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Instituto de Química da Universidade de Brasília (IQ/UnB)




Um pouco da história dos explosivos: da pólvora ao Prêmio
Nobel
Flávia Cristina Gomes Catunda de Vasconcelos (PG), Ladjane P. da Silva (PG), Maria
Angela Vasconcelos de Almeida (PQ) flaviacrisgomes@hotmail.com
1,2
 Universidade Federal Rural de Pernambuco – Departamento de Educação¹ e Departamento de
Química²

Palavras-Chave: pólvora, explosivos, Alfred Nobel



RESUMO: O presente trabalho resgata um pouco a história da origem da pólvora, o seu
aperfeiçoamento e suas aplicações até a invenção da dinamite. Trazendo à luz o cientista: Alfred
Bernhard Nobel, apresentando a sua relação com a criação de explosivos até o surgimento do Prêmio
Nobel.


INTRODUÇÃO

         Tão importante quanto à descoberta de novos explosivos, os aperfeiçoamentos
dos mesmos tiveram contribuições relevantes para a sociedade e desenvolvimento da
indústria.

        A descoberta da pólvora não bastava em si mesma, algo mais eficaz e muito
mais seguro precisava ser descoberto, daí o interesse de vários cientistas que se
dedicarem para esse fim, entre eles, Roger Bacon com a descrição detalhada da
pólvora (MAAR, 2008), seguido por Paul Vieille1 na descoberta da pólvora sem fumaça,
dando continuidade com Henri Braconnot e Théophile Jules Pelouse com a descoberta
e preparação da nitrocelulose, composto altamente inflamável (SMULYAN, 2007).

        Vindo depois disto Ascanio Sobrero com a descoberta da nitroglicerina (NOBEL
FUNDATION, 2009), composto líquido que explodia com extrema facilidade por
aquecimento ou por um simples choque mecânico. Por ser um composto muito instável
tornava-se necessário encontrar uma maneira segura de se manusear e de detonar
esse explosivo. Devido a isto, foi que, em 1867, o químico sueco Alfred Bernhard Nobel
conseguiu uma forma mais segura de usar a nitroglicerina com a invenção da dinamite
tornando-a comercialmente útil.

        A partir de então, passamos a conhecer as contribuições que Nobel deu para a
sociedade em relação à produção de explosivos. Porém, diante do uso maléfico destes
materiais, como forma de se “desculpar”, Nobel beneficia o mundo com a doação de
seus bens para a entrega de prêmios a favor de pesquisas para o bem da humanidade
(NOBEL FUNDATION, 2009).

A INVENÇÃO DA PÓLVORA: INÍCIO DA ERA DOS EXPLOSIVOS


1
    Disponível em http://www.spartacus.schoolnet.co.uk/FWWvieille.htm. Acesso em 21 abr 2010

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         Há controvérsias em relação ao período em que a pólvora tenha sido
descoberta e utilizada. Segundo Mason (1962), a descoberta é atribuída aos monges
taoístas ou alquimistas, que procuravam pelo elixir da imortalidade, na China no final
do período Thang, século XV, embora armas de fogo estivessem sendo usadas antes,
no final do período Sung, século XIII.

        Sendo, provavelmente, produto de séculos de experimentação alquímica, pois
as primeiras referências à pólvora aparecem como avisos em textos de alquimia,
provavelmente uma passagem no Zhenyuan miaodao yaolüe, um texto taoísta datado
em meados do ano 800, que adverte para não se misturarem enxofre, rosalgar e salitre
com mel, devido a se obter chamas, resultando na queima de rostos e mãos (KELLY,
2004).

        O salitre, uma das substâncias presentes na pólvora, era conhecido pelos
chineses desde meados do século I d.C, havendo fortes indícios do uso do salitre e
enxofre em medicamentos com diferentes combinações (BUCHANAN, 2006). Os
árabes adquiriram conhecimentos no século XIII, quando um sírio, Hasan AL-Rammah,
tinha escrito, em língua árabe, receitas de pólvora com instruções de usos diversos:
fogos, foguetes, purificação do salitre e as descrições para produção de diferentes tipos
de pólvora, usando textos que sugere terem vindo de conhecimentos chineses
(MASON, 2004; KELLY, 2004).

        Hasan al-Rammah incluiu no seu furusiyyah al-wa al-manasib al-harbiyya (O
Livro de navegação Militar e de dispositivos engenhosos de Guerra), 107 receitas de
pólvoras, das quais 22 são para foguetes. Uma média de 17, destas 22 apresentavam
a composição (75% de nitratos, 9,06% de enxofre e 15,94% de carbono), sendo quase
idêntica a receita ideal relatada (75% de nitrato de potássio, 10% de enxofre, e 15% de
carbono) por al-Hassan (2009). Alegando, em seus descritos, que na Batalha de Ain
Jalut em 1260, ocorrida na Índia, viu os Mamluks, soldados escravos que se
converteram ao islamismo, usar explosivos com uso de pólvora, contra os mongóis
(AL-HASSAN, 2002). No entanto, Khan (1996) afirma que foram os mongóis que
introduziram a pólvora para o mundo islâmico.

         De acordo com Johson2, os árabes tinham desenvolvido a primeira e
verdadeira arma de fogo a arcabuz, um tubo de bambu reforçado com ferro, que era
carregado de pólvora, a qual era inflamada pela inserção de um arame aquecido. Para
Mason (1962) a Dinastia Sung já possuía armas de fogo feitas de tubos de bambu
utilizadas contra os Tártaros. Para Chase (2003), os árabes só obtiveram armas de
fogo em meados de 1300, portanto todos os indícios apontam para a origem chinesa.

A PÓLVORA CHEGA A EUROPA

         Mason (1962) relata que a pólvora chega à Mongólia após a invasão da China
no inicio do século XIII. Os mongóis, alguns anos depois, capturaram munição chinesa
e, em seguida, invadem a Europa por volta de 1233. Em 1250, o norueguês Konungs
skuggsjá menciona, no seu capítulo militar, o uso do "carvão e enxofre", como a melhor
2
 Johnson, Norman Gardner. "explosive", Encyclopædia Britannica, Chicago:2010 Encyclopædia Britannica
Online. Acesso em: 21 abr 2010

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arma para o combate entre navios3. A mistura de carvão e enxofre pode produzir um
efeito de queima lenta, mas não são explosivas.

        Ainda no século XIII, o frei e experimentalista Roger Bacon, versado nas
ciências que hoje chamaríamos astronomia, química e física, sendo fluente em árabe,
obteve informações sobre a pólvora certamente com uma tribo nômade, os sarracenos,
que atuavam como intermediários entre o Oriente e o Ocidente (MASON, 1962; LE
COUTER; BURRESON, 2006).

         Em sua espístola, "De Secretis Operibus Artis et Naturae et de Nullitate
Magiae", datada entre 1248 e 1257, afirma que, se pode, com salitre e outras
substâncias, compor artificialmente um incêndio que pode ser lançado para longas
distâncias sendo acompanhado por um barulho muito alto, sendo possível destruir
uma cidade ou um exército (PARTIGNTON; HALL, 1999). A última parte foi
interpretada como um anagrama que tinha de ser decifrado para revelar as proporções
dos componentes da pólvora. Após 650 anos de sua construção, o anagrama foi
decifrado por um coronel do exército britânico como sendo sete partes de salitre, cinco
de carvão e cinco de enxofre (LE COUTEUR; BURRESON, 2006; MAAR, 2008).

       A composição da pólvora de hoje varia um pouco, mas apresenta uma maior
quantidade de salitre que a combinação proposta por Bacon. Podendo ser escrita
como:

          4KNO3(S) + 7C(S) + S(S) → 3CO2(g) + 3CO(g) 2N2(g) + K2CO3(S) + K2S(S)

          Em sua obra Opus Majus de 1267, Bacon descreve os foguetes:

                            “a child’s toy of sound and fire and explosion made in various parts of the world
                            with powder of saltpeter, sulfur and charcoal of hazelwood” (KELLY, 2004;
                            PARTINGTON; HALL, 1999)


        Algumas das receitas de produção da pólvora presentes no livro De Mirabilibus
Mundi de Albertus Magnus são idênticas às receitas do Liber Ignium, ou livro de
Incêndios, atribuído ao grego Marcus, e, de acordo com Partington & Hall (1999), as
receitas podem ter sido tomadas a partir do trabalho de Bacon, e não vice-versa.

        Uma grande invenção européia foi à introdução de pó de milho, no final do
século XIV, que aumentou muito a fiabilidade e consistência da pólvora. A principal
vantagem da adição do pó era de que a chama se propagaria entre os grânulos,
iluminando-os a todos, antes de ocorrer à significativa expansão do gás quando a
pólvora explode. O tamanho dos grânulos foi diferente para os diferentes tipos de arma.

        Antes da inclusão do pó de milho, a pólvora foi gradualmente consumida em
seus elementos constitutivos e o efeito explosivo era pouco para uma efetiva utilização
em armas (MOLERUS, 1996). O mesmo processo de granulação é utilizado

3
 "King's Mirror, Chapter XXXVII: The duties, activities and amusements of the Royal Guardsmen. Disponível em:
<http://www.mediumaevum.com/75years/mirror/sec2.html#XXXVII> Acesso em: 21 abr 2010

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atualmente, na indústria farmacêutica, para assegurar que cada comprimido contenha
a mesma proporção do ingrediente ativo.

         A pólvora para fins militares foi feita por artesãos militares qualificados, que
mais tarde foram chamados firemakers, e que também foram obrigados a fazer fogos
de artifício para festas de vitória ou paz. Fogos de artifício foram utilizados para
entretenimento, em uma escala sem precedentes na Europa, sendo mesmo utilizado
em resorts populares e jardins públicos. (MASON, 1962).

           Na China assim como na Europa, o uso da pólvora em canhões e armas de
fogo foi atrasado pela dificuldade em se obter tubos de metal suficientemente
resistentes que pudessem conter a explosão. Este problema pode ter criado o falso
mito de que os chineses usaram a descoberta somente para a manufatura de fogos de
artifício.

       A produção de pólvora nas Ilhas Britânicas parece ter-se iniciado em meados
do século XIII. Registros mostram que a pólvora estava sendo feita, na Inglaterra em
1346, nas Torres de Londres, que eram casas que armazenavam a pólvora em pó.

        Após o final da I Guerra Mundial, a maioria dos fabricantes britânicos de
pólvora, foi fundida em uma única empresa, a "Explosives Trades Limited", e grande
número de estabelecimentos foram fechados. Esta empresa tornou-se a Nobel
Industries Limited, passando por vários outros nomes até o prédio ser demolido por um
incêndio em 1932 (NOBEL FUNDATION, 2009).

        A fábrica de pólvora, Royal Gunpowder Factory, foi danificada por uma mina
lançada por aviões germânicos em 1941, e não teria mais sido reaberta. Este foi
seguido pelo encerramento da seção de pólvora do Royal Ordnance Factory, sendo
fechada e demolida no final da II Guerra Mundial. Isto deixou o Reino Unido com
apenas uma fábrica de pólvora, a ICI Nobel da Ardeer, na Escócia, que encerrou suas
atividades em outubro de 1976 (COCROFT, 2000).

       No final dos anos 1970, início da década de 80, a pólvora era comprada do
Leste europeu, especialmente da região da então, Alemanha Oriental e da antiga
Yugoslávia.

        Em paralelo a produção e utilização, outros compostos foram produzidos com
os diversos tipos de pólvora, surgindo à produção de compostos nitrogenados com
outras substâncias, aumentando a eficácia da explosão e armazenamento.

A PÓLVORA "SEM FUMAÇA"

       Em 1886, Paul Vieille inventou na França a pólvora "sem fumaça" chamada de
Poudre B. Feita de nitrocelulose gelatinosa misturada com éter e álcool, a pólvora sem




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fumaça era passada através de rolos para formar finas folhas que eram cortadas com
uma guilhotina para formas grãos de tamanhos desejados.4

        A pólvora de Vielle foi usada no rifle Lebel e foi adotada pelo exército francês
no final do ano de 1880. Primeiro, porque não havia, praticamente, a formação de
fumaça quando a arma era disparada e depois porque era muito mais poderosa do que
a pólvora negra dando uma precisão de quase 1.000 metros de alcance aos rifles.

A NITROCELULOSE

         Henri Braconnot descobriu em 1832 que o ácido nítrico quando combinado com
fibras de madeira, a mistura produziria um leve material combustível explosivo, que ele
nomeou de xyloïdine.5 Em 1838 começa a era moderna dos explosivos, quando o
químico francês Théophile Jules Pelouse (1807-1867) conseguiu preparar a
nitrocelulose (Figura 1) que é um composto altamente inflamável formada por celulose
nitrada (SMULYAN, 2007).




                                          Figura 1. Molécula de nitrocelulose


         No entanto, Christian Friedrich Schönbein, um químico alemão, descobriu uma
solução mais prática de produção, em meados de 1846. Ele estava trabalhando na
cozinha de sua casa, em Basiléia, quando derramou acidentalmente uma garrafa de
ácido nítrico concentrado na mesa da cozinha de sua casa, em seguida pegou o
avental de algodão de sua esposa por cima do ácido. Após um tempo, o avental foi
retirado e lavado em água fria para remover todos os resíduos de ácido, posteriormente
foi secando próximo ao fogão, havendo um flash, levando a explosão do avental (LE
COURTEUR; BURRESON, 2006). Schönbein passou a investigar o caso e descobriu a
nitrocelulose.

        Seu método de preparação foi o primeiro a ser largamente imitado - uma parte
de algodão imerso em quinze partes de igual mistura de ácido sulfúrico e ácido nítrico.
Schönbein colaborou com o professor Rudolf Frankfurt Böttger, que havia descoberto o
processo independente no mesmo ano. Por uma estranha coincidência, houve também
um terceiro químico, o professor F. J. Otto, que também havia produzido guncotton em
1846 e foi o primeiro a publicar o processo, para a decepção de Schönbein e Böttger.



4
    Disponível em: < http://www.spartacus.schoolnet.co.uk/FWWvieille.htm> Acesso em: 21 abr 2010
5
    Disponível em: < http://www.economicexpert.com/a/Henri:Braconnot.htm > Acesso em: 21 abr 2010

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        O processo utiliza o ácido nítrico para a conversão da celulose e de nitrato de
celulose em água:

          3HNO3 + C6 H10O5 → C6H7(NO2)3O5 + 3H2O

        O ácido sulfúrico está presente como um catalisador para a produção de íons
NO2-.  A reação é de primeira ordem e os produtos são formados através de
substituição eletrofílica nos centros C-OH da celulose (URBANSKI, 1965).

A NITROGLICERINA

         Em 1847, o químico italiano Ascanio Sobrero (1812-1888) preparou outra
molécula nitrada altamente explosiva. Ele estudou os efeitos do ácido nítrico sobre
outros compostos orgânicos. Ao pingar glicerol, também conhecida como glicerina, um
dos subprodutos na produção de sabão, numa mistura resfriada de ácidos sulfúricos e
nítricos, derramando a mistura final em água, Sobrero observou a formação de uma
camada oleosa, hoje conhecida como nitroglicerina (LE COURTEUR; BURRESON,
2006; SOBRERO, 1847).

       Como na época, era normal os cientistas experimentarem o que eles
produziam, Sobrerou experimentou o novo composto registrando comentários como:
“um traço posto sobre a língua, mas não engolido, provoca uma dor de cabeça
extremamente pulsante e violenta, acompanhada de grande fraqueza nos membros”.
(LE COURTEUR; BURRESON, 2006)


        A nitroglicerina chegou a ser utilizada na medicina em enfermos que
apresentavam problemas no coração, especificamente nos que sofriam problemas de
angina. Isto se deu ao fato de que as fortes dores de cabeça relatadas por Sobrero
enquanto experimentava sua invenção se dava a dilatação dos vasos sanguíneos (LE
COURTEUR; BURRESON, 2006; SMULYAN, 2007).

        Hoje, se sabe que essa dilatação é devido à liberação de moléculas simples de
óxido nítrico (NO) no corpo. Foi a pesquisa dessa dilatação sanguínea que se levou a
fabricação do medicamento Viagra®, direcionado a pessoas que sofrem de disfunção
erétil.

       A nitroglicerina também levou prejuízos para quem a produzia. Devido à
substância ser um líquido que explodia com extrema facilidade por aquecimento ou por
um simples choque mecânico, sua aplicação retardou-se por vários anos. Sendo
também muitas vezes transportado na forma congelada, ocasionando várias explosões
no processo de descongelamento, causando mortes e ferimentos de pessoas que
tentavam fabricar, estocar e utilizá-la (SMULYAN, 2007).

       Os produtos formados na explosão da nitroglicerina podem ser representados
na Equação I, a reação libera grande quantidade de gases que se expandem
rapidamente e intenso calor.



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          4C3H3N3O9 (S) → 6N2(g) + 12CO2(g) + 10H2O(g) + O2(g)                   (Equação I)

Comparando-se com a reação de liberação da pólvora (Equação II) se observa uma
menor quantidade de produtos gasosos em sua explosão.

4KNO3(S) + 7C(S) + S(S) → 3CO2(g) + 3CO(g) 2N2(g) + K2CO3(S) + K2S(S) (Equação II)

       Este contraste pode ser explicado devido à pólvora produzir seis mil atmosferas
de pressão em milésimos de segundo. Em igual quantidade, a nitroglicerina produz 270
mil atmosferas de pressão em milionésimos de segundo (LE COURTEUR; BURRESON,
2006).

       A nitroglicerina é muito instável, diferente da pólvora que pode ser manuseada
com relativa segurança. Tornando-se necessário encontrar uma maneira segura de
manuseá-la e de detonar esse explosivo. Devido a isto, foi que o químico sueco Alfred
Bernhard Nobel, em 1867, conseguiu uma forma segura de usar a nitroglicerina,
tornando-a comercialmente útil ao inventar a dinamite. É neste momento que Alfred
Nobel é inserido na história dos explosivos.

ALFRED NOBEL E SUA INVENÇÃO EXPLOSIVA

       Nascido em Estocolmo, no dia 21 de outubro de 1833, Nobel fez seus primeiros
estudos em sua cidade natal e na cidade russa de São Petersburgo. Aos 16 anos já era
químico competente, trabalhando no laboratório de T. Jules Pelouzze. Viajando
também para a Itália, Alemanha e Estados Unidos, falava fluentemente inglês, francês,
alemão e russo, além de sueco.

         Quando estava em São Petersburgo o pai de Nobel, Immanuel Nobel, em
1842, começou a manufaturar e vender explosivos para aplicações comerciais,
abertura de túneis e minas, e uso militar, também chegou a iniciar produção de
nitroglicerina (NOBEL FUNDATION, 2009).

         Entre 1853 e 1856, a empresa da família entra em falência quando a guerra da
Criméia termina, levando militares russos a cancelarem encomendas. Alfred Nobel
procura desesperadamente por novos produtos explosivos. Nikolai N. Zinin lembra a
Nobel a existência da nitroglicerina, isso permite a Nobel a procura por outros materiais
que pudessem aperfeiçoar o uso da nitroglicerina de forma que as explosões
pudessem ser mais bem controladas (LE COURTEUR; BURRESON, 2006; NOBEL
FUNDATION, 2009). Pouco tempo depois de iniciar seus experimentos com a
nitroglicerina, Nobel consegue sua primeira patente, tendo a nitroglicerina como um
explosivo industrial, juntamente com um detonador para desencadear sua explosão
(NOBEL FUNDATION, 2009).

         Em setembro de 1864, uma explosão em um de seus laboratórios, em
Estocolmo, matou cinco pessoas, dentre eles seu irmão mais novo, Emil Nobel e
inutilizou seu pai Immanuel (NOBEL FUNDATION, 2009; LE COURTEUR;
BURRESON, 2006). A figura 2 apresenta a família Nobel.


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                                                 Figura 2. Família Nobel


        Mesmo sem desvendar a causa do acidente, as autoridades de Estocolmo
proibiram a produção de nitroglicerina. Mesmo assim, Nobel construiu um novo
laboratório sobre barcaças ancoradas no lago Mälaren (NOBEL FUNDATION, 2009).

        Nesse laboratório ele verifica que esse explosivo é estabilizado por adição de
uma substância inerte a diatomita, sendo esta mistura patenteada em 1867, como
dinamite, na Suécia (NOBEL FUNDATION, 2009).

A DINAMITE E SEUS DERIVADOS

         A dinamite consiste na combinação de um material absorvente (como
serragem), com a função de estabilizador, encharcado em nitroglicerina. Ambos os
componentes são envolvidos numa camada protetora e conectados a uma cápsula de
rastilho, sendo também conectada ao detonador, que criará uma pequena explosão
provocando em seguida a explosão desejada. A dinamite é um explosivo que, embora
de potência inferior à nitroglicerina líquida, é de fácil manuseamento e permite
detonações mais suaves e controladas, com maior segurança do que nitroglicerina
(DOLAN, 1985).

       Dois tipos de dinamite foram criados: uma com 75% de nitroglicerina e outra
com 64%. A procura foi imediata e cresceu rapidamente, fazendo com que Nobel
aumentasse sua produção. Em 1871 Nobel cria a empresa britânica, Dynamite, na
Escócia e no Reino Unido. Ao longo dos anos ele fundou fábricas e laboratórios em
cerca de 90 lugares em mais de 20 países. Mesmo com grande quantidade de bens,
Nobel ainda conseguiu outro invento, a nitroglicerina explosiva.

         Patenteada em 1876, a incorporação de 7-8% de colódio em nitroglicerina
forma um material gelatinoso, com maior poder explosivo que a dinamite, porque este
aditivo contribui para a explosão, mas é insensível ao choque e à umidade (podendo
ser usada até debaixo d’água) (BROWN, 1998).

         Com mais de 40 anos, Alfred Nobel era um homem rico, sem filhos e sem
esposa. Chegou a anunciar em um jornal que procurava uma senhora de idade
madura, versada em línguas e que trabalhasse como secretária e supervisora de
família. Houve uma candidata, a condessa austríaca Bertha Kinsky von und Chinic

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Tettau (mais tarde von Suttner). Porém, trabalhou um tempo curto com Nobel e decidiu
voltar para a Áustria para casar com o conde Count Arthur von Suttner, mas continuou
se comunicando com Nobel através de cartas durante década (NOBEL FUNDATION,
2009).

         Bertha (Figura 3) se tornou uma ativista da paz e crítica quanto à corrida
armamentista. Sem dúvida ela influenciou Nobel quando este, em seu último
testamento, escreveu que deveria ser constituído, com os seus bens, um fundo que
seria distribuído, em prêmios a todos aqueles que tivessem conferido o maior benefício
para a humanidade (NOBEL FUNDATION, 2009).




                                              Figura 3. Bertha von Suttner


        Os executores de sua vontade eram dois jovens engenheiros, Ragnar Sohlman
e Rudolf Lilljequist, que formaram a Fundação Nobel, que cuidava das ações
financeiras deixadas por Nobel para este fim e coordenaram os trabalhos que
receberiam o prêmio Nobel (NOBEL FUNDATION, 2009).

       Alfred Nobel morreu em 1896, quando trabalhava sozinho em sua escrivaninha,
em sua casa em San Remo, na Itália.

PRÊMIO NOBEL

         O Prêmio Nobel, desde 1901, homenageia homens e mulheres de todos os
cantos do planeta por apresentarem resultados notáveis em física, química, medicina,
literatura e paz. Em 1968, o Banco da Suíça, em memória de Nobel, instituiu um prêmio
no campo da economia (NOBEL FUNDATION, 2009; LE COURTEUR; BURRESON,
2006).

       A premiação acontece anualmente em duas cidades: Oslo, na Noruega, e
Estocolmo, na Suécia, em 10 de dezembro, data da morte de Alfred Nobel. A Academia
Real de Ciências da Suécia é uma das instituições que participam da escolha dos
premiados, sendo responsável pelos prêmios de química, física e economia. A
Academia de Literatura da Suécia é responsável pelo prêmio de literatura e, o de paz,
por uma comissão de cinco membros nomeada pelo parlamento Norueguês.

         Cada prêmio consiste em uma importância em dinheiro, estimada por cada
instituição, uma medalha de ouro e um diploma comemorativo.


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        A Fundação Nobel assegura as condições técnicas e financeiras do prêmio,
sendo proprietária legal e administradora funcional dos fundos, e providencia as
necessárias conexões entre as diversas instituições. Não intervindo na seleção dos
premiados. A decisão final do premiado em cada categoria deve ser concretizada antes
do dia 15 de novembro do mesmo ano em que os comitês iniciaram as diversas
consultas às entidades que propuseram os candidatos (DOLAN, 1985).

        Os prêmios podem ser compartilhados por vários ganhadores ou declarados
vagos, são outorgados apenas a indivíduos ou, com exceção dos prêmios de literatura
e da paz, às equipes científicas representadas pelo cientista que dirigiu o trabalho.
Excepcionalmente, o prêmio da paz é concedido a organizações.

        Pelo regulamento do Prêmio Nobel, os vencedores podem recusar o
recebimento da distinção. O cientista russo, Boris Pasternak, não recebeu seu prêmio
de química em 1958; Gerhard Domagk, alemão, condecorado com o prêmio de química
em 1939, foi proibido por Hitler para receber o prêmio, conseguindo fazê-lo em 1947.
Um dos casos mais famosos foi do filósofo, escritor e intelectual francês Jean-Paul
Sartre, que foi contemplado em 1964, mas recusou por não aceitar ser submetido a
julgamentos (NOVA ENCICLOPEDIA BARSA, 2002).

COMENTÁRIOS FINAIS

        Mesmo com poucas abordagens sobre a pólvora e suas aplicações na
educação básica, ressalta-se a importância da divulgação de fatos históricos referentes
a materiais que são utilizados pela sociedade.

       Com um relato histórico da evolução de aplicação da pólvora como explosivo,
percebeu-se que as transformações que ocorreram em diferentes povos (chineses,
árabes, europeus, dentre outros) estiveram, também, relacionadas às inovações do
poder destrutivo de tal artefato.

        Apesar de poucos saberem o motivo da criação do prêmio, destacamos a
importância do conhecimento da história da química para a compreensão da escala de
evolução de diversos materiais, inclusive a pólvora, que geralmente é associada
apenas aos fogos de artifício ou pequenos explosivos. Porém, foram e na verdade são
grandes e poderosos explosivos com poder de um simples artifício a uma bomba mais
potente, com fins que vão de simples aberturas de túneis e poços petrolíferos a
eventos bélicos.

        Almejado por muitos cientistas que buscam inovações nas diversas áreas das
ciências e tecnologia, o Prêmio Nobel foi à última vontade realizada de um químico,
engenheiro, inventor, fabricante de armamento, inventor da dinamite, o cientista, Alfred
Nobel. Este, com grande quantidade de bens e dinheiro adquirido proveniente da
fabricação dos explosivos, ressentido pela quantidade de pessoas mortas devido a
seus inventos, direciona todos os seus bens para pessoas que se preocupam com a
humanidade.



XV Encontro Nacional de Ensino de Química (XV ENEQ) – Brasília, DF, Brasil – 21 a 24 de julho de 2010
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AL-HASSAN, Ahmad Y., Gunpowder Composition for Rockets and Cannon in Arabic
Military Treatises In Thirteenth and Fourteenth Centuries. The History of Science and
Technology in Islam, 2002.
Disponivel em: http://www.history-science-technology.com/Articles/articles%202.htm.
Acesso em: 21 abr 2010.

BROWN, George Inghman. The Big Bang – A History of Explosives. Stroud, UK,
1998. 256 p.

BUCHANAN, Brenda J., ed. Gunpowder, Explosives and the State: A Technological
History. Aldershot: Ashgate, ISBN 0754652599, 2006.

CHASE, Kenneth. Firearms: A Global History to 1700, Cambridge University Press,
ISBN 0521822742, 2003.

COCROFT, Wayne. Dangerous Energy: The archaeology of gunpowder and
military explosives manufacture, Swindon: English Heritage, ISBN 1-85074-718-0,
2000

DOLAN, J. E. Molecular Energy - The Development of Explosives, Chemistry
Brititian. v. 21 p. 732-737, 1985.

KELLY, Jack. Gunpowder: Alchemy, Bombards, & Pyrotechnics: The History of
the Explosive that Changed the World. Basic Books, ISBN 0465037186, 2004.

KHAN, Iqtidar Alam. Coming of Gunpowder to the Islamic World and North India:
Spotlight on the Role of the Mongols, Journal of Asian History, Indiana v. 30 p.41–45,
1996

LE COURTEUR, Penny; BURRESON, Jay. Os Botões de Napoleão: as 17 moléculas
que mudaram a história. Rio de Janeiro. Ed. Jorge Zahar, 2006. 343 p.

MAAR, Juergen Heinrich. História da química. Florianópolis: Conceito Editorial, 2008.
946 p.

MASON, Stephen F. A History of the Science. First Collier Books Edition, ISBN:
0020934009, 1962. 638 p.

Nobel Foundation Copyright © Nobel Web AB 2009: <http://nobelprize.org/> Acesso em
21 abr 2010

NOVA ENCICLOPEDIA BARSA. São Paulo: Barsa Planeta Internacional Ltda., 2002.
Obra em 18 v.:Il. 6 ed. p. 339-340.




XV Encontro Nacional de Ensino de Química (XV ENEQ) – Brasília, DF, Brasil – 21 a 24 de julho de 2010
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Gunpowder. Baltimore: Johns Hopkins University Press. ISBN 0-8018-5954-9, 1999

SOBRERO, Ascanio. Sur plusiers composes detonants produit avec l’acide nitrique et
le sucre, la dextrine, la lacitine, la mannite et la glycerine. Comptes Rendus de
l’Académie des sciences v. 24 p. 247-248, 1847.

SMULYAN, Harold. Nitrates, Arterial Function, Wave Reflections and Coronary Heart
Disease. Advances in Cardiology. Basel, Karger, vol 44, p. 302–314, 2007.

URBANSKI, Tadeusz. Chemistry and Technology of Explosives. Pergamon Press,
Oxford, v. 1, p. 20-21, 1965.




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Um pouco da história dos explosivos: da pólvora ao Prêmio Nobel de Química

  • 1. Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) HC Instituto de Química da Universidade de Brasília (IQ/UnB) Um pouco da história dos explosivos: da pólvora ao Prêmio Nobel Flávia Cristina Gomes Catunda de Vasconcelos (PG), Ladjane P. da Silva (PG), Maria Angela Vasconcelos de Almeida (PQ) flaviacrisgomes@hotmail.com 1,2 Universidade Federal Rural de Pernambuco – Departamento de Educação¹ e Departamento de Química² Palavras-Chave: pólvora, explosivos, Alfred Nobel RESUMO: O presente trabalho resgata um pouco a história da origem da pólvora, o seu aperfeiçoamento e suas aplicações até a invenção da dinamite. Trazendo à luz o cientista: Alfred Bernhard Nobel, apresentando a sua relação com a criação de explosivos até o surgimento do Prêmio Nobel. INTRODUÇÃO Tão importante quanto à descoberta de novos explosivos, os aperfeiçoamentos dos mesmos tiveram contribuições relevantes para a sociedade e desenvolvimento da indústria. A descoberta da pólvora não bastava em si mesma, algo mais eficaz e muito mais seguro precisava ser descoberto, daí o interesse de vários cientistas que se dedicarem para esse fim, entre eles, Roger Bacon com a descrição detalhada da pólvora (MAAR, 2008), seguido por Paul Vieille1 na descoberta da pólvora sem fumaça, dando continuidade com Henri Braconnot e Théophile Jules Pelouse com a descoberta e preparação da nitrocelulose, composto altamente inflamável (SMULYAN, 2007). Vindo depois disto Ascanio Sobrero com a descoberta da nitroglicerina (NOBEL FUNDATION, 2009), composto líquido que explodia com extrema facilidade por aquecimento ou por um simples choque mecânico. Por ser um composto muito instável tornava-se necessário encontrar uma maneira segura de se manusear e de detonar esse explosivo. Devido a isto, foi que, em 1867, o químico sueco Alfred Bernhard Nobel conseguiu uma forma mais segura de usar a nitroglicerina com a invenção da dinamite tornando-a comercialmente útil. A partir de então, passamos a conhecer as contribuições que Nobel deu para a sociedade em relação à produção de explosivos. Porém, diante do uso maléfico destes materiais, como forma de se “desculpar”, Nobel beneficia o mundo com a doação de seus bens para a entrega de prêmios a favor de pesquisas para o bem da humanidade (NOBEL FUNDATION, 2009). A INVENÇÃO DA PÓLVORA: INÍCIO DA ERA DOS EXPLOSIVOS 1 Disponível em http://www.spartacus.schoolnet.co.uk/FWWvieille.htm. Acesso em 21 abr 2010 XV Encontro Nacional de Ensino de Química (XV ENEQ) – Brasília, DF, Brasil – 21 a 24 de julho de 2010
  • 2. Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) HC Instituto de Química da Universidade de Brasília (IQ/UnB) Há controvérsias em relação ao período em que a pólvora tenha sido descoberta e utilizada. Segundo Mason (1962), a descoberta é atribuída aos monges taoístas ou alquimistas, que procuravam pelo elixir da imortalidade, na China no final do período Thang, século XV, embora armas de fogo estivessem sendo usadas antes, no final do período Sung, século XIII. Sendo, provavelmente, produto de séculos de experimentação alquímica, pois as primeiras referências à pólvora aparecem como avisos em textos de alquimia, provavelmente uma passagem no Zhenyuan miaodao yaolüe, um texto taoísta datado em meados do ano 800, que adverte para não se misturarem enxofre, rosalgar e salitre com mel, devido a se obter chamas, resultando na queima de rostos e mãos (KELLY, 2004). O salitre, uma das substâncias presentes na pólvora, era conhecido pelos chineses desde meados do século I d.C, havendo fortes indícios do uso do salitre e enxofre em medicamentos com diferentes combinações (BUCHANAN, 2006). Os árabes adquiriram conhecimentos no século XIII, quando um sírio, Hasan AL-Rammah, tinha escrito, em língua árabe, receitas de pólvora com instruções de usos diversos: fogos, foguetes, purificação do salitre e as descrições para produção de diferentes tipos de pólvora, usando textos que sugere terem vindo de conhecimentos chineses (MASON, 2004; KELLY, 2004). Hasan al-Rammah incluiu no seu furusiyyah al-wa al-manasib al-harbiyya (O Livro de navegação Militar e de dispositivos engenhosos de Guerra), 107 receitas de pólvoras, das quais 22 são para foguetes. Uma média de 17, destas 22 apresentavam a composição (75% de nitratos, 9,06% de enxofre e 15,94% de carbono), sendo quase idêntica a receita ideal relatada (75% de nitrato de potássio, 10% de enxofre, e 15% de carbono) por al-Hassan (2009). Alegando, em seus descritos, que na Batalha de Ain Jalut em 1260, ocorrida na Índia, viu os Mamluks, soldados escravos que se converteram ao islamismo, usar explosivos com uso de pólvora, contra os mongóis (AL-HASSAN, 2002). No entanto, Khan (1996) afirma que foram os mongóis que introduziram a pólvora para o mundo islâmico. De acordo com Johson2, os árabes tinham desenvolvido a primeira e verdadeira arma de fogo a arcabuz, um tubo de bambu reforçado com ferro, que era carregado de pólvora, a qual era inflamada pela inserção de um arame aquecido. Para Mason (1962) a Dinastia Sung já possuía armas de fogo feitas de tubos de bambu utilizadas contra os Tártaros. Para Chase (2003), os árabes só obtiveram armas de fogo em meados de 1300, portanto todos os indícios apontam para a origem chinesa. A PÓLVORA CHEGA A EUROPA Mason (1962) relata que a pólvora chega à Mongólia após a invasão da China no inicio do século XIII. Os mongóis, alguns anos depois, capturaram munição chinesa e, em seguida, invadem a Europa por volta de 1233. Em 1250, o norueguês Konungs skuggsjá menciona, no seu capítulo militar, o uso do "carvão e enxofre", como a melhor 2 Johnson, Norman Gardner. "explosive", Encyclopædia Britannica, Chicago:2010 Encyclopædia Britannica Online. Acesso em: 21 abr 2010 XV Encontro Nacional de Ensino de Química (XV ENEQ) – Brasília, DF, Brasil – 21 a 24 de julho de 2010
  • 3. Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) HC Instituto de Química da Universidade de Brasília (IQ/UnB) arma para o combate entre navios3. A mistura de carvão e enxofre pode produzir um efeito de queima lenta, mas não são explosivas. Ainda no século XIII, o frei e experimentalista Roger Bacon, versado nas ciências que hoje chamaríamos astronomia, química e física, sendo fluente em árabe, obteve informações sobre a pólvora certamente com uma tribo nômade, os sarracenos, que atuavam como intermediários entre o Oriente e o Ocidente (MASON, 1962; LE COUTER; BURRESON, 2006). Em sua espístola, "De Secretis Operibus Artis et Naturae et de Nullitate Magiae", datada entre 1248 e 1257, afirma que, se pode, com salitre e outras substâncias, compor artificialmente um incêndio que pode ser lançado para longas distâncias sendo acompanhado por um barulho muito alto, sendo possível destruir uma cidade ou um exército (PARTIGNTON; HALL, 1999). A última parte foi interpretada como um anagrama que tinha de ser decifrado para revelar as proporções dos componentes da pólvora. Após 650 anos de sua construção, o anagrama foi decifrado por um coronel do exército britânico como sendo sete partes de salitre, cinco de carvão e cinco de enxofre (LE COUTEUR; BURRESON, 2006; MAAR, 2008). A composição da pólvora de hoje varia um pouco, mas apresenta uma maior quantidade de salitre que a combinação proposta por Bacon. Podendo ser escrita como: 4KNO3(S) + 7C(S) + S(S) → 3CO2(g) + 3CO(g) 2N2(g) + K2CO3(S) + K2S(S) Em sua obra Opus Majus de 1267, Bacon descreve os foguetes: “a child’s toy of sound and fire and explosion made in various parts of the world with powder of saltpeter, sulfur and charcoal of hazelwood” (KELLY, 2004; PARTINGTON; HALL, 1999) Algumas das receitas de produção da pólvora presentes no livro De Mirabilibus Mundi de Albertus Magnus são idênticas às receitas do Liber Ignium, ou livro de Incêndios, atribuído ao grego Marcus, e, de acordo com Partington & Hall (1999), as receitas podem ter sido tomadas a partir do trabalho de Bacon, e não vice-versa. Uma grande invenção européia foi à introdução de pó de milho, no final do século XIV, que aumentou muito a fiabilidade e consistência da pólvora. A principal vantagem da adição do pó era de que a chama se propagaria entre os grânulos, iluminando-os a todos, antes de ocorrer à significativa expansão do gás quando a pólvora explode. O tamanho dos grânulos foi diferente para os diferentes tipos de arma. Antes da inclusão do pó de milho, a pólvora foi gradualmente consumida em seus elementos constitutivos e o efeito explosivo era pouco para uma efetiva utilização em armas (MOLERUS, 1996). O mesmo processo de granulação é utilizado 3 "King's Mirror, Chapter XXXVII: The duties, activities and amusements of the Royal Guardsmen. Disponível em: <http://www.mediumaevum.com/75years/mirror/sec2.html#XXXVII> Acesso em: 21 abr 2010 XV Encontro Nacional de Ensino de Química (XV ENEQ) – Brasília, DF, Brasil – 21 a 24 de julho de 2010
  • 4. Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) HC Instituto de Química da Universidade de Brasília (IQ/UnB) atualmente, na indústria farmacêutica, para assegurar que cada comprimido contenha a mesma proporção do ingrediente ativo. A pólvora para fins militares foi feita por artesãos militares qualificados, que mais tarde foram chamados firemakers, e que também foram obrigados a fazer fogos de artifício para festas de vitória ou paz. Fogos de artifício foram utilizados para entretenimento, em uma escala sem precedentes na Europa, sendo mesmo utilizado em resorts populares e jardins públicos. (MASON, 1962). Na China assim como na Europa, o uso da pólvora em canhões e armas de fogo foi atrasado pela dificuldade em se obter tubos de metal suficientemente resistentes que pudessem conter a explosão. Este problema pode ter criado o falso mito de que os chineses usaram a descoberta somente para a manufatura de fogos de artifício. A produção de pólvora nas Ilhas Britânicas parece ter-se iniciado em meados do século XIII. Registros mostram que a pólvora estava sendo feita, na Inglaterra em 1346, nas Torres de Londres, que eram casas que armazenavam a pólvora em pó. Após o final da I Guerra Mundial, a maioria dos fabricantes britânicos de pólvora, foi fundida em uma única empresa, a "Explosives Trades Limited", e grande número de estabelecimentos foram fechados. Esta empresa tornou-se a Nobel Industries Limited, passando por vários outros nomes até o prédio ser demolido por um incêndio em 1932 (NOBEL FUNDATION, 2009). A fábrica de pólvora, Royal Gunpowder Factory, foi danificada por uma mina lançada por aviões germânicos em 1941, e não teria mais sido reaberta. Este foi seguido pelo encerramento da seção de pólvora do Royal Ordnance Factory, sendo fechada e demolida no final da II Guerra Mundial. Isto deixou o Reino Unido com apenas uma fábrica de pólvora, a ICI Nobel da Ardeer, na Escócia, que encerrou suas atividades em outubro de 1976 (COCROFT, 2000). No final dos anos 1970, início da década de 80, a pólvora era comprada do Leste europeu, especialmente da região da então, Alemanha Oriental e da antiga Yugoslávia. Em paralelo a produção e utilização, outros compostos foram produzidos com os diversos tipos de pólvora, surgindo à produção de compostos nitrogenados com outras substâncias, aumentando a eficácia da explosão e armazenamento. A PÓLVORA "SEM FUMAÇA" Em 1886, Paul Vieille inventou na França a pólvora "sem fumaça" chamada de Poudre B. Feita de nitrocelulose gelatinosa misturada com éter e álcool, a pólvora sem XV Encontro Nacional de Ensino de Química (XV ENEQ) – Brasília, DF, Brasil – 21 a 24 de julho de 2010
  • 5. Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) HC Instituto de Química da Universidade de Brasília (IQ/UnB) fumaça era passada através de rolos para formar finas folhas que eram cortadas com uma guilhotina para formas grãos de tamanhos desejados.4 A pólvora de Vielle foi usada no rifle Lebel e foi adotada pelo exército francês no final do ano de 1880. Primeiro, porque não havia, praticamente, a formação de fumaça quando a arma era disparada e depois porque era muito mais poderosa do que a pólvora negra dando uma precisão de quase 1.000 metros de alcance aos rifles. A NITROCELULOSE Henri Braconnot descobriu em 1832 que o ácido nítrico quando combinado com fibras de madeira, a mistura produziria um leve material combustível explosivo, que ele nomeou de xyloïdine.5 Em 1838 começa a era moderna dos explosivos, quando o químico francês Théophile Jules Pelouse (1807-1867) conseguiu preparar a nitrocelulose (Figura 1) que é um composto altamente inflamável formada por celulose nitrada (SMULYAN, 2007). Figura 1. Molécula de nitrocelulose No entanto, Christian Friedrich Schönbein, um químico alemão, descobriu uma solução mais prática de produção, em meados de 1846. Ele estava trabalhando na cozinha de sua casa, em Basiléia, quando derramou acidentalmente uma garrafa de ácido nítrico concentrado na mesa da cozinha de sua casa, em seguida pegou o avental de algodão de sua esposa por cima do ácido. Após um tempo, o avental foi retirado e lavado em água fria para remover todos os resíduos de ácido, posteriormente foi secando próximo ao fogão, havendo um flash, levando a explosão do avental (LE COURTEUR; BURRESON, 2006). Schönbein passou a investigar o caso e descobriu a nitrocelulose. Seu método de preparação foi o primeiro a ser largamente imitado - uma parte de algodão imerso em quinze partes de igual mistura de ácido sulfúrico e ácido nítrico. Schönbein colaborou com o professor Rudolf Frankfurt Böttger, que havia descoberto o processo independente no mesmo ano. Por uma estranha coincidência, houve também um terceiro químico, o professor F. J. Otto, que também havia produzido guncotton em 1846 e foi o primeiro a publicar o processo, para a decepção de Schönbein e Böttger. 4 Disponível em: < http://www.spartacus.schoolnet.co.uk/FWWvieille.htm> Acesso em: 21 abr 2010 5 Disponível em: < http://www.economicexpert.com/a/Henri:Braconnot.htm > Acesso em: 21 abr 2010 XV Encontro Nacional de Ensino de Química (XV ENEQ) – Brasília, DF, Brasil – 21 a 24 de julho de 2010
  • 6. Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) HC Instituto de Química da Universidade de Brasília (IQ/UnB) O processo utiliza o ácido nítrico para a conversão da celulose e de nitrato de celulose em água: 3HNO3 + C6 H10O5 → C6H7(NO2)3O5 + 3H2O O ácido sulfúrico está presente como um catalisador para a produção de íons NO2-. A reação é de primeira ordem e os produtos são formados através de substituição eletrofílica nos centros C-OH da celulose (URBANSKI, 1965). A NITROGLICERINA Em 1847, o químico italiano Ascanio Sobrero (1812-1888) preparou outra molécula nitrada altamente explosiva. Ele estudou os efeitos do ácido nítrico sobre outros compostos orgânicos. Ao pingar glicerol, também conhecida como glicerina, um dos subprodutos na produção de sabão, numa mistura resfriada de ácidos sulfúricos e nítricos, derramando a mistura final em água, Sobrero observou a formação de uma camada oleosa, hoje conhecida como nitroglicerina (LE COURTEUR; BURRESON, 2006; SOBRERO, 1847). Como na época, era normal os cientistas experimentarem o que eles produziam, Sobrerou experimentou o novo composto registrando comentários como: “um traço posto sobre a língua, mas não engolido, provoca uma dor de cabeça extremamente pulsante e violenta, acompanhada de grande fraqueza nos membros”. (LE COURTEUR; BURRESON, 2006) A nitroglicerina chegou a ser utilizada na medicina em enfermos que apresentavam problemas no coração, especificamente nos que sofriam problemas de angina. Isto se deu ao fato de que as fortes dores de cabeça relatadas por Sobrero enquanto experimentava sua invenção se dava a dilatação dos vasos sanguíneos (LE COURTEUR; BURRESON, 2006; SMULYAN, 2007). Hoje, se sabe que essa dilatação é devido à liberação de moléculas simples de óxido nítrico (NO) no corpo. Foi a pesquisa dessa dilatação sanguínea que se levou a fabricação do medicamento Viagra®, direcionado a pessoas que sofrem de disfunção erétil. A nitroglicerina também levou prejuízos para quem a produzia. Devido à substância ser um líquido que explodia com extrema facilidade por aquecimento ou por um simples choque mecânico, sua aplicação retardou-se por vários anos. Sendo também muitas vezes transportado na forma congelada, ocasionando várias explosões no processo de descongelamento, causando mortes e ferimentos de pessoas que tentavam fabricar, estocar e utilizá-la (SMULYAN, 2007). Os produtos formados na explosão da nitroglicerina podem ser representados na Equação I, a reação libera grande quantidade de gases que se expandem rapidamente e intenso calor. XV Encontro Nacional de Ensino de Química (XV ENEQ) – Brasília, DF, Brasil – 21 a 24 de julho de 2010
  • 7. Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) HC Instituto de Química da Universidade de Brasília (IQ/UnB) 4C3H3N3O9 (S) → 6N2(g) + 12CO2(g) + 10H2O(g) + O2(g) (Equação I) Comparando-se com a reação de liberação da pólvora (Equação II) se observa uma menor quantidade de produtos gasosos em sua explosão. 4KNO3(S) + 7C(S) + S(S) → 3CO2(g) + 3CO(g) 2N2(g) + K2CO3(S) + K2S(S) (Equação II) Este contraste pode ser explicado devido à pólvora produzir seis mil atmosferas de pressão em milésimos de segundo. Em igual quantidade, a nitroglicerina produz 270 mil atmosferas de pressão em milionésimos de segundo (LE COURTEUR; BURRESON, 2006). A nitroglicerina é muito instável, diferente da pólvora que pode ser manuseada com relativa segurança. Tornando-se necessário encontrar uma maneira segura de manuseá-la e de detonar esse explosivo. Devido a isto, foi que o químico sueco Alfred Bernhard Nobel, em 1867, conseguiu uma forma segura de usar a nitroglicerina, tornando-a comercialmente útil ao inventar a dinamite. É neste momento que Alfred Nobel é inserido na história dos explosivos. ALFRED NOBEL E SUA INVENÇÃO EXPLOSIVA Nascido em Estocolmo, no dia 21 de outubro de 1833, Nobel fez seus primeiros estudos em sua cidade natal e na cidade russa de São Petersburgo. Aos 16 anos já era químico competente, trabalhando no laboratório de T. Jules Pelouzze. Viajando também para a Itália, Alemanha e Estados Unidos, falava fluentemente inglês, francês, alemão e russo, além de sueco. Quando estava em São Petersburgo o pai de Nobel, Immanuel Nobel, em 1842, começou a manufaturar e vender explosivos para aplicações comerciais, abertura de túneis e minas, e uso militar, também chegou a iniciar produção de nitroglicerina (NOBEL FUNDATION, 2009). Entre 1853 e 1856, a empresa da família entra em falência quando a guerra da Criméia termina, levando militares russos a cancelarem encomendas. Alfred Nobel procura desesperadamente por novos produtos explosivos. Nikolai N. Zinin lembra a Nobel a existência da nitroglicerina, isso permite a Nobel a procura por outros materiais que pudessem aperfeiçoar o uso da nitroglicerina de forma que as explosões pudessem ser mais bem controladas (LE COURTEUR; BURRESON, 2006; NOBEL FUNDATION, 2009). Pouco tempo depois de iniciar seus experimentos com a nitroglicerina, Nobel consegue sua primeira patente, tendo a nitroglicerina como um explosivo industrial, juntamente com um detonador para desencadear sua explosão (NOBEL FUNDATION, 2009). Em setembro de 1864, uma explosão em um de seus laboratórios, em Estocolmo, matou cinco pessoas, dentre eles seu irmão mais novo, Emil Nobel e inutilizou seu pai Immanuel (NOBEL FUNDATION, 2009; LE COURTEUR; BURRESON, 2006). A figura 2 apresenta a família Nobel. XV Encontro Nacional de Ensino de Química (XV ENEQ) – Brasília, DF, Brasil – 21 a 24 de julho de 2010
  • 8. Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) HC Instituto de Química da Universidade de Brasília (IQ/UnB) Figura 2. Família Nobel Mesmo sem desvendar a causa do acidente, as autoridades de Estocolmo proibiram a produção de nitroglicerina. Mesmo assim, Nobel construiu um novo laboratório sobre barcaças ancoradas no lago Mälaren (NOBEL FUNDATION, 2009). Nesse laboratório ele verifica que esse explosivo é estabilizado por adição de uma substância inerte a diatomita, sendo esta mistura patenteada em 1867, como dinamite, na Suécia (NOBEL FUNDATION, 2009). A DINAMITE E SEUS DERIVADOS A dinamite consiste na combinação de um material absorvente (como serragem), com a função de estabilizador, encharcado em nitroglicerina. Ambos os componentes são envolvidos numa camada protetora e conectados a uma cápsula de rastilho, sendo também conectada ao detonador, que criará uma pequena explosão provocando em seguida a explosão desejada. A dinamite é um explosivo que, embora de potência inferior à nitroglicerina líquida, é de fácil manuseamento e permite detonações mais suaves e controladas, com maior segurança do que nitroglicerina (DOLAN, 1985). Dois tipos de dinamite foram criados: uma com 75% de nitroglicerina e outra com 64%. A procura foi imediata e cresceu rapidamente, fazendo com que Nobel aumentasse sua produção. Em 1871 Nobel cria a empresa britânica, Dynamite, na Escócia e no Reino Unido. Ao longo dos anos ele fundou fábricas e laboratórios em cerca de 90 lugares em mais de 20 países. Mesmo com grande quantidade de bens, Nobel ainda conseguiu outro invento, a nitroglicerina explosiva. Patenteada em 1876, a incorporação de 7-8% de colódio em nitroglicerina forma um material gelatinoso, com maior poder explosivo que a dinamite, porque este aditivo contribui para a explosão, mas é insensível ao choque e à umidade (podendo ser usada até debaixo d’água) (BROWN, 1998). Com mais de 40 anos, Alfred Nobel era um homem rico, sem filhos e sem esposa. Chegou a anunciar em um jornal que procurava uma senhora de idade madura, versada em línguas e que trabalhasse como secretária e supervisora de família. Houve uma candidata, a condessa austríaca Bertha Kinsky von und Chinic XV Encontro Nacional de Ensino de Química (XV ENEQ) – Brasília, DF, Brasil – 21 a 24 de julho de 2010
  • 9. Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) HC Instituto de Química da Universidade de Brasília (IQ/UnB) Tettau (mais tarde von Suttner). Porém, trabalhou um tempo curto com Nobel e decidiu voltar para a Áustria para casar com o conde Count Arthur von Suttner, mas continuou se comunicando com Nobel através de cartas durante década (NOBEL FUNDATION, 2009). Bertha (Figura 3) se tornou uma ativista da paz e crítica quanto à corrida armamentista. Sem dúvida ela influenciou Nobel quando este, em seu último testamento, escreveu que deveria ser constituído, com os seus bens, um fundo que seria distribuído, em prêmios a todos aqueles que tivessem conferido o maior benefício para a humanidade (NOBEL FUNDATION, 2009). Figura 3. Bertha von Suttner Os executores de sua vontade eram dois jovens engenheiros, Ragnar Sohlman e Rudolf Lilljequist, que formaram a Fundação Nobel, que cuidava das ações financeiras deixadas por Nobel para este fim e coordenaram os trabalhos que receberiam o prêmio Nobel (NOBEL FUNDATION, 2009). Alfred Nobel morreu em 1896, quando trabalhava sozinho em sua escrivaninha, em sua casa em San Remo, na Itália. PRÊMIO NOBEL O Prêmio Nobel, desde 1901, homenageia homens e mulheres de todos os cantos do planeta por apresentarem resultados notáveis em física, química, medicina, literatura e paz. Em 1968, o Banco da Suíça, em memória de Nobel, instituiu um prêmio no campo da economia (NOBEL FUNDATION, 2009; LE COURTEUR; BURRESON, 2006). A premiação acontece anualmente em duas cidades: Oslo, na Noruega, e Estocolmo, na Suécia, em 10 de dezembro, data da morte de Alfred Nobel. A Academia Real de Ciências da Suécia é uma das instituições que participam da escolha dos premiados, sendo responsável pelos prêmios de química, física e economia. A Academia de Literatura da Suécia é responsável pelo prêmio de literatura e, o de paz, por uma comissão de cinco membros nomeada pelo parlamento Norueguês. Cada prêmio consiste em uma importância em dinheiro, estimada por cada instituição, uma medalha de ouro e um diploma comemorativo. XV Encontro Nacional de Ensino de Química (XV ENEQ) – Brasília, DF, Brasil – 21 a 24 de julho de 2010
  • 10. Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) HC Instituto de Química da Universidade de Brasília (IQ/UnB) A Fundação Nobel assegura as condições técnicas e financeiras do prêmio, sendo proprietária legal e administradora funcional dos fundos, e providencia as necessárias conexões entre as diversas instituições. Não intervindo na seleção dos premiados. A decisão final do premiado em cada categoria deve ser concretizada antes do dia 15 de novembro do mesmo ano em que os comitês iniciaram as diversas consultas às entidades que propuseram os candidatos (DOLAN, 1985). Os prêmios podem ser compartilhados por vários ganhadores ou declarados vagos, são outorgados apenas a indivíduos ou, com exceção dos prêmios de literatura e da paz, às equipes científicas representadas pelo cientista que dirigiu o trabalho. Excepcionalmente, o prêmio da paz é concedido a organizações. Pelo regulamento do Prêmio Nobel, os vencedores podem recusar o recebimento da distinção. O cientista russo, Boris Pasternak, não recebeu seu prêmio de química em 1958; Gerhard Domagk, alemão, condecorado com o prêmio de química em 1939, foi proibido por Hitler para receber o prêmio, conseguindo fazê-lo em 1947. Um dos casos mais famosos foi do filósofo, escritor e intelectual francês Jean-Paul Sartre, que foi contemplado em 1964, mas recusou por não aceitar ser submetido a julgamentos (NOVA ENCICLOPEDIA BARSA, 2002). COMENTÁRIOS FINAIS Mesmo com poucas abordagens sobre a pólvora e suas aplicações na educação básica, ressalta-se a importância da divulgação de fatos históricos referentes a materiais que são utilizados pela sociedade. Com um relato histórico da evolução de aplicação da pólvora como explosivo, percebeu-se que as transformações que ocorreram em diferentes povos (chineses, árabes, europeus, dentre outros) estiveram, também, relacionadas às inovações do poder destrutivo de tal artefato. Apesar de poucos saberem o motivo da criação do prêmio, destacamos a importância do conhecimento da história da química para a compreensão da escala de evolução de diversos materiais, inclusive a pólvora, que geralmente é associada apenas aos fogos de artifício ou pequenos explosivos. Porém, foram e na verdade são grandes e poderosos explosivos com poder de um simples artifício a uma bomba mais potente, com fins que vão de simples aberturas de túneis e poços petrolíferos a eventos bélicos. Almejado por muitos cientistas que buscam inovações nas diversas áreas das ciências e tecnologia, o Prêmio Nobel foi à última vontade realizada de um químico, engenheiro, inventor, fabricante de armamento, inventor da dinamite, o cientista, Alfred Nobel. Este, com grande quantidade de bens e dinheiro adquirido proveniente da fabricação dos explosivos, ressentido pela quantidade de pessoas mortas devido a seus inventos, direciona todos os seus bens para pessoas que se preocupam com a humanidade. XV Encontro Nacional de Ensino de Química (XV ENEQ) – Brasília, DF, Brasil – 21 a 24 de julho de 2010
  • 11. Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) HC Instituto de Química da Universidade de Brasília (IQ/UnB) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AL-HASSAN, Ahmad Y., Gunpowder Composition for Rockets and Cannon in Arabic Military Treatises In Thirteenth and Fourteenth Centuries. The History of Science and Technology in Islam, 2002. Disponivel em: http://www.history-science-technology.com/Articles/articles%202.htm. Acesso em: 21 abr 2010. BROWN, George Inghman. The Big Bang – A History of Explosives. Stroud, UK, 1998. 256 p. BUCHANAN, Brenda J., ed. Gunpowder, Explosives and the State: A Technological History. Aldershot: Ashgate, ISBN 0754652599, 2006. CHASE, Kenneth. Firearms: A Global History to 1700, Cambridge University Press, ISBN 0521822742, 2003. COCROFT, Wayne. Dangerous Energy: The archaeology of gunpowder and military explosives manufacture, Swindon: English Heritage, ISBN 1-85074-718-0, 2000 DOLAN, J. E. Molecular Energy - The Development of Explosives, Chemistry Brititian. v. 21 p. 732-737, 1985. KELLY, Jack. Gunpowder: Alchemy, Bombards, & Pyrotechnics: The History of the Explosive that Changed the World. Basic Books, ISBN 0465037186, 2004. KHAN, Iqtidar Alam. Coming of Gunpowder to the Islamic World and North India: Spotlight on the Role of the Mongols, Journal of Asian History, Indiana v. 30 p.41–45, 1996 LE COURTEUR, Penny; BURRESON, Jay. Os Botões de Napoleão: as 17 moléculas que mudaram a história. Rio de Janeiro. Ed. Jorge Zahar, 2006. 343 p. MAAR, Juergen Heinrich. História da química. Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. 946 p. MASON, Stephen F. A History of the Science. First Collier Books Edition, ISBN: 0020934009, 1962. 638 p. Nobel Foundation Copyright © Nobel Web AB 2009: <http://nobelprize.org/> Acesso em 21 abr 2010 NOVA ENCICLOPEDIA BARSA. São Paulo: Barsa Planeta Internacional Ltda., 2002. Obra em 18 v.:Il. 6 ed. p. 339-340. XV Encontro Nacional de Ensino de Química (XV ENEQ) – Brasília, DF, Brasil – 21 a 24 de julho de 2010
  • 12. Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) HC Instituto de Química da Universidade de Brasília (IQ/UnB) PARTINGTON, James Riddick; HALL, Bert S. A History of Greek Fire and Gunpowder. Baltimore: Johns Hopkins University Press. ISBN 0-8018-5954-9, 1999 SOBRERO, Ascanio. Sur plusiers composes detonants produit avec l’acide nitrique et le sucre, la dextrine, la lacitine, la mannite et la glycerine. Comptes Rendus de l’Académie des sciences v. 24 p. 247-248, 1847. SMULYAN, Harold. Nitrates, Arterial Function, Wave Reflections and Coronary Heart Disease. Advances in Cardiology. Basel, Karger, vol 44, p. 302–314, 2007. URBANSKI, Tadeusz. Chemistry and Technology of Explosives. Pergamon Press, Oxford, v. 1, p. 20-21, 1965. XV Encontro Nacional de Ensino de Química (XV ENEQ) – Brasília, DF, Brasil – 21 a 24 de julho de 2010