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Literatura
Uma introdução
Ao olhar para o quadro acima, de Magritte (René
Magritte, Le Blanc-Seing) o que você vê?
Realidade objetiva x realidade artística
• É preciso pensar sobre o que a imagem dá a ver, verdadeiramente...
• Ir além, analisando e interpretando os elementos que ultrapassam e extrapolam
conceitos simplistas do que é realidade.
• Paralelamente: o primeiro passo para compreender os conceitos de literatura é pensar
que há uma diferença entre a realidade objetiva e comprovada, e a realidade artística.
• Na realidade “física” não é possível que um cavalo se sobreponha da maneira como
aparece no quadro, entremeando-se às árvores, aparecendo... desaparecendo...
• Na realidade artística, no entanto, essa possibilidade se concretiza.
A palavra
• Se nosso universo de estudo é o texto escrito, a palavra é o nosso elemento essencial.
• Indispensável para que haja comunicação, a palavra é capaz de produzir
efeitos estéticos.
• A palavra é capaz de gerar a “linguagem literária”, novos significados, novas imagens
diferentes interpretações...
• Mas antes de mergulhar nesse universo, vamos percorrer mais alguns quadros e
imagens?
Analise o quadro de Miró, cujo título é : Voo do pássaro ao luar
Em seguida, veja uma fotografia em que percebemos claramente a imagem de um pássaro, com o
luar, ao fundo.
Fonte: http: //www.flickr.com/photos/64407511@N00/45992869/
• Há diferença entre a realidade artística do quadro de Miró e a realidade objetiva da
imagem fotografada?
• Como é possível interpretar o quadro? Apenas se tivermos pensamento e alma
poéticos e algum conhecimento do fazer artístico.
• É preciso conhecer a dimensão plurissignificativa da arte.
• A literatura é uma arte; como tal, para entendê-la, é preciso reconhecer sua dimensão
múltipla, de diversos sentidos.
• Para ler e entender o texto literário é preciso conhecer alguns conceitos fundamentais,
tais como a distinção entre texto literário e não-literário, os fundamentos da poética,
os gêneros literários.
Texto literário e texto não literário
TEXTO 1
O veterano Marcelo Tosi integrou a equipe brasileira que conquistou o
décimo lugar na competição de CCE no hipismo. O resultado significa uma
melhora em relação ao 11º lugar atingido em Atenas-2004. O piracicabano
foi ainda o único cavaleiro a se classificar para a final individual, terminando
na 23ª colocação geral. (...)
Nascido em Piracicaba, Marcelo Tosi mudou-se aos quatro anos para a
pequena cidade de Jaboticabal. Foi aos cinco anos de idade, na escolinha da
UNESP (Universidade Estadual Paulista), no campus da cidade do oeste
paulista, que o cavaleiro começou no esporte por influência do pai, que
também foi cavaleiro. (...)
No entanto, a conquista que mais marcou o ginete foi os Jogos Pan-
Americanos de Winnipeg, em 1999, quando conquistou a medalha de prata
por equipes ao lado de Artemus de Almeida, Luciano Miranda Drubi e
Serguei Fofanoff.
Disponível em:
<http://olimpiadas.uol.com.br/2008/atletas-brasileiros/hipismo/marcelo-
tosi.jhtm>
TEXTO 2
Marcelo
“Como jaz solitária a cidade”, ele leu em voz alta, sentado na beira da
cama e inclinando o Livro para a direita, a fim de aproveitar melhor a
pouca claridade que incidia diretamente sobe ele, através da janela
entreaberta.
O quarto tinha televisão. Ou até tinha, mas quebrada.
Entrara jogando a mochila num canto e, pouco depois, sentado na
beira da cama, alcançara a Bíblia sobre o criado-mudo. Lendo trechos
ao acaso. Mas logo se cansou disso. Meteu o Livro na gaveta, fechou-a
com força, deitou-se na cama e desandou a chorar olhando para a TV
morta. O reflexo na tela. Ver-se refletido fez com que chorasse mais
intensamente, e o fato de chorar mais intensamente por causa do
reflexo fazia com que chorasse mais intensamente ainda, um homem,
como era mesmo?, um homem enxergando a própria aflição em todo
o seu furor.
Duas noites ali.
(LEONES, André de. Como desaparecer completamente. Rio de
Janeiro: Rocco, 2010, p. 39)
Texto
literário e
texto não
literário
Há diferenças
entre os textos?
Você seria capaz
de identificá-las?
Texto literário e texto não literário
TEXTO 1
• Não literário, informa objetivamente.
• Baseia-se em fatos verídicos e
comprováveis, ou seja, na realidade e na
verdade dos fatos.
• Marcelo Tosi é real, uma pessoa.
TEXTO 2
• Utiliza-se da linguagem poética; cria,
reinventa.
• Expressa-se pela subjetividade de seu
autor.
• Marcelo, por mais que se assemelhe à
verdade, é um personagem, é ficcional,
foi criado pelo seu autor.
O texto literário
• É ficcional, arte da palavra escrita.
• Opõe-se à linguagem objetiva, referencial e utilitária
• Afirma a linguagem estética e poética.
• Para entendê-lo, é importante conhecer as funções da linguagem, definidas a partir
dos elementos da comunicação determinados por Roman Jakobson.
• Lembrando que são seis as funções da linguagem:
1. apelativa ou conativa;
2. emotiva ou expressiva;
3. metalinguística;
4. fática;
5. referencial ou denotativa;
6. poética ou conotativa.
Funções da Linguagem
Ampliando o saber
• Leia no E-dicionário de termos literários o conceito de literariedade.
• A distinção que caracteriza o texto literário reside:
 na possibilidade de transformar a realidade, criando e arquitetando "outros"
mundos, ficcionais e "fantásticos", que existem "não-fisicamente", mas residem na
construção textual;
 no uso da linguagem poética;
 na estruturação metafórica, na alegoria, na verossimilhança;
 na combinação de palavras que amplia os recursos estilísticos e ultrapassa a
significação dos vocábulos;
 na transcendência dos níveis de expressão que se distanciam do discurso técnico,
informativo ou científico, constituindo as cadeias plurissignificativas e artísticas.
• Leia “O que é literatura?”, de Terry Eagleton (debate para a próxima aula).
Ampliando o saber
• Acesse este link sobre figuras de estilo, a fim de reforçar as noções básicas necessárias
para o estudo da literatura.
• Leia o texto “A linguagem literária”, de Domício Proença Filho. O autor discute a
diferença entre a linguagem literária e não literária e os conceitos de conotação e
denotação.
• Assista ainda a este vídeo sobre conotação e denotação.
Bibliografia
CASTRO, Sara de. "Funções da linguagem"; Brasil Escola. Disponível em:
<https://brasilescola.uol.com.br/gramatica/funcoes-linguagem.htm>. Acesso em: 2 de
jun. de 2022.
CHALUB, Samira. Funções da Linguagem. São Paulo: Ática, 2006.
EAGLETON, Terry. Teoria da Literatura: uma introdução. São Paulo: Martins Fontes,
2003.
FILHO, Domício Proença. A linguagem literária. São Paulo: Ática, 2007.
MAGRITTE, René. Le blanc seing. Disponível em:
<https://www.masterworksfineart.com/artists/rene-magritte/lithograph/le-blanc-seing-
free-hand/id/w-4043>. Acesso em: 10 mai. 2022.
MIRÓ, Joan. Voo do pássaro ao luar. Disponível em:
<https://pt.wahooart.com/@@/8XYBVZ-Joan-Miro-Bird%27s-V%C3%B4o-no-luar>.
Acesso em: 10 mai. 2022.

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  • 3. Realidade objetiva x realidade artística • É preciso pensar sobre o que a imagem dá a ver, verdadeiramente... • Ir além, analisando e interpretando os elementos que ultrapassam e extrapolam conceitos simplistas do que é realidade. • Paralelamente: o primeiro passo para compreender os conceitos de literatura é pensar que há uma diferença entre a realidade objetiva e comprovada, e a realidade artística. • Na realidade “física” não é possível que um cavalo se sobreponha da maneira como aparece no quadro, entremeando-se às árvores, aparecendo... desaparecendo... • Na realidade artística, no entanto, essa possibilidade se concretiza.
  • 4. A palavra • Se nosso universo de estudo é o texto escrito, a palavra é o nosso elemento essencial. • Indispensável para que haja comunicação, a palavra é capaz de produzir efeitos estéticos. • A palavra é capaz de gerar a “linguagem literária”, novos significados, novas imagens diferentes interpretações... • Mas antes de mergulhar nesse universo, vamos percorrer mais alguns quadros e imagens?
  • 5. Analise o quadro de Miró, cujo título é : Voo do pássaro ao luar Em seguida, veja uma fotografia em que percebemos claramente a imagem de um pássaro, com o luar, ao fundo. Fonte: http: //www.flickr.com/photos/64407511@N00/45992869/
  • 6. • Há diferença entre a realidade artística do quadro de Miró e a realidade objetiva da imagem fotografada? • Como é possível interpretar o quadro? Apenas se tivermos pensamento e alma poéticos e algum conhecimento do fazer artístico. • É preciso conhecer a dimensão plurissignificativa da arte. • A literatura é uma arte; como tal, para entendê-la, é preciso reconhecer sua dimensão múltipla, de diversos sentidos. • Para ler e entender o texto literário é preciso conhecer alguns conceitos fundamentais, tais como a distinção entre texto literário e não-literário, os fundamentos da poética, os gêneros literários.
  • 7. Texto literário e texto não literário TEXTO 1 O veterano Marcelo Tosi integrou a equipe brasileira que conquistou o décimo lugar na competição de CCE no hipismo. O resultado significa uma melhora em relação ao 11º lugar atingido em Atenas-2004. O piracicabano foi ainda o único cavaleiro a se classificar para a final individual, terminando na 23ª colocação geral. (...) Nascido em Piracicaba, Marcelo Tosi mudou-se aos quatro anos para a pequena cidade de Jaboticabal. Foi aos cinco anos de idade, na escolinha da UNESP (Universidade Estadual Paulista), no campus da cidade do oeste paulista, que o cavaleiro começou no esporte por influência do pai, que também foi cavaleiro. (...) No entanto, a conquista que mais marcou o ginete foi os Jogos Pan- Americanos de Winnipeg, em 1999, quando conquistou a medalha de prata por equipes ao lado de Artemus de Almeida, Luciano Miranda Drubi e Serguei Fofanoff. Disponível em: <http://olimpiadas.uol.com.br/2008/atletas-brasileiros/hipismo/marcelo- tosi.jhtm> TEXTO 2 Marcelo “Como jaz solitária a cidade”, ele leu em voz alta, sentado na beira da cama e inclinando o Livro para a direita, a fim de aproveitar melhor a pouca claridade que incidia diretamente sobe ele, através da janela entreaberta. O quarto tinha televisão. Ou até tinha, mas quebrada. Entrara jogando a mochila num canto e, pouco depois, sentado na beira da cama, alcançara a Bíblia sobre o criado-mudo. Lendo trechos ao acaso. Mas logo se cansou disso. Meteu o Livro na gaveta, fechou-a com força, deitou-se na cama e desandou a chorar olhando para a TV morta. O reflexo na tela. Ver-se refletido fez com que chorasse mais intensamente, e o fato de chorar mais intensamente por causa do reflexo fazia com que chorasse mais intensamente ainda, um homem, como era mesmo?, um homem enxergando a própria aflição em todo o seu furor. Duas noites ali. (LEONES, André de. Como desaparecer completamente. Rio de Janeiro: Rocco, 2010, p. 39)
  • 8. Texto literário e texto não literário Há diferenças entre os textos? Você seria capaz de identificá-las?
  • 9. Texto literário e texto não literário TEXTO 1 • Não literário, informa objetivamente. • Baseia-se em fatos verídicos e comprováveis, ou seja, na realidade e na verdade dos fatos. • Marcelo Tosi é real, uma pessoa. TEXTO 2 • Utiliza-se da linguagem poética; cria, reinventa. • Expressa-se pela subjetividade de seu autor. • Marcelo, por mais que se assemelhe à verdade, é um personagem, é ficcional, foi criado pelo seu autor.
  • 10. O texto literário • É ficcional, arte da palavra escrita. • Opõe-se à linguagem objetiva, referencial e utilitária • Afirma a linguagem estética e poética. • Para entendê-lo, é importante conhecer as funções da linguagem, definidas a partir dos elementos da comunicação determinados por Roman Jakobson. • Lembrando que são seis as funções da linguagem: 1. apelativa ou conativa; 2. emotiva ou expressiva; 3. metalinguística; 4. fática; 5. referencial ou denotativa; 6. poética ou conotativa.
  • 12. Ampliando o saber • Leia no E-dicionário de termos literários o conceito de literariedade. • A distinção que caracteriza o texto literário reside:  na possibilidade de transformar a realidade, criando e arquitetando "outros" mundos, ficcionais e "fantásticos", que existem "não-fisicamente", mas residem na construção textual;  no uso da linguagem poética;  na estruturação metafórica, na alegoria, na verossimilhança;  na combinação de palavras que amplia os recursos estilísticos e ultrapassa a significação dos vocábulos;  na transcendência dos níveis de expressão que se distanciam do discurso técnico, informativo ou científico, constituindo as cadeias plurissignificativas e artísticas. • Leia “O que é literatura?”, de Terry Eagleton (debate para a próxima aula).
  • 13. Ampliando o saber • Acesse este link sobre figuras de estilo, a fim de reforçar as noções básicas necessárias para o estudo da literatura. • Leia o texto “A linguagem literária”, de Domício Proença Filho. O autor discute a diferença entre a linguagem literária e não literária e os conceitos de conotação e denotação. • Assista ainda a este vídeo sobre conotação e denotação.
  • 14. Bibliografia CASTRO, Sara de. "Funções da linguagem"; Brasil Escola. Disponível em: <https://brasilescola.uol.com.br/gramatica/funcoes-linguagem.htm>. Acesso em: 2 de jun. de 2022. CHALUB, Samira. Funções da Linguagem. São Paulo: Ática, 2006. EAGLETON, Terry. Teoria da Literatura: uma introdução. São Paulo: Martins Fontes, 2003. FILHO, Domício Proença. A linguagem literária. São Paulo: Ática, 2007. MAGRITTE, René. Le blanc seing. Disponível em: <https://www.masterworksfineart.com/artists/rene-magritte/lithograph/le-blanc-seing- free-hand/id/w-4043>. Acesso em: 10 mai. 2022. MIRÓ, Joan. Voo do pássaro ao luar. Disponível em: <https://pt.wahooart.com/@@/8XYBVZ-Joan-Miro-Bird%27s-V%C3%B4o-no-luar>. Acesso em: 10 mai. 2022.