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Cleber BarbosaVolume 1
Análise Macroeconômica
2ª edição
Apoio:
ELABORAÇÃO DE CONTEÚDO
Cleber Barbosa
COORDENAÇÃO DE DESENVOLVIMENTO
INSTRUCIONAL
Cristine Costa Barreto
DESENVOLVIMENTO INSTRUCIONAL
E REVISÃO
Alexandre Rodrigues Alves
COORDENAÇÃO DE AVALIAÇÃO
DO MATERIAL DIDÁTICO
Débora Barreiros
AVALIAÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICO
Letícia Calhau
Referências Bibliográficas e catalogação na fonte, de acordo com as normas da ABNT.
Copyright © 2006, Fundação Cecierj / Consórcio Cederj
Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio
eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da Fundação.
Material Didático
2010/1
B238a
Barbosa, Cleber.
Análise macroeconômica. v. 1 / Cleber Barbosa. – 2. ed.
- Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2010.
158p.; 19 x 26,5 cm.
ISBN: 978-85-7648-422-3
1. Macroeconomia. 2. Sistema monetário. I. Título.
CDD: 339
EDITORA
Tereza Queiroz
REVISÃO TIPOGRÁFICA
Cristina Freixinho
Diana Castellani
Elaine Bayma
COORDENAÇÃO DE
PRODUÇÃO
Jorge Moura
PROGRAMAÇÃO VISUAL
Andréa Dias Fiães
ILUSTRAÇÃO
Sami Souza
CAPA
Sami Souza
PRODUÇÃO GRÁFICA
Patricia Seabra
Departamento de Produção
Fundação Cecierj / Consórcio Cederj
Rua Visconde de Niterói, 1364 – Mangueira – Rio de Janeiro, RJ – CEP 20943-001
Tel.: (21) 2334-1569 Fax: (21) 2568-0725
Presidente
Masako Oya Masuda
Vice-presidente
Mirian Crapez
Coordenação do Curso de Administração
UFRRJ - Silvestre Prado
UERJ - Aluízio Belisário
Universidades Consorciadas
Governo do Estado do Rio de Janeiro
Secretário de Estado de Ciência e Tecnologia
Governador
Alexandre Cardoso
Sérgio Cabral Filho
UENF - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO
NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO
Reitor:Almy Junior Cordeiro de Carvalho
UERJ - UNIVERSIDADE DO ESTADO DO
RIO DE JANEIRO
Reitor: Ricardo Vieiralves
UNIRIO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO
DO RIO DE JANEIRO
Reitora: Malvina Tania Tuttman
UFRRJ - UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL
DO RIO DE JANEIRO
Reitor: Ricardo Motta Miranda
UFRJ - UNIVERSIDADE FEDERAL DO
RIO DE JANEIRO
Reitor:Aloísio Teixeira
UFF - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
Reitor: Roberto de Souza Salles
Aula 1 – Conhecendo a Macroeconomia .................................................... 7
Aula 2 – Medindo as atividades econômicas ...........................................35
Aula 3 – O PIB e os componentes da demanda agregada...................... 53
Aula 4 – Determinação da renda e da produção de equilíbrio.....................71
Aula 5 – Os investimentos e as taxas de juros .........................................97
Aula 6 – O sistema monetário ..................................................................113
Aula 7 – A demanda por moeda...............................................................135
Referências............................................................................................155
Análise Macroeconômica Volume 1
SUMÁRIO
Todos os dados apresentados nas atividades desta disciplina são fictícios, assim como os nomes de empresas que não
sejam explicitamente mencionados como factuais.
Sendo assim, qualquer tipo de análise feita a partir desses dados não tem vínculo com a realidade, objetivando apenas
explicar os conteúdos das aulas e permitir que os alunos exercitem aquilo que aprenderam.
Conhecendo a Macroeconomia
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:
identificar as quatro variáveis que
acompanham o estudo da Macroeconomia;
isolar as decorrências dessas variáveis
na dinâmica de um sistema econômico;
articular duas ou mais variáveis a fim
de solucionar problemas reais;
identificar problemas econômicos nacionais
de interesse da Macroeconomia;
explicar o funcionamento de órgãos
do governo, como o Banco Central.
1objetivos
AULA
Meta da aula
Apresentar as questões econômicas abordadas
pelo campo da Macroeconomia através de quatro
conceitos-chave: o crescimento econômico; a
inflação; as relações externas (dívida externa);
a distribuição de renda.
1
2
3
4
5
Pré-requisitos
Naturalmente, você se recorda do que estudou em
Formação Econômica Brasileira. Pois os princípios
abordados naquela matéria, vistos sob a ótica da
escassez, que permeia o uso de todos os recursos
econômicos, vão ajudá-lo a entender o que será
discutido nesta aula. Pronto para aprender?
8 C E D E R J
Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia
INTRODUÇÃO
Figura 1.1: Da tela de Albrecht Dürer, os Quatro Cavaleiros do Apocalipse: a
Guerra, a Fome, a Peste e a Morte. No estudo da Macroeconomia, a Inflação,
a Recessão, o Endividamento Externo e a Desigualdade Social.
Ao iniciarmos o estudo de algum fenômeno ou teoria, precisamos, em primeiro
lugar, definir um ponto de partida. Provavelmente, você tem bastante claro
que a Economia trata do comportamento do mercado. No entanto, se
quiser se ocupar dessa reflexão por mais um momento, vai perceber que o
conhecimento macroeconômico parte de princípios gerais que se aplicam a
outros ramos do saber.
O que é a Economia?
O termo “economia” vem do grego,
oikos = casa e nómos = distribuição,
administração.
!!A Economia, grosso modo, é a arte de administrar a casa, o ambiente em que
vivemos. Repare que conhecer a origem do termo nos ajuda a compreender
nosso alvo de estudo como algo mais próximo, mais palpável. Ou você duvida
de que a ecologia, por exemplo, também tem algo a nos dizer sobre a maneira
como cuidamos de nossa casa, o planeta?
A Economia lida, como princípio, com a noção de escassez, que permeia todas
as atividades econômicas. Por escassez queremos dizer que não há recursos
disponíveis suficientes para suprir todas as nossas necessidades, sendo
C E D E R J 9
AULA
1
necessário, portanto, que saibamos priorizar objetivos e lidar com todas as
variáveis envolvidas no processo.
Ainda sobre a origem dos termos, pense: será que economia e ecologia têm
algo a oferecer uma à outra?
Economia ou sistema
econômico?
Lembre-se: ao longo da aula, você vai
conviver com um uso convencionado para o
termo “economia”. Compreenda que, ao utilizar esse
conceito, estamos nos referindo a um sistema econômico
– ou ao conjunto de atividades, de bens e de serviços que
movem uma economia. Essas atividades são exercidas
pelas empresas e pelo governo, e envolvem todos
os indivíduos (consumidores e produtores)
concentrados em uma determinada região
(um país, um estado, uma cidade).
!!
O QUE É A MACROECONOMIA?
Em termos gerais, a Macroeconomia representa o estudo das
grandes variáveis econômicas. Mais precisamente, das variáveis
econômicas agregadas.
Observe: o termo “agregada” vem do verbo “agregar”, que
significar somar, reunir. Assim, as variáveis econômicas agregadas são
a soma dos valores de cada um dos elementos que contribuem para a
formação de um panorama.
Por exemplo: tomemos um gênero alimentício como o arroz. No
mercado, o arroz tem seu preço, que varia conforme a dinâmica de todo
o sistema. Quando estudamos a Macroeconomia, no entanto, não nos
concentramos apenas no nível de preços do arroz. Estudamos como cada
fator envolvido no sistema econômico afeta o nível de preços do arroz,
do feijão, da carne, dos ovos. Ao longo desta aula, você será capaz de
perceber que os preços – ou o nível de preços de um país – podem variar
como um todo. Dessa forma, podemos considerar a variável agregada
“preço” como um fator homogêneo.
A Macroeconomia pode ser entendida segundo quatro variáveis
agregadas: o nível de preços, o nível de emprego, a taxa de câmbio e
a taxa de juros. Esses elementos se relacionam de forma que um afete
10 C E D E R J
Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia
todos os outros. Como você verá mais adiante, as interações entre as
variáveis macro trazem grandes efeitos à economia.
Quatro importantes
variáveis da macroeconomia
– nível de preços;
– nível de emprego;
– taxa de câmbio;
– taxa de juros.!!
MACROECONOMIA OU MICROECONOMIA?
A Macroeconomia consiste no estudo do comportamento da
economia como um todo, ou seja, de maneira agregada, interdependente.
A Microeconomia, por sua vez, concentra-se no comportamento dos
consumidores e das empresas, sempre sob a ótica desagregada ou
setorial.
A Macroeconomia estuda a inflação como problema nacional.
A Microeconomia se preocupa com os efeitos das variações de preços
sobre as empresas e os consumidores.
A Macroeconomia e a Microeconomia constituem a base da
teoria econômica.
O PREÇO
Definidos os conceitos de Economia, Macro-
economia e Microeconomia, vamos analisar, uma a uma,
cada variável econômica agregada. Para começarmos,
apresento a você, neste momento, um importante
conceito: o preço.
Na forma agregada, o preço representa a soma
de todos os preços de todas as empresas que operam
em um mesmo sistema econômico (ou em uma mesma
economia). Desse modo, encontra-se a variável agregada
preço, ou, simplesmente, o nível de preço.
Figura 1.2: O preço das ervilhas é
determinado pelo lucro do feirante e
pelo nível do preço da vagem em todo
o mercado.
JaneCleary(www.sxc.hu)
C E D E R J 11
AULA
1
Figura 1.3: A inflação faz seu dinheiro
perder o valor.
DavideGuglielmo
Quanto custa hoje?
Ontem você saiu de casa com dois objetivos muito claros e bem distintos: comprar dez
quilos de arroz para uma feijoada para a qual você vai contribuir e sondar o preço daquele
automóvel importado que você sonha comprar. Ao passar por dois supermercados, você
tem uma surpresa desagradável: o arroz está 10% mais caro. Ainda assim, você compra o
arroz e parte em direção a uma revendedora da marca de automóveis que lhe interessa.
Chegando à loja, você descobre que o preço do automóvel desejado subiu, embora as
outras marcas nacionais tenham mantido seus preços.
Dito isso tudo, com base no que vimos sobre preços e inflação, discorra sobre os casos
do arroz e dos carros. Em algum ou em ambos os casos pode-se concluir que há um
processo inflacionário?
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Atividade 1
1 4
Sobre a variável preço, vale notar que um dos efeitos de sua
dinâmica de alteração é a inflação.
A INFLAÇÃO
A inflação refere-se a um aumento no nível geral de preços. Opõe-se
à deflação, que se refere à diminuição do nível geral dos preços. Ambos
os conceitos são conseqüências da alteração do valor do dinheiro – da
moeda – e não do valor dos bens. Um exemplo: um quilo de feijão que,
na virada do mês, passe a custar 20% a mais em qualquer supermercado
onde se procure é uma referência de inflação, caso os outros produtos
tenham aumentado 20% em média.
12 C E D E R J
Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia
Resposta Comentada
Não há elementos suficientes para identificarmos com precisão se estamos diante de um
processo inflacionário. Se observarmos uma grande quantidade e variedade de produtos
poderíamos suspeitar que está havendo um aumento generalizado de preços. Quando o
aumento ocorre em um ou poucos dos produtos, o caso pode ser de aumento de preços
relativos. Isto é, alguns produtos ficaram mais caros em relação aos outros. Uma seca que
tenha atingido a plantação de arroz pode ter prejudicado a colheita do arroz repercutindo
para o mercado em elevação de preços. Isso não é inflação. Será se o aumento do preço
do arroz causar aumento do preço de um almoço no restaurante, que por sua vez causar
aumento no preço do táxi porque o taxista almoça naquele restaurante, e tal aumento no
táxi implicar aumento na obturação do dente posto que o dentista vai para o trabalho de
táxi e assim por diante.
O EMPREGO
Uma economia, como um automóvel, precisa de combustível para
funcionar. Se tomarmos as empresas como o ambiente onde a economia
é impulsionada, vamos concluir que o trabalhador é um dos importantes
fatores que movimenta a economia. Vale então definir de forma clara o
conceito de emprego.
O emprego se refere às posições destinadas ao trabalhador – ou à
mão-de-obra – como fator de produção dentro de um sistema econômico.
Dentro de uma economia, o nível de emprego depende das expectativas
dos empresários em torno do que vão produzir (extensão do ambiente
empresarial, do número e do tamanho) das empresas que operam ali e
até da utilização de tecnologia que substitua o trabalho humano. A luta
por melhores colocações no mercado de trabalho e por níveis mais altos
de RENDA permeia toda a história do sistema de produção capitalista.
RENDA
Provavelmente você já ouviu falar em renda, embora talvez não consiga definir
o conceito de forma clara. Pois a renda se refere aos ganhos provindos do
trabalho. A renda depende também de inúmeras variáveis, desde a demanda
do mercado por trabalhadores de um determinado setor até a oferta de
trabalhadores disponíveis para determinada atividade. A desigualdade de renda
dentro de uma economia é a base de nossa tão conhecida diferença de classes.
Ao longo da História, teóricos dos mais diversos campos tentaram explicar e
solucionar o problema da diferença de classes, provindo das diferentes funções que
trabalhadores exercem dentro de um sistema econômico e dos diferentes níveis de renda que decorrem dessas
atividades. Já houve os que defendessem uma igual remuneração para atividades bastante diferentes entre si,
assim como houve os que entendessem o abismo que separa ricos e pobres como uma característica imutável do
sistema produtivo. Essa é uma discussão em aberto, que vale ser travada com seus colegas, tutores e professores.
Figura 1.4: Sua renda é
quanto seu trabalho paga.
DJAlemão
C E D E R J 13
AULA
1
Figura 1.5: O uso do vapor na produção industrial foi
o primeiro grande avanço tecnológico em direção às
economias modernas.
MikeMcGarry
Onde quer que precisem de mim
Você é um metalúrgico. Seu país está vivendo um surto de industrialização, e o mercado
pede cada vez mais metalúrgicos. No entanto, sua esposa, agrônoma, recebeu uma oferta
de trabalho irrecusável em outro país, onde a economia é principalmente rural. Ali, o
pequeno mercado ligado à metalurgia fez aparecer cursos práticos ligados à sua profissão.
Há metalúrgicos trabalhando, mas há poucas oportunidades de emprego. Suponhamos que,
nesse novo país, você acabe conseguindo na sua área um emprego bastante semelhante
ao que você tinha no Brasil. O que deve acontecer com a sua renda nesse novo emprego,
em seu novo país?
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Resposta Comentada
Provavelmente sua renda vai cair. Se há muitos trabalhadores disponíveis para uma mesma
função e se há poucos postos de trabalho à disposição da categoria, provavelmente o empresário
pagará menos aos trabalhadores. Como sua renda provém do trabalho assalariado, é seu
valor no mercado que vai determinar seu nível de renda.
Atividade 2
1 2 3
CRESCIMENTO ECONÔMICO X RECESSÃO
O processo produtivo que se percebe dentro de uma economia é
algo dinâmico: certos períodos podem apresentar desempenho melhor ou
pior, em comparação a períodos anteriores. Daí perceba que, se sob um
primeiro olhar trabalhadores e empresários encontram-se em oposição,
é o desempenho da economia como um todo que vai determinar seus
ganhos e suas perdas. Períodos de alto desempenho para a produção, em
14 C E D E R J
Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia
princípio, beneficiam a todos e geram o que se chama de “crescimento
econômico”.
O crescimento econômico representa o aumento das atividades
econômicas de um país durante um período de tempo (normalmente um
ano). Muitas vezes é medido pelo produto interno bruto (PIB), conceito
que abordaremos em nossa segunda aula.
Por ora, guarde que o contrário de crescimento econômico é a
recessão. Em períodos de recessão, de um ano para o outro, ao invés
de produzir mais, o país apresenta níveis de produção e emprego
menores.
A TAXA DE CÂMBIO
Outra de nossas importantes variáveis econômicas agregadas é a
taxa de câmbio, ou o preço da moeda nacional em relação à estrangeira.
A taxa de câmbio expressa quanto se deve pagar em moeda nacional para
adquirir uma unidade monetária de outra moeda, ou seja, de quantos
reais precisamos para comprar um dólar, por exemplo.
Para cada moeda estrangeira haverá uma taxa de câmbio. Tudo
se passa como se a moeda estrangeira fosse uma mercadoria qualquer.
A desvalorização da taxa de câmbio significa que a moeda estrangeira
encareceu. A valorização do câmbio nos diz que a moeda estrangeira
está mais barata.
No Brasil, esse equilíbrio entre moedas é administrado pelo Banco
Central, em Brasília. Para entender a dinâmica do câmbio, podemos
partir de um exemplo bastante simples: imagine que você coleciona um
álbum de figurinhas. Você tem o álbum quase completo e tem na manga
uma figurinha premiada, a ser trocada por uma outra que lhe falta para
completar uma página. Mas então quanto vale aquela figurinha, no ato
de trocá-la por outra? Depende.
Figura 1.6: Em momentos de recessão,
quem mais sofre com os baixos níveis
de emprego são os jovens. Por quê?
KadriPoldma
C E D E R J 15
AULA
1
Entendendo a taxa de câmbio
Uma moeda fraca, desvalorizada, tem menor
poder de compra, o que quer dizer que fica mais caro
importar. Se um real vale um dólar, uma máquina fotográfica
de 900 dólares custa 900 reais. Mas se dois reais são iguais a um dólar,
a mesma máquina de 900 dólares sai pelo dobro do preço para nós,
brasileiros: 1.800 reais.
Por outro lado, uma moeda forte, valorizada, estimula a importação, ao mesmo
tempo que desestimula a exportação. Se um real vale dois dólares, por exemplo,
produtos brasileiros tendem a vender menos no exterior, já que quem
trabalha em dólar precisa usar mais dinheiro para comprar um produto
fabricado aqui. Voltemos à máquina fotográfica: uma máquina
brasileira custa 900 reais. Um real vale dois dólares. Logo, um
cidadão norte-americano que queira comprar uma
máquina no Rio de Janeiro vai precisar pagar
900 reais, ou 1.800 dólares.
Depende de quantas figurinhas iguais àquela estão
circulando entre seus amigos. Pois é basicamente assim que o
Banco Central opera: se há muitos dólares circulando no país,
o preço do dólar cai. Todo mundo tem dólares, ninguém quer
comprar, então o valor do dólar vem abaixo. Pois se o Banco
Central deseja elevar o preço do dólar, tornando o real mais
barato, ele compra dólares no mercado e os soma à sua reserva.
O exato oposto acontece quando há poucos dólares no mercado
– o que equivale a dizer que o dólar está caro em relação ao
real. Neste caso, o Banco Central vende dólares de sua reserva
por valor mais baixo do que o praticado pelo mercado.
MarcinKrawczyk
Figura 1.7: O dólar, que era
usado como moeda padrão nas
negociações internacionais, vem
perdendo terreno para o euro, a
moeda da União Européia.
??
CÂMBIO: O PREÇO DE SE NEGOCIAR EM OUTRA LÍNGUA
O valor e a aplicação de moedas estrangeiras em um país referem-se
às nossas relações comerciais com o resto do mundo. Para entendermos
melhor a função do câmbio, podemos nos reportar ao que aprendemos
sobre preços e à sua função clássica em qualquer transação econômica:
a de coordenar os papéis de compradores e vendedores e a de ajudar a
elaborar as decisões de consumidores e produtores.
O valor de uma moeda estrangeira então é seu preço. Pois se
estamos falando em comércio entre dois países, podemos presumir que
16 C E D E R J
Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia
cada país vai partir de sua própria moeda para
calcular se vale a pena ou não “fazer negócio”.
A atratividade de um país para o comércio
exterior, assim como o controle que se exerce sobre
o fluxo de entrada e saída de capitais, é determinado
pelo que se chama de balanço de pagamentos.
O balanço de pagamentos é o registro
sistemático de todas as transações econômicas
envolvendo um país e o resto do mundo (países
estrangeiros) durante determinado período.
As exportações, as importações e o pagamento
dos juros das dívidas contraídas no exterior são
alguns dos itens contabilizados no balanço de
pagamentos.
Tomemos um exemplo prático: se ao Brasil interessa ampliar a
venda de algodão ao exterior, por exemplo, e se o país encontra-se em
um momento em que as importações em geral superam as exportações,
vale a pena baixar o valor do real em relação ao dólar. Fazendo isso,
compradores estrangeiros precisarão de menor volume de suas moedas
para comprar um produto avaliado em reais. Se o valor do real está mais
baixo, fica mais barato comprar algodão brasileiro.
Figura 1.8: Imagine que uma balança em
equilíbrio tem, de um lado, as importações
e, de outro, as exportações.
Câmbio Fixo x
Câmbio Flutuante
A administração da taxa de câmbio
depende de uma postura muito definida por
parte do governo: a de se instituir o chamado
“câmbio fixo”. Neste caso, o governo define um
valor estável para a moeda, a partir do qual as
operações vão ser realizadas. O contrário existe
e chama-se “câmbio flutuante”. Em regimes
de câmbio flutuante, o valor da moeda
oscila segundo as tendências do
mercado exterior.
!!
C E D E R J 17
AULA
1
O gargalo das exportações
Você é o presidente do Banco Central. Em seu gabinete, uma comitiva de grandes
produtores brasileiros de soja o aguarda. Eles estão furiosos: suas exportações caíram
quase 30% nos últimos meses. Todos eles defendem que é preciso mexer na taxa de
câmbio. O dólar, no patamar em que se encontra, inviabiliza a compra da soja por países
estrangeiros. O que você faria? Elevaria ou derrubaria o valor do dólar? E como você
faria isso, vendendo ou comprando dólares do mercado?
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Resposta Comentada
A soja ou qualquer outra mercadoria a ser exportada está submetida a uma comparação
entre duas moedas: a do exportador (aquele que vende para fora) e a do importador (aquele
que compra de fora). Se o comprador está pagando muito caro pela soja, é sinal de que sua
moeda está fraca em relação à do vendedor – ou do exportador (no caso, os produtores
brasileiros de soja). A partir daí, conclui-se que é preciso desvalorizar a moeda do exportador, em
relação à do importador. Derruba-se o real e valoriza-se o dólar. Assim fica mais fácil exportar.
Duro será convencer a comitiva de importadores de automóveis, que o aguarda no lobby do
banco, presidente. Já vimos também como se altera o valor de uma moeda: vendendo-a ou
comprando-a no mercado. No nosso caso, queremos que o dólar tenha seu valor aumentado.
Logo, precisamos retirar dólares do mercado. O que equivale a dizer que o Banco Central,
nesse caso, deve comprar dólares.
Atividade 3
1 2 3 4 5
A TAXA DE JUROS
Preço, emprego, taxa de câmbio. Uma quarta variável econômica
que está no centro de nossas preocupações desta aula é a taxa de juros,
ou, sob a ótica do consumidor, quanto o mercado embute no preço de
produtos e serviços em função de compras a crédito.
18 C E D E R J
Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia
Já estudamos o conceito de inflação. Vimos que ele se refere
ao aumento da moeda circulante em um país, acompanhado de sua
conseqüente desvalorização. Pois a taxa de juros é uma das formas que
o mercado encontra para compensar perdas diante da inflação.
Quando você deposita uma parte de seu salário em uma caderneta
de poupança, sabe que aquela é uma aplicação segura e que rende sempre
alguma coisa, por mais modesto que seja esse rendimento. Pois esse
rendimento são os juros que você recebe do banco. Aqueles mesmos juros
dos quais você reclama quando compra alguma coisa a prazo ou quando
toma um empréstimo bancário. É que aí é você quem paga os juros.
Vimos então que uma elevação da taxa de juros prejudica as
pessoas que compram a prazo. Esses consumidores vão pagar mais
caro por seus financiamentos. Por outro lado, aqueles que aplicam seus
recursos no mercado financeiro ficarão muito contentes ao receber mais,
graças ao aumento dos juros.
Comprando devagar
Deu no jornal: os juros subiram mais de dez por cento. Absurdo. E você ainda precisa
comprar um fogão novo, é urgente. Na caderneta de poupança, você tem três vezes o
valor do fogão, embora tenha se planejado para não usar esse dinheiro. Sua idéia era
pagar prestações a partir do seu salário, já que em poupança não se mexe. Mas e agora?
Será que com os juros muito mais altos do que aqueles que você viu no mês passado
continua valendo a pena comprar a prazo?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
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Resposta Comentada
Embora seu dinheiro aplicado na caderneta de poupança venha render o aumento dos juros,
nas compras a prazo implicará pagar muito mais por um determinado produto. Se você tem
o dinheiro para cobrir o preço do fogão, vale mais a pena comprar à vista e depositar na
poupança o que você havia planejado usar nas prestações.
Atividade 4
1 2 3 4
C E D E R J 19
AULA
1
Mercado Financeiro e Especulação
No filme Rogue Trader (1999), do diretor inglês James Dearden, um operador da Bolsa de
Valores do sudeste asiático joga de forma arriscada com tendências do mercado financeiro
e acaba por causar a falência de um dos maiores bancos da Grã-Bretanha. A história é real e
serve para ilustrar o funcionamento do mercado de ações.
A Economia em Desequilíbrio
Um bom exemplo do que acontece com uma economia em desequilíbrio está no documentário
Roger & Me (1989), do diretor americano Michael Moore. No filme, uma cidade do interior
dos Estados Unidos sente os piores efeitos de uma indústria especializada que fecha suas
portas: desemprego, esvaziamento econômico, depreciação imobiliária; a economia local
vem abaixo.
Sugestão: visite ao site http://www.imdb.com/title/tt0131566/]
AS VARIÁVEIS E SUAS DECORRÊNCIAS
Essas quatro variáveis agregadas das quais a Macroeconomia se
ocupa (guarde, vai ser útil: nível de preços, salários, taxa de câmbio, taxa
de juros) irradiam seus efeitos sobre grandes questões nacionais, como o
crescimento econômico do país, a inflação, o comércio exterior, representado
pelo balanço de pagamentos, e a distribuição de renda.
Hoje, uma das maiores preocupações nacionais ao redor do
mundo é a competição pelo ambiente industrial perfeito. No momento,
as Américas encontram-se negociando acordos multilaterais, dentre os
quais a Alca e o Nafta se destacam. A idéia, que segue a tendência atual
de que países se organizem em blocos, tenta regular as relações comerciais
e culturais entre os países da região, de modo que o crescimento e o
desenvolvimento econômicos sejam sentidos por todas as nações
envolvidas de forma relativamente eqüânime. A agilidade ou a lentidão
desse processo está submetida a uma enormidade de fatores, dentre os
quais e de forma prioritária os políticos.
20 C E D E R J
Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia
O caso mexicano
Acompanhe um caso: nos últimos anos,
o México assumiu uma posição mais próxima da economia
americana, investindo nessa crença de que faria parte de um
sistema econômico maior. Como as leis de defesa ambiental mexicanas
são mais flexíveis do que as americanas, e como a mão-de-obra mexicana
é mais barata do que a empregada nos Estados Unidos, o México acabou se
tornando um belo ambiente para a instalação de indústrias dedicadas a finalizar
produtos feitos nos Estados Unidos.
No México, essas indústrias receberam o nome de maquiladoras – ou
“maquiadoras”, em bom português. As maquiladoras foram responsáveis pelo
aquecimento da economia mexicana durante um determinado período. No
entanto, diante da eterna busca pelo melhor ambiente industrial, o México vem
perdendo terreno para países emergentes como a China, onde a mão-de-obra é
ainda mais barata. O processo pode não ter fim. Enquanto isso, nos Estados
Unidos, em áreas anteriormente dedicadas à produção industrial, já se
fala no surgimento de um Cinturão de Ferrugem (Rust Belt). Para
saber mais sobre esse tema, digite “cinturão de ferrugem” ou
“rust belt” em um mecanismo de buscas da internet.
Há artigos nos jornais O Estado de S. Paulo e
The Washington Post.
??
Já está claro que a instalação de indústrias ou de qualquer outro
incremento a sistemas econômicos locais está subordinada a variados
fatores, desde regras de proteção ambiental até facilidade de transportes,
preço da mão-de-obra, proximidade dos mercados consumidores, clima.
Tudo influencia no desenvolvimento da economia. Então, ao ler jornais ou
assistir à TV, fique atento para perceber que um surto de desenvolvimento
local nunca acontece por acaso ou milagre.
Figura 1.9: Quando uma grande indústria fecha suas por-
tas, não são só suas instalações que sentem os efeitos.
TripFontaine(www.sxc.hu)
C E D E R J 21
AULA
1
AS VARIÁVEIS APLICADAS
A taxa de juros sobre o mercado
A taxa de juros, ou seja, aquilo que se paga de juros por
pegar dinheiro emprestado, afeta os investimentos dos empresários.
Acompanhe: se houver elevação da taxa de juros, os empresários que
precisarem recorrer aos bancos para conseguir dinheiro a fim de comprar
novas máquinas, por exemplo, vão verificar que está mais caro investir.
Logo, tendem a ficar desestimulados para tal. Ainda que eles tenham o
dinheiro, poderão perceber que aplicar no mercado financeiro, ou poupar,
em vez de investir na compra de máquinas, pode ser mais lucrativo.
Assim, a elevação dos juros inibe os investimentos em recursos
produtivos (aqueles destinados a aumentar a produção) e estimula a
poupança.
Muito bem: se os empresários investem menos, como conseqüência,
a produção deverá crescer menos. E como produção menor implica
menos emprego, percebemos como a taxa de juros pode afetar o nível
de emprego de uma economia. Leia isso de novo. Visualize.
Juros, para que te quero?
Atividade 5
2 3 4 5
Foi dado pelo
Banco Central o
sinal verde para
mais um aumento na taxa
de juros. Diferente do que
havia declarado há uma
semana o presidente do
BC, Henrique Meirelles,
a partir de amanhã o
mercado opera com um
aumento de 0,25 ponto
percentual.
ECONOMIA
BC anuncia aumento de 0,25 ponto
na taxa de juros
22 C E D E R J
Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia
Tomando por base os dois fragmentos de notícia, reflita e responda: de que maneira
uma elevação da taxa de juros, acompanhada das restrições para a exportação, pode
influenciar no preço da geladeira e na sua idéia de comprar uma geladeira?
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Resposta Comentada
Se os juros subiram, isso significa que o financiamento para as compras a prazo está mais caro.
Logo, quem pretendia comprar a prazo vê-se estimulado a poupar mais para se beneficiar dos
juros pagos pelo banco, até que possam comprar sua geladeira à vista. Ao mesmo tempo, se
o mercado dos produtores brasileiros de geladeiras na Argentina foi limitado, isso equivale a
dizer que a procura por geladeiras caiu, o que fará aumentar a oferta dela no Brasil. Se já há
um estoque formado, é possível que os produtores sejam obrigados a baixar os preços, a fim
de escoarem a produção. No meio disso, talvez você consiga até comprar a geladeira
à vista.
Em mais um capítulo da
dura negociação comercial
entre Brasil e Argentina,
o presidente argentino
Néstor Kirchner declarou
ontem ser necessário frear
o que classificou como
uma “invasão brasileira”.
O alvo da vez é o setor de
eletrodomésticos, que tem
na Argentina um de seus
principais compradores.
A partir de segunda-
feira, passam a vigorar
naquele país taxas mais
altas para a importação de
refrigeradores brasileiros.
Retornam hoje, pelo porto
de Santos, dez cargueiros
carregados de refrigeradores
brasileiros que foram retidos
na Argentina.
MUNDO
Argentina quer frear "invasão brasileira"
A RENDA E A QUESTÃO SALARIAL
Os salários são uma via de mão dupla: de um lado, representam a
fonte de renda da maior parte da população. De outro, uma importante
variável de custos para as empresas. Da mesma forma, um reajuste salarial
estimula o consumo, ao mesmo tempo que eleva os custos da empresa.
C E D E R J 23
AULA
1
Voltando ao caso do México e ao que explicamos sobre ambientes
industriais perfeitos, perceba que países como a China hoje representam
um bom espaço para montar uma indústria multinacional, inclusive
porque ali a mão-de-obra é muito mais barata do que nos países de
origem dessas empresas.
Mais adiante: já vimos que um aumento salarial eleva os custos de
produção. Agora perceba que esse aumento no custo pode ser repassado
para os preços. Se isso se repetir como um processo contínuo e geral (em
toda a economia), pode-se assistir ao início de um momento de inflação.
A inflação, como você já viu, refere-se ao aumento da moeda
circulante em um país. Então perceba: se você ganha mais e o empresário
repassa para os preços o novo custo que você gerou, tudo fica mais
caro. Se você ganha mais e tudo fica mais caro, o dinheiro vale menos.
Acompanhou?
Esse processo acaba retirando mais uma vez o poder aquisitivo dos
trabalhadores, que, novamente, vão reivindicar outros reajustes. No final
da bola de neve, pode se formar um círculo vicioso e inútil de “salários
versus preços”, tal qual um cão que tenta morder a própria cauda.
A discussão mais detalhada sobre esse aspecto é um dos grandes
temas da economia, mas não trataremos dele agora. O que nos interessa
saber, no momento, é que os salários são fonte de renda para as famílias
e custo para as empresas. Podem, em momentos de elevação, atrair
novos empregos e gerar mais consumo. Porém, ao mesmo tempo, causar
maiores custos e repasses aos preços.
Parabéns, você está um pouco mais rico. Este é seu contracheque.
Dois salários mínimos.
Atividade 6
1 2 4
24 C E D E R J
Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia
Esta é a geladeira dos seus sonhos:
Isso você leu hoje no jornal:
E agora? O que deve acontecer com o preço da sua geladeira Brasfreezer? Justifique sua
resposta.
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Resposta Comentada
Provavelmente, o preço da sua geladeira vai subir junto com seu salário. Você é o consumidor
do produto que ajuda a fabricar. Se o patrão precisa aumentar seu salário, ele vai passar por
uma elevação em seus custos, o que precisa ser compensado de alguma forma. Logo, a
menos que seu patrão esteja disposto a ver seu lucro diminuir, ele irá repassar o aumento
do custo salarial para o preço da geladeira. Portanto, se de um lado você está ganhando
mais, porém os preços das coisas estão mais elevados, é possível que seu poder
de compra fique como antes.
ECONOMIA
Novo salário mínimo é de 350 reais
Em pronunciamento
em rede nacional
de TV, o Presidente
Luis Inácio Lula da Silva
anunciou, na noite de
ontem, um novo patamar
para o salário mínimo. A
partir desta segunda-feira,
o mínimo passa a 350 reais,
nível mais alto desde...
C E D E R J 25
AULA
1
Maior remuneração e
menor inflação?
Talvez você esteja se perguntando se é possível
que, em algum caso, um aumento na remuneração não
seja inflacionário.
A resposta é: claro que sim.
Pense em um trabalhador produzindo, por dia, mil mercadorias que,
vendidas, valem R$ 1.500,00 (desconsidere qualquer outro custo de
produção que não seja o do trabalho).
Se sua produtividade – ou quanto o trabalhador produz em média a cada
período de trabalho – for dobrada (duas mil mercadorias por dia), o trabalhador
pode receber um aumento de renda de até 100%, e tal aumento não será
inflacionário. Isto porque ele está reivindicando para si apenas o acréscimo de lucro
que sua produtividade gerou.
Você está ganhando em cima de um crescimento econômico que gerou com seu
trabalho.
Moral da história: os aumentos de remuneração em função da produtividade não
representam aumento de custos. Portanto, não são inflacionários.
!!
A TAXA DE CÂMBIO E O BALANÇO DE PAGAMENTOS
A taxa de câmbio (ou o valor, o preço da moeda nacional em
relação ao da estrangeira) afeta o nível de preços e as exportações. Veja
que quando o preço do dólar aumenta (nosso câmbio desvalorizado),
comprar um produto importado no supermercado fica mais caro.
Exemplo: suponha que a taxa de câmbio esteja assim: 1 dólar =
1 real (U$ 1: R$ 1). Daí, um uísque importado ao preço de um dólar
valerá, no supermercado, exatamente um real (desconsidere o lucro do
supermercado e outros itens de custos). A partir daí, se houver uma
desvalorização do real de forma a cotar 1 dólar = 2 reais, então você
pagará 2 reais para adquirir o mesmo uísque. Como os preços dos
importados aumentam, é de se esperar que aqui se comprem menos
importados. Assim, diminuem as importações.
26 C E D E R J
Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia
Agora, se a taxa fosse 2 dólares = 1 real (valorização
cambial de nossa moeda), o uísque estaria custando 50
centavos de real. Seria um produto importado mais barato
do que o similar nacional, o que nos estimularia a comprá-lo,
em detrimento daquele genérico brasileiro.
Mas veja, a desvalorização do câmbio é um dos fatores
que podem afetar a inflação.
Eis um caso: o trigo é um insumo importado para a
produção do pão, uma matéria-prima. Se houver desva-
lorização da moeda nacional, o preço do trigo importado
aumenta, e, por conta disso, poderá haver o repasse desse
aumento para os preços na padaria.
Em geral, com a desvalorização, todas as matérias-
primas importadas sofrerão aumento de preços, com repasses
para os preços dos produtos manufaturados, finalizados.
LeonardoNovaes
Figura 1.10: O trigo que seca
nos campos não vira pão, vira
aumento de preço.
O salário é “imexível”
Você trabalha no Banco Central. O presidente, em reunião ministerial, anuncia sua
intenção de reduzir a inflação. Só que ele não aceita instituir mecanismos de redução
salarial, tampouco admite aumento nas taxas de juros. Através da taxa de câmbio, o
que você pode sugerir?
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Resposta Comentada
Ao vender dólares no mercado e ao valorizar a taxa de câmbio, o real subirá na cotação em
relação ao dólar. Assim, tudo o que se compra em dólares precisará de menos reais na hora
da conversão de uma moeda à outra (a taxa de conversão é a taxa de câmbio), ou seja: os
produtos importados, as passagens aéreas ao exterior, as compras que se fazem quando se
está em outros países etc. estarão mais baratos. Nos efeitos sobre a inflação, pode-se afirmar:
ela deverá diminuir. Os produtos importados que servem como matéria-prima ou como insumo
à produção estarão mais baratos. Isto implica dizer que os custos com as compras de bens
importados estarão menores, o que possibilita queda nos preços. Conclusão: a valorização
cambial tem um efeito antiinflacionário, posto que os custos com matérias-primas e insumos
importados diminuem. Pode-se, portanto, repassar essa diminuição de custos aos preços,
ocasionando a redução da inflação.
Atividade 7
3 4 5
C E D E R J 27
AULA
1
O nível de preços e seu bolso vazio
São vários são os efeitos da elevação de
preços. Por ora, vamos citar a redução do poder
de compra dos salários e a conseqüente queda na
demanda agregada (a demanda total da população
por um determinado item), ou seja: a redução dos
níveis de compra.
OS CAVALEIROS DO APOCALIPSE
Recessão. Inflação. Dívida externa alta. Níveis complexos de
concentração de renda. Ao falar desses problemas, você se recorda
de algum país que esteja passando – ou que tenha passado – por tais
situações?
Se pensou no Brasil, meus parabéns: você está atento ao que
acontece ao seu redor. Ainda assim, posso dizer: dos cerca de 200
países existentes no planeta, a ampla maioria enfrenta ou já enfrentou
tais desafios. Vale também dizer que todos esses precisam da análise
macroeconômica para ajudá-los a solucionar os problemas de baixo
crescimento econômico, desemprego, dívidas externas e má distribuição
de renda.
A recém-criada União Européia, por exemplo, está reorganizando
os fluxos produtivos e populacionais do Velho Mundo. Cidades como
Frankfurt, na Alemanha, têm suas ruas próximas às estações de trem
tomadas por imigrantes do Leste europeu, que, liberados pelo fim da
barreiras impostas pela extinta União Soviética, acorrem à Europa
Ocidental em busca de oportunidades melhores de emprego. Muitos
deles começam a formar uma nova população de desabrigados e
desempregados (ver tabela).
Tess
Figura 1.11: Se o nível de preços da economia
sobe, os efeitos são sentidos nos mercados e em
sua geladeira.
28 C E D E R J
Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia
Países da União Européia (EUR 15)
Taxas de desemprego e distribuição do emprego
Total pelos setores de agricultura, indústria e serviços – 1993
Tabela 1.1: Taxas de desemprego e de emprego por setores dos quinze países que integram a União Européia
País Taxa de
Desemprego
(%)
Emprego na
Agricultura
(%)
Emprego na
Indústria (%)
Emprego nos
Serviços(%)
Bélgica 9,4 2,9 30,9 66,2
Dinamarca 10,3 5,2 27,4 67,4
Alemanha 7,2 3,7 39,1 57,2
Grécia 7,7 21,9 25,4 52,8
Espanha 21,8 10,1 32,7 57,2
França 10,8 5,9 29,6 64,5
Irlanda 18,4 13,8 28,9 57,1
Itália 11,1 7,9 33,2 59,0
Luxemburgo 2,6 3,1 29,6 67,3
Holanda 8,8 3,9 25,2 70,9
Áustria 3,6 7,1 35,6 57,4
Portugal 5,1 11,5 32,6 56,0
Finlândia 17,9 8,6 27,8 63,5
Suécia 8,1 3,2 26,6 70,1
Reino Unido 10,4 2,2 30,2 67,5
Fonte: Eurostat/IPEA.
O Brasil já se consagrou
campeão mundial de futebol, vôlei e
boxe, não é mesmo? Mas é também medalhista
em outros esportes: já foi campeão em maior
inflação, maior taxa de juros, menor salário
mínimo, maior concentração de renda...
!!TRADE-OFF: OS PÉS OU A CABEÇA?
Você já ouviu falar do problema do “cobertor curto”? Numa
noite de inverno, ao dormir com um desses ingratos elementos
macroeconômicos, você passa por um difícil e nunca satisfatório dilema:
C E D E R J 29
AULA
1
ou bem cobre a cabeça, deixando os pés ao frio, ou faz o contrário.
Isto significa que não há solução ótima. Pois na Macroeconomia isso
também ocorre.
O trade-off é uma expressão inglesa que, em economia, representa
uma situação-dilema (ou um conflito de decisão), em que uma ação em
proveito de alguma coisa dificulta uma outra.
Você poderia pensar: basta que os economistas tomem medidas
para baixar a inflação, estimular a iniciativa privada (nossos empresários),
aumentar a produção e o emprego, elevar as exportações para adquirir
dólares para saldar a dívida externa e distribuir a renda. O caso é que,
infelizmente, há algo que complica um pouco essa história: é o chamado
trade-off, que ocorre na hora de procurar resolver tais problemas
econômicos.
Creio que já reunimos os elementos básicos para entender um
pouco da complexidade que envolve os problemas macroeconômicos.
Pois se um país tem como metas diminuir a inflação, o desemprego, a
dívida externa e melhorar a distribuição da renda, o que se deve fazer?
Se utilizarmos as variáveis juros, câmbio, preços e salários,
podemos até amenizar um desses problemas. No entanto, fatalmente a
gravidade de algum dos outros irá se aprofundar. Como assim?
Suponha que a política econômica de um país seja a de elevar a taxa
de crescimento econômico. Ao diminuir a taxa de juros, os empresários
irão investir mais, aumentando o emprego e a produção. Isso é positivo,
mas outras coisas não tão positivas também podem ocorrer: taxas de
juros mais baixas aumentam o consumo, o que estimula os empresários
a aumentar os preços. Esta última relação será tanto mais forte quanto
mais intenso for o crescimento da demanda pelos produtos e serviços.
Quando os empresários produzem mais, além de contratar mais
pessoas, eles também compram mais insumos importados. Desse modo,
gastam dólares que poderiam ser utilizados para pagar a dívida externa.
Tudo isso pode acontecer em maior ou menor grau de intensidade.
Tudo depende de em que nível esteja o desenvolvimento do país em
questão ou sua situação econômica.
Se o objetivo do país for baixar a inflação, então é preciso conter
o nível salarial da população, para que não haja pressão de custos sobre
os preços. Parece um pouco chocante, mas lembre-se de que, para a
empresa, salário é custo.
30 C E D E R J
Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia
A diminuição da margem de lucro dos empresários também
contribui para reduzir a inflação. Essa diminuição pode ser feita com um
volume maior de importações, já que isso impõe uma maior concorrência
às empresas nacionais. Ao mesmo tempo, fazer isso é desestimular o
crescimento econômico local.
Outra séria conseqüência de uma redução no nível salarial é
o aumento da concentração da renda da população, problema que
conhecemos bem.
Em suma, temos aí o trade-off do “cobertor curto”: ao se resolver
um problema, quase sempre acentua-se algum outro. É preciso priorizar
o que se quer: primeiro combater a inflação e depois fazer o país crescer?
Ou o contrário?
Essa é uma discussão que permeia todos os momentos políticos
dos países, e normalmente é solucionada nesse mesmo ambiente político.
Vale notar que, até pela natureza do “cobertor curto”, não há solução
puramente técnica para os impasses de que trata a Macroeconomia.
CONCLUSÃO
Crescimento ou desenvolvimento?
Trecho retirado da edição 236 (25/11/02) da revista Época:
“Provocado a comparar suas idéias com as do ministro preferido dos
militares, Delfim Netto, e as do ex-minstro Pedro Malan, o atual ministro
da Fazenda Antonio Palocci faz uma didática culinária. ‘Nem acreditamos que
primeiro é preciso crescer o bolo para depois repartir (tese dos anos verde-
oliva), nem que o bolo se divide sozinho (tese de Malan). Vamos dividir o
bolo durante o crescimento.’ Em outras palavras: Palocci pode até
usar o idioma de Malan e receber elogios de Delfim, mas
promete ser diferente.”
??
Figura 1.12: Em Economia,
há sempre um pé que fica
de fora. A grande questão é
decidir qual deles.
CrisWatk
C E D E R J 31
AULA
1
Quatro problemas (macro)
econômicos nacionais
– inflação;
– crescimento econômico baixo;
– dívida externa alta;
– má distribuição de renda.
!!
A Macroeconomia trata as questões econômicas de maneira
agregada. Estas são inter-relacionadas e constituem um desafio à política
econômica. Muitas vezes, ao se tentar resolver um problema macro,
um outro pode surgir. Muitas vezes, esse dilema é posto de maneira
a exigir uma escala de prioridades, já que não se consegue resolvê-los
simultaneamente.
Ao final desta aula, tendo visto os temas ligados à Macroeconomia
e compreendido alguns dos processos de interação entre as variáveis
macroeconômicas, eis algumas colocações no mercado de trabalho a
serem ocupadas por economistas:
• no Ministério da Fazenda, assessorando o ministro em questões
nacionais;
• em empresas multinacionais, onde tenha a função de estudar o
comportamento econômico das empresas concorrentes;
• no mercado financeiro, pois ali terá que verificar quais títulos
financeiros darão maior rentabilidade com o menor risco;
• em bancos comerciais (ex.: Banco do Brasil), uma vez que
sua tarefa diária será estimar o volume de recursos que podem ser
emprestados aos setores público e privado;
• no setor imobiliário, no departamento de lançamentos de prédios
de luxo.
Cada um desses itens, em maior ou menor intensidade, pode
representar algo que utilize o conhecimento macro adquirido.
32 C E D E R J
Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia
(...) os indicadores da atividade mostram que a economia brasileira,
com variação de mais de 5% do PIB em 2004, vive auspicioso momento
expansionista que induz a maior investimento, maior emprego e maior
consumo. Isso é tudo o que um governante torce para ter e o que toda
sociedade almeja, desde que não implique na [sic] volta da espiral
inflacionária (jornal Valor Econômico, editorial, p. A14; 18/12/05).
Com o que você estudou nesta aula e munido das informações contidas no texto,
explique o porquê do risco da espiral inflacionária.
Resposta Comentada
A citada variação de mais de 5% do PIB significa a magnitude do crescimento econômico do Brasil
em 2004. Como sabemos, quando a economia cresce, os empresários vendem mais e fazem mais
investimentos. Claro que ao vender e investir mais, eles estão contratando mais funcionários. Com
mais salários, o consumo aumenta no país. O risco da inflação está na pressão desse maior consumo
sobre as vendas. Afinal, se há maior demanda, há maiores vendas e o risco de proporcionar maiores
preços. Com o aumento de preços pode-se ter mais inflação, o que fará o poder aquisitivo dos
salários diminuir. A partir daí, pode ser gerada uma corrida de reajustes de salários que acabem
representando um aumento de custos e preços, ou seja: está presente na notícia do jornal a relação
entre a meta de crescimento econômico e o efeito colateral de gerar inflação.
Atividades Finais
54
A Macroeconomia consiste no estudo e na análise das variáveis econômicas
de forma agregrada (juros, salários, câmbio, preços) e dos principais
problemas econômico-sociais (crescimento econômico, inflação, dívida
externa, distribuição de renda). As variáveis tratadas aqui influenciam os
problemas econômicos de maneira tal que podem, ao mesmo tempo, reduzir
a gravidade de um e acentuar outro.
Todo o estudo da Economia, seja a macro ou a micro, aborda o problema da
escassez, princípio segundo o qual não há recursos suficientes para atender
a todas as demandas geradas em um sistema econômico.
R E S U M O
321
C E D E R J 33
AULA
1
A Economia lida com a articulação entre suas variáveis, e é assim, de
forma combinada, que tenta resolver problemas em um ou outro setor
de atividades.
Cada variável econômica agregada apresentada nesta aula interfere nas
demais, e a forma como vão ser aplicados os conceitos econômicos vai ser
sempre bastante particular, levando em conta as características próprias de
cada sistema econômico.
INFORMAÇÕES SOBRE A PRÓXIMA AULA
Ao longo desta disciplina, você terá uma visão geral do que se estuda em
Macroeconomia, uma das mais importantes disciplinas estudadas pelo
curso de Ciências Econômicas. Ali, a Macroeconomia está dividida em três
semestres. Nós, por outro lado, preferimos enfocar esta matéria no nível
do interesse e da importância que se observa para um futuro administrador
de empresas.
Na próxima aula, começaremos a abordar a produção e o crescimento
econômico de um país. Veremos ainda como se mede seu nível de atividade
econômica. Você já ouviu falar em PIB (Produto Interno Bruto) na disciplina
Formação Econômica do Brasil, certo? Pois vamos voltar a falar disso na
Aula 2.
Medindo as atividades econômicas
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:
definir produto interno bruto (PIB);
verificar a utilidade do PIB como indicador
das atividades econômicas;
diferenciar PIB real, PIB nominal, deflator
do PIB e PIB per capita.
2objetivos
AULA
Meta da aula
Apresentar o conceito de Produto Interno
Bruto, suas aplicações, suas variáveis e
seus desdobramentos.
1
2
3
36 C E D E R J
Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas
INTRODUÇÃO
Quem nunca se viu, mesmo quando bem jovem, diante de um lampejo de
curiosidade sobre algum fato econômico? Ainda que nunca tenha estudado
uma única linha sobre economia, quem nunca se perguntou, por exemplo,
algo tão esdrúxulo quanto “qual seria o valor somado de todos os salários ou
rendas do Brasil”? E se existisse um megamilionário tão afortunado quanto
excêntrico que desejasse comprar tudo o que o Brasil produziu em um ano?
Como você poderia chegar a esse valor?
Por trás dessas inusitadas perguntas estão outras um pouco mais técnicas:
como se avalia o crescimento econômico de um país? Por que a renda de um
país é exatamente igual à despesa? Qual o peso da produção industrial ou
agropecuária na produção total do país?
O elemento básico para responder a tais perguntas está na sigla econômica
mais popular de todos os tempos: de uma forma ou de outra, não há quem
nunca tenha ouvido falar do PIB.
O QUE É O PIB?
O produto interno bruto (PIB) representa a estimativa do valor
de tudo que foi produzido por um país em determinado período. Este
valor é calculado com base nos preços de mercado, leva em conta apenas
os bens e serviços finais (aqueles destinados diretamente ao consumidor
final); o período tomado como base pode ser anual, semestral etc.
COMO SE CALCULA O PIB?
Tudo se passa como se contratássemos alguém para, desde o
primeiro até o último dia de um ano, anotar os preços de todos os
bens e serviços finais gerados dentro do território nacional. Nesse caso,
teríamos o PIB anual do país.
Figura 2.1: Carregamento embarcado em
contêineres, rumo a mercados externos.
ErikJaspers(www.sxc.hu)
C E D E R J 37
AULA
2
Para efeito ilustrativo, suponha que, no ano X, um país tenha
produzido apenas três produtos (a, b, c), da seguinte forma:
Assim, o pib desse país seria:
PIB = (2 x 2) + (4 x 3) + (1 x 5) = R$ 21
Lembre-se de que o PIB se refere à soma de tudo o que foi produ-
zido em um país.
Assim, poderíamos dizer que o valor de tudo que foi produzido
naquele país, durante o ano, foi de R$ 21,00.
O CONCEITO EM DETALHES
Vamos esmiuçar um pouco alguns dos termos que definem o que
seja PIB.
Para começo de conversa, é importante guardar que o PIB é
avaliado em termos do valor de mercado, ou seja, a partir dos preços
que são praticados no mercado de bens e serviços. Os preços que você
vê nos supermercados, feiras, lojas etc.
Quando falamos em bens e serviços finais, queremos mostrar
que nossa conta não inclui os bens intermediários, já que estes já estão
inseridos nos preços dos bens finais.
Por exemplo: o valor do trigo, que serve de matéria-prima à
produção do pão, não é contabilizado no cálculo do PIB. Como no
valor do pão já está embutido o valor do trigo, o trigo acaba sendo
considerado indiretamente.
Perceba: se somássemos o valor do trigo (insumo do pão) ao do
pão, estaríamos contando o trigo duas vezes. Isso acarretaria o que se
chama de erro de dupla contagem no cálculo do PIB.
Produto Quantidade
produzida (q)
Preço de
mercado (p) R$
A 2 2
B 4 3
C 1 5
38 C E D E R J
Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas
QUAL O EFEITO DOS PREÇOS SOBRE O PIB?
A essa altura, você já guardou que o PIB é uma medida da atividade
econômica ligada à produção de bens e serviços finais. Pois como este
indicador é calculado com base nos preços dos bens e serviços, é coerente
pensar que seu valor será influenciado pela variação de preços.
Então note que, por ser um índice relacionado à produção e ao
nível dos preços no mercado, a elevação dos preços irá afetar o valor
do PIB, mesmo que a quantidade produzida permaneça a mesma de um
ano para o outro.
Voltemos à primeira tabela:
Suponhamos novamente que, no ano x, um país tenha produzido
apenas três produtos (a, b, c), da seguinte forma:
Produto Quantidade
produzida (q)
Preço no
mercado (p) R$
A 2 2
B 4 3
C 1 5
Com quantos pneus se faz um carro
Uma montadora de automóveis compra de outra empresa os pneus para a produção
de seus veículos. Cada carro, é importante lembrar, chega ao consumidor final com
cinco pneus: um em cada roda, mais um estepe. O conjunto de cinco pneus é vendido
à montadora por R$ 500. Os carros, depois de prontos, são cotados por R$ 5 mil. Agora
responda: para o cálculo do PIB, qual será o montante a ser considerado na produção
de dois automóveis?
Resposta Comentada
No cálculo do PIB, o valor a ser considerado para a produção de dois automóveis é de R$ 10
mil. Se o preço final de cada carro é de 5 mil e se os pneus são bens intermediários à produção
dos carros, então os pneus já estão incorporados ao preço final dos carros. Caso somássemos
a esses R$ 10 mil os bens intermediários (ou dez pneus, cinco para cada carro), teríamos para
o cálculo do PIB o valor de R$ 11 mil, o que causaria certa discrepância na soma final. Este é
um exemplo do erro da dupla contagem. Ou seja: neste caso, os pneus teriam sido contados
duas vezes: na venda para a montadora e na venda para o consumidor final.
Atividade 1
1
C E D E R J 39
AULA
2
Assim, o PIB desse país seria:
PIB = 2 x 2 + 4 x 3 + 1 x 5 = R$ 21,00
Agorasuponhaquetodosospreçostenhamdobrado,
mas que a quantidade produzida tenha permanecido a
mesma. Observe que, neste caso, o PIB terá dobrado (PIB
= R$ 42). Essa discrepância causará uma grave distorção
para um indicador com a função de informar a variação
da produção total (agregada).
COMO ISOLAR O PIB DO NÍVEL DE PREÇOS?
Uma forma de evitar a influência da variação de preços sobre o
cálculo do produto interno bruto consiste em medir o PIB em termos
reais. Daí, surgem dois conceitos de PIB: um seria o PIB nominal,
que representa o PIB a preços correntes, ou o PIB baseado nos preços
praticados pelos mercados. O outro, que denominamos PIB real, consiste
no valor do produto interno bruto em termos de preços constantes, a
partir de um ano considerado como base de referência.
Guarde então: suponha que, em 2003, a produção brasileira de
bananas tenha chegado ao patamar recorde de x toneladas. Se em 2004
o preço das bananas tiver dobrado no mercado, ainda que a produção
tenha se mantido a mesma do ano anterior, nossa soma de todo o dinheiro
gerado pela produção de bananas vai dobrar junto com os preços. Uma
pessoa desavisada poderia olhar esse novo valor do PIB e concluir que
o país alcançou novo recorde produtivo, mas, na verdade, o patamar
da produção de bananas é exatamente o mesmo, o que se alterou foi o
valor do PIB nominal.
Se quisermos avaliar apenas o nível de produção de bananas
brasileiras, precisaremos comparar pelo menos dois anos. Então
contabilizamos a produção de 2003 e, em 2004, consideramos os preços
de 2003. Assim se calcula o PIB real.
Aumento na produção ou
nos preços?
Se o PIB aumentou de um ano para o outro, pelo
menos uma das duas coisas ocorreu: ou o país elevou
a quantidade produzida em sua economia ou os
bens e serviços sofreram aumentos
de preços.!!
40 C E D E R J
Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas
Ano Bananas(QB) Preço (PB)
R$
Veículos
(Qv)
Preço (Pv)
R$
PIB= (PBQB+PVQV)
R$
2002 100 1 20 50 1.100
2003 120 2 30 60 2.040
2004 140 3 40 70 3.220
PIB REAL: UM EXEMPLO SIMPLES
Suponha que, ao longo de três anos, um país tenha produzido
apenas dois bens (bananas e veículos). A quantidade produzida, os
preços e, por conseguinte, o PIB nominal em cada um desses anos estão
relacionados a seguir:
Sendo:
QB a quantidade de bananas produzidas;
PB o preço das bananas;
QV a quantidade de veículos produzidos;
PV o preço dos veículos no mercado.
Inicialmente, observe que o PIB nominal aumenta de um ano para
o outro. Essa elevação deve-se ao crescimento da produção, mas também
à elevação de preços. Se o nosso interesse for calcular o aumento real
da produção, ou seja, aquele não-afetado pelo crescimento dos preços,
temos que utilizar o conceito de PIB real.
O primeiro passo será escolher um ano-base, ou de referência.
Os preços dos produtos naquele ano é que serão utilizados como
referência para o cálculo do PIB real nos anos subseqüentes. Para o
cálculo do PIB real, portanto, não utilizamos os preços do ano vigente,
mas sim os preços do ano de referência. De resto, procedemos da mesma
maneira que procedíamos para o cálculo do PIB nominal (preço do
produto x quantidade do produto).
C E D E R J 41
AULA
2
A partir da tabela abaixo, tome o ano de 2002 como seu ano-base. A partir daí,
como você calcularia o PIB real em cada um dos períodos seguintes?
Resposta Comentada
Em 2002, o PIB real é 1.100. Como? (100 x 1) + (20 x 50) = 1.100; em 2003, é 1.620. Como?
(120 x 1) + (30 x 50) = 1.620; e em 2004, o PIB real é 2.140, já que (140 x 1) + (40 x 50) =
2.140. Como você já viu, o PIB nominal utiliza os preços vigentes em cada ano, enquanto o PIB
real fixa os preços de um ano como base para calcular apenas as variações nas quantidades
produzidas a cada período. Assim, o PIB real torna-se uma medida mais adequada para estimar
a produção total de bens e serviços finais de um país.
Atividade 2
2
Ano Bananas Preço
R$
Veículos Preço
R$
PIB
Real*(PBQB+PVQV)
R$
2002 100 1 20 50
2003 120 2 30 60
2004 140 3 40 70
O DEFLATOR DO PIB
Como vimos até aqui, variações nos preços dos produtos
representam um importante fator a ser considerado no cálculo do PIB
de um país. Agora perceba que, quando comparamos um período a
outro, somos capazes de identificar comportamentos e tendências dos
mercados. Para que tenhamos uma medida da elevação média do nível
de preços do final de um ano para o outro, basta que calculemos o que
se denomina deflator do PIB.
Na aula anterior, você viu que o conceito de inflação se refere
a uma gradual perda de valor do dinheiro, diante de um aumento
generalizado de preços. Agora note que o deflator do PIB é o índice
destinado a isolar o fator inflação do cálculo do produto interno bruto
de um país, em um determinado período. O deflator nos dirá qual parte
do aumento do PIB nominal cabe somente ao crescimento dos preços e
nos ajudará a perceber quanto do aumento do PIB se deve a uma elevação
real no nível de produção.
* Ano-Base 2002
42 C E D E R J
Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas
O que calcula cada PIB?
O PIB real calcula o crescimento econômico, a partir
do aumento ou da diminuição do nível real de produção
de um país. O deflator do PIB faz referência ao crescimento
médio dos preços da economia. O PIB nominal capta
tanto o crescimento do volume da produção
quanto a variação de seus preços.!!
Note que, a partir do deflator do PIB, é possível inferir a taxa de
inflação de um período.
A fórmula de cálculo do deflator é:
DEFLATOR DO PIB = PIB nominal x 100
PIB real
Veja como obter o deflator do PIB a partir dos valores já
apresentados nas tabelas anteriores desta aula:
Por esses valores, no ano-base do PIB real (2002), o deflator do
PIB é igual a 100. Por definição, em todo ano-base, o deflator será sempre
100 (os preços do ano corrente são os preços do ano-base).
Em 2003, o deflator do PIB é 125,92. Em 2004, é 150,46.
Agora veja: de 2002 a 2003, o deflator passou de 100 para 125,92.
Logo, pode-se inferir que os preços aumentaram, em média, 25,92%.
Da mesma forma, em 2004, como o nível de preços passou de
125,92 para 150,46, o nível médio de preços aumentou 19,48% em
relação a 2003.
Fica claro então que o deflator do PIB pode ser interpretado como
um indicador da variação do nível médio de preços de um país. Isto é
nada mais nada menos do que dizer que o deflator do PIB consiste em
uma indicação da taxa de inflação do período.
Deflator do PIB
Ano deflator = (PIB nominal / PIB real) x 100
2002 deflator = R$ 1.100 / R$ 1.100 x 100 = 100
2003 deflator = R$ 2.040 / R$ 1.620 x 100 = 125,92
2004 deflator = R$ 3.220 / R$ 2.140 x 100 = 150,46
C E D E R J 43
AULA
2
O PRODUTO NACIONAL BRUTO
Já vimos que o PIB expressa o total da produção, a soma de toda
a renda criada dentro dos limites geográficos de um país. Pois parte dessa
renda gerada dentro do país pode ser enviada ao exterior. Isso acontece
quando parte da renda pertence a empresas estrangeiras que estejam
produzindo no país. Nesse caso, essas empresas podem enviar parte de
seu lucro para o exterior.
O produto nacional bruto (PNB), por sua vez, representa a
produção cuja renda correspondente é de propriedade dos indivíduos
residentes no país de forma definitiva. Ou seja: o PNB é a soma de tudo
o que é produzido aqui e fica aqui.
Portanto, a diferença entre PIB e PNB é a renda líquida enviada
ao exterior (RLEE ou a renda que é mandada para o exterior menos
aquela procedente do exterior).
Umexemplo:umpaíssul-americanocujaindústriasejaexclusivamente
dedicada à siderurgia tem um PIB de R$ 1 milhão. No entanto, suponha
que, ao longo do ano, esse país tenha importado R$ 200 mil em minério
de ferro e exportado R$ 300 mil em aço. Quando calcularmos o Produto
Nacional Bruto, chegaremos ao valor de R$ 900 mil.
Veja:
PNB = 1 milhão – 300 mil + 200 mil = 900 mil
Ou ainda:
PNB = PIB – RLEE
O PRODUTO INTERNO LÍQUIDO
Parte do valor dos bens e dos serviços gerados em um determinado
período pode ser perdida, seja pelo desgaste, pela perda de utilidade
por uso, ação da natureza ou ainda por obsolescência. Pois o produto
interno líquido é precisamente o produto interno bruto decrescido
dessa depreciação. Assim, nem toda produção acrescenta uma maior
quantidade de bens ou serviços à economia ou faz ela crescer. Com um
aumento na produção, pode-se apenas estar repondo o que foi depreciado
no período.
Ou ainda:
PIL = PIB – depreciações.
44 C E D E R J
Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas
EXISTE PIB NEGATIVO?
Você já viu que o PIB é o somatório de todas as riquezas produzidas
por um país em um determinado período. Compreendeu também que
há uma sigla destinada a medir apenas o que é produzido e fica no país
(PNB) e outra que considera ainda o que é perdido ou se torna obsoleto
(PIL). Quando a taxa de crescimento do PIB é negativa – o PIB real de
um ano é menor do que o do ano anterior, diz-se que houve recessão.
Isto equivale a dizer que a atividade econômica diminuiu entre um ano
e outro. Agora veja: se isso ocorreu, devem ter ocorrido também menor
produção, mais baixo nível de empregos, falências de empresas etc.
Este quadro de baixa atividade econômica recebe também o nome
de depressão. Não há uma determinada taxa de crescimento negativa
que caracterize o processo de depressão. Para efeito de curiosidade, uma
“piada econômica” define a expressão assim: “Recessão ocorre quando
pessoas estão sendo desempregadas. Depressão é quando eu também
perco o meu emprego”.
O QUE O PIB NÃO MEDE?
Como já foi mencionado, o PIB mede o valor da produção de
bens e serviços finais de uma economia. Todavia, há toda uma parcela
da produção nacional que não é incluída no cálculo do produto interno
bruto: é o que se convencionou chamar de economia informal. Drogas,
jogos de azar e contrabando são atividades desconsideradas pelo PIB,
como seria coerente supor, mas a produção informal não se refere
Figura 2.2: Em 1929, com a quebra da
Bolsa de Nova York, os Estados Unidos
mergulharam no que ficou conhecido
como “A Grande Depressão”, cujos
efeitos foram sentidos ao redor de
todo o mundo. O Brasil soube minimi-
zar os males da crise através de políti-
cas estatais que visavam a defender os
preços do café no mercado interna-
cional. O governo brasileiro chegou a
comprar e a queimar grandes volumes
de grãos, a fim de reduzir a oferta
do produto no mercado. Saiba mais
no site www.culturabrasil.pro.br/
estadonovo.htm.
C E D E R J 45
AULA
2
somente à ilegalidade. Pensemos, por exemplo, nas donas de casa ou nos
vendedores ambulantes, que mantêm seus negócios à parte dos impostos
e das contribuções. Esses não são contados quando se calcula o PIB.
Hoje, estimativas apontam para uma equação assustadora: cerca
de 50% da economia brasileira podem estar ligados à informalidade.
Repare que as dimensões de uma economia informal podem significar
a divisão de um país em dois: um real e um oficial. O crescimento da
informalidade pode representar um verdadeiro problema administrativo
no âmbito governamental, já que apenas uma parcela da população
contribui com impostos, por exemplo, mas é a totalidade das pessoas
que precisa ser beneficiada pelas políticas públicas.
O PIB DESMEMBRADO
O PIB também pode ser desmembrado por setores de atividade.
Na Tabela 2.1, você encontra o crescimento do PIB brasileiro por setores,
em 2003 e 2004.
Os dados mostram, por exemplo, que o PIB agropecuário – o
valor da produção total de bens e serviços finais do setor agropecuário
– cresceu 4,5% em 2003 e 5,3% em 2004.
A tabela revela ainda que o PIB brasileiro cresceu 0,5% e 5,2%
em 2003 e 2004, respectivamente.
A senhora do lar
Explique a razão da frase: “Se um patrão demitir sua empregada doméstica,
que tinha carteira assinada, e casar-se com ela, reduz-se o valor do PIB”.
________________________________________________________
_________________________________________________________
_______________________________________________________
Resposta Comentada
O serviço de empregada doméstica é uma atividade profissional com valor de mercado.
Logo, entra no cálculo do PIB. Demitida, passada à informalidade e casada com o patrão, a
empregada passa a ser dona de casa e deixa de ser assalariada. Assim, o PIB cai de valor
pelo cancelamento da despesa que o ex-patrão deixa de ter com a nova esposa.
Atividade 3
1 2
46 C E D E R J
Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas
Tabela 2.1: Crescimento do PIB brasileiro total e por setores nos anos de 2003
e 2004 (%)
O VALOR DA RENDA É IGUAL AO VALOR DO PRODUTO
Além do valor dos bens e dos serviços produzidos na economia,
o PIB também mede a renda total gerada no processo da produção. Na
verdade, o valor da renda é exatamente igual ao valor do produto.
Como assim?
Observe que tudo o que se gasta para produzir um bem encontra
sempre contrapartida em alguém que está recebendo exatamente tal valor.
Vamos a um exemplo: suponha que um refrigerante custe
R$ 1,00. Nesse preço, estão embutidos o custo e o lucro. Se o custo de
sua produção for de 80 centavos, o restante (20 centavos) será a renda
do empresário. Os 80 centavos de custos são divididos em pagamento de
funcionários (renda) e pagamento das matérias-primas. Essas matérias-
primas têm o mesmo aspecto do refrigerante, isto é, seu preço é composto
de custo e lucro, que representarão futuras rendas, e assim por diante. Já
os 20 centavos de lucro do comerciante serão pagos por você.
Vamos explicar o mesmo fenômeno (valor da renda igual ao
valor do produto) de uma maneira “macro”: em um sistema econômico
simplificado, os consumidores compram bens e serviços nos mercados.
O valor das vendas, que é recebido pelas empresas, é destinado ao
pagamento dos seus funcionários, à remuneração dos indivíduos que
alugaram o espaço físico das empresas e aos lucros dos empresários.
Essas somas são transferidas para os chamados MERCADOS DOS FATORES
DE PRODUÇÃO – as imobiliárias, as agências de emprego etc.
Setores 2003 2004
agropecuária 4,5 5,3
indústria 0,2 6,2
serviços 0,6 3,7
comércio -1,9 7,9
transporte 1,4 4,9
demais 1,0 2,9
PIB Total 0,5 5,2
O MERCADO
DE FATORES DE
PRODUÇÃO
Representa os locais
onde se negociam a
oferta e a procura
por fatores de
produção. São as
agências de emprego,
as imobiliárias, que
vendem ou alugam
imóveis comerciais etc.
Fonte: IPEA
C E D E R J 47
AULA
2
Por outro caminho: o total da renda gerada nesse sistema
econômico é reutilizado pelas famílias, por meio da compra de bens e
serviços no mercado de produtos – os supermercados, as lojas etc. Estes,
por sua vez, irão fluir novamente para o mercado de fatores de produção.
Como num fluxo circular.
O PIB pode ser medido de duas formas: somando as rendas pagas
pelas empresas dentro do mercado de fatores (de produção), ou pelo total
dos gastos dos consumidores no mercado de bens e serviços.
Ainda que na prática haja mais complexidade (há impostos, as
famílias não gastam tudo o que ganham, nem tudo o que é produzido é
vendido etc.), cada transação tem uma espécie de comprador e vendedor, de
forma que o valor do bem ou do serviço coincida com o valor da renda.
A seguir, vê-se um diagrama do fluxo circular da renda e dos
bens e serviços de um sistema econômico. As setas externas ilustram o
fluxo circular da renda. As setas internas representam o fluxo de bens
e serviços.
Mercado de
Produtos
Famílias
(consumidores)
Despesa =
PIB Empresas
(Unidades
Produtivas)
Salário,
lucro e
aluguel
Mercado de
fatores de
produção
Bens e
Serviços
Bens e
Serviços
Insumos
Trabalho
Capital
TerraRenda
= PIB
Receita
= PIB
Fluxo Circular da Renda e do Produto
Despesa
48 C E D E R J
Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas
Entre 2003 e 2004, o
Brasil passou de 15º colocado
no ranking mundial do PIB para 12º,
ultrapassando a Índia, a Coréia do Sul e
a Holanda. No entanto, em 1998, o Brasil
estava em 8º lugar. Ou seja: mais próximo
dos países de maior atividade
econômica no mundo.!!
AS MAIORES ECONOMIAS DO PLANETA
Através do PIB, podemos relacionar os países de maior produção
no mundo. Ou seja, as maiores economias do mundo. A Tabela 2.2,
embora incompleta, dá o ranking para o ano de 2004.
Tabela 2.2: Os países de maior atividade econômica em 2004
País Produto Interno
Bruto (US$
trilhões)
1 Estados Unidos 11,757
2 Japão 4,780
3 Alemanha *
4 Reino Unido *
5 França *
6 Itália *
7 China 1,543
8 Espanha *
9 Canadá *
10 México *
11 Austrália *
12 Brasil 0,605
Fontes: IBGE; FMI; GRC Visão Consultoria
* Dados não disponibilizados.
Valores em US$
C E D E R J 49
AULA
2
A RENDA PER CAPITA
A renda per capita é a quantia em reais que cada habitante
receberia caso o PIB fosse dividido igualmente entre toda a população.
Note que a renda per capita é uma média, uma estimativa, uma vez que
desconsidera o fator distribuição de renda.
Abaixo, os números da renda per capita no Brasil, durante a
década de 1990.
CONCLUSÃO
A partir do conceito de PIB, podemos medir o nível de atividade
econômica de um país, ou o “tamanho” de uma economia.
A partir do cálculo do PIB anual e de comparação com períodos
anteriores, é possível monitorar a evolução da capacidade produtiva de
um país, assim como a influência do comportamento dos preços sobre
os mais variados setores da economia.
Do produto interno bruto depreendem-se indicadores diversos,
capazes de informar até sobre nosso balanço de pagamentos ou sobre
o estado geral da população. É o caso do produto nacional bruto, que
desconsidera toda a produção enviada ao exterior; é o caso da noção
de renda per capita, que estima a média de remuneração dos habitantes
de um país.
O cálculo do somatório das riquezas produzidas em um país é
um bom caminho para traçar a trajetória de um sistema econômico, o
que, já aprendemos, é algo dinâmico e marcadamente identificável em
nosso dia-a-dia.
Período PIB Per
Capita US$
1990 3.243
1991 2.771
1992 2.605
1993 2.847
1994 3.546
1995 4.542
1996 4.924
1997 5.022
1998 4.793
Fonte: www.ipea.gov.br
50 C E D E R J
Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas
O PIB e as metrópoles nacionais
A tabela a seguir informa dados oficiais para os estados de São Paulo e Rio de Janeiro
(2002).
Agora, a partir dos dados fornecidos, responda:
1. Como foram obtidos os valores da renda per capita nesses estados?
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
2. Seria possível ocorrer um aumento do PIB nominal ao mesmo tempo que houvesse
diminuição do PIB real?
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
3. Por que razão quanto mais inflacionária for a economia de um país mais correto
será utilizar o PIB real (ao invés do nominal) para medir seu crescimento?
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
Estado PIB (milhões) Renda Per
Capita
População
Rio de
Janeiro
170.114 11.459 14.761.862
São
Paulo
438.148 11.353 38.306.233
Atividades Finais
321
Fonte: www.ibge.gov.br
C E D E R J 51
AULA
2
Resposta Comentada
1. Os valores da renda total são obtidos dividindo o PIB do estado por sua respectiva população.
Os resultados diferem um pouco dos apresentados na tabela, posto que os dados do PIB estão
arredondados.
2. Sim, basta que o efeito da elevação dos preços seja maior do que a queda na quantidade de bens
e serviços gerados no período. Lembre-se de que dois elementos afetam o PIB nominal: os preços e
as quantidades. No PIB real, só as quantidades se alteram, pois os preços são mantidos constantes,
dado o ano-base. Quer um exemplo? Veja a tabela a seguir, com os dados sobre os anos de 1991
e 1992. Apesar do enorme salto no PIB nominal entre 1991 e 1992, a taxa de crescimento real do
PIB foi negativa. Ou seja, houve recessão. Observe o ritmo do crescimento médio dos preços através
da variação do deflator do PIB: naquela época, a inflação era extremamente alta.
3. Quanto mais alta a inflação, mais os preços estarão influenciando os valores do PIB nominal.
Sendo assim, o mais adequado é utilizar o PIB real, pelo mesmo motivo citado na resposta
anterior.
Ano Crescimento do
PIB %
Variação (%)
do deflator
PIB
PIB nominal
1991 1,0 416,7 165.786.498
1992 -0,5 969,0 1.762.636.611
O produto interno bruto (PIB) expressa o valor de mercado de todos os bens
e serviços finais realizados em um território (ou país), em um determinado
período.
Como em toda transação há um comprador e um vendedor, o PIB mede a
despesa total da economia na produção de bens e de serviços, além da renda
total gerada com a produção de tais bens e serviços em um dado período.
O PIB nominal utiliza os preços correntes, enquanto o PIB real usa preços
constantes de um ano-base para medir os bens e serviços realizados.
A razão entre o PIB nominal e o PIB real avalia o crescimento médio de
preços de um período. É denominado deflator do PIB.
A partir dos conceitos de PIB real e nominal, é possível calcular ainda o deflator
do PIB, que mede a alteração no nível dos preços e podemos ainda calcular
também a renda per capita, uma estimativa da renda média da população.
R E S U M O
Fonte: www.ibge.gov.br
52 C E D E R J
Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas
INFORMAÇÕES SOBRE A PRÓXIMA AULA
Na próxima aula, você vai estudar os principais elementos que constituem
o PIB. A partir deles poderemos reconhecer os fatores que podem fazer a
atividade econômica aumentar de forma vigorosa.
O PIB e os componentes da
demanda agregada
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:
listar os componentes do cálculo do PIB;
distinguir os elementos que compõem a
demanda agregada e identificar seu papel
e seu peso na economia de um país;
avaliar a importância do relacionamento das
empresas com mercados internos e externos
no cálculo do PIB.
3objetivos
AULA
Meta da aula
Descrever a equação de composição do
Produto Interno Bruto (PIB) a partir da
renda e da demanda agregada.
1
2
3
54 C E D E R J
Análise Macroeconômica | O PIB e os componentes da demanda agregada
INTRODUÇÃO
Imagine-se comprando um sanduíche. Pense que você saiu de casa com cinco
reais na carteira e que os entregou ao balconista de uma lanchonete. Em um
primeiro momento, você pode pensar: eu tinha um dinheiro em mão, mas não
o tenho mais. Comi o sanduíche e estou cinco reais mais pobre.
No entanto, perceba: o balconista da lanchonete tinha um sanduíche à sua
espera. Depois que você abriu a carteira, o sanduíche passou a não mais
existir para ele. Ainda assim, no lugar do sanduíche, o balconista recebeu
cinco reais. Fica fácil notar que comprar um sanduíche é equivalente a vender
cinco reais.
Transponha agora essa compreensão para o campo da Macroeconomia, que lida
com o fator “sanduíche” de forma agregada (ou a partir de todos os sanduíches
produzidos em um país). Como vimos estudando desde a primeira aula deste
curso, o produto interno bruto (PIB) expressa o valor de tudo que um país
produz, em bens e serviços, em um determinado período. Todos os sanduíches,
todos os empregos de balconista, tudo o que o dono da lanchonete investe em
seu estabelecimento, os impostos pagos pela lanchonete ao governo etc.
Agora veja: assim como acontece em nosso exemplo da lanchonete, quem se
apropria desses bens e serviços produzidos pelo país? De que forma isso ocorre?
De onde partem os recursos que movimentam a economia? Que importância
tem para um país o nível de poupança de sua população? As respostas a essas
perguntas você terá ao longo desta aula.
OS COMPONENTES DO PIB
Depois de ter estudado o conceito de PIB e algumas de suas
aplicações, veja uma maneira de segmentá-lo em seus componentes.
Figura 3.1: No espaçoso carrinho do PIB, cabem sua renda, tudo que você
compra e contrata, os investimentos que você faz em nome de seu negócio,
tudo que o governo gasta em nome do seu bem-estar, o que é vendido
para outros países e o que é comprado de fora.
SanjaGjenero
C E D E R J 55
AULA
3
IDENTIDADE
É a equação que é
sempre verdadeira,
quaisquer que sejam
as circunstâncias
ou as hipóteses
estabelecidas. Numa
identidade, os lados
das equações são
inequivocamente
iguais.
Para início de conversa, podemos dizer que todo bem e todo serviço
produzido em determinado país é utilizado para consumo das famílias e
investimento por parte das empresas, além de poder ser adquirido pelo
governo ou exportado (vendido a outro país).
Note que, quando falamos em exportação, assumimos que
exportamos uma fração do que produzimos. Pelo mesmo raciocínio,
podemos concordar que também adquirimos parte da produção de
outros países.
Consideremos então esse princípio e expressemo-lo em termos
matemáticos. Daí chegaremos à seguinte IDENTIDADE:
PIB = C + I + G + (X – M) (1)
Sendo:
PIB, o produto interno bruto;
C, o consumo agregado;
I, o investimento agregado;
G, o consumo do governo;
X, as exportações; e
M, as importações.
Ou seja: o valor do PIB é igual à soma do consumo agregado,
do investimento agregado e do consumo do governo com o total das
exportações, decrescido do total das importações.
Ficou claro então quais fatores entram em nossa conta. Agora
sigamos em frente e expressemos mais objetivamente o significado de
cada um deles:
O consumo é uma variável bastante simples e palpável: diz respeito
à despesa das famílias com a compra de bens e serviços, sejam eles
geladeiras ou técnicos especialistas em geladeiras, por exemplo.
Os investimentos referem-se exclusivamente às empresas: são as
despesas com máquinas, equipamentos, plantas industriais (FORMAÇÃO
BRUTA DE CAPITAL FIXO) e estoques. Ou seja: são todas as despesas envolvidas
no funcionamento de uma empresa, a não ser as relativas à remuneração
da força de trabalho e ao pagamento de impostos. Sobre os investimentos,
trataremos mais detalhadamente na próxima seção.
FORMAÇÃO
BRUTA DE
CAPITAL FIXO
São os investimentos
feitos pelas empresas
em equipamentos,
bens de capital,
edificações etc. que
visam a aumentar
sua capacidade
produtiva.
O conjunto desses
fatores é o que se
costuma chamar
também planta
industrial.
56 C E D E R J
Análise Macroeconômica | O PIB e os componentes da demanda agregada
O consumo do governo é a despesa do Estado (nos âmbitos federal,
estadual e municipal) com compras de bens e serviços. Imagine, por
exemplo, a contratação de uma empreiteira para a realização de obras
públicas. Esse é o tipo de despesa que entra em nossa conta.
As exportações são os valores das vendas dos bens e dos serviços
para outros países ou o total de produtos e serviços que se originam
em solo nacional mas que serão consumidos em outras
partes do mundo.
E, por fim, as importações representam os valores
do que se compra do exterior, ou tudo que é produzido
em outros países e vai ser consumido aqui. Importações
e exportações trataremos mais à frente.
OS INVESTIMENTOS
Já vimos, de forma geral, os componentes do cálculo do PIB.
Vimos que um deles se refere aos investimentos por parte das empresas.
Agora cabe fazer uma diferenciação sobre os tipos de investimentos
existentes.
Quando você monta uma empresa, conta com seu capital inicial,
com seu maquinário e com a mão-de-obra. No entanto, em um mercado
aberto e competitivo, é necessário que você destine regularmente
recursos que serão revertidos a esse negócio. Vale então ter claro que há
investimentos de dois tipos: realizados e desejados (ou planejados).
Pela CONTABILIDADE NACIONAL, os investimentos são a soma do
valor dos gastos das empresas com edificações e equipamentos (Formação
Bruta do Capital Fixo) mais os investimentos em estoques.
Os investimentos em estoques representam todos os bens
produzidos que não foram vendidos. Estes podem ser investimentos em
estoque planejados, ou não planejados.
Os estoques não planejados (ou involuntários) são aqueles
produtos destinados à venda mas que, por não terem sido vendidos,
incorporaram-se ao estoque. Ou seja, o estoque involuntário é a variação
involuntária do estoque por falta de compradores.
Os estoques voluntários são aqueles bens produzidos para compor
o estoque. A diferença entre investimento planejado e realizado é dada
justamente pela existência dos estoques involuntários.
Figura 3.2: O café é tradi-
cionalmente nosso herói
de exportação. Ao longo
da história do Brasil,
intervenções do governo
visaram a manter o status
do produto no mercado
internacional. Após a crise
de 1929, foram a ação do
Estado e o desempenho do
café nos mercados inter-
nacionais que nos defen-
deram da recessão que se
abateu sobre o mundo.
Você pode ver mais
sobre o assunto no site
www.culturabrasil.pro.br/
vargas.htm.
BeatrizChaim(www.sxc.hu)
CONTABILIDADE
NACIONAL
É a metodologia
oficial de
classificação
das variáveis
econômicas
nacionais, as
chamadas contas
nacionais. O
IBGE (Instituto
Brasileiro de
Geografia e
Estatística) faz
o levantamento
CONTABILIDADE
NACIONAL
É a metodologia
oficial de
classificação das
variáveis econômicas
nacionais, as
chamadas contas
nacionais. O IBGE
(Instituto Brasileiro
de Geografia e
Estatística) faz
o levantamento
estatístico das contas
nacionais.
C E D E R J 57
AULA
3
A Abragel e o mercado
De forma mais simples: se toda a produção destinada à venda for
efetivamente vendida, os estoques involuntários (variação de estoque)
serão zero. Nessas condições, os investimentos planejados serão iguais
aos realizados.
Perceba:
Ir = Ip + ∆estoque
Ir – Ip = ∆estoque
Sendo:
Ir, o investimento realizado;
Ip, o investimento planejado;
∆estoque, a variação (∆) de estoque.
Atividade 1
1
NestorAntártico,consultor
da Abragel, defendeu
ontem, em reunião da
entidade, que as empresas do setor
devem investir 20 milhões de reais
em estoques. Segundo Antártico, o
novo aumento do salário-mínimo
deve aquecer o mercado.
Abragel recompõe estoque (15/06/2006)
2 3
AAssociação
Brasileira dos
Fabricantes de
Geladeiras (Abragel)
divulgou ontem nota em
que declara a intenção
de investir 100 milhões
de reais em edificações
e equipamentos.
Fabricantes de geladeiras planejam
investir 100 milhões de reais no setor
(10/06/2006)
Em entrevista coletiva
à imprensa, na noite
de ontem, o consultor
da Abragel Nestor Antártico
lamentou o que qualificou como
“decepcionante desempenho de
nossas geladeiras no mercado
externo”. Segundo Antártico,
metade das geladeiras produzidas
neste trimestre encalhou nos
estoques.
Dólar baixo prejudica exportações (20/09/06)
58 C E D E R J
Análise Macroeconômica | O PIB e os componentes da demanda agregada
Agora, presumindo que todos os conselhos de Nestor foram seguidos pela entidade,
responda às perguntas a seguir:
a. De quanto foi o investimento planejado pela Abragel?
___________________________________________________________________________
b. Quanto foi investido de forma planejada em estoque?
____________________________________________________________________________
c. E de forma não planejada?
_____________________________________________________________________________
d. De quanto foi a variação não planejada do estoque (em reais)?
_____________________________________________________________________________
e. Qual foi o investimento realizado pela Abragel?
______________________________________________________________________________
Respostas Comentadas
Se você articular as três notícias de jornal, verá que a Abragel investiu 100 milhões de reais em
planta industrial e 20 milhões em estoque. Você já aprendeu que os investimentos planejados
são a soma desses dois fatores. Portanto, o investimento planejado pela Abragel foi de 120
milhões de reais (a). Da segunda notícia, depreendemos que investiram-se 20 milhões de
reais nos estoques das empresas. Repare que se chegou a esse montante por decisão de
consultores. Logo, estamos falando sobre investimento planejado em estoque (b). Na terceira
notícia, lemos que o mercado não se comportou como a entidade esperava, o que resultou
no encalhe de metade do estoque. Como já definimos que o estoque era de 20 milhões de
reais, chegamos aos 10 milhões de reais encalhados (c). Ao longo da aula, você já viu que a
variação não-planejada do estoque se refere a quanto do estoque formado não conseguiu ser
vendido. Logo, neste caso, estamos falando de 10 milhões de reais (d). Por fim, como já vimos
que o investimento realizado é igual ao planejado acrescido da variação involuntária dos
estoques, chegamos ao número de 130 milhões de reais (e).
C E D E R J 59
AULA
3
AS IMPORTAÇÕES E AS EXPORTAÇÕES
No cálculo do PIB, é de praxe considerar as exportações e as
importações de forma conjunta. Comumente, referimo-nos a essa dupla
de fatores sob o termo exportações líquidas (X-M), que representa as
compras dos produtos nacionais feitas pelos estrangeiros (exportações),
descontadas as compras de bens estrangeiros realizadas pelas famílias
nacionais (importações).
Sendo mais claro: a exportação líquida de geladeiras é igual à
soma de todos os aparelhos que se vendem para fora, descontados os
que se compram de fora.
Agora pense: qual a relevância das importações para a equação
que descreve os destinos do PIB?
A resposta é clara: as famílias, as empresas e o governo compram
produtos nacionais, mas também podem importar. Como o PIB diz
respeito aos bens e serviços produzidos em um país, é necessário descontar
desse cálculo o valor de tudo que foi importado. Se não houvesse o
desconto dessa despesa, não teríamos uma identidade. Veja como.
Imagine uma família comprando um automóvel Audi A8. Essa será
uma despesa com importações, pois esse carro não é fabricado no Brasil.
Supondo que esse veículo custe 50 mil dólares, essa despesa (convertida
em reais) estará associada a duas variáveis da equação 1: em um primeiro
momento, representa um item de consumo (C) das famílias, mas, como
tal valor também será descontado do item importações (M), a equação
do PIB estará representando adequadamente a igualdade entre o valor
da produção e o total das despesas.
Note: se nessa identidade não houvesse o item importações, o
item consumo traria consigo o valor do carro, que não é um produto
nacional.
Perceba:
PIB= (C + 50mil) + I +G + (X – 50 mil)
Lembre-se da equação original:
PIB = C + I + G + (X – M) (1)
60 C E D E R J
Análise Macroeconômica | O PIB e os componentes da demanda agregada
A compreensão de que produtos importados não podem ser
contados como se tivessem sua origem na indústria nacional pode parecer
secundária. No entanto, note que um carro importado pode representar
consumo em solo brasileiro, mas os investimentos feitos pela indústria
que o fabricou, por exemplo, são contabilizados no cálculo do PIB de
seu país de origem.
A tabela a seguir mostra a participação dos componentes na
formação do PIB de 2004, no Brasil.
A partir desses dados, reflita:
Fica claro que o fator que mais pesa na contagem do PIB brasileiro
é o consumo das famílias. Mas o que dizer sobre o governo? Em
comparação às exportações e aos investimentos da indústria nacional,
na sua opinião, o governo gasta muito ou pouco? Saiba que, no cálculo
dos investimentos, soma-se o item formação bruta de capital fixo (FBCF)
à variação dos estoques.
Comparando-se o quanto se consome internamente e o quanto
se exporta, é possível dizer que o Brasil é um país eminentemente
exportador? Repare que as exportações e as importações referem-se a
bens, mas também a serviços.
E o que dizer sobre nossos níveis de importação? Pelo que você
observa na tabela, o Brasil está muito dependente ou pouco dependente
Figura 3.3: Novas “carroças” - nos primeiros 15
dias de mandato, o ex-presidente Fernando
Collor de Mello lançou um pacote econômico
que bloqueou – ou “confiscou” - o dinheiro
de pessoas físicas e jurídicas depositado na
poupança e em contas correntes. Entre suas
primeiras medidas para a economia, figurava
também a abertura do mercado brasileiro às
importações, o que, associado ao confisco,
gerou graves efeitos sobre a indústria nacio-
nal. Ficou famosa sua afirmação de que os
brasileiros, à época, dirigiam “carroças”.
AndréasSchmidt(www.sxc.hu)
Fonte:www.ibge.gov.br
Consumo das famílias (C) 55,3
Gastos do governo (G) 18,8
Investimento (I) 21,3
Exportações (X) 18,0
Importações (M) 13,3
C E D E R J 61
AULA
3
dos mercados externos? Há quem defenda que essa dependência é
maléfica, há quem diga que é o caminho inevitável e que o que importa
é a maneira como a gerenciamos.
O PIB A PARTIR DA RENDA
Na introdução desta aula, você viu que uma despesa que você
faça é igual à receita de outra pessoa. Perceba agora que tudo o que
você gasta provém do que ganha. Suas despesas, qualquer dona de casa
tem isso bastante claro, precisam “caber” no seu orçamento. Seguindo
o mesmo raciocínio e visto o PIB pela ótica dos gastos, veja que ele pode
ser descrito também pela ótica da renda.
Você já viu: o valor de tudo que é produzido com bens e serviços
tem como contrapartida a remuneração de quem os produziu (direta
e indiretamente). Logo, o valor do PIB é distribuído em renda para as
famílias. Ou seja, sua renda pode ter apenas três destinos: o consumo
(C), a poupança (S, do inglês savings) ou o pagamento de impostos (T,
do inglês taxes). Dessa maneira, tem-se outra identidade:
PIB = C + S + T (2)
Sendo:
C, o consumo agregado;
S, a poupança agregada;
T, a arrecadação de impostos do governo.
Agora veja: como as duas equações, (1) e (2), possuem o mesmo
lado esquerdo, elas podem ser igualadas:
(1) PIB = C + I + G + (X – M)
(2) PIB = C + S + T
Logo,
C + S + T = C + G + I + (X – M) (3)
Para que você não se perca: assumimos aqui que os três destinos
da sua renda equivalem ao conjunto consumo das famílias + gastos do
governo + investimentos das empresas + exportações líquidas. Jamais
perca de vista que estamos tratando de um fenômeno cíclico. As riquezas
circulam dentro de uma economia.
Barbosa 2010
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Barbosa 2010

  • 1.
  • 2.
  • 3. Cleber BarbosaVolume 1 Análise Macroeconômica 2ª edição Apoio:
  • 4. ELABORAÇÃO DE CONTEÚDO Cleber Barbosa COORDENAÇÃO DE DESENVOLVIMENTO INSTRUCIONAL Cristine Costa Barreto DESENVOLVIMENTO INSTRUCIONAL E REVISÃO Alexandre Rodrigues Alves COORDENAÇÃO DE AVALIAÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICO Débora Barreiros AVALIAÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICO Letícia Calhau Referências Bibliográficas e catalogação na fonte, de acordo com as normas da ABNT. Copyright © 2006, Fundação Cecierj / Consórcio Cederj Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da Fundação. Material Didático 2010/1 B238a Barbosa, Cleber. Análise macroeconômica. v. 1 / Cleber Barbosa. – 2. ed. - Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2010. 158p.; 19 x 26,5 cm. ISBN: 978-85-7648-422-3 1. Macroeconomia. 2. Sistema monetário. I. Título. CDD: 339 EDITORA Tereza Queiroz REVISÃO TIPOGRÁFICA Cristina Freixinho Diana Castellani Elaine Bayma COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO Jorge Moura PROGRAMAÇÃO VISUAL Andréa Dias Fiães ILUSTRAÇÃO Sami Souza CAPA Sami Souza PRODUÇÃO GRÁFICA Patricia Seabra Departamento de Produção Fundação Cecierj / Consórcio Cederj Rua Visconde de Niterói, 1364 – Mangueira – Rio de Janeiro, RJ – CEP 20943-001 Tel.: (21) 2334-1569 Fax: (21) 2568-0725 Presidente Masako Oya Masuda Vice-presidente Mirian Crapez Coordenação do Curso de Administração UFRRJ - Silvestre Prado UERJ - Aluízio Belisário
  • 5. Universidades Consorciadas Governo do Estado do Rio de Janeiro Secretário de Estado de Ciência e Tecnologia Governador Alexandre Cardoso Sérgio Cabral Filho UENF - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO Reitor:Almy Junior Cordeiro de Carvalho UERJ - UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Reitor: Ricardo Vieiralves UNIRIO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Reitora: Malvina Tania Tuttman UFRRJ - UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO Reitor: Ricardo Motta Miranda UFRJ - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Reitor:Aloísio Teixeira UFF - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE Reitor: Roberto de Souza Salles
  • 6.
  • 7. Aula 1 – Conhecendo a Macroeconomia .................................................... 7 Aula 2 – Medindo as atividades econômicas ...........................................35 Aula 3 – O PIB e os componentes da demanda agregada...................... 53 Aula 4 – Determinação da renda e da produção de equilíbrio.....................71 Aula 5 – Os investimentos e as taxas de juros .........................................97 Aula 6 – O sistema monetário ..................................................................113 Aula 7 – A demanda por moeda...............................................................135 Referências............................................................................................155 Análise Macroeconômica Volume 1 SUMÁRIO Todos os dados apresentados nas atividades desta disciplina são fictícios, assim como os nomes de empresas que não sejam explicitamente mencionados como factuais. Sendo assim, qualquer tipo de análise feita a partir desses dados não tem vínculo com a realidade, objetivando apenas explicar os conteúdos das aulas e permitir que os alunos exercitem aquilo que aprenderam.
  • 8.
  • 9. Conhecendo a Macroeconomia Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: identificar as quatro variáveis que acompanham o estudo da Macroeconomia; isolar as decorrências dessas variáveis na dinâmica de um sistema econômico; articular duas ou mais variáveis a fim de solucionar problemas reais; identificar problemas econômicos nacionais de interesse da Macroeconomia; explicar o funcionamento de órgãos do governo, como o Banco Central. 1objetivos AULA Meta da aula Apresentar as questões econômicas abordadas pelo campo da Macroeconomia através de quatro conceitos-chave: o crescimento econômico; a inflação; as relações externas (dívida externa); a distribuição de renda. 1 2 3 4 5 Pré-requisitos Naturalmente, você se recorda do que estudou em Formação Econômica Brasileira. Pois os princípios abordados naquela matéria, vistos sob a ótica da escassez, que permeia o uso de todos os recursos econômicos, vão ajudá-lo a entender o que será discutido nesta aula. Pronto para aprender?
  • 10. 8 C E D E R J Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia INTRODUÇÃO Figura 1.1: Da tela de Albrecht Dürer, os Quatro Cavaleiros do Apocalipse: a Guerra, a Fome, a Peste e a Morte. No estudo da Macroeconomia, a Inflação, a Recessão, o Endividamento Externo e a Desigualdade Social. Ao iniciarmos o estudo de algum fenômeno ou teoria, precisamos, em primeiro lugar, definir um ponto de partida. Provavelmente, você tem bastante claro que a Economia trata do comportamento do mercado. No entanto, se quiser se ocupar dessa reflexão por mais um momento, vai perceber que o conhecimento macroeconômico parte de princípios gerais que se aplicam a outros ramos do saber. O que é a Economia? O termo “economia” vem do grego, oikos = casa e nómos = distribuição, administração. !!A Economia, grosso modo, é a arte de administrar a casa, o ambiente em que vivemos. Repare que conhecer a origem do termo nos ajuda a compreender nosso alvo de estudo como algo mais próximo, mais palpável. Ou você duvida de que a ecologia, por exemplo, também tem algo a nos dizer sobre a maneira como cuidamos de nossa casa, o planeta? A Economia lida, como princípio, com a noção de escassez, que permeia todas as atividades econômicas. Por escassez queremos dizer que não há recursos disponíveis suficientes para suprir todas as nossas necessidades, sendo
  • 11. C E D E R J 9 AULA 1 necessário, portanto, que saibamos priorizar objetivos e lidar com todas as variáveis envolvidas no processo. Ainda sobre a origem dos termos, pense: será que economia e ecologia têm algo a oferecer uma à outra? Economia ou sistema econômico? Lembre-se: ao longo da aula, você vai conviver com um uso convencionado para o termo “economia”. Compreenda que, ao utilizar esse conceito, estamos nos referindo a um sistema econômico – ou ao conjunto de atividades, de bens e de serviços que movem uma economia. Essas atividades são exercidas pelas empresas e pelo governo, e envolvem todos os indivíduos (consumidores e produtores) concentrados em uma determinada região (um país, um estado, uma cidade). !! O QUE É A MACROECONOMIA? Em termos gerais, a Macroeconomia representa o estudo das grandes variáveis econômicas. Mais precisamente, das variáveis econômicas agregadas. Observe: o termo “agregada” vem do verbo “agregar”, que significar somar, reunir. Assim, as variáveis econômicas agregadas são a soma dos valores de cada um dos elementos que contribuem para a formação de um panorama. Por exemplo: tomemos um gênero alimentício como o arroz. No mercado, o arroz tem seu preço, que varia conforme a dinâmica de todo o sistema. Quando estudamos a Macroeconomia, no entanto, não nos concentramos apenas no nível de preços do arroz. Estudamos como cada fator envolvido no sistema econômico afeta o nível de preços do arroz, do feijão, da carne, dos ovos. Ao longo desta aula, você será capaz de perceber que os preços – ou o nível de preços de um país – podem variar como um todo. Dessa forma, podemos considerar a variável agregada “preço” como um fator homogêneo. A Macroeconomia pode ser entendida segundo quatro variáveis agregadas: o nível de preços, o nível de emprego, a taxa de câmbio e a taxa de juros. Esses elementos se relacionam de forma que um afete
  • 12. 10 C E D E R J Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia todos os outros. Como você verá mais adiante, as interações entre as variáveis macro trazem grandes efeitos à economia. Quatro importantes variáveis da macroeconomia – nível de preços; – nível de emprego; – taxa de câmbio; – taxa de juros.!! MACROECONOMIA OU MICROECONOMIA? A Macroeconomia consiste no estudo do comportamento da economia como um todo, ou seja, de maneira agregada, interdependente. A Microeconomia, por sua vez, concentra-se no comportamento dos consumidores e das empresas, sempre sob a ótica desagregada ou setorial. A Macroeconomia estuda a inflação como problema nacional. A Microeconomia se preocupa com os efeitos das variações de preços sobre as empresas e os consumidores. A Macroeconomia e a Microeconomia constituem a base da teoria econômica. O PREÇO Definidos os conceitos de Economia, Macro- economia e Microeconomia, vamos analisar, uma a uma, cada variável econômica agregada. Para começarmos, apresento a você, neste momento, um importante conceito: o preço. Na forma agregada, o preço representa a soma de todos os preços de todas as empresas que operam em um mesmo sistema econômico (ou em uma mesma economia). Desse modo, encontra-se a variável agregada preço, ou, simplesmente, o nível de preço. Figura 1.2: O preço das ervilhas é determinado pelo lucro do feirante e pelo nível do preço da vagem em todo o mercado. JaneCleary(www.sxc.hu)
  • 13. C E D E R J 11 AULA 1 Figura 1.3: A inflação faz seu dinheiro perder o valor. DavideGuglielmo Quanto custa hoje? Ontem você saiu de casa com dois objetivos muito claros e bem distintos: comprar dez quilos de arroz para uma feijoada para a qual você vai contribuir e sondar o preço daquele automóvel importado que você sonha comprar. Ao passar por dois supermercados, você tem uma surpresa desagradável: o arroz está 10% mais caro. Ainda assim, você compra o arroz e parte em direção a uma revendedora da marca de automóveis que lhe interessa. Chegando à loja, você descobre que o preço do automóvel desejado subiu, embora as outras marcas nacionais tenham mantido seus preços. Dito isso tudo, com base no que vimos sobre preços e inflação, discorra sobre os casos do arroz e dos carros. Em algum ou em ambos os casos pode-se concluir que há um processo inflacionário? _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ Atividade 1 1 4 Sobre a variável preço, vale notar que um dos efeitos de sua dinâmica de alteração é a inflação. A INFLAÇÃO A inflação refere-se a um aumento no nível geral de preços. Opõe-se à deflação, que se refere à diminuição do nível geral dos preços. Ambos os conceitos são conseqüências da alteração do valor do dinheiro – da moeda – e não do valor dos bens. Um exemplo: um quilo de feijão que, na virada do mês, passe a custar 20% a mais em qualquer supermercado onde se procure é uma referência de inflação, caso os outros produtos tenham aumentado 20% em média.
  • 14. 12 C E D E R J Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia Resposta Comentada Não há elementos suficientes para identificarmos com precisão se estamos diante de um processo inflacionário. Se observarmos uma grande quantidade e variedade de produtos poderíamos suspeitar que está havendo um aumento generalizado de preços. Quando o aumento ocorre em um ou poucos dos produtos, o caso pode ser de aumento de preços relativos. Isto é, alguns produtos ficaram mais caros em relação aos outros. Uma seca que tenha atingido a plantação de arroz pode ter prejudicado a colheita do arroz repercutindo para o mercado em elevação de preços. Isso não é inflação. Será se o aumento do preço do arroz causar aumento do preço de um almoço no restaurante, que por sua vez causar aumento no preço do táxi porque o taxista almoça naquele restaurante, e tal aumento no táxi implicar aumento na obturação do dente posto que o dentista vai para o trabalho de táxi e assim por diante. O EMPREGO Uma economia, como um automóvel, precisa de combustível para funcionar. Se tomarmos as empresas como o ambiente onde a economia é impulsionada, vamos concluir que o trabalhador é um dos importantes fatores que movimenta a economia. Vale então definir de forma clara o conceito de emprego. O emprego se refere às posições destinadas ao trabalhador – ou à mão-de-obra – como fator de produção dentro de um sistema econômico. Dentro de uma economia, o nível de emprego depende das expectativas dos empresários em torno do que vão produzir (extensão do ambiente empresarial, do número e do tamanho) das empresas que operam ali e até da utilização de tecnologia que substitua o trabalho humano. A luta por melhores colocações no mercado de trabalho e por níveis mais altos de RENDA permeia toda a história do sistema de produção capitalista. RENDA Provavelmente você já ouviu falar em renda, embora talvez não consiga definir o conceito de forma clara. Pois a renda se refere aos ganhos provindos do trabalho. A renda depende também de inúmeras variáveis, desde a demanda do mercado por trabalhadores de um determinado setor até a oferta de trabalhadores disponíveis para determinada atividade. A desigualdade de renda dentro de uma economia é a base de nossa tão conhecida diferença de classes. Ao longo da História, teóricos dos mais diversos campos tentaram explicar e solucionar o problema da diferença de classes, provindo das diferentes funções que trabalhadores exercem dentro de um sistema econômico e dos diferentes níveis de renda que decorrem dessas atividades. Já houve os que defendessem uma igual remuneração para atividades bastante diferentes entre si, assim como houve os que entendessem o abismo que separa ricos e pobres como uma característica imutável do sistema produtivo. Essa é uma discussão em aberto, que vale ser travada com seus colegas, tutores e professores. Figura 1.4: Sua renda é quanto seu trabalho paga. DJAlemão
  • 15. C E D E R J 13 AULA 1 Figura 1.5: O uso do vapor na produção industrial foi o primeiro grande avanço tecnológico em direção às economias modernas. MikeMcGarry Onde quer que precisem de mim Você é um metalúrgico. Seu país está vivendo um surto de industrialização, e o mercado pede cada vez mais metalúrgicos. No entanto, sua esposa, agrônoma, recebeu uma oferta de trabalho irrecusável em outro país, onde a economia é principalmente rural. Ali, o pequeno mercado ligado à metalurgia fez aparecer cursos práticos ligados à sua profissão. Há metalúrgicos trabalhando, mas há poucas oportunidades de emprego. Suponhamos que, nesse novo país, você acabe conseguindo na sua área um emprego bastante semelhante ao que você tinha no Brasil. O que deve acontecer com a sua renda nesse novo emprego, em seu novo país? _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ Resposta Comentada Provavelmente sua renda vai cair. Se há muitos trabalhadores disponíveis para uma mesma função e se há poucos postos de trabalho à disposição da categoria, provavelmente o empresário pagará menos aos trabalhadores. Como sua renda provém do trabalho assalariado, é seu valor no mercado que vai determinar seu nível de renda. Atividade 2 1 2 3 CRESCIMENTO ECONÔMICO X RECESSÃO O processo produtivo que se percebe dentro de uma economia é algo dinâmico: certos períodos podem apresentar desempenho melhor ou pior, em comparação a períodos anteriores. Daí perceba que, se sob um primeiro olhar trabalhadores e empresários encontram-se em oposição, é o desempenho da economia como um todo que vai determinar seus ganhos e suas perdas. Períodos de alto desempenho para a produção, em
  • 16. 14 C E D E R J Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia princípio, beneficiam a todos e geram o que se chama de “crescimento econômico”. O crescimento econômico representa o aumento das atividades econômicas de um país durante um período de tempo (normalmente um ano). Muitas vezes é medido pelo produto interno bruto (PIB), conceito que abordaremos em nossa segunda aula. Por ora, guarde que o contrário de crescimento econômico é a recessão. Em períodos de recessão, de um ano para o outro, ao invés de produzir mais, o país apresenta níveis de produção e emprego menores. A TAXA DE CÂMBIO Outra de nossas importantes variáveis econômicas agregadas é a taxa de câmbio, ou o preço da moeda nacional em relação à estrangeira. A taxa de câmbio expressa quanto se deve pagar em moeda nacional para adquirir uma unidade monetária de outra moeda, ou seja, de quantos reais precisamos para comprar um dólar, por exemplo. Para cada moeda estrangeira haverá uma taxa de câmbio. Tudo se passa como se a moeda estrangeira fosse uma mercadoria qualquer. A desvalorização da taxa de câmbio significa que a moeda estrangeira encareceu. A valorização do câmbio nos diz que a moeda estrangeira está mais barata. No Brasil, esse equilíbrio entre moedas é administrado pelo Banco Central, em Brasília. Para entender a dinâmica do câmbio, podemos partir de um exemplo bastante simples: imagine que você coleciona um álbum de figurinhas. Você tem o álbum quase completo e tem na manga uma figurinha premiada, a ser trocada por uma outra que lhe falta para completar uma página. Mas então quanto vale aquela figurinha, no ato de trocá-la por outra? Depende. Figura 1.6: Em momentos de recessão, quem mais sofre com os baixos níveis de emprego são os jovens. Por quê? KadriPoldma
  • 17. C E D E R J 15 AULA 1 Entendendo a taxa de câmbio Uma moeda fraca, desvalorizada, tem menor poder de compra, o que quer dizer que fica mais caro importar. Se um real vale um dólar, uma máquina fotográfica de 900 dólares custa 900 reais. Mas se dois reais são iguais a um dólar, a mesma máquina de 900 dólares sai pelo dobro do preço para nós, brasileiros: 1.800 reais. Por outro lado, uma moeda forte, valorizada, estimula a importação, ao mesmo tempo que desestimula a exportação. Se um real vale dois dólares, por exemplo, produtos brasileiros tendem a vender menos no exterior, já que quem trabalha em dólar precisa usar mais dinheiro para comprar um produto fabricado aqui. Voltemos à máquina fotográfica: uma máquina brasileira custa 900 reais. Um real vale dois dólares. Logo, um cidadão norte-americano que queira comprar uma máquina no Rio de Janeiro vai precisar pagar 900 reais, ou 1.800 dólares. Depende de quantas figurinhas iguais àquela estão circulando entre seus amigos. Pois é basicamente assim que o Banco Central opera: se há muitos dólares circulando no país, o preço do dólar cai. Todo mundo tem dólares, ninguém quer comprar, então o valor do dólar vem abaixo. Pois se o Banco Central deseja elevar o preço do dólar, tornando o real mais barato, ele compra dólares no mercado e os soma à sua reserva. O exato oposto acontece quando há poucos dólares no mercado – o que equivale a dizer que o dólar está caro em relação ao real. Neste caso, o Banco Central vende dólares de sua reserva por valor mais baixo do que o praticado pelo mercado. MarcinKrawczyk Figura 1.7: O dólar, que era usado como moeda padrão nas negociações internacionais, vem perdendo terreno para o euro, a moeda da União Européia. ?? CÂMBIO: O PREÇO DE SE NEGOCIAR EM OUTRA LÍNGUA O valor e a aplicação de moedas estrangeiras em um país referem-se às nossas relações comerciais com o resto do mundo. Para entendermos melhor a função do câmbio, podemos nos reportar ao que aprendemos sobre preços e à sua função clássica em qualquer transação econômica: a de coordenar os papéis de compradores e vendedores e a de ajudar a elaborar as decisões de consumidores e produtores. O valor de uma moeda estrangeira então é seu preço. Pois se estamos falando em comércio entre dois países, podemos presumir que
  • 18. 16 C E D E R J Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia cada país vai partir de sua própria moeda para calcular se vale a pena ou não “fazer negócio”. A atratividade de um país para o comércio exterior, assim como o controle que se exerce sobre o fluxo de entrada e saída de capitais, é determinado pelo que se chama de balanço de pagamentos. O balanço de pagamentos é o registro sistemático de todas as transações econômicas envolvendo um país e o resto do mundo (países estrangeiros) durante determinado período. As exportações, as importações e o pagamento dos juros das dívidas contraídas no exterior são alguns dos itens contabilizados no balanço de pagamentos. Tomemos um exemplo prático: se ao Brasil interessa ampliar a venda de algodão ao exterior, por exemplo, e se o país encontra-se em um momento em que as importações em geral superam as exportações, vale a pena baixar o valor do real em relação ao dólar. Fazendo isso, compradores estrangeiros precisarão de menor volume de suas moedas para comprar um produto avaliado em reais. Se o valor do real está mais baixo, fica mais barato comprar algodão brasileiro. Figura 1.8: Imagine que uma balança em equilíbrio tem, de um lado, as importações e, de outro, as exportações. Câmbio Fixo x Câmbio Flutuante A administração da taxa de câmbio depende de uma postura muito definida por parte do governo: a de se instituir o chamado “câmbio fixo”. Neste caso, o governo define um valor estável para a moeda, a partir do qual as operações vão ser realizadas. O contrário existe e chama-se “câmbio flutuante”. Em regimes de câmbio flutuante, o valor da moeda oscila segundo as tendências do mercado exterior. !!
  • 19. C E D E R J 17 AULA 1 O gargalo das exportações Você é o presidente do Banco Central. Em seu gabinete, uma comitiva de grandes produtores brasileiros de soja o aguarda. Eles estão furiosos: suas exportações caíram quase 30% nos últimos meses. Todos eles defendem que é preciso mexer na taxa de câmbio. O dólar, no patamar em que se encontra, inviabiliza a compra da soja por países estrangeiros. O que você faria? Elevaria ou derrubaria o valor do dólar? E como você faria isso, vendendo ou comprando dólares do mercado? ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ Resposta Comentada A soja ou qualquer outra mercadoria a ser exportada está submetida a uma comparação entre duas moedas: a do exportador (aquele que vende para fora) e a do importador (aquele que compra de fora). Se o comprador está pagando muito caro pela soja, é sinal de que sua moeda está fraca em relação à do vendedor – ou do exportador (no caso, os produtores brasileiros de soja). A partir daí, conclui-se que é preciso desvalorizar a moeda do exportador, em relação à do importador. Derruba-se o real e valoriza-se o dólar. Assim fica mais fácil exportar. Duro será convencer a comitiva de importadores de automóveis, que o aguarda no lobby do banco, presidente. Já vimos também como se altera o valor de uma moeda: vendendo-a ou comprando-a no mercado. No nosso caso, queremos que o dólar tenha seu valor aumentado. Logo, precisamos retirar dólares do mercado. O que equivale a dizer que o Banco Central, nesse caso, deve comprar dólares. Atividade 3 1 2 3 4 5 A TAXA DE JUROS Preço, emprego, taxa de câmbio. Uma quarta variável econômica que está no centro de nossas preocupações desta aula é a taxa de juros, ou, sob a ótica do consumidor, quanto o mercado embute no preço de produtos e serviços em função de compras a crédito.
  • 20. 18 C E D E R J Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia Já estudamos o conceito de inflação. Vimos que ele se refere ao aumento da moeda circulante em um país, acompanhado de sua conseqüente desvalorização. Pois a taxa de juros é uma das formas que o mercado encontra para compensar perdas diante da inflação. Quando você deposita uma parte de seu salário em uma caderneta de poupança, sabe que aquela é uma aplicação segura e que rende sempre alguma coisa, por mais modesto que seja esse rendimento. Pois esse rendimento são os juros que você recebe do banco. Aqueles mesmos juros dos quais você reclama quando compra alguma coisa a prazo ou quando toma um empréstimo bancário. É que aí é você quem paga os juros. Vimos então que uma elevação da taxa de juros prejudica as pessoas que compram a prazo. Esses consumidores vão pagar mais caro por seus financiamentos. Por outro lado, aqueles que aplicam seus recursos no mercado financeiro ficarão muito contentes ao receber mais, graças ao aumento dos juros. Comprando devagar Deu no jornal: os juros subiram mais de dez por cento. Absurdo. E você ainda precisa comprar um fogão novo, é urgente. Na caderneta de poupança, você tem três vezes o valor do fogão, embora tenha se planejado para não usar esse dinheiro. Sua idéia era pagar prestações a partir do seu salário, já que em poupança não se mexe. Mas e agora? Será que com os juros muito mais altos do que aqueles que você viu no mês passado continua valendo a pena comprar a prazo? _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ Resposta Comentada Embora seu dinheiro aplicado na caderneta de poupança venha render o aumento dos juros, nas compras a prazo implicará pagar muito mais por um determinado produto. Se você tem o dinheiro para cobrir o preço do fogão, vale mais a pena comprar à vista e depositar na poupança o que você havia planejado usar nas prestações. Atividade 4 1 2 3 4
  • 21. C E D E R J 19 AULA 1 Mercado Financeiro e Especulação No filme Rogue Trader (1999), do diretor inglês James Dearden, um operador da Bolsa de Valores do sudeste asiático joga de forma arriscada com tendências do mercado financeiro e acaba por causar a falência de um dos maiores bancos da Grã-Bretanha. A história é real e serve para ilustrar o funcionamento do mercado de ações. A Economia em Desequilíbrio Um bom exemplo do que acontece com uma economia em desequilíbrio está no documentário Roger & Me (1989), do diretor americano Michael Moore. No filme, uma cidade do interior dos Estados Unidos sente os piores efeitos de uma indústria especializada que fecha suas portas: desemprego, esvaziamento econômico, depreciação imobiliária; a economia local vem abaixo. Sugestão: visite ao site http://www.imdb.com/title/tt0131566/] AS VARIÁVEIS E SUAS DECORRÊNCIAS Essas quatro variáveis agregadas das quais a Macroeconomia se ocupa (guarde, vai ser útil: nível de preços, salários, taxa de câmbio, taxa de juros) irradiam seus efeitos sobre grandes questões nacionais, como o crescimento econômico do país, a inflação, o comércio exterior, representado pelo balanço de pagamentos, e a distribuição de renda. Hoje, uma das maiores preocupações nacionais ao redor do mundo é a competição pelo ambiente industrial perfeito. No momento, as Américas encontram-se negociando acordos multilaterais, dentre os quais a Alca e o Nafta se destacam. A idéia, que segue a tendência atual de que países se organizem em blocos, tenta regular as relações comerciais e culturais entre os países da região, de modo que o crescimento e o desenvolvimento econômicos sejam sentidos por todas as nações envolvidas de forma relativamente eqüânime. A agilidade ou a lentidão desse processo está submetida a uma enormidade de fatores, dentre os quais e de forma prioritária os políticos.
  • 22. 20 C E D E R J Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia O caso mexicano Acompanhe um caso: nos últimos anos, o México assumiu uma posição mais próxima da economia americana, investindo nessa crença de que faria parte de um sistema econômico maior. Como as leis de defesa ambiental mexicanas são mais flexíveis do que as americanas, e como a mão-de-obra mexicana é mais barata do que a empregada nos Estados Unidos, o México acabou se tornando um belo ambiente para a instalação de indústrias dedicadas a finalizar produtos feitos nos Estados Unidos. No México, essas indústrias receberam o nome de maquiladoras – ou “maquiadoras”, em bom português. As maquiladoras foram responsáveis pelo aquecimento da economia mexicana durante um determinado período. No entanto, diante da eterna busca pelo melhor ambiente industrial, o México vem perdendo terreno para países emergentes como a China, onde a mão-de-obra é ainda mais barata. O processo pode não ter fim. Enquanto isso, nos Estados Unidos, em áreas anteriormente dedicadas à produção industrial, já se fala no surgimento de um Cinturão de Ferrugem (Rust Belt). Para saber mais sobre esse tema, digite “cinturão de ferrugem” ou “rust belt” em um mecanismo de buscas da internet. Há artigos nos jornais O Estado de S. Paulo e The Washington Post. ?? Já está claro que a instalação de indústrias ou de qualquer outro incremento a sistemas econômicos locais está subordinada a variados fatores, desde regras de proteção ambiental até facilidade de transportes, preço da mão-de-obra, proximidade dos mercados consumidores, clima. Tudo influencia no desenvolvimento da economia. Então, ao ler jornais ou assistir à TV, fique atento para perceber que um surto de desenvolvimento local nunca acontece por acaso ou milagre. Figura 1.9: Quando uma grande indústria fecha suas por- tas, não são só suas instalações que sentem os efeitos. TripFontaine(www.sxc.hu)
  • 23. C E D E R J 21 AULA 1 AS VARIÁVEIS APLICADAS A taxa de juros sobre o mercado A taxa de juros, ou seja, aquilo que se paga de juros por pegar dinheiro emprestado, afeta os investimentos dos empresários. Acompanhe: se houver elevação da taxa de juros, os empresários que precisarem recorrer aos bancos para conseguir dinheiro a fim de comprar novas máquinas, por exemplo, vão verificar que está mais caro investir. Logo, tendem a ficar desestimulados para tal. Ainda que eles tenham o dinheiro, poderão perceber que aplicar no mercado financeiro, ou poupar, em vez de investir na compra de máquinas, pode ser mais lucrativo. Assim, a elevação dos juros inibe os investimentos em recursos produtivos (aqueles destinados a aumentar a produção) e estimula a poupança. Muito bem: se os empresários investem menos, como conseqüência, a produção deverá crescer menos. E como produção menor implica menos emprego, percebemos como a taxa de juros pode afetar o nível de emprego de uma economia. Leia isso de novo. Visualize. Juros, para que te quero? Atividade 5 2 3 4 5 Foi dado pelo Banco Central o sinal verde para mais um aumento na taxa de juros. Diferente do que havia declarado há uma semana o presidente do BC, Henrique Meirelles, a partir de amanhã o mercado opera com um aumento de 0,25 ponto percentual. ECONOMIA BC anuncia aumento de 0,25 ponto na taxa de juros
  • 24. 22 C E D E R J Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia Tomando por base os dois fragmentos de notícia, reflita e responda: de que maneira uma elevação da taxa de juros, acompanhada das restrições para a exportação, pode influenciar no preço da geladeira e na sua idéia de comprar uma geladeira? _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ Resposta Comentada Se os juros subiram, isso significa que o financiamento para as compras a prazo está mais caro. Logo, quem pretendia comprar a prazo vê-se estimulado a poupar mais para se beneficiar dos juros pagos pelo banco, até que possam comprar sua geladeira à vista. Ao mesmo tempo, se o mercado dos produtores brasileiros de geladeiras na Argentina foi limitado, isso equivale a dizer que a procura por geladeiras caiu, o que fará aumentar a oferta dela no Brasil. Se já há um estoque formado, é possível que os produtores sejam obrigados a baixar os preços, a fim de escoarem a produção. No meio disso, talvez você consiga até comprar a geladeira à vista. Em mais um capítulo da dura negociação comercial entre Brasil e Argentina, o presidente argentino Néstor Kirchner declarou ontem ser necessário frear o que classificou como uma “invasão brasileira”. O alvo da vez é o setor de eletrodomésticos, que tem na Argentina um de seus principais compradores. A partir de segunda- feira, passam a vigorar naquele país taxas mais altas para a importação de refrigeradores brasileiros. Retornam hoje, pelo porto de Santos, dez cargueiros carregados de refrigeradores brasileiros que foram retidos na Argentina. MUNDO Argentina quer frear "invasão brasileira" A RENDA E A QUESTÃO SALARIAL Os salários são uma via de mão dupla: de um lado, representam a fonte de renda da maior parte da população. De outro, uma importante variável de custos para as empresas. Da mesma forma, um reajuste salarial estimula o consumo, ao mesmo tempo que eleva os custos da empresa.
  • 25. C E D E R J 23 AULA 1 Voltando ao caso do México e ao que explicamos sobre ambientes industriais perfeitos, perceba que países como a China hoje representam um bom espaço para montar uma indústria multinacional, inclusive porque ali a mão-de-obra é muito mais barata do que nos países de origem dessas empresas. Mais adiante: já vimos que um aumento salarial eleva os custos de produção. Agora perceba que esse aumento no custo pode ser repassado para os preços. Se isso se repetir como um processo contínuo e geral (em toda a economia), pode-se assistir ao início de um momento de inflação. A inflação, como você já viu, refere-se ao aumento da moeda circulante em um país. Então perceba: se você ganha mais e o empresário repassa para os preços o novo custo que você gerou, tudo fica mais caro. Se você ganha mais e tudo fica mais caro, o dinheiro vale menos. Acompanhou? Esse processo acaba retirando mais uma vez o poder aquisitivo dos trabalhadores, que, novamente, vão reivindicar outros reajustes. No final da bola de neve, pode se formar um círculo vicioso e inútil de “salários versus preços”, tal qual um cão que tenta morder a própria cauda. A discussão mais detalhada sobre esse aspecto é um dos grandes temas da economia, mas não trataremos dele agora. O que nos interessa saber, no momento, é que os salários são fonte de renda para as famílias e custo para as empresas. Podem, em momentos de elevação, atrair novos empregos e gerar mais consumo. Porém, ao mesmo tempo, causar maiores custos e repasses aos preços. Parabéns, você está um pouco mais rico. Este é seu contracheque. Dois salários mínimos. Atividade 6 1 2 4
  • 26. 24 C E D E R J Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia Esta é a geladeira dos seus sonhos: Isso você leu hoje no jornal: E agora? O que deve acontecer com o preço da sua geladeira Brasfreezer? Justifique sua resposta. ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ Resposta Comentada Provavelmente, o preço da sua geladeira vai subir junto com seu salário. Você é o consumidor do produto que ajuda a fabricar. Se o patrão precisa aumentar seu salário, ele vai passar por uma elevação em seus custos, o que precisa ser compensado de alguma forma. Logo, a menos que seu patrão esteja disposto a ver seu lucro diminuir, ele irá repassar o aumento do custo salarial para o preço da geladeira. Portanto, se de um lado você está ganhando mais, porém os preços das coisas estão mais elevados, é possível que seu poder de compra fique como antes. ECONOMIA Novo salário mínimo é de 350 reais Em pronunciamento em rede nacional de TV, o Presidente Luis Inácio Lula da Silva anunciou, na noite de ontem, um novo patamar para o salário mínimo. A partir desta segunda-feira, o mínimo passa a 350 reais, nível mais alto desde...
  • 27. C E D E R J 25 AULA 1 Maior remuneração e menor inflação? Talvez você esteja se perguntando se é possível que, em algum caso, um aumento na remuneração não seja inflacionário. A resposta é: claro que sim. Pense em um trabalhador produzindo, por dia, mil mercadorias que, vendidas, valem R$ 1.500,00 (desconsidere qualquer outro custo de produção que não seja o do trabalho). Se sua produtividade – ou quanto o trabalhador produz em média a cada período de trabalho – for dobrada (duas mil mercadorias por dia), o trabalhador pode receber um aumento de renda de até 100%, e tal aumento não será inflacionário. Isto porque ele está reivindicando para si apenas o acréscimo de lucro que sua produtividade gerou. Você está ganhando em cima de um crescimento econômico que gerou com seu trabalho. Moral da história: os aumentos de remuneração em função da produtividade não representam aumento de custos. Portanto, não são inflacionários. !! A TAXA DE CÂMBIO E O BALANÇO DE PAGAMENTOS A taxa de câmbio (ou o valor, o preço da moeda nacional em relação ao da estrangeira) afeta o nível de preços e as exportações. Veja que quando o preço do dólar aumenta (nosso câmbio desvalorizado), comprar um produto importado no supermercado fica mais caro. Exemplo: suponha que a taxa de câmbio esteja assim: 1 dólar = 1 real (U$ 1: R$ 1). Daí, um uísque importado ao preço de um dólar valerá, no supermercado, exatamente um real (desconsidere o lucro do supermercado e outros itens de custos). A partir daí, se houver uma desvalorização do real de forma a cotar 1 dólar = 2 reais, então você pagará 2 reais para adquirir o mesmo uísque. Como os preços dos importados aumentam, é de se esperar que aqui se comprem menos importados. Assim, diminuem as importações.
  • 28. 26 C E D E R J Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia Agora, se a taxa fosse 2 dólares = 1 real (valorização cambial de nossa moeda), o uísque estaria custando 50 centavos de real. Seria um produto importado mais barato do que o similar nacional, o que nos estimularia a comprá-lo, em detrimento daquele genérico brasileiro. Mas veja, a desvalorização do câmbio é um dos fatores que podem afetar a inflação. Eis um caso: o trigo é um insumo importado para a produção do pão, uma matéria-prima. Se houver desva- lorização da moeda nacional, o preço do trigo importado aumenta, e, por conta disso, poderá haver o repasse desse aumento para os preços na padaria. Em geral, com a desvalorização, todas as matérias- primas importadas sofrerão aumento de preços, com repasses para os preços dos produtos manufaturados, finalizados. LeonardoNovaes Figura 1.10: O trigo que seca nos campos não vira pão, vira aumento de preço. O salário é “imexível” Você trabalha no Banco Central. O presidente, em reunião ministerial, anuncia sua intenção de reduzir a inflação. Só que ele não aceita instituir mecanismos de redução salarial, tampouco admite aumento nas taxas de juros. Através da taxa de câmbio, o que você pode sugerir? ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ Resposta Comentada Ao vender dólares no mercado e ao valorizar a taxa de câmbio, o real subirá na cotação em relação ao dólar. Assim, tudo o que se compra em dólares precisará de menos reais na hora da conversão de uma moeda à outra (a taxa de conversão é a taxa de câmbio), ou seja: os produtos importados, as passagens aéreas ao exterior, as compras que se fazem quando se está em outros países etc. estarão mais baratos. Nos efeitos sobre a inflação, pode-se afirmar: ela deverá diminuir. Os produtos importados que servem como matéria-prima ou como insumo à produção estarão mais baratos. Isto implica dizer que os custos com as compras de bens importados estarão menores, o que possibilita queda nos preços. Conclusão: a valorização cambial tem um efeito antiinflacionário, posto que os custos com matérias-primas e insumos importados diminuem. Pode-se, portanto, repassar essa diminuição de custos aos preços, ocasionando a redução da inflação. Atividade 7 3 4 5
  • 29. C E D E R J 27 AULA 1 O nível de preços e seu bolso vazio São vários são os efeitos da elevação de preços. Por ora, vamos citar a redução do poder de compra dos salários e a conseqüente queda na demanda agregada (a demanda total da população por um determinado item), ou seja: a redução dos níveis de compra. OS CAVALEIROS DO APOCALIPSE Recessão. Inflação. Dívida externa alta. Níveis complexos de concentração de renda. Ao falar desses problemas, você se recorda de algum país que esteja passando – ou que tenha passado – por tais situações? Se pensou no Brasil, meus parabéns: você está atento ao que acontece ao seu redor. Ainda assim, posso dizer: dos cerca de 200 países existentes no planeta, a ampla maioria enfrenta ou já enfrentou tais desafios. Vale também dizer que todos esses precisam da análise macroeconômica para ajudá-los a solucionar os problemas de baixo crescimento econômico, desemprego, dívidas externas e má distribuição de renda. A recém-criada União Européia, por exemplo, está reorganizando os fluxos produtivos e populacionais do Velho Mundo. Cidades como Frankfurt, na Alemanha, têm suas ruas próximas às estações de trem tomadas por imigrantes do Leste europeu, que, liberados pelo fim da barreiras impostas pela extinta União Soviética, acorrem à Europa Ocidental em busca de oportunidades melhores de emprego. Muitos deles começam a formar uma nova população de desabrigados e desempregados (ver tabela). Tess Figura 1.11: Se o nível de preços da economia sobe, os efeitos são sentidos nos mercados e em sua geladeira.
  • 30. 28 C E D E R J Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia Países da União Européia (EUR 15) Taxas de desemprego e distribuição do emprego Total pelos setores de agricultura, indústria e serviços – 1993 Tabela 1.1: Taxas de desemprego e de emprego por setores dos quinze países que integram a União Européia País Taxa de Desemprego (%) Emprego na Agricultura (%) Emprego na Indústria (%) Emprego nos Serviços(%) Bélgica 9,4 2,9 30,9 66,2 Dinamarca 10,3 5,2 27,4 67,4 Alemanha 7,2 3,7 39,1 57,2 Grécia 7,7 21,9 25,4 52,8 Espanha 21,8 10,1 32,7 57,2 França 10,8 5,9 29,6 64,5 Irlanda 18,4 13,8 28,9 57,1 Itália 11,1 7,9 33,2 59,0 Luxemburgo 2,6 3,1 29,6 67,3 Holanda 8,8 3,9 25,2 70,9 Áustria 3,6 7,1 35,6 57,4 Portugal 5,1 11,5 32,6 56,0 Finlândia 17,9 8,6 27,8 63,5 Suécia 8,1 3,2 26,6 70,1 Reino Unido 10,4 2,2 30,2 67,5 Fonte: Eurostat/IPEA. O Brasil já se consagrou campeão mundial de futebol, vôlei e boxe, não é mesmo? Mas é também medalhista em outros esportes: já foi campeão em maior inflação, maior taxa de juros, menor salário mínimo, maior concentração de renda... !!TRADE-OFF: OS PÉS OU A CABEÇA? Você já ouviu falar do problema do “cobertor curto”? Numa noite de inverno, ao dormir com um desses ingratos elementos macroeconômicos, você passa por um difícil e nunca satisfatório dilema:
  • 31. C E D E R J 29 AULA 1 ou bem cobre a cabeça, deixando os pés ao frio, ou faz o contrário. Isto significa que não há solução ótima. Pois na Macroeconomia isso também ocorre. O trade-off é uma expressão inglesa que, em economia, representa uma situação-dilema (ou um conflito de decisão), em que uma ação em proveito de alguma coisa dificulta uma outra. Você poderia pensar: basta que os economistas tomem medidas para baixar a inflação, estimular a iniciativa privada (nossos empresários), aumentar a produção e o emprego, elevar as exportações para adquirir dólares para saldar a dívida externa e distribuir a renda. O caso é que, infelizmente, há algo que complica um pouco essa história: é o chamado trade-off, que ocorre na hora de procurar resolver tais problemas econômicos. Creio que já reunimos os elementos básicos para entender um pouco da complexidade que envolve os problemas macroeconômicos. Pois se um país tem como metas diminuir a inflação, o desemprego, a dívida externa e melhorar a distribuição da renda, o que se deve fazer? Se utilizarmos as variáveis juros, câmbio, preços e salários, podemos até amenizar um desses problemas. No entanto, fatalmente a gravidade de algum dos outros irá se aprofundar. Como assim? Suponha que a política econômica de um país seja a de elevar a taxa de crescimento econômico. Ao diminuir a taxa de juros, os empresários irão investir mais, aumentando o emprego e a produção. Isso é positivo, mas outras coisas não tão positivas também podem ocorrer: taxas de juros mais baixas aumentam o consumo, o que estimula os empresários a aumentar os preços. Esta última relação será tanto mais forte quanto mais intenso for o crescimento da demanda pelos produtos e serviços. Quando os empresários produzem mais, além de contratar mais pessoas, eles também compram mais insumos importados. Desse modo, gastam dólares que poderiam ser utilizados para pagar a dívida externa. Tudo isso pode acontecer em maior ou menor grau de intensidade. Tudo depende de em que nível esteja o desenvolvimento do país em questão ou sua situação econômica. Se o objetivo do país for baixar a inflação, então é preciso conter o nível salarial da população, para que não haja pressão de custos sobre os preços. Parece um pouco chocante, mas lembre-se de que, para a empresa, salário é custo.
  • 32. 30 C E D E R J Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia A diminuição da margem de lucro dos empresários também contribui para reduzir a inflação. Essa diminuição pode ser feita com um volume maior de importações, já que isso impõe uma maior concorrência às empresas nacionais. Ao mesmo tempo, fazer isso é desestimular o crescimento econômico local. Outra séria conseqüência de uma redução no nível salarial é o aumento da concentração da renda da população, problema que conhecemos bem. Em suma, temos aí o trade-off do “cobertor curto”: ao se resolver um problema, quase sempre acentua-se algum outro. É preciso priorizar o que se quer: primeiro combater a inflação e depois fazer o país crescer? Ou o contrário? Essa é uma discussão que permeia todos os momentos políticos dos países, e normalmente é solucionada nesse mesmo ambiente político. Vale notar que, até pela natureza do “cobertor curto”, não há solução puramente técnica para os impasses de que trata a Macroeconomia. CONCLUSÃO Crescimento ou desenvolvimento? Trecho retirado da edição 236 (25/11/02) da revista Época: “Provocado a comparar suas idéias com as do ministro preferido dos militares, Delfim Netto, e as do ex-minstro Pedro Malan, o atual ministro da Fazenda Antonio Palocci faz uma didática culinária. ‘Nem acreditamos que primeiro é preciso crescer o bolo para depois repartir (tese dos anos verde- oliva), nem que o bolo se divide sozinho (tese de Malan). Vamos dividir o bolo durante o crescimento.’ Em outras palavras: Palocci pode até usar o idioma de Malan e receber elogios de Delfim, mas promete ser diferente.” ?? Figura 1.12: Em Economia, há sempre um pé que fica de fora. A grande questão é decidir qual deles. CrisWatk
  • 33. C E D E R J 31 AULA 1 Quatro problemas (macro) econômicos nacionais – inflação; – crescimento econômico baixo; – dívida externa alta; – má distribuição de renda. !! A Macroeconomia trata as questões econômicas de maneira agregada. Estas são inter-relacionadas e constituem um desafio à política econômica. Muitas vezes, ao se tentar resolver um problema macro, um outro pode surgir. Muitas vezes, esse dilema é posto de maneira a exigir uma escala de prioridades, já que não se consegue resolvê-los simultaneamente. Ao final desta aula, tendo visto os temas ligados à Macroeconomia e compreendido alguns dos processos de interação entre as variáveis macroeconômicas, eis algumas colocações no mercado de trabalho a serem ocupadas por economistas: • no Ministério da Fazenda, assessorando o ministro em questões nacionais; • em empresas multinacionais, onde tenha a função de estudar o comportamento econômico das empresas concorrentes; • no mercado financeiro, pois ali terá que verificar quais títulos financeiros darão maior rentabilidade com o menor risco; • em bancos comerciais (ex.: Banco do Brasil), uma vez que sua tarefa diária será estimar o volume de recursos que podem ser emprestados aos setores público e privado; • no setor imobiliário, no departamento de lançamentos de prédios de luxo. Cada um desses itens, em maior ou menor intensidade, pode representar algo que utilize o conhecimento macro adquirido.
  • 34. 32 C E D E R J Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia (...) os indicadores da atividade mostram que a economia brasileira, com variação de mais de 5% do PIB em 2004, vive auspicioso momento expansionista que induz a maior investimento, maior emprego e maior consumo. Isso é tudo o que um governante torce para ter e o que toda sociedade almeja, desde que não implique na [sic] volta da espiral inflacionária (jornal Valor Econômico, editorial, p. A14; 18/12/05). Com o que você estudou nesta aula e munido das informações contidas no texto, explique o porquê do risco da espiral inflacionária. Resposta Comentada A citada variação de mais de 5% do PIB significa a magnitude do crescimento econômico do Brasil em 2004. Como sabemos, quando a economia cresce, os empresários vendem mais e fazem mais investimentos. Claro que ao vender e investir mais, eles estão contratando mais funcionários. Com mais salários, o consumo aumenta no país. O risco da inflação está na pressão desse maior consumo sobre as vendas. Afinal, se há maior demanda, há maiores vendas e o risco de proporcionar maiores preços. Com o aumento de preços pode-se ter mais inflação, o que fará o poder aquisitivo dos salários diminuir. A partir daí, pode ser gerada uma corrida de reajustes de salários que acabem representando um aumento de custos e preços, ou seja: está presente na notícia do jornal a relação entre a meta de crescimento econômico e o efeito colateral de gerar inflação. Atividades Finais 54 A Macroeconomia consiste no estudo e na análise das variáveis econômicas de forma agregrada (juros, salários, câmbio, preços) e dos principais problemas econômico-sociais (crescimento econômico, inflação, dívida externa, distribuição de renda). As variáveis tratadas aqui influenciam os problemas econômicos de maneira tal que podem, ao mesmo tempo, reduzir a gravidade de um e acentuar outro. Todo o estudo da Economia, seja a macro ou a micro, aborda o problema da escassez, princípio segundo o qual não há recursos suficientes para atender a todas as demandas geradas em um sistema econômico. R E S U M O 321
  • 35. C E D E R J 33 AULA 1 A Economia lida com a articulação entre suas variáveis, e é assim, de forma combinada, que tenta resolver problemas em um ou outro setor de atividades. Cada variável econômica agregada apresentada nesta aula interfere nas demais, e a forma como vão ser aplicados os conceitos econômicos vai ser sempre bastante particular, levando em conta as características próprias de cada sistema econômico. INFORMAÇÕES SOBRE A PRÓXIMA AULA Ao longo desta disciplina, você terá uma visão geral do que se estuda em Macroeconomia, uma das mais importantes disciplinas estudadas pelo curso de Ciências Econômicas. Ali, a Macroeconomia está dividida em três semestres. Nós, por outro lado, preferimos enfocar esta matéria no nível do interesse e da importância que se observa para um futuro administrador de empresas. Na próxima aula, começaremos a abordar a produção e o crescimento econômico de um país. Veremos ainda como se mede seu nível de atividade econômica. Você já ouviu falar em PIB (Produto Interno Bruto) na disciplina Formação Econômica do Brasil, certo? Pois vamos voltar a falar disso na Aula 2.
  • 36.
  • 37. Medindo as atividades econômicas Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: definir produto interno bruto (PIB); verificar a utilidade do PIB como indicador das atividades econômicas; diferenciar PIB real, PIB nominal, deflator do PIB e PIB per capita. 2objetivos AULA Meta da aula Apresentar o conceito de Produto Interno Bruto, suas aplicações, suas variáveis e seus desdobramentos. 1 2 3
  • 38. 36 C E D E R J Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas INTRODUÇÃO Quem nunca se viu, mesmo quando bem jovem, diante de um lampejo de curiosidade sobre algum fato econômico? Ainda que nunca tenha estudado uma única linha sobre economia, quem nunca se perguntou, por exemplo, algo tão esdrúxulo quanto “qual seria o valor somado de todos os salários ou rendas do Brasil”? E se existisse um megamilionário tão afortunado quanto excêntrico que desejasse comprar tudo o que o Brasil produziu em um ano? Como você poderia chegar a esse valor? Por trás dessas inusitadas perguntas estão outras um pouco mais técnicas: como se avalia o crescimento econômico de um país? Por que a renda de um país é exatamente igual à despesa? Qual o peso da produção industrial ou agropecuária na produção total do país? O elemento básico para responder a tais perguntas está na sigla econômica mais popular de todos os tempos: de uma forma ou de outra, não há quem nunca tenha ouvido falar do PIB. O QUE É O PIB? O produto interno bruto (PIB) representa a estimativa do valor de tudo que foi produzido por um país em determinado período. Este valor é calculado com base nos preços de mercado, leva em conta apenas os bens e serviços finais (aqueles destinados diretamente ao consumidor final); o período tomado como base pode ser anual, semestral etc. COMO SE CALCULA O PIB? Tudo se passa como se contratássemos alguém para, desde o primeiro até o último dia de um ano, anotar os preços de todos os bens e serviços finais gerados dentro do território nacional. Nesse caso, teríamos o PIB anual do país. Figura 2.1: Carregamento embarcado em contêineres, rumo a mercados externos. ErikJaspers(www.sxc.hu)
  • 39. C E D E R J 37 AULA 2 Para efeito ilustrativo, suponha que, no ano X, um país tenha produzido apenas três produtos (a, b, c), da seguinte forma: Assim, o pib desse país seria: PIB = (2 x 2) + (4 x 3) + (1 x 5) = R$ 21 Lembre-se de que o PIB se refere à soma de tudo o que foi produ- zido em um país. Assim, poderíamos dizer que o valor de tudo que foi produzido naquele país, durante o ano, foi de R$ 21,00. O CONCEITO EM DETALHES Vamos esmiuçar um pouco alguns dos termos que definem o que seja PIB. Para começo de conversa, é importante guardar que o PIB é avaliado em termos do valor de mercado, ou seja, a partir dos preços que são praticados no mercado de bens e serviços. Os preços que você vê nos supermercados, feiras, lojas etc. Quando falamos em bens e serviços finais, queremos mostrar que nossa conta não inclui os bens intermediários, já que estes já estão inseridos nos preços dos bens finais. Por exemplo: o valor do trigo, que serve de matéria-prima à produção do pão, não é contabilizado no cálculo do PIB. Como no valor do pão já está embutido o valor do trigo, o trigo acaba sendo considerado indiretamente. Perceba: se somássemos o valor do trigo (insumo do pão) ao do pão, estaríamos contando o trigo duas vezes. Isso acarretaria o que se chama de erro de dupla contagem no cálculo do PIB. Produto Quantidade produzida (q) Preço de mercado (p) R$ A 2 2 B 4 3 C 1 5
  • 40. 38 C E D E R J Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas QUAL O EFEITO DOS PREÇOS SOBRE O PIB? A essa altura, você já guardou que o PIB é uma medida da atividade econômica ligada à produção de bens e serviços finais. Pois como este indicador é calculado com base nos preços dos bens e serviços, é coerente pensar que seu valor será influenciado pela variação de preços. Então note que, por ser um índice relacionado à produção e ao nível dos preços no mercado, a elevação dos preços irá afetar o valor do PIB, mesmo que a quantidade produzida permaneça a mesma de um ano para o outro. Voltemos à primeira tabela: Suponhamos novamente que, no ano x, um país tenha produzido apenas três produtos (a, b, c), da seguinte forma: Produto Quantidade produzida (q) Preço no mercado (p) R$ A 2 2 B 4 3 C 1 5 Com quantos pneus se faz um carro Uma montadora de automóveis compra de outra empresa os pneus para a produção de seus veículos. Cada carro, é importante lembrar, chega ao consumidor final com cinco pneus: um em cada roda, mais um estepe. O conjunto de cinco pneus é vendido à montadora por R$ 500. Os carros, depois de prontos, são cotados por R$ 5 mil. Agora responda: para o cálculo do PIB, qual será o montante a ser considerado na produção de dois automóveis? Resposta Comentada No cálculo do PIB, o valor a ser considerado para a produção de dois automóveis é de R$ 10 mil. Se o preço final de cada carro é de 5 mil e se os pneus são bens intermediários à produção dos carros, então os pneus já estão incorporados ao preço final dos carros. Caso somássemos a esses R$ 10 mil os bens intermediários (ou dez pneus, cinco para cada carro), teríamos para o cálculo do PIB o valor de R$ 11 mil, o que causaria certa discrepância na soma final. Este é um exemplo do erro da dupla contagem. Ou seja: neste caso, os pneus teriam sido contados duas vezes: na venda para a montadora e na venda para o consumidor final. Atividade 1 1
  • 41. C E D E R J 39 AULA 2 Assim, o PIB desse país seria: PIB = 2 x 2 + 4 x 3 + 1 x 5 = R$ 21,00 Agorasuponhaquetodosospreçostenhamdobrado, mas que a quantidade produzida tenha permanecido a mesma. Observe que, neste caso, o PIB terá dobrado (PIB = R$ 42). Essa discrepância causará uma grave distorção para um indicador com a função de informar a variação da produção total (agregada). COMO ISOLAR O PIB DO NÍVEL DE PREÇOS? Uma forma de evitar a influência da variação de preços sobre o cálculo do produto interno bruto consiste em medir o PIB em termos reais. Daí, surgem dois conceitos de PIB: um seria o PIB nominal, que representa o PIB a preços correntes, ou o PIB baseado nos preços praticados pelos mercados. O outro, que denominamos PIB real, consiste no valor do produto interno bruto em termos de preços constantes, a partir de um ano considerado como base de referência. Guarde então: suponha que, em 2003, a produção brasileira de bananas tenha chegado ao patamar recorde de x toneladas. Se em 2004 o preço das bananas tiver dobrado no mercado, ainda que a produção tenha se mantido a mesma do ano anterior, nossa soma de todo o dinheiro gerado pela produção de bananas vai dobrar junto com os preços. Uma pessoa desavisada poderia olhar esse novo valor do PIB e concluir que o país alcançou novo recorde produtivo, mas, na verdade, o patamar da produção de bananas é exatamente o mesmo, o que se alterou foi o valor do PIB nominal. Se quisermos avaliar apenas o nível de produção de bananas brasileiras, precisaremos comparar pelo menos dois anos. Então contabilizamos a produção de 2003 e, em 2004, consideramos os preços de 2003. Assim se calcula o PIB real. Aumento na produção ou nos preços? Se o PIB aumentou de um ano para o outro, pelo menos uma das duas coisas ocorreu: ou o país elevou a quantidade produzida em sua economia ou os bens e serviços sofreram aumentos de preços.!!
  • 42. 40 C E D E R J Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas Ano Bananas(QB) Preço (PB) R$ Veículos (Qv) Preço (Pv) R$ PIB= (PBQB+PVQV) R$ 2002 100 1 20 50 1.100 2003 120 2 30 60 2.040 2004 140 3 40 70 3.220 PIB REAL: UM EXEMPLO SIMPLES Suponha que, ao longo de três anos, um país tenha produzido apenas dois bens (bananas e veículos). A quantidade produzida, os preços e, por conseguinte, o PIB nominal em cada um desses anos estão relacionados a seguir: Sendo: QB a quantidade de bananas produzidas; PB o preço das bananas; QV a quantidade de veículos produzidos; PV o preço dos veículos no mercado. Inicialmente, observe que o PIB nominal aumenta de um ano para o outro. Essa elevação deve-se ao crescimento da produção, mas também à elevação de preços. Se o nosso interesse for calcular o aumento real da produção, ou seja, aquele não-afetado pelo crescimento dos preços, temos que utilizar o conceito de PIB real. O primeiro passo será escolher um ano-base, ou de referência. Os preços dos produtos naquele ano é que serão utilizados como referência para o cálculo do PIB real nos anos subseqüentes. Para o cálculo do PIB real, portanto, não utilizamos os preços do ano vigente, mas sim os preços do ano de referência. De resto, procedemos da mesma maneira que procedíamos para o cálculo do PIB nominal (preço do produto x quantidade do produto).
  • 43. C E D E R J 41 AULA 2 A partir da tabela abaixo, tome o ano de 2002 como seu ano-base. A partir daí, como você calcularia o PIB real em cada um dos períodos seguintes? Resposta Comentada Em 2002, o PIB real é 1.100. Como? (100 x 1) + (20 x 50) = 1.100; em 2003, é 1.620. Como? (120 x 1) + (30 x 50) = 1.620; e em 2004, o PIB real é 2.140, já que (140 x 1) + (40 x 50) = 2.140. Como você já viu, o PIB nominal utiliza os preços vigentes em cada ano, enquanto o PIB real fixa os preços de um ano como base para calcular apenas as variações nas quantidades produzidas a cada período. Assim, o PIB real torna-se uma medida mais adequada para estimar a produção total de bens e serviços finais de um país. Atividade 2 2 Ano Bananas Preço R$ Veículos Preço R$ PIB Real*(PBQB+PVQV) R$ 2002 100 1 20 50 2003 120 2 30 60 2004 140 3 40 70 O DEFLATOR DO PIB Como vimos até aqui, variações nos preços dos produtos representam um importante fator a ser considerado no cálculo do PIB de um país. Agora perceba que, quando comparamos um período a outro, somos capazes de identificar comportamentos e tendências dos mercados. Para que tenhamos uma medida da elevação média do nível de preços do final de um ano para o outro, basta que calculemos o que se denomina deflator do PIB. Na aula anterior, você viu que o conceito de inflação se refere a uma gradual perda de valor do dinheiro, diante de um aumento generalizado de preços. Agora note que o deflator do PIB é o índice destinado a isolar o fator inflação do cálculo do produto interno bruto de um país, em um determinado período. O deflator nos dirá qual parte do aumento do PIB nominal cabe somente ao crescimento dos preços e nos ajudará a perceber quanto do aumento do PIB se deve a uma elevação real no nível de produção. * Ano-Base 2002
  • 44. 42 C E D E R J Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas O que calcula cada PIB? O PIB real calcula o crescimento econômico, a partir do aumento ou da diminuição do nível real de produção de um país. O deflator do PIB faz referência ao crescimento médio dos preços da economia. O PIB nominal capta tanto o crescimento do volume da produção quanto a variação de seus preços.!! Note que, a partir do deflator do PIB, é possível inferir a taxa de inflação de um período. A fórmula de cálculo do deflator é: DEFLATOR DO PIB = PIB nominal x 100 PIB real Veja como obter o deflator do PIB a partir dos valores já apresentados nas tabelas anteriores desta aula: Por esses valores, no ano-base do PIB real (2002), o deflator do PIB é igual a 100. Por definição, em todo ano-base, o deflator será sempre 100 (os preços do ano corrente são os preços do ano-base). Em 2003, o deflator do PIB é 125,92. Em 2004, é 150,46. Agora veja: de 2002 a 2003, o deflator passou de 100 para 125,92. Logo, pode-se inferir que os preços aumentaram, em média, 25,92%. Da mesma forma, em 2004, como o nível de preços passou de 125,92 para 150,46, o nível médio de preços aumentou 19,48% em relação a 2003. Fica claro então que o deflator do PIB pode ser interpretado como um indicador da variação do nível médio de preços de um país. Isto é nada mais nada menos do que dizer que o deflator do PIB consiste em uma indicação da taxa de inflação do período. Deflator do PIB Ano deflator = (PIB nominal / PIB real) x 100 2002 deflator = R$ 1.100 / R$ 1.100 x 100 = 100 2003 deflator = R$ 2.040 / R$ 1.620 x 100 = 125,92 2004 deflator = R$ 3.220 / R$ 2.140 x 100 = 150,46
  • 45. C E D E R J 43 AULA 2 O PRODUTO NACIONAL BRUTO Já vimos que o PIB expressa o total da produção, a soma de toda a renda criada dentro dos limites geográficos de um país. Pois parte dessa renda gerada dentro do país pode ser enviada ao exterior. Isso acontece quando parte da renda pertence a empresas estrangeiras que estejam produzindo no país. Nesse caso, essas empresas podem enviar parte de seu lucro para o exterior. O produto nacional bruto (PNB), por sua vez, representa a produção cuja renda correspondente é de propriedade dos indivíduos residentes no país de forma definitiva. Ou seja: o PNB é a soma de tudo o que é produzido aqui e fica aqui. Portanto, a diferença entre PIB e PNB é a renda líquida enviada ao exterior (RLEE ou a renda que é mandada para o exterior menos aquela procedente do exterior). Umexemplo:umpaíssul-americanocujaindústriasejaexclusivamente dedicada à siderurgia tem um PIB de R$ 1 milhão. No entanto, suponha que, ao longo do ano, esse país tenha importado R$ 200 mil em minério de ferro e exportado R$ 300 mil em aço. Quando calcularmos o Produto Nacional Bruto, chegaremos ao valor de R$ 900 mil. Veja: PNB = 1 milhão – 300 mil + 200 mil = 900 mil Ou ainda: PNB = PIB – RLEE O PRODUTO INTERNO LÍQUIDO Parte do valor dos bens e dos serviços gerados em um determinado período pode ser perdida, seja pelo desgaste, pela perda de utilidade por uso, ação da natureza ou ainda por obsolescência. Pois o produto interno líquido é precisamente o produto interno bruto decrescido dessa depreciação. Assim, nem toda produção acrescenta uma maior quantidade de bens ou serviços à economia ou faz ela crescer. Com um aumento na produção, pode-se apenas estar repondo o que foi depreciado no período. Ou ainda: PIL = PIB – depreciações.
  • 46. 44 C E D E R J Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas EXISTE PIB NEGATIVO? Você já viu que o PIB é o somatório de todas as riquezas produzidas por um país em um determinado período. Compreendeu também que há uma sigla destinada a medir apenas o que é produzido e fica no país (PNB) e outra que considera ainda o que é perdido ou se torna obsoleto (PIL). Quando a taxa de crescimento do PIB é negativa – o PIB real de um ano é menor do que o do ano anterior, diz-se que houve recessão. Isto equivale a dizer que a atividade econômica diminuiu entre um ano e outro. Agora veja: se isso ocorreu, devem ter ocorrido também menor produção, mais baixo nível de empregos, falências de empresas etc. Este quadro de baixa atividade econômica recebe também o nome de depressão. Não há uma determinada taxa de crescimento negativa que caracterize o processo de depressão. Para efeito de curiosidade, uma “piada econômica” define a expressão assim: “Recessão ocorre quando pessoas estão sendo desempregadas. Depressão é quando eu também perco o meu emprego”. O QUE O PIB NÃO MEDE? Como já foi mencionado, o PIB mede o valor da produção de bens e serviços finais de uma economia. Todavia, há toda uma parcela da produção nacional que não é incluída no cálculo do produto interno bruto: é o que se convencionou chamar de economia informal. Drogas, jogos de azar e contrabando são atividades desconsideradas pelo PIB, como seria coerente supor, mas a produção informal não se refere Figura 2.2: Em 1929, com a quebra da Bolsa de Nova York, os Estados Unidos mergulharam no que ficou conhecido como “A Grande Depressão”, cujos efeitos foram sentidos ao redor de todo o mundo. O Brasil soube minimi- zar os males da crise através de políti- cas estatais que visavam a defender os preços do café no mercado interna- cional. O governo brasileiro chegou a comprar e a queimar grandes volumes de grãos, a fim de reduzir a oferta do produto no mercado. Saiba mais no site www.culturabrasil.pro.br/ estadonovo.htm.
  • 47. C E D E R J 45 AULA 2 somente à ilegalidade. Pensemos, por exemplo, nas donas de casa ou nos vendedores ambulantes, que mantêm seus negócios à parte dos impostos e das contribuções. Esses não são contados quando se calcula o PIB. Hoje, estimativas apontam para uma equação assustadora: cerca de 50% da economia brasileira podem estar ligados à informalidade. Repare que as dimensões de uma economia informal podem significar a divisão de um país em dois: um real e um oficial. O crescimento da informalidade pode representar um verdadeiro problema administrativo no âmbito governamental, já que apenas uma parcela da população contribui com impostos, por exemplo, mas é a totalidade das pessoas que precisa ser beneficiada pelas políticas públicas. O PIB DESMEMBRADO O PIB também pode ser desmembrado por setores de atividade. Na Tabela 2.1, você encontra o crescimento do PIB brasileiro por setores, em 2003 e 2004. Os dados mostram, por exemplo, que o PIB agropecuário – o valor da produção total de bens e serviços finais do setor agropecuário – cresceu 4,5% em 2003 e 5,3% em 2004. A tabela revela ainda que o PIB brasileiro cresceu 0,5% e 5,2% em 2003 e 2004, respectivamente. A senhora do lar Explique a razão da frase: “Se um patrão demitir sua empregada doméstica, que tinha carteira assinada, e casar-se com ela, reduz-se o valor do PIB”. ________________________________________________________ _________________________________________________________ _______________________________________________________ Resposta Comentada O serviço de empregada doméstica é uma atividade profissional com valor de mercado. Logo, entra no cálculo do PIB. Demitida, passada à informalidade e casada com o patrão, a empregada passa a ser dona de casa e deixa de ser assalariada. Assim, o PIB cai de valor pelo cancelamento da despesa que o ex-patrão deixa de ter com a nova esposa. Atividade 3 1 2
  • 48. 46 C E D E R J Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas Tabela 2.1: Crescimento do PIB brasileiro total e por setores nos anos de 2003 e 2004 (%) O VALOR DA RENDA É IGUAL AO VALOR DO PRODUTO Além do valor dos bens e dos serviços produzidos na economia, o PIB também mede a renda total gerada no processo da produção. Na verdade, o valor da renda é exatamente igual ao valor do produto. Como assim? Observe que tudo o que se gasta para produzir um bem encontra sempre contrapartida em alguém que está recebendo exatamente tal valor. Vamos a um exemplo: suponha que um refrigerante custe R$ 1,00. Nesse preço, estão embutidos o custo e o lucro. Se o custo de sua produção for de 80 centavos, o restante (20 centavos) será a renda do empresário. Os 80 centavos de custos são divididos em pagamento de funcionários (renda) e pagamento das matérias-primas. Essas matérias- primas têm o mesmo aspecto do refrigerante, isto é, seu preço é composto de custo e lucro, que representarão futuras rendas, e assim por diante. Já os 20 centavos de lucro do comerciante serão pagos por você. Vamos explicar o mesmo fenômeno (valor da renda igual ao valor do produto) de uma maneira “macro”: em um sistema econômico simplificado, os consumidores compram bens e serviços nos mercados. O valor das vendas, que é recebido pelas empresas, é destinado ao pagamento dos seus funcionários, à remuneração dos indivíduos que alugaram o espaço físico das empresas e aos lucros dos empresários. Essas somas são transferidas para os chamados MERCADOS DOS FATORES DE PRODUÇÃO – as imobiliárias, as agências de emprego etc. Setores 2003 2004 agropecuária 4,5 5,3 indústria 0,2 6,2 serviços 0,6 3,7 comércio -1,9 7,9 transporte 1,4 4,9 demais 1,0 2,9 PIB Total 0,5 5,2 O MERCADO DE FATORES DE PRODUÇÃO Representa os locais onde se negociam a oferta e a procura por fatores de produção. São as agências de emprego, as imobiliárias, que vendem ou alugam imóveis comerciais etc. Fonte: IPEA
  • 49. C E D E R J 47 AULA 2 Por outro caminho: o total da renda gerada nesse sistema econômico é reutilizado pelas famílias, por meio da compra de bens e serviços no mercado de produtos – os supermercados, as lojas etc. Estes, por sua vez, irão fluir novamente para o mercado de fatores de produção. Como num fluxo circular. O PIB pode ser medido de duas formas: somando as rendas pagas pelas empresas dentro do mercado de fatores (de produção), ou pelo total dos gastos dos consumidores no mercado de bens e serviços. Ainda que na prática haja mais complexidade (há impostos, as famílias não gastam tudo o que ganham, nem tudo o que é produzido é vendido etc.), cada transação tem uma espécie de comprador e vendedor, de forma que o valor do bem ou do serviço coincida com o valor da renda. A seguir, vê-se um diagrama do fluxo circular da renda e dos bens e serviços de um sistema econômico. As setas externas ilustram o fluxo circular da renda. As setas internas representam o fluxo de bens e serviços. Mercado de Produtos Famílias (consumidores) Despesa = PIB Empresas (Unidades Produtivas) Salário, lucro e aluguel Mercado de fatores de produção Bens e Serviços Bens e Serviços Insumos Trabalho Capital TerraRenda = PIB Receita = PIB Fluxo Circular da Renda e do Produto Despesa
  • 50. 48 C E D E R J Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas Entre 2003 e 2004, o Brasil passou de 15º colocado no ranking mundial do PIB para 12º, ultrapassando a Índia, a Coréia do Sul e a Holanda. No entanto, em 1998, o Brasil estava em 8º lugar. Ou seja: mais próximo dos países de maior atividade econômica no mundo.!! AS MAIORES ECONOMIAS DO PLANETA Através do PIB, podemos relacionar os países de maior produção no mundo. Ou seja, as maiores economias do mundo. A Tabela 2.2, embora incompleta, dá o ranking para o ano de 2004. Tabela 2.2: Os países de maior atividade econômica em 2004 País Produto Interno Bruto (US$ trilhões) 1 Estados Unidos 11,757 2 Japão 4,780 3 Alemanha * 4 Reino Unido * 5 França * 6 Itália * 7 China 1,543 8 Espanha * 9 Canadá * 10 México * 11 Austrália * 12 Brasil 0,605 Fontes: IBGE; FMI; GRC Visão Consultoria * Dados não disponibilizados. Valores em US$
  • 51. C E D E R J 49 AULA 2 A RENDA PER CAPITA A renda per capita é a quantia em reais que cada habitante receberia caso o PIB fosse dividido igualmente entre toda a população. Note que a renda per capita é uma média, uma estimativa, uma vez que desconsidera o fator distribuição de renda. Abaixo, os números da renda per capita no Brasil, durante a década de 1990. CONCLUSÃO A partir do conceito de PIB, podemos medir o nível de atividade econômica de um país, ou o “tamanho” de uma economia. A partir do cálculo do PIB anual e de comparação com períodos anteriores, é possível monitorar a evolução da capacidade produtiva de um país, assim como a influência do comportamento dos preços sobre os mais variados setores da economia. Do produto interno bruto depreendem-se indicadores diversos, capazes de informar até sobre nosso balanço de pagamentos ou sobre o estado geral da população. É o caso do produto nacional bruto, que desconsidera toda a produção enviada ao exterior; é o caso da noção de renda per capita, que estima a média de remuneração dos habitantes de um país. O cálculo do somatório das riquezas produzidas em um país é um bom caminho para traçar a trajetória de um sistema econômico, o que, já aprendemos, é algo dinâmico e marcadamente identificável em nosso dia-a-dia. Período PIB Per Capita US$ 1990 3.243 1991 2.771 1992 2.605 1993 2.847 1994 3.546 1995 4.542 1996 4.924 1997 5.022 1998 4.793 Fonte: www.ipea.gov.br
  • 52. 50 C E D E R J Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas O PIB e as metrópoles nacionais A tabela a seguir informa dados oficiais para os estados de São Paulo e Rio de Janeiro (2002). Agora, a partir dos dados fornecidos, responda: 1. Como foram obtidos os valores da renda per capita nesses estados? ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 2. Seria possível ocorrer um aumento do PIB nominal ao mesmo tempo que houvesse diminuição do PIB real? ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 3. Por que razão quanto mais inflacionária for a economia de um país mais correto será utilizar o PIB real (ao invés do nominal) para medir seu crescimento? _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ Estado PIB (milhões) Renda Per Capita População Rio de Janeiro 170.114 11.459 14.761.862 São Paulo 438.148 11.353 38.306.233 Atividades Finais 321 Fonte: www.ibge.gov.br
  • 53. C E D E R J 51 AULA 2 Resposta Comentada 1. Os valores da renda total são obtidos dividindo o PIB do estado por sua respectiva população. Os resultados diferem um pouco dos apresentados na tabela, posto que os dados do PIB estão arredondados. 2. Sim, basta que o efeito da elevação dos preços seja maior do que a queda na quantidade de bens e serviços gerados no período. Lembre-se de que dois elementos afetam o PIB nominal: os preços e as quantidades. No PIB real, só as quantidades se alteram, pois os preços são mantidos constantes, dado o ano-base. Quer um exemplo? Veja a tabela a seguir, com os dados sobre os anos de 1991 e 1992. Apesar do enorme salto no PIB nominal entre 1991 e 1992, a taxa de crescimento real do PIB foi negativa. Ou seja, houve recessão. Observe o ritmo do crescimento médio dos preços através da variação do deflator do PIB: naquela época, a inflação era extremamente alta. 3. Quanto mais alta a inflação, mais os preços estarão influenciando os valores do PIB nominal. Sendo assim, o mais adequado é utilizar o PIB real, pelo mesmo motivo citado na resposta anterior. Ano Crescimento do PIB % Variação (%) do deflator PIB PIB nominal 1991 1,0 416,7 165.786.498 1992 -0,5 969,0 1.762.636.611 O produto interno bruto (PIB) expressa o valor de mercado de todos os bens e serviços finais realizados em um território (ou país), em um determinado período. Como em toda transação há um comprador e um vendedor, o PIB mede a despesa total da economia na produção de bens e de serviços, além da renda total gerada com a produção de tais bens e serviços em um dado período. O PIB nominal utiliza os preços correntes, enquanto o PIB real usa preços constantes de um ano-base para medir os bens e serviços realizados. A razão entre o PIB nominal e o PIB real avalia o crescimento médio de preços de um período. É denominado deflator do PIB. A partir dos conceitos de PIB real e nominal, é possível calcular ainda o deflator do PIB, que mede a alteração no nível dos preços e podemos ainda calcular também a renda per capita, uma estimativa da renda média da população. R E S U M O Fonte: www.ibge.gov.br
  • 54. 52 C E D E R J Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas INFORMAÇÕES SOBRE A PRÓXIMA AULA Na próxima aula, você vai estudar os principais elementos que constituem o PIB. A partir deles poderemos reconhecer os fatores que podem fazer a atividade econômica aumentar de forma vigorosa.
  • 55. O PIB e os componentes da demanda agregada Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: listar os componentes do cálculo do PIB; distinguir os elementos que compõem a demanda agregada e identificar seu papel e seu peso na economia de um país; avaliar a importância do relacionamento das empresas com mercados internos e externos no cálculo do PIB. 3objetivos AULA Meta da aula Descrever a equação de composição do Produto Interno Bruto (PIB) a partir da renda e da demanda agregada. 1 2 3
  • 56. 54 C E D E R J Análise Macroeconômica | O PIB e os componentes da demanda agregada INTRODUÇÃO Imagine-se comprando um sanduíche. Pense que você saiu de casa com cinco reais na carteira e que os entregou ao balconista de uma lanchonete. Em um primeiro momento, você pode pensar: eu tinha um dinheiro em mão, mas não o tenho mais. Comi o sanduíche e estou cinco reais mais pobre. No entanto, perceba: o balconista da lanchonete tinha um sanduíche à sua espera. Depois que você abriu a carteira, o sanduíche passou a não mais existir para ele. Ainda assim, no lugar do sanduíche, o balconista recebeu cinco reais. Fica fácil notar que comprar um sanduíche é equivalente a vender cinco reais. Transponha agora essa compreensão para o campo da Macroeconomia, que lida com o fator “sanduíche” de forma agregada (ou a partir de todos os sanduíches produzidos em um país). Como vimos estudando desde a primeira aula deste curso, o produto interno bruto (PIB) expressa o valor de tudo que um país produz, em bens e serviços, em um determinado período. Todos os sanduíches, todos os empregos de balconista, tudo o que o dono da lanchonete investe em seu estabelecimento, os impostos pagos pela lanchonete ao governo etc. Agora veja: assim como acontece em nosso exemplo da lanchonete, quem se apropria desses bens e serviços produzidos pelo país? De que forma isso ocorre? De onde partem os recursos que movimentam a economia? Que importância tem para um país o nível de poupança de sua população? As respostas a essas perguntas você terá ao longo desta aula. OS COMPONENTES DO PIB Depois de ter estudado o conceito de PIB e algumas de suas aplicações, veja uma maneira de segmentá-lo em seus componentes. Figura 3.1: No espaçoso carrinho do PIB, cabem sua renda, tudo que você compra e contrata, os investimentos que você faz em nome de seu negócio, tudo que o governo gasta em nome do seu bem-estar, o que é vendido para outros países e o que é comprado de fora. SanjaGjenero
  • 57. C E D E R J 55 AULA 3 IDENTIDADE É a equação que é sempre verdadeira, quaisquer que sejam as circunstâncias ou as hipóteses estabelecidas. Numa identidade, os lados das equações são inequivocamente iguais. Para início de conversa, podemos dizer que todo bem e todo serviço produzido em determinado país é utilizado para consumo das famílias e investimento por parte das empresas, além de poder ser adquirido pelo governo ou exportado (vendido a outro país). Note que, quando falamos em exportação, assumimos que exportamos uma fração do que produzimos. Pelo mesmo raciocínio, podemos concordar que também adquirimos parte da produção de outros países. Consideremos então esse princípio e expressemo-lo em termos matemáticos. Daí chegaremos à seguinte IDENTIDADE: PIB = C + I + G + (X – M) (1) Sendo: PIB, o produto interno bruto; C, o consumo agregado; I, o investimento agregado; G, o consumo do governo; X, as exportações; e M, as importações. Ou seja: o valor do PIB é igual à soma do consumo agregado, do investimento agregado e do consumo do governo com o total das exportações, decrescido do total das importações. Ficou claro então quais fatores entram em nossa conta. Agora sigamos em frente e expressemos mais objetivamente o significado de cada um deles: O consumo é uma variável bastante simples e palpável: diz respeito à despesa das famílias com a compra de bens e serviços, sejam eles geladeiras ou técnicos especialistas em geladeiras, por exemplo. Os investimentos referem-se exclusivamente às empresas: são as despesas com máquinas, equipamentos, plantas industriais (FORMAÇÃO BRUTA DE CAPITAL FIXO) e estoques. Ou seja: são todas as despesas envolvidas no funcionamento de uma empresa, a não ser as relativas à remuneração da força de trabalho e ao pagamento de impostos. Sobre os investimentos, trataremos mais detalhadamente na próxima seção. FORMAÇÃO BRUTA DE CAPITAL FIXO São os investimentos feitos pelas empresas em equipamentos, bens de capital, edificações etc. que visam a aumentar sua capacidade produtiva. O conjunto desses fatores é o que se costuma chamar também planta industrial.
  • 58. 56 C E D E R J Análise Macroeconômica | O PIB e os componentes da demanda agregada O consumo do governo é a despesa do Estado (nos âmbitos federal, estadual e municipal) com compras de bens e serviços. Imagine, por exemplo, a contratação de uma empreiteira para a realização de obras públicas. Esse é o tipo de despesa que entra em nossa conta. As exportações são os valores das vendas dos bens e dos serviços para outros países ou o total de produtos e serviços que se originam em solo nacional mas que serão consumidos em outras partes do mundo. E, por fim, as importações representam os valores do que se compra do exterior, ou tudo que é produzido em outros países e vai ser consumido aqui. Importações e exportações trataremos mais à frente. OS INVESTIMENTOS Já vimos, de forma geral, os componentes do cálculo do PIB. Vimos que um deles se refere aos investimentos por parte das empresas. Agora cabe fazer uma diferenciação sobre os tipos de investimentos existentes. Quando você monta uma empresa, conta com seu capital inicial, com seu maquinário e com a mão-de-obra. No entanto, em um mercado aberto e competitivo, é necessário que você destine regularmente recursos que serão revertidos a esse negócio. Vale então ter claro que há investimentos de dois tipos: realizados e desejados (ou planejados). Pela CONTABILIDADE NACIONAL, os investimentos são a soma do valor dos gastos das empresas com edificações e equipamentos (Formação Bruta do Capital Fixo) mais os investimentos em estoques. Os investimentos em estoques representam todos os bens produzidos que não foram vendidos. Estes podem ser investimentos em estoque planejados, ou não planejados. Os estoques não planejados (ou involuntários) são aqueles produtos destinados à venda mas que, por não terem sido vendidos, incorporaram-se ao estoque. Ou seja, o estoque involuntário é a variação involuntária do estoque por falta de compradores. Os estoques voluntários são aqueles bens produzidos para compor o estoque. A diferença entre investimento planejado e realizado é dada justamente pela existência dos estoques involuntários. Figura 3.2: O café é tradi- cionalmente nosso herói de exportação. Ao longo da história do Brasil, intervenções do governo visaram a manter o status do produto no mercado internacional. Após a crise de 1929, foram a ação do Estado e o desempenho do café nos mercados inter- nacionais que nos defen- deram da recessão que se abateu sobre o mundo. Você pode ver mais sobre o assunto no site www.culturabrasil.pro.br/ vargas.htm. BeatrizChaim(www.sxc.hu) CONTABILIDADE NACIONAL É a metodologia oficial de classificação das variáveis econômicas nacionais, as chamadas contas nacionais. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) faz o levantamento CONTABILIDADE NACIONAL É a metodologia oficial de classificação das variáveis econômicas nacionais, as chamadas contas nacionais. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) faz o levantamento estatístico das contas nacionais.
  • 59. C E D E R J 57 AULA 3 A Abragel e o mercado De forma mais simples: se toda a produção destinada à venda for efetivamente vendida, os estoques involuntários (variação de estoque) serão zero. Nessas condições, os investimentos planejados serão iguais aos realizados. Perceba: Ir = Ip + ∆estoque Ir – Ip = ∆estoque Sendo: Ir, o investimento realizado; Ip, o investimento planejado; ∆estoque, a variação (∆) de estoque. Atividade 1 1 NestorAntártico,consultor da Abragel, defendeu ontem, em reunião da entidade, que as empresas do setor devem investir 20 milhões de reais em estoques. Segundo Antártico, o novo aumento do salário-mínimo deve aquecer o mercado. Abragel recompõe estoque (15/06/2006) 2 3 AAssociação Brasileira dos Fabricantes de Geladeiras (Abragel) divulgou ontem nota em que declara a intenção de investir 100 milhões de reais em edificações e equipamentos. Fabricantes de geladeiras planejam investir 100 milhões de reais no setor (10/06/2006) Em entrevista coletiva à imprensa, na noite de ontem, o consultor da Abragel Nestor Antártico lamentou o que qualificou como “decepcionante desempenho de nossas geladeiras no mercado externo”. Segundo Antártico, metade das geladeiras produzidas neste trimestre encalhou nos estoques. Dólar baixo prejudica exportações (20/09/06)
  • 60. 58 C E D E R J Análise Macroeconômica | O PIB e os componentes da demanda agregada Agora, presumindo que todos os conselhos de Nestor foram seguidos pela entidade, responda às perguntas a seguir: a. De quanto foi o investimento planejado pela Abragel? ___________________________________________________________________________ b. Quanto foi investido de forma planejada em estoque? ____________________________________________________________________________ c. E de forma não planejada? _____________________________________________________________________________ d. De quanto foi a variação não planejada do estoque (em reais)? _____________________________________________________________________________ e. Qual foi o investimento realizado pela Abragel? ______________________________________________________________________________ Respostas Comentadas Se você articular as três notícias de jornal, verá que a Abragel investiu 100 milhões de reais em planta industrial e 20 milhões em estoque. Você já aprendeu que os investimentos planejados são a soma desses dois fatores. Portanto, o investimento planejado pela Abragel foi de 120 milhões de reais (a). Da segunda notícia, depreendemos que investiram-se 20 milhões de reais nos estoques das empresas. Repare que se chegou a esse montante por decisão de consultores. Logo, estamos falando sobre investimento planejado em estoque (b). Na terceira notícia, lemos que o mercado não se comportou como a entidade esperava, o que resultou no encalhe de metade do estoque. Como já definimos que o estoque era de 20 milhões de reais, chegamos aos 10 milhões de reais encalhados (c). Ao longo da aula, você já viu que a variação não-planejada do estoque se refere a quanto do estoque formado não conseguiu ser vendido. Logo, neste caso, estamos falando de 10 milhões de reais (d). Por fim, como já vimos que o investimento realizado é igual ao planejado acrescido da variação involuntária dos estoques, chegamos ao número de 130 milhões de reais (e).
  • 61. C E D E R J 59 AULA 3 AS IMPORTAÇÕES E AS EXPORTAÇÕES No cálculo do PIB, é de praxe considerar as exportações e as importações de forma conjunta. Comumente, referimo-nos a essa dupla de fatores sob o termo exportações líquidas (X-M), que representa as compras dos produtos nacionais feitas pelos estrangeiros (exportações), descontadas as compras de bens estrangeiros realizadas pelas famílias nacionais (importações). Sendo mais claro: a exportação líquida de geladeiras é igual à soma de todos os aparelhos que se vendem para fora, descontados os que se compram de fora. Agora pense: qual a relevância das importações para a equação que descreve os destinos do PIB? A resposta é clara: as famílias, as empresas e o governo compram produtos nacionais, mas também podem importar. Como o PIB diz respeito aos bens e serviços produzidos em um país, é necessário descontar desse cálculo o valor de tudo que foi importado. Se não houvesse o desconto dessa despesa, não teríamos uma identidade. Veja como. Imagine uma família comprando um automóvel Audi A8. Essa será uma despesa com importações, pois esse carro não é fabricado no Brasil. Supondo que esse veículo custe 50 mil dólares, essa despesa (convertida em reais) estará associada a duas variáveis da equação 1: em um primeiro momento, representa um item de consumo (C) das famílias, mas, como tal valor também será descontado do item importações (M), a equação do PIB estará representando adequadamente a igualdade entre o valor da produção e o total das despesas. Note: se nessa identidade não houvesse o item importações, o item consumo traria consigo o valor do carro, que não é um produto nacional. Perceba: PIB= (C + 50mil) + I +G + (X – 50 mil) Lembre-se da equação original: PIB = C + I + G + (X – M) (1)
  • 62. 60 C E D E R J Análise Macroeconômica | O PIB e os componentes da demanda agregada A compreensão de que produtos importados não podem ser contados como se tivessem sua origem na indústria nacional pode parecer secundária. No entanto, note que um carro importado pode representar consumo em solo brasileiro, mas os investimentos feitos pela indústria que o fabricou, por exemplo, são contabilizados no cálculo do PIB de seu país de origem. A tabela a seguir mostra a participação dos componentes na formação do PIB de 2004, no Brasil. A partir desses dados, reflita: Fica claro que o fator que mais pesa na contagem do PIB brasileiro é o consumo das famílias. Mas o que dizer sobre o governo? Em comparação às exportações e aos investimentos da indústria nacional, na sua opinião, o governo gasta muito ou pouco? Saiba que, no cálculo dos investimentos, soma-se o item formação bruta de capital fixo (FBCF) à variação dos estoques. Comparando-se o quanto se consome internamente e o quanto se exporta, é possível dizer que o Brasil é um país eminentemente exportador? Repare que as exportações e as importações referem-se a bens, mas também a serviços. E o que dizer sobre nossos níveis de importação? Pelo que você observa na tabela, o Brasil está muito dependente ou pouco dependente Figura 3.3: Novas “carroças” - nos primeiros 15 dias de mandato, o ex-presidente Fernando Collor de Mello lançou um pacote econômico que bloqueou – ou “confiscou” - o dinheiro de pessoas físicas e jurídicas depositado na poupança e em contas correntes. Entre suas primeiras medidas para a economia, figurava também a abertura do mercado brasileiro às importações, o que, associado ao confisco, gerou graves efeitos sobre a indústria nacio- nal. Ficou famosa sua afirmação de que os brasileiros, à época, dirigiam “carroças”. AndréasSchmidt(www.sxc.hu) Fonte:www.ibge.gov.br Consumo das famílias (C) 55,3 Gastos do governo (G) 18,8 Investimento (I) 21,3 Exportações (X) 18,0 Importações (M) 13,3
  • 63. C E D E R J 61 AULA 3 dos mercados externos? Há quem defenda que essa dependência é maléfica, há quem diga que é o caminho inevitável e que o que importa é a maneira como a gerenciamos. O PIB A PARTIR DA RENDA Na introdução desta aula, você viu que uma despesa que você faça é igual à receita de outra pessoa. Perceba agora que tudo o que você gasta provém do que ganha. Suas despesas, qualquer dona de casa tem isso bastante claro, precisam “caber” no seu orçamento. Seguindo o mesmo raciocínio e visto o PIB pela ótica dos gastos, veja que ele pode ser descrito também pela ótica da renda. Você já viu: o valor de tudo que é produzido com bens e serviços tem como contrapartida a remuneração de quem os produziu (direta e indiretamente). Logo, o valor do PIB é distribuído em renda para as famílias. Ou seja, sua renda pode ter apenas três destinos: o consumo (C), a poupança (S, do inglês savings) ou o pagamento de impostos (T, do inglês taxes). Dessa maneira, tem-se outra identidade: PIB = C + S + T (2) Sendo: C, o consumo agregado; S, a poupança agregada; T, a arrecadação de impostos do governo. Agora veja: como as duas equações, (1) e (2), possuem o mesmo lado esquerdo, elas podem ser igualadas: (1) PIB = C + I + G + (X – M) (2) PIB = C + S + T Logo, C + S + T = C + G + I + (X – M) (3) Para que você não se perca: assumimos aqui que os três destinos da sua renda equivalem ao conjunto consumo das famílias + gastos do governo + investimentos das empresas + exportações líquidas. Jamais perca de vista que estamos tratando de um fenômeno cíclico. As riquezas circulam dentro de uma economia.