O documento descreve a vida e obra de Padre Leopoldo Garcia Garcia, um padre espanhol que viveu em Ichu na década de 1990. Ele dedicou sua vida aos mais pobres, construindo centros comunitários, cisternas e lutando por justiça social. Sua morte em 2003 causou grande comoção na cidade. Seu legado de fé e solidariedade ainda é lembrado.
2. Esse álbum foi produzido por alunos do CEACO para o EPA. Agosto de 2018.
Carlos Daniel, 3º Ano.
Lara Carneiro, 3º Ano.
Marcus Vinicius, 2º Ano.
Maria Eduarda, 3º Ano.
Matheus dos Santos, 3º Ano.
3. Leopoldo
Fé e vida
Este álbum traz como bem imaterial a vida, obra e ensinamentos de
um homem conhecido pela sua dedicação e luta pelos menos
favorecidos no município de Ichu e comunidades vizinhas. Foi
incrível conhecer a história do extraordinário Padre que marcou o
município de Ichu, assim como a vida de tantas outras pessoas.
4. Animado, incansável, simples e solidário. Assim era conhecido padre Leopoldo Garcia Garcia. Nascido em
Burgo, na Espanha, em 1929, viveu o período da Guerra Civil Espanhola (1936-39), quando a mãe protegia ele e seus
irmãos dos bombardeios no porão da casa. O seu irmão mais velho pensava em ser padre, mas foi ele, o caçula da
família, que seguiu a vocação sacerdotal.
Na década de 70, viveu e trabalhou em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro. Nesse período nascia na América
Latina o movimento religioso da Teologia da Libertação, do qual fez parte, engajando na luta social em defesa da
“opção preferencial pelos pobres”. Viveu aqui no Brasil cerca de 14 anos, quando então retornou para a Espanha e
assumiu o cargo de coordenador das missões.
Veio para Ichu em 1991 por influência de outros padres espanhóis na região, como padre Nicássio, grande
amigo seu que atuava em Serrinha. Criou enorme afeição com a cidade e a adotou como opção de vida, pedindo para
não ser transferido de paróquia.
Um homem gordo, alegre e com fala enrolada. Misturava o espanhol com as poucas palavras que sabia do
português. Muitas pessoas reagiram com estranhamento por não compreender o que falava, mas por outro lado se
sentiam cativados com tamanha simpatia daquele homem.
Ⓐ Numa viagem com membros de pastorais.
Ⓑ Dormindo numa praça na Espanha
Ⓒ Celebração na capela do Centro São João de
Deus, em Nova Esperança
5.
6. Leopoldo entendia e defendia a dignidade humana e uma formação integral, religiosa e política, dos indivíduos.
Para ele, o Reino de Deus era aqui e agora e por isso deveríamos lutar pelas transformações sociais e pela justiça na
Terra. Fé e Vida. Estava presente na luta pela terra, visitava mensalmente um assentamento em Água Fria, além de
outras visitas também em Biritinga e Conceição do
Coité. Construiu cisternas na Rua Gerson, formada
em sua maioria de famílias carentes, e em algumas
comunidades rurais, pois entendia da necessidade do
povo.
Defendia uma igreja-povo. Uma igreja para e
com o povo. Uma igreja conectada tanto ao mundo
imaterial quanto ao material.
Ⓓ Celebração no Assentamento Menino Jesus.
Ⓔ Rua Gerson. Fez cisternas até para famílias não
católicas.
Ⓕ Assentamento Menino Jesus, em Água Fria.
Ⓖ Dona Valdira, primeira moradora da Rua Gerson a ter sua
cisterna construída.
Ⓗ Encontro de formação com adultos e idosos
Ⓘ Leopoldo e uma família carente numa comunidade
7.
8. Dois anos após sua chegada, com a ajuda de doações de sua irmã e pessoas de sua terra natal, construiu dois
centros comunitários: o Centro de São Paulo, voltado para a juventude e pastorais, que servia para encontros de
formação, catequese, reuniões, noites culturais etc.; e o Centro de São Pedro, que era focado na produtividade, onde o
povo produzia trabalhos artesanais com o intuito de melhorar a renda das famílias, onde ocorriam cursos de corte e
costura e a produção de cosméticos. Os empregos de
pedreiros gerados na construção desses centros eram
concorridíssimos, pois Leopoldo pagava mais que o
comum aos trabalhadores.
Em 1999, construiu também o Centro São João de
Deus no povoado de Nova Esperança, que tinha como
objetivos reabilitar e socializar os portadores de
deficiências físicas e promover a formação das famílias
dos deficientes e membros da comunidade. O centro era
mantido com a ajuda de doações vindas da Europa.
9. Ⓙ Leopoldo na construção do Centro São Paulo
rodeado de crianças e com seu primeiro fusca
Ⓚ Blocos sendo feito na Casa Paroquial.
Ⓛ Ele fez uma britaria durante as construções
do centro. Garantindo brita e trabalho.
Ⓜ Leopoldo com os atendidos pelo Centro São
João de Deus
10. Leopoldo fazia muitas viagens de volta para Espanha, por
causa de sua família e da própria igreja. Quando ausente sempre
mandava correspondência para Ichu, pois sentia falta do seu povo.
Em 1996, levou grupos e lideranças missionárias do município
de Ichu para uma dessas viagens, também missionárias, na Espanha.
Ⓝ Uma das cartas enviadas da Espanha para Ichu.
Ⓞ Missionários ichuenses e espanhóis.
Ⓟ Lanche oferecido pela irmã de Leopoldo, em Madrid.
Ⓠ Bosque espanhol, missionários dos dois países.
Ⓡ Reunião com as Freiras da Congregação Sagrada
Família, Sevilla.
11.
12. Tinha grande carinho pelos menores. Após as missas chamava as crianças presentes para o seu fusca azul, e dava
voltas na praça, fazendo a mesma rota até que todas as crianças presentes tivessem a sua vez. Ainda distribuía doces,
sorrisos e beliscões na bochecha das crianças. Como nunca queria ver ninguém triste, sempre estava repetindo
“Ânimo! Ânimo!” por onde passasse.
Formado em Matemática, Filosofia e Psicologia,
dava aulas de Matemática para os jovens e incentivava
os mesmos a fazerem vestibulares, chegando até a pagar
a prova de alguns que não tinham condições. Fazia de
tudo para formar uma juventude consciente para
transformar o mundo.
Ⓢ Leopoldo e crianças na construção do Centro São Pedro
Ⓣ Leopoldo disputando quem come mais melancia a noite
com o seu amigo, mostrando bem o seu lado brincalhão.
Ⓤ Celebração de envio dos missionários, antes de ir
para a Espanha
Ⓥ Ele com índios e crianças.
Ⓦ Leopoldo em seu cotidiano, com a ajudante Dona Maria
13.
14. O texto bíblico que em que Leopoldo mais se inspirava era o de Lucas 4,18-21, onde Jesus anuncia sua missão:
“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para anunciar a Boa Notícia aos pobres. Enviou-me para
anunciar a libertação aos presos e a recuperação da vista aos cegos, para dar liberdade aos oprimidos, e para anunciar
o ano da graça do Senhor”.
ⓍLeopoldo numa visita á turma de catequese no Centro São Paulo
Ⓨ Mais uma foto dele dormindo
Ⓩ Foi uma homem tão importante para Ichu que foi construído um
caminho ao seu tumulo no São Joaquim em Ichu. Nenhuma outra pessoa
teve esse privilegio.
15. Mesmo com vários problemas de saúde, não deixou de estar presente na vida da comunidade, “Vou morrer com
as botas postas!” era o que sempre dizia. No ano de 2003, em um retiro espiritual na cidade de Salvador, sentiu-se
mal, foi hospitalizado e alguns dias depois do ocorrido chegou a falecer. A notícia causou grande comoção à maior
parte da cidade. Leopoldo foi sepultado no cemitério São Joaquim, da cidade de Ichu, como assim havia pedido.
Depois da sua morte, o Centro São João de Deus perdeu muitos sócios. Segundo relatos, o novo padre que
assumiu a paróquia jogou fora todo material de Leopoldo, como roupas, fotos, cartas etc. Há quem diga até que a
criação da diocese em Serrinha foi uma tentativa de abafamento da Teologia da Libertação na região.
Mas todo o seu legado, sua história, seus ensinamentos e sua luta, ainda estão presentes nos corações ichuenses e
agora também nessas páginas.
Queremos agradecer a todos que, de alguma forma, contribuíram
para a construção desse álbum. Sem os seus depoimentos e
acervos não conseguiríamos concluir esse trabalho.