SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 6
Baixar para ler offline
INVESTIGAÇÃO DE ÍONS FERRO (III) NA RAPADURA


    Angela Fernandes Campos, Cristiano de Almeida Cardoso Marcelino-Jr. , Maeli
        Francisca dos Santos, Flávia Cristina Gomes Catunda de Vasconcelos.

Angela Fernandes Campos (camposaf@hotlink.com.br), química industrial e mestre em
química pela UFPB, doutora em Química pela UFPE, é docente do DQ-UFRPE.
Cristiano de Almeida Cardoso Marcelino-Jr (cristianomarcelinojr@uol.com.br),
bacharel em Química pela UFPE, mestre em Química pela UFAL, é docente DQ-
UFRPE. Maeli Francisca dos Santos, licenciada em Química pela UFRPE. Flávia
Cristina Gomes Catunda de Vasconcelos é licencianda em Química pela UFRPE
(flaviacrisgomes@hotmail.com).


Introdução


       As abordagens de características regionais nas atividades práticas podem auxiliar
na compreensão dos processos químicos e na construção de um conhecimento científico
relacionado com as aplicações tecnológicas e suas implicações ambientais, sociais,
políticas e econômicas. Adicionalmente, podem auxiliar na promoção de um ambiente
de aprendizagem agradável, incentivando abordagens mais flexíveis e interativas,
devido à curiosidade que a atividade pode despertar pela identificação com as temáticas
abordadas (CAMPOS et al., 2004; MARCELINO et al, 2005).
       Este trabalho traz um experimento com ênfase na análise qualitativa de íons
ferro (III) em rapadura, um dos produtos da cana-de-açúcar (Saccharum officinarum).
Historicamente relacionada ao desenvolvimento do Brasil, especialmente durante o
período colonial, a cana-de-açúcar ainda é uma das nossas principais culturas agrícolas,
garantindo a posição do nosso país como grande produtor mundial.
       O Brasil é privilegiado na produção tanto de açúcar quanto de álcool anidro para
fins combustíveis, por apresentar duas grandes regiões produtoras, com safras
alternadas: São Paulo e a Região Nordeste, especialmente Alagoas e Pernambuco.
Apesar disso, muitas outras áreas distribuídas por todo território nacional são destinadas
ao cultivo da cana, quer para fins industriais quanto para a produção artesanal.
A cana-de-açúcar é utilizada na fabricação industrial de vários produtos, dentre
eles o açúcar (sacarose), etanol anidro e a aguardente. O bagaço ainda é aproveitado
como matéria-prima energética e os resíduos da calda como fertilizante natural.
       O crescimento de usinas e destilarias reduziu
a quantidade dos tradicionais engenhos. Porém,
ainda são verificadas algumas unidades que se
destinam à produção de cachaça, mel, açúcar
mascavo e rapadura (figura 1).
       A rapadura é um produto sólido, de
                                                           Figura 1. Amostras de
sabor doce, obtida pela concentração à quente                     rapaduras.
do caldo da cana-de-açúcar, sua principal matéria-prima. Possui grande teor energético
e é rica em vitaminas, ferro e flúor, fatores que dependem da origem e processamento.
Além disso, possui um baixo custo, sendo tradicionalmente consumida pela população
nordestina.
       A seqüência de etapas da produção da rapadura a partir da cana-de-açúcar é
apresentada no fluxograma mostrado na figura 2.




Figura 2. Fluxograma do processo simplificado de obtenção da rapadura (extraído   do site
http://geocities.yahoo.com.br/abtine2000/Rapadura/rapadura.htm).
Analisando o fluxograma, observa-se que o processo de produção da rapadura se
diferencia do processo de obtenção do mel de engenho e do açúcar mascavo apenas pelo
tratamento do caldo após a sua concentração. Nesse caso, o caldo concentrado passa
ainda por uma etapa que se destina à separação das impurezas menos grosseiras. Em
seguida, ocorre o procedimento de evaporação e, finalmente, busca-se atingir o “ponto”
da rapadura. Antes de se solidificar, a pasta é colocada nas fôrmas, geralmente de
madeiras, e, depois da secagem, a rapadura está pronta para ser embalada e
comercializada.


Atividade experimental

Materiais e reagentes

   -   Béquer de 50 mL ou copos de vidro ou de plástico (transparente);
   -   Balão volumétrico de 250 mL;
   -   Vidro de relógio;
   -   Ácido clorídrico 6,0 mol/L; HCl
   -   Solução 0,5 mol/L de hexacianoferrato (II) de potássio; K4[Fe(CN)6]
   -   Solução 0,5 mol/L de tiocianato de amônio; NH4SCN
   -   Amônia concentrada; NH3
   -   Solução 0,5 mol/L de hidróxido de sódio; NaOH.


Procedimento


       A caracterização de íons ferro (III) consistiu das seguintes etapas: (i) - preparar
uma solução a 5% a partir de uma amostra de rapadura (m/m); (ii) - retirar alíquotas de
25 mL da solução preparada e transferir para cinco béqueres de 50 mL (1, 2, 3 ,4 e 5);
(iii) - acidificar cada uma das soluções com 5mL de ácido clorídrico; (iv) - às soluções
de rapadura 1, 2, 3 e 4, respectivamente, adicionar gota a gota (cerca de 10mL) as
soluções de: hexacianoferrato (II) de potássio, tiocianato de amônio, hidróxido de sódio
e amônia concentrada, NH3,; o béquer 5 constitui a solução padrão de comparação; (v)-
comparar as colorações verificadas nos béqueres 1, 2, 3 e 4 (figura 3) com a solução do
béquer 5.
Nota: todos os reagentes são encontrados em lojas de produtos químicos. O ácido clorídrico e o
hidróxido de sódio são comercialmente conhecidos como soda cáustica e ácido muriático
respectivamente, sendo a venda controlada pela Polícia Federal. Além disso, são substâncias tóxicas e
corrosivas, devendo o professor e alunos terem cuidado no manuseio das mesmas. É importante utilizar
CAPELA.




 Figura 3 - Soluções de rapadura (béqueres 1-4, da esquerda para direita), após a adição
                                          dos reagentes.
Identificação de íons ferro (III)


        Os reagentes K4[Fe(CN)6], NH4SCN, NaOH, e NH3 formam com íons ferro (III),
presentes na solução de rapadura, compostos com colorações azul intenso (azul da
Prússia),    vermelho,      marrom-escuro       e    marrom-claro,       respectivamente,       bem
características. A fim de se perceber com mais clareza a formação do precipitado,
hexacianoferrato (II) de ferro (III), (Fe4[Fe(CN)6]3), recomenda-se que na primeira
reação seja realizada uma filtração, pois, a coloração levemente amarela da solução da
rapadura com a coloração azulada devido à formação de (Fe4[Fe(CN)6]3), confere à
solução resultante uma cor esverdeada (Figura 4). As equações 1, 2, 3 e 4 (LEE, 1999,
VOGEL, 1981) representam os fenômenos observados após a adição dos reagentes às
soluções de rapadura (béqueres 1-4):


4Fe3+(aq) + 3[Fe(CN)6]4-(aq) Fe4[Fe(CN)6]3(s)                                         (1)
2Fe3+(aq) + 6SCN-(aq)  Fe[Fe(SCN)6](aq)                                               (2)
Fe3+(aq) + 3OH-(aq)  Fe(OH)3 (s)                                                      (3)
Fe3+(aq) + 3NH3 (aq)+ 3H2O  Fe(OH)3 (s)+ 3NH4+(aq)                                    (4)
Figura 4 – Precipitado de hexacianoferrato(II) de ferro(III), (Fe4[Fe(CN)6]3) retido no
                                     papel de filtro.


Considerações finais


        Atividades experimentais voltadas às perspectivas problematizadoras e
investigativas podem ganhar motivação e interesse adicionais quando vinculadas a
temas regionais. O professor de Química pode discutir em sala de aula questões
relacionadas à origem do ferro na rapadura e sua função e importância no organismo
humano. A investigação de íons ferro (III) em rapadura pode atuar como uma doce idéia
para a discussão de conceitos científicos e permitir a inter-relação com aspectos
históricos e sociais, um dos objetivos do ensino médio.


Referências bibliográficas


CAMPOS, A. F, MARCELINO-JR, C. A. C , BARBOSA, R. M. N, TAVARES, A. R.
Determinação de cloreto de sódio em Atriplex: Uma Atividade Experimental para os
Cursos de Ciências Biológicas. Revista Brasileira de Ensino de Bioquímica e Biologia
Molecular, No1, 2004.
LEE, J. D. Química Inorgânica não tão Concisa. Editora Edgard Blucher. 5ª edição,
1999.
MARCELINO-JR, C. A. C, BARBOSA, R. M. N, CAMPOS, A. F, SANTOS, A. P.,
LACERDA , C.C. e SILVA, C. E. G. DA. Utilizando uma Cuscuzeira na Extração do
Óleo Essencial do Alecrim da-Chapada (Lippia gracillis), uma Planta da Caatinga.
Química Nova na Escola, No 22, p. 57-59, 2005.
VOGEL, A. I. Química Analítica Qualitativa .Editora Mestre Jou, 5. ed. 1981.
Detecção de íons ferro na rapadura

Mais conteúdo relacionado

Destaque

12 Client Hot Spots for Personal Chefs
12 Client Hot Spots for Personal Chefs12 Client Hot Spots for Personal Chefs
12 Client Hot Spots for Personal ChefsSandra Hoedemaker
 
Varaleat
VaraleatVaraleat
VaraleatCarlos
 
Presentacion-Estructural Social
Presentacion-Estructural SocialPresentacion-Estructural Social
Presentacion-Estructural SocialMarianyela Marin
 
St thomas brochure preview
St thomas brochure previewSt thomas brochure preview
St thomas brochure previewAbhishek Bajaj
 
Arts al carrer, la mercè
Arts al carrer, la mercèArts al carrer, la mercè
Arts al carrer, la mercèclubsocial
 
Mis mejores recuerdos 006
Mis mejores recuerdos 006Mis mejores recuerdos 006
Mis mejores recuerdos 006marlon_21
 
Hojita evangelio domingo xxxi to c to c color
Hojita evangelio domingo xxxi to c to c  colorHojita evangelio domingo xxxi to c to c  color
Hojita evangelio domingo xxxi to c to c colorNelson Gómez
 
Dog caller เป็นผลงานการออกแบบโดยบริษัท toronto humane society ที่ทำให้สุนัขข...
Dog caller  เป็นผลงานการออกแบบโดยบริษัท toronto humane society ที่ทำให้สุนัขข...Dog caller  เป็นผลงานการออกแบบโดยบริษัท toronto humane society ที่ทำให้สุนัขข...
Dog caller เป็นผลงานการออกแบบโดยบริษัท toronto humane society ที่ทำให้สุนัขข...Jame Natdanai
 
University of alabama in Huntsville affidavit of fin support
University of alabama in Huntsville affidavit of fin supportUniversity of alabama in Huntsville affidavit of fin support
University of alabama in Huntsville affidavit of fin supportAbhishek Bajaj
 
eLKaravan diploma za M.Z. Crvenka
eLKaravan diploma za M.Z. CrvenkaeLKaravan diploma za M.Z. Crvenka
eLKaravan diploma za M.Z. CrvenkaLimundo
 
Irene solis eje3_actividad3_pres
Irene solis eje3_actividad3_presIrene solis eje3_actividad3_pres
Irene solis eje3_actividad3_pressonig_86
 
Pagina de escaner de muxas hojas
Pagina de escaner de muxas hojasPagina de escaner de muxas hojas
Pagina de escaner de muxas hojascriztin2012
 
RECOMMENDATION ROYAL MONICA PLAYA BLANCA
RECOMMENDATION ROYAL MONICA PLAYA BLANCARECOMMENDATION ROYAL MONICA PLAYA BLANCA
RECOMMENDATION ROYAL MONICA PLAYA BLANCAMilos Gino Ballek, MBA
 
ADV20001_(Ahmling_Nash_Pivac_Smart)_Group- Project
ADV20001_(Ahmling_Nash_Pivac_Smart)_Group- ProjectADV20001_(Ahmling_Nash_Pivac_Smart)_Group- Project
ADV20001_(Ahmling_Nash_Pivac_Smart)_Group- ProjectRachel Nash
 

Destaque (17)

12 Client Hot Spots for Personal Chefs
12 Client Hot Spots for Personal Chefs12 Client Hot Spots for Personal Chefs
12 Client Hot Spots for Personal Chefs
 
Varaleat
VaraleatVaraleat
Varaleat
 
Presentacion-Estructural Social
Presentacion-Estructural SocialPresentacion-Estructural Social
Presentacion-Estructural Social
 
Aisi s7
Aisi s7Aisi s7
Aisi s7
 
Sara morales palencia
Sara morales palenciaSara morales palencia
Sara morales palencia
 
St thomas brochure preview
St thomas brochure previewSt thomas brochure preview
St thomas brochure preview
 
Arts al carrer, la mercè
Arts al carrer, la mercèArts al carrer, la mercè
Arts al carrer, la mercè
 
Mis mejores recuerdos 006
Mis mejores recuerdos 006Mis mejores recuerdos 006
Mis mejores recuerdos 006
 
Hojita evangelio domingo xxxi to c to c color
Hojita evangelio domingo xxxi to c to c  colorHojita evangelio domingo xxxi to c to c  color
Hojita evangelio domingo xxxi to c to c color
 
Dog caller เป็นผลงานการออกแบบโดยบริษัท toronto humane society ที่ทำให้สุนัขข...
Dog caller  เป็นผลงานการออกแบบโดยบริษัท toronto humane society ที่ทำให้สุนัขข...Dog caller  เป็นผลงานการออกแบบโดยบริษัท toronto humane society ที่ทำให้สุนัขข...
Dog caller เป็นผลงานการออกแบบโดยบริษัท toronto humane society ที่ทำให้สุนัขข...
 
University of alabama in Huntsville affidavit of fin support
University of alabama in Huntsville affidavit of fin supportUniversity of alabama in Huntsville affidavit of fin support
University of alabama in Huntsville affidavit of fin support
 
eLKaravan diploma za M.Z. Crvenka
eLKaravan diploma za M.Z. CrvenkaeLKaravan diploma za M.Z. Crvenka
eLKaravan diploma za M.Z. Crvenka
 
Irene solis eje3_actividad3_pres
Irene solis eje3_actividad3_presIrene solis eje3_actividad3_pres
Irene solis eje3_actividad3_pres
 
Pagina de escaner de muxas hojas
Pagina de escaner de muxas hojasPagina de escaner de muxas hojas
Pagina de escaner de muxas hojas
 
Javierfergo 13
Javierfergo 13Javierfergo 13
Javierfergo 13
 
RECOMMENDATION ROYAL MONICA PLAYA BLANCA
RECOMMENDATION ROYAL MONICA PLAYA BLANCARECOMMENDATION ROYAL MONICA PLAYA BLANCA
RECOMMENDATION ROYAL MONICA PLAYA BLANCA
 
ADV20001_(Ahmling_Nash_Pivac_Smart)_Group- Project
ADV20001_(Ahmling_Nash_Pivac_Smart)_Group- ProjectADV20001_(Ahmling_Nash_Pivac_Smart)_Group- Project
ADV20001_(Ahmling_Nash_Pivac_Smart)_Group- Project
 

Semelhante a Detecção de íons ferro na rapadura

Semelhante a Detecção de íons ferro na rapadura (12)

Lista 2 recuperacao
Lista 2   recuperacaoLista 2   recuperacao
Lista 2 recuperacao
 
Exercícios de sais
Exercícios de saisExercícios de sais
Exercícios de sais
 
Exercícios de bases
Exercícios de basesExercícios de bases
Exercícios de bases
 
EXERCÍCIOS SOBRE SAIS
EXERCÍCIOS SOBRE SAISEXERCÍCIOS SOBRE SAIS
EXERCÍCIOS SOBRE SAIS
 
Aula cations e anions via umida
Aula cations e anions via umidaAula cations e anions via umida
Aula cations e anions via umida
 
FunçãO InorgâNica
FunçãO InorgâNicaFunçãO InorgâNica
FunçãO InorgâNica
 
Definitivo modelo relatorio parcial_pibic-em_rev-jul2013
Definitivo modelo relatorio parcial_pibic-em_rev-jul2013 Definitivo modelo relatorio parcial_pibic-em_rev-jul2013
Definitivo modelo relatorio parcial_pibic-em_rev-jul2013
 
Lista 35 funções inorgânicas - difícil
Lista 35   funções inorgânicas - difícilLista 35   funções inorgânicas - difícil
Lista 35 funções inorgânicas - difícil
 
Revisão Química - enem 2009
Revisão Química - enem 2009Revisão Química - enem 2009
Revisão Química - enem 2009
 
BANNER PRPGI 2014
BANNER  PRPGI 2014BANNER  PRPGI 2014
BANNER PRPGI 2014
 
Inor parte 2
Inor parte 2Inor parte 2
Inor parte 2
 
Metais Pesados em Solos de Áreas Recuperadas
Metais Pesados em Solos de Áreas RecuperadasMetais Pesados em Solos de Áreas Recuperadas
Metais Pesados em Solos de Áreas Recuperadas
 

Mais de Flávia Vasconcelos

Visualizações - Journal Science Education
Visualizações - Journal Science EducationVisualizações - Journal Science Education
Visualizações - Journal Science EducationFlávia Vasconcelos
 
Estratégia didática para o ensino de MOL, quantidade de matéria
Estratégia didática para o ensino de MOL, quantidade de matériaEstratégia didática para o ensino de MOL, quantidade de matéria
Estratégia didática para o ensino de MOL, quantidade de matériaFlávia Vasconcelos
 
Utilização de Recursos didáticos em uma estratégia FlexQuest sobre Radioativi...
Utilização de Recursos didáticos em uma estratégia FlexQuest sobre Radioativi...Utilização de Recursos didáticos em uma estratégia FlexQuest sobre Radioativi...
Utilização de Recursos didáticos em uma estratégia FlexQuest sobre Radioativi...Flávia Vasconcelos
 
Construção e utilização do jogo Mundo Químico: um recurso didático para o pro...
Construção e utilização do jogo Mundo Químico: um recurso didático para o pro...Construção e utilização do jogo Mundo Químico: um recurso didático para o pro...
Construção e utilização do jogo Mundo Químico: um recurso didático para o pro...Flávia Vasconcelos
 
Ie 2010 flexquest radioatividade - versao final
Ie 2010   flexquest radioatividade - versao finalIe 2010   flexquest radioatividade - versao final
Ie 2010 flexquest radioatividade - versao finalFlávia Vasconcelos
 
O que os professores de química entendem sobre visualizações e suas represent...
O que os professores de química entendem sobre visualizações e suas represent...O que os professores de química entendem sobre visualizações e suas represent...
O que os professores de química entendem sobre visualizações e suas represent...Flávia Vasconcelos
 
O vídeo como recurso midático na divulgação do ensino de química em um museu ...
O vídeo como recurso midático na divulgação do ensino de química em um museu ...O vídeo como recurso midático na divulgação do ensino de química em um museu ...
O vídeo como recurso midático na divulgação do ensino de química em um museu ...Flávia Vasconcelos
 
Experiência de ensino sobre a combustão durante a colônia de férias do Espaço...
Experiência de ensino sobre a combustão durante a colônia de férias do Espaço...Experiência de ensino sobre a combustão durante a colônia de férias do Espaço...
Experiência de ensino sobre a combustão durante a colônia de férias do Espaço...Flávia Vasconcelos
 
As diferentes abordagens sobre fenômenos químicos nos livros da 8ª série (9º ...
As diferentes abordagens sobre fenômenos químicos nos livros da 8ª série (9º ...As diferentes abordagens sobre fenômenos químicos nos livros da 8ª série (9º ...
As diferentes abordagens sobre fenômenos químicos nos livros da 8ª série (9º ...Flávia Vasconcelos
 
O Podcasting como uma ferramenta para o ensino-aprendizagem das reações químicas
O Podcasting como uma ferramenta para o ensino-aprendizagem das reações químicasO Podcasting como uma ferramenta para o ensino-aprendizagem das reações químicas
O Podcasting como uma ferramenta para o ensino-aprendizagem das reações químicasFlávia Vasconcelos
 
Um pouco da história dos explosivos: da pólvora ao Prêmio Nobel de Química
Um pouco da história dos explosivos: da pólvora ao Prêmio Nobel de QuímicaUm pouco da história dos explosivos: da pólvora ao Prêmio Nobel de Química
Um pouco da história dos explosivos: da pólvora ao Prêmio Nobel de QuímicaFlávia Vasconcelos
 
EXPERIÊNCIA DE ENSINO SOBRE CORES DURANTE A COLÔNIA DE FÉRIAS DO ESPAÇO CIÊNC...
EXPERIÊNCIA DE ENSINO SOBRE CORES DURANTE A COLÔNIA DE FÉRIAS DO ESPAÇO CIÊNC...EXPERIÊNCIA DE ENSINO SOBRE CORES DURANTE A COLÔNIA DE FÉRIAS DO ESPAÇO CIÊNC...
EXPERIÊNCIA DE ENSINO SOBRE CORES DURANTE A COLÔNIA DE FÉRIAS DO ESPAÇO CIÊNC...Flávia Vasconcelos
 

Mais de Flávia Vasconcelos (15)

Visualizações - Journal Science Education
Visualizações - Journal Science EducationVisualizações - Journal Science Education
Visualizações - Journal Science Education
 
Evolução do modelo atômico
Evolução do modelo atômicoEvolução do modelo atômico
Evolução do modelo atômico
 
Benzeno
BenzenoBenzeno
Benzeno
 
Estratégia didática para o ensino de MOL, quantidade de matéria
Estratégia didática para o ensino de MOL, quantidade de matériaEstratégia didática para o ensino de MOL, quantidade de matéria
Estratégia didática para o ensino de MOL, quantidade de matéria
 
Utilização de Recursos didáticos em uma estratégia FlexQuest sobre Radioativi...
Utilização de Recursos didáticos em uma estratégia FlexQuest sobre Radioativi...Utilização de Recursos didáticos em uma estratégia FlexQuest sobre Radioativi...
Utilização de Recursos didáticos em uma estratégia FlexQuest sobre Radioativi...
 
Construção e utilização do jogo Mundo Químico: um recurso didático para o pro...
Construção e utilização do jogo Mundo Químico: um recurso didático para o pro...Construção e utilização do jogo Mundo Químico: um recurso didático para o pro...
Construção e utilização do jogo Mundo Químico: um recurso didático para o pro...
 
Ie 2010 flexquest radioatividade - versao final
Ie 2010   flexquest radioatividade - versao finalIe 2010   flexquest radioatividade - versao final
Ie 2010 flexquest radioatividade - versao final
 
O que os professores de química entendem sobre visualizações e suas represent...
O que os professores de química entendem sobre visualizações e suas represent...O que os professores de química entendem sobre visualizações e suas represent...
O que os professores de química entendem sobre visualizações e suas represent...
 
O vídeo como recurso midático na divulgação do ensino de química em um museu ...
O vídeo como recurso midático na divulgação do ensino de química em um museu ...O vídeo como recurso midático na divulgação do ensino de química em um museu ...
O vídeo como recurso midático na divulgação do ensino de química em um museu ...
 
Experiência de ensino sobre a combustão durante a colônia de férias do Espaço...
Experiência de ensino sobre a combustão durante a colônia de férias do Espaço...Experiência de ensino sobre a combustão durante a colônia de férias do Espaço...
Experiência de ensino sobre a combustão durante a colônia de férias do Espaço...
 
As diferentes abordagens sobre fenômenos químicos nos livros da 8ª série (9º ...
As diferentes abordagens sobre fenômenos químicos nos livros da 8ª série (9º ...As diferentes abordagens sobre fenômenos químicos nos livros da 8ª série (9º ...
As diferentes abordagens sobre fenômenos químicos nos livros da 8ª série (9º ...
 
O Podcasting como uma ferramenta para o ensino-aprendizagem das reações químicas
O Podcasting como uma ferramenta para o ensino-aprendizagem das reações químicasO Podcasting como uma ferramenta para o ensino-aprendizagem das reações químicas
O Podcasting como uma ferramenta para o ensino-aprendizagem das reações químicas
 
Um pouco da história dos explosivos: da pólvora ao Prêmio Nobel de Química
Um pouco da história dos explosivos: da pólvora ao Prêmio Nobel de QuímicaUm pouco da história dos explosivos: da pólvora ao Prêmio Nobel de Química
Um pouco da história dos explosivos: da pólvora ao Prêmio Nobel de Química
 
Radioatividade
RadioatividadeRadioatividade
Radioatividade
 
EXPERIÊNCIA DE ENSINO SOBRE CORES DURANTE A COLÔNIA DE FÉRIAS DO ESPAÇO CIÊNC...
EXPERIÊNCIA DE ENSINO SOBRE CORES DURANTE A COLÔNIA DE FÉRIAS DO ESPAÇO CIÊNC...EXPERIÊNCIA DE ENSINO SOBRE CORES DURANTE A COLÔNIA DE FÉRIAS DO ESPAÇO CIÊNC...
EXPERIÊNCIA DE ENSINO SOBRE CORES DURANTE A COLÔNIA DE FÉRIAS DO ESPAÇO CIÊNC...
 

Detecção de íons ferro na rapadura

  • 1. INVESTIGAÇÃO DE ÍONS FERRO (III) NA RAPADURA Angela Fernandes Campos, Cristiano de Almeida Cardoso Marcelino-Jr. , Maeli Francisca dos Santos, Flávia Cristina Gomes Catunda de Vasconcelos. Angela Fernandes Campos (camposaf@hotlink.com.br), química industrial e mestre em química pela UFPB, doutora em Química pela UFPE, é docente do DQ-UFRPE. Cristiano de Almeida Cardoso Marcelino-Jr (cristianomarcelinojr@uol.com.br), bacharel em Química pela UFPE, mestre em Química pela UFAL, é docente DQ- UFRPE. Maeli Francisca dos Santos, licenciada em Química pela UFRPE. Flávia Cristina Gomes Catunda de Vasconcelos é licencianda em Química pela UFRPE (flaviacrisgomes@hotmail.com). Introdução As abordagens de características regionais nas atividades práticas podem auxiliar na compreensão dos processos químicos e na construção de um conhecimento científico relacionado com as aplicações tecnológicas e suas implicações ambientais, sociais, políticas e econômicas. Adicionalmente, podem auxiliar na promoção de um ambiente de aprendizagem agradável, incentivando abordagens mais flexíveis e interativas, devido à curiosidade que a atividade pode despertar pela identificação com as temáticas abordadas (CAMPOS et al., 2004; MARCELINO et al, 2005). Este trabalho traz um experimento com ênfase na análise qualitativa de íons ferro (III) em rapadura, um dos produtos da cana-de-açúcar (Saccharum officinarum). Historicamente relacionada ao desenvolvimento do Brasil, especialmente durante o período colonial, a cana-de-açúcar ainda é uma das nossas principais culturas agrícolas, garantindo a posição do nosso país como grande produtor mundial. O Brasil é privilegiado na produção tanto de açúcar quanto de álcool anidro para fins combustíveis, por apresentar duas grandes regiões produtoras, com safras alternadas: São Paulo e a Região Nordeste, especialmente Alagoas e Pernambuco. Apesar disso, muitas outras áreas distribuídas por todo território nacional são destinadas ao cultivo da cana, quer para fins industriais quanto para a produção artesanal.
  • 2. A cana-de-açúcar é utilizada na fabricação industrial de vários produtos, dentre eles o açúcar (sacarose), etanol anidro e a aguardente. O bagaço ainda é aproveitado como matéria-prima energética e os resíduos da calda como fertilizante natural. O crescimento de usinas e destilarias reduziu a quantidade dos tradicionais engenhos. Porém, ainda são verificadas algumas unidades que se destinam à produção de cachaça, mel, açúcar mascavo e rapadura (figura 1). A rapadura é um produto sólido, de Figura 1. Amostras de sabor doce, obtida pela concentração à quente rapaduras. do caldo da cana-de-açúcar, sua principal matéria-prima. Possui grande teor energético e é rica em vitaminas, ferro e flúor, fatores que dependem da origem e processamento. Além disso, possui um baixo custo, sendo tradicionalmente consumida pela população nordestina. A seqüência de etapas da produção da rapadura a partir da cana-de-açúcar é apresentada no fluxograma mostrado na figura 2. Figura 2. Fluxograma do processo simplificado de obtenção da rapadura (extraído do site http://geocities.yahoo.com.br/abtine2000/Rapadura/rapadura.htm).
  • 3. Analisando o fluxograma, observa-se que o processo de produção da rapadura se diferencia do processo de obtenção do mel de engenho e do açúcar mascavo apenas pelo tratamento do caldo após a sua concentração. Nesse caso, o caldo concentrado passa ainda por uma etapa que se destina à separação das impurezas menos grosseiras. Em seguida, ocorre o procedimento de evaporação e, finalmente, busca-se atingir o “ponto” da rapadura. Antes de se solidificar, a pasta é colocada nas fôrmas, geralmente de madeiras, e, depois da secagem, a rapadura está pronta para ser embalada e comercializada. Atividade experimental Materiais e reagentes - Béquer de 50 mL ou copos de vidro ou de plástico (transparente); - Balão volumétrico de 250 mL; - Vidro de relógio; - Ácido clorídrico 6,0 mol/L; HCl - Solução 0,5 mol/L de hexacianoferrato (II) de potássio; K4[Fe(CN)6] - Solução 0,5 mol/L de tiocianato de amônio; NH4SCN - Amônia concentrada; NH3 - Solução 0,5 mol/L de hidróxido de sódio; NaOH. Procedimento A caracterização de íons ferro (III) consistiu das seguintes etapas: (i) - preparar uma solução a 5% a partir de uma amostra de rapadura (m/m); (ii) - retirar alíquotas de 25 mL da solução preparada e transferir para cinco béqueres de 50 mL (1, 2, 3 ,4 e 5); (iii) - acidificar cada uma das soluções com 5mL de ácido clorídrico; (iv) - às soluções de rapadura 1, 2, 3 e 4, respectivamente, adicionar gota a gota (cerca de 10mL) as soluções de: hexacianoferrato (II) de potássio, tiocianato de amônio, hidróxido de sódio e amônia concentrada, NH3,; o béquer 5 constitui a solução padrão de comparação; (v)- comparar as colorações verificadas nos béqueres 1, 2, 3 e 4 (figura 3) com a solução do béquer 5.
  • 4. Nota: todos os reagentes são encontrados em lojas de produtos químicos. O ácido clorídrico e o hidróxido de sódio são comercialmente conhecidos como soda cáustica e ácido muriático respectivamente, sendo a venda controlada pela Polícia Federal. Além disso, são substâncias tóxicas e corrosivas, devendo o professor e alunos terem cuidado no manuseio das mesmas. É importante utilizar CAPELA. Figura 3 - Soluções de rapadura (béqueres 1-4, da esquerda para direita), após a adição dos reagentes. Identificação de íons ferro (III) Os reagentes K4[Fe(CN)6], NH4SCN, NaOH, e NH3 formam com íons ferro (III), presentes na solução de rapadura, compostos com colorações azul intenso (azul da Prússia), vermelho, marrom-escuro e marrom-claro, respectivamente, bem características. A fim de se perceber com mais clareza a formação do precipitado, hexacianoferrato (II) de ferro (III), (Fe4[Fe(CN)6]3), recomenda-se que na primeira reação seja realizada uma filtração, pois, a coloração levemente amarela da solução da rapadura com a coloração azulada devido à formação de (Fe4[Fe(CN)6]3), confere à solução resultante uma cor esverdeada (Figura 4). As equações 1, 2, 3 e 4 (LEE, 1999, VOGEL, 1981) representam os fenômenos observados após a adição dos reagentes às soluções de rapadura (béqueres 1-4): 4Fe3+(aq) + 3[Fe(CN)6]4-(aq) Fe4[Fe(CN)6]3(s) (1) 2Fe3+(aq) + 6SCN-(aq)  Fe[Fe(SCN)6](aq) (2) Fe3+(aq) + 3OH-(aq)  Fe(OH)3 (s) (3) Fe3+(aq) + 3NH3 (aq)+ 3H2O  Fe(OH)3 (s)+ 3NH4+(aq) (4)
  • 5. Figura 4 – Precipitado de hexacianoferrato(II) de ferro(III), (Fe4[Fe(CN)6]3) retido no papel de filtro. Considerações finais Atividades experimentais voltadas às perspectivas problematizadoras e investigativas podem ganhar motivação e interesse adicionais quando vinculadas a temas regionais. O professor de Química pode discutir em sala de aula questões relacionadas à origem do ferro na rapadura e sua função e importância no organismo humano. A investigação de íons ferro (III) em rapadura pode atuar como uma doce idéia para a discussão de conceitos científicos e permitir a inter-relação com aspectos históricos e sociais, um dos objetivos do ensino médio. Referências bibliográficas CAMPOS, A. F, MARCELINO-JR, C. A. C , BARBOSA, R. M. N, TAVARES, A. R. Determinação de cloreto de sódio em Atriplex: Uma Atividade Experimental para os Cursos de Ciências Biológicas. Revista Brasileira de Ensino de Bioquímica e Biologia Molecular, No1, 2004. LEE, J. D. Química Inorgânica não tão Concisa. Editora Edgard Blucher. 5ª edição, 1999. MARCELINO-JR, C. A. C, BARBOSA, R. M. N, CAMPOS, A. F, SANTOS, A. P., LACERDA , C.C. e SILVA, C. E. G. DA. Utilizando uma Cuscuzeira na Extração do Óleo Essencial do Alecrim da-Chapada (Lippia gracillis), uma Planta da Caatinga. Química Nova na Escola, No 22, p. 57-59, 2005. VOGEL, A. I. Química Analítica Qualitativa .Editora Mestre Jou, 5. ed. 1981.