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AUTORA
Prof.ª Esp. Irení Alves de Oliveira
Assistente Social. Supervisora Acadêmica com programa de treinamento e
acompanhamento de equipe de supervisores acadêmicos e Professora formadora da
disciplina de estágio supervisionado curricular obrigatório.
INFORMAÇÕES RELEVANTES:
• Especialista em Docência no Ensino Superior - Unicesumar (2016)
• Tecnóloga em Marketing - Unicesumar (2016)
• Bacharel em Serviço Social (2015)
• Pós-Graduanda em DesignThinking e Criatividade nas Organizações - Unicesumar
• Pós-Graduanda em MBAem Coaching aplicado à Gestão de Pessoas - Unicesumar
• Professora Formadora EAD - Unicesumar
• Supervisora Acadêmica - Unicesumar
• Link do Currículo na Plataforma Lattes:
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K8088409A4
APRESENTAÇÃO DO MATERIAL
Seja bem-vindo (a)!
Caro(a) aluno(a), é uma satisfação saber que você escolheu cursar Serviço Social,
uma profissão regulamentada e inscrita na divisão social e técnica do trabalho e ao mesmo
tempo é um prazer estar junto com você nesta jornada.
Sabendo que a disciplina de Fundamentos Históricos, Teóricos e Metodológicos
do Serviço Social – Materialismo Histórico é de extrema importância para a sua formação
profissional, busquei abordar assuntos relevante a qual ao longo das 04 (quatros) unidades
você compreenderá o surgimento do Serviço Social e os conceitos que fundamentam esta
profissão.
Na unidade I, iniciaremos o estudo descrevendo os motivos que originou o serviço
social, apresentando as fases do sistema capitalista que influenciou nas relações de
trabalho, principalmente no período da revolução industrial, tendo a influência do Estado,
da Igreja e das Organizações Sociais para manter a ordem social.
Na unidade II e III abordaremos sobre as bases teóricas que fundamentaram o
Serviço Social, apresentando grandes filósofos, como Karl Marx; Émile Durkheim; Max
Weber entre outros, além da Mary Richmond uma assistente social, a qual fundamentou as
teorias específicas da profissão.
Na unidade IV, finalizo com a historiografia do Brasil no século XX, abordando de
forma panorâmica os fatos que marcaram o país e em paralelo a profissão de Serviço
Social que precisou rever as bases teóricas por meio de três seminários de teorização.
E diante desta breve apresentação lhe convido debruçar sobre o conteúdo deste
livro e espero que ao longo dos estudos consiga compreender o surgimento da profissão.
Desejo um ótimo estudo e sucesso.
SUMÁRIO
UNIDADE I....................................................................................................... 5
Bases Históricas do Serviço Social
UNIDADE II.................................................................................................... 34
Bases Teórico-Metodológicas para o Serviço Social
UNIDADE III................................................................................................... 63
O Materialismo Histórico: Instrumento de Análise Social
UNIDADE IV................................................................................................... 92
Aproximações Histórico-Teórico-Metodológicas: Panorama
Brasileiro
5
Plano de estudo:
● Ascensão do capitalismo e as relações de trabalho
● A Revolução Industrial: implicações sociais na Europa
● O contexto estadunidense para o nascimento da profissão
● A influência do Estado, Igreja e organizações sociais na gênese do Serviço Social.
Objetivos de Aprendizagem:
● Resgatar o contexto histórico para o surgimento do capitalismo, descobertas, novos
governos e o início da industrialização;
● Apresentar o período da revolução industrial e quais eram as implicações sociais
causadas na Europa;
● Apresentar o surgimento da profissão em meio ao contexto dos EUA;
● Apresentar como o Estado, igreja e organizações sociais influenciou para o
surgimento e regulamento da profissão.
UNIDADE I
Bases Históricas do Serviço Social
Professora. Esp. Irení Alves de Oliveira
6
UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social
INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a), Imagine um mundo com mudanças sutis e que ocorrem ao longo
da história da humanidade, onde os processos são longos e alteram aos poucos as formas
como as relações humanas são construídas e como os indivíduos se inserem nas mais
variadas engrenagens que movimentam toda a dinâmica. Muitas vezes de forma não
intuída ou problematizada, muitos apenas seguem o modelo vigente e pouco refletem sobre
o quê se vive e como a condição humana é posta e ou sofre, todo esse espiral repleta de
crises e vitórias que damos o nome de vida.Sabemos que toda essa aventura a qual recebe
a nomenclatura de história não nos fora dada e sim construída, desenvolvida e relatada
por seres humanos. Esses muitas vezes esquecidos e/ou negligenciados, sendo sempre
preteridos aos ganhos financeiros e medidas belicistas que estudaremos ao longo desta
unidade.
Aqui, visamos discutir elementos decisivos para a constituição do atual sistema
econômico que vivemos, o capitalismo, e como a sociedade se comportou em nome de um
fortalecimento governamental e ganhos pecuniários, pagando, contudo, um alto preço na
condição humana que mais uma vez não foi acolhida e, sim, esquecida.
Nesta unidade vamos estudar como o capitalismo surgiu e se expandiu ao longo
de sua história, passando por fase até se configurar ao modo vigente e as implicações que
as relações de trabalho sofreram com tais mudanças. Também vamos aprender sobre a
Revolução Industrial, que nos trouxe no seu bojo um novo processo produtivo, muito mais
eficaz e com o viés de produção em larga escala.
Porém, não se limitando ao crescimento monetário, também temos outros ganhos,
como na necessidade de ter novas profissões e novas ciências, dentre elas o Serviço
Social, uma profissão que surgiu neste cenário a fim de atender as necessidades do Estado,
das organizações e principalmente da igreja católica que foi o influenciador da origem da
profissão. Assim sendo, te convido a acompanhar comigo essa narrativa que resgata a
memória de como a nossa categoria nasceu e foi se fortalecendo até o momento presente,
conhecido também como hoje.
Bons estudos!
7
UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social
1 ASCENSÃO DO CAPITALISMO E AS RELAÇÕES DE TRABALHO
A sociedade que conhecemos nos dias atuais é resultado de um processo em que
o modo e meio de produção refletiu agressivamente na relação de trabalho e expansão
do capitalismo, mas para entender este contexto é importante analisarmos o período que
o capitalismo ascendeu e concomitantemente a relação de compra e venda da força de
trabalho.
Para isto, faz-se necessário realizarmos uma busca histórica para entender a
eclosão do capitalismo e o aumento da relação do trabalho, desta forma é importante
considerarmos dois fatos, o período feudal e a origem do capitalismo. De acordo com
Huberman (1969) no período feudal (séculos XI a XV) tinha-se um regime de servidão e
a sociedade era dividida em três classes: a nobreza que tinha o poder de aplicar as leis e
cobrar impostos altíssimos, o clero formado pela igreja católica como missão de manter o
equilíbrio espiritual sendo isento de pagar impostos, e os servos que era a maior parcela da
população e trocava a sua força de trabalho para manter a subsistência nas propriedades
dos feudos, além de pagar os inúmeros impostos e tributos.
A sociedade feudal tinha como prática o escambo (troca de mercadoria), e ao
adquirir um determinado bem realiza troca, seja por produto ou serviço, nesta época não
tinha uma geração excedente de mercadoria, o que produzia era consumido conforme a
necessidade. Mas, este fator mudou quando a igreja católica passou a trazer produtos
8
UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social
luxuosos das viagens realizadas nas cruzadas, uma prática religiosa que originou o sistema
do capitalismo.
Por ser considerado um sistema econômico e social, o capitalismo se tornou um
modo de produção, com uma divisão societária, em que de um lado temos o capitalista
(donos dos meios de produção) e do outro o proletariado (não possuem os meios de
produção), e que enquanto um compra a força de trabalho de uma grande parcela o outro
vende para uma pequena parcela, gerando um acúmulo de capital e uma produção em
massa.
Ao longo da história do sistema capitalista houve uma evolução, passando por três
fases sendo:
Capitalismo comercial: Surgiu no final do século XV quando uma pequena parcela
de pessoas começou a realizar feiras, que logo foi se expandindo para outros territórios além
da Europa, os mercadores que participavam das feiras eram isentos dos impostos exigidos
dos senhores feudais para que assim pudessem comercializar nas suas terras, e muitos
aceitavam por que as feiras proporcionam riquezas, De acordo com o autor Huberman
(1969) as feiras neste período eram imensas, as mercadorias eram negociadas por atacado
e atingiam grandes mercadores, bem como pequenos revendedores e artesãos, na qual
compravam e reivindicam para aqueles que começaram a trabalhar em troca da aquisição
de mercadorias. É importante destacar que neste período a prática de comercializar tornou-
se global, tendo o surgimento de uma nova classe social a burguesia; a expansão marítima
que impulsionava grandes navegações e o acúmulo de capital.
Capitalismo Industrial: Surgiu no século XVIII com as mudanças ocasionadas
no modo de produção e na sua manufatura, intensificando as relações comerciais e as
produções, isso se deu com criação de motor a vapor e máquinas para a produção e grande
escala. Este período é considerado como um sistema de produção, na qual deu inicio ao
aumento da mão-de-obra de uma grande parcela da população considerada como classe
operária que se sujeitava a uma carga horária exaustiva e com uma baixa remuneração,
causando diversas implicações nas suas relações sociais. É importante destacar que este
período aconteceu na revolução industrial que iremos discutir mais a frente.
Capitalismo Financeiro: Conhecido como capitalismo monopolista, surgiu no
final do século XIX e início do século XX sendo considerado como um tipo de economia, este
sistema passou a controlar os comércios e indústrias por meio de instituições financeiras e
bancos comerciais, modelo este que segue até os dias atuais.
9
UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social
Netto (2011) nos apresenta que no final do século XIX o sistema capitalista passa
a vivenciar profundas modificações tanto na sua forma de ordenar quanto na dinâmica
da economia, com isso fica evidente as novas incidências na estrutura social e política,
este período ficou conhecido como um marco histórico para o capitalismo que sai de um
sistema concorrencial e passa a ser monopolizado, tendo em sua essência a exploração e
alienação como chave para se manter no poder.
Caro(a) aluno(a) é importante destacar que neste período também iniciou grandes
inovações tecnológicas, expansão de mercados e investimentos de grandes empresas para
que a economia pudesse se movimentar mais rápido e assim aumentar o lucro. Porém, para
tudo isso pudesse acontecer foi necessário mais uma vez a exploração da mão-de-obra,
a baixa rentabilidade e o aumento do consumo de classe que hoje conhecemos como “C”,
que buscam meios de sobreviver a esta mudança em que uma pequena parcela detém.
Imagem1: Disparidade Social
10
UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social
SAIBA MAIS
Sobre o capitalismo monopolista: na prossecução da sua finalidade central, a organiza-
ção monopólica introduz na dinâmica da economia capitalista um leque de fenômenos
que deve ser sumariado: a) os preços das mercadorias (e serviços) produzidos pelos
monopólios tendem a crescer progressivamente; b) as taxas de lucro tendem a ser mais
altas nos setores monopolizados; c) a taxa de acumulação se eleva, acentuando a ten-
dência descendente da taxa média de lucro e a tendência ao subconsumo; d) o investi-
mento se concentra nos setores de maior concorrência, uma vez que a inversão nos mo-
nopolizados torna-se progressivamente mais difícil (logo, a taxa de lucro que determina
a opção do investimento se reduz); e) cresce a tendência a economizar trabalho “vivo”,
com a introdução de novas tecnologias; f) os custos de vendas sobem, com um sistema
de distribuição e apoio hipertrofiado – o que, por outra parte, diminui os lucros adicionais
dos monopólios e aumenta o contingente de consumidores improdutivos (contrarrestan-
do, pois, a tendência aos subconsumo).
Fonte: NETTO, José Paulo, Capitalismo Monopolista e Serviço Social, 8ª ed. São Paulo. Cortez, 2011. p.
20 e 21.
Ao analisarmos a evolução do capitalismo é importante considerarmos ao viés da
profissão do Serviço Social que a relação de trabalho em meio às mudanças do capitalismo
trouxe grandes implicações, pois o modo de produção além de refletir diretamente no
cotidiano, as consequências foram irreversíveis, dentre elas tivemos, a pauperização; o
desemprego; a precarização nas condições de trabalho, sem contar na desigualdade social
que foi gigantesca.
Mesmo com todo esse descompasso é importante considerarmos que o modo de
produção aproxima o ser humano dele mesmo, mas que a forma como ele é desenvolvido
pode afastar criando conflitos nas relações de trabalho. De acordo com o clássico Karl Marx
em seu livro O Capital (1989) a relação que o homem tem com trabalho é o que transforma
enquanto ser humano, mas o processo de trabalho criado pelo sistema capitalista, nas
condições de regulador de salários, impede que o trabalhador eleve o valor da sua força
de trabalho, e este processo é uma forma do capitalismo se manter no poder, pois detém a
classe trabalhadora á seu favor, aumentando assim o seu lucro monetário.
11
UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social
Iamamoto (2008) destaca que o trabalho produtivo e a base de toda a troca por
dinheiro em que o capital detém a força de trabalho humana para expandir seu lucro,
enquanto o trabalhador usa desta força para reproduzir o valor que de fato pertencente
ao capital, ou seja, tudo gira em torno do sistema capitalista e por mais que o trabalhador
vende a sua força de trabalho para garantir o mínimo a sua sobrevivência ainda não é o
suficiente, pois o capital dispõe da maior parte de todo o lucro da produção humana e à
medida que o capitalismo expande a produção do trabalho torna-se cada vez mais alienado
ao sistema, tendo o trabalho produtivo como um processo que repõem o capital e produz
o consumo.
Contudo, este processo fez com que o capitalismo torna-se um sistema central
e dominante nas relações de trabalho, um sistema concentrado em grandes margens de
lucro reduzido em monopólios pequenos e exaustivamente rentável, caracterizando assim
o capitalismo dos monopólios, um sistema subdesenvolvido capaz de sugar cada vez mais
o modo de produção, a forma de trabalho e suas condições para produzir em alta escala,
tudo isso por deter a força produtiva do proletariado ao seu favor, considerando que o
trabalho e o produto é propriedade do capitalismo.
Antunes (2002) enfatiza que as inúmeras mudanças ocorridas no sistema
capitalista como o universo fabril; o avanço da tecnologia e a automação foram inseridos
e desenvolvidos na relação de trabalho, porém essas mudanças causaram implicações
grandiosas na vida do trabalhador, como, o direito ao lazer, ao convívio com a família, a
educação; a saúde, entre outros. Além da precarização nas condições de trabalho que era
degradante e desumano.
Iamamoto (2008) destaca que a acumulação do capital é proporcional ao da miséria
isso porque o capitalismo além de ampliar na sua produção o poder do lucro é concentrado
em uma pequena parcela da sociedade ao contrário dos proletários que se concentra em
uma grande parcela da sociedade e que vende a sua força de trabalho para a subsistência,
submetendo a trabalhos degradantes e salários baixos, tendo a sua relação de trabalho
comprometida por falta de segurança, jornada de trabalho exaustiva e sem nenhum direito
trabalhista e ou social.
É fato que, o capitalismo surgiu no século XV quando se iniciou a prática de vendas
de mercadorias, mas a sua ascensão foi no século XVIII com a revolução industrial, quando
o trabalho árduo nas fábricas começou a aumentar o lucro do capital, necessitando da
relação de compra e venda da força de trabalho e com isso houve grandes implicações,
causadas pelo capitalismo. Mas para que você caro(a) aluno(a) possa entender melhor
12
UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social
sobre todo este contexto agora vamos aprofundar na Revolução Industrial e quais as
implicações causadas pelo capitalismo neste período.
REFLITA
Ao longo da história do capitalismo, a sua ascensão se deu em três fases, o capitalismo
comercial; industrial e o econômico, refletindo diretamente nas relações do trabalho.
Fonte: a autora
13
UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social
2 A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL: IMPLICAÇÕES SOCIAIS NA EUROPA
A Revolução industrial iniciou no século XVIII na Inglaterra e em pouco tempo se
espalhou por toda a Europa Ocidental, este processo foi um divisor tanto para o capitalismo
detentor do poder quanto para os trabalhadores do campo que não tinha formação,
experiência e vivência na cidade, simplesmente foram lançados para o meio urbano e sem
alguma urbanidade, pois pouco conhecia o código e o novo contexto que passou a ser
inserido.
Por ordem de uma monarquia que via a perda do poderio frente a outros Estados
absolutistas, foram lançados de uma forma descuidada e sem a preparação correta para
outra realidade em nome de certo desenvolvimento que quase nada chegaria a esta
nova classe que se formava nas periferias inglesas, “teria levado ao empobrecimento
uma população estável, e foi catastrófica para uma população que crescia rapidamente”
(HOBSBAWM, 1978, p.95-96).
Certos que com a chegada dos camponeses na cidade a procura de oportunidades
sem entender ao certo o que iria acontecer isto chamou a atenção dos capitalistas que
observaram um grande número de pessoas buscando por trabalho nas indústrias, com isto
identificaram que poderiam faturar ainda mais se produzem em grande escala.
Com as terras oficialmente dadas para poucos, os latifundiários fizeram o movimento
de aumentar a produtividade usando tecnologias de maquinário e genética de cruzamento de
plantas a partir dos experimentos de Mendel, da monocultura como as de algodão e criação
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UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social
de cabras para fornecer à indústria têxtil que nascia, neste sentido Thompson (1987) relata
que a indústria do algodão foi certamente a pioneira na Revolução Industrial e a tecelagem
foi o modelo preeminente para o sistema fabril. Enfim o foco era maior produtividade e não
importava como, esse processo foi chamado de Revolução Agrícola.
O importante era atender as fábricas e a nova classe operária que, obrigatoriamente,
teria de comprar o que antes plantava e criava. Huberman (1969) diz que a invenção de
máquina para fazer o trabalho do homem era uma história antiga, muito antiga. Mas como
a associação da máquina à força a vapor ocorreu uma modificação importante no método
de produção. O aparecimento da máquina movida a vapor foi o nascimento do sistema
fabril em grande escala, era possível ter fábricas sem máquinas, mas não era possível ter
máquinas a vapor sem fábricas.
Beaud (1981) relata que a entrada dos operários, a refeição deles e a saída ocorrem
ao som do sino, no interior da fábrica, cada um tem seu lugar marcado, a tarefa estritamente
delimitada e sempre a mesma; todos devem trabalhar regularmente e sem parar, sob o olhar
do contramestre que o forçava à obediência mediante a ameaça da multa ou da demissão,
por vezes até mesmo mediante uma coação mais brutal.
Para Dobb (1980) nos traz que a essência da transformação na era da Revolução
Industrial estava na mudança do caráter da produção que, em geral, associavam-se à
utilização de máquinas movidas por energia e para isto os trabalhadores deveriam trabalhar
em exaustão. Marx afirmou que a transformação crucial foi, na verdade, a adaptação de
uma ferramenta, antes empunhada pela mão humana, por meio de um mecanismo, com
o surgimento das máquinas a vapor, a mãos dos trabalhadores passaram a ser um mero
implemento, sem levar em consideração se a força motriz venha do homem ou da máquina.
Além desse contexto, Hobsbawm (1996) nos apresenta um fator agravante no
período da Revolução Industrial, que foi a queda na produção agrícola, isso se deu devido
ao desaparecimento gradual da população agrícola, migrando para as áreas urbanas a
procura de trabalho nas indústrias, com o rápido aumento da população centrada nas
áreas urbanas não se tinha o fornecimento de alimentos para suprir as necessidades
primárias, acarretando a grandiosos problemas sociais, levando a situações degradantes
e desumanas, além de que as áreas urbanas não estavam adaptadas e preparadas para
receber a população que ali se se instalou.
15
UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social
SAIBA MAIS
A revolução industrial não foi um episódio com um princípio e um fim. Não tem sentido
perguntar quando se “completou”, pois sua essência foi a de que a mudança revolu-
cionária se tornou norma deste então. Ela ainda prossegue; quando muito podemos
perguntar quando as transformações econômicas chegaram longe o bastante para esta-
belecer uma economia substancialmente industrializada, capaz de produzir, em termos
amplos, tudo que desejasse dentro dos limites das técnicas disponíveis, considerada
como uma economia industrial amadurecida.
Fonte: HOBSBAWM, E. J. A era das revoluções. 9.ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996
Com tamanha desigualdade social envolvido num sistema detentor de poder e
sem nenhum respaldo é evidente que a classe trabalhadora começou a se sobrepor a
tamanha indiferença e ao que estava acontecendo diante do descaso que o capitalismo
estava exercendo, neste contexto entra em cena o Estado um sistema mantenedor da
ordem social, no entanto o seu interesse era garantir o bem estar do capital e manter a
classe operária ativa na produção.
Braverman (1987) explica que com a produção em massa a pleno vapor e um
excedente econômico movimentando as nações o Estado passou a ser um aliado do sistema
capitalista vigente, na qual passou a explorar ainda mais os operários. Esta relação entre o
Estado e o capital faz com que as relações de trabalho se tornassem deplorável, seguindo
de grandes sequelas irreversíveis, na qual reflete até os dias atuais.
Para Netto (2011) a intervenção estatal veio para garantir o superlucro do sistema
capitalista, tornando-o mais forte e suprimindo ao monopólio, ou seja, o lucro passou a
ser concentrado em um pequeno grupo, aumentando ainda mais à exploração da força de
trabalho e consequente a desigualdade social e ou na questão social, assunto que vamos
explanar ao longo deste livro.
REFLITA
A questão social é apreendida como o conjunto das expressões das desigualdades da
sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum: a produção social, é cada ve-
zes mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação
dos seus frutos mantém-se privada.
Fonte: Iamamoto, Marilda Villela. O Serviço Social na Contemporaneidade: trabalho e formação profissio-
nal, 22 ed. São Paulo, Cortez, 2012.
16
UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social
3 CONTEXTO ESTADUNIDENSE PARA O NASCIMENTO DA PROFISSÃO
Como demonstrado no capítulo anterior, a Revolução Industrial teve o seu germe
na Inglaterra que contava com uma burguesia altamente organizada, governo inclinado
a obedecer às ordens dos empresários e a fortalecê-los, uma população que acabara
de perder a única forma de sobrevivência que conhecia e se aglutinava nas cidades em
busca de sobrevivência, bem como outros fatores importantes para a consolidação de
uma vida digna, a abundância em minérios e outros insumos para as fábricas, toda uma
intelectualidade fundamentando tudo que ocorria e um mercado com poucos competidores.
Porém, nem tudo era tão perfeito quanto se demonstra na teoria. Hobsbawn (1978)
nos lembra de que a exploração da força de trabalho era chocante. Homens, mulheres e
crianças (de até 06 anos de idade) realizavam, em condições desumanas, uma jornada
de trabalho de até 18 horas. Essa situação permitia aos proprietários capitalistas impor
ao trabalhador a execução e a extração do sobretrabalho (horas trabalhadas além das
necessidades de reprodução da força de trabalho), o que permitia a acumulação do lucro,
e a parte era reinvestido no setor produtivo, com o único e principal objetivo de valorizar o
capital.
A situação social demonstrava que “tudo corria para o rico”, o operário, sofredor
do processo de embrutecimento, não encontra os verdadeiros culpados pela sua condição
tão deprimente e sem humanidade. Muitos acreditam que as responsáveis para tamanho
17
UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social
martírio seriam as máquinas, também chegam a um nível de abstração que as parando
conseguirão ter as suas vidas melhoradas, e o resultado disto foi o movimento Ludista.
Este movimento consistia em invadir as fábricas e quebrar todo o maquinário
existente, o que de certa forma surtiu algum resultado. Momentaneamente, pois o patronato
comprava e ou desenvolvia outras, mais resistentes e melhores. Hobsbawn (1952) no
seu artigo The Machine Breakers (Os disjuntores de máquinas) chegou a relatar que o
real motivo dessa prática foi uma forma que os operários encontraram para se fazerem
percebidos pelos patrões, a fim de negociar e apresentar reivindicações e que inclusive
pequenos comerciantes com unidades fabris modestas participavam para tentar forjar a
concorrência dos grandes capitalistas.
Com o tempo o movimento foi arrebanhando mais e mais adeptos, pessoas que
se encontravam desempregadas, em situação de miséria extrema, que não concordavam
com o que vivenciavam e, portanto, encontraram esta forma de se expressar e apresentar
o real descontentamento, com isso desagradou os detentores do poder, que exigiu resposta
rápida por parte do governo que por sua vez, fez uso legitimado da força e da lei para punir
todos os envolvidos.
Em 1812 foi aprovada a lei que recebeu o nome de Frame-Breaking act, que
estabelecia a pena de morte para quem tivesse envolvimento com este grupo, assim
começou a caça aos ludistas, com perseguições, prisões, torturas e penas capitais. Desta
forma o trabalhador passou a ser um malfeitor, enquadrado como um possível criminoso.
O jugo pesado por parte dos governantes se tornou uma oportunidade para os
trabalhadores, estes que por sua vez decidiram se organizar para se fazerem entendidos,
nascendo assim as primeiras Trade Unions, ou como conhecemos, os sindicatos que
representavam esta classe e buscavam meios legítimos de apresentar as suas queixas.
Usaram muito das greves e até mesmo barricadas.
Tornando a situação cada vez mais complexas, pois no Estado Moderno, regido sob
a Declaração Universal dos Direitos do Homem, teria espaço para manifestações por parte
da população, bem como com o surgimento dos sindicatos alguns filósofos e intelectuais
tiveram espaço para os seus escritos e suas ideias, chegando à classe trabalhadora,
dentre eles os anarquistas, sendo Proudhon o mais proeminente, e os socialistas utópicos
e científicos, Marx e Engels que formaram bases para até os dias atuais.
Por outro lado, a classe dominante deveria também de se organizar para que
as paralisações fossem minadas ou neutralizadas. A princípio, os dominadores tomaram
duas atitudes a saber: a primeira foi o uso recorrente das práticas assistencialistas, com
18
UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social
o objetivo da manutenção da ordem capitalista e conter a insatisfação desarmando as
manifestações, levando os operários a aceitarem as suas condições de vida, com isso foi
criado a Sociedade de Organização da Caridade em Londres no ano de 1869, assunto que
estudaremos mais a fundo adiante; e o segundo foi procurar outro local anglofone para
realizar a produção de manufaturas.
Na antiga colônia inglesa, os Estados Unidos possuía ainda alguns valores típicos
da Metrópole, como o idioma, alguns costumes, a lei comum ou ordenamento jurídico e a
perspectiva econômica. Diferente da nossa, a independência estadunidense ocorreu de
uma forma brutal, através da guerra, financiada pelo reino francês, adversário histórico dos
ingleses, ainda sim se via a influência que a Inglaterra havia deixado, a qual substituiu de
forma rápida a monarquia por um governo que buscava por produção em massa.
Com isso os Estados Unidos se mostrou receptivo aos imigrantes anglos falantes,
os registros históricos relatam a grande imigração irlandesa e galesa para as terras ao oeste.
Os ventos da liberdade sopravam pelo mundo através de novas concepções filosóficas,
assim os imigrantes encontraram repouso em uma terra longínqua, pois tinham pretensões
de que se tornasse uma potência, porém os detentores do poder deste país observou
que com a chegada dos imigrantes teriam a mão de obra que precisa para as grandes
produções.
De acordo com o Departamento de Estado dos Estados Unidos, diretamente do
Escritório de Assuntos Públicos (2012. p.221) “quase 19 milhões de pessoas chegaram
aos Estados Unidos entre 1890 e 1921” e logo houve pedido de restrição aos imigrantes
ou a proibição da entrada no país, pedido que não aconteceu devido a Lei de Imigração
Johnson-Reed -1924, mantendo a permanência dos imigrantes no país.
19
UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social
Comissooaltograudeintercâmbiocomosbretões,aindustrializaçãoestadunidense
se tornou altamente possível e viável. Afinal, também possuía riquezas naturais, um vasto
território a explorar e crescer, cientistas que formaram empresas (Thomas Edison que
fundou a famosa “General Eletric” ou mais comumente conhecida como GE) e filósofos que
pensaram um Estado grande e forte, bem como uma mão de obra qualificada que também
fugia da miséria no “velho continente” e buscava oportunidades para “fazer a América”.
Quanto à adaptabilidade dos imigrantes a nova terra e as suas trocas com os residentes,
às periferias que eram formadas graças à industrialização e o processo não planejado de
expansão populacional.
Não obstante, os Estados Unidos ainda não era um país unificado, com um só
propósito, pois havia os Confederados, estados sulistas, e a União, estados do norte e da
Nova Inglaterra – atendem pela alcunha de Yankees. A Guerra Civil Americana se mostrou o
caminho mais curto para que o Estados Unidos não tão unidos chegassem a um consenso.
Certamente uma guerra não é a melhor alternativa, todavia foi importante para a
modernização da pátria, foco desta parte, pois uma parte vivia ainda o escravismo e pouca
industrialização, os estados do sul que possuíam figura dos latifundiários e militares como
os donos do poder. Já o norte e os 6 estados da Nova Inglaterra este regime de trabalho
não existia, inclusive tendo algumas fábricas instaladas e uma organização urbana também
avançada.
Após a Guerra Civil, ou conhecida também de Guerra de Secessão, os Yankees
venceram e a unidade dos Estados Unidos pode, enfim se concretizar. Efeitos negativos
Imagem 2: A grande imigração
20
UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social
foram vistos principalmente nos estados confederados, pois eram os principais produtores
do algodão do mundo e exportavam para a Inglaterra que, por sua vez, buscou outros
fornecedores dentre eles o Brasil.
Contudo, o regime federalista, concepção moderna de Estado, pode seguir em
frente dando maior autonomia aos estados para atrair investidores e incentivar a livre
iniciativa. Agora os Estados Unidos da América era uma nação moderna e adequada aos
novos moldes que as economias avançadas se encontravam. Claro que se desenvolveram
através de todo o conhecimento já adquirido e consolidado na antiga Metrópole, bem como
possuía problemas típicos de um país industrializado, se levar em conta o grande hiato que
o norte tem com o sul e como este último ficou no pós-guerra.
Poderio estadunidense, industrial e bélico, se concretizou após a I Guerra Mundial,
pela sua posição privilegiada longe dos conflitos que assolaram toda a Europa ocidental
e também por ser um grande fornecedor de materiais bélicos e de provisões de primeira
necessidade, como comida enlatada e roupas para as tropas e para os civis.
Neste momento da história, Martinelli (2003) relata que se olhar com atenção para o
continente europeu, o que se podia constatar é que estava gravemente enfermo debilitado e
sem condições de manter a sua secular hegemonia no plano mundial. A realidade impunha-
se e não havia como deixar de reconhecê-lo: os Estados Unidos eram o país vencedor
da I Guerra Mundial e para lá se deslocava o centro de referência do mundo capitalista,
pois havia naquele país uma classe dominante, que alimentava um acelerado processo de
industrialização capitalista.
REFLITA
As guerras no período conhecido como moderno, onde há a cisão entre igreja e Estado
foi por causa do capitalismo? Como creditar toda uma culpa em um sistema sendo que
a beligerância faz parte da história do homem?
Fonte: a autora.
21
UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social
Martinelli (2003) prossegue relatando que os grandes empresários americanos
seguros do seu poder e tomando por concreto algo profundamente abstrato, o seu eterno
poder de classe, a burguesia americana entendia que podia controlar o processo social,
assim como controlava o processo econômico.
A antes referida Sociedade de Organização da Caridade encontrou um grande
campo de atuação nos Estados Unidos, organizando reformas sociais e adotando práticas
assistencialistas e trabalhando a questão social de forma bem reducionista, fazendo com
que o processo de profissionalização da nossa categoria começasse a acontecer em 1904.
As tidas assistentes sociais buscavam realizar uma modelagem ideológica, com trabalhos
em torno da educação para embutir o pensamento e a mentalidade capitalista, para que
as pessoas aceitassem a condição que se encontravam, colocando que era questão de
caráter como o proletariado lidava com os seus problemas.
O Serviço Social afirma-se como uma especialização do trabalho coletivo, inscrito na
divisão sociotécnica do trabalho, ao se constituir em expressão de necessidades históricas,
derivadas da prática de classes sociais no ato de produzir seus meios de vida e de trabalho
de forma socialmente determinada. Assim seu significado social depende da dinâmica das
relações entre as classes e destas com o Estado nas sociedades nacionais em quadros
conjunturais específicos, no enfrentamento da “questão social” (IAMAMOTO, 2012, p. 203).
Nesse contexto surge uma grande expoente, a Mary Richmond que em 1897, na
Conferência Nacional da Caridade, apresentou a sua ideia de que o ser humano deve de ser
compreendido em um dado momento e como o mesmo
se interage com o meio social que faz parte. Dentre
os seus avanços destaca-se também o Case work
orientado para o diagnóstico social, para compreensão
de situações-problemas analisando a pessoa humana
de forma integrada com o seu contexto. Definindo
assim, o problema social como objeto de estudo do
Serviço Social, dando aspecto científico a nossa área.
Carvalho (2012) lembra que o diagnóstico
social, fundado no método de caso, enfatiza a
importância do trabalho com grupos e comunidades
na resolução ou transformação de problemas sociais.
Ainda sobre Richmond, Martinelli (2003) explica que ao publicar o seu livro “Diagnóstico
Social” a autora vai insistir na importância do trabalho social, em especial o seu alcance
22
UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social
quando realizado com pessoas individualmente. Partindo do princípio de que eram a base
da sociedade, o princípio da organização social, considerava que a essas pessoas como
seres individuais que deviam dirigir-se os esforços dos trabalhadores sociais, no sentido de
manter o funcionamento adequado da sociedade. Adotando, assim, a linha da psicanalítica
que era tradicional na abordagem estadunidense. O livro provocou tamanha comoção e
revolução para a categoria que o nosso valor foi finalmente reconhecido.
Segundo Martinelli (2003) em 1919 a Escola de Filantropia Aplicada foi incorporada
à Universidade de Columbia, e em 1920, fundava-se em Nova Iorque a Associação
Nacional de Trabalhadores Sociais, visualizando o inquérito como um instrumento de
fundamental importância para a realização do diagnóstico social e, posteriormente do
tratamento, acreditava Richmond que só por meio do ensino especializado poder-se-ia
obter a necessária qualificação para realizá-lo, com isso surge à profissão na qual ao longo
de toda a história houve mudanças fundamentais para uma profissão inserida na divisão
sociotécnica do trabalho.
SAIBA MAIS
Mary Ellen Richmond é reconhecida como a pioneira do Serviço Social profissional no
sentido de ter elaborado as primeiras produções teóricas do Serviço Social e de ter in-
fluenciado o Serviço Social em todo o mundo. Duas de suas obras, O diagnóstico social
(1917) e O que é Serviço Social de casos (1922), reúnem as principais ideias dessa
autora sobre o Serviço Social de casos individuais e representam a base que deu início
à produção teórica no campo do Serviço Social. Esse pensamento pioneiro espalhou-se
pela Europa e por outras partes do mundo onde o Serviço Social se institucionalizou
como profissão. No Brasil, a influência do Serviço Social estadunidense se faz presente
especialmente a partir da década de 1940, com o intercâmbio entre os dois países, que
promoveu a ida de representantes do Serviço Social brasileiro aos Estados Unidos.
Fonte: COSTA, Gilmaisa Macedo da. Revisitando o Serviço Social clássico. 2017. Disponível em: https://
www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revistaempauta/article/download/32747/23547. Acessado em: 05 de
setembro de 2019.
23
UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social
4 INFLUÊNCIA DO ESTADO, IGREJA E ORGANIZAÇÕES SOCIAIS NA GÊNESE DO
SERVIÇO SOCIAL
Ao longo desta unidade nos apropriamos de muitos saberes que nos clareia de
como a nossa sociedade se formou até a pós-modernidade, aprendemos que para que
houvesse a Revolução Industrial muito precisou a ser feito e que coadunou esforços múltiplos
causados por uma massiva desigualdade social e uma expansão no sistema capitalista, e
dentro de todo o contexto surge o Serviço Social, vinculado ao pensamento conservador
da igreja católica, tinha cunho de ação educativa, na qual passou a atuar em entidades
filantrópicas por meio do Estado, seguindo uma linha de prevenção aos problemas sociais,
visto que a questão social culminou na Revolução Industrial era tida como um problema
causado pelo indivíduo e neste caso precisava de uma ação curativa, trabalhando a moral
e a religiosidade.
Iamamoto (2002, p.18) nos apresenta que “como profissão inscrita na divisão
do trabalho, o Serviço Social surge como parte de um movimento social mais amplo, de
bases confessionais, articulado à necessidade de formação doutrinária”, com isso a igreja
buscava recuperar parte do seu prestígio que havia perdido com a expansão do capitalismo,
culminando com aumento da sociedade nos centro urbano e as dificuldades que estava
enfrentando na sua relação com o Estado.
24
UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social
SAIBA MAIS
A intervenção do Estado na “questão social” é legítima, já que este deve servir ao bem
comum. O Estado deve assim preservar e regular a propriedade privada, impor limites
legais aos excessos da exploração da força de trabalho e, ainda, tutelar os direitos de
cada um, especialmente dos que necessitam de amparo.
Fonte: Iamamoto, Marilda Vilela. Renovação e Conservadorismo no Serviço Social. 6 ed. São Paulo,
Cortez, 2002.
A formação de um Estado não mais pautado ou resumido a um mandatário foi uma
pré-condição para que a liberdade econômica pudesse atingir o desejado cenário para que
a livre iniciativa fosse dada. Afinal, o poder não era mais personificado e sim uma instituição.
Neste sentido, Pereira (2008, p.148) ressalta que o Estado é ao mesmo tempo uma
relação de dominação, ou a expressão política da dominação do bloco no poder, em uma
sociedade territorialmente definida, e um conjunto de instituições mediadoras e reguladoras
dessa dominação, com atribuições que também extrapolam a coerção. Nesse contexto, o
governo ganha persona própria, jurídica, separada tanto da persona física do governante
quanto da instituição estatal.
O marco da modernidade está em ter a separação total e completa da política com
a Igreja, a última não tendo mais as famosas predileções que antes estava habituada.
Cabendo à Igreja o lugar de tratar das coisas metafísicas que fogem a compreensão terrena
e científica. O protestantismo, em especial o calvinismo foi muito importante para a atividade
empreendedora, basta resgatarmos a leitura de Weber em “A ética protestante e o espírito
do capitalismo” onde há um estudo aprofundado dos valores da religião para o capitalista.
Tendo essas instituições devidamente separadas e cada qual com a sua atribuição,
nos inclinamos a compreender a contribuição que deram para a nossa categoria, as
influências diretas que cada qual para o nascimento e como nos situamos em nosso tempo
espaço de evolução enquanto ciência e profissão.
A começar pelo Estado, que legitimou a nossa atividade e nos fiscaliza quanto a
nossa prática. Ao longo do tempo, percebe-se que o serviço público foi se tornando o maior
demandador do nosso saber. Assim, destaca-se:
25
UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social
Os projetos profissionais apresentam a auto-imagem de uma profissão, ele-
gem os valores que a legitimam socialmente, delimitam e priorizam seus ob-
jetivos e funções, formulam os requisitos (teóricos, práticos e institucionais)
para o seu exercício, prescrevem normas para o comportamento dos pro-
fissionais e estabelecem as bases das suas relações com os usuários de
seus serviços, com as outras profissões e com as organizações e instituições
sociais privadas e públicas (inclusive o Estado, a que cabe o reconhecimento
jurídico dos estatutos profissionais). (Netto 2001, p. 4).
Sobretudo, após as Guerras Mundiais e toda organização humana, em meio a
catástrofes e destruição maciça, houve a necessidade de que os países se organizassem a
fim de dar novas perspectivas aos cidadãos atingidos diretamente pelos confrontos bélicos
e a resposta vem como o Welfare State, ou Estado de Bem Estar Social. Teve como principal
motivo evitar o avanço da ameaça comunista, usando de políticas econômicas keynesianas
para emprego e distribuição de renda. Destaca-se que a Seguridade Social, Previdência e
Saúde começaram a ser adotadas em grande parte do mundo e se tornaram universais e
para todos.
Quanto às organizações sociais Martinelli (2003) cita que o criador não podia deixar
de legitimar a criatura, ou seja, era ratificado pela burguesia, o que soa estranho e cria
certo paradoxo, pois essa legitimação de sua prática não decorreu da população usuária,
mas sim da classe dominante – os mandantes da prática – e, depois, os contratantes dos
serviços profissionais dos assistentes sociais. Vimos que foi um movimento dos empresários
para que as ressurreições operassem e fossem apaziguadas e sem maiores prejuízos aos
cofres dos mesmos.
Portanto, era uma prática que atendia aos interesses dos grandes proprietários de
fábricas, não indo de encontro com o que a classe trabalhadora almejava e necessitava para
sobreviver. Martinelli (2003) nos lembra de que alguns assistentes sociais se alinhavam ao
Estado e à Igreja como uma forma de ampliar os espaços de atuação e para se consolidar
enquanto profissionais, na verdade, segundo relata a autora, nos Estados Unidos, a partir de
1920, ganhava força a Associação Nacional de Trabalhadores Sociais, enquanto na Europa
o esforço estava em garantir uma hegemonia do pensamento católico, apresentando um
espectro bem interessante, pois o protestantismo era base dos capitalistas, enquanto o
catolicismo atendia os operários.
Na lógica cristã e toda a sua doutrinação é explícita na seguinte citação:
O assistente social deveria, assim: ser uma pessoa da mais íntegra forma-
ção moral, que a um sólido preparo técnico alie desinteresse pessoal, uma
grande capacidade de devotamento e sentimento de amor ao próximo; deve
ser realmente solicitado pela situação penosa de seus irmãos, pelas injusti-
ças sociais, pela ignorância, pela miséria, e a esta solicitação devem corres-
26
UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social
ponder às qualidades pessoais de inteligência e vontade. Deve ser dotado
de tantas outras qualidades inatas, cuja enumeração é bastante longa: de-
votamento, critério, senso prático, desprendimento, modéstia, simplicidade,
comunicatividade, bom humor, calma, sociabilidade, trato fácil e espontâneo,
saber conquistar a simpatia, saber influenciar e convencer, etc. (IAMAMOTO;
CARVALHO, 2008, p. 227).
A construção da influência da Igreja se tornou bem evidente em alguns períodos
na história da nossa categoria, vamos destacar da formalização com a fundação da Escola
Católica de Serviço Social no ano de 1911 em Paris. Que a princípio usava da abordagem
de trabalho em núcleos sociais e refletiam a questão social pela doutrina social da Igreja.
Prática essa que atingiu toda a Europa e chegou até ao Brasil como Yazbek (2009, p.145)
constatou:
[...] é por demais conhecidas à relação entre a profissão e o ideário católico
na gênese do Serviço Social brasileiro, no contexto de expansão e seculari-
zação do mundo capitalista. Relação que vai imprimir à profissão caráter de
apostolado fundado em uma abordagem da „questão social‟ como problema
moral e religioso e numa intervenção que prioriza a formação da família e do
indivíduo para solução dos problemas e atendimento de suas necessidades
materiais, morais e sociais. O contributo do Serviço Social, nesse momento,
incidirá sobre valores e comportamentos de seus “clientes na perspectiva de
sua integração à sociedade, ou melhor, nas relações sociais vigentes”. (YA-
ZBEK, 2019, p. 145).
Diante das desigualdades sociais, a classe operária começou a fazer grandes
mobilizações, não se fala em outra coisa a não ser a “questão social” obrigando o Estado a
se posicionar frente a tal demanda e consequentemente a igreja também se posicionou,
buscando nos princípios das encíclicas papais (Rerum Novarum e Quadragesimo Anno) o
seu processo interventivo, pois para a igreja tal atitude era vista como a falta da religiosidade.
A forte influência da Igreja Católica
se fazia presente antes mesmo da sua
formalização em Paris se resgatar a
Encíclica Rerum Novarum, que significa
Das Coisas Novas, divulgada em 1891
pelo Papa Leão XIII como uma crítica
a situação da classe trabalhadora em
detrimento dos ganhos capitalistas.
Imagem 4: Igreja Católica e suas influências
27
UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social
Ao divulgar os dogmas católicos, o Papa lembra que as mudanças ocorridas na
sociedade, fizeram com que as classes se esquecessem das coisas de Deus. De acordo
com a Castro (2003) a encíclica Rerum Novarum se dividiu em duas partes a primeira ficou
baseada em solucionar os problemas baseado nas propostas pelo socialismo e a segunda
a proposta da própria igreja que era a de manter a causa do bem comum, visto que poderia
ganhar forças com os operários por ser a maior parte da população, colocando capitalismo
em alerta. Mas é na encíclica Quadragesimo Anno que a igreja se reafirma após a um apelo
aos católicos daquele período.
SAIBA MAIS
Aos nossos muito amados Filhos eleitos para a tão grande obra recomendamos... que,
se entreguem totalmente à educação dos homens que lhe confiamos e que nesta tare-
fa verdadeiramente sacerdotal e apostólica usem oportunidades todos os meios mais
eficazes da educação cristã: ensina aos jovens, instituir associações cristã e fundar
círculos de estudo.
Fonte: CASTRO, Manuel Manrique. História do Serviço Social na América Latina. 6Ed. São Paulo. Cortez,
2003. p. 61.
É evidente que a Igreja encontrou a oportunidade de reforçar o seu poder ao divulgar
a Encíclica Quadragesimo Anno em 1931 com o Papa Pio XI, a qual reforçava os valores
da anterior, assegurando soluções ao problema espinhoso da questão Social e em meio ao
pós guerra que o mundo ainda buscava superar.
Expondo que o amor ao próximo, no sentido cristão da palavra, não se fazia
mais presente e a exploração em nome do lucro se fazia senhor. Assim, ao se discutir
sobre as causas do conflito de classes, a encíclica credita toda a culpa na ganância e o
desvirtuamento da postura cristã, a saber que de longa data a Igreja se posicionava contra
a Usura ou lucros.
Vale ressaltar que a Igreja também se posicionava contra o socialismo ao defender
a propriedade privada, contraditório ao se tratar dos direitos da igreja e dos operários.
Ao nos situarmos no período histórico, havia levantes socialistas que questionavam sobre
a posse de terras e como estavam concentradas, que oriundos da Revolução Francesa,
queriam dar cabo aos domínios diversos, entendendo que se classe operária produz a ela
pertence.
28
UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social
Das coisas novas também preconizava o descanso sagrado que todo filho de Deus
tinha direito e dever ao referir “Guie-se o operário ao culto de Deus, incite-se nele o espírito
de piedade, faça-se principalmente fiel à observância dos domingos e dias festivos. Aprenda
ele a amar e a respeitar a Igreja, mãe comum de todos os cristãos, a aquiescer aos seus
preceitos, a frequentar os seus sacramentos, que são fontes divinas onde a alma se purifica
das suas manchas e bebe a santidade.”
Assim como relutava a jornada exaustante de trabalho que muitos operários eram
sujeitados, lembrando que crianças e mulheres grávidas trabalhavam em locais insalubres
e muitas horas de serviço sem as devidas pausas. “O direito ao descanso de cada dia
assim como à cessação do trabalho no dia do Senhor, deve ser a condição expressa ou
tácita de todo o contrato feito entre patrões e operários. Onde esta condição não entrar, o
contrato não será justo, pois ninguém pode exigir ou prometer a violação dos deveres do
homem para com Deus e para consigo mesmo.”
Diante do que vimos até aqui, fica evidente que o Serviço Social surgiu em um cunho
conservador vinculado a igreja católica, tendo influência do Estado e das organizações, tudo
isso para manter ordem entre o capital e o proletariado. A Este pensamento conservador a
Iamamoto (2002) traz como sendo dedutivo, atendendo às situações imediatas e particulares
a partir da estrutura da sociedade, visando o controle da situação circunstancial, e este tipo
de comportamento é reflexo da Revolução Francesa e da Revolução Industrial.
Portanto, fica evidente que o Serviço Social se desenvolve em um universo
influenciado pelo pensamento conservador religioso, mas conforme a sociedade evoluiu
foi necessário algumas reflexões, nas quais os profissionais passaram a incorporar ideias
do elemento da sociologia conhecida como noção de comunidade esta teoria se tornou a
matriz central do capitalismo e um estudo que passou a nortear toda a ação profissional.
REFLITA
“A noção de comunidade relacionava a todo tipo de relação ocorrida na sociedade, bem
como as suas implicações”.
Fonte: a autora.
29
UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Caro(a) aluno(a), ao longo desta unidade buscamos entender como o Serviço Social
nasceu em meio a toda a dinâmica global e econômica que o mundo estava a vivenciar e
retroalimentando. Ao chegar ao fim da primeira unidade, espera-se o seu entendimento que
astransformaçõesqueumnovomodeloeconômicotrouxeconsigo,alterandoprofundamente
a lógica humana.
Fazer esse trabalho de resgatar a historicidade é oportuno e valioso para que
percebamos que essa transição de contato com o trabalho e com o modo de vida gerou
atribulações e resistência por uma parte da população que fora submetida à essa nova
razão imperiosa.
Desta forma, a própria sociedade precisou dar respostas a essa agitação que
historiadores e o Serviço Social foi um dos revides usados pela burguesia, Estado e Igreja
no intuito de controlar e acalmar uma classe que se encontrava inflamada, pouco adaptada
e, até mesmo, se mostrando venturosa muitas vezes.
O papel da ciência é de desmistificar, usando da dialética, a sabedoria convencional
e o senso comum. Digo isso, pois, são raras vezes que escutamos populares a categorizar a
nossa profissão como uma forma de acolhimento e apoio, fornecendo elementos primários
para a vida humana, como alimentos e roupas, por exemplo, ou mesmo para lutar contra os
ricos e poderosos chamando a atenção para os pobres e necessitados.
Aprendemos que não é esse o foco do assistente social e tão pouco o profissional
fora concebido para esse fim. Nascemos e atuamos seguindo a lógica capitalista sob
a influência da igreja católica, para manter a ordem e neutralizando ou dirimindo os
trabalhadores de se rebelarem contra o sistema vigente e tentando entender por meio de
teorias a causas de suas mazelas.
Com isso o mecanismo científico como investigação, pesquisa, diagnóstico das
demandas sociais e problematização da profissão foram desenvolvidos para que tivéssemos
a profissionalização dos dias atuais, na qual estudaremos nas próximas unidades. Contudo,
nada é dado e completo ainda, pois o Serviço Social tem outras causas e discussões a fazer,
outros aspectos filosóficos a estudar que ainda fundamentam a prática do profissional,
pois o mundo está em constante mudança e sempre apresentando novas reivindicações e
contextos voláteis.
30
UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social
LEITURA COMPLEMENTAR
(...)
Richmond foi assistente de tesouraria e depois eleita secretária-geral da COS
(Charity Organization Society) de Baltimore, em 1891. As COS’s, que se espalharam nos
EUA, eram instituições de caridade que chegaram àquele país através da experiência
inglesa, como um esforço de cooperação entre Estado (especialmente prefeituras) e Igreja
(sobretudo protestante) para assistir às necessidades de famílias pobres, a partir de práticas
de auxílio material e educação moral com uma abordagem individualizada.
Acontece que outras experiências de assistência aos pobres também ganharam
notoriedade. Os Settlement Movements, liderados por Jane Addams, inspiraram-se nas
experiências do Toynbee Hall da Inglaterra e criaram as Hull Houses. Diferente das COS’s,
sua proposta era a de promover um espírito de cooperação e solidariedade em bairros
pobres, de modo que seus moradores pudessem, em um processo coletivo e orientado
pelas residentes, aprender a importância do espírito de grupo, de forma a superar as
próprias dificuldades, e a importância da organização coletiva para reivindicar melhorias
em suas condições de vida. Jane Addams se tornou internacionalmente conhecida como
uma ferrenha militante da reforma social e crítica de todas as práticas que ela caracterizava
como “antidemocráticas”: a de desqualificar o modo de vida dos pobres e tentar impor-lhes
um padrão de comportamento dominante.
O palco para esses e outros debates era a Conferência Nacional sobre Caridade
e Correção [National Conference of Charity and Correction], que reunia anualmente
instituições, filantropos, religiosos, políticos e todos aqueles que viam nas ações de
caridade uma importante ferramenta de intervenção sobre a vida dos pobres com vistas
à mudança social. Todavia, que tipo de mudança, mudança para quê, como mudar, o que
era a “caridade”, e o que precisava ser “corrigido” passavam a fazer parte das polêmicas
debatidas nas conferências.
Mesmo que nem as COS’s e nem as Hull Houses tivessem alguma pretensão
revolucionária, eram nítidas suas diferenças de concepção, tanto de projeto como de
abordagem. Pelo impacto que os Settlement Movements passaram a ter em várias
metrópoles nos EUA, Jane Addams foi convidada para apresentar a experiência na reunião
da Conferência realizada em 1897. Não por acaso, a publicação de “Friendly visiting among
31
UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social
the poors” ocorre dois anos depois; ousamos dizer que o livro é um esforço de Richmond
para afirmar o projeto das COS’s.
Isso fica claro já no Prefácio escrito por Richmond, quando exalta o pioneirismo de
Bernard Bonsanquet, Charles Loch e Octavia Hill com as COS’s na Inglaterra e o quanto
ela aprendeu ao conhecer o trabalho na primeira COS dos EUA, a de Nova York, fundada
por Josephine Shaw Lowell. E que, apesar de reconhecer o trabalho de Jane Addams, a
autora diz o livro que ora escreve é uma forma de pagar uma dívida com todos aqueles que
há muito investem no trabalho das associações de caridade com base na “visita amigável”.
Isso se revela no fato de ela dedicou dois capítulos ao homem: o primeiro discute
a sua condição de trabalhador no espaço público, o que o faz provedor do sustento; e o
segundo, a sua função como provedor dentro do lar [The breadwinner at home], o que o faz
chefe de família. E é nesse momento que ela aponta quais as grandes dificuldades que os
visitadores amigáveis encontram quando se deparam com chefes de família “vagabundos” -
vale lembrar que Richmond fala de visitas a pobres, de quem o “caráter” deve ser observado
pelos visitadores.
A tradicional visão do papel do “feminino” como mantenedor da moral, dos bons
costumes, da educação das crianças, de sua alimentação, da limpeza da casa e das
responsabilidades religiosas é naturalmente reproduzida pela autora como um dos focos
de atuação dos visitadores amigáveis para ajudar a família a resolver as causas de suas
necessidades.
(...)
Fonte: TONIOLO, Charles. Visita amigável entre os pobres: um manual para trabalhadores da
caridade, de Mary Ellen Richmond. 2019. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0101-66282019000300583.
32
UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social
MATERIAL COMPLEMENTAR
LIVRO 1
Título: Capitalismo Monopolista e Serviço Social.
Autor: José Paulo Netto.
Editora: Cortez.
Sinopse: Este livro nos apresenta o surgimento da profissão
vinculado a sua história à emergência do Estado Burguês na
idade do monopólio, bem como os projetos das classes sociais
fundamentais e à execução das Políticas Sociais. Além de abordar
a teoria e prática do Serviço Social fundamentada no sincretismo.
LIVRO 2
Título: Renovação e Conservadorismo no Serviço Social: Ensaios
Críticos.
Autora: Marilda Vilela Iamamoto.
Editora: Cortez.
Sinopse: Este livro oferece uma síntese crítica das problemáticas
centrais da profissão, iluminadas por um foco teórico singular e
tratadas com a sua reconhecida competência. Painel das grandes
polêmicas dos anos oitenta, a herança conservadora do Serviço
Social e sua ultrapassagem, a profissão e a divisão social do
trabalho, a questão social e a era do monopólio, a formação
profissional e suas perspectivas.
33
UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social
FILME/VÍDEO
Título: Tempos Modernos.
Ano: 1936.
Sinopse: Um operário de uma linha de montagem, que testou uma
“máquina revolucionária” para evitar a hora do almoço, é levado à
loucura pela “monotonia frenética” do seu trabalho. Após um longo
período em um sanatório ele fica curado de sua crise nervosa, mas
desempregado.
FILME/VÍDEO
Título: Gangues de Nova York.
Ano: 2003
Sinopse: Em plena Nova York de 1840, o jovem Amsterdam
(Leonardo DiCaprio) busca se vingar de William “The Butcher”
Cutting (Daniel Day-Lewis), o assassino de seu pai (Liam
Neeson), que era o líder da gangue Dead Rabbits. Em sua jornada
Amsterdam acaba se tornando amigo e homem de confiança de
William, apaixonando-se também por Jenny Everdane (Cameron
Diaz), uma bela jovem que é integrante de uma gangue rival.
34
Plano de estudo:
● Nascimento das ciências sociais e a “questão social”
● Neotomismo, Positivismo e Funcionalismo
● Serviço Social de Casos
● Fenomenologia aplicada ao Serviço Social
Objetivos de Aprendizagem:
● Como as ciências sociais surgiram e sua relação com a questão social;
● As teorias do Neotomismo, positivismo e funcionalismo para o Serviço Social;
● O Serviço Social de Casos de Mary Richmond e seus estudos;
● As teorias da Fenomenologia para o Serviço social.
UNIDADE II
Bases Teórico-Metodológicas para o
Serviço Social
Professora. Esp. Irení Alves de Oliveira
35
UNIDADE II Bases Teórico-Metodológicas para o Serviço Social
INTRODUÇÃO
Caro(a)aluno(a),nestaunidadevamosaprenderquaisasteoriasquefundamentaram
o Serviço Social como profissão, para isso é necessário buscar nos estudos de grandes
filósofos como Karl Marx, Max Weber e Émile Durkheim como a sociologia deu base para a
surgimento de novas ciências sociais e o que de fato essas ciências estudam.
Também vamos conhecer como as teorias do neotomismo, positivismo e o
funcionalismo foram base para a profissão, bem como as suas relações diante da formação
de profissionais. É importante destacar que as teorias de Mary Richmond foram importantes
para que o Serviço social pudesse se tornar uma profissão a partir de estudos em escolas,
na qual ser assistente social passou a ser conhecida como profissão e não mais como
ajuda ou caridade.
As teorias de Richmond foram fundamentais para entender muitos processos para
a profissão, sendo necessário buscar base teórica em correntes de outros pensadores
criando assim uma corrente conservadora, mas que fundamentava a profissão. E por fim,
como a teoria de Husserl foi direcionada para a profissão e até que ponto esta teoria foi
fundamental para a profissão, visto que tivemos muitos autores que enfatizaram a falta de
compreensão da verdade corrente que apresenta a fenomenologia.
Estudar as bases teóricas é imprescindível para a profissão, pois a partir dessas
correntes é que o Serviço social saiu daquele formado de caridade e ajuda e deu início
a uma profissão fundamentada nas bases teóricas de grandes pensadores, que foram
importantes no início da profissão, é inevitável que a corrente conservadora predomina no
perfil dos profissionais dos anos 1960 por diante, mesmo que buscavam por vertentes que
levasse a profissão para outro patamar.
E a partir dessas informações Caro(a) aluno(a) que lhe convido a se aprofundar nos
conteúdos desta unidade, pois a profissão passou por muitas mudanças e revisão na base
teórica para chegar ao formato que se encontra atualmente, é claro que tem muita coisa
ainda a ser melhorado, mas para que isso possa acontecer é importante conhecermos o
surgimento da profissão a partir das bases teóricas.
36
UNIDADE II Bases Teórico-Metodológicas para o Serviço Social
1 NASCIMENTO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS E A “QUESTÃO SOCIAL”
De acordo com o que estudamos no primeiro capítulo deste livro, por volta do
século XVIII houve grandes mudanças no formato que a sociedade estava organizada,
está mudança teve início na Europa com o surgimento da industrialização, marcando
profundamente nas relações de trabalho, além dos inúmeros problemas sociais na qual se
perpetua até os dias atuais, englobando as áreas das ciências, da economia, da religião e
da política, emergindo assim a profissão de Serviço Social.
Diante deste contexto que pensadores como Karl Marx, Max Weber e Émile
Durkheim contribuíram para o desenvolvimento de uma ciência na qual tem como viés
entender as diferenças de classes e o motivo das desigualdades sociais tendo como foco
o fenômeno social, esta ciência é conhecida como sociologia, sendo à base das diversas
ciências sociais como: a Economia; a História; a Geografia; a Antropologia; a Ciência
Política; a Comunicação Social e o Serviço Social.
A sociologia se mostra importante para nossa profissão, pois nos dá base teórica
e sustentação científica para o nosso objeto de estudo: a questão social é por meio desta
ciência que conseguimos compreender um problema social enraizado nas diversidades das
desigualdades sociais geradas pelo capitalismo, na qual uma pequena parcela da sociedade
se apropria do lucro causado por uma massiva produção de trabalho, desenvolvido por uma
grande parcela da sociedade.
37
UNIDADE II Bases Teórico-Metodológicas para o Serviço Social
Mas, para adentrar em todo este conceito é importante conhecermos o surgimento
da sociologia que, de acordo com Bressan (2008), deu-se a partir de dois momentos,
o primeiro em 1830 com a emergência da classe operária devido à efervescência do
processo de industrialização e as suas condições precárias de trabalho e segundo foi em
1848 com a mudança do regime e ou resquícios da monarquia francesa, onde o sistema
de castas e privilégios foi derrubado, pois nascia uma nova ordem socioeconômica. Os
liberais, integrantes de uma classe sem títulos reais e empresários, entravam em cena
demonstrando que o outro poder estava já enraizado e aceito. Neste momento assistimos
o fortalecimento do capitalismo e da necessidade de entendê-lo, e consequentemente as
diversas expressões da questão social.
Caro(a) aluno(a), é importante considerarmos que a sociologia é um estudo científico
que tem como base as relações sociais e fenômenos que envolvem o ser humano,
normalmente não segue uma norma e muito menos faz juízo de valor em relação aos
estudos abordados, pois além de se basear em estudos mais objetivos relacionados à
natureza humana busca se aproximar da realidade social por meio de um universo
sociocultural na qual o homem está inserido.
Partindo desta lógica que a sociologia expande suas pesquisas, tendo as ciências
sociais como ramo das diversas áreas do saber, com um único propósito estudar o homem
em sociedade, mas para entender toda esta dinâmica, faz-se necessário buscarmos
na obra “Sociologia Geral” da autora Eva Maria Lakatos publicada em 1990, as teorias
dos três pensadores já citados que contribuíram para o desenvolvimento da sociologia e
consequentemente das ciências sociais.
Começaremos por Karl Marx um filósofo de
formação, aluno mais brilhante de Hegel, oriundo de
uma família judaica que foi o responsável pela a primeira
cientificação do socialismo, usando do materialismo
histórico e dialético para demonstrar as contradições do
capital e como a questão humana ficava degenerada no
contexto de um trabalho intenso nas fábricas.
O mesmo intelectual defendeu que o homem é um
ser social, pois vive em comunidades e as suas relações
com o meio precisam ser mediadas pelo outro. Dentro
desta linha, quando temos o que ele chama de relação de
Imagem 1: Karl Marx (1818-1883)
38
UNIDADE II Bases Teórico-Metodológicas para o Serviço Social
produção, o homem precisa se relacionar com os demais para que possa se desenvolver
como ser social.
Outra contribuição importante, tida por especialistas como a pedra angular da sua
teoria é a luta de classes, ou seja, como as pessoas das mais diferentes camadas sociais
se relacionam, Marx as dividiu em duas, a saber: Operários e Burgueses, de um lado a luta
de classes é o que define como as pessoas se posicionam e como elas poderão garantir os
seus direitos perante a sociedade e do outro a classe burguesa detentora do poder na
busca por ampliar o seu lucro diminuindo cada vez mais o seu concorrente.
Este pensador também enfatiza que a sociedade se fraciona em Infraestrutura
baseado nas relações de trabalho e nas forças produtivas bem como na superestrutura
regida por leis e normas e por um conjunto de ideias imposta pela classe social dominante,
causando diversas implicações movidas por grandes desigualdades sociais.
Durkheim foi conhecido como um sociólogo,
antropólogo, cientista político, psicólogo social e
filósofo Francês, conhecido como pai da sociologia,
foi o principal idealizador da ciência social, a sua
preocupação era como a sociedade manteria a
integridade e a coerência no aspecto moderno.
considerado como o primeiro professor de sociologia
fundou a revista L’Année Sociologique.
O seu estudo tinha dois princípios: o primeiro
ficou conhecido por consciência coletiva, na qual
tinha como entendimento a soma da crença e a dos
sentimentos, para ele o ser humano é movido de
acordo com o grupo pelo qual pertence, buscando a
moral e a mentalidade como aspecto para agir, pensar
e sentir, de acordo com este pensador a consciência
coletiva normalmente se sobrepõe a consciência
individual que basicamente age, pensa e senti fora do grupo o que normalmente acaba
sendo excluído do meio social tendo consequências severas em seu meio existencial.
E o segundo é dividido em dois aspectos, a primeira é solidariedade mecânica
basicamente se trata das semelhanças entre os indivíduos de um determinado grupo, ou
seja, para que o grupo possa se manter é necessário que se pense no todo, não é permitido
agir de forma individual e quando isso acontece o membro é degenerado do grupo. E a
Imagem 2: Émile Durkheim (1858 – 1917)
Fonte da imagem: https://vestibular.uol.
com.br/resumo-das-disciplinas/atualida-
des/100-anos-de-durkheim-conheca-o-
-pensamento-de-um-dos-pioneiros-da-so-
ciologia.htm
39
UNIDADE II Bases Teórico-Metodológicas para o Serviço Social
segunda é a solidariedade orgânica que tem como base uma consciência livre, neste caso
o pensamento e as atitudes não são mais baseadas na semelhança do indivíduo dentro de
um determinado grupo, mas na autonomia enquanto ser pensante de seus próprios ideais.
Weber é considerado um estudioso
da sociologia moderna, tinha como objetivo
compreender a conduta social a partir da análise
do comportamento do indivíduo em meio às
relações sociais. Um dos métodos de estudo
de Max foi a ação social a partir da formação do
capitalismo, conceito aprimorado no livro “A ética
protestante e o espírito do capitalismo.
Para este pensador a conduta social
se dividia em quatro condutas: a tradicional;
emocional; a valorizadora e a racional-objetiva,
e para entender essas quatro condutas foi
necessário buscar nas tradições antigas e
atuais daquela época como a sociedade se comportava, quais eram os seus hábitos e ou
comportamentos, o que as pessoas esperavam umas das outras e quando as pessoas
agiam a partir do que as outras pessoas esperavam delas.
O estudo do Max Weber contribuiu para entender o método de Durkheim na questão
do valor e do julgamento, ele compreendeu que os valores poderiam ser um problema de
fé, mas não por falta de conhecimento, provocando nas ciências sociais a questão de não
focar nos valores e sim na análise dos acontecimentos das ações sociais, simplesmente
pelo fato de que os seres humanos têm total consciência das suas ações sociais a partir da
sua conduta humana em meio à sociedade.
Caro(a) aluno(a), como pudemos observar os estudos desenvolvidos pelos três
pensadores da Sociologia foram fortemente influenciados nas áreas do saber, principalmente
na área de humanas, e um dos estudos que abrange essas áreas é a da Ciências Sociais.
Para entender este conceito é importante compreendermos o que significa a palavra
Ciência. De acordo com Lakatos (1990, p. 15) é “uma sistematização de conhecimento, um
conjunto de proposições logicamente correlacionadas sobre o comportamento de certos
fenômenos que se deseja estudar”, partindo desta lógica que a Ciências Sociais passou a
ter como foco estudar o homem na sociedade, buscando analisar as suas relações sociais
Imagem 3: Max Weber (1864 – 1920)
40
UNIDADE II Bases Teórico-Metodológicas para o Serviço Social
e a partir deste conceito é que a Ciências Sociais nasce como uma área que abrange outras
áreas tendo como foco de estudo o homem em sociedade.
SAIBA MAIS
Karl Marx, Max Weber e Émile Durkheim são conhecidos como: “os três porquinhos”,
este carinhoso apelido foi dado por professores e alunos da Sociologia, que logo expan-
diu nas demais áreas do saber e por mais suas teorias fossem diferentes, acabaram
tendo como foco os fenômenos sociais, buscando entender o ser humano em meio à
sociedade. É importante destacarmos que estes pensadores foram e são fortemente
influenciados na profissão de Serviço Social, principalmente para entender o homem e
suas relações sociais.
Fonte: a autora.
1.1 QUESTÃO SOCIAL OBJETO DE ESTUDO DO SERVIÇO SOCIAL
É evidente que com o
nascimento das ciências sociais trouxe
grandes reflexões para as diversas
áreas do saber, principalmente para
o Serviço Social que tem com o seu
objeto de estudo a questão social, mas
você deve estar se perguntando, qual
a relação entre si, ora caro (a) aluno
(a), a ciências sociais tem como foco estudar o homem em meio à sociedade e a questão
social por sua vez estuda o conjunto de expressões das desigualdades sociais gerado pelo
acúmulo de riquezas, ambos os conceitos surgiram na busca de entender a expansão do
capitalismo e a relação do trabalho.
De acordo com a Iamamoto (2012, p.114) “Aquestão social é expressão do processo
de produção e reprodução da vida social na sociedade burguesa da totalidade histórica
Imagem 4: Processo de Produção
41
UNIDADE II Bases Teórico-Metodológicas para o Serviço Social
concreta”, ou seja, a questão social emergiu em um contexto que a produção se tornou
cada vez mais forte no sistema capitalista.
Desta forma, o capitalismo se apropriou da força de trabalho da classe operária
para se manter no poder, como isso surgiu às múltiplas expressões da questão social,
como por exemplo, o desemprego e a precarização nas relações de trabalho, situação pelo
qual se arrasta até os dias atuais.
Na busca por compreender as teorias de Marx, Weber e Durkheim em relação ao
fenômeno social, pudemos constatar que a desigualdade social é um processo histórico que
teve seu início na idade média, mas se expandiu com o modo de produção capitalista, mais
especificamente no processo de industrialização, tendo em sua base central a propriedade
privada e consequentemente a exploração da mão de obra e a precarização na relação de
trabalho, refletindo diretamente na vida do trabalhador.
Para Marx (1989) a acumulação do capitalismo é resultado da venda da força de
trabalho, na qual o autor descreve como exército industrial de reserva ao dispor deste
sistema opressor, a força de trabalho acaba pertencendo de forma absoluta, como se
estive sido criado pelo capitalismo. Nesta perspectiva o autor retrata que este sistema
capitalista fornece condições variáveis para o modo de produção, na qual o trabalhador
fica à disposição para a exploração independente se houve aumento ou não da população,
cabe destacar que quanto mais à força produtiva do trabalho aumenta, mas o capitalismo
expande e consequentemente a desigualdade social.
Marx foi o pensador que mais retratou a relação capital X trabalho, em sua obra o
Capital, é abordado à trajetória e o contexto desta relação, mas em nenhum momento este
brilhante pensador utiliza o termo questão social para retratar o pauperização, e você deve
estar se perguntando, como surgiu este termo e como ele se tornou o objeto de estudo do
Serviço Social.
Para Castel (1998) a questão social originou-se no ano de 1831 a partir de uma
acusação feita ao governo francês, em que o jornal legitimista La Quotidienne, chamou a
atenção dos parlamentares da época, dizendo que era necessário entender além da busca
pelo poder do capitalismo, pois existia uma “questão social” carente buscando por respostas
emergentes, devido à pauperização em que os trabalhadores estavam enfrentando,
decorrente do processo de industrialização e suas consequências.
Em sumo, a questão social foi concebida por meio da acumulação do capitalismo
e na luta da classe trabalhadora, na qual teve a intervenção o Estado, por meio da criação
de políticas públicas para manter a ordem social, e diante de todo este cenário é que a
profissão de Serviço Social surge, como forma de intervir nas relações sociais do trabalho,
42
UNIDADE II Bases Teórico-Metodológicas para o Serviço Social
promovendo a mediação perante os pares, sendo considerada uma profissão na divisão
sociotécnica do trabalho.
A utilidade social de uma profissão advém das necessidades sociais. Numa
ordem social constituída de duas classes fundamentais (que se dividem em
camadas ou segmentos) tais necessidades, vinculadas ao capital e/ou ao
trabalho, são não apenas diferentes, mas antagônicas. A utilidade social da
profissão está em responder às necessidades das classes sociais, que se
transformam, por meio de muitas mediações, em demandas para a profis-
são. Estas são respostas qualificadas e institucionalizadas, para o que, além
de uma formação social especializada, devem ter seu significado social re-
conhecido pelas classes sociais fundamentais (capitalistas e trabalhadores).
Considerando que o espaço sócio-ocupacional de qualquer profissão, neste
caso do Serviço Social, é criado pela existência de tais necessidades social e
que historicamente a profissão adquire este espaço quando o Estado passa
a interferir sistematicamente nas refrações da questão social, institucional-
mente transformada em questões sociais (Netto, 1992), através de uma de-
terminada modalidade histórica de enfrentamento das mesmas: as políticas
sociais pode-se conceber que as políticas e os serviços sociais constituem-
-se nos espaços sócio-ocupacionais para os assistentes sociais (GUERRA,
2007. p. 06).
Diante de todo este contexto é que a profissão se instaura, ou seja, por meio de
uma necessidade social causada pela expansão do capitalismo e a relação de trabalho,
mediante a exploração da mão de obra, tendo como viés responder a necessidade das
classes sociais conforme pontuada pela autora a profissão surgiu mediante a necessidade
social de forma a intervir na chamada questão social, cabe destacarmos que, a intervenção
da profissão ocorre pela mediação nas organizações públicas e privadas, bem como as
entidades de cunho filantrópico, não possuindo um processo de trabalho próprio, mas
se insere em cada espaço sócio-ocupacional a partir daquela demanda estabelecida, na
qual necessita atender uma das expressões da questão social conforme estabelecida pela
política pública criada pelo estado.
Desta forma a questão social se torna o objeto da profissão, devido ao seu
surgimento histórico e forma como a profissão se estabelece em meio à sociedade, tendo
como ponto de partida mediar às relações sociais, causada pela dinâmica do modo de
produção e reprodução do sistema capitalista.
REFLITA
A questão social, em suas manifestações já conhecidas e em suas expressões novas,
tem de considerar as particularidades histórico-culturais e nacionais.
Fonte: Netto, José Paulo, Capitalismo e barbárie contemporânea. Argumentum, Vitória (ES), v. 4, n.1, p.
202-222, jan./jun. 2012. p. 209.
43
UNIDADE II Bases Teórico-Metodológicas para o Serviço Social
2 NEOTOMISMO, POSITIVISMO E FUNCIONALISMO
Nesta seção nos aprofundaremos sobre os principais pilares filosóficos do Serviço
Social que até na atualidade nos diz muito sobre o quanto a nossa profissão está em
contato com o cotidiano da população que buscamos atender e fornecer suporte enquanto
profissionais. Assim sendo, para uma melhor compreensão irei dividir em sub tópicos para
cada qual tenha o seu espaço merecido para discussão.
Essa forma de sistematização proposta busca dar ênfase nas diferenças de cada
corrente filosófica e de pensamentos e problematização, logo objetiva fazer uma cisão mais
completa para o discente, podendo você mesmo caro leitor fazer a introspecção que lhe for
mais apropriada.
NEOTOMISMO
Nesta parte destacarei o pensamento
social da Igreja sobre a “questão social”, vista
como questão moral pela referida instituição, e
que incide solidamente no trato das assistentes
sociais com os sujeitos da classe trabalhadora.
O papel da Igreja Católica nesse processo
de nascimento da profissão é decisivo para a
influência que a filosofia neotomista ganhou
dentre as primeiras assistentes sociais. Dito isso, nos debruçamos sumariamente aos
conceitos mais importantes da doutrina filosófica de São Tomás de Aquino.
Imagem 5: A doutrina da Igreja Católica
44
UNIDADE II Bases Teórico-Metodológicas para o Serviço Social
Na metade do século XVIII a igreja católica, no intuito de fortalecer os seus laços
com a sociedade buscou resgatar a filosofia tomista objetivando uma aproximação com
o novo modo de produção e modelo de sociedade que estava emergindo as suas bases
doutrinárias.
Isto devido às ameaças que estava sofrendo com a hegemonia católica no plano
ideológico, sócio-político e cultural devido a ascensão hegemônica da racionalização
moderna, a instituição busca redirecionar seu posicionamento e orientar seu corpo clerical
e laicato através da atualização dos princípios do pensamento de São Tomás de Aquino.
Esse movimento ficou conhecido como neotomismo por reconhecer o homem como
ser dotado de razão, de capacidade de realizar escolhas, sendo “ao mesmo tempo, criatura
finita e imagem e semelhança de Deus” (Ortiz, 2007, p. 133). Portanto, esse homem possui
a capacidade de aperfeiçoar-se materialmente e espiritualmente, donde a perfectibilidade,
e a bondade natural, por ser criatura inspirada no mais perfeito ser, segundo tal filosofia.
1º - A alma humana é subsistente e espiritual; 2º Ela é criada por Deus; 3º - O
momento da criação é aquele mesmo em que a alma é infundida no corpo su-
ficientemente disposto; 4º A alma é incorruptível e imortal pela sua natureza.
(HUGON, 1998, p. 131).
Ao ser unida com o corpo e recebendo o homem animal, ela dá a essa materialidade
todo o potencial necessário para que o homem busque a perfeição unindo corpo e espírito,
existência, podendo esse homem aperfeiçoar-se espiritualmente e materialmente, obtendo,
portanto, a capacidade da perfectibilidade.
Compreendendo razoavelmente o entendimento assumido pela filosofia neotomista
utilizado pela Doutrina Social da igreja em relação à pessoa humana, podemos continuar a
elucidar o importante papel dessa instituição na formação do cenário político nacional e na
orientação religiosa destinada as primeiras assistentes sociais. Assim sendo, o assistente
social, na perspectiva de teoria que temos estudado agora, um missionário no caráter mais
religioso da palavra, pois segundo essa teoria, seria um facilitador para a práxis perfeita
segundo a doutrina cristã.
Dessa imagem social, historicamente plasmada e frequentemente incorpo-
rada pelos postulantes à profissão e mesmo por profissionais, deriva certo
caráter missionário da figura do profissional, expressiva em suas origens,
mas ainda vigente, talvez, por meio de uma roupagem mais secularizada:
não mais o discurso carregado da linguagem explícita do apostolado cristão,
mas do agente voltado para ajuda aos demais, a serviço do povo, do oprimi-
do. (IAMAMOTO e CARVALHO, 2013, p. 91).
A concepção de homem dos primeiros assistentes sociais situava-se no horizonte
metafísico. Eles entendiam que o homem, como pessoa humana, era portador de “valor
45
UNIDADE II Bases Teórico-Metodológicas para o Serviço Social
soberano a qualquer outro valor temporal” (FERREIRA, T.P, 1939, p. 28) e tinha sua
existência regulada por duas instâncias, uma temporal e outra determinante sobre a primeira,
atemporal, entendida como parâmetro último para a sua realização enquanto pessoa que
caminha para a vida eterna.
Segundo Guedes (2000) diante desta concepção, os assistentes sociais vinculados
ao exercício profissional, no início não foram submetidos ao movimento histórico, mas
tiveram como sugestão que a formação dos profissionais fosse orientada pela doutrina
católica que era constituída por princípios verdadeiros, porque imutáveis.
O pensamento neotomista reconhece que o homem é um ser dotado de razão,
o que lhe permite refletir sobre seus atos e superar suas limitações. Assim, deverá o
homem dominar seus instintos e paixões para viver em sociedade com os outros homens,
colaborando para a construção do bem comum; caso contrário, deverá este homem se
submeter a um tratamento capaz de devolvê-lo a serenidade e a tendência de progresso e
perfectibilidade.
Segundo Ortiz (2007) a reforma moral, portanto comportamental, faz parte desse
processo de adequação e ajustamento do homem à sua verdadeira naturalidade e destino.
As assistentes sociais deveriam ter bases sólidas sobre o conhecimento doutrinário da
Igreja Católica, sendo suas atuações mais do que uma profissão, uma verdadeira vocação
divina. Até hoje algumas pessoas ainda possuem essa ideia sobre a figura da Assistente
social.
De acordo com Aguiar (2017, p.63) “o neotomismo no Brasil marcaram a formação
dos assistentes sociais brasileiros, principalmente os que exerceram em determinado
períodos o magistério nas escolas do Serviço social”, isto se deu, pois as assistentes sociais
tinha recebido como base teórica a filosofia de São Tomás, em que a moral, a ética e a
doutrina católica era a base para que o homem pudesse viver em meio à sociedade, está
prática se pendurou por longos anos, vinculando a assistentes sociais a prática religiosa.
REFLITA
A presença da filosofia de Santo Tomás no campo social também se dará através do
cardeal Mecier, na elaboração do código de Melinas.
Fonte: AGUIAR, Antônio Geraldo. Serviço Social e Filosofia, 6ª ed. São Paulo, Cortez, 2011.
46
UNIDADE II Bases Teórico-Metodológicas para o Serviço Social
POSITIVISMO
A hipótese fundamental do positivismo é de que a sociedade, a vida social, é regida
por leis naturais universais e invariáveis. E que, nesse sentido, a melhor metodologia para
conhecer a vida social seria a mesma empregada para estudar a vida natural: a observação
com objetividade científica neutra, livre das ideologias.
Significa que a concepção positivista é aquela que afirma a necessidade e
a possibilidade de uma ciência social completamente desligada de qualquer
vínculo com as classes sociais, com as posições políticas, os valores mo-
rais, as ideologias, as utopias, as visões de mundo. Todo esse conjunto de
elementos ideológicos, em seu sentido amplo, deve ser eliminado da ciência
social (LÖWY, 1985, p. 39).
A busca pela verdade objetiva, pela identificação e análise das leis universais que
regem os fenômenos sociais seria, portanto, a única forma de conceder aos resultados da
pesquisa uma valoração universal. O meio para isso seria uma espécie de “autoneutralização
ideológica” do cientista social.
O que possui uma clara implicação conservadora, concebendo os fenômenos
sociais como imutáveis, e seus males inevitáveis, cabe aos sujeitos e ao pesquisador
um claro papel de resignação e conformação. É por isso que de forma bastante sintética
Durkheim afirma que o positivismo “não tem nada de revolucionário, pelo contrário, ele é
essencialmente conservador, porque considera os fatos sociais como coisas cuja natureza,
por mais maleável que seja não pode ser modificada pela vontade humana” (apud LÖWY,
2008, p. 48).
REFLITA
Tanto o positivismo quanto o Serviço Social possuem raízes conservadoras que se ex-
pressa por meio da existência da pobreza.
Fonte: a autora
47
UNIDADE II Bases Teórico-Metodológicas para o Serviço Social
Comte é conhecido como um o fundador da teoria
positivista, a fórmula em um período posterior à Revolução
Francesa, quando a burguesia havia ascendido ao poder
e lutava pela sua manutenção contra os interesses da
nascente classe trabalhadora um momento de grandes
convulsões sociais e políticas.
Nesse período, desenvolvem-se ideologias para
dar sustentação aos interesses que disputavam os rumos
da história. Comte vincula-se à parcela da burguesia que
defendia um regime ditatorial e buscava impedir qualquer
ameaça revolucionária. Não por acaso, o positivismo
apresentou-se como uma das teorias sociais que embasam
os primeiros passos da construção de um referencial teórico para o Serviço Social brasileiro.
Ambos, o positivismo e o Serviço Social, possuem raízes conservadoras que se
expressam, entre outras formas, por meio da naturalização da existência da pobreza.
Com um projeto profissional enraizado no conservadorismo, ligado à Igreja Católica, os
assistentes sociais brasileiros partiam do pressuposto de que as desigualdades sociais
eram naturais e, portanto, insuperáveis.
Sobre o positivismo e sua influência no Serviço Social, sabe-se que esta passou
a acontecer quando a profissão começa a questionar sua intervenção, nesse momento
surge à preocupação do “o que” fazer e o “como” fazer, o que levou o Serviço Social a cair
no metodismo, e na burocracia. A profissão passou a receber a influência do positivismo
quando as técnicas norte americanas passaram a ser utilizado na intervenção profissional,
este momento marca a passagem do modelo franco belga para o americano.
Neste sentido, Aguiar (2017) destaca que o Serviço social, começou importando as
técnicas do Serviço Social de caso, logo depois, de Grupo e Comunidade. Isso ocorreu no
momento em que os assistentes sociais foram estudar em universidades americanas. Este
momento é marcado ainda pelas influências da Sociologia e da Psicologia.
Vieira (1987) corrobora informando que o positivismo de certa forma ganha
importante papel para o Serviço social brasileiro, pois além de ampliar o referencial teórico
da profissão trouxe um suporte técnico oferecido pela teoria positivista social. Esta autora
desta que o arranjo teórico-doutrinário se enquadrou numa perspectiva de neutralidade, ou
seja, houve uma equidade entre o objeto e o sujeito na qual o assistente social atua a partir
da contratação feita pelo Estado e pelo empresariado de ajustamento social.
Imagem 06: Auguste Comte
(1798 -1857)
48
UNIDADE II Bases Teórico-Metodológicas para o Serviço Social
FUNCIONALISMO
Embora alguns dos elementos
do paradigma funcionalista remetem ao
pensamento político e social dos gregos
antigos, a determinação do seu ponto de
origem é difícil, por conveniência a sua análise
frequentemente começa com o trabalho de
Comte, genericamente visto como o pai da
sociologia, tido como o sociólogo da unidade
humana e social.
Aron (1965) destaca que Auguste
Comte tinha a visão que tanto o conhecimento
como sociedade era um processo progressivo, e que o estado inicial era visto como fictício
ou abstrato e o final com científico ou positivo.
O autor supracitado enfatiza que essas etapas foram formuladas na obra Curso de
filosofia positiva (1830-42), constituindo a chamada “lei dos três estágios”, segundo a qual
o conhecimento e a sociedade evoluem numa direção bem definida.
No primeiro estágio, os fenômenos são explicados por referência à vontade dos
deuses e a realidades transcendentes; no segundo, recorre-se a conceitos mais abstratos,
referentes a processos universais, como “natureza”; e no terceiro, o conhecimento se baseia
na descrição dos fenômenos e na descoberta das leis objetivas que os determinam.
A função da sociologia seria, então, compreender o necessário, indispensável e
inevitável curso da história, de forma a promover a realização de uma nova ordem social.
Para Comte, a racionalidade estava em ascendência, fundamentando a base de uma ordem
social bem regulada. O enfoque positivista estruturaria o destino da humanidade, guiando-a
para o tipo de sociedade ideal.
De acordo com Cabral (2004) Comte utilizava o método positivo em várias áreas
do saber como a matemática, física, biologia entre elas na política, aproximando de
uma ciência que tinha como viés estudar a sociedade, segundo o autor esta ciência era
a sociologia e se baseava em modelos e métodos das ciências naturais, e tinha como
propósito descobrir quais as leis científicas subjacentes às relações entre as várias partes
da sociedade estática social e explicando como poderiam mudar ao longo dos anos, a partir
de uma dinâmica social.
Imagem 7: A função da sociedade.
49
UNIDADE II Bases Teórico-Metodológicas para o Serviço Social
Tendo sido o criador do termo “sociologia,” Comte via a sociedade como um
organismo em que cada parte tem uma função específica e contribui para o funcionamento
do todo. Partindo deste conceito que Burrell e Morgan (1994) destaca que Comte fez uma
associação entre a biologia por ser um ponto mudança e à ciência social por estudar o meio
social, marcando uma diferença entre orgânico e o inorgânico, explicando a totalidade do
todo vivo.
Os autores ainda destacam que para entender o modelo positivo das ciências
naturais, foi necessário utilizar a analogias mecânicas e orgânicas, a qual diferenciava a
estática estrutura da dinâmica processual, assim, Comte criou regras de uma atividade
sociológica, voltada para a explicação da ordem e regulamentação social, lançando bases
para compreender os paradigmas funcionalistas.
REFLITA
O modo funcionalista se fazia presente nas práticas dos assistentes social como forma
de explicar a realidade social a partir da sua atuação.
Fonte: a autora
Cabral (2004) salienta que a preocupação de Durkheim com as correntes
contemporâneas dominantes na Inglaterra e na Alemanha é tipicamente francesa, pois, na
verdade, a originalidade do pensamento francês preenchia uma lacuna intermediária entre
as duas principais linhas de pensamento europeia, o empirismo e o utilitarismo inglês e o
idealismo alemão.
A influência de Comte não foi em termos de continuidade, mas sim de formação,
e teve como traço mais forte a extensão da atitude positiva, científica, em relação ao
estudo da sociedade. Apesar de Durkheim discordar de Comte em vários aspectos, a
noção «durkheimiana” da realidade objetiva dos “fatos sociais” reflete a influência da visão
“comtiana” de uma realidade social concreta; logo, objeto de investigação científica racional.
Portanto, a estrutura funcionalista idealizada por Durkheim tornou-se importante
para o Serviço Social, pois se analisarmos sob a teoria, todo fato social está englobado
ou enraizado em algo maior e não basta explicar o fato em si, mas deve-se compreender
50
UNIDADE II Bases Teórico-Metodológicas para o Serviço Social
quais as funções sociais que as envolve analisando o contexto histórico de um determinado
grupo social compreendendo que a necessidade social é uma consequência de um ou mais
fenômeno causado pelo capitalismo e seu modo de produção.
De acordo com Faleiros (2011) o fundamento do Serviço Social teve característica
no funcionalismo, a partir do pensamento de uma sociedade funcional, e isto ocorreu devido
a um sistema dominante e vigente na sociedade, o capitalismo, na qual seus valores são
sistêmicos.
Cabe ainda destacar aqui caro(a) aluno(a) que o estado é considerado um modo
funcional, sendo a maior instituição a empregar os profissionais de Serviço Social, é
importante conhecer e se aprofundar na teoria, mas devemos levar em consideração que o
modo funcionalista segue uma linha de enquadramento e em algumas situações devemos
analisar o fato social de forma isolada para compreender o todo e a situação na qual deverá
ser mediada pelo profissional de Serviço Social.
SAIBA MAIS
A primeira vista, a determinação pode parecer somente uma extensão, para a angula-
ção profissional, do princípio genérico que detona a “integralidade” do desenvolvimento;
contudo, o dado distintivo é a menção ao sistema social: sai-se aqui do campo ético do
neotomismo para o terreno teórico do estrutural- funcionalismo – a “globalidade” é a
perspectiva das relações sistêmico-integrativas de indivíduo e sociedade.
Fonte: NETTO, José Paulo. Ditadura e Serviço Social: uma análise do serviço social no Brasil, pós-64. 17ª
ed. São Paulo. Cortez 2016.
51
UNIDADE II Bases Teórico-Metodológicas para o Serviço Social
3 SERVIÇOS SOCIAIS DE CASOS
O serviço social de casos originou das teorias de Mary Ellen Richmond a partir de
suas numerosas observações sociais e individuais. Em seu livro Caso Social Individual
(What is Social Case Work) escrito em 1922 à autora apresenta seis de casos, na qual
retratou cuidadosamente, e ao longo de dez anos de intensivas observações descreve o
tratamento social aplicado de cada cliente, apresentando o diagnóstico das observações e
análise realizadas.
De acordo com Costa (2017) o livro de Richmond supracitado foi à junção das
principais ideias da autora, sendo à base das primeiras produções teóricas na área do
Serviço Social, espalhando-se rapidamente por todo mundo e institucionalizando assim a
profissão. Porém Richmond teve dificuldade em encontrar embasamentos para a sua teoria,
buscando em outras áreas das ciências sociais bases para fundamentar as observações
que realizava, pois não tinha uma explicação concreta para compreender tal comportamento
ou ação do indivíduo, idealizando assim um método.
Desta forma, o Serviço Social de Casos ficou conhecido como “conjunto de métodos
que desenvolvem a personalidade, reajustando conscientemente e individualmente, o
homem para o seu ambiente social” (RICHMOND, 1922. p. 67). Ou seja, a partir de suas
observações, estudos, relatos e entrevistas a autora constatou que as pessoas consideradas
desajustadas, poderiam modificar o comportamento a partir dos seus atos conscientes e
que as situações atuais refletiam a um passado conflituoso, para a autora o tratamento
O surgimento do Serviço Social no contexto da ascensão do capitalismo e da Revolução Industrial
O surgimento do Serviço Social no contexto da ascensão do capitalismo e da Revolução Industrial
O surgimento do Serviço Social no contexto da ascensão do capitalismo e da Revolução Industrial
O surgimento do Serviço Social no contexto da ascensão do capitalismo e da Revolução Industrial
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O surgimento do Serviço Social no contexto da ascensão do capitalismo e da Revolução Industrial

  • 1.
  • 2. AUTORA Prof.ª Esp. Irení Alves de Oliveira Assistente Social. Supervisora Acadêmica com programa de treinamento e acompanhamento de equipe de supervisores acadêmicos e Professora formadora da disciplina de estágio supervisionado curricular obrigatório. INFORMAÇÕES RELEVANTES: • Especialista em Docência no Ensino Superior - Unicesumar (2016) • Tecnóloga em Marketing - Unicesumar (2016) • Bacharel em Serviço Social (2015) • Pós-Graduanda em DesignThinking e Criatividade nas Organizações - Unicesumar • Pós-Graduanda em MBAem Coaching aplicado à Gestão de Pessoas - Unicesumar • Professora Formadora EAD - Unicesumar • Supervisora Acadêmica - Unicesumar • Link do Currículo na Plataforma Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K8088409A4
  • 3. APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Seja bem-vindo (a)! Caro(a) aluno(a), é uma satisfação saber que você escolheu cursar Serviço Social, uma profissão regulamentada e inscrita na divisão social e técnica do trabalho e ao mesmo tempo é um prazer estar junto com você nesta jornada. Sabendo que a disciplina de Fundamentos Históricos, Teóricos e Metodológicos do Serviço Social – Materialismo Histórico é de extrema importância para a sua formação profissional, busquei abordar assuntos relevante a qual ao longo das 04 (quatros) unidades você compreenderá o surgimento do Serviço Social e os conceitos que fundamentam esta profissão. Na unidade I, iniciaremos o estudo descrevendo os motivos que originou o serviço social, apresentando as fases do sistema capitalista que influenciou nas relações de trabalho, principalmente no período da revolução industrial, tendo a influência do Estado, da Igreja e das Organizações Sociais para manter a ordem social. Na unidade II e III abordaremos sobre as bases teóricas que fundamentaram o Serviço Social, apresentando grandes filósofos, como Karl Marx; Émile Durkheim; Max Weber entre outros, além da Mary Richmond uma assistente social, a qual fundamentou as teorias específicas da profissão. Na unidade IV, finalizo com a historiografia do Brasil no século XX, abordando de forma panorâmica os fatos que marcaram o país e em paralelo a profissão de Serviço Social que precisou rever as bases teóricas por meio de três seminários de teorização. E diante desta breve apresentação lhe convido debruçar sobre o conteúdo deste livro e espero que ao longo dos estudos consiga compreender o surgimento da profissão. Desejo um ótimo estudo e sucesso.
  • 4. SUMÁRIO UNIDADE I....................................................................................................... 5 Bases Históricas do Serviço Social UNIDADE II.................................................................................................... 34 Bases Teórico-Metodológicas para o Serviço Social UNIDADE III................................................................................................... 63 O Materialismo Histórico: Instrumento de Análise Social UNIDADE IV................................................................................................... 92 Aproximações Histórico-Teórico-Metodológicas: Panorama Brasileiro
  • 5. 5 Plano de estudo: ● Ascensão do capitalismo e as relações de trabalho ● A Revolução Industrial: implicações sociais na Europa ● O contexto estadunidense para o nascimento da profissão ● A influência do Estado, Igreja e organizações sociais na gênese do Serviço Social. Objetivos de Aprendizagem: ● Resgatar o contexto histórico para o surgimento do capitalismo, descobertas, novos governos e o início da industrialização; ● Apresentar o período da revolução industrial e quais eram as implicações sociais causadas na Europa; ● Apresentar o surgimento da profissão em meio ao contexto dos EUA; ● Apresentar como o Estado, igreja e organizações sociais influenciou para o surgimento e regulamento da profissão. UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social Professora. Esp. Irení Alves de Oliveira
  • 6. 6 UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), Imagine um mundo com mudanças sutis e que ocorrem ao longo da história da humanidade, onde os processos são longos e alteram aos poucos as formas como as relações humanas são construídas e como os indivíduos se inserem nas mais variadas engrenagens que movimentam toda a dinâmica. Muitas vezes de forma não intuída ou problematizada, muitos apenas seguem o modelo vigente e pouco refletem sobre o quê se vive e como a condição humana é posta e ou sofre, todo esse espiral repleta de crises e vitórias que damos o nome de vida.Sabemos que toda essa aventura a qual recebe a nomenclatura de história não nos fora dada e sim construída, desenvolvida e relatada por seres humanos. Esses muitas vezes esquecidos e/ou negligenciados, sendo sempre preteridos aos ganhos financeiros e medidas belicistas que estudaremos ao longo desta unidade. Aqui, visamos discutir elementos decisivos para a constituição do atual sistema econômico que vivemos, o capitalismo, e como a sociedade se comportou em nome de um fortalecimento governamental e ganhos pecuniários, pagando, contudo, um alto preço na condição humana que mais uma vez não foi acolhida e, sim, esquecida. Nesta unidade vamos estudar como o capitalismo surgiu e se expandiu ao longo de sua história, passando por fase até se configurar ao modo vigente e as implicações que as relações de trabalho sofreram com tais mudanças. Também vamos aprender sobre a Revolução Industrial, que nos trouxe no seu bojo um novo processo produtivo, muito mais eficaz e com o viés de produção em larga escala. Porém, não se limitando ao crescimento monetário, também temos outros ganhos, como na necessidade de ter novas profissões e novas ciências, dentre elas o Serviço Social, uma profissão que surgiu neste cenário a fim de atender as necessidades do Estado, das organizações e principalmente da igreja católica que foi o influenciador da origem da profissão. Assim sendo, te convido a acompanhar comigo essa narrativa que resgata a memória de como a nossa categoria nasceu e foi se fortalecendo até o momento presente, conhecido também como hoje. Bons estudos!
  • 7. 7 UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social 1 ASCENSÃO DO CAPITALISMO E AS RELAÇÕES DE TRABALHO A sociedade que conhecemos nos dias atuais é resultado de um processo em que o modo e meio de produção refletiu agressivamente na relação de trabalho e expansão do capitalismo, mas para entender este contexto é importante analisarmos o período que o capitalismo ascendeu e concomitantemente a relação de compra e venda da força de trabalho. Para isto, faz-se necessário realizarmos uma busca histórica para entender a eclosão do capitalismo e o aumento da relação do trabalho, desta forma é importante considerarmos dois fatos, o período feudal e a origem do capitalismo. De acordo com Huberman (1969) no período feudal (séculos XI a XV) tinha-se um regime de servidão e a sociedade era dividida em três classes: a nobreza que tinha o poder de aplicar as leis e cobrar impostos altíssimos, o clero formado pela igreja católica como missão de manter o equilíbrio espiritual sendo isento de pagar impostos, e os servos que era a maior parcela da população e trocava a sua força de trabalho para manter a subsistência nas propriedades dos feudos, além de pagar os inúmeros impostos e tributos. A sociedade feudal tinha como prática o escambo (troca de mercadoria), e ao adquirir um determinado bem realiza troca, seja por produto ou serviço, nesta época não tinha uma geração excedente de mercadoria, o que produzia era consumido conforme a necessidade. Mas, este fator mudou quando a igreja católica passou a trazer produtos
  • 8. 8 UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social luxuosos das viagens realizadas nas cruzadas, uma prática religiosa que originou o sistema do capitalismo. Por ser considerado um sistema econômico e social, o capitalismo se tornou um modo de produção, com uma divisão societária, em que de um lado temos o capitalista (donos dos meios de produção) e do outro o proletariado (não possuem os meios de produção), e que enquanto um compra a força de trabalho de uma grande parcela o outro vende para uma pequena parcela, gerando um acúmulo de capital e uma produção em massa. Ao longo da história do sistema capitalista houve uma evolução, passando por três fases sendo: Capitalismo comercial: Surgiu no final do século XV quando uma pequena parcela de pessoas começou a realizar feiras, que logo foi se expandindo para outros territórios além da Europa, os mercadores que participavam das feiras eram isentos dos impostos exigidos dos senhores feudais para que assim pudessem comercializar nas suas terras, e muitos aceitavam por que as feiras proporcionam riquezas, De acordo com o autor Huberman (1969) as feiras neste período eram imensas, as mercadorias eram negociadas por atacado e atingiam grandes mercadores, bem como pequenos revendedores e artesãos, na qual compravam e reivindicam para aqueles que começaram a trabalhar em troca da aquisição de mercadorias. É importante destacar que neste período a prática de comercializar tornou- se global, tendo o surgimento de uma nova classe social a burguesia; a expansão marítima que impulsionava grandes navegações e o acúmulo de capital. Capitalismo Industrial: Surgiu no século XVIII com as mudanças ocasionadas no modo de produção e na sua manufatura, intensificando as relações comerciais e as produções, isso se deu com criação de motor a vapor e máquinas para a produção e grande escala. Este período é considerado como um sistema de produção, na qual deu inicio ao aumento da mão-de-obra de uma grande parcela da população considerada como classe operária que se sujeitava a uma carga horária exaustiva e com uma baixa remuneração, causando diversas implicações nas suas relações sociais. É importante destacar que este período aconteceu na revolução industrial que iremos discutir mais a frente. Capitalismo Financeiro: Conhecido como capitalismo monopolista, surgiu no final do século XIX e início do século XX sendo considerado como um tipo de economia, este sistema passou a controlar os comércios e indústrias por meio de instituições financeiras e bancos comerciais, modelo este que segue até os dias atuais.
  • 9. 9 UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social Netto (2011) nos apresenta que no final do século XIX o sistema capitalista passa a vivenciar profundas modificações tanto na sua forma de ordenar quanto na dinâmica da economia, com isso fica evidente as novas incidências na estrutura social e política, este período ficou conhecido como um marco histórico para o capitalismo que sai de um sistema concorrencial e passa a ser monopolizado, tendo em sua essência a exploração e alienação como chave para se manter no poder. Caro(a) aluno(a) é importante destacar que neste período também iniciou grandes inovações tecnológicas, expansão de mercados e investimentos de grandes empresas para que a economia pudesse se movimentar mais rápido e assim aumentar o lucro. Porém, para tudo isso pudesse acontecer foi necessário mais uma vez a exploração da mão-de-obra, a baixa rentabilidade e o aumento do consumo de classe que hoje conhecemos como “C”, que buscam meios de sobreviver a esta mudança em que uma pequena parcela detém. Imagem1: Disparidade Social
  • 10. 10 UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social SAIBA MAIS Sobre o capitalismo monopolista: na prossecução da sua finalidade central, a organiza- ção monopólica introduz na dinâmica da economia capitalista um leque de fenômenos que deve ser sumariado: a) os preços das mercadorias (e serviços) produzidos pelos monopólios tendem a crescer progressivamente; b) as taxas de lucro tendem a ser mais altas nos setores monopolizados; c) a taxa de acumulação se eleva, acentuando a ten- dência descendente da taxa média de lucro e a tendência ao subconsumo; d) o investi- mento se concentra nos setores de maior concorrência, uma vez que a inversão nos mo- nopolizados torna-se progressivamente mais difícil (logo, a taxa de lucro que determina a opção do investimento se reduz); e) cresce a tendência a economizar trabalho “vivo”, com a introdução de novas tecnologias; f) os custos de vendas sobem, com um sistema de distribuição e apoio hipertrofiado – o que, por outra parte, diminui os lucros adicionais dos monopólios e aumenta o contingente de consumidores improdutivos (contrarrestan- do, pois, a tendência aos subconsumo). Fonte: NETTO, José Paulo, Capitalismo Monopolista e Serviço Social, 8ª ed. São Paulo. Cortez, 2011. p. 20 e 21. Ao analisarmos a evolução do capitalismo é importante considerarmos ao viés da profissão do Serviço Social que a relação de trabalho em meio às mudanças do capitalismo trouxe grandes implicações, pois o modo de produção além de refletir diretamente no cotidiano, as consequências foram irreversíveis, dentre elas tivemos, a pauperização; o desemprego; a precarização nas condições de trabalho, sem contar na desigualdade social que foi gigantesca. Mesmo com todo esse descompasso é importante considerarmos que o modo de produção aproxima o ser humano dele mesmo, mas que a forma como ele é desenvolvido pode afastar criando conflitos nas relações de trabalho. De acordo com o clássico Karl Marx em seu livro O Capital (1989) a relação que o homem tem com trabalho é o que transforma enquanto ser humano, mas o processo de trabalho criado pelo sistema capitalista, nas condições de regulador de salários, impede que o trabalhador eleve o valor da sua força de trabalho, e este processo é uma forma do capitalismo se manter no poder, pois detém a classe trabalhadora á seu favor, aumentando assim o seu lucro monetário.
  • 11. 11 UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social Iamamoto (2008) destaca que o trabalho produtivo e a base de toda a troca por dinheiro em que o capital detém a força de trabalho humana para expandir seu lucro, enquanto o trabalhador usa desta força para reproduzir o valor que de fato pertencente ao capital, ou seja, tudo gira em torno do sistema capitalista e por mais que o trabalhador vende a sua força de trabalho para garantir o mínimo a sua sobrevivência ainda não é o suficiente, pois o capital dispõe da maior parte de todo o lucro da produção humana e à medida que o capitalismo expande a produção do trabalho torna-se cada vez mais alienado ao sistema, tendo o trabalho produtivo como um processo que repõem o capital e produz o consumo. Contudo, este processo fez com que o capitalismo torna-se um sistema central e dominante nas relações de trabalho, um sistema concentrado em grandes margens de lucro reduzido em monopólios pequenos e exaustivamente rentável, caracterizando assim o capitalismo dos monopólios, um sistema subdesenvolvido capaz de sugar cada vez mais o modo de produção, a forma de trabalho e suas condições para produzir em alta escala, tudo isso por deter a força produtiva do proletariado ao seu favor, considerando que o trabalho e o produto é propriedade do capitalismo. Antunes (2002) enfatiza que as inúmeras mudanças ocorridas no sistema capitalista como o universo fabril; o avanço da tecnologia e a automação foram inseridos e desenvolvidos na relação de trabalho, porém essas mudanças causaram implicações grandiosas na vida do trabalhador, como, o direito ao lazer, ao convívio com a família, a educação; a saúde, entre outros. Além da precarização nas condições de trabalho que era degradante e desumano. Iamamoto (2008) destaca que a acumulação do capital é proporcional ao da miséria isso porque o capitalismo além de ampliar na sua produção o poder do lucro é concentrado em uma pequena parcela da sociedade ao contrário dos proletários que se concentra em uma grande parcela da sociedade e que vende a sua força de trabalho para a subsistência, submetendo a trabalhos degradantes e salários baixos, tendo a sua relação de trabalho comprometida por falta de segurança, jornada de trabalho exaustiva e sem nenhum direito trabalhista e ou social. É fato que, o capitalismo surgiu no século XV quando se iniciou a prática de vendas de mercadorias, mas a sua ascensão foi no século XVIII com a revolução industrial, quando o trabalho árduo nas fábricas começou a aumentar o lucro do capital, necessitando da relação de compra e venda da força de trabalho e com isso houve grandes implicações, causadas pelo capitalismo. Mas para que você caro(a) aluno(a) possa entender melhor
  • 12. 12 UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social sobre todo este contexto agora vamos aprofundar na Revolução Industrial e quais as implicações causadas pelo capitalismo neste período. REFLITA Ao longo da história do capitalismo, a sua ascensão se deu em três fases, o capitalismo comercial; industrial e o econômico, refletindo diretamente nas relações do trabalho. Fonte: a autora
  • 13. 13 UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social 2 A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL: IMPLICAÇÕES SOCIAIS NA EUROPA A Revolução industrial iniciou no século XVIII na Inglaterra e em pouco tempo se espalhou por toda a Europa Ocidental, este processo foi um divisor tanto para o capitalismo detentor do poder quanto para os trabalhadores do campo que não tinha formação, experiência e vivência na cidade, simplesmente foram lançados para o meio urbano e sem alguma urbanidade, pois pouco conhecia o código e o novo contexto que passou a ser inserido. Por ordem de uma monarquia que via a perda do poderio frente a outros Estados absolutistas, foram lançados de uma forma descuidada e sem a preparação correta para outra realidade em nome de certo desenvolvimento que quase nada chegaria a esta nova classe que se formava nas periferias inglesas, “teria levado ao empobrecimento uma população estável, e foi catastrófica para uma população que crescia rapidamente” (HOBSBAWM, 1978, p.95-96). Certos que com a chegada dos camponeses na cidade a procura de oportunidades sem entender ao certo o que iria acontecer isto chamou a atenção dos capitalistas que observaram um grande número de pessoas buscando por trabalho nas indústrias, com isto identificaram que poderiam faturar ainda mais se produzem em grande escala. Com as terras oficialmente dadas para poucos, os latifundiários fizeram o movimento de aumentar a produtividade usando tecnologias de maquinário e genética de cruzamento de plantas a partir dos experimentos de Mendel, da monocultura como as de algodão e criação
  • 14. 14 UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social de cabras para fornecer à indústria têxtil que nascia, neste sentido Thompson (1987) relata que a indústria do algodão foi certamente a pioneira na Revolução Industrial e a tecelagem foi o modelo preeminente para o sistema fabril. Enfim o foco era maior produtividade e não importava como, esse processo foi chamado de Revolução Agrícola. O importante era atender as fábricas e a nova classe operária que, obrigatoriamente, teria de comprar o que antes plantava e criava. Huberman (1969) diz que a invenção de máquina para fazer o trabalho do homem era uma história antiga, muito antiga. Mas como a associação da máquina à força a vapor ocorreu uma modificação importante no método de produção. O aparecimento da máquina movida a vapor foi o nascimento do sistema fabril em grande escala, era possível ter fábricas sem máquinas, mas não era possível ter máquinas a vapor sem fábricas. Beaud (1981) relata que a entrada dos operários, a refeição deles e a saída ocorrem ao som do sino, no interior da fábrica, cada um tem seu lugar marcado, a tarefa estritamente delimitada e sempre a mesma; todos devem trabalhar regularmente e sem parar, sob o olhar do contramestre que o forçava à obediência mediante a ameaça da multa ou da demissão, por vezes até mesmo mediante uma coação mais brutal. Para Dobb (1980) nos traz que a essência da transformação na era da Revolução Industrial estava na mudança do caráter da produção que, em geral, associavam-se à utilização de máquinas movidas por energia e para isto os trabalhadores deveriam trabalhar em exaustão. Marx afirmou que a transformação crucial foi, na verdade, a adaptação de uma ferramenta, antes empunhada pela mão humana, por meio de um mecanismo, com o surgimento das máquinas a vapor, a mãos dos trabalhadores passaram a ser um mero implemento, sem levar em consideração se a força motriz venha do homem ou da máquina. Além desse contexto, Hobsbawm (1996) nos apresenta um fator agravante no período da Revolução Industrial, que foi a queda na produção agrícola, isso se deu devido ao desaparecimento gradual da população agrícola, migrando para as áreas urbanas a procura de trabalho nas indústrias, com o rápido aumento da população centrada nas áreas urbanas não se tinha o fornecimento de alimentos para suprir as necessidades primárias, acarretando a grandiosos problemas sociais, levando a situações degradantes e desumanas, além de que as áreas urbanas não estavam adaptadas e preparadas para receber a população que ali se se instalou.
  • 15. 15 UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social SAIBA MAIS A revolução industrial não foi um episódio com um princípio e um fim. Não tem sentido perguntar quando se “completou”, pois sua essência foi a de que a mudança revolu- cionária se tornou norma deste então. Ela ainda prossegue; quando muito podemos perguntar quando as transformações econômicas chegaram longe o bastante para esta- belecer uma economia substancialmente industrializada, capaz de produzir, em termos amplos, tudo que desejasse dentro dos limites das técnicas disponíveis, considerada como uma economia industrial amadurecida. Fonte: HOBSBAWM, E. J. A era das revoluções. 9.ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996 Com tamanha desigualdade social envolvido num sistema detentor de poder e sem nenhum respaldo é evidente que a classe trabalhadora começou a se sobrepor a tamanha indiferença e ao que estava acontecendo diante do descaso que o capitalismo estava exercendo, neste contexto entra em cena o Estado um sistema mantenedor da ordem social, no entanto o seu interesse era garantir o bem estar do capital e manter a classe operária ativa na produção. Braverman (1987) explica que com a produção em massa a pleno vapor e um excedente econômico movimentando as nações o Estado passou a ser um aliado do sistema capitalista vigente, na qual passou a explorar ainda mais os operários. Esta relação entre o Estado e o capital faz com que as relações de trabalho se tornassem deplorável, seguindo de grandes sequelas irreversíveis, na qual reflete até os dias atuais. Para Netto (2011) a intervenção estatal veio para garantir o superlucro do sistema capitalista, tornando-o mais forte e suprimindo ao monopólio, ou seja, o lucro passou a ser concentrado em um pequeno grupo, aumentando ainda mais à exploração da força de trabalho e consequente a desigualdade social e ou na questão social, assunto que vamos explanar ao longo deste livro. REFLITA A questão social é apreendida como o conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum: a produção social, é cada ve- zes mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada. Fonte: Iamamoto, Marilda Villela. O Serviço Social na Contemporaneidade: trabalho e formação profissio- nal, 22 ed. São Paulo, Cortez, 2012.
  • 16. 16 UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social 3 CONTEXTO ESTADUNIDENSE PARA O NASCIMENTO DA PROFISSÃO Como demonstrado no capítulo anterior, a Revolução Industrial teve o seu germe na Inglaterra que contava com uma burguesia altamente organizada, governo inclinado a obedecer às ordens dos empresários e a fortalecê-los, uma população que acabara de perder a única forma de sobrevivência que conhecia e se aglutinava nas cidades em busca de sobrevivência, bem como outros fatores importantes para a consolidação de uma vida digna, a abundância em minérios e outros insumos para as fábricas, toda uma intelectualidade fundamentando tudo que ocorria e um mercado com poucos competidores. Porém, nem tudo era tão perfeito quanto se demonstra na teoria. Hobsbawn (1978) nos lembra de que a exploração da força de trabalho era chocante. Homens, mulheres e crianças (de até 06 anos de idade) realizavam, em condições desumanas, uma jornada de trabalho de até 18 horas. Essa situação permitia aos proprietários capitalistas impor ao trabalhador a execução e a extração do sobretrabalho (horas trabalhadas além das necessidades de reprodução da força de trabalho), o que permitia a acumulação do lucro, e a parte era reinvestido no setor produtivo, com o único e principal objetivo de valorizar o capital. A situação social demonstrava que “tudo corria para o rico”, o operário, sofredor do processo de embrutecimento, não encontra os verdadeiros culpados pela sua condição tão deprimente e sem humanidade. Muitos acreditam que as responsáveis para tamanho
  • 17. 17 UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social martírio seriam as máquinas, também chegam a um nível de abstração que as parando conseguirão ter as suas vidas melhoradas, e o resultado disto foi o movimento Ludista. Este movimento consistia em invadir as fábricas e quebrar todo o maquinário existente, o que de certa forma surtiu algum resultado. Momentaneamente, pois o patronato comprava e ou desenvolvia outras, mais resistentes e melhores. Hobsbawn (1952) no seu artigo The Machine Breakers (Os disjuntores de máquinas) chegou a relatar que o real motivo dessa prática foi uma forma que os operários encontraram para se fazerem percebidos pelos patrões, a fim de negociar e apresentar reivindicações e que inclusive pequenos comerciantes com unidades fabris modestas participavam para tentar forjar a concorrência dos grandes capitalistas. Com o tempo o movimento foi arrebanhando mais e mais adeptos, pessoas que se encontravam desempregadas, em situação de miséria extrema, que não concordavam com o que vivenciavam e, portanto, encontraram esta forma de se expressar e apresentar o real descontentamento, com isso desagradou os detentores do poder, que exigiu resposta rápida por parte do governo que por sua vez, fez uso legitimado da força e da lei para punir todos os envolvidos. Em 1812 foi aprovada a lei que recebeu o nome de Frame-Breaking act, que estabelecia a pena de morte para quem tivesse envolvimento com este grupo, assim começou a caça aos ludistas, com perseguições, prisões, torturas e penas capitais. Desta forma o trabalhador passou a ser um malfeitor, enquadrado como um possível criminoso. O jugo pesado por parte dos governantes se tornou uma oportunidade para os trabalhadores, estes que por sua vez decidiram se organizar para se fazerem entendidos, nascendo assim as primeiras Trade Unions, ou como conhecemos, os sindicatos que representavam esta classe e buscavam meios legítimos de apresentar as suas queixas. Usaram muito das greves e até mesmo barricadas. Tornando a situação cada vez mais complexas, pois no Estado Moderno, regido sob a Declaração Universal dos Direitos do Homem, teria espaço para manifestações por parte da população, bem como com o surgimento dos sindicatos alguns filósofos e intelectuais tiveram espaço para os seus escritos e suas ideias, chegando à classe trabalhadora, dentre eles os anarquistas, sendo Proudhon o mais proeminente, e os socialistas utópicos e científicos, Marx e Engels que formaram bases para até os dias atuais. Por outro lado, a classe dominante deveria também de se organizar para que as paralisações fossem minadas ou neutralizadas. A princípio, os dominadores tomaram duas atitudes a saber: a primeira foi o uso recorrente das práticas assistencialistas, com
  • 18. 18 UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social o objetivo da manutenção da ordem capitalista e conter a insatisfação desarmando as manifestações, levando os operários a aceitarem as suas condições de vida, com isso foi criado a Sociedade de Organização da Caridade em Londres no ano de 1869, assunto que estudaremos mais a fundo adiante; e o segundo foi procurar outro local anglofone para realizar a produção de manufaturas. Na antiga colônia inglesa, os Estados Unidos possuía ainda alguns valores típicos da Metrópole, como o idioma, alguns costumes, a lei comum ou ordenamento jurídico e a perspectiva econômica. Diferente da nossa, a independência estadunidense ocorreu de uma forma brutal, através da guerra, financiada pelo reino francês, adversário histórico dos ingleses, ainda sim se via a influência que a Inglaterra havia deixado, a qual substituiu de forma rápida a monarquia por um governo que buscava por produção em massa. Com isso os Estados Unidos se mostrou receptivo aos imigrantes anglos falantes, os registros históricos relatam a grande imigração irlandesa e galesa para as terras ao oeste. Os ventos da liberdade sopravam pelo mundo através de novas concepções filosóficas, assim os imigrantes encontraram repouso em uma terra longínqua, pois tinham pretensões de que se tornasse uma potência, porém os detentores do poder deste país observou que com a chegada dos imigrantes teriam a mão de obra que precisa para as grandes produções. De acordo com o Departamento de Estado dos Estados Unidos, diretamente do Escritório de Assuntos Públicos (2012. p.221) “quase 19 milhões de pessoas chegaram aos Estados Unidos entre 1890 e 1921” e logo houve pedido de restrição aos imigrantes ou a proibição da entrada no país, pedido que não aconteceu devido a Lei de Imigração Johnson-Reed -1924, mantendo a permanência dos imigrantes no país.
  • 19. 19 UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social Comissooaltograudeintercâmbiocomosbretões,aindustrializaçãoestadunidense se tornou altamente possível e viável. Afinal, também possuía riquezas naturais, um vasto território a explorar e crescer, cientistas que formaram empresas (Thomas Edison que fundou a famosa “General Eletric” ou mais comumente conhecida como GE) e filósofos que pensaram um Estado grande e forte, bem como uma mão de obra qualificada que também fugia da miséria no “velho continente” e buscava oportunidades para “fazer a América”. Quanto à adaptabilidade dos imigrantes a nova terra e as suas trocas com os residentes, às periferias que eram formadas graças à industrialização e o processo não planejado de expansão populacional. Não obstante, os Estados Unidos ainda não era um país unificado, com um só propósito, pois havia os Confederados, estados sulistas, e a União, estados do norte e da Nova Inglaterra – atendem pela alcunha de Yankees. A Guerra Civil Americana se mostrou o caminho mais curto para que o Estados Unidos não tão unidos chegassem a um consenso. Certamente uma guerra não é a melhor alternativa, todavia foi importante para a modernização da pátria, foco desta parte, pois uma parte vivia ainda o escravismo e pouca industrialização, os estados do sul que possuíam figura dos latifundiários e militares como os donos do poder. Já o norte e os 6 estados da Nova Inglaterra este regime de trabalho não existia, inclusive tendo algumas fábricas instaladas e uma organização urbana também avançada. Após a Guerra Civil, ou conhecida também de Guerra de Secessão, os Yankees venceram e a unidade dos Estados Unidos pode, enfim se concretizar. Efeitos negativos Imagem 2: A grande imigração
  • 20. 20 UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social foram vistos principalmente nos estados confederados, pois eram os principais produtores do algodão do mundo e exportavam para a Inglaterra que, por sua vez, buscou outros fornecedores dentre eles o Brasil. Contudo, o regime federalista, concepção moderna de Estado, pode seguir em frente dando maior autonomia aos estados para atrair investidores e incentivar a livre iniciativa. Agora os Estados Unidos da América era uma nação moderna e adequada aos novos moldes que as economias avançadas se encontravam. Claro que se desenvolveram através de todo o conhecimento já adquirido e consolidado na antiga Metrópole, bem como possuía problemas típicos de um país industrializado, se levar em conta o grande hiato que o norte tem com o sul e como este último ficou no pós-guerra. Poderio estadunidense, industrial e bélico, se concretizou após a I Guerra Mundial, pela sua posição privilegiada longe dos conflitos que assolaram toda a Europa ocidental e também por ser um grande fornecedor de materiais bélicos e de provisões de primeira necessidade, como comida enlatada e roupas para as tropas e para os civis. Neste momento da história, Martinelli (2003) relata que se olhar com atenção para o continente europeu, o que se podia constatar é que estava gravemente enfermo debilitado e sem condições de manter a sua secular hegemonia no plano mundial. A realidade impunha- se e não havia como deixar de reconhecê-lo: os Estados Unidos eram o país vencedor da I Guerra Mundial e para lá se deslocava o centro de referência do mundo capitalista, pois havia naquele país uma classe dominante, que alimentava um acelerado processo de industrialização capitalista. REFLITA As guerras no período conhecido como moderno, onde há a cisão entre igreja e Estado foi por causa do capitalismo? Como creditar toda uma culpa em um sistema sendo que a beligerância faz parte da história do homem? Fonte: a autora.
  • 21. 21 UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social Martinelli (2003) prossegue relatando que os grandes empresários americanos seguros do seu poder e tomando por concreto algo profundamente abstrato, o seu eterno poder de classe, a burguesia americana entendia que podia controlar o processo social, assim como controlava o processo econômico. A antes referida Sociedade de Organização da Caridade encontrou um grande campo de atuação nos Estados Unidos, organizando reformas sociais e adotando práticas assistencialistas e trabalhando a questão social de forma bem reducionista, fazendo com que o processo de profissionalização da nossa categoria começasse a acontecer em 1904. As tidas assistentes sociais buscavam realizar uma modelagem ideológica, com trabalhos em torno da educação para embutir o pensamento e a mentalidade capitalista, para que as pessoas aceitassem a condição que se encontravam, colocando que era questão de caráter como o proletariado lidava com os seus problemas. O Serviço Social afirma-se como uma especialização do trabalho coletivo, inscrito na divisão sociotécnica do trabalho, ao se constituir em expressão de necessidades históricas, derivadas da prática de classes sociais no ato de produzir seus meios de vida e de trabalho de forma socialmente determinada. Assim seu significado social depende da dinâmica das relações entre as classes e destas com o Estado nas sociedades nacionais em quadros conjunturais específicos, no enfrentamento da “questão social” (IAMAMOTO, 2012, p. 203). Nesse contexto surge uma grande expoente, a Mary Richmond que em 1897, na Conferência Nacional da Caridade, apresentou a sua ideia de que o ser humano deve de ser compreendido em um dado momento e como o mesmo se interage com o meio social que faz parte. Dentre os seus avanços destaca-se também o Case work orientado para o diagnóstico social, para compreensão de situações-problemas analisando a pessoa humana de forma integrada com o seu contexto. Definindo assim, o problema social como objeto de estudo do Serviço Social, dando aspecto científico a nossa área. Carvalho (2012) lembra que o diagnóstico social, fundado no método de caso, enfatiza a importância do trabalho com grupos e comunidades na resolução ou transformação de problemas sociais. Ainda sobre Richmond, Martinelli (2003) explica que ao publicar o seu livro “Diagnóstico Social” a autora vai insistir na importância do trabalho social, em especial o seu alcance
  • 22. 22 UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social quando realizado com pessoas individualmente. Partindo do princípio de que eram a base da sociedade, o princípio da organização social, considerava que a essas pessoas como seres individuais que deviam dirigir-se os esforços dos trabalhadores sociais, no sentido de manter o funcionamento adequado da sociedade. Adotando, assim, a linha da psicanalítica que era tradicional na abordagem estadunidense. O livro provocou tamanha comoção e revolução para a categoria que o nosso valor foi finalmente reconhecido. Segundo Martinelli (2003) em 1919 a Escola de Filantropia Aplicada foi incorporada à Universidade de Columbia, e em 1920, fundava-se em Nova Iorque a Associação Nacional de Trabalhadores Sociais, visualizando o inquérito como um instrumento de fundamental importância para a realização do diagnóstico social e, posteriormente do tratamento, acreditava Richmond que só por meio do ensino especializado poder-se-ia obter a necessária qualificação para realizá-lo, com isso surge à profissão na qual ao longo de toda a história houve mudanças fundamentais para uma profissão inserida na divisão sociotécnica do trabalho. SAIBA MAIS Mary Ellen Richmond é reconhecida como a pioneira do Serviço Social profissional no sentido de ter elaborado as primeiras produções teóricas do Serviço Social e de ter in- fluenciado o Serviço Social em todo o mundo. Duas de suas obras, O diagnóstico social (1917) e O que é Serviço Social de casos (1922), reúnem as principais ideias dessa autora sobre o Serviço Social de casos individuais e representam a base que deu início à produção teórica no campo do Serviço Social. Esse pensamento pioneiro espalhou-se pela Europa e por outras partes do mundo onde o Serviço Social se institucionalizou como profissão. No Brasil, a influência do Serviço Social estadunidense se faz presente especialmente a partir da década de 1940, com o intercâmbio entre os dois países, que promoveu a ida de representantes do Serviço Social brasileiro aos Estados Unidos. Fonte: COSTA, Gilmaisa Macedo da. Revisitando o Serviço Social clássico. 2017. Disponível em: https:// www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revistaempauta/article/download/32747/23547. Acessado em: 05 de setembro de 2019.
  • 23. 23 UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social 4 INFLUÊNCIA DO ESTADO, IGREJA E ORGANIZAÇÕES SOCIAIS NA GÊNESE DO SERVIÇO SOCIAL Ao longo desta unidade nos apropriamos de muitos saberes que nos clareia de como a nossa sociedade se formou até a pós-modernidade, aprendemos que para que houvesse a Revolução Industrial muito precisou a ser feito e que coadunou esforços múltiplos causados por uma massiva desigualdade social e uma expansão no sistema capitalista, e dentro de todo o contexto surge o Serviço Social, vinculado ao pensamento conservador da igreja católica, tinha cunho de ação educativa, na qual passou a atuar em entidades filantrópicas por meio do Estado, seguindo uma linha de prevenção aos problemas sociais, visto que a questão social culminou na Revolução Industrial era tida como um problema causado pelo indivíduo e neste caso precisava de uma ação curativa, trabalhando a moral e a religiosidade. Iamamoto (2002, p.18) nos apresenta que “como profissão inscrita na divisão do trabalho, o Serviço Social surge como parte de um movimento social mais amplo, de bases confessionais, articulado à necessidade de formação doutrinária”, com isso a igreja buscava recuperar parte do seu prestígio que havia perdido com a expansão do capitalismo, culminando com aumento da sociedade nos centro urbano e as dificuldades que estava enfrentando na sua relação com o Estado.
  • 24. 24 UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social SAIBA MAIS A intervenção do Estado na “questão social” é legítima, já que este deve servir ao bem comum. O Estado deve assim preservar e regular a propriedade privada, impor limites legais aos excessos da exploração da força de trabalho e, ainda, tutelar os direitos de cada um, especialmente dos que necessitam de amparo. Fonte: Iamamoto, Marilda Vilela. Renovação e Conservadorismo no Serviço Social. 6 ed. São Paulo, Cortez, 2002. A formação de um Estado não mais pautado ou resumido a um mandatário foi uma pré-condição para que a liberdade econômica pudesse atingir o desejado cenário para que a livre iniciativa fosse dada. Afinal, o poder não era mais personificado e sim uma instituição. Neste sentido, Pereira (2008, p.148) ressalta que o Estado é ao mesmo tempo uma relação de dominação, ou a expressão política da dominação do bloco no poder, em uma sociedade territorialmente definida, e um conjunto de instituições mediadoras e reguladoras dessa dominação, com atribuições que também extrapolam a coerção. Nesse contexto, o governo ganha persona própria, jurídica, separada tanto da persona física do governante quanto da instituição estatal. O marco da modernidade está em ter a separação total e completa da política com a Igreja, a última não tendo mais as famosas predileções que antes estava habituada. Cabendo à Igreja o lugar de tratar das coisas metafísicas que fogem a compreensão terrena e científica. O protestantismo, em especial o calvinismo foi muito importante para a atividade empreendedora, basta resgatarmos a leitura de Weber em “A ética protestante e o espírito do capitalismo” onde há um estudo aprofundado dos valores da religião para o capitalista. Tendo essas instituições devidamente separadas e cada qual com a sua atribuição, nos inclinamos a compreender a contribuição que deram para a nossa categoria, as influências diretas que cada qual para o nascimento e como nos situamos em nosso tempo espaço de evolução enquanto ciência e profissão. A começar pelo Estado, que legitimou a nossa atividade e nos fiscaliza quanto a nossa prática. Ao longo do tempo, percebe-se que o serviço público foi se tornando o maior demandador do nosso saber. Assim, destaca-se:
  • 25. 25 UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social Os projetos profissionais apresentam a auto-imagem de uma profissão, ele- gem os valores que a legitimam socialmente, delimitam e priorizam seus ob- jetivos e funções, formulam os requisitos (teóricos, práticos e institucionais) para o seu exercício, prescrevem normas para o comportamento dos pro- fissionais e estabelecem as bases das suas relações com os usuários de seus serviços, com as outras profissões e com as organizações e instituições sociais privadas e públicas (inclusive o Estado, a que cabe o reconhecimento jurídico dos estatutos profissionais). (Netto 2001, p. 4). Sobretudo, após as Guerras Mundiais e toda organização humana, em meio a catástrofes e destruição maciça, houve a necessidade de que os países se organizassem a fim de dar novas perspectivas aos cidadãos atingidos diretamente pelos confrontos bélicos e a resposta vem como o Welfare State, ou Estado de Bem Estar Social. Teve como principal motivo evitar o avanço da ameaça comunista, usando de políticas econômicas keynesianas para emprego e distribuição de renda. Destaca-se que a Seguridade Social, Previdência e Saúde começaram a ser adotadas em grande parte do mundo e se tornaram universais e para todos. Quanto às organizações sociais Martinelli (2003) cita que o criador não podia deixar de legitimar a criatura, ou seja, era ratificado pela burguesia, o que soa estranho e cria certo paradoxo, pois essa legitimação de sua prática não decorreu da população usuária, mas sim da classe dominante – os mandantes da prática – e, depois, os contratantes dos serviços profissionais dos assistentes sociais. Vimos que foi um movimento dos empresários para que as ressurreições operassem e fossem apaziguadas e sem maiores prejuízos aos cofres dos mesmos. Portanto, era uma prática que atendia aos interesses dos grandes proprietários de fábricas, não indo de encontro com o que a classe trabalhadora almejava e necessitava para sobreviver. Martinelli (2003) nos lembra de que alguns assistentes sociais se alinhavam ao Estado e à Igreja como uma forma de ampliar os espaços de atuação e para se consolidar enquanto profissionais, na verdade, segundo relata a autora, nos Estados Unidos, a partir de 1920, ganhava força a Associação Nacional de Trabalhadores Sociais, enquanto na Europa o esforço estava em garantir uma hegemonia do pensamento católico, apresentando um espectro bem interessante, pois o protestantismo era base dos capitalistas, enquanto o catolicismo atendia os operários. Na lógica cristã e toda a sua doutrinação é explícita na seguinte citação: O assistente social deveria, assim: ser uma pessoa da mais íntegra forma- ção moral, que a um sólido preparo técnico alie desinteresse pessoal, uma grande capacidade de devotamento e sentimento de amor ao próximo; deve ser realmente solicitado pela situação penosa de seus irmãos, pelas injusti- ças sociais, pela ignorância, pela miséria, e a esta solicitação devem corres-
  • 26. 26 UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social ponder às qualidades pessoais de inteligência e vontade. Deve ser dotado de tantas outras qualidades inatas, cuja enumeração é bastante longa: de- votamento, critério, senso prático, desprendimento, modéstia, simplicidade, comunicatividade, bom humor, calma, sociabilidade, trato fácil e espontâneo, saber conquistar a simpatia, saber influenciar e convencer, etc. (IAMAMOTO; CARVALHO, 2008, p. 227). A construção da influência da Igreja se tornou bem evidente em alguns períodos na história da nossa categoria, vamos destacar da formalização com a fundação da Escola Católica de Serviço Social no ano de 1911 em Paris. Que a princípio usava da abordagem de trabalho em núcleos sociais e refletiam a questão social pela doutrina social da Igreja. Prática essa que atingiu toda a Europa e chegou até ao Brasil como Yazbek (2009, p.145) constatou: [...] é por demais conhecidas à relação entre a profissão e o ideário católico na gênese do Serviço Social brasileiro, no contexto de expansão e seculari- zação do mundo capitalista. Relação que vai imprimir à profissão caráter de apostolado fundado em uma abordagem da „questão social‟ como problema moral e religioso e numa intervenção que prioriza a formação da família e do indivíduo para solução dos problemas e atendimento de suas necessidades materiais, morais e sociais. O contributo do Serviço Social, nesse momento, incidirá sobre valores e comportamentos de seus “clientes na perspectiva de sua integração à sociedade, ou melhor, nas relações sociais vigentes”. (YA- ZBEK, 2019, p. 145). Diante das desigualdades sociais, a classe operária começou a fazer grandes mobilizações, não se fala em outra coisa a não ser a “questão social” obrigando o Estado a se posicionar frente a tal demanda e consequentemente a igreja também se posicionou, buscando nos princípios das encíclicas papais (Rerum Novarum e Quadragesimo Anno) o seu processo interventivo, pois para a igreja tal atitude era vista como a falta da religiosidade. A forte influência da Igreja Católica se fazia presente antes mesmo da sua formalização em Paris se resgatar a Encíclica Rerum Novarum, que significa Das Coisas Novas, divulgada em 1891 pelo Papa Leão XIII como uma crítica a situação da classe trabalhadora em detrimento dos ganhos capitalistas. Imagem 4: Igreja Católica e suas influências
  • 27. 27 UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social Ao divulgar os dogmas católicos, o Papa lembra que as mudanças ocorridas na sociedade, fizeram com que as classes se esquecessem das coisas de Deus. De acordo com a Castro (2003) a encíclica Rerum Novarum se dividiu em duas partes a primeira ficou baseada em solucionar os problemas baseado nas propostas pelo socialismo e a segunda a proposta da própria igreja que era a de manter a causa do bem comum, visto que poderia ganhar forças com os operários por ser a maior parte da população, colocando capitalismo em alerta. Mas é na encíclica Quadragesimo Anno que a igreja se reafirma após a um apelo aos católicos daquele período. SAIBA MAIS Aos nossos muito amados Filhos eleitos para a tão grande obra recomendamos... que, se entreguem totalmente à educação dos homens que lhe confiamos e que nesta tare- fa verdadeiramente sacerdotal e apostólica usem oportunidades todos os meios mais eficazes da educação cristã: ensina aos jovens, instituir associações cristã e fundar círculos de estudo. Fonte: CASTRO, Manuel Manrique. História do Serviço Social na América Latina. 6Ed. São Paulo. Cortez, 2003. p. 61. É evidente que a Igreja encontrou a oportunidade de reforçar o seu poder ao divulgar a Encíclica Quadragesimo Anno em 1931 com o Papa Pio XI, a qual reforçava os valores da anterior, assegurando soluções ao problema espinhoso da questão Social e em meio ao pós guerra que o mundo ainda buscava superar. Expondo que o amor ao próximo, no sentido cristão da palavra, não se fazia mais presente e a exploração em nome do lucro se fazia senhor. Assim, ao se discutir sobre as causas do conflito de classes, a encíclica credita toda a culpa na ganância e o desvirtuamento da postura cristã, a saber que de longa data a Igreja se posicionava contra a Usura ou lucros. Vale ressaltar que a Igreja também se posicionava contra o socialismo ao defender a propriedade privada, contraditório ao se tratar dos direitos da igreja e dos operários. Ao nos situarmos no período histórico, havia levantes socialistas que questionavam sobre a posse de terras e como estavam concentradas, que oriundos da Revolução Francesa, queriam dar cabo aos domínios diversos, entendendo que se classe operária produz a ela pertence.
  • 28. 28 UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social Das coisas novas também preconizava o descanso sagrado que todo filho de Deus tinha direito e dever ao referir “Guie-se o operário ao culto de Deus, incite-se nele o espírito de piedade, faça-se principalmente fiel à observância dos domingos e dias festivos. Aprenda ele a amar e a respeitar a Igreja, mãe comum de todos os cristãos, a aquiescer aos seus preceitos, a frequentar os seus sacramentos, que são fontes divinas onde a alma se purifica das suas manchas e bebe a santidade.” Assim como relutava a jornada exaustante de trabalho que muitos operários eram sujeitados, lembrando que crianças e mulheres grávidas trabalhavam em locais insalubres e muitas horas de serviço sem as devidas pausas. “O direito ao descanso de cada dia assim como à cessação do trabalho no dia do Senhor, deve ser a condição expressa ou tácita de todo o contrato feito entre patrões e operários. Onde esta condição não entrar, o contrato não será justo, pois ninguém pode exigir ou prometer a violação dos deveres do homem para com Deus e para consigo mesmo.” Diante do que vimos até aqui, fica evidente que o Serviço Social surgiu em um cunho conservador vinculado a igreja católica, tendo influência do Estado e das organizações, tudo isso para manter ordem entre o capital e o proletariado. A Este pensamento conservador a Iamamoto (2002) traz como sendo dedutivo, atendendo às situações imediatas e particulares a partir da estrutura da sociedade, visando o controle da situação circunstancial, e este tipo de comportamento é reflexo da Revolução Francesa e da Revolução Industrial. Portanto, fica evidente que o Serviço Social se desenvolve em um universo influenciado pelo pensamento conservador religioso, mas conforme a sociedade evoluiu foi necessário algumas reflexões, nas quais os profissionais passaram a incorporar ideias do elemento da sociologia conhecida como noção de comunidade esta teoria se tornou a matriz central do capitalismo e um estudo que passou a nortear toda a ação profissional. REFLITA “A noção de comunidade relacionava a todo tipo de relação ocorrida na sociedade, bem como as suas implicações”. Fonte: a autora.
  • 29. 29 UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro(a) aluno(a), ao longo desta unidade buscamos entender como o Serviço Social nasceu em meio a toda a dinâmica global e econômica que o mundo estava a vivenciar e retroalimentando. Ao chegar ao fim da primeira unidade, espera-se o seu entendimento que astransformaçõesqueumnovomodeloeconômicotrouxeconsigo,alterandoprofundamente a lógica humana. Fazer esse trabalho de resgatar a historicidade é oportuno e valioso para que percebamos que essa transição de contato com o trabalho e com o modo de vida gerou atribulações e resistência por uma parte da população que fora submetida à essa nova razão imperiosa. Desta forma, a própria sociedade precisou dar respostas a essa agitação que historiadores e o Serviço Social foi um dos revides usados pela burguesia, Estado e Igreja no intuito de controlar e acalmar uma classe que se encontrava inflamada, pouco adaptada e, até mesmo, se mostrando venturosa muitas vezes. O papel da ciência é de desmistificar, usando da dialética, a sabedoria convencional e o senso comum. Digo isso, pois, são raras vezes que escutamos populares a categorizar a nossa profissão como uma forma de acolhimento e apoio, fornecendo elementos primários para a vida humana, como alimentos e roupas, por exemplo, ou mesmo para lutar contra os ricos e poderosos chamando a atenção para os pobres e necessitados. Aprendemos que não é esse o foco do assistente social e tão pouco o profissional fora concebido para esse fim. Nascemos e atuamos seguindo a lógica capitalista sob a influência da igreja católica, para manter a ordem e neutralizando ou dirimindo os trabalhadores de se rebelarem contra o sistema vigente e tentando entender por meio de teorias a causas de suas mazelas. Com isso o mecanismo científico como investigação, pesquisa, diagnóstico das demandas sociais e problematização da profissão foram desenvolvidos para que tivéssemos a profissionalização dos dias atuais, na qual estudaremos nas próximas unidades. Contudo, nada é dado e completo ainda, pois o Serviço Social tem outras causas e discussões a fazer, outros aspectos filosóficos a estudar que ainda fundamentam a prática do profissional, pois o mundo está em constante mudança e sempre apresentando novas reivindicações e contextos voláteis.
  • 30. 30 UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social LEITURA COMPLEMENTAR (...) Richmond foi assistente de tesouraria e depois eleita secretária-geral da COS (Charity Organization Society) de Baltimore, em 1891. As COS’s, que se espalharam nos EUA, eram instituições de caridade que chegaram àquele país através da experiência inglesa, como um esforço de cooperação entre Estado (especialmente prefeituras) e Igreja (sobretudo protestante) para assistir às necessidades de famílias pobres, a partir de práticas de auxílio material e educação moral com uma abordagem individualizada. Acontece que outras experiências de assistência aos pobres também ganharam notoriedade. Os Settlement Movements, liderados por Jane Addams, inspiraram-se nas experiências do Toynbee Hall da Inglaterra e criaram as Hull Houses. Diferente das COS’s, sua proposta era a de promover um espírito de cooperação e solidariedade em bairros pobres, de modo que seus moradores pudessem, em um processo coletivo e orientado pelas residentes, aprender a importância do espírito de grupo, de forma a superar as próprias dificuldades, e a importância da organização coletiva para reivindicar melhorias em suas condições de vida. Jane Addams se tornou internacionalmente conhecida como uma ferrenha militante da reforma social e crítica de todas as práticas que ela caracterizava como “antidemocráticas”: a de desqualificar o modo de vida dos pobres e tentar impor-lhes um padrão de comportamento dominante. O palco para esses e outros debates era a Conferência Nacional sobre Caridade e Correção [National Conference of Charity and Correction], que reunia anualmente instituições, filantropos, religiosos, políticos e todos aqueles que viam nas ações de caridade uma importante ferramenta de intervenção sobre a vida dos pobres com vistas à mudança social. Todavia, que tipo de mudança, mudança para quê, como mudar, o que era a “caridade”, e o que precisava ser “corrigido” passavam a fazer parte das polêmicas debatidas nas conferências. Mesmo que nem as COS’s e nem as Hull Houses tivessem alguma pretensão revolucionária, eram nítidas suas diferenças de concepção, tanto de projeto como de abordagem. Pelo impacto que os Settlement Movements passaram a ter em várias metrópoles nos EUA, Jane Addams foi convidada para apresentar a experiência na reunião da Conferência realizada em 1897. Não por acaso, a publicação de “Friendly visiting among
  • 31. 31 UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social the poors” ocorre dois anos depois; ousamos dizer que o livro é um esforço de Richmond para afirmar o projeto das COS’s. Isso fica claro já no Prefácio escrito por Richmond, quando exalta o pioneirismo de Bernard Bonsanquet, Charles Loch e Octavia Hill com as COS’s na Inglaterra e o quanto ela aprendeu ao conhecer o trabalho na primeira COS dos EUA, a de Nova York, fundada por Josephine Shaw Lowell. E que, apesar de reconhecer o trabalho de Jane Addams, a autora diz o livro que ora escreve é uma forma de pagar uma dívida com todos aqueles que há muito investem no trabalho das associações de caridade com base na “visita amigável”. Isso se revela no fato de ela dedicou dois capítulos ao homem: o primeiro discute a sua condição de trabalhador no espaço público, o que o faz provedor do sustento; e o segundo, a sua função como provedor dentro do lar [The breadwinner at home], o que o faz chefe de família. E é nesse momento que ela aponta quais as grandes dificuldades que os visitadores amigáveis encontram quando se deparam com chefes de família “vagabundos” - vale lembrar que Richmond fala de visitas a pobres, de quem o “caráter” deve ser observado pelos visitadores. A tradicional visão do papel do “feminino” como mantenedor da moral, dos bons costumes, da educação das crianças, de sua alimentação, da limpeza da casa e das responsabilidades religiosas é naturalmente reproduzida pela autora como um dos focos de atuação dos visitadores amigáveis para ajudar a família a resolver as causas de suas necessidades. (...) Fonte: TONIOLO, Charles. Visita amigável entre os pobres: um manual para trabalhadores da caridade, de Mary Ellen Richmond. 2019. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0101-66282019000300583.
  • 32. 32 UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO 1 Título: Capitalismo Monopolista e Serviço Social. Autor: José Paulo Netto. Editora: Cortez. Sinopse: Este livro nos apresenta o surgimento da profissão vinculado a sua história à emergência do Estado Burguês na idade do monopólio, bem como os projetos das classes sociais fundamentais e à execução das Políticas Sociais. Além de abordar a teoria e prática do Serviço Social fundamentada no sincretismo. LIVRO 2 Título: Renovação e Conservadorismo no Serviço Social: Ensaios Críticos. Autora: Marilda Vilela Iamamoto. Editora: Cortez. Sinopse: Este livro oferece uma síntese crítica das problemáticas centrais da profissão, iluminadas por um foco teórico singular e tratadas com a sua reconhecida competência. Painel das grandes polêmicas dos anos oitenta, a herança conservadora do Serviço Social e sua ultrapassagem, a profissão e a divisão social do trabalho, a questão social e a era do monopólio, a formação profissional e suas perspectivas.
  • 33. 33 UNIDADE I Bases Históricas do Serviço Social FILME/VÍDEO Título: Tempos Modernos. Ano: 1936. Sinopse: Um operário de uma linha de montagem, que testou uma “máquina revolucionária” para evitar a hora do almoço, é levado à loucura pela “monotonia frenética” do seu trabalho. Após um longo período em um sanatório ele fica curado de sua crise nervosa, mas desempregado. FILME/VÍDEO Título: Gangues de Nova York. Ano: 2003 Sinopse: Em plena Nova York de 1840, o jovem Amsterdam (Leonardo DiCaprio) busca se vingar de William “The Butcher” Cutting (Daniel Day-Lewis), o assassino de seu pai (Liam Neeson), que era o líder da gangue Dead Rabbits. Em sua jornada Amsterdam acaba se tornando amigo e homem de confiança de William, apaixonando-se também por Jenny Everdane (Cameron Diaz), uma bela jovem que é integrante de uma gangue rival.
  • 34. 34 Plano de estudo: ● Nascimento das ciências sociais e a “questão social” ● Neotomismo, Positivismo e Funcionalismo ● Serviço Social de Casos ● Fenomenologia aplicada ao Serviço Social Objetivos de Aprendizagem: ● Como as ciências sociais surgiram e sua relação com a questão social; ● As teorias do Neotomismo, positivismo e funcionalismo para o Serviço Social; ● O Serviço Social de Casos de Mary Richmond e seus estudos; ● As teorias da Fenomenologia para o Serviço social. UNIDADE II Bases Teórico-Metodológicas para o Serviço Social Professora. Esp. Irení Alves de Oliveira
  • 35. 35 UNIDADE II Bases Teórico-Metodológicas para o Serviço Social INTRODUÇÃO Caro(a)aluno(a),nestaunidadevamosaprenderquaisasteoriasquefundamentaram o Serviço Social como profissão, para isso é necessário buscar nos estudos de grandes filósofos como Karl Marx, Max Weber e Émile Durkheim como a sociologia deu base para a surgimento de novas ciências sociais e o que de fato essas ciências estudam. Também vamos conhecer como as teorias do neotomismo, positivismo e o funcionalismo foram base para a profissão, bem como as suas relações diante da formação de profissionais. É importante destacar que as teorias de Mary Richmond foram importantes para que o Serviço social pudesse se tornar uma profissão a partir de estudos em escolas, na qual ser assistente social passou a ser conhecida como profissão e não mais como ajuda ou caridade. As teorias de Richmond foram fundamentais para entender muitos processos para a profissão, sendo necessário buscar base teórica em correntes de outros pensadores criando assim uma corrente conservadora, mas que fundamentava a profissão. E por fim, como a teoria de Husserl foi direcionada para a profissão e até que ponto esta teoria foi fundamental para a profissão, visto que tivemos muitos autores que enfatizaram a falta de compreensão da verdade corrente que apresenta a fenomenologia. Estudar as bases teóricas é imprescindível para a profissão, pois a partir dessas correntes é que o Serviço social saiu daquele formado de caridade e ajuda e deu início a uma profissão fundamentada nas bases teóricas de grandes pensadores, que foram importantes no início da profissão, é inevitável que a corrente conservadora predomina no perfil dos profissionais dos anos 1960 por diante, mesmo que buscavam por vertentes que levasse a profissão para outro patamar. E a partir dessas informações Caro(a) aluno(a) que lhe convido a se aprofundar nos conteúdos desta unidade, pois a profissão passou por muitas mudanças e revisão na base teórica para chegar ao formato que se encontra atualmente, é claro que tem muita coisa ainda a ser melhorado, mas para que isso possa acontecer é importante conhecermos o surgimento da profissão a partir das bases teóricas.
  • 36. 36 UNIDADE II Bases Teórico-Metodológicas para o Serviço Social 1 NASCIMENTO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS E A “QUESTÃO SOCIAL” De acordo com o que estudamos no primeiro capítulo deste livro, por volta do século XVIII houve grandes mudanças no formato que a sociedade estava organizada, está mudança teve início na Europa com o surgimento da industrialização, marcando profundamente nas relações de trabalho, além dos inúmeros problemas sociais na qual se perpetua até os dias atuais, englobando as áreas das ciências, da economia, da religião e da política, emergindo assim a profissão de Serviço Social. Diante deste contexto que pensadores como Karl Marx, Max Weber e Émile Durkheim contribuíram para o desenvolvimento de uma ciência na qual tem como viés entender as diferenças de classes e o motivo das desigualdades sociais tendo como foco o fenômeno social, esta ciência é conhecida como sociologia, sendo à base das diversas ciências sociais como: a Economia; a História; a Geografia; a Antropologia; a Ciência Política; a Comunicação Social e o Serviço Social. A sociologia se mostra importante para nossa profissão, pois nos dá base teórica e sustentação científica para o nosso objeto de estudo: a questão social é por meio desta ciência que conseguimos compreender um problema social enraizado nas diversidades das desigualdades sociais geradas pelo capitalismo, na qual uma pequena parcela da sociedade se apropria do lucro causado por uma massiva produção de trabalho, desenvolvido por uma grande parcela da sociedade.
  • 37. 37 UNIDADE II Bases Teórico-Metodológicas para o Serviço Social Mas, para adentrar em todo este conceito é importante conhecermos o surgimento da sociologia que, de acordo com Bressan (2008), deu-se a partir de dois momentos, o primeiro em 1830 com a emergência da classe operária devido à efervescência do processo de industrialização e as suas condições precárias de trabalho e segundo foi em 1848 com a mudança do regime e ou resquícios da monarquia francesa, onde o sistema de castas e privilégios foi derrubado, pois nascia uma nova ordem socioeconômica. Os liberais, integrantes de uma classe sem títulos reais e empresários, entravam em cena demonstrando que o outro poder estava já enraizado e aceito. Neste momento assistimos o fortalecimento do capitalismo e da necessidade de entendê-lo, e consequentemente as diversas expressões da questão social. Caro(a) aluno(a), é importante considerarmos que a sociologia é um estudo científico que tem como base as relações sociais e fenômenos que envolvem o ser humano, normalmente não segue uma norma e muito menos faz juízo de valor em relação aos estudos abordados, pois além de se basear em estudos mais objetivos relacionados à natureza humana busca se aproximar da realidade social por meio de um universo sociocultural na qual o homem está inserido. Partindo desta lógica que a sociologia expande suas pesquisas, tendo as ciências sociais como ramo das diversas áreas do saber, com um único propósito estudar o homem em sociedade, mas para entender toda esta dinâmica, faz-se necessário buscarmos na obra “Sociologia Geral” da autora Eva Maria Lakatos publicada em 1990, as teorias dos três pensadores já citados que contribuíram para o desenvolvimento da sociologia e consequentemente das ciências sociais. Começaremos por Karl Marx um filósofo de formação, aluno mais brilhante de Hegel, oriundo de uma família judaica que foi o responsável pela a primeira cientificação do socialismo, usando do materialismo histórico e dialético para demonstrar as contradições do capital e como a questão humana ficava degenerada no contexto de um trabalho intenso nas fábricas. O mesmo intelectual defendeu que o homem é um ser social, pois vive em comunidades e as suas relações com o meio precisam ser mediadas pelo outro. Dentro desta linha, quando temos o que ele chama de relação de Imagem 1: Karl Marx (1818-1883)
  • 38. 38 UNIDADE II Bases Teórico-Metodológicas para o Serviço Social produção, o homem precisa se relacionar com os demais para que possa se desenvolver como ser social. Outra contribuição importante, tida por especialistas como a pedra angular da sua teoria é a luta de classes, ou seja, como as pessoas das mais diferentes camadas sociais se relacionam, Marx as dividiu em duas, a saber: Operários e Burgueses, de um lado a luta de classes é o que define como as pessoas se posicionam e como elas poderão garantir os seus direitos perante a sociedade e do outro a classe burguesa detentora do poder na busca por ampliar o seu lucro diminuindo cada vez mais o seu concorrente. Este pensador também enfatiza que a sociedade se fraciona em Infraestrutura baseado nas relações de trabalho e nas forças produtivas bem como na superestrutura regida por leis e normas e por um conjunto de ideias imposta pela classe social dominante, causando diversas implicações movidas por grandes desigualdades sociais. Durkheim foi conhecido como um sociólogo, antropólogo, cientista político, psicólogo social e filósofo Francês, conhecido como pai da sociologia, foi o principal idealizador da ciência social, a sua preocupação era como a sociedade manteria a integridade e a coerência no aspecto moderno. considerado como o primeiro professor de sociologia fundou a revista L’Année Sociologique. O seu estudo tinha dois princípios: o primeiro ficou conhecido por consciência coletiva, na qual tinha como entendimento a soma da crença e a dos sentimentos, para ele o ser humano é movido de acordo com o grupo pelo qual pertence, buscando a moral e a mentalidade como aspecto para agir, pensar e sentir, de acordo com este pensador a consciência coletiva normalmente se sobrepõe a consciência individual que basicamente age, pensa e senti fora do grupo o que normalmente acaba sendo excluído do meio social tendo consequências severas em seu meio existencial. E o segundo é dividido em dois aspectos, a primeira é solidariedade mecânica basicamente se trata das semelhanças entre os indivíduos de um determinado grupo, ou seja, para que o grupo possa se manter é necessário que se pense no todo, não é permitido agir de forma individual e quando isso acontece o membro é degenerado do grupo. E a Imagem 2: Émile Durkheim (1858 – 1917) Fonte da imagem: https://vestibular.uol. com.br/resumo-das-disciplinas/atualida- des/100-anos-de-durkheim-conheca-o- -pensamento-de-um-dos-pioneiros-da-so- ciologia.htm
  • 39. 39 UNIDADE II Bases Teórico-Metodológicas para o Serviço Social segunda é a solidariedade orgânica que tem como base uma consciência livre, neste caso o pensamento e as atitudes não são mais baseadas na semelhança do indivíduo dentro de um determinado grupo, mas na autonomia enquanto ser pensante de seus próprios ideais. Weber é considerado um estudioso da sociologia moderna, tinha como objetivo compreender a conduta social a partir da análise do comportamento do indivíduo em meio às relações sociais. Um dos métodos de estudo de Max foi a ação social a partir da formação do capitalismo, conceito aprimorado no livro “A ética protestante e o espírito do capitalismo. Para este pensador a conduta social se dividia em quatro condutas: a tradicional; emocional; a valorizadora e a racional-objetiva, e para entender essas quatro condutas foi necessário buscar nas tradições antigas e atuais daquela época como a sociedade se comportava, quais eram os seus hábitos e ou comportamentos, o que as pessoas esperavam umas das outras e quando as pessoas agiam a partir do que as outras pessoas esperavam delas. O estudo do Max Weber contribuiu para entender o método de Durkheim na questão do valor e do julgamento, ele compreendeu que os valores poderiam ser um problema de fé, mas não por falta de conhecimento, provocando nas ciências sociais a questão de não focar nos valores e sim na análise dos acontecimentos das ações sociais, simplesmente pelo fato de que os seres humanos têm total consciência das suas ações sociais a partir da sua conduta humana em meio à sociedade. Caro(a) aluno(a), como pudemos observar os estudos desenvolvidos pelos três pensadores da Sociologia foram fortemente influenciados nas áreas do saber, principalmente na área de humanas, e um dos estudos que abrange essas áreas é a da Ciências Sociais. Para entender este conceito é importante compreendermos o que significa a palavra Ciência. De acordo com Lakatos (1990, p. 15) é “uma sistematização de conhecimento, um conjunto de proposições logicamente correlacionadas sobre o comportamento de certos fenômenos que se deseja estudar”, partindo desta lógica que a Ciências Sociais passou a ter como foco estudar o homem na sociedade, buscando analisar as suas relações sociais Imagem 3: Max Weber (1864 – 1920)
  • 40. 40 UNIDADE II Bases Teórico-Metodológicas para o Serviço Social e a partir deste conceito é que a Ciências Sociais nasce como uma área que abrange outras áreas tendo como foco de estudo o homem em sociedade. SAIBA MAIS Karl Marx, Max Weber e Émile Durkheim são conhecidos como: “os três porquinhos”, este carinhoso apelido foi dado por professores e alunos da Sociologia, que logo expan- diu nas demais áreas do saber e por mais suas teorias fossem diferentes, acabaram tendo como foco os fenômenos sociais, buscando entender o ser humano em meio à sociedade. É importante destacarmos que estes pensadores foram e são fortemente influenciados na profissão de Serviço Social, principalmente para entender o homem e suas relações sociais. Fonte: a autora. 1.1 QUESTÃO SOCIAL OBJETO DE ESTUDO DO SERVIÇO SOCIAL É evidente que com o nascimento das ciências sociais trouxe grandes reflexões para as diversas áreas do saber, principalmente para o Serviço Social que tem com o seu objeto de estudo a questão social, mas você deve estar se perguntando, qual a relação entre si, ora caro (a) aluno (a), a ciências sociais tem como foco estudar o homem em meio à sociedade e a questão social por sua vez estuda o conjunto de expressões das desigualdades sociais gerado pelo acúmulo de riquezas, ambos os conceitos surgiram na busca de entender a expansão do capitalismo e a relação do trabalho. De acordo com a Iamamoto (2012, p.114) “Aquestão social é expressão do processo de produção e reprodução da vida social na sociedade burguesa da totalidade histórica Imagem 4: Processo de Produção
  • 41. 41 UNIDADE II Bases Teórico-Metodológicas para o Serviço Social concreta”, ou seja, a questão social emergiu em um contexto que a produção se tornou cada vez mais forte no sistema capitalista. Desta forma, o capitalismo se apropriou da força de trabalho da classe operária para se manter no poder, como isso surgiu às múltiplas expressões da questão social, como por exemplo, o desemprego e a precarização nas relações de trabalho, situação pelo qual se arrasta até os dias atuais. Na busca por compreender as teorias de Marx, Weber e Durkheim em relação ao fenômeno social, pudemos constatar que a desigualdade social é um processo histórico que teve seu início na idade média, mas se expandiu com o modo de produção capitalista, mais especificamente no processo de industrialização, tendo em sua base central a propriedade privada e consequentemente a exploração da mão de obra e a precarização na relação de trabalho, refletindo diretamente na vida do trabalhador. Para Marx (1989) a acumulação do capitalismo é resultado da venda da força de trabalho, na qual o autor descreve como exército industrial de reserva ao dispor deste sistema opressor, a força de trabalho acaba pertencendo de forma absoluta, como se estive sido criado pelo capitalismo. Nesta perspectiva o autor retrata que este sistema capitalista fornece condições variáveis para o modo de produção, na qual o trabalhador fica à disposição para a exploração independente se houve aumento ou não da população, cabe destacar que quanto mais à força produtiva do trabalho aumenta, mas o capitalismo expande e consequentemente a desigualdade social. Marx foi o pensador que mais retratou a relação capital X trabalho, em sua obra o Capital, é abordado à trajetória e o contexto desta relação, mas em nenhum momento este brilhante pensador utiliza o termo questão social para retratar o pauperização, e você deve estar se perguntando, como surgiu este termo e como ele se tornou o objeto de estudo do Serviço Social. Para Castel (1998) a questão social originou-se no ano de 1831 a partir de uma acusação feita ao governo francês, em que o jornal legitimista La Quotidienne, chamou a atenção dos parlamentares da época, dizendo que era necessário entender além da busca pelo poder do capitalismo, pois existia uma “questão social” carente buscando por respostas emergentes, devido à pauperização em que os trabalhadores estavam enfrentando, decorrente do processo de industrialização e suas consequências. Em sumo, a questão social foi concebida por meio da acumulação do capitalismo e na luta da classe trabalhadora, na qual teve a intervenção o Estado, por meio da criação de políticas públicas para manter a ordem social, e diante de todo este cenário é que a profissão de Serviço Social surge, como forma de intervir nas relações sociais do trabalho,
  • 42. 42 UNIDADE II Bases Teórico-Metodológicas para o Serviço Social promovendo a mediação perante os pares, sendo considerada uma profissão na divisão sociotécnica do trabalho. A utilidade social de uma profissão advém das necessidades sociais. Numa ordem social constituída de duas classes fundamentais (que se dividem em camadas ou segmentos) tais necessidades, vinculadas ao capital e/ou ao trabalho, são não apenas diferentes, mas antagônicas. A utilidade social da profissão está em responder às necessidades das classes sociais, que se transformam, por meio de muitas mediações, em demandas para a profis- são. Estas são respostas qualificadas e institucionalizadas, para o que, além de uma formação social especializada, devem ter seu significado social re- conhecido pelas classes sociais fundamentais (capitalistas e trabalhadores). Considerando que o espaço sócio-ocupacional de qualquer profissão, neste caso do Serviço Social, é criado pela existência de tais necessidades social e que historicamente a profissão adquire este espaço quando o Estado passa a interferir sistematicamente nas refrações da questão social, institucional- mente transformada em questões sociais (Netto, 1992), através de uma de- terminada modalidade histórica de enfrentamento das mesmas: as políticas sociais pode-se conceber que as políticas e os serviços sociais constituem- -se nos espaços sócio-ocupacionais para os assistentes sociais (GUERRA, 2007. p. 06). Diante de todo este contexto é que a profissão se instaura, ou seja, por meio de uma necessidade social causada pela expansão do capitalismo e a relação de trabalho, mediante a exploração da mão de obra, tendo como viés responder a necessidade das classes sociais conforme pontuada pela autora a profissão surgiu mediante a necessidade social de forma a intervir na chamada questão social, cabe destacarmos que, a intervenção da profissão ocorre pela mediação nas organizações públicas e privadas, bem como as entidades de cunho filantrópico, não possuindo um processo de trabalho próprio, mas se insere em cada espaço sócio-ocupacional a partir daquela demanda estabelecida, na qual necessita atender uma das expressões da questão social conforme estabelecida pela política pública criada pelo estado. Desta forma a questão social se torna o objeto da profissão, devido ao seu surgimento histórico e forma como a profissão se estabelece em meio à sociedade, tendo como ponto de partida mediar às relações sociais, causada pela dinâmica do modo de produção e reprodução do sistema capitalista. REFLITA A questão social, em suas manifestações já conhecidas e em suas expressões novas, tem de considerar as particularidades histórico-culturais e nacionais. Fonte: Netto, José Paulo, Capitalismo e barbárie contemporânea. Argumentum, Vitória (ES), v. 4, n.1, p. 202-222, jan./jun. 2012. p. 209.
  • 43. 43 UNIDADE II Bases Teórico-Metodológicas para o Serviço Social 2 NEOTOMISMO, POSITIVISMO E FUNCIONALISMO Nesta seção nos aprofundaremos sobre os principais pilares filosóficos do Serviço Social que até na atualidade nos diz muito sobre o quanto a nossa profissão está em contato com o cotidiano da população que buscamos atender e fornecer suporte enquanto profissionais. Assim sendo, para uma melhor compreensão irei dividir em sub tópicos para cada qual tenha o seu espaço merecido para discussão. Essa forma de sistematização proposta busca dar ênfase nas diferenças de cada corrente filosófica e de pensamentos e problematização, logo objetiva fazer uma cisão mais completa para o discente, podendo você mesmo caro leitor fazer a introspecção que lhe for mais apropriada. NEOTOMISMO Nesta parte destacarei o pensamento social da Igreja sobre a “questão social”, vista como questão moral pela referida instituição, e que incide solidamente no trato das assistentes sociais com os sujeitos da classe trabalhadora. O papel da Igreja Católica nesse processo de nascimento da profissão é decisivo para a influência que a filosofia neotomista ganhou dentre as primeiras assistentes sociais. Dito isso, nos debruçamos sumariamente aos conceitos mais importantes da doutrina filosófica de São Tomás de Aquino. Imagem 5: A doutrina da Igreja Católica
  • 44. 44 UNIDADE II Bases Teórico-Metodológicas para o Serviço Social Na metade do século XVIII a igreja católica, no intuito de fortalecer os seus laços com a sociedade buscou resgatar a filosofia tomista objetivando uma aproximação com o novo modo de produção e modelo de sociedade que estava emergindo as suas bases doutrinárias. Isto devido às ameaças que estava sofrendo com a hegemonia católica no plano ideológico, sócio-político e cultural devido a ascensão hegemônica da racionalização moderna, a instituição busca redirecionar seu posicionamento e orientar seu corpo clerical e laicato através da atualização dos princípios do pensamento de São Tomás de Aquino. Esse movimento ficou conhecido como neotomismo por reconhecer o homem como ser dotado de razão, de capacidade de realizar escolhas, sendo “ao mesmo tempo, criatura finita e imagem e semelhança de Deus” (Ortiz, 2007, p. 133). Portanto, esse homem possui a capacidade de aperfeiçoar-se materialmente e espiritualmente, donde a perfectibilidade, e a bondade natural, por ser criatura inspirada no mais perfeito ser, segundo tal filosofia. 1º - A alma humana é subsistente e espiritual; 2º Ela é criada por Deus; 3º - O momento da criação é aquele mesmo em que a alma é infundida no corpo su- ficientemente disposto; 4º A alma é incorruptível e imortal pela sua natureza. (HUGON, 1998, p. 131). Ao ser unida com o corpo e recebendo o homem animal, ela dá a essa materialidade todo o potencial necessário para que o homem busque a perfeição unindo corpo e espírito, existência, podendo esse homem aperfeiçoar-se espiritualmente e materialmente, obtendo, portanto, a capacidade da perfectibilidade. Compreendendo razoavelmente o entendimento assumido pela filosofia neotomista utilizado pela Doutrina Social da igreja em relação à pessoa humana, podemos continuar a elucidar o importante papel dessa instituição na formação do cenário político nacional e na orientação religiosa destinada as primeiras assistentes sociais. Assim sendo, o assistente social, na perspectiva de teoria que temos estudado agora, um missionário no caráter mais religioso da palavra, pois segundo essa teoria, seria um facilitador para a práxis perfeita segundo a doutrina cristã. Dessa imagem social, historicamente plasmada e frequentemente incorpo- rada pelos postulantes à profissão e mesmo por profissionais, deriva certo caráter missionário da figura do profissional, expressiva em suas origens, mas ainda vigente, talvez, por meio de uma roupagem mais secularizada: não mais o discurso carregado da linguagem explícita do apostolado cristão, mas do agente voltado para ajuda aos demais, a serviço do povo, do oprimi- do. (IAMAMOTO e CARVALHO, 2013, p. 91). A concepção de homem dos primeiros assistentes sociais situava-se no horizonte metafísico. Eles entendiam que o homem, como pessoa humana, era portador de “valor
  • 45. 45 UNIDADE II Bases Teórico-Metodológicas para o Serviço Social soberano a qualquer outro valor temporal” (FERREIRA, T.P, 1939, p. 28) e tinha sua existência regulada por duas instâncias, uma temporal e outra determinante sobre a primeira, atemporal, entendida como parâmetro último para a sua realização enquanto pessoa que caminha para a vida eterna. Segundo Guedes (2000) diante desta concepção, os assistentes sociais vinculados ao exercício profissional, no início não foram submetidos ao movimento histórico, mas tiveram como sugestão que a formação dos profissionais fosse orientada pela doutrina católica que era constituída por princípios verdadeiros, porque imutáveis. O pensamento neotomista reconhece que o homem é um ser dotado de razão, o que lhe permite refletir sobre seus atos e superar suas limitações. Assim, deverá o homem dominar seus instintos e paixões para viver em sociedade com os outros homens, colaborando para a construção do bem comum; caso contrário, deverá este homem se submeter a um tratamento capaz de devolvê-lo a serenidade e a tendência de progresso e perfectibilidade. Segundo Ortiz (2007) a reforma moral, portanto comportamental, faz parte desse processo de adequação e ajustamento do homem à sua verdadeira naturalidade e destino. As assistentes sociais deveriam ter bases sólidas sobre o conhecimento doutrinário da Igreja Católica, sendo suas atuações mais do que uma profissão, uma verdadeira vocação divina. Até hoje algumas pessoas ainda possuem essa ideia sobre a figura da Assistente social. De acordo com Aguiar (2017, p.63) “o neotomismo no Brasil marcaram a formação dos assistentes sociais brasileiros, principalmente os que exerceram em determinado períodos o magistério nas escolas do Serviço social”, isto se deu, pois as assistentes sociais tinha recebido como base teórica a filosofia de São Tomás, em que a moral, a ética e a doutrina católica era a base para que o homem pudesse viver em meio à sociedade, está prática se pendurou por longos anos, vinculando a assistentes sociais a prática religiosa. REFLITA A presença da filosofia de Santo Tomás no campo social também se dará através do cardeal Mecier, na elaboração do código de Melinas. Fonte: AGUIAR, Antônio Geraldo. Serviço Social e Filosofia, 6ª ed. São Paulo, Cortez, 2011.
  • 46. 46 UNIDADE II Bases Teórico-Metodológicas para o Serviço Social POSITIVISMO A hipótese fundamental do positivismo é de que a sociedade, a vida social, é regida por leis naturais universais e invariáveis. E que, nesse sentido, a melhor metodologia para conhecer a vida social seria a mesma empregada para estudar a vida natural: a observação com objetividade científica neutra, livre das ideologias. Significa que a concepção positivista é aquela que afirma a necessidade e a possibilidade de uma ciência social completamente desligada de qualquer vínculo com as classes sociais, com as posições políticas, os valores mo- rais, as ideologias, as utopias, as visões de mundo. Todo esse conjunto de elementos ideológicos, em seu sentido amplo, deve ser eliminado da ciência social (LÖWY, 1985, p. 39). A busca pela verdade objetiva, pela identificação e análise das leis universais que regem os fenômenos sociais seria, portanto, a única forma de conceder aos resultados da pesquisa uma valoração universal. O meio para isso seria uma espécie de “autoneutralização ideológica” do cientista social. O que possui uma clara implicação conservadora, concebendo os fenômenos sociais como imutáveis, e seus males inevitáveis, cabe aos sujeitos e ao pesquisador um claro papel de resignação e conformação. É por isso que de forma bastante sintética Durkheim afirma que o positivismo “não tem nada de revolucionário, pelo contrário, ele é essencialmente conservador, porque considera os fatos sociais como coisas cuja natureza, por mais maleável que seja não pode ser modificada pela vontade humana” (apud LÖWY, 2008, p. 48). REFLITA Tanto o positivismo quanto o Serviço Social possuem raízes conservadoras que se ex- pressa por meio da existência da pobreza. Fonte: a autora
  • 47. 47 UNIDADE II Bases Teórico-Metodológicas para o Serviço Social Comte é conhecido como um o fundador da teoria positivista, a fórmula em um período posterior à Revolução Francesa, quando a burguesia havia ascendido ao poder e lutava pela sua manutenção contra os interesses da nascente classe trabalhadora um momento de grandes convulsões sociais e políticas. Nesse período, desenvolvem-se ideologias para dar sustentação aos interesses que disputavam os rumos da história. Comte vincula-se à parcela da burguesia que defendia um regime ditatorial e buscava impedir qualquer ameaça revolucionária. Não por acaso, o positivismo apresentou-se como uma das teorias sociais que embasam os primeiros passos da construção de um referencial teórico para o Serviço Social brasileiro. Ambos, o positivismo e o Serviço Social, possuem raízes conservadoras que se expressam, entre outras formas, por meio da naturalização da existência da pobreza. Com um projeto profissional enraizado no conservadorismo, ligado à Igreja Católica, os assistentes sociais brasileiros partiam do pressuposto de que as desigualdades sociais eram naturais e, portanto, insuperáveis. Sobre o positivismo e sua influência no Serviço Social, sabe-se que esta passou a acontecer quando a profissão começa a questionar sua intervenção, nesse momento surge à preocupação do “o que” fazer e o “como” fazer, o que levou o Serviço Social a cair no metodismo, e na burocracia. A profissão passou a receber a influência do positivismo quando as técnicas norte americanas passaram a ser utilizado na intervenção profissional, este momento marca a passagem do modelo franco belga para o americano. Neste sentido, Aguiar (2017) destaca que o Serviço social, começou importando as técnicas do Serviço Social de caso, logo depois, de Grupo e Comunidade. Isso ocorreu no momento em que os assistentes sociais foram estudar em universidades americanas. Este momento é marcado ainda pelas influências da Sociologia e da Psicologia. Vieira (1987) corrobora informando que o positivismo de certa forma ganha importante papel para o Serviço social brasileiro, pois além de ampliar o referencial teórico da profissão trouxe um suporte técnico oferecido pela teoria positivista social. Esta autora desta que o arranjo teórico-doutrinário se enquadrou numa perspectiva de neutralidade, ou seja, houve uma equidade entre o objeto e o sujeito na qual o assistente social atua a partir da contratação feita pelo Estado e pelo empresariado de ajustamento social. Imagem 06: Auguste Comte (1798 -1857)
  • 48. 48 UNIDADE II Bases Teórico-Metodológicas para o Serviço Social FUNCIONALISMO Embora alguns dos elementos do paradigma funcionalista remetem ao pensamento político e social dos gregos antigos, a determinação do seu ponto de origem é difícil, por conveniência a sua análise frequentemente começa com o trabalho de Comte, genericamente visto como o pai da sociologia, tido como o sociólogo da unidade humana e social. Aron (1965) destaca que Auguste Comte tinha a visão que tanto o conhecimento como sociedade era um processo progressivo, e que o estado inicial era visto como fictício ou abstrato e o final com científico ou positivo. O autor supracitado enfatiza que essas etapas foram formuladas na obra Curso de filosofia positiva (1830-42), constituindo a chamada “lei dos três estágios”, segundo a qual o conhecimento e a sociedade evoluem numa direção bem definida. No primeiro estágio, os fenômenos são explicados por referência à vontade dos deuses e a realidades transcendentes; no segundo, recorre-se a conceitos mais abstratos, referentes a processos universais, como “natureza”; e no terceiro, o conhecimento se baseia na descrição dos fenômenos e na descoberta das leis objetivas que os determinam. A função da sociologia seria, então, compreender o necessário, indispensável e inevitável curso da história, de forma a promover a realização de uma nova ordem social. Para Comte, a racionalidade estava em ascendência, fundamentando a base de uma ordem social bem regulada. O enfoque positivista estruturaria o destino da humanidade, guiando-a para o tipo de sociedade ideal. De acordo com Cabral (2004) Comte utilizava o método positivo em várias áreas do saber como a matemática, física, biologia entre elas na política, aproximando de uma ciência que tinha como viés estudar a sociedade, segundo o autor esta ciência era a sociologia e se baseava em modelos e métodos das ciências naturais, e tinha como propósito descobrir quais as leis científicas subjacentes às relações entre as várias partes da sociedade estática social e explicando como poderiam mudar ao longo dos anos, a partir de uma dinâmica social. Imagem 7: A função da sociedade.
  • 49. 49 UNIDADE II Bases Teórico-Metodológicas para o Serviço Social Tendo sido o criador do termo “sociologia,” Comte via a sociedade como um organismo em que cada parte tem uma função específica e contribui para o funcionamento do todo. Partindo deste conceito que Burrell e Morgan (1994) destaca que Comte fez uma associação entre a biologia por ser um ponto mudança e à ciência social por estudar o meio social, marcando uma diferença entre orgânico e o inorgânico, explicando a totalidade do todo vivo. Os autores ainda destacam que para entender o modelo positivo das ciências naturais, foi necessário utilizar a analogias mecânicas e orgânicas, a qual diferenciava a estática estrutura da dinâmica processual, assim, Comte criou regras de uma atividade sociológica, voltada para a explicação da ordem e regulamentação social, lançando bases para compreender os paradigmas funcionalistas. REFLITA O modo funcionalista se fazia presente nas práticas dos assistentes social como forma de explicar a realidade social a partir da sua atuação. Fonte: a autora Cabral (2004) salienta que a preocupação de Durkheim com as correntes contemporâneas dominantes na Inglaterra e na Alemanha é tipicamente francesa, pois, na verdade, a originalidade do pensamento francês preenchia uma lacuna intermediária entre as duas principais linhas de pensamento europeia, o empirismo e o utilitarismo inglês e o idealismo alemão. A influência de Comte não foi em termos de continuidade, mas sim de formação, e teve como traço mais forte a extensão da atitude positiva, científica, em relação ao estudo da sociedade. Apesar de Durkheim discordar de Comte em vários aspectos, a noção «durkheimiana” da realidade objetiva dos “fatos sociais” reflete a influência da visão “comtiana” de uma realidade social concreta; logo, objeto de investigação científica racional. Portanto, a estrutura funcionalista idealizada por Durkheim tornou-se importante para o Serviço Social, pois se analisarmos sob a teoria, todo fato social está englobado ou enraizado em algo maior e não basta explicar o fato em si, mas deve-se compreender
  • 50. 50 UNIDADE II Bases Teórico-Metodológicas para o Serviço Social quais as funções sociais que as envolve analisando o contexto histórico de um determinado grupo social compreendendo que a necessidade social é uma consequência de um ou mais fenômeno causado pelo capitalismo e seu modo de produção. De acordo com Faleiros (2011) o fundamento do Serviço Social teve característica no funcionalismo, a partir do pensamento de uma sociedade funcional, e isto ocorreu devido a um sistema dominante e vigente na sociedade, o capitalismo, na qual seus valores são sistêmicos. Cabe ainda destacar aqui caro(a) aluno(a) que o estado é considerado um modo funcional, sendo a maior instituição a empregar os profissionais de Serviço Social, é importante conhecer e se aprofundar na teoria, mas devemos levar em consideração que o modo funcionalista segue uma linha de enquadramento e em algumas situações devemos analisar o fato social de forma isolada para compreender o todo e a situação na qual deverá ser mediada pelo profissional de Serviço Social. SAIBA MAIS A primeira vista, a determinação pode parecer somente uma extensão, para a angula- ção profissional, do princípio genérico que detona a “integralidade” do desenvolvimento; contudo, o dado distintivo é a menção ao sistema social: sai-se aqui do campo ético do neotomismo para o terreno teórico do estrutural- funcionalismo – a “globalidade” é a perspectiva das relações sistêmico-integrativas de indivíduo e sociedade. Fonte: NETTO, José Paulo. Ditadura e Serviço Social: uma análise do serviço social no Brasil, pós-64. 17ª ed. São Paulo. Cortez 2016.
  • 51. 51 UNIDADE II Bases Teórico-Metodológicas para o Serviço Social 3 SERVIÇOS SOCIAIS DE CASOS O serviço social de casos originou das teorias de Mary Ellen Richmond a partir de suas numerosas observações sociais e individuais. Em seu livro Caso Social Individual (What is Social Case Work) escrito em 1922 à autora apresenta seis de casos, na qual retratou cuidadosamente, e ao longo de dez anos de intensivas observações descreve o tratamento social aplicado de cada cliente, apresentando o diagnóstico das observações e análise realizadas. De acordo com Costa (2017) o livro de Richmond supracitado foi à junção das principais ideias da autora, sendo à base das primeiras produções teóricas na área do Serviço Social, espalhando-se rapidamente por todo mundo e institucionalizando assim a profissão. Porém Richmond teve dificuldade em encontrar embasamentos para a sua teoria, buscando em outras áreas das ciências sociais bases para fundamentar as observações que realizava, pois não tinha uma explicação concreta para compreender tal comportamento ou ação do indivíduo, idealizando assim um método. Desta forma, o Serviço Social de Casos ficou conhecido como “conjunto de métodos que desenvolvem a personalidade, reajustando conscientemente e individualmente, o homem para o seu ambiente social” (RICHMOND, 1922. p. 67). Ou seja, a partir de suas observações, estudos, relatos e entrevistas a autora constatou que as pessoas consideradas desajustadas, poderiam modificar o comportamento a partir dos seus atos conscientes e que as situações atuais refletiam a um passado conflituoso, para a autora o tratamento