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Gravidez na Adolescência
Por Rosalina Rocha Araújo Moraes
1. Gravidez
Biologicamente a gravidez pode ser definida como o período que vai da concepção ao
nascimento de um indivíduo. Entre os animais irracionais trata-se de um processo puro
e simples de reprodução da espécie. Entre os seres humanos essa experiência adquire
um caráter social, ou seja, pode possuir significados diferenciados para cada povo, cada
cultura, cada faixa etária.
Em alguns países como a China, que não possui mais capacidade territorial para
absorver um número elevado de indivíduos a maternidade é controlada pelo governo e
cada casal só pode ter um filho. Em outras culturas como em tribos indígenas e alguns
países africanos gravidez é sinônimo de saúde, riqueza e prosperidade.
No Brasil, onde não há controle de natalidade e onde o planejamento familiar e a
educação sexual ainda são assuntos pouco discutidos, a gravidez acaba tornando-se,
muitas vezes, um problema social grave de ser resolvido. É o caso da gravidez na
adolescência.
2. Gravidez na adolescência
Denomina-se gravidez na adolescência a gestação ocorrida em jovens de até 21 anos
que encontram-se, portanto, em pleno desenvolvimento dessa fase da vida – a
adolescência. Esse tipo de gravidez em geral não foi planejada nem desejada e acontece
em meio a relacionamentos sem estabilidade. No Brasil os números são alarmantes.
Cabe destacar que a gravidez precoce não é um problema exclusivo das meninas. Não
se pode esquecer que embora os rapazes não possuam as condições biológicas
necessárias para engravidar, um filho não é concebido por uma única pessoa. E se é à
menina, que cabe a difícil missão de carregar no ventre, o filho, durante toda a gestação,
de enfrentar as dificuldades e dores do parto e de amamentar o rebento após o
nascimento, o rapaz não pode se eximir de sua parcela de responsabilidade. Por isso,
quando uma adolescente engravida, não é apenas a sua vida que sofre mudanças. O pai,
2. assim como as famílias de ambos também passam pelo difícil processo de adaptação a
uma situação imprevista e inesperada.
Diante disso cabe nos perguntar: por que isso acontece? O mundo moderno, sobretudo
no decorrer do século vinte e início do século vinte e um vem passando por inúmeras
transformações nos mais diversos campos: econômico, político, social.
Essa situação favoreceu o surgimento de uma geração cujos valores éticos e morais
encontram-se desgastados. O excesso de informações e liberdade recebida por esses
jovens os levam à banalização de assuntos como o sexo, por exemplo. Essa liberação
sexual, acompanhada de certa falta de limite e responsabilidade é um dos motivos que
favorecem a incidência de gravidez na adolescência.
Outro fator que deve ser ressaltado é o afastamento dos membros da família e a
desestruturação familiar. Seja por separação, seja pelo corre-corre do dia-a-dia, os pais
estão cada vez mais afastados de seus filhos. Isso além de dificultar o diálogo de pais e
filhos, dá ao adolescente uma liberdade sem responsabilidade. Ele passa, muitas vezes, a
não ter a quem dar satisfações de sua rotina diária, vindo a procurar os pais ou
responsáveis apenas quando o problema já se instalou.
A desinformação e a fragilidade da educação sexual são também questões
problemáticas. As escolas e os sistemas de educação estão muito mais preocupados em
dar conta das matérias cobradas no vestibular, como: física, química, português,
matemática, etc., do que em discutir questões de cunho social. Dessa forma, temas como
sexualidade, gravidez, drogas, entre outros, ficam restritos, quase sempre, aos projetos,
feiras de ciência, semanas temáticas, entre outras ações pontuais. Os governos, por sua
vez, também se limitam às campanhas esporádicas. Ainda assim, em geral essas
campanhas não primam pela conscientização, mas apenas pela informação a respeito de
métodos contraceptivos. Os pais, como já foi dito anteriormente, além do afastamento
dos filhos, enfrentam dificuldades para conversar sobre essas questões. Isso se dá
devido a uma formação moralista que tiveram. Diante dessa realidade o número de pais
e mães adolescentes cresce a cada dia.
A adolescência já é uma fase complexa da vida. Além dos hormônios, que nessa etapa
afloram causando as mais diversas mudanças no adolescente, outros assuntos
preocupam e permeiam as mentes dos jovens: escola, vestibular, profissão, etc.
A gravidez, por sua vez, também é uma etapa complexa na vida. Ter um filho requer
desejo tanto do pai quanto da mãe, mas não só isso. Atualmente, com problemas como a
instabilidade econômica e a crescente violência, são necessários, além de muita
consciência e responsabilidade, um amplo planejamento. Quando isso não acontece, a
iminência de acontecerem problemas é muito grande.
Os primeiros problemas podem aparecer ainda no início da gravidez e vão desde o risco
de aborto espontâneo – ocasionado por desinformação e ausência de acompanhamento
médico – até o risco de vida – resultado de atitudes desesperadas e irresponsáveis, como
a ingestão de medicamentos abortivos.
O aborto além de ser um crime, em nosso país, é uma das principais causas de morte de
gestantes. Por ser uma prática criminosa não há serviços especializados o que obriga as
3. mulheres que optam por essa estratégia, a se submeterem a serviços precários,
verdadeiros matadouros de seres humanos, colocando em risco a própria vida.
Um outro problema é a rejeição das famílias. Ainda são muito comuns pais que
abandonam seus filhos nesse momento tão difícil, quando deveriam propiciar toda
atenção e assistência. Há que se pensar que esse não é o momento de castigar, pelo
menos não dessa forma, o filho ou filha.
Em outras situações a solução elaborada pelos pais é o casamento. Embora hoje haja
poucos e apenas nas regiões interioranas os casos de casamentos forçados com o
objetivo de reparar o mal cometido, os casamentos de improviso, acertados entre as
famílias ainda é bastante recorrente. Os adolescentes, nessa situação, são, normalmente,
meros observadores e em geral não se opõem a decisão tomada pelos pais. Isso acontece
tanto pela inexperiência quanto pela culpa que carregam ou ainda por pura falta de
condições de apontar melhor solução. O agravante dessa situação são os conflitos de
depois do casamento, que na maioria das vezes acabam em separação, causando uma
situação estressante não só para os pais, mas também para o bebê.
A adolescência é o momento de formação escolar e de preparação para o mundo do
trabalho. A ocorrência de uma gravidez nessa fase, portanto, significa o atraso ou até
mesmo a interrupção desses processos. O que pode comprometer o início da carreira ou
o desenvolvimento profissional.
3. Como evitar?
É muito comum ouvir nas ocasiões em que se discute esse assunto com os adolescentes,
perguntas do tipo: o asseio íntimo com ducha vaginal depois da relação sexual previne a
gravidez? Quando a relação é em pé há risco de engravidar? Uma menina pode
engravidar na sua primeira transa? E muitas outras perguntas e afirmações mitológicas
sobre como não engravidar. A resposta a todas essas questões postas acima é única. Em
todas as situações há risco de engravidar sim.
Não importa que tipo de asseio se faça depois do ato sexual. O espermatozóide é
lançado no canal vaginal durante a ejaculação ou até mesmo antes, no líquido
lubrificante produzido pelo homem. Isso significa que na hora do asseio eles já estão
bem longe do alcance de uma ducha íntima. O fato da transa ser em pé, de lado ou em
qualquer outra posição também não altera em nada o percurso dos espermatozóides até
o óvulo. Também não se pode pensar que porque é a primeira vez de uma garota os
espermatozóides fiquem “cerimoniosos” e resolvam voltar sem fecundar o óvulo. Até
mesmo porque eles não teriam para onde voltar não é verdade?
Outras garotas ao iniciarem sua vida sexual tomam decisões como: só praticar sexo
anal; só transar durante a menstruação; fazer tabelinha; pedir ao parceiro que utilize o
coito interrompido1, entre outras estratégias equivocadas, que passam de boca-em-boca
como eficientes.
Tudo bem, sexo anal não engravida porque é anatomicamente impossível: não há como
o espermatozóide migrar do canal retal para o vaginal. Porém, há que se ter cuidado
com o líquido expelido pelo pênis durante a excitação. Esse líquido pode conter
espermatozóides que em contato com a vagina podem ter acesso ao óvulo mesmo não
4. havendo penetração vaginal. Outro fator também tem que ser considerado. Não se pode
optar pelo sexo anal se essa não é uma escolha, se a experiência não é agradável aos
dois e sim porque é mais seguro.
O coito interrompido é outra opção que não convém, pois no momento máximo da
excitação pode não dar tempo de realizar o procedimento ou mesmo que tudo ocorra
bem bastaria que uma gotícula de esperma caísse na vagina para que houvesse risco de
gravidez.
1
Denomina-se coito interrompido a ação do homem de retirar o pênis da vagina durante a penetração para
ejacular o sêmen fora.
A tabelinha também é um método arriscado, sobretudo no início da vida sexual e sem
acompanhamento de um profissional. Esse é um recurso usado como paliativo e sempre
orientado por um médico e acompanhado de outros métodos contraceptivos. Assim
como no caso da transa durante a menstruação o fator regularidade do ciclo menstrual é
fundamental, o que significa dizer que se o ciclo for irregular não dá para confiar nesses
métodos.
Diante disso só o acesso à informação, a educação, assim como a conscientização e a
orientação para o uso de contraceptivos, são as únicas formas de combater e prevenir a
gravidez na adolescência. Tudo isso, porém, só será possível através da associação de
ações educacionais e de saúde pública. Não basta ter a informação se o acesso a uma
consulta, um aconselhamento, ou a uma cartela de camisinhas é truncado.
4. Métodos Contraceptivos
4.1. Espermicida
Espermicida é um produto, uma espécie de gel, comprado em farmácias sem a
necessidade de receitas médicas e utilizado para matar ou imobilizar os espermatozóides
evitando que eles cheguem ao óvulo. É aplicado na vagina pouco antes da relação
sexual, mas não oferece o mesmo grau de proteção que a camisinha, por exemplo. O
ideal é que seja usado junto com a camisinha aumentando assim sua eficácia.
4.2. Diafragma
O diafragma é outro método ideal que cãs bem com o espermicida. Aliás, ele só
funciona assim. É um objeto côncavo, arredondado e de bordas, feito de borracha
flexível. Para utilizá-lo é necessário aplicar-lhe o espermicida e em seguida inseri-lo no
canal vaginal. Ele funciona como uma barreira de proteção do útero.
4.3. Camisinha
É o método contraceptivo mais seguro chegando a oferecer 90% de segurança em
relação a gravidez. Além da gravidez previne também todo tipo de doença sexualmente
transmissível. Além disso, pode ser utilizada tanto pelo parceiro (camisinha masculina)
quanto pela parceira (camisinha feminina). Outra vantagem é que sua aquisição é fácil.
Tanto pode ser adquirida gratuitamente nos postos de saúde como comprada a um preço
5. módico em supermercados e farmácias. O único cuidado que deve ser tomado é o de
observar se o produto tem o selo do imetro e se está dentro da data de validade.
4.4. Pílulas anticoncepcionais
Um dos métodos contraceptivos mais populares as pílulas ocupam o primeiro lugar no
ranking dos métodos mais usados pelas meninas. Isso acontece, primeiro porque sua
fama de método seguro é grande, segundo porque o acesso a esse produto também é
muito fácil. Embora isso seja errado a maioria das farmácias não pede receita médica no
ato da compra e muitas mulheres fazem uso desse medicamento sem orientação médica.
É importante salientar que essa atitude não deve ser cultivada. O uso de qualquer
medicamento por iniciativa própria é arriscado à saúde. As pílulas costumam provocar
efeitos colaterais como aumento ou redução de peso, dores de cabeça, náuseas, tonturas,
entre outros.
4.5. Outras alternativas
Além desses há ainda um método contraceptivo que não é adequado à adolescência. É o
DIU (Dispositivo Intra Uterino). Trata-se de um mecanismo depositado, apenas pelo
médico, no útero da mulher e que deve ser acompanhado pelo menos de 6 em 6 meses
pelo ginecologista.
(Veja mais sobre métodos anticoncepcionais clicando aqui!)
Não resta dúvida então que o melhor remédio para não engravidar é prevenir, certo?
Porém, se algo deu errado há um método contraceptivo de urgência: trata-se da “pílula
do dia seguinte”. É um medicamento que deve ser usado quando, por acidente, falham
os outros métodos. Importante: apenas em casos extremos. Não dá para ser
irresponsável e sair por aí transando sem proteção e tomando a pílula toda vez que
transa. A eficiência do uso da “pílula do dia seguinte” está relacionada com o tempo que
leva entre a transa e a ingestão do medicamento. Quando mais cedo for tomada maior
sua eficácia. Seu uso errado pode ser prejudicial a gravidez, por isso deve ser orientado
pelo médico.
BIBLIOGRAFIA
BEHLE, I. Reflexões sobre fatores de riscos na prevenção primária da gestação na
adolescência. In: Maakaroun, M. F.; Souza, R. P.; Cruz, A. R. Tratado de adolescência:
um estudo multidisciplinar. Rio de Janeiro, Cultura Médica. 1991.
CABRERA, R. R. La prevención del embarazo en adolescentes: un compromiso
con la vida. Una propuesta de coordinación para la promoción de la salud
adolescente. Revista Niños 1995.
CAMPOS, M. A. B. Gravidez na Adolescência. A imposição de uma nova
identidade. Atual, 2000.
GUIMARÃES, E. B. Gravidez na adolescência: fatores de risco. In: Saito, M.I. &
Silva, E.V. Adolescência – Prevenção e Risco. São Paulo, Atheneu, 2001.