mundo reviveu ao escutar de novo a voz de Deus? Não ouviram a respeito de Zwínglio, entre os suíços, e Calvino, na cidade de Genebra, e dos poderosos feitos que Deus efetuou por meio deles? E como britânicos, já se esqueceram dos grandes pregadores da verdade - cessaram de vibrar seus ouvidos ao ouvirem a maravilhosa história dos pregadores enviados por Wicliffe a cada cidadezinha e aldeia da Inglaterra, para pro­ clamar o evangelho de Deus? Não nos informa a história que esses homens foram como tochas de fogo no meio de palhas secas; que suas vozes se assemelhavam ao rugir de leões e seus ministérios como o ataque de leõesinhos? Eles empurraram a nação para a frente e com respeito aos inimigos, clamavam: “Destruam-nos”. Ninguém podia resisti-los, porquanto o Senhor os revestira de poder. Aproximando-nos de tempos mais recentes, estou certo de que nossos pais nos relataram as coisas maravilhosas que Deus operou nos dias de Wesley e Whitefield. Naqueles dias todas as igrejas estavam adormecidas. A falta de religião era a regra do dia. As próprias ruas pareciam estar cheias de iniqüi­ dade e as sarjetas estavam repletas da perversidade do pecado. Levantaram-se, então, Whitefield e Wesley, homens cujos corações o Senhor havia tocado e que se atreveram a anunciar o evangelho da graça de Deus. De repente, como num momento, ouviu-se o tatalar de asas e a Igreja interrogou: “Quem são estes que voam como uma nuvem, e como pombas às suas janelas?” Elas vêm! Elas vêm! São incontáveis como os pássaros do céu,
  • 25. e seu ímpeto é como vento forte a que não pode resistir-se. Em poucos anos, como fruto da pregação destes dois homens, toda a Inglaterra foi permeada pela verdade evangélica. A Palavra de Deus era conhecida em cada cidade, e raramente encontrava-se uma aldeia na qual os metodistas não tivessem penetrado. Naqueles dias dos transportes vagarosos, quando o cristianismo parecia ter comprado os vagões nos quais os nossos pais viajaram - onde a vida comercial se movia a vapor e muitas vezes a religião rastejava seu ventre sobre a terra - ficamos atônitos diante de tais histórias, e nós as vemos como maravilhas. Apesar disso, creiamos nelas, pois foram parte substancial da história. E as maravilhas que Deus operou em tempos passados, pela Sua graça Ele ainda fará outra vez. “Aquele que é poderoso tem feito grandes coisas e santo é o seu nome.” Há uma característica especial nestas obras que Deus efetuou nos tempos antigos, para a qual gostaria de chamar a sua atenção: é que elas despertam nosso interesse e nossa admiração pelo fato de que foram efetuadas de maneira repentina. Os velhotes de nossas igrejas crêem que as coisas devem desenvolver-se paulatina e gradativamente; que se deve avançar passo a passo. A ação concentrada e o labor progressivo - dizem - nos levarão finalmente ao êxito. Mas a maravilha é que todos os feitos de Deus aconteceram subitamente. Quando Pedro se levantou para pregar, não levou seis semanas para que fossem convertidos os três mil. A conversão deles foi instantânea e o seu batismo ocorreu no mesmo dia. Naquela mesma hora eles se voltaram para Deus e chegaram a ser discípulos tão verdadeiros de Cristo como se a conversão resultasse de um processo de setenta anos. Assim foi também nos dias de Martinho Lutero: o grande reformador não precisou de séculos para superar as densas trevas de Roma. Deus acendeu a vela e a luz brilhou num instante. Ele age de modo repentino. Se alguém pudesse
  • 26. ter estado em Wurtemburg e ter perguntado: “Pode o papado estremecer, pode o Vaticano ser abalado?” a resposta teria sido: “Não, será preciso pelo menos mil anos para que isso aconteça. O papado, a grande serpente, tem se enrolado nas nações e apertado-as tão rapidamente em sua espiral, que elas não podem ser libertadas a não ser por um longo processo”. Contudo, “não é assim”, disse Deus. Ele feriu o dragão violentamente, e as nações foram libertas; Ele partiu os portões de bronze, quebrou em pedaços as barras de ferro e o povo foi liberto na mesma hora. A liberdade não veio ao longo dos anos, e sim num instante. “O povo que andava em trevas viu uma grande luz; aos que moravam em terra de sombra de morte a luz resplandeceu sobre eles.” O mesmo ocorreu nos dias de Whitefield. A censura que pesava sobre uma igreja adormecida não foi trabalho de eras; aconteceu imediatamente. Vocês nunca ouviram a respeito do grande avivamento sob o ministério de Whitefield? Tomemos, por exemplo, o que sucedeu em Cambuslang. Enquanto pregava no pátio de uma igreja, pois nenhum edifício podia comportar a multidão, o poder de Deus veio sobre as pessoas, e uma após outra caía por terra como se tivesse sido golpeado. Estima-se que uma multidão de não menos de três mil indivíduos chorava em uníssono sob a convicção do pecado. Whitefield prosseguia com a mensagem: ora suas palavras faziam tremer como Boanerges, ora eram suaves como tons consoladores de um Barnabé. Não há linguagem capaz de descrever as grandes maravilhas operadas por Deus através daquele sermão memorável. Nem ainda o sermão de Pedro no dia de Pentecoste se assemelhou a ele. Assim tem sido em todos os avivamentos; a obra de Deus tem sido feita repentinamente. Como o rebombar do trovão, Ele desce do alto; não de maneira lenta, porém majesto­ samente tem cavalgado sobre os querubins e voado sobre as asas do vento impetuoso. Repentina tem sido a Sua obra, as pessoas
  • 27. mal podiam crer que ela fosse verdadeira - foi realizada em tempo tão breve. Considerem o grande avivamento que está ocorrendo em Belfast e arredores. Depois de tê-lo acompanhado cuidadosamente e após ter falado com um querido irmão que morou naquela região, e que merece a minha confiança, estou convencido, apesar do que os inimigos possam dizer, que se trata de uma genuína obra da graça e que o Senhor está operando maravilhas ali. Um amigo que veio me visitar ontem informou que os homens mais sórdidos e vis, assim como as mulheres mais depravadas de Belfast, têm sido alcançados por esta extraordinária epilepsia - como diz o mundo - mas que sabemos ser a influência poderosa do Espírito. Homens costumeiramente bêbados de repente sentiram um grande impulso que os obrigou a orar. Eles resistiram, voltaram à bebida, a fim de se livrarem daquilo; mas mesmo no meio de suas blasfêmias e tentativas de apagar o Espírito, Deus os fez dobrar os joelhos e se viram obrigados a pedir misericórdia com gritos desesperados, e a agonizar em oração. Então, depois de certo tempo, o maligno parece ter saído deles; e, com a mente sossegada, santa e feliz, eles fizeram profissão de sua fé em Cristo e têm andado em Seu temor e amor. Católicos romanos têm sido convertidos. Pensei que fosse algo extraordinário; contudo eles têm sido convertidos muito freqüentemente mesmo em Ballymena e em Belfast. De fato, foi-me dito que os padres estão agora vendendo pequenas garrafas de água benta para que o povo a beba, a fim de serem imunizados contra este contágio irremediável do Espírito Santo. Dizem que esta água benta possui tal eficácia que aqueles que não freqüentaram nenhuma das reuniões muito provavelmente estarão livres da ação do Espírito Santo - assim dizem-lhes os padres. Todavia, se eles comparecerem às reuniões, até mesmo esta água benta não poderá imunizá-los - tornam-se passíveis de cair como presas da influência divina. Creio que eles são
  • 28. passíveis desta influência, tanto com tal água benta como sem ela. Tudo isso tem acontecido de maneira súbita, e embora possamos encontrar algum elemento de excitamento natural, estou persuadido de que, em essência, é um avivamento verda­ deiro e espiritual, uma obra que permanecerá. Há um pouco de espuma na superfície, mas existe uma corrente de água profunda que não pode ser resistida e que arrasta e leva consigo tudo que encontra. Pelo menos há algo que desperta nosso interesse ao saber que na pequena cidade de Ballymena, nos dias de feira, os donos de bares costumavam ganhar mais de cem libras diariamente, pela venda de uísque, mas agora todos os taverneiros juntos não ganham nem uma libra. Homens que outrora eram beberrões, agora se reúnem para orar; depois de ouvir um sermão, o povo esperará para ouvir outro e nalgumas ocasiões para escutar um terceiro sermão, até que o pregador se vê obrigado a dizer: “Agora vocês precisam se retirar; estou esgotado”. Ao sair do templo, se espalham pelas ruas e pelas casas em pequenos grupos, para suplicar que Deus continue Sua obra poderosa e a fim de que os pecadores sejam convertidos. “Nós não podemos crer”, talvez digam alguns de vocês. Provavelmente não podem, porém alguns de nós podemos, porque o temos ouvido com os nossos ouvidos e nossos pais nos contaram as grandes obras que Deus fez em seus dias, de modo que estamos dispostos a crer que hoje em dia Ele pode realizar feitos semelhantes. Devo destacar agora que em todas estas velhas histórias, há uma característica bastante evidente. Sempre que Deus reali­ zou um feito poderoso, Ele o fez por meio de um instrumento bem insignificante. Quando matou Golias, foi através do pequeno Davi, que não passava de um jovem ruivo. Não guardem a espada de Golias - sempre pensei que fosse um erro de Davi - guardem, não a espada de Golias, e sim a pedra, e
  • 29. entesourem a funda da armadura de Deus para sempre. Quando Deus quis matar Sísera, foi uma mulher que teve de fazer isso com um martelo e uma estaca. Deus tem executado Seus feitos mais poderosos por meio dos instrumentos mais insignificantes: este é um dos fatos mais verdadeiros com respeito a todos os feitos de Deus - Pedro, o pescador, no Pentecoste; Lutero, o humilde monge na Reforma; Whitefield, o atendente da antiga hospedaria Bell de Gloucester na época do avivamento do século passado - e assim deve ser até o fim. Deus não atua por intermédio dos cavalos e da carruagem de Faraó, mas sim pela vara de Moisés; Suas maravilhas não são feitas com o furacão nem com a tempestade; Ele as realiza por meio de uma pequena e calma voz, para que a glória possa ser Sua e a honra seja absolutamente Sua. Acaso isso não abre espaço para que eu e vocês sejamos encorajados? Por que não podemos ser usados para realizar algum feito poderoso para Deus aqui? Além disso, temos notado que, em todas estas narrativas dos poderosos feitos de Deus no passado, onde quer que tenha realizado algo de grandioso, Ele Se serviu de alguém que possuía grande fé. Neste momento acredito firmemente que, se Deus o quisesse, todas as pessoas neste auditório seriam convertidas num só instante. Se fosse do Seu agrado pôr em ação a operação do Seu Espírito, nem mesmo o coração mais endurecido poderia resisti-la. Deus tem misericórdia de quem Ele quer. Agirá conforme Lhe apraz; ninguém pode reter a Sua mão. “Bem,” dirá alguém, “mas eu não espero ver grandes coisas”. Então, meu caro amigo, você não ficará desapontado, porque não irá vê-las; todavia aqueles que esperam grandes coisas, as verão. Homens de grande fé realizam grandes coisas. Foi a fé de Elias que pôs fim aos sacerdotes de Baal. Se ele tivesse o pequeno coração que alguns de vocês têm, os sacerdotes de Baal ainda teriam continuado a governar o povo e jamais teriam sido destruídos pela espada. Foi sua fé que
  • 30. impulsionou Elias a dizer: “Se o Senhor é Deus, segui-o; se Baal, segui-o”. E mais tarde: “Escolham para si um dos bezerros, e o dividam em pedaços, e o ponham sobre a lenha, porém não lhe metam fogo. Invocai o nome do vosso deus e eu invocarei o nome do Senhor”. Foi a sua nobre fé que fê-lo dizer: “Tomem os profetas de Baal; que nenhum deles escape”; assim ele os levou ao ribeiro de Quisom, e ali os matou - um holocausto ao Senhor. A razão pela qual o nome de Deus foi tão magnificado foi porque a fé que Elias possuía em Deus era muito poderosa e heróica. Quando o papa enviou sua bula de excomunhão a Lutero, este a queimou. No meio de uma multidão, e sustentando nas mãos o documento a ponto de ser devorado pelas chamas, Lutero exclamou: “Olhem, isto é a bula do papa.” Que importância tinha para ele todos os papas que já estavam dentro ou fora do inferno? Quando Lutero tinha que ir a Worms a fim de comparecer diante da Dieta, os seus seguidodres lhe disseram: “Não vá; sua vida corre perigo.” “Ora”, replicou Lutero, “Ainda que houvesse tantos diabos em Worms como telhas nos telhados das casas, ainda assim não temeria; eu irei à Dieta”. E se dirigiu a Worms, confiando no Senhor seu Deus. O mesmo aconteceu com Whitefield; ele cria e esperava que Deus realizasse grandes coisas. Cada vez que subia ao púlpito estava convencido de que Ele abençoaria o povo, e assim Deus o fez. Uma pequena fé só fará pequenas coisas, mas uma fé robusta será grandemente recompensada. Ó Senhor, nossos pais nos tem contado que sempre que exibiram uma grande fé, Tu os honraste realizando grandes obras. Não os deterei mais neste ponto, exceto para fazer uma observação. Todos os poderosos feitos de Deus têm sido o resultado de muita oração, junto com uma grande fé. Já ouviram como iniciou o grande avivamento americano? Certo homem, desconhecido e ignorado, propôs no coração orar para que Deus
  • 31. abençoasse o seu país. Depois de orar intensamente e de fazer a pergunta que estremece a alma: “Senhor, que queres que eu faça? Senhor, que queres que eu façaT, alugou um casa e pôs um anúncio de que se realizaria uma reunião de oração numa determinada hora do dia. À hora indicada ele não encontrou ninguém na casa; novamente se pôs a orar e por meia hora orou sozinho. No fim dessa meia hora chegou uma pessoa e em seguida outras duas, e penso que a reunião terminou com seis pessoas. Na outra semana, cerca de cinqüenta pessoas se reuniram para orar; afinal, quando eram mais de cem as pessoas que partcipavam das reuniões, resolveu-se iniciar outras reuniões de oração. Semanas mais tarde era quase impossível encontrar uma rua em Nova Iorque onde não houvesse reuniões de oração. Os comerciantes reservavam tempo para orar no meio do dia. Reuniões de oração chegaram a ser realizadas diariamente por uma hora. Comunicavam os pedidos e os assuntos de oração e de maneira simples as pessoas as apresentavam ao Senhor, e as respostas vieram. Muitos eram os corações alegres que se levantavam para testificar que a oração feita na semana anterior já havia sido respondida. Foi então, quando todos se dedicavam ardentemente à oração, que o Espírito de Deus desceu sobre eles de maneira repentina. Menciona-se o caso de certo pregador numa pequena povoação, que dentro duma semana viu como o Senhor havia usado sua pregação para conversão de centenas de almas. O avivamento se estendeu aos estados do Norte e pode afirmar-se que chegou a ser generalizado. Calcula-se que em menos de três meses, mais de duzentas e cinqüenta mil pessoas foram convertidas ao Senhor. Os mesmos efeitos foram produzidos em Ballymena e Belfast através de meios semelhantes. Um crente fez o propósito de orar e orou. Mais tarde organizou uma reunião de oração periódica. Dia após dia se congregava um grupo de irmãos para suplicar um avivamento, e assim o fizeram até que o fogo
  • 32. celestial desceu e o avivamento se tornou uma realidade. Pecadores foram convertidos, não em pequeno número, mas às centenas e milhares, de modo que o nome do Senhor era intensamente glorificado pelo progresso do Seu evangelho. Amados, apenas me limito a apresentar-lhes fatos. Façam cada um de vocês suà própria estimativa dos mesmos. II. De acordo com a divisão apresentada de início, ago devo mencionar ALGUMAS DESVANTAGENS MUITAS VEZES ALEGADAS COM RESPEITO A TAIS HISTÓRIAS ANTIGAS. Ao ouvir das maravilhas que Deus tem operado, uma das coisas que as pessoas dizem é esta: “Ora, isso aconteceu há muito tempo atrás”. Elas imaginam que desde então os tempos mudaram. Alguém diz: “Posso acreditar em qualquer coisa sobre a Reforma; por maiores que sejam os relatos, posso admiti-los”. “O mesmo faria em relação a Whitefield e Wesley”, diz outro, “tudo aquilo é absolutamente verdadeiro, ambos trabalharam vigorosa e eficientemente, mas isso ocorreu há muitos anos atrás. Naqueles tempos as coisas eram diferentes de como são agora”. Está certo que os tempos mudaram, mas isso que tem a ver? Pensei que foi Deus quem fez tudo aquilo. Acaso Deus mudou? Não é Ele um Deus imutável, o mesmo ontem, hoje e para sempre? Isso não seria uma prova para demonstrar que o que Deus realizou numa ocasião, Ele pode fazer numa outra? Certamente que sim; e ainda iria mais além, porquanto me atreveria a afirmar que o que Ele já fez uma vez constitui uma previsão do que Ele Se propõe a fazer novamente. Os poderosos feitos que operou em tempos passados se repetirão outra vez, e o cântico do Senhor será entoado novamente em Sião, e o Seu nome será glorificado. Outros entre vocês afirmam: “Bem, mas considero estas coisas como prodígios, como milagres. E, portanto, não podemos esperar que ocorram
  • 33. todos os dias”. Esta é precisamente a razão pela qual não acontecem. Se houvéssemos aprendido a esperá-las, sem dúvida as obteríamos, porém nós as arquivamos e separamos de nossa religião moderada e as relegamos como meras curiosidades da história bíblica. Imaginamos que tais coisas, ainda que verdaderias, sejam prodígios da Providência e não podemos imaginar que elas ocorram na área da Sua obra costumeira. Rogo-lhes, meus amigos, que se desprendam de tal pensamento c o afastem de suas mentes. Tudo que Deus tem feito para converter os pecadores deve ser considerado como um precedente, pois “não se enco­ lheu a mão do Senhor para salvar, nem está agravado o seu ouvido para não ouvir”. Se nos sentimos limitados de alguma íorma, não é por causa dEle, é por causa de nós mesmos. Tomemos esta culpa sobre nós mesmos e com verdaderiro ;mseio supliquemos que Deus nos conceda a fé de nossos ante­ passados, a fim de que desfrutemos ricamente de Sua graça como nos tempos de outrora. Há ainda outra desvantagem referente àquelas histórias antigas. E é a de que não as temos visto. Por mais que lhes fale sobre avivamentos vocês não chegarão a crer tão firmemente neles como fariam se ocorresse um entre vocês. Se o vissem com os próprios olhos, então se convenceriam do poder do mesmo. Se tivessem vivido nos tempos de Whitefield ou ouvido a pregação de Grimshaw, vocês creriam totalmente. Por mais quente que fosse o tempo e apesar de ter de viajar a cavalo, (irimshaw costumava pregar, no mínimo, vinte e quatro vezes por semana. Era um verdadeiro pregador. Parecia como se o próprio céu descesse à terra para escutá-lo. Falava com ardor extraordinário, com todo o fogo que jamais pudesse aquecer um peito mortal, e o povo tremendo ante o que ouvia, exclamava: "('ertamente esta é a voz de Deus”. O mesmo pode ser dito a respeito de Whitefield. Enquanto ele pregava, as pessoas se
  • 34. retorciam de um lado para outro, da mesma maneira que o trigo no campo se move ao impulso do vento. De tal modo se manifestava a energia de Deus, que mesmo o mais endurecido dos corações tinha de confessar: “Nunca escutei algo semelhante; tem que haver algo nisso”. Porventura vocês não reconhecem que estes fatos são reais? Eles se levantam ante os seus olhos com todo o seu brilho? Então creio que as histórias que chegam hoje aos seus ouvidos devem produzir um verdadeiro e transformador efeito em suas próprias vidas. III. Em terceiro lugar, tratarei de CERTA INFERÊNCIAS DECORRENTES DAS ANTIGAS HISTÓRIAS DOS PODEROSOS FEITOS DE DEUS. Como desejaria poder falar com o mesmo ardor demonstrado por alguns desses homens cujos nomes mencionei! Orem por mim, para que o Espírito de Deus repouse sobre mim, para que eu possa pleitear com vocês por alguns minutos, com toda minha força, procurando exortá-los e animá-los, a fim de que também entre nós ocorra um avivamento. Meus queridos amigos, o primeiro efeito que a leitura da história dos poderosos feitos de Deus deveria produzir em nós é o de gratidão e louvor. Existiria algo atualmente que nos impulsione a cantar? Se não há, então louvemos ao Senhor pelas maravilhas operadas nos tempos passados. Se não podemos elevar ao nosso Amado um cântico pelo que Ele está fazendo em nosso meio, retiremos as harpas dos salgueiros e entoemos uma canção antiga e bendigamos o santo nome pelas maravilhas operadas na Igreja do passado. Exaltemos o Seu nome pelas maravilhas realizadas no Egito e em todas as terras por onde conduziu o Seu povo, e das quais o libertou com mão poderosa e braço estendido. Quando assim começarmos a louvar a Deus pelas maravilhas que Ele tem realizado, creio que posso me aventurar a imprimir nas suas mentes outra grande tarefa. Desejaria que o que Deus
  • 35. tem feito os movesse a orar para pedir-Lhe que realize de novo esses sinais e maravilhas entre nós. O irmãos, como se alegraria o meu coração em saber que existe entre alguns de vocês o desejo de regressar aos seus lares para orar por um avivamento. Oxalá houvesse homens com uma fé tão grande e um amor tão ardente que seriam movidos a cair sobre os joelhos para rogar com súplicas incessantes para que o Senhor Se manifestasse entre nós e realizasse aqui as mesmas maravilhas que operou nos tempos antigos! } Lembrem-se dé que muitas das pessoas aqui reunidas deveriam ser objeto de nossa compaixão. Olhando ao meu redor, posso ver algumas pessoas cujas vidas conheço mais ou menos, contudo quantos há que ainda não são convertidos! Há aqui muitos que têm tremido - e eles mesmos sabem que o lêm feito - pois se sentem atingidos por temores; estão arriscando seu destino e havendo resolvido ser suicidas de suas próprias almas, tem depreciado a graça que um dia parecia estar operando em seus corações. Deram as costas às portas do céu e agora estão correndo em direção às portas do inferno. Não estenderão vocês as mãos a Deus para que Ele os detenha em sua carreira louca? Se nesta congregação houvesse apenas um incrédulo e eu pudesse assinalá-lo publicamente e dizer: “Ali está sentado uma pessoa que nunca experimentou o amor de Deus nem jamais foi movida ao arrependimento,” estou seguro de que todos vocês lhe dirigiriam um olhar ansioso. Creio que dentre os milhares de cristãos aqui reunidos, nem um só deixaria de orar por essa alma não convertida. Todavia, meus irmãos, não é somente uma alma que está em perigo do fogo do inferno; aqui há centenas e milhares de nossos semelhantes nessa condição. Deveria lhes dar outra razão que justifique a necessidade da oração? Até agora parece ser que todos os meios empregados têm sido sem resultado algum. Deus me é testemunha de quantas vezes deste púlpito Lhe supliquei que me usasse como
  • 36. instrumento de salvação dos homens. Tenho lhes pregado sempre do fundo de meu coração. Nunca lhes pude dizer mais do que lhes tenho dito, e espero que a intimidade do meu quarto um dia testifique do fato de que não termina meu afeto e amor pelas almas ao concluir a pregação. Meu coração intercede por aqueles que nunca foram afetados pela Palavra de Deus e pelos que, depois de atingidos, tratam de apagar o Espírito de Deus. Meus queridos ouvintes, tenho feito tudo o que posso. Vocês não virão para ajudar o Senhor a lutar contra o poderoso inimigo? Talvez suas orações possam fazer o que a minha pregação não consegue. Ei-los aqui; eu os encomendo aos seus cuidados. São homens e mulheres cujos corações recusam-se a derreter, cujos joelhos obstinados não querem se dobrar; entrego-lhes a vocês e peço que orem por eles. Apresentem-nos, de joelhos, a Deus em oração. Esposa, nunca deixe de orar pelo seu esposo incrédulo. Esposo, jamais interrompa as súplicas até ver a sua esposa convertida. Pais e mães, vocês não têm filhos não convertidos? Não os têm trazido aqui domingo após domingo, e eles permanecem como sempre foram? Já os têm enviado de uma igreja a outra, e eles ainda continuam na mesma. A ira de Deus permanece sobre eles. Têm de morrer; e vocês sabem que, se morressem agora, as chamas do inferno os devorariam. Vocês ainda deixarão de orar por eles? Que corações duros e almas embrutecidas têm vocês se, professando conhecer a Cristo, não oram por aqueles que nasceram do seu próprio sangue. Não sabemos o que Deus faria por nós se de nossa parte suplicássemos a Sua bênção. Temos sido testemunhas de como o Exeter Hall, a Catedral de São Paulo e a Abadia de Westminster ficam lotados inteiramente, contudo não temos visto resultado algum desses enormes ajuntamentos. Será que nós temos tentado pregar sem antes tentar orar? Acaso não parece que a igreja tem estendido a mão da pregação, e não a da
  • 37. oração? Ó amados amigos, agonizemos em oração, e neste grande auditório se escutará os suspiros e gemidos dos peniten­ tes e os cânticos dos convertidos. Então esta grande multidão não entrará e sairá deste recinto de forma rotineira, porém aban­ donará o local louvando a Deus e dizendo: “Foi bem estar alí. Não é outro lugar senão a casa de Deus e a porta do céu!” Isso deve impulsionar-nos à oração. Outra dedução que deve­ ríamos tirar dessas histórias que ouvimos, é a de que deveriam corrigir qualquer sentimento de suficiência própria que possa ter-se introduzido em nossos corações traiçoeiros. Quem sabe se nós, como igreja, não temos confiado em demasia em nossos números ou em qualquer outra coisa. Podemos ter pensado: “Certamente o Senhor há de abençoar-nos através deste minis­ tério”. Pois bem, que as histórias que os nossos pais nos têm contado façam-nos recordar, tanto a vocês como a mim, que não é por muitos nem por poucos que o Senhor salva. Pelo contrá­ rio, é que não somos nós que fazemos a obra, e sim o Senhor que a faz totalmente. Quem sabe, um pregador desconhecido, cujo nome jamais se ouviu - até um estrangeiro naturalizado - comece a pregar nesta cidade de Londres com um poder maior do que o jamais experimentado pelos bispos e ministros locais. Eu lhe daria as boas-vindas e pediria que Deus o acompanhasse. Não importa o local de procedência; só desejo que o Senhor o envie e que se realize a obra. Contudo, pode ser que Deus pretenda usar este servo que lhes fala para seu bem e sua conver­ são. Nesse caso, meu gozo transbordaria até o limite. Mas não ponham confiança no instrumento. Saibam: quanto mais os homens riram e zombaram de nós, tanto mais Deus nos abençoou. Atualmente não é um descrédito assistir às reuniões do Music Hall. Não nos deprezam tanto agora como a princípio, porém duvido que desfrutamos agora tantas bênçãos como outrora. Estaríamos dispostos a sofrer, como escravos, e a passar outras humilhações, tendo todos os jornais contra nós,
  • 38. com todos os homens vaiando-nos e insultando-nos, se assim Deus o quiser, se, com isso, Ele apenas nos enviasse uma bênção. Mas abandonemos a idéia de que o nosso arco e a nossa espada possam conduzir-nos à vitória. Nunca poderemos expe­ rimentar um avivamento, a não ser que creiamos que o Senhor, e somente o Senhor, é quem pode realizá-lo. Tendo feito essa declaração, tratarei agora de estimular­ -lhes a confiança de que, ainda hoje, podemos ter um avivamento e de que as grandes obras que Deus efetuou nos tempos antigos podem repetir-se. Por que razão não pode ser convertido cada um dos meus ouvintes? Encontra-se o Espírito de Deus limitado? Por que não deveria o mais simples ministro chegar a ser o meio de salvação de milhares de almas? Encolheu-se o braço de Deus? Meus queridos irmãos, quando os concito a orar para que Deus torne o ministério deste seu servo como espada de dois gumes para a salvação dos pecadores, não requeiro de vocês uma tarefa árdua, muito menos um algo impossível. Somente temos que pedir para receber. Antes que clamemos, Deus responderá; e enquanto estamos falando, Ele ouvirá. Só Deus sabe os frutos que resultariam deste sermão se fosse do Seu agrado abençoá-lo. Doravante talvez orarão mais; talvez daqui em diante o Senhor abençoe mais este ministério. Quem sabe se a partir desta hora outros púlpitos irradiarão mais vida e vigor. Deste momento em diante a Palavra de Deus talvez irrompa com tanta força que alcance uma vitória assombrosa e sem precedentes. Apenas lutem em oração, reúnam-se em suas casas e individualmente em seus quartos, instem a tempo e fora de tempo; agonizem pelas almas. E assim notarão que o que ouvi­ ram será logo esquecido pelo que verão; o que os outros contaram será como nada em comparação com o que ouvirão com os ouvidos e verão com os próprios olhos.
  • 39. Ó vocês, para quem tudo isso parece uma fábula oca, que não amam a Deus, nem O servem, rogo-lhes que parem e pensem por alguns momentos. Ó, Espírito de Deus, desça sobre Seu servo e torne poderosas as suas palavras. Deus tem contendido com alguns de vocês, de modo que têm experimen­ tado períodos de convicção. No entanto, agora estão tentando adotar uma atitude ímpia e dizendo consigo mesmos: “Não existe inferno, não há nada depois da morte”. Isso não é verdade. Vocês sabem que há um inferno e que nem mesmo as gargalhadas dos que desejam destruir suas almas podem fazer com que acreditem o contrário. Não pre­ tendo discutir com vocês agora, pois suas consciências testemunham que Deus os castigará por seus pecados. Podem ter certeza que jamais terão felicidade enquanto tentarem neutralizar o Espírito de Deus. Estão longe da senda da felicidade por resistirem os pensamentos que os levariam a Cristo. Rogo-lhes que retirem suas mãos do braço de Deus; não resistam mais ao Seu Espírito. Dobrem os joelhos, apeguem-se a Cristo e creiam nEle. Isso há de acontecer. O Espírito Santo será vitorioso sobre vocês. Espero que, em resposta às muitas orações, Deus ainda queira salvá-los. Rendam-se agora, tendo em mente que se conseguirem apagar o Espírito, esse triunfo será o desastre mais terrível que lhes pode ocorrer. Se o Espírito os abandonar, vocês estarão perdidos para sempre. Talvez seja este o último aviso que lhes será dado. A convicção que vocês agora estão tentando abafar, talvez seja a última. Quem sabe, o anjo já pode estar a ponto de pôr o selo e o lacre sobre seu destino, dizendo: “Abandone-os. Eles preferem os vícios e a concupiscência; que se cumpra, pois, seus desejos - que no fogo do inferno recebam o salário do pecado”. Ouso dizer com Pedro: pecadores, creiam no Senhor Jesus; arrependam-se e sejam convertidos. Eu os exorto, em nome de Deus, a que se arrependam e escapem da condenação. Mais algum tempo e
  • 40. saberão o que significa a perdição, caso não se arrependam. Apressem-se a vir a Cristo enquanto o azeite arde na lâmpada e ainda se pregâ a misericórdia. A graça ainda está sendo proclamada; aceitem a Cristo, não O rejeitem por mais tempo, venham a Ele agora. As portas da misericórdia estão abertas de par em par; venham agora, pecadores, para que seus pecados lhes sejam perdoados. Quando os soldados da antiga Roma atacavam uma cidade, muitas vezes costumavam pôr uma bandeira branca no alto da porta central da muralha, e se a guarnição se rendia enquanto estava hasteada a bandeira branca, era-lhe poupada a vida. Depois içavam uma bandeira negra e todos os que não tinham aproveitado da oportunidade oferecida, pereciam sob a espada inimiga. A bandeira branca está levantada hoje; talvez amanhã a bandeira negra seja hasteada sobre o mastro da lei, e então não haverá esperança de arrependimento ou salvação, nem nesta vida nem na vida vindoura. Um conquistador oriental, ao chegar às portas da cidade que tencionava conquistar, acendia um braseiro de carvão e colocando-o sobre um mastro bem alto, fazia soar a trombeta com a condição de que todos aqueles que se rendessem enquanto permanecesse o fogo, desfrutariam de sua clemência, mas ao consumir-se o último tição, com seu exército acometeria com ímpeto e não deixaria pedra sobre pedra. Tanto homens, como mulheres e crianças, teriam morte cruel. De modo semelhante, os trovões de Deus hoje os concitam a escutar o aviso divino. Ainda permanecem a luz, a lâmpada e o braseiro aceso. Com o correr dos anos o fogo vai se consumindo; no entanto ainda resta um pouco de carvão. Neste instante, porém, o vento da morte está tentando extinguir a última brasa viva. Ó pecador, arrependa-se enquanto dura a chama do braseiro! Faça-o agora, pois ao extinguir-se o último tição, de nada lhe aproveitará o arrependimento. Uma vez no tormento, seu gemido eterno não
  • 41. poderá comover o coração de Deus; seus gemidos e suas lágrimas amargas não farão com que Ele tenha compaixão de você. “Se ouvirdes hoje a Sua voz, não endureçais o coração como na provocação”. Ó, apegue-se a Cristo hoje! “Beijai o Filho para que não se ire e pereçais no caminho, quando se acender em breve o seu furor. Bem-aventurados todos os que nele confiam”.
  • 42. O SANGUE DO CONCERTO ETERNO* “O sangue do concerto eterno”- Heb. 13:20. Todas as relações que Deus tem mantido com o homem têm o caráter de concerto. Agradou-Lhe dispor as coisas de tal maneira, que todas as Suas relações com Suas criaturas deviam verificar-se através de um pacto; e não sendo desse modo tam­ pouco podemos relacionar-nos com Ele. No Éden, Adão estava sob um pacto com Deus, e Deus em aliança com ele. Mas Adão logo rompeu aquele pacto. Todavia existe um concerto com todo o seu terrível poder, e digo terrível porque tem sido des­ respeitado por parte do homem, e portanto Deus cumprirá as solenes ameaças e sanções contidas nele. É o pacto das obras. Por meio dele, Deus Se relacionou com Moisés, e através dele Deus Se relaciona com toda a raça humana tal como estava representada no primeiro Adão. Depois, nos tratos que Deus teve com Noé, também foram em forma de aliança. Mais tarde com Abraão, Lhe aprouve relacionar-Se mediante um pacto. Abraão o manteve e o guardou, sendo o pacto renovado a muitos da sua descendência depois dele. Inclusive com Davi, homem segundo o Seu coração, Deus Se relacionou através de um pacto. * Domingo de manhã, 2 de outubro de 1859.
  • 43. Mesmo nesta época Se relaciona conosco mediante um concerto. Quando em Seu furor vier a condenar, ferirá com um pacto, isto é, com a espada do pacto do Sinai; quando, entretanto, vem no esplendor da Sua graça para salvar, Ele o faz mediante um pacto, isto é, o pacto de Sião, que é o que foi feito com o Senhor Jesus Cristo, representante e cabeça do Seu povo. E notem bem, que sempre que desejemos estabelecer estreitas e íntimas relações com Deus, elas devem verificar-se, mesmo de nossa parte, na forma de um concerto. Após a conversão, fazemos com Deus uma aliança de gratidão; movidos pelo que Ele realizou por nós, nos aproximamos e nos entregamos completamente a Ele. Pomos nosso selo a este pacto quando através do batismo nos unimos à Sua Igreja, e todas as vezes que participamos da Ceia do Senhor renovamos o voto do nosso concerto e temos comunhão pessoal com Deus. Não posso orar a Deus a não ser através do pacto da graça; e não me torno Seu filho a menos que não tenha sido comprado mediante o pacto de Cristo - através do qual tenho-me entregue a Ele, e dedicado tudo que sou e possuo. Posto que o pacto é a única escada que se estende da terra ao céu, e o único caminho pelo qual Deus mantém comu­ nhão conosco, e mediante o qual podemos relacionar-nos com Hle, é extremamente importante que saibamos distinguir entre aliança e aliança. Seria lamentável manter algum erro ou dúvida referente ao que significa e não significa o pacto da graça. Portanto, nesta ocasião desejo falar-lhes, da maneira mais simples possível, do valor e do significado do concerto mencionado em nosso texto bíblico. Tratarei de fazê-lo com franqueza e clareza. Inicialmente lhes falarei do concerto da graça', a seguir, do seu caráter eterno; por último, da relação (/ue o sangue tem com respeito ao mesmo - “O sangue do con­ certo eterno”.
  • 44. I. Considerando, primeiramente, O CONCERTO mencionado em nosso texto, destacaremos o seu caráter específico, o que não será coisa fácil. Aqui não se fala do pacto das obras, pois se o fosse, não seria chamado eterno. O pacto das obras de modo algum possuiu um caráter eterno. Não era eterno, uma vez que foi feito no jardim do Éden. Teve princípio; não foi observado e constantemente foi violado. Aquele pacto logo terminou e deixou de ser; portanto, não foi eterno em nenhum sentido. O pacto das obras não pode levar um título eterno; mas o concerto do nosso texto, por tratar-se de uma aliança eterna, não pode de modo algum identificar-se com o pacto das obras. O pacto que Deus fez primeiramente com a raça humana incluía as seguintes promessas e condições: se o homem fosse obediente, viveria e seria feliz; porém se desobedecesse, pereceria. “No dia em que deixar de obedecer­ -me, certamente morrerá”. Esse pacto foi feito com todos nós na pessoa do nosso representante, o primeiro Adão. Se Adão houvesse observado o pacto, nós agora estaríamos isentos do pecado. Mas Adão não o guardou, e com sua queda todos nós também caímos. Como conseqüência de haver caído em Adão, cada um dos seus descendentes se tomou filho da ira, herdeiro do pecado e está inclinado a toda maldade e sujeito a toda miséria. Esse pacto foi abolido com respeito aos filhos de Deus; a vinda de uma nova e melhor aliança o eclipsou e o aboliu com sua glória resplandecente. Devo acrescentar que o concerto mencionado em nosso texto não é o pacto de gratidão que se faz entre um filho de Deus e o seu Salvador. Tal pacto existe e deve ocupar um lugar próprio na vida de cada cristão. Espero que todos nós que conhecemos o Salvador tenhamos exclamado em nossos corações: “Estáfeita! A grande transação estáfeita; Pertenço ao meu Senhor e Ele me pertence a mim”
  • 45. Já entregamos tudo a Ele. Não há que confundir este pacto com o concerto que encontramos em nosso texto, pois o do nosso versículo é eterno, enquanto que o nosso pacto pessoal foi escrito há poucos anos. E mesmo esse teria sido depreciado por nós nos primeiros anos da nossa vida, devido a nossa incredulidade. Tendo assim demonstrado negativamente o que este concerto não é, estudemo-lo agora positivamente e vejamos em que consiste. E aqui me será preciso fazer algumas sub- -divisões. Primeiro, para entender o que seja um concerto, temos de saber quais são as partes contratantes; a seguir, quais as estipulações ou condições do contrato; e por último, qual o seu conteúdo. E se desejamos aprofundar ainda mais sobre o tema, teremos de compreender algo sobre os motivos que moveram as partes contratantes para estabelecer um pacto entre si. 1. Observemos, pois, inicialmente, as ilustres partes contratantes entre as quais se fez este concerto da graça. Foi firmado antes da fundação do mundo entre Deus o Pai e Deus o Filho; ou, expressando-o numa linguagem ainda mais bíblica, foi feito entre as três pessoas divinas da adorável Trindade. Este pacto não foi diretamente entre Deus e o homem; o homem nesse tempo não existia; Cristo aparece neste concerto como representante do homem. E é neste sentido que pode declarar-se ter sido uma aliança entre Deus e o homem, mas nunca como um pacto entre Deus e qualquer homem pessoal ou individual. Foi uma aliança entre Deus e Cristo; e através de Cristo, de maneira indireta, com toda a linhagem humana que foi comprada pelo Seu sangue. Cristo amou a esta linhagem desde antes da fundação do mundo. É um pensamento nobre e glorioso - o mesmo lirismo da doutrina calvinista, a qual nós ensinamos - que antes que a estrela matutina conhecesse seu lugar, antes que do nada Deus criasse o universo, antes que a asa do anjo agitasse os virgens espaços etéreos, e antes que um solitário cântico
  • 46. perturbasse o silêncio no qual Deus reinava supremamente, Ele já havia entrado em conselho conSigo mesmo, com Seu Filho e com Seu Espírito, e havia determinado, proposto e predestinado a salvação de Seu povo. Além disso, havia disposto neste concerto a maneira e os meios e todas as coisas que deviam operar conjuntamente para levar a efeito o propósito e o decreto. Minha alma se transporta até ao passado, com as asas da imaginação e da fé, e contempla no profundo dos mistérios daquele conselho eterno, e através dos olhos da fé contempla o Pai comprometendo-Se com o Filho e o Filho comprometendo- Se com o Pai, enquanto o Espírito Se compromete com ambos, e desta maneira, aquele convênio divino, que por muito tempo estaria escondido na obscuridade, foi completado e ultimado. Esta era a aliança que nos últimos tempos tem sido lida à luz do céu e que veio a ser o gozo e a esperança e a glória de todos os santos. 2. Quais foram as estipulações deste concerto? Pode riam apresentar-se da seguinte maneira. Deus já havia previsto que o homem, depois da criação, romperia o pacto das obras, que apesar das delícias do paraíso, o homem julgaria estas condições demasiadamente severas e chegaria a rebelar-se, contribuindo para a sua própria ruína. Deus também havia previsto que Seus eleitos, a quem havia escolhido do resto da humanidade, cairiam pelo pecado de Adão, já que eles, tanto quanto os outros mortais, estavam representados no primeiro homem. Por conseguinte o concerto devia ter como meta a restauração do povo escolhido. Agora facilmente poderemos entender as condições do concerto. Por parte do Pai assim se expressaria a aliança (e devo confessar que não posso expressá-la na gloriosa linguagem celestial; infelizmente me vejo obrigado a fazê-lo na que é própria do mortal): “Eu, Jeová, o Altíssimo, dou ao Meu unigênito e amado Filho, um povo que será mais numeroso que
  • 47. as estrelas. Este povo será por Ele lavado do pecado, pre­ servado, guardado e guiado, e por último será apresentado por Ele diante do Meu trono, sem mancha nem ruga, ou coisa seme­ lhante. Eu solenemente Me comprometo, e juro por Mim mesmo, pois não posso jurar por ninguém superior, que estes, que agora dou a Cristo, serão para sempre objetos do Meu amor eterno. A eles perdoarei pelos méritos do Seu sangue; lhes darei uma justiça perfeita; os adotarei, tornando-os Meus filhos e Minhas filhas, e através de Cristo reinarão eternamente coMigo”. O Espírito Santo, outro dos ilustres contratantes do concerto, faria semelhante declaração: “Pela presente Me com­ prometo a vivificar, no seu devido tempo, a todos aqueles que o Pai tem dado ao Filho. Mostrar-lhes-ei a necessidade que têm de redenção; removerei deles toda a esperança vã e destruirei seus refúgios de mentiras. Eu os levarei ao sangue derramado e lhes concederei fé para que este sangue lhes seja aplicado. Operarei neles todas as graças; manterei a sua fé viva; os purificarei e apartarei deles toda a depravação, para que possam ser apresentados sem mancha e sem mácula”. Esta é uma das partes do pacto que até hoje tem sido cumprida e rigorosamente observada. Em referência à outra parte do concerto, assumida e prometida por Cristo, poderia ser expressa assim: “Meu Pai, de Minha parte comprometo-Me que na plenitude dos tempos assumirei a natureza humana. Tomarei sobre Mim a forma e a natureza da raça decaída. Viverei no seu miserável mundo e cumprirei perfeitamente a lei para Meu povo. Conseguirei uma justiça irrepreensível que será aceita pelas demandas da Tua justa e santa Lei. A seu devido tempo tomarei sobre Mim os pecados do Meu povo. Tu reivindicarás de Mim suas culpas; sofrerei o castigo de sua paz, e pelas Minhas chagas serão cura­ dos. Meu Pai, faço pacto e promessa de obediência até à morte,
  • 48. e morte de cruz. Engrandecerei Tua Lei e a farei digna de toda a honra. Sofrerei por tudo que deveriam sofrer. Padecerei a maldição da Lei e toda a Tua ira se descarregará sobre Mim. Depois ressuscitarei; subirei aos céus e, sentado à Tua destra, farei intercessão por eles, a fim de que nenhum dos que Me deste jamais seja perdido. No último dia trarei todo o rebanho do que Tu, pelo Meu sangue, Me constituiste o Pastor”. Desta maneira, mais ou menos, se espressariam os con­ tratantes divinos do concerto. Creio que agora já podemos ter uma idéia bastante clara de como se formou a aliança, e de que maneira ainda perdura. Apresentei, tão resumidamente quanto possível, as suas condições. Desejaria que observassem de modo especial que uma parte do pacto se cumpriu com toda a exatidão: Deus o Filho já pagou pelas dívidas de todos os Seus eleitos. Por nós e por nossa redenção sofreu toda a ira divina. No que se refere a Cristo nada resta a cumprir-se, a não ser que Ele continue intercedendo pelos remidos até conduzi-los jubilosamente à glória. No que concerne ao Pai, Sua parte no pacto se tem cumprido para com incontáveis multidões. Deus o Pai e Deus o Espírito Santo não têm retrocedido no cumprimento dos Seus respectivos contratos divinos. Serão levados a bom termo tão completa e perfeitamente como o de Cristo. Quanto ao que havia prometido realizar, Cristo pode agora afirmar: “Está consumado”; porém o mesmo poderão dizer as outras gloriosas partes contratantes do pacto. Todos aqueles pelos quais Cristo morreu receberão a justificação, o perdão e a adoção. O Espírito Santo os vivificará a todos, lhes outorgará fé e os levará à glória; de modo que cada um deles, sem estorvo nem impedimento, será aceito no Amado naquele dia quando serão contados os redimidos, e Jesus Cristo será glorificado. 3. E agora, havendo visto quais eram as ilustres parte contratantes do concerto e os seus termos e condições,
  • 49. consideraremos quais foram os seus objetivos. Fez-se esta aliança para cada homem da raça adâmica? Certamente que não; com os nossos próprios olhos podemos ver que não foi feita para todo homem. Contemplo as grandes multidões que perecem e que expressamente continuam em seus caminhos de perdição; vejo-as, dia a dia, rejeitando a oferta que por meio do evangelho se lhes faz de Cristo e as vejo pisando sob os pés o sangue do Filho do homem. Observo-as desafiando o Espírito Santo que trata de operar em seus corações; vejo estas multidões que vão de mal a pior, até que finalmente perecem em seus pecados. Portanto, não tenho a loucura de crer que tais pessoas tenham alguma parte na aliança da graça. Os que morrem impenitentes, os que desprezam ao Salvador, claramente provam que não têm porção nem parte no sagrado pacto da graça divina, pois não sendo assim haveria nelas certas notas e evidências que nos demonstrariam o contrário. Se estivessem incluídas no pacto, veríamos que em determinado tempo de suas vidas tais pessoas passariam por uma experiência de arrependimento e chegariam a ser salvas. O concerto - vamos diretamente ao assunto, não importa quão ofensiva seja a doutrina - o concerto só se rela­ ciona com os eleitos e com ninguém mais. Você se ofende com isso? Pois ofenda-se ainda mais. Que disse Cristo? “Rogo por eles; não rogo pelo mundo, senão pelos que me deste, porque são teus”. Se Cristo orou pelos Seus escolhidos e por ninguém mais, por que alguns se enchem de ira quando a Palavra de Deus os ensina que a provisão do concerto é somente para os eleitos, e para que eles recebam a vida eterna? Todos quantos crerão, todos quantos confiarão em Cristo, todos quantos perseverarão até ao fim, todos quantos encontrarão o descanso eterno, e só esses e ninguém mais, são os que estão incluídos no pacto da graça divina. 4. Além disso temos de falar a respeito dos motivos do concerto. E a primeira pergunta que vem aos nossos lábios é:
  • 50. por que foi feito o concerto? Deus não estava sob compulsão ou obrigação de nenhum tipo. Quando se estabeleceu o concerto não existia ainda a criatura para poder de alguma forma influenciar o Criador. O motivo pelo qual se fez o concerto, não o podemos encontrar em nenhuma outra parte a não ser em Deus mesmo, pois naquele instante se podia dizer literalmente a respeito de Deus: “Eu sou e não há ninguém além de mim”. Por que, pois, estabeleceu o concerto? A esta pergunta, respondo: Ele o fez motivado por Sua absoluta soberania. Mas por que certos homens foram os objetos do mesmo e outros não? Respondo: a graça soberana guiou a pena que escreveu seus nomes. Não foi por méritos humanos, nem porque Deus havia previsto algo em nós que O motivou a escolher uns e deixar outros a continuarem em seus pecados. Nada havia neles; foi, sim, a graça e a soberania que juntas produziram a eleição divina. Se vocês, irmãos e irmãs, têm a sã esperança de pertencer ao pacto da graça, com razão podem entoar aquele cântico: “Que havia em mim que merecesse estima ou desse ao meu Criador agrado? Aconteceu assim, ó Pai, preciso cantar porque assim agradou aos Teus olhos”. “Ele terá misericórdia de quem tiver misericórdia”, pois “não é do que quer, nem do que corre, senão de Deus que tem misericórdia”. Sua soberania elegeu; Sua graça distinguiu; e Sua imutabilidade decretou. Fora do motivo do Seu amor e da Sua soberania divina, não houve outra razão que determinasse a eleição dos indivíduos. Sem a menor dúvida, a grandiosa intenção de Deus, ao fazer o concerto eterno, não foi outra senão a da Sua própria glória. Qualquer outro motivo inferior a esse não corresponderia à Sua dignidade. Deus tem que encontrar
  • 51. Seus motivos em Si mesmo; para Seus propósitos, Ele não tem que consultar a traças ou a vermes. ELE é o grande “EU SOU” . “Não Se senta em trono instável, nem tem de pedir permissão para ser. ” Ele faz o que quer com os exércitos celestes. Quem pode resistir Sua mão e perguntar: “Que fazes?” Perguntará o barro ao oleiro o motivo pelo qual ele o transformou em vaso? Poderá a coisa antes de ser criada ditar ao Criador? Não, deixem que Deus seja Deus e que o homem se retraia para seu nada natural, e se Deus Se compraz em exaltá-lo, que não se orgulhe pensando que Ele encontrou nele algum motivo. Ele encontra os Seus motivos em Si mesmo. Deus é auto-suficiente; Ele não depende de nada fora de Si mesmo. Que o Espírito Santo nos guie nesta sublime verdade que expus no meu primeiro ponto sobre o concerto eterno. II. Mas agora, prosseguindo, devemos notar O CARÁTER ETERNO DO CONCERTO. Em nosso versículo ele é chamado eterno. E com esta designação podemos dar-nos conta imediata da sua antigüidade. De todas as coisas, o pacto da graça é a mais antiga. As vezes é motivo de grande gozo para mim pensar que o pacto da graça é mais antigo que o pacto das obras. Este último teve um princípio, enquanto o da graça não teve princípio; e bendito seja o Senhor que o pacto das obras teve o seu fim, enquanto o da graça permanecerá firme mesmo depois que céus e terra tenham passado. A antigüidade do pacto da graça requer uma reconhecida atenção de nossa parte. A verdade do mesmo eleva a mente. Não posso pensar em nenhuma outra doutrina mais sublime que esta. Ela se constitui a verdadeira alma e essência de toda a poesia, e ao recolher-me para meditar sobre ela, devo confessar que às vezes meu espírito
  • 52. tem sido arrebatado em puro deleite. Pode conceber que antes de todas as coisas Deus já havia pensado em você? De que antes que houvesse as montanhas, Ele já havia pensado em você, pobre e insignificante verme? Antes que as esplêndidas constelações começassem a brilhar, antes de que o centro do universo se houvesse fixado, e planetas colossais e mundos diversos iniciassem a girar, Deus já havia determinado o centro do Seu pacto e ordenado o número daquelas estrelas, subordinadas ao pacto, a que girassem em torno daquele bendito centro e dele recebesse a luz. Certamente, quando alguém pensa neste universo sem limites e voa (com os astrônomos) por estas regiões sem fim, habitadas por incontável número de estrelas, acaso não pareceria realmente maravilhoso que Deus tenha dado preferência ao pobre e insignificante mortal antes que a todo o universo? Isto não nos pode tornar orgulhosos, pois se trata de uma verdade divina, mas deve encher-nos de gozo. Ó crente, você se considera como o próprio nada, porém Deus tem outro conceito a seu respeito. Os homens o depreciam, todavia antes de criar qualquer coisa Deus Se lembrou de você. O pacto de amor que realizou em seu benefício com Seu Filho é mais antigo que a época mais remota; e se você retrocedesse até antes que se iniciasse o tempo e anterior às rochas que agora levam o selo da antigüidade começassem a sedimentar-se, Ele já o amava, Ele já o havia escolhido e feito um pacto visando ao seu bem. Lembre­ -se bem destas coisas antigas dos cumes eternos. Ainda mais: é um concerto eterno em face da sua firmeza. Nada pode ser eterno se não permanece. O homem pode erigir suas estruturas e julgar que permanecerão para sempre, entretanto a torre de Babel foi destruída e as próprias pirâmides egípcias revelam sinais de ruína. Nada que o homem faz é eterno, nem possui garantia contra a destruição. Mas com respeito ao pacto da graça, com razão Davi afirmou: “É firme e em todas as coisas tem sido ordenado.” Foi
  • 53. “Firmado, selado e ratificado, e em tudo bem ordenado ”. Desde o princípio até o final não há nem um “se” nem um “mas”. Os que creem no livre-arbítrio do homem, detestam o futuro enfático ou “farei” do Senhor, e preferem em seu lugar os “se” e os “mas” no pacto da graça; porém não há um “se” nem um “mas” nele. “Eu farei”, diz o Senhor, e em conse­ qüência os eleitos farão. Jeová o promete e o Filho o cumpre. As promessas do pacto são firmes e verdadeiras. O EU SOU lhes dá um caráter determinante e inquebrantável. “Havendo-o dito, não o fará? Ou havendo-o prometido, não o cumprirá?” É um pacto firme. Certas vezes tenho dito que se um homem, estando para construir uma ponte ou uma casa, me deixasse colocar uma pedra ou um ladrilho lá onde quisesse, garanto­ -lhes que sua casa viria a cair. Se o construtor de uma ponte me permitisse colocar apenas uma pedra, eu escolheria a pedra principal, e sobre ela ele poderia edificar quanto quisesse, mas lhes asseguro que logo desabaria. Ora, o pacto defendido pelos arminianos não pode manter-se de pé, porque alguns dos seus ladrilhos os faz depender da vontade humana (e deste modo o ponho da maneira mais suave, já que bem poderia ter dito: “porque todos os seus ladrilhos os subordina à vontade huma­ na”- e isso estaria mais próximo do alvo!). De acordo com os arminianos, a salvação depende, em última instância, da vontade da criatura. Se esta não quer, não há influência nem poder que consiga modificar essa vontade. Conforme os ensinos arminianos não há promessa alguma que possa modificar a vontade humana. De maneira que a questão depende do homem; e Deus - o poderoso Construtor - mesmo que ponha pedra sobre pedra e o faça sólido como o universo, em última instância pode ser derrotado pela criatura. Fora com tal blasfêmia! Toda a
  • 54. estrutura, desde o início até o fim, está nas mãos de Deus. Os termos e condições do pacto se tornaram os selos e garantia do mesmo, visto que o Senhor Jesus os cumpriu. E tudo será cumprido em todos os seus detalhes, quer o homem queira, quer não. Não é um pacto da criatura, e sim um pacto do Criador. Não é o pacto do homem, é um pacto do Todo-poderoso, e Ele o realizará e o levará a termo, apesar da vontade humana. Nisto consiste a glória da graça, em que o homem rejeita a salvação e é inimigo de Deus, e apesar de tudo Deus o redime. No pacto Deus diz: “Será salvo”, enquanto o homem resiste: “Não serei salvo”; mas o “será” de Deus conquista o “não serei”do homem. A graça todo-poderosa cavalga vitoriosamente sobre o livre- arbítrio, e o leva cativo, em glorioso cativeiro, o poder do amor e da graça irresistível que tudo conquista. E um pacto firme e portanto merece o título de eterno. Igualmente, não apenas é firme, também é imutável. Se não fosse imutável não poderia ser eterno. Tudo que muda é perecível. Podemos estar seguros de que qualquer coisa que possa incluir a palavra “mudança”, tarde ou cedo morrerá e será considerado como algo inútil. Contudo, no pacto todas as coisas são imutáveis. Tudo que Deus determinou há de acontecer, e nenhuma palavra, nenhuma linha ou nenhuma frase podem ser alteradas. O que o Espírito prometeu se realizará, e o que Deus, o Filho, Se comprometeu a fazer já se cumpriu e se consumará no dia da Sua volta. Se pudéssemos crer que as sagradas linhas pudessem chegar a apagar-se, que o pacto pudesse ser anulado, borrado ou manchado - aí então seria desesperadora a nossa situação. Tenho ouvido alguns pregadores dizerem que quando o cristão vive santamente, ele permanece no concerto, mas quando peca é desligado dele. Ao arrepender-se, novamente se põe no pacto, porém se volta a cair, outra vez seu nome é riscado; e assim entra e sai da porta do concerto da mesma maneira que entra e sai de casa. Entra por uma porta e sai por
  • 55. outra. Nalgumas ocasiões é filho de Deus; noutras é filho do diabo; às vezes é herdeiro do céu, e noutras é herdeiro do inferno. Conheço um homem que chegou ao extremo de afirmar que embora uma pessoa tenha perseverado sessenta anos na graça, se no último ano da sua vida cair em pecado e morrer, tal pessoa seria condenada eternamente e toda a fé e todo o amor demonstrados nos anos anteriores seriam em vão. Apresso-me em dizer que essa noção que tais pessoas têm de Deus é nada menos que a noção que possuo a respeito do diabo. Não poderia crer em tal Deus nem prostrar-me diante dEle. Um Deus que ama hoje e amanhã odeia; um Deus que faz uma promessa e de antemão sabe que esta promessa não se cumprirá no homem; um Deus que perdoa e castiga, que justifica e mais tarde condena, é um Deus que não posso suportar. Não é o Deus das Escrituras, disso estou certo, porque Ele é imutável, justo, santo e verdadeiro. E um Deus que “havendo amado aos seus, os amará até o fim”. Um Deus que cumprirá e guardará as promessas que tem dado aos Seus filhos, de modo que qualquer alma que foi objeto de Sua graça, continuará para sempre nessa graça, até que um dia, sem falta, entrará na glória. E para concluir este ponto, devo acrescentar que o con­ certo é eterno porque nunca terminará. Cumprir-se-á, mas permanecerá firme. Quando Cristo tiver completado tudo e conduzido cada crente ao céu; quando o Pai tiver reunido a todo o Seu povo, então verdadeiramente o pacto terá chegado a uma consumação, porém não a uma conclusão, porque nele está determinado que os herdeiros da graça para sempre serão bem­ -aventurados, e enquanto durar este “para sempre”, o pacto demandará a felicidade, a segurança e a glorificação de toda alma que foi o objeto do mesmo. III. Havendo, pois, estudado o caráter eterno do concerto, concluirei fazendo referência ao seu aspecto mais doce
  • 56. e precioso, a relação que existe entre o sangue e o pacto: O SANGUE DO CONCERTO ETERNO. O sangue de Cristo mantém quatro relações distintas com o pacto. Com respeito a Cristo, Seu sangue precioso derramado no Getsêmane e no Gólgota significa o cumprimento do pacto. Por Seu sangue o pecado foi apagado; com Sua agonia, a justiça foi satisfeita; com Sua morte a lei foi honrada. Foi precisamente com Seu sangue precioso, com toda a sua eficácia mediadora e com todo o seu poder purificador, que Cristo cumpriu tudo quanto havia Se comprometido efetuar a favor do Seu povo. Ó crente, contemple o sangue de Cristo e recorde que essa foi a parte da aliança que Ele realizou! Nada falta para ser cumprido; Jesus o realizou totalmente; nada existe que o livre-arbítrio possa contribuir; Cristo já cumpriu todas as demandas de Deus. As contas da parte devedora do pacto foram saldadas graças ao sangue de Cristo, e agora Deus está comprometido, por Sua própria e solene promessa, a mostrar graça e misericórida a todos aqueles que Cristo redimiu com o Seu sangue. Noutro aspecto, o sangue significa, para Deus o Pai, o compromisso do concerto. Quando vejo Cristo morrendo na cruz, vejo Deus - cujo essência é verdadeira liberdade - com­ prometido desde então, por Sua própria promessa, a levar a termo tudo o que fora estipulado. Porventura não nos promete o pacto um novo coração e um espírito reto dentro de nós? Pois deve cumprir-se, porquanto Jesus morreu, e Sua morte veio a ser como o selo do pacto. Acaso não diz também: “Derramarei água pura sobre eles e serão limpos; de todas as suas iniqüidades os purificarei”? Então igualmente isto deve cumprir-se, pois Cristo levou à perfeita consumação Sua parte no concerto. Portanto agora não podemos falar do pacto como algo duvidoso, visto que, graças a Cristo, tornou-se nosso próprio direito diante de Deus. E ao achegar-nos humildemente sobre os nossos joelhos reivindicando o pacto, nosso Pai celestial não nos negará as
  • 57. promessas contidas nele, porém de cada uma delas fará um “sim” e um “amém” através do sangue de Jesus Cristo. A terceira relação que o sangue de Cristo mantém com o pacto nos aponta como seu objeto. Não é só referente a Cristo o cumprimento do concerto e com respeito ao Pai um com­ promisso solene, o mesmo constitui, também, uma evidência com relação a nós. E sobre este particular, amados no Senhor, permitam-me extravasar o meu afeto para com todos, pois o tema me faz arder o coração por cada um. Vocês confiam completamente no sangue de Cristo? O sangue - o precioso sangue de Cristo - purificou suas consciências? Vocês experi­ mentaram o perdão dos seus pecados mediante o sangue de Jesus? Gloriam-se em Seu sacrifício e é Sua cruz seu único refúgio e sua única esperança? Se é assim, então estão no pacto. Algumas pessoas querem saber se foram eleitas. Mas não podemos dar-lhes segurança, a menos que nos respondam a estas perguntas: “Crêem? Está sua fé fundamentada no sangue precioso?” Se assim é, estão no pacto. E se você, pobre pecador, não tem nada em que confiar e se mantém distante, dizendo: “Não me atrevo a vir; tenho medo; não estou no pacto”, ainda Cristo o convida a chegar-se: “Venha a M/m”, Ele apela. Se não pode vir ao Pai do pacto, aproxime-se do seu Fiador. “Venha a Mim e achará descanso.” Uma vez vindo a Ele e recebido o Seu sangue, então jamais duvide que o seu nome esteja no livro carmezim da eleição. Pode agora ler seu nome nos caracteres do sangue de Cristo? Então um dia o lerá nas letras douradas da eleição do Pai. Aquele que crê é um eleito. O sangue é o símbolo, o sinal, a garantia, a segurança e o selo do concerto da graça para você. Ele pode ser considerado um telescópio através do qual cada um consegue ver as distâncias espirituais. Com seu olho natural ninguém pode ver sua eleição, mas através do sangue de Cristo pode enxergá-la com nítida clareza. Ponha sua confiança no sangue, pobre pecador, e chegará a descobrir que o