O documento discute a Covid-19, incluindo sua introdução, epidemiologia, transmissão, apresentação clínica, diagnóstico, tratamento e manejo de pacientes. Aborda tópicos como variantes do vírus, fatores de risco, sintomas comuns, testes de diagnóstico, terapias medicamentosas e cuidados com pacientes hospitalizados, como intubação e ventilação mecânica.
2. Introdução
Doença viral provocada pelo SARS-CoV-2;
Beta coronavírus de RNA fita simples envelopados;
Receptor na célula hospedeira é o receptor da enzima conversora de
angiotensina 2 (ACE2);
ACE2 muito presente em rins, coração, TGI, vasos e, principalmente, epitélio
pulmonar (pneumócitos tipo II);
A proteína S (spike) é a ancoragem do vírus nas células;
Proteína viral N responsável pela replicação e altamente produzida na
infecção ativa – altamente imunogênica;
3. Introdução
A maioria das mutações virais não tem impacto na função viral;
Algumas variantes tiveram maior impacto devido seu rápido surgimento entre
as populações, evidência de transmissão ou implicações clínicas;
Omicron
Contém mais de 30 mutações na proteína S
Aumento da transmissibilidade e redução da susceptibilidade a anticorpos
neutralizantes, inclusive os monoclonais terapêuticos;
Doença menos grave;
Delta
Variante mais prevalente até a chegada da omicron;
Mais associada a doença mais grave e risco de hospitalização
4. Epidemiologia e transmissão
Mais de 500 milhões de casos confirmados em todo o mundo;
Em NOV/2021, mais de 3 milhões de pessoas já haviam sido contaminadas
pelo menos 1 vez;
Taxa de mortalidade 2,3%;
Nenhuma morte em casos não críticos;
Transmissão de pessoa para pessoa é a forma mais comum;
Contato a curta distância (2m);
Partículas respiratórias;
Outras formas:
Contato de mãos contaminadas com mucosas;
Inalação de partículas que permaneceram no ar, principalmente em espaços
fechados;
5. Epidemiologia e transmissão
Potencial de transmissão se inicia antes do desenvolvimento dos sintomas;
Maior transmissibilidade no início da doença, 2 dias antes do início dos
sintomas e 1 dia após;
A detecção prolongada de RNA viral não indica infecciosidade prolongada;
O “derramamento” do RNA viral pode aumentar com a idade e gravidade da
doença;
Limiar de RNA viral abaixo do qual a infecciosidade é improvável;
Indivíduos sintomáticos são muito mais transmissíveis que os assintomáticos;
6. Epidemiologia e transmissão
O risco de transmissão depende:
Tipo e duração da exposição;
Uso de medidas preventivas;
Fatores individuais;
Quantidade de vírus nas secreções respiratórias;
Transmissão aumenta quanto maior a proximidade e duração do contato;
Contatos domiciliares;
Ambientes fechados de trabalho;
Ambientes de cuidados em saúde;
Aglomerados sociais;
7. Apresentação Clínica
Varia desde infecções assintomáticas a casos críticos;
A maioria são de assintomáticos ou infecções leves;
33 – 40% são de infecções assintomáticas
Dos infectados, 81% doença leve;
14% doença grave;
5% doença crítica;
Período de incubação 14 dias;
Início dos sintomas em média 4 a 5 dias após o contato;
10. Definições
Resfriado comum: sintomas respiratórios leves
Tosse;
Obstrução nasal;
Dor na orofaringe;
Ausência de febre e sintomas sistêmicos;
Síndrome Gripal: febre de início súbito, mesmo que referida, acompanhada
de sintomas leves
Tosse
Odinofagia ou obstrução nasal;
Cefaleia;
Mialgia/artralgia;
11. Síndrome Respiratória Agua Grave
Critérios de síndrome gripal;
Presença de dispneia e qualquer um destes:
SAT < 95% em AA;
Cianose;
Sinais de desconforto respiratório ou aumento FR;
Redução da amplitude de pulsos periféricos;
Alteração do nível de consciência;
Febre persistente;
Insuficiência respiratória;
12. Diagnóstico
Testar pacientes sintomáticos;
Teste de amplificação de ácidos nucleicos (NAAT): RT-PCR;
É o método de escolha;
Identifica o RNA viral;
Coletar preferencialmente entre o 3º e 4º dia de sintomas, podendo estender até o
10º dia;
Pode ser repetido 24h após o primeiro teste;
Teste de antígeno;
Alternativa ao RT-PCR, com sensibilidade inferior;
Identificam antígenos do SARS-CoV-2;
Solicitar nos primeiros 5 a 7 dias do início dos sintomas, preferencialmente após o
3º dia;
13. Diagnóstico
Testes sorológicos
Detectam os anticorpos contra o SARS-CoV-2;
Ajudam identificar pacientes com infecção prévia e atual que tiveram sintomas por
mais de 3 a 4 semanas;
Utilidade limitada em cenário agudo;
15. Reinfecção
O diagnóstico é um desafio;
Características que aumentam a probabilidade:
Intervalo de tempo longo desde a primeira infecção;
Alto nível de RNA viral em testes repetidos;
Critérios:
RT-PCR positivo ≥ 90 dias após a primeira infecção;
RT-PCR positivo 45 a 89 dias após a infecção inicial E sintomas consistente com
COVID sem outras explicação alternativa;
Ideal: sequenciamento genômico para determinar que as infecções foram
causadas por vírus diferentes;
19. Tratamento ambulatorial
Cloroquina e hidroxicloroquina NÃO são recomendados;
Ácido ascórbico, colchicina, fluvoxamina, corticoides sistêmicos ou
inalatórios, plasma convalescente também NÃO são recomendados no
tratamento ambulatorial até o momento;
O tratamento ambulatorial são SINTOMÁTICOS;
Repouso, hidratação, alimentação adequada;
Não há indicação de interromper uso de IECA/BRA, a não ser que haja outro
motivo para descontinuação;
20. Tratamento hospitalar
Tratamento empírico para influenza com Oseltamivir deve ser iniciado e
descontinuada caso teste molecular para influenza for negativo;
Profilaxia de TEV em TODOS os pacientes internados, salvo em
contraindicações;
Anticoagulação plena em casos selecionados, como TVP e TEP;
NÃO usar anticoagulação plena baseada em alterações de D-dímero;
Pacientes com casos leves internados, devem receber tratamento
sintomático;
Oxigênio suplementar conforme necessário;
21. Tratamento hospitalar
Dexametasona:
Indicada em todos os casos de hipoxemia em uso de O2 suplementar ou suporte
ventilatório;
Redução de mortalidade;
Uso por 7 a 10 dias, 6 mg/dia;
Corticoides alternativos:
Hidrocortisona 50 mg 6/6h
Metilprednisolona 0,5 – 1 mg/kg 24/24h por 5 dias
Prednisona 40-60 mg 24/24h
22. Tratamento hospitalar
Baricitinibe
Inibidor da janus quinase (JAK);
Reduzem a inflamação e a resposta imunológica;
Associado ao corticoide em pacientes hipoxêmicos em uso de O2 ou em suporte
ventilatório;
4 mg VO 24/24h por 14 dias;
Não é recomendado uso em associação ao tocilizumabe;
Tocilizumabe
Anticorpo monoclonal que inibe os receptores da IL-6;
Associado ao corticoide em pacientes hipoxêmicos em uso de O2 ou em suporte
ventilatório;
8 mg/kg IV (máx 800 mg) dose única;
23. Tratamento hospitalar
Remdesevir
Antiviral análogo nucleotídeo;
Liberado no Brasil em MAR/2021;
Uso em adultos e adolescentes > 40kg hospitalizados, hipoxêmicos, mas que não
estejam em ventilação mecânica;
200 mg IV no 1º dia seguido de 100 mg 24/24h por mais 4 dias;
Em monoterapia ou associado ao corticoide ou baricitinibe;
24. Oxigenoterapia
A OMS recomenda titular o O2 suplementar para uma SAT ≥ 94% durante a
ressuscitação inicial, seguida de SAT ≥ 90% de manutenção;
Utilizar a menor FiO2 possível para atingir esses parâmetros, evitando a
hiperóxia;
Oferecer no máximo 6 L/min via cateter nasal;
> 6 L/min, trocar para máscara com reservatório;
Cânula nasal de alto fluxo;
Permite fluxos de 40 a 60 L/min;
Gera PEEP entre 3 e 5 cmH20;
VNI;
25. Características da IRpA na COVID
Principal marco é a hipoxemia, secundária a distúrbio V/Q e shunt;
Evolui para SDRA;
Comportamento pulmonar diferente das demais SDRA:
Inicialmente com complacência pulmonar normal com hipoxemia importante;
Menor colapso alveolar
Menos distensão alveolar e menos espaço morto;
Alta fração de shunt;
Progressão da lesão pulmonar e maior dano alveolar;
Redução da complacência;
Distensão alveolar e formação de grandes áreas de espaço-morto;
Formação de microtrombos arteriolares;
26. Intubação
Momento crítico e deve ser otimizada de forma a ter êxito na primeira tentativa;
Deve ser feita, preferencialmente, pelo profissional mais capacitado no
momento;
Grupo de pacientes com alto risco de hipoxemia grave e PCR durante a IOT;
Indicações:
Avaliar conjuntamente piora do padrão respiratório, taquidispneia, FiO2;
Não utilizar parâmetros isoladamente, como taquipneia sem esforço e altas FIO2 com
saturação adequada;
Sempre avaliar a dificuldade da via aérea;
29. Etapa 1: preparo do material
Outros materiais:
Seringa 20 ml para insuflar o cuff e seringa de 5 ml (uso de seu êmbolo para oclusão do
tubo durante a IOT);
Sistema de aspiração fechado (Trach Care);
Aparelho de capnografia;
Filtro HME para instalação no sistema de aspiração e AMBU e outro para via EX do
ventilador;
Pinça reta forte;
Fixador de tubo;
Mínimo de 4 BIC;
Tree-way;
30. Etapa 2: posicionamento do paciente
Elevar o dorso da cama a 45°;
Uso de coxim occipital;
Feito de lençóis ou campos cirúrgicos dobrados;
Não posicionar coxins na região cervical ou interescapular;
32. Etapa 2: posicionamento do paciente
Posicionamento em rampa (pacientes obesos);
Colocação de lençóis ou campos cirúrgicos dobrados sob a região dorsal do
paciente além dos colocados sob a região occipital;
Manutenção do dorso da cama a 0°
34. Etapas 3 e 4: pré-oxigenação e
pré-medicação
Pré-oxigenação visa aumentar as reservas de O2;
Deve ser realizada com o paciente em ventilação espontânea;
Ajustar os suplementos de O2 para oxigenação máxima (FiO2 100%);
Pré-medicação:
Para minimizar os efeitos fisiológicos adversos da laringoscopia e intubação;
Lidocaína 2% sem vasoconstritor 1,5 ml/kg;
Fentanil 1-2 mcg/kg IV;
35. Etapa 5: bloqueadores
neuromuscuares e sedativos
Sedativos:
Cetamina: 1,5 a 2 mg/kg ou
Etomidado: 0,3 mg/kg ou
Propofol: 2 mg/kg ou
Midazolam: 0,2 mg/kg
Bloqueadores neuromusculares:
Rocurônio: 1,2 mg/kg ou
Succinilcolina: 1,5 mg/kg
Bloqueadores alternativos:
Cisatracúrio: 0,2 mg/kg ou
Atracúrio: 0,5 mg/kg ou
Pancurônio: 0,1 mg/kg ou
Vecurônio: 0,1 mg/kg
36.
37. Etapa 6: Intubação
Monte o AMBU ao filtro HME com capnógrafo e circuito de aspiração;
Conecte à rede de O2 com fluxo para manter a bolsa insuflada;
Evite ventilar o paciente;
Administre as medicações:
Pré-medicação;
Sedativos;
Bloqueadores neuromusculares – pedra angula das medicações;
Após paciente adequadamente curarizado proceder a IOT;
Insufle o cuff, oclua o tubo com a pinça reta e conecte ao sistema do AMBU;
Retire a pinça e cheque o posicionamento pela capnografia e ventilação manual;
Tubo checado, pince novamente e conecte ao ventilador e retire a pinça forte;
38. Ajuste de parâmetros iniciais
Modo A/C a volume ou pressão;
Volume corrente de 6 ml/kg do peso predito para altura;
PEEP 10 e titulação posterior de acordo com o grau de hipoxemia e colapso
alveolar;
FR 15 irpm e posteriormente adequada para manter um volume minuto 7-10
L/min;
Driving pressure ≤ 15;
FiO2 suficiente para SAT 92-95%;
Coletar gasometrias seriadas, sendo a primeira após 15 a 30 min após a IOT;
Adequar sedação para RASS -5;
39. Tempo de isolamento
5 dias de isolamento:
Após 5º dia do início dos sintomas;
Sem sintomas respiratórios, febre ou uso de antitérmico há pelo menos 24h;
Deve realizar RT-PCR ou antígeno. Se negativo, sai do isolamento. Se positivo,
isolamento até o 10º dia;
7 dias de isolamento: mesmos critérios anteriores;
Não precisa de testes;
Manter recomendações adicionais até o 10º dia;
10 dias: pacientes que apresentaram teste positivo ao 5º ou ao 7º dia;
Sem sintomas respiratórios, febre ou uso de antitérmicos, sai do isolamento sem
teste;
Não realizar teste;
40. Critérios para liberação do atendimento
iniciar
Clínica favorável;
Paciente lúcido e orientado;
Ausência de febre;
Ausência de dispneia e gasometria sem alterações significativas;
Ausência de disfunção orgânica;
SAT > 95% em AA:
Acometimento pulmonar < 25%
41. Critérios para alta hospitalar pós
internação
Clínica favorável;
Comorbidades estáveis;
Melhora significativa dos sintomas respiratórios;
SAT > 93% sem O2 por 48h;
Temperatura < 37,5°C por pelo menos 48h;
Marcadores inflamatórios estáveis ou em decréscimo.
43. Vacinas
Comirnaty (Pfizer);
Coronavac;
AstraZeneca (Oxford);
Janssen;
Intervalo de 14 dias entre as vacinas anti-COVID e outras vacinas;
Adiar a vacinação em pacientes com sintomas gripais até a recuperação
clínica total e, pelo menos 4 semanas após o início dos sintomas;
44. Referências
Protocolo de Manejo Clínico para o Novo Coronavírus (2019-nCov) – Ministério da Saúde;
Recomendações AMIB sobre controle sanitário e estratégias de contingenciamento das unidades
de Terapia Intensiva para atendimento dos pacientes com CORONAVÍRUS – Associação de Medicina
Intensiva Brasileira – 2020;
Orientações sobre a intubação orotraqueal em pacientes com COVID-19 – Ministério da Saúde;
Treinamento de intubação orotraqueal na pandemia por coronavírus: aplicação da Prática
Deliberada em Ciclos Rápidos – Revista Brasileira de Educação Médica, 2021;
Caracterização do comprometimento pulmonar associado à COVID-19 em pacientes com
necessidade de ventilação mecânica – Revista Brasileira de Terapia Intensiva, 2021;
Síndrome Respiratória Aguda: uma resposta imunológica exacerbada ao COVID-19 – Brazilian
Journal of Health Review, 2020;
Medicina Intensiva: Abordagem Prática, 4ª edição, 2021
UpToDate:
COVID-19: Clinical features;
COVID-19: Diagnosis
COVID-19: Epidemiology, virology, and prevention
COVID-19: Outpatient evaluation and management of acute illness in adults
COVID-19: Respiratory care of the nonintubated hypoxemic adult (supplemental oxygen,
noninvasive ventilation, and intubation)
Notas do Editor
Transmissão ao ar livre e ambientes externo é menor. O risco de transmissão por contato indireto (objetos, passar por alguém na rua) não está bem definido e provavelmente é muito baixo.
Embora o teste de antígeno não possa detectar o vírus em níveis tão baixos quanto o NAAT, sua sensibilidade é melhorada nos primeiros dias de sintomas, quando a replicação do vírus é mais alta. Em casos de antígeno negativo com alta suspeita clínica, recomenda-se realizar um RT-PCR em até 48h;
Devido à possibilidade de liberação respiratória prolongada de RNA viral após infecção aguda, um NAAT positivo repetido em um paciente que se recuperou de COVID-19 confirmado em laboratório não indica necessariamente reinfecção
JAK são enzimas que transmitem sinais intracelulares desencadeados pela interação entre citocinas e fatores de crescimento com receptores de superfície celular que estão envolvidos na hematopoese, na inflamação e na função imunológica. Em resposta à citocina extracelular ou a sinalização do fator de crescimento, os JAKs fosforilam e ativam transdutores de sinal e ativadores de transcrição (STATs), que regulam a expressão gênica e a atividade intracelular. O baricitinibe modula esses caminhos de sinalização através da inibição parcial da atividade enzimática JAK1 e JAK2, reduzindo assim a fosforilação e ativação de STATs.
Inicialmente há infiltrado com hipoxemia, porém não há colapso alveolar suficiente para gerar distensão alveolar e comprometimento da circulação. Portanto o pulmão mantem quase intacta a complacência, com pouco espaço morto e muito shunt. Com a progressão da doença, o infiltrado pulmonar preenche cada vez mais a via aérea, gerando grandes consolidações, que pioram o colapso redistribuindo a ventilação para zonas pulmonares preservadas, gerando distensão alveolar e espaço morto. Há formação de microtrombos na circulação arteriolar, piorando as áreas ventiladas e não perfundidas (espaço-morto).
Medidas adicionais: Usar máscara bem ajustada ao rosto em casa ou em público. Evitar contato com pessoas imunocomprometidas ou com fatores de risco para agravamento da Covid-19, como também locais com aglomerações de pessoas. Não frequentar locais onde não possa usar máscara durante todo o tempo, como restaurantes e bares, e evitar comer próximas a outras pessoas, tanto em casa como no trabalho. Não viajar durante o seu período de isolamento de 5 dias após o início dos sintomas. Após esse período, orienta-se fazer teste para detecção do vírus SARS-CoV-2, preferencialmente teste rápido de antígeno, e só viajar se o resultado for negativo e que esteja sem sintomas antes da viajem. Caso não for possível realizar o teste, orienta-se adiar a viagem por pelo menos 10 dias a contar do início dos sintomas.