O documento descreve como a literatura brasileira retratou automóveis no início do século XX, humanizando-os e emprestando características aos motoristas. Fala sobre como Lima Barreto descreveu o desejo de uma personagem pelo motorista de um automóvel luxuoso e como Macunaíma narra a origem do automóvel. Também menciona a chegada do primeiro carro ao Brasil e a reação de escritores à popularização dos automóveis.
1. E STA D O D E M I N A S ● D O M I N G O , 8 D E O U T U B R O D E 2 0 0 6
2 CLASSIFICADOSVEÍCULOS
MATÉRIA DE CAPA
Para desfilar na ficção, automóvel é humanizado e empresta suas características ao
c
motorista. Indústria automobilística já foi acusada de matar a literatura nacional m
y
k
Olhos de farol e peito de aço
DANIEL CAMARGOS do motorista, o farol com os olhos”, exem-
FOTOS REPRODUÇÕES / CAPAS DA REVISTA DE AUTOMÓVEIS / DISTRIBUIDORA IMPRENSA LTDA
plifica o doutorando.
Quando chauffer ainda não tinha se Já em Macunaíma, o índio herói brasi-
aportuguesado e virado chofer, em 1913, leiro de caráter controverso criado por Má-
Lima Barreto escreveu o conto Um e ou- rio de Andrade descreve a gênese do auto-
tro, que narra a história de Lola e seu de- móvel. Macunaíma diz que no princípio
sejo pelo motorista de um automóvel de era uma onça parda que perseguia uma ti-
luxo, batizado pelo autor de ‘Pope’. O gresa preta e que colocou quatro rodas no
doutorando em literatura comparada pé, tomou óleo de mamona, comeu um
Ulysses Maciel analisou a presença de ele- motor e mordeu dois vagalumes e assim
mentos técnicos na literatura e usou o se transformou na máquina automóvel. O
conto de Barreto como objeto de análise. herói sem caráter ia além e constatou que
“O automóvel é um símbolo de status a onça teve uma ninhada enorme com
que Lola busca alcançar. Se pensarmos machos e fêmeas e, por isso, as pessoas di-
que na época eram pouquíssimas pes- zem “um forde”e uma chevrolé”.
soas no Rio de Janeiro que possuíam um Se a tese de Macunaíma não é correta, é
automóvel de luxo, é interessante perce- possível acreditar na história que conta Ot-
ber a ironia de Lima Barreto com o des- to Schneider, na Revista de Automóveis, de
lumbre da sociedade”, ressalta Maciel. novembro de 1955. Otto era o redator prin-
Barreto lança mão do olhar de Lola, cipal da revista e narra a saga do primeiro
uma espanhola que era sustentada pelo automóvel que desembarcou no país:
amante, e descreve o automóvel como “Um carro a vapor, enorme, complicado,
“aquela magnífica máquina, que passava com fornalha, chaminé e caldeira”. Para
pelas ruas que nem um triunfador, era apresentar a novidade, José do Patrocínio,
bem a beleza do ho- que trouxe o veícu-
mem que o guiava; lo, levou jornalistas
e, quando ela o tinha e poetas, entre eles
nos braços, não era Olavo Bilac, que
bem ele quem a gostou tanto que
abraçava, era a bele- pediu para apren-
za daquela máquina der. Porém, deixou
que punha nela o carro bater em
ebriedade, sonho e a uma árvore e de-
alegria singular da pois cair em um
velocidade”. O ‘chau- buraco da estrada
ffeur’e a máquina se velha da Tijuca.
confundiam no de- A revanche do
sejo de Lola, que automóvel se da-
acreditava que “o ria em forma de
carro era como os tese, defenestrada
CYAN MAGENTA AMARELO PRETO
membros do outro”. Revista tinha crônica de Rubem Braga pelo escritor Ru-
bem Fonseca no
ÚLTIMA VEZ Já na site portallite-
cama à espera de saciar o desejo o ‘chau- ral.terra.com.br, que hospeda a página do
ffeur’ informa que não dirige mais o ba- autor. O escritor diz que quando Ford lan-
dalado ‘Pope’e sim um corriqueiro táxi. A çou o modelo T, “as Cassandras” afirma-
última frase do conto dá a exata idéia da ram que a ficção estava com os dias con-
reação de Lola: “Deitou-se a seu lado com tados. “Dentro de pouco tempo, todas as
muita repugnância, e pela última vez”. Is- pessoas teriam automóvel e usariam o
so aconteceu porque a protagonista con- carro para passear, fazer compras, namo-
siderava o táxi um automóvel sujo, cho- rar em vez de ficarem em casa lendo”. Po-
calhante, mal pintado e feito com folha- rém, ele diz que muitos escritores fica-
de-flandres. Maciel destaca que é comum ram em casa escrevendo e muitos leito-
o automóvel ganhar aspectos humanos res lendo e a literatura sobreviveu. A his-
quando é usado na literatura. “Compara tória se repetiu com o cinema e a inter-
se a potência do motor com a virilidade net. A literatura permanece. Belo Jaguar XK-140 foi estampado na capa da edição que narra acidente de Olavo Bilac com o primeiro automóvel importado
REVISÃO LANTERNAGEM E CHAVES SEGUROS
PINTURA MOTOR
OFICINA
IMPORTADOS
REVISÃO GERAL, TROCA TÉCNICA
DE ÓLEOS E FILTROS P/ VEÍCULOS
NACIONAIS E IMPORTADOS.
AV. BIAS FORTES 954 FONE: (31) 3222-8822
REPRESENTANTE ASSORA
DISTRIBUIDOR PNEUS
c
HIDRÁULICA m
AR CONDICIONADO y
k
CYAN MAGENTA AMARELO PRETO