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Revista MAS
Amilcar Torrão Filho O Sumo Bem Contra a Ruína da Sociedade: o Morgado de Mateus, a Fundação do
Recolhimento da Luz e a Mística Feminina em São Paulo.
O Sumo Bem Contra a Ruína da Sociedade: o Morgado de Mateus, a Fundação do Recolhi-
mento da Luz e a Mística Feminina em São Paulo.
Amilcar Torrão Filho
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – Dep. de História
	 Na construção e fundação do mosteiro da Luz, inicialmente um recolhimento feminino, a figura de Frei
Galvão, o seu construtor, está não apenas destacada como intimamente ligada à vida desta instituição. Toledo,
por exemplo, ressaltou a qualidade e originalidade de seu projeto arquitetônico, um dos raros exemplos de igreja
construída com planta octogonal no Brasil, sendo ele responsável ainda pelo outro exemplo de planta poligonal
em São Paulo, a Capela da Venerável Ordem Terceira de São Francisco1
. Gostaria de ressaltar neste artigo a figura
do governador e capitão-general da restaurada capitania de São Paulo, D. Luís Antônio de Souza Botelho Mou-
rão, o morgado de Mateus, responsável pela fundação, em 1774, do Recolhimento da Luz, juntamente com Frei
Antônio de Santana Galvão e madre Helena Maria do Espírito Santo, ou do Sacramento, sua primeira Regente.
Em carta régia de 9 de novembro de 1709 a antiga Capitania de São Vicente é transformada na capitania de
São Paulo e Minas do Ouro, como resultado da Guerra dos Emboabas, que tinha dividido os paulistas e demais
portugueses da América em torno das recém descobertas minas de ouro2
. Em 1748 a capitania de São Paulo é
desmembrada das Minas Gerais, quando se criam as capitanias de Goiás e Mato Grosso, sendo então adminis-
trada por um governador em Santos, sem patente de capitão-general e submetido ao Rio de Janeiro. Depois de
requerimento da câmara de Piratininga, a capitania é restaurada por Sua Majestade. O conde da Cunha, vice-rei
do Brasil entre 1763 e 1767, escreve ao Rei em 12 de agosto de 1764, afirmando estar reduzida a capitania a um
estado lastimável, sendo impossível governar as capitanias de São Paulo e Rio de Janeiro conjuntamente, pelas
distâncias e por serem os habitantes de São Paulo “excessivamente inquietos e revoltosos, em território abun-
dante de minas de ouro e nas vizinhanças dos castelhanos3
”. Em carta ao Secretário de Negócios da Marinha e
Ultramar, Francisco Xavier de Mendonça Furtado, o vice-rei afirma que por conta do “miserável estado a que
se achava reduzida”, pela falta de governo e pela proximidade da cidade de São Paulo com o novo descoberto
de São João de Jacuri, Sua Majestade decidira nomear a D. Luís Antônio de Souza para governador e capitão-
-general de São Paulo, que governaria a capitania entre 1765 e 17754
. Dentre as suas atribuições estava a definição
dos limites com Minas Gerais e Goiás além de sua recuperação, dado o miserável estado em que se encontrava5
.
1	 TOLEDO, Benedito Lima de, Frei Galvão: arquiteto. Cotia, SP: Ateliê, 2007, p. 43.
2	 Carta Régia creando a Capitania de S. Paulo e Minas do Ouro e nomeando governador da mesma a Antonio de Albuquer-
que Coelho de Carvalho, - de 9 de novembro de 1709. Documentos Interessantes para a Historia e Costumes de S. Paulo. São Paulo:
Archivo do Estado de S. Paulo, v. 67, p. 65. Cf. ROMEIRO, Adriana, Paulistas e emboabas no coração das Minas. Idéias, práticas e ima-
ginário político no século XVIII. Belo Horizonte: UFMG, 2008.
3	 Documentos Interessantes, op. cit., v. 11, pp. 209-211.
4	 Sobre o governo do morgado de Mateus, cf. BELLOTTO, Heloísa Liberalli. Autoridade e conflito no Brasil: o governo do
Morgado de Mateus em São Paulo: 1765-1775. São Paulo: Conselho Estadual de Artes e Ciências Humanas, 1979; MIRANDA, Lílian
Lisboa, Governança e edilidade em São Paulo (1765-1775). Tese (Doutorado em História). São Paulo: Universidade de São Paulo, 2003;
TORRÃO FILHO,Amilcar. Paradigma do caos ou cidade da conversão? São Paulo na administração do Morgado de Mateus. São Paulo:
Annablume/Fapesp, 2007; DERNTL, Maria Fernanda. Método e Arte: criação urbana e organização territorial na capitania de São Pau-
lo, 1765-1811. Tese (Doutorado em História e Fundamentos da Arquitetura e do Urbanismo). São Paulo: FAU/USP, 2010; e TORRÃO
FILHO, Amilcar, DERNTL, Maria Fernanda. Cidade e civilidade: um governo ilustrado na Capitania de São Paulo In: GAZZANEO,
Luiz Manoel (org.). Da Baixa Pombalina a Brasília. Iluminismo e Contemporaneidade em Países e Espaços de Língua Portuguesa. Ci-
dades e Espacialidade. Rio de Janeiro: UFRJ/FAU/PROARQ, 2010, pp. 257-275.
5	 Documentos Interessantes, v. 67, p. 144.
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Amilcar Torrão Filho O Sumo Bem Contra a Ruína da Sociedade: o Morgado de Mateus, a Fundação do
Recolhimento da Luz e a Mística Feminina em São Paulo.
A transferência dos interesses portugueses para o centro-sul, por causa das minas, os conflitos de fronteira
com os espanhóis e as demandas dos comerciantes de São Paulo fizeram com que o seu governo fosse restaurado.
	 Na capital piratiningana, a época também era de mudanças. Com a restauração, o Pátio do Colégio
dos Jesuítas, expulsos em 1760, passou a se chamar Largo do Palácio servindo, a partir de 1765, como re-
sidência do novo governador. Tanto do ponto de vista simbólico como prático, esta mudança reflete a nova
orientação do governo pombalino. A presença dos inacianos deveria ser apagada das cidades e aldeamen-
tos e seus símbolos de poder deveriam ser substituídos pela presença do Estado português e de um cato-
licismo oficial, sem as marcas dos jesuítas. Em São Paulo, cidade baluarte construída pelos padres da Com-
panhia de Jesus para consolidação do poder da Igreja e do Estado, enquanto aliado do papado, e também de
sua própria ordem, a transferência simbólica do poder era ainda mais necessária. Para isso o novo governa-
dor envidou todos os esforços possíveis para erradicar algumas das causas do que considerava o estado mi-
serável da capitania: a presença jesuítica, ainda evidente nos espaços da cidade, e a resistência dos “paulis-
tas”, “inquietos e revoltosos”, em adotarem as novas diretrizes ilustradas de “gerência” da economia, da
administração pública e da segurança trazidas pelo capitão-general e a enorme “preguiça” dos naturais da terra.
	 D. Luís Antônio de Souza Botelho Mourão, o quarto morgado de Mateus, nasceu em 1722, na fre-
guesia de São Veríssimo de Riba, distrito da vila de Amarante. Recebeu educação militar de seu avô, D. Luís
Antônio de Souza, governador do castelo de São Tiago da Barra da vila de Viana. Comandou a resistência
à ofensiva franco-espanhola em 1762, durante a Guerra dos Sete Anos (1756-1763), tendo sido promovido a
coronel de infantaria. Ao ser nomeado governador da capitania de São Paulo possuía os títulos de morgado de
Mateus, de Moroleiros, de Sabrosa e Cumieira, fidalgo da casa de Sua Majestade e de seu conselho, senhor
donatário da vila de Ovelha do Marão, alcaide-mor da cidade de Bragança, comendador de Santa Maria de
Vimioza da Ordem de Cristo e governador do castelo da Barra de Viana. Suas habilidades militares lhe ga-
rantiram a nomeação para a capitania de São Paulo, de acordo com as diretrizes do governo pombalino, de
garantir a defesa da complicada fronteira sul da colônia com os castelhanos, a “recuperação” econômica e de
introduzir novos e modernos elementos de governo e “gerenciamento” da administração pública e econômica.
	 Em ofício ao Rei de 1 de dezembro de 1767, D. Luís Antônio se queixa da desordem e decadência que
encontra na capitania que irá governar: das tropas não encontra mais do que ordenanças que, embora tives-
sem seus capitães-mores estavam “faltas de disciplina e de obediência pela dispersão em que vivem os Po-
vos, e pelo dos costumes”. As povoações são todas pequenas e sem nenhum modo de ganhar a vida, “os cam-
pos incultos, tudo coberto de mata brava, a lavoura por mau método, pois só se planta em mato virgem”, pela
repugnância que têm os lavradores de se sujeitarem ao trabalho de “cultivarem os campos como nesse Rei-
no. Apenas colhe cada um para o seu sustento próprio muito pouco sobra para se vender ao público”. Nin-
guém aproveita os recursos do país, diz o governador, achando-se o povo “reduzido à mais lastimosa pobre-
za”. Não encontra o governador a população assentada em vilas e cidades como gostaria, afirmando que a:
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Amilcar Torrão Filho O Sumo Bem Contra a Ruína da Sociedade: o Morgado de Mateus, a Fundação do
Recolhimento da Luz e a Mística Feminina em São Paulo.
dispersãoquesecostumahabitarnãopossibilitaadevidacivilidadenemanecessáriaDoutrinaEspiritual,pois
procedequeesquecidososhomensdasobrigaçõescomquenasceram,seguemadesordemnaturaldosseuscos-
tumes,unsadormecendo-senosvícios,outroscometendodelitos,dequetodososdiasseouviamastristesnotícias6
.
	 Ao marquês de Pombal, então conde de Oeiras, descreve de modo não menos desolador o estado das
coisas na capitania. D. Luís observou ao ministro que a cada dia se ia “formalizando mais nos inconvenien-
tes que se seguem ao serviço de Deus e o de S. Majestade, e ao bem comum deste Estado por causa do mau
método da lavoura7
”. Não usam os paulistas as terras “como nesse Reino”, ou seja, de maneira intensiva e
comercial, preferindo-se ainda uma agricultura itinerante e extensiva. Falta a adequação da colônia às necessi-
dades do Reino: no raciocínio do governador isto se dá pela ausência da civilidade necessária aos povos para
poderem adotar as normas “ilustradas” de produção e de povoamento, comuns às nações polidas da Europa,
bem como da religião, a necessária aliada da monarquia na condução dos seus súditos. É o primeiro inconve-
niente que encontra D. Luís Antônio, a falta de religião, “e é certo que aonde se falta a Deus, que é o criador
de tudo, o Sumo bem, e a fonte de toda a felicidade, não pode haver cousa boa8
”. Um segundo inconveniente,
muito ligado ao primeiro, é a “falta de Sociedade, pois sendo esta a principal das obrigações civis, se acha
totalmente arruinada e caminha a passos largos para o seu precipício, levando atrás de si a ruína de todo o
Estado”. A falta de religião e a técnica de plantio considerada primitiva se unem para o morgado de Mateus
na desintegração da sociedade. Esta técnica de plantio contribui para a ruína do Estado “porque consistindo
ela na união com que os Homens se ajudam uns aos outros, nada é tanto contra esta união, como o referido
método de lavoura que se pratica”, feita de maneira itinerante, em sítios volantes, com os homens afastados
do convívio e sem o controle do Estado ou da Igreja. Finalmente uma terceira causa que é a falta de Justiça,
porque vivendo os homens fora de povoado, metidos pelos Matos sem ouvirem mais do que a fa-
mília, faltos de instrução, e de doutrina, e até dos primeiros princípios da nossa Fé, que hão de
ser senão piores que feras, porque estas pela falta de aptidão, e de discurso podem fazer um dano se-
melhante; mas os homens dotados de talento, abandonados ����������������������������������������������������������������������������������lei da natureza, e criados entre as bre-
nhas como feras, são capazes de outros maiores danos; e quando o não fazem se não pode esperar de-
les utilidade alguma, nem para o Reino do Céu, nem para o de S. Majestade que Deus Guarde...9
	 No plano da educação D. Luís Antônio seguiu sua vocação militarista, introduzindo as Aulas de Geome-
tria. Desde a extinção dos jesuítas a educação pública da capitania, e de toda a colônia, estava desestruturada, ten-
do sido aquela ordem a responsável pela instrução da colônia desde sua ocupação.Ao chegar a São Paulo constata
a pequena quantidade de pessoas hábeis na geometria, muitas apenas com alguns princípios desta, o que causava
“tão grande detrimento no Real Serviço, que a cada passo se está experimentando a Sua falta; esta necessidade, e as
ocasiões, que no tempo presente se multiplicam para ocorrer a defensa, e segurança destes Estados”, fazendo com
que peça licença ao Rei para criar uma cadeira de geometria no convento de São Francisco, rogando ao provincial
dos capuchos que concedesse ao mestre da cadeira os mesmos privilégios dos mestres de Filosofia e Teologia do
convento10
. Os estudos são abertos em agosto de 1771, conforme o edital de convocação de 25 de janeiro, que pro-
metia que os que se aplicassem a esta “utilíssima arte” seriam premiados com honras e mercês por Sua Majestade11
.
6	 AHU, São Paulo, cx. 5, doc. 18 [D. 333].
7	 Documentos Interessantes, v. 23, p. 1.
8	 Ibid., v. 23, p. 1.
9	 Ibid., p. 2.
10	 Documentos Interessantes, v. 92, p. 140. Carta ao Rmo. Prval. dos Capuchos., data ileg., 1770.
11	 Ibid., v. 65, p. 344.
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Amilcar Torrão Filho O Sumo Bem Contra a Ruína da Sociedade: o Morgado de Mateus, a Fundação do
Recolhimento da Luz e a Mística Feminina em São Paulo.
Os apelos às vantagens desta “utilíssima arte” não parecem ter sensibilizado os moradores da cidade, pois em 17
de setembro de 1771 ainda não havia nenhum aluno matriculado; por meio de um bando, o governador determi-
na que “irremessivelmente [sic] se abra a dita Aula e que nela entrem todos os militares em quem se descobrir
agilidade para se aplicar a esta Arte”. Para os estudantes e para as pessoas “conhecidamente curiosas” concedia o
“privilégio” de que não seriam alistadas como soldados pagos contra a sua vontade; já aos desobedientes se lhes
sentaria praça, por se considerar “como vadio, inútil à República e desprezador do serviço de Sua Majestade12
”.
O estado de penúria da educação na capitania é tributado, como sempre, à ação nefasta dos jesuítas. Por isso não
tarda o governador a introduzir nos estudos de seus governados as renovações realizadas na Universidade de
Coimbra, informando ao guardião do Convento de São Francisco, em 30 de março de 1772, que nas aulas de es-
tudos que iriam se abrir, para a instrução da mocidade da capitania, se deveriam seguir os ditames do Compêndio
Histórico do Estado da Universidade de Coimbra, com as novas diretrizes do ensino, ao que o mesmo guardião
se apressa em responder que as novas aulas procederão de acordo com este “nunca assaz Louvado método13
”.
	 Também da educação feminina tratará o governador; as mulheres recebiam a sua educação frequente-
mente nos recolhimentos e conventos. Segundo Bluteau, o recolhimento é, para as mulheres, “o pregoeiro da
sua honestidade”; o recolhimento religioso é, segundo o seu Vocabulário, aquela casa com Igreja na qual vivem
mulheres de diferentes estados, em clausura e em observância à sua Regente. Como estava claro em Bluteau, para
a mulher, ser honrada era “gozar de bom nome e estar isenta de qualquer fama14
”. O objetivo de muitos destes
recolhimentos era controlar os perigos que rondavam solteiras ou viúvas, bem como proteger as mulheres dos
perigos do mundo. Podiam constituir uma residência temporária ou para que se dedicassem ao serviço de Deus15
.
A Coroa procurou evitar, por vezes proibir, a abertura de conventos femininos na colônia dada a escassez de mu-
lheres brancas aptas ao matrimônio, embora a devoção de algumas mulheres e a necessidade de disciplinar umas
tantas outras, adúlteras, mulheres de má vida, órfãs, viúvas, decaídas, bastardas, solteiras sem dote, fez com que
em muitas cidades brasileiras houvesse este tipo de clausura. Algranti lembra que não era exatamente o medo de
despovoamento que estava em jogo na proibição de conventos, “mas reafirmar o papel da mulher na sociedade
colonial, que desde o início havia sido o de ser moldado para o casamento16
”. Sobretudo no período pombalino,
com o crescente controle do Estado sobre as instituições religiosas, tornava-se ainda mais difícil a abertura de
conventos, o que atrai a atenção do historiador para o interesse do morgado de Mateus em fundar o recolhimento
para mulheres devotas de Nossa Senhora dos Prazeres do Campo da Luz. Sobretudo se lembrarmos da descon-
fiança com a qual eram vistas as mulheres místicas e as atitudes beatas de muitas delas, algumas vezes confun-
didas com heresia ou superstição, já que seu sexo era sabidamente “mais vulnerável às trapaças do demônio17
”.
12	 Ibid., v. 33, p. 35.
13	 Ibid., v. 64, pp. 9-10.
14	 ARAÚJO, Maria Marta Lobo de, Os recolhimentos femininos de Braga na época moderna. In: ABREU, Laurinda de (ed.).
Asistencia y Caridad como Estrategias de Intervención Social: Iglesia, Estado y Comunidad (s. XV-XX). Bilbao: Universidad del País
Vasco/Euskal Herriko Unibersitatea, 2007, p. 293.
15	 Id., Ibid., pp. 294-295.
16	 ALGRANTI, Leila Mezan, Honradas e devotas: mulheres da colônia. Condição feminina nos conventos e recolhimentos do
Sudeste do Brasil, 1750-1822. Rio de Janeiro: José Olympio; Brasília: Edunb, 1993, p. 67.
17	 BORGES, Célia Maia, Santa Teresa e a espiritualidade mística: a circulação de um ideário religioso no Mundo Atlântico. In:
O Espaço Atlântico de Antigo Regime: Poderes e Sociedade.  Centro de Estudos de Além-Mar (CHAM), Universidade Nova de Lisboa,
Lisboa, 2005, p. 5. Disponível em http://cvc.instituto-camoes.pt/eaar/coloquio/comunicacoes/celia_maia_borges.pdf. Consultado em
novembro de 2010.
Revista MAS
Amilcar Torrão Filho O Sumo Bem Contra a Ruína da Sociedade: o Morgado de Mateus, a Fundação do
Recolhimento da Luz e a Mística Feminina em São Paulo.
Entretanto, como recorda Araújo, e demonstra a trajetória de irmã Helena, uma das fundadoras do recolhimento
da Luz, muitas vezes estes locais permitiam às mulheres a “conquista de um espaço próprio, longe dos poderes
masculinos (do pai ou do marido) e sem vínculo religioso”, dando a elas o direito de viverem sós ou em co-
munidade18
. Algranti ressalta ainda a importância dos recolhimentos paulistanos para as jovens bem nascidas,
recolhidas por falta de pretendentes, de dote ou pela devoção das jovens ou de suas famílias: “Em São Pau-
lo, zona de colonização mais antiga, onde se destacava a chamada ‘nobreza da terra’, encontraremos as des-
cendentes de famosos ramos da linhagem paulistana tanto na Luz, como no Recolhimento de Santa Teresa19
”.
	 A igreja de Nossa Senhora da Luz já existia quando da fundação do Recolhimento e tinha sido fun-
dada por Domingos Luiz, o Carvoeiro, natural de Carvoeira, Torres Vedras, Portugal, e por sua mulher Ana
Camacho, em 1579, inicialmente no bairro chamado Piranga, ou Ireripiranga, nas terras do casal. Em 1603
a pequena igreja teria sido transferida para o Guaré, ou Guarepe, data aceito por muitos autores, mas contes-
tada por Taunay e Arroyo. Para este último autor, 1603 seria a data de doação do patrimônio, não de cons-
trução da igreja ou mudança do Ipiranga para o Guaré20
. A doação do Carvoeiro impôs a condição de que
seus descendentes fossem os responsáveis por cuidarem da ermida a partir de então. No século XVIII é
seu descendente Felipe Cardoso quem a administra, tendo-a transferido em 1729, à administração perpé-
tua dos beneditinos, doando-lhes o patrimônio territorial que a circundava. Os beneditinos desistem da igre-
ja por ser muito onerosa, e no período do morgado de Mateus ela já se encontrava em ruínas, sendo restau-
rada pelo governador para que ali fosse realizada a festa de sua padroeira, Nossa Senhora dos Prazeres21
.
	 São Paulo, apesar de ser uma zona periférica e de menor população já possuía seu recolhimento desde
pelo menos inícios do Setecentos, o de Santa Teresa22
, fundado sem autorização régia, esperando-se que fosse
concedida posteriormente. Em 14 de novembro de 1773, uma recolhida de Santa Teresa, madre Helena Maria do
Espírito Santo, ou do Sacramento, que entrara ali como serva por ser muito pobre, tornando-se depois da doação
do dote por seu diretor espiritual uma recolhida, escreve ao governador solicitando seu auxílio na criação de
um novo recolhimento para mulheres na cidade com o título de Nossa Senhora do Carmo e Divina Providência.
Seu objetivo, diz ao governador, era cumprir a vontade de Deus “para sua maior honra e glória para aumentar
o seu Reino e de sua Majestade Fidelíssima”, uma vez que os religiosos eram “também seus fieis vassalos, que
sem soldo defendem sua coroa com suas orações contra os inimigos visíveis e invisíveis23
”. Um discurso ao
mesmo tempo piedoso e político, bem ao gosto de D. Luís Antônio, para quem a religião era uma aliada inesti-
mável do bom governo ilustrado, que deveria elevar o nome de Deus e do Rei ao mesmo tempo. O governador
aceita ajudá-la, solicitando, no entanto, que a padroeira fosse Nossa Senhora dos Prazeres, “para que se per-
petuasse a sua festa como sempre lhe fiz no Sítio da Luz, e como sempre se faz na minha Casa de Mateus24
”.
18	 ARAÚJO, Maria Marta Lobo de, Os recolhimentos femininos de Braga..., op. cit., p. 299.
19	 ALGRANTI, Leila Mezan, Honradas e Devotas..., op. cit., p. 138.
20	 ARROYO, Leonardo. Igrejas de São Paulo. Introdução ao estudo dos templos mais característicos de São Paulo nas suas
relações com a crônica da cidade. Rio de Janeiro: José Olympio, 1954, pp. 24-25.
21	 TOLEDO, Benedito Lima de, Frei Galvão..., op.cit., p. 16.
22	 ALGRANTI, Leila Mezan, Honradas e Devotas..., op. cit., pp. 69 e 85. Diz a autora que a primeira menção oficial ao recolhi-
mento de Santa Teresa é de um parecer do Conselho Ultramarino de 1718 em resposta a um ofício da câmara de 1715.
23	 Carta de 14 de novembro de 1773. Revista do Arquivo Municipal de São Paulo, I(X), mar., 1935, pp. 139-140. Cf. ALGRANTI,
Leila Mezan, Honradas e Devotas..., op. cit., pp. 97-98.
24	 Ibid., Carta de 25 de dezembro de 1773, p. 141.
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Amilcar Torrão Filho O Sumo Bem Contra a Ruína da Sociedade: o Morgado de Mateus, a Fundação do
Recolhimento da Luz e a Mística Feminina em São Paulo.
Sempre que podia D. LuísAntônio deixava marcas pessoais em atos de sua administração, destacando a virgem de
sua devoção e padroeira de sua casa, fosse num recolhimento ou num presídio-fortaleza no sertão, o de Nossa Se-
nhora dos Prazeres do Iguatemi. Ele pede a irmã Helena, ainda, que em suas devoções acrescentasse três petições
que havia muito tempo trazia no “tribunal Divino”: a salvação de sua alma, de sua família e dos sucessores de sua
casa; um “grande e especial acerto” de suas disposições, para bem servir a Deus, ao Rei e a seu povo; e a conserva-
ção, duração e felicidade da casa de Mateus25
. A devoção do governador esperava a consagração de seu trabalho,
no que considerava a restauração da capitania de São Paulo para o engrandecimento da monarquia e de sua famí-
lia e descendência, a sua salvação política, bem como a salvação espiritual de sua alma e de seus descendentes.
	 Na origem deste recolhimento estão as visões proféticas de irmã Helena, nascida em Apiaí em 1740: ela
comunica ao seu confessor, Frei Galvão, diversas revelações de Nosso Senhor, que lhe ordenava que fundasse
em São Paulo um outro recolhimento além do já existente de Santa Teresa. O Senhor voltou em seus sonhos
rodeado de ovelhas, umas nos braços, outras pelos ombros e outras tentando subir pelo seu corpo e disse-lhe:
Eis aqui estas minhas ovelhas, que procuram um aprisco para se recolherem e não o encontram, pois vós,
podendo, não quereis subministrar-lhes um, fundando um Convento, em cumprimento de minha vontade26
.
Pela pronta resposta do morgado de Mateus, o governador parecia já estar interessado nessa fundação muito
antes da petição. Por isso, Arroyo aventa a possibilidade de que a idéia de fundação do recolhimento tivesse
partido do próprio governador, conhecido por sua “extrema vaidade27
”, ou mesmo de Frei Galvão, responsável
pela direção espiritual de irmã Helena e de suas imagens proféticas reveladas em seus sonhos. Na carta enviada
ao morgado de Mateus, irmã Helena afirma que desejava fundar um novo recolhimento, não por descontenta-
mento “da santa vida que escolhi e vivo”, diz ela, mas “para cumprir a vontade de Deus28
”. O fato de ter deixa-
do em segredo a fundação até o momento de sua saída de Santa Teresa, e de ter sido admitida ali inicialmente
como serva, por sua pobreza, indicam que sua situação neste recolhimento poderia não ser das mais confortá-
veis, constituindo a Luz uma alternativa para mulheres de menos recursos, como era o caso de sua fundadora.
Ao mesmo tempo fica claro o caráter político e civilizador que o morgado de Mateus vê na fundação deste
recolhimento, aumentando os espaços nos quais a religião funcionaria como uma esfera educadora e socializa-
dora da população local, e como forma ainda de deixar uma marca pessoal de sua administração na capitania.
	 Em 2 de fevereiro de 1774, madre Helena, tornada regente do novo recolhimento, e sua sobrinha Ana da
Conceição, saíam de Santa Teresa para a Luz com outras sete noviças, depois de terem mantido silêncio sobre a
fundação do novo recolhimento. No mês de setembro deste ano, no dia 8, as recolhidas recebem do Bispo de São
Paulo, D. Manuel da Ressurreição, o hábito branco da Imaculada Conceição, ficando constituída assim a nova
comunidade sob a regência de sua fundadora29
. Embora adversário do governador, D. Manuel foi o primeiro Bis-
po a se identificar com o ideário do Iluminismo português, sendo grande colaborador do marquês de Pombal30
.
25	 Id., Ibid.
26	 Apud ARROYO, Leonardo. Igrejas de São Paulo, op. cit., p. 34.
27	 Id., Ibid., p. 35.
28	 Carta de 14 de novembro de 1773. Revista do Arquivo Municipal de São Paulo, op.cit., p. 139.
29	 SILVEIRA, Carlos da, O Convento da Luz (três interessantes documentos inéditos). Ibid., p. 138.
30	 WERNET, Augustin, Vida religiosa em São Paulo: do Colégio dos Jesuítas à diversificação de cultos e crenças (1554-1954).
In: PORTA, Paula (org.). História da cidade de São Paulo, v. 1: a cidade colonial. São Paulo: Paz e Terra, 2004, p. 209.
Revista MAS
Amilcar Torrão Filho O Sumo Bem Contra a Ruína da Sociedade: o Morgado de Mateus, a Fundação do
Recolhimento da Luz e a Mística Feminina em São Paulo.
Em 7 de novembro de 1774 o cônego da Sé, Manuel José Vaz, escreve ao governador pedindo licença real para
principiar a obra, sem a qual não podia iniciá-la, aproveitando para elogiar a iniciativa, já que a nobreza da capi-
tania não tinha “cômodos decentes para suas filhas31
”.Apesar da necessidade de licença régia, este como os outros
recolhimentos da colônia eram fundados antes das autorizações do Rei, que eram enviadas quando estes locais
já eram um fato consumado. A câmara, por exemplo, não teve que esperar ordem régia, pois em 12 de novembro
deste ano fazia termo de aprovação e licença do recolhimento da Luz no local no qual já havia capela em honra de
Nossa Senhora dos Prazeres, reformada pelo próprio governador, “abrindo portas e fazendo de novo todos os ma-
deiramentos”, e onde já se realizava a sua festa. A câmara ressalta que para além da utilidade à devoção das reco-
lhidas constituiria um passeio à população, servindo “de ornato de recreação e ocasião de devoção às pessoas que
ali concorrem todos os dias especialmente aos sábados”. Ressalta ainda que, entrando sem dote as recolhidas não
servem de ônus “nem de perturbação às famílias nem a este povo”, servindo também para que os moradores das
redondezas, então afastadas do centro, pudessem ouvir missa32
. Como afirma Toledo, Frei Galvão acreditava que
a Luz se tornaria parte importante da cidade, fazendo com que se alterasse “a disposição original do templo volta-
do para o Campo da Luz”; seu frontispício original era voltado para a cidade; posteriormente o seu arquiteto edifi-
cou outro, voltado para o caminho do Guaré33
, percebendo e antecipando talvez a transformação da área adjacente
num lugar de recreio que viria a ser importante para São Paulo, com a posterior construção do Jardim Botânico,
atual Parque da Luz, cujas terras foram cedidas pela câmara em 1799, e onde se realizaria uma importante feira34
.
	 Mas outra utilidade deste recolhimento, que não escapou ao governador, seria dar um destino às ter-
ras na Luz que haviam sido doadas anteriormente ao padre Gabriel Malagrida, jesuíta místico e famoso ad-
versário de Pombal executado pela Inquisição após o terremoto de 1755, por “culpas de fingimento e hipo-
crisia heregiarca [sic]”, nas quais desejava construir um convento de ursulinas. Estas terras foram tornadas
de utilidade pública em 1770, quando a câmara nega petição dos mordomos e devotos de são Manuel para
construírem ali um altar ao santo. Como essas terras foram consideradas parte do espólio dos expulsos je-
suítas por Gomes Freire de Andrade, conde de Bobadela e governador do Rio, elas foram seqüestradas
como as suas demais propriedades, tornando-se públicas35
. O convento ideado pelo padre Malagrida se-
ria construído, mas para servir à memória da administração ilustrada do morgado de Mateus e à honra de
sua casa. Oficialmente, à honra da Coroa que condenara o blasfemo Malagrida à fogueira da Inquisição.
	 Vemos na história de madre Helena a confirmação da trajetória de muitas outras mulheres beatas que esco-
lhem a vida religiosa e de recolhimento, negando o papel destinado ao seu sexo, sobretudo na colônia americana.
A irmã carmelita descalça Jacinta de São José, fundadora do recolhimento de Santa Teresa do Rio de Janeiro, em
1742, também recebeu a direção espiritual de seu confessor e biógrafo, Frei Manuel de Jesus, entre 1744 e 1745,
além do vigário da Candelária, Inácio Manuel da Costa Mascarenhas, seu diretor espiritual entre 1747 e 1748.
31	 Biblioteca Nacional, Carta do vigário capitular e cônego da Sé de São Paulo Manuel José Vaz ao governador da Capitania
de São Paulo..., I-30, 26, 22, nº 22. Arquivo de Mateus, doc. 27.
32	 Actas da Camara da Villa de S. Paulo, v. 16, pp. 347-350.
33	 TOLEDO, Benedito Lima de, Frei Galvão..., op.cit., pp. 50-52.
34	 SEGAWA, Hugo, Ao amor do público: jardins do Brasil. São Paulo: Studio Nobel, Fapesp, 1996, p. 132.
35	 Cartas de Datas de Terras, v. 5, pp. 66-68.
Revista MAS
Amilcar Torrão Filho O Sumo Bem Contra a Ruína da Sociedade: o Morgado de Mateus, a Fundação do
Recolhimento da Luz e a Mística Feminina em São Paulo.
Assim como madre Helena, irmã Jacinta tinha visões proféticas, nas quais estabelecia diálogos com Deus e com
Santa Teresa, o que lhe valeu uma denúncia à Inquisição e a inimizade do Bispo do Rio, D. Antônio do Desterro,
que a acusava de ser uma falsa santa36
. Igualmente ao que sucede com o recolhimento da Luz, o de Santa Teresa do
Rio é fundado pela ação voluntariosa de uma beata, que chega a desobedecer ao Bispo e ir a Lisboa em busca de
autorização régia, do apoio de seus confessores e sem autorização prévia. O Bispo acaba por permitir às reclusas
viverem sob a regra das carmelitas, comprometendo-se a obter as licenças do Rei e do Papa. Também no caso de
irmã Jacinta houve a proteção de um governador, Gomes Freire deAndrade, após a sua denúncia à Inquisição que,
segundo Frei Manuel de Jesus, venerava-a como a uma santa37
. Para Algranti, as vidas destas beatas são assimila-
das à hagiografia, sobretudo de outras mulheres devotas, religiosas e santas em três momentos singulares: sua in-
fância, a fundação do convento e sua morte38
. As visões e sonhos proféticos, experimentadas desde a infância, dão
argumentos de autoridade que reforçam a desobediência aos religiosos, sobretudo aos Bispos, desconfiados de sua
“santidade”39
. Outra santa mística e perseguida,Teresa de Jesus, serve de inspiração a essas mulheres devotas, cons-
truindoumaidentidadereligiosaquedásustentaçãoasuaspretensõeseàssuastrajetóriasdevidamísticaereligiosa.
	 Irmã Helena chega pobre, como serva, ao recolhimento de Santa Teresa, revelando a seu primeiro con-
fessor, padre Manuel José Vaz, ser importunada frequentemente pelo demônio. Mais tarde faria a mesma revela-
ção a Frei Galvão, a quem confiou suas visões, que a acompanhavam desde a infância, dedicando-se a orações,
jejuns e penitências contínuas40
. O caráter místico da fundação da Luz está marcado ainda na forma como irmã
Helena e as outras recolhidas saem de Santa Teresa, em 2 de fevereiro de 1774: elas partem embarcadas em duas
cadeiras, acompanhadas do capitão-general, do governador do bispado, do ouvidor, de Frei Galvão, em meio a
uma enorme tempestade que molhou a todos, exceto a sua fundadora41
. Se madre Jacinta morre sem ter podido
tomar o hábito carmelita, morrendo em sacrifício em nome de sua causa, irmã Helena não pôde fundar seu reco-
lhimento sob esta mesma ordem carmelita, que já existia na cidade, cedendo a honra de lhe definir a invocação
ao governador42
. Além disso, apesar de cumprir a ordem divina, e de formar o que Maia Fina chama de “Trin-
dade espiritual que havia de criar o Convento da Luz”, juntamente com Frei Galvão e o morgado de Mateus,
Deus não foi generoso com ela, segundo este autor, tendo-a levado para junto de si em 23 de fevereiro de 177543
.
	
Tanto madre Jacinta quanto irmã Helena recebem a proteção de um governador que, no caso do morgado de
36	 ALGRANTI, Leila Mezan, Mémoire et hagiographie: la (re)construction de la vie d’une religieuse dans le Brésil colonial.
Clio. Histoire, femmes et sociétés. Toulouse: Presses Universitaires du Mirail, 19, 2004, p. 3. Disponível em
http://clio.revues.org/index657.html. Consultado em dezembro de 2010.
37	 Id., Ibid., p. 4.
38	 Id., Ibid.
39	 Id., Ibid., p. 8.
40	 Id., Honradas e Devotas, op.cit., p. 97.
41	 Apud ARROYO, Leonardo, Igrejas de São Paulo..., op. cit., p. 36.
42	 ALGRANTI, Leila Mezan, Honradas e Devotas..., op. cit., p. 98. Cf. BORGES, Célia Maia, op. cit., p. 9.
43	 FINA, Wilson Maia. O Convento da Luz. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de S. Paulo, São Paulo, 65, 1968, p. 410.
Revista MAS
Amilcar Torrão Filho O Sumo Bem Contra a Ruína da Sociedade: o Morgado de Mateus, a Fundação do
Recolhimento da Luz e a Mística Feminina em São Paulo.
Mateus, entendia a religião como uma operação construtora de civilidade e bom governo, podendo civilizar as
terras incultas e pouco “polidas” da América, sem a qual os homens não tinham nenhuma utilidade ao Estado ou
à sociedade, sendo piores do que feras. Embora em colônias os recolhimentos fossem vistos com desconfiança,
D. Luís Antônio vê na devoção de irmã Helena a possibilidade de uma instância pedagógica e civilizadora, que
tinha ainda a vantagem de apagar um pouco mais a memória dos jesuítas na cidade. Isso sem contar a marca de
sua administração e de sua casa no nome de Nossa Senhora dos Prazeres, perpetuando seu nome na capitania por
ele restaurada e ressuscitada, além de contribuir para a sua salvação, uma vez que era homem de devoção sincera,
deixando a marca de sua fé no convento da Luz, junto às vidas místicas de irmã Helena e de Frei Galvão.
FONTES E BIBLIOGRAFIA
Fontes Manuscritas:
Arquivo Histórico Ultramarino (Lisboa). Projeto Resgate.
(Avulsos, 1644-1830).
333. Ofício do governador e capitão-general da capitania de São Paulo Morgado de Mateus, D. Luís Antônio de
Souza Botelho Mourão ao Rei (D. José I), dando conta do estado em que achou a capitania, descrevendo e
dando sugestões (...). 1767, Dezembro, 01. São Paulo.
AHU, São Paulo, cx. 5, doc. 18 [D. 333].
Biblioteca Nacional (Rio de Janeiro). Arquivo de Mateus.
Doc. 26. Oficio do capitão José Gonçalves Coelho, como procurador do governador Luís Antônio de Souza Bo-
telho Mourão, à Câmara da cidade de São Paulo, requerendo certidão do termo de aprovação e licença de
fundação do Recolhimento de nº Sra. dos Prazeres, no campo da Luz. S.d. Acompanha o documento reque-
rido. São Paulo, 18 de maio. 1775.
I-30, 26, 22 nº 1.
Doc. 27. Carta do Vigário Capitular e Cônego da Sé de São Paulo, Manuel José Vaz, ao governador da Capitania
de São Paulo Luís Antônio de Souza Botelho Mourão, pedindo licnça. expressa de S.M. para começar as
obras de construção de um recolhimento de mulheres devotas naquela cidade. São Paulo, 7 de novembro.
1774.
	 I-30, 26 nº 2.
Fontes Impressas:
Actas da Camara Municipal de S. Paulo. São Paulo: Archivo Municipal de S. Paulo, 1919. V. 16 (1771-1776).
BLUTEAU, Raphael. Vocabulario portuguez e latino. Coimbra: Collegio das Artes da Companhia de Jesu, 1712.
Ed. em CDROM da UERJ.
Cartas de Datas de Terras. São Paulo: Dep. de Cultura, 1937. V. V (1755-1800).
Revista MAS
Amilcar Torrão Filho O Sumo Bem Contra a Ruína da Sociedade: o Morgado de Mateus, a Fundação do
Recolhimento da Luz e a Mística Feminina em São Paulo.
O convento da Luz. Três interessantes documentos inéditos. Revista do Arquivo Municipal de São Paulo. São
Paulo, I(X): 137-142, mar., 1935.
Documentos Interessantes para a História e Costumes de São Paulo. São Paulo: Dep. do Arquivo do Estado de
S. Paulo.
V. 11. Divisas de S. Paulo e Minas Geraes, 1896.
V. 23. Correspondencia do Capitão-General D. Luiz Antonio de Souza de Souza Botelho Mourão (1766-1768),
1896.
V. 33. Bandos, ordens e portarias de D. Luiz Antonio de Souza (1771-1775), 1901.
V. 64. Officios do Capitão-General D. Luiz Antonio de Souza de Souza Botelho Mourão aos diversos funcciona-
rios da Capitania (1772-1775), 1939.
V. 65. Officios do Capitão-General D. Luiz Antonio de Souza de Souza Botelho Mourão aos diversos funcciona-
rios da Capitania (1765-1771), 1940.
V. 67. Officios do Capitão-General D. Luiz Antonio de Souza de Souza Botelho Mourão (Morgado de Mateus)
aos diversos funccionarios da Capitania (1766-1767), 1943.
V. 92. Oficios do Capitão-General D. Luiz aos diversos funcionarios da Capitania (1768-1772), 1978.
Bibliografia:
ALGRANTI, Leila Mezan. Honradas e devotas: mulheres da colônia. Condição feminina nos conventos e reco-
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Paz e Terra, 2004, pp. 191-243.

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  • 1. Revista MAS Amilcar Torrão Filho O Sumo Bem Contra a Ruína da Sociedade: o Morgado de Mateus, a Fundação do Recolhimento da Luz e a Mística Feminina em São Paulo. O Sumo Bem Contra a Ruína da Sociedade: o Morgado de Mateus, a Fundação do Recolhi- mento da Luz e a Mística Feminina em São Paulo. Amilcar Torrão Filho Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – Dep. de História Na construção e fundação do mosteiro da Luz, inicialmente um recolhimento feminino, a figura de Frei Galvão, o seu construtor, está não apenas destacada como intimamente ligada à vida desta instituição. Toledo, por exemplo, ressaltou a qualidade e originalidade de seu projeto arquitetônico, um dos raros exemplos de igreja construída com planta octogonal no Brasil, sendo ele responsável ainda pelo outro exemplo de planta poligonal em São Paulo, a Capela da Venerável Ordem Terceira de São Francisco1 . Gostaria de ressaltar neste artigo a figura do governador e capitão-general da restaurada capitania de São Paulo, D. Luís Antônio de Souza Botelho Mou- rão, o morgado de Mateus, responsável pela fundação, em 1774, do Recolhimento da Luz, juntamente com Frei Antônio de Santana Galvão e madre Helena Maria do Espírito Santo, ou do Sacramento, sua primeira Regente. Em carta régia de 9 de novembro de 1709 a antiga Capitania de São Vicente é transformada na capitania de São Paulo e Minas do Ouro, como resultado da Guerra dos Emboabas, que tinha dividido os paulistas e demais portugueses da América em torno das recém descobertas minas de ouro2 . Em 1748 a capitania de São Paulo é desmembrada das Minas Gerais, quando se criam as capitanias de Goiás e Mato Grosso, sendo então adminis- trada por um governador em Santos, sem patente de capitão-general e submetido ao Rio de Janeiro. Depois de requerimento da câmara de Piratininga, a capitania é restaurada por Sua Majestade. O conde da Cunha, vice-rei do Brasil entre 1763 e 1767, escreve ao Rei em 12 de agosto de 1764, afirmando estar reduzida a capitania a um estado lastimável, sendo impossível governar as capitanias de São Paulo e Rio de Janeiro conjuntamente, pelas distâncias e por serem os habitantes de São Paulo “excessivamente inquietos e revoltosos, em território abun- dante de minas de ouro e nas vizinhanças dos castelhanos3 ”. Em carta ao Secretário de Negócios da Marinha e Ultramar, Francisco Xavier de Mendonça Furtado, o vice-rei afirma que por conta do “miserável estado a que se achava reduzida”, pela falta de governo e pela proximidade da cidade de São Paulo com o novo descoberto de São João de Jacuri, Sua Majestade decidira nomear a D. Luís Antônio de Souza para governador e capitão- -general de São Paulo, que governaria a capitania entre 1765 e 17754 . Dentre as suas atribuições estava a definição dos limites com Minas Gerais e Goiás além de sua recuperação, dado o miserável estado em que se encontrava5 . 1 TOLEDO, Benedito Lima de, Frei Galvão: arquiteto. Cotia, SP: Ateliê, 2007, p. 43. 2 Carta Régia creando a Capitania de S. Paulo e Minas do Ouro e nomeando governador da mesma a Antonio de Albuquer- que Coelho de Carvalho, - de 9 de novembro de 1709. Documentos Interessantes para a Historia e Costumes de S. Paulo. São Paulo: Archivo do Estado de S. Paulo, v. 67, p. 65. Cf. ROMEIRO, Adriana, Paulistas e emboabas no coração das Minas. Idéias, práticas e ima- ginário político no século XVIII. Belo Horizonte: UFMG, 2008. 3 Documentos Interessantes, op. cit., v. 11, pp. 209-211. 4 Sobre o governo do morgado de Mateus, cf. BELLOTTO, Heloísa Liberalli. Autoridade e conflito no Brasil: o governo do Morgado de Mateus em São Paulo: 1765-1775. São Paulo: Conselho Estadual de Artes e Ciências Humanas, 1979; MIRANDA, Lílian Lisboa, Governança e edilidade em São Paulo (1765-1775). Tese (Doutorado em História). São Paulo: Universidade de São Paulo, 2003; TORRÃO FILHO,Amilcar. Paradigma do caos ou cidade da conversão? São Paulo na administração do Morgado de Mateus. São Paulo: Annablume/Fapesp, 2007; DERNTL, Maria Fernanda. Método e Arte: criação urbana e organização territorial na capitania de São Pau- lo, 1765-1811. Tese (Doutorado em História e Fundamentos da Arquitetura e do Urbanismo). São Paulo: FAU/USP, 2010; e TORRÃO FILHO, Amilcar, DERNTL, Maria Fernanda. Cidade e civilidade: um governo ilustrado na Capitania de São Paulo In: GAZZANEO, Luiz Manoel (org.). Da Baixa Pombalina a Brasília. Iluminismo e Contemporaneidade em Países e Espaços de Língua Portuguesa. Ci- dades e Espacialidade. Rio de Janeiro: UFRJ/FAU/PROARQ, 2010, pp. 257-275. 5 Documentos Interessantes, v. 67, p. 144.
  • 2. Revista MAS Amilcar Torrão Filho O Sumo Bem Contra a Ruína da Sociedade: o Morgado de Mateus, a Fundação do Recolhimento da Luz e a Mística Feminina em São Paulo. A transferência dos interesses portugueses para o centro-sul, por causa das minas, os conflitos de fronteira com os espanhóis e as demandas dos comerciantes de São Paulo fizeram com que o seu governo fosse restaurado. Na capital piratiningana, a época também era de mudanças. Com a restauração, o Pátio do Colégio dos Jesuítas, expulsos em 1760, passou a se chamar Largo do Palácio servindo, a partir de 1765, como re- sidência do novo governador. Tanto do ponto de vista simbólico como prático, esta mudança reflete a nova orientação do governo pombalino. A presença dos inacianos deveria ser apagada das cidades e aldeamen- tos e seus símbolos de poder deveriam ser substituídos pela presença do Estado português e de um cato- licismo oficial, sem as marcas dos jesuítas. Em São Paulo, cidade baluarte construída pelos padres da Com- panhia de Jesus para consolidação do poder da Igreja e do Estado, enquanto aliado do papado, e também de sua própria ordem, a transferência simbólica do poder era ainda mais necessária. Para isso o novo governa- dor envidou todos os esforços possíveis para erradicar algumas das causas do que considerava o estado mi- serável da capitania: a presença jesuítica, ainda evidente nos espaços da cidade, e a resistência dos “paulis- tas”, “inquietos e revoltosos”, em adotarem as novas diretrizes ilustradas de “gerência” da economia, da administração pública e da segurança trazidas pelo capitão-general e a enorme “preguiça” dos naturais da terra. D. Luís Antônio de Souza Botelho Mourão, o quarto morgado de Mateus, nasceu em 1722, na fre- guesia de São Veríssimo de Riba, distrito da vila de Amarante. Recebeu educação militar de seu avô, D. Luís Antônio de Souza, governador do castelo de São Tiago da Barra da vila de Viana. Comandou a resistência à ofensiva franco-espanhola em 1762, durante a Guerra dos Sete Anos (1756-1763), tendo sido promovido a coronel de infantaria. Ao ser nomeado governador da capitania de São Paulo possuía os títulos de morgado de Mateus, de Moroleiros, de Sabrosa e Cumieira, fidalgo da casa de Sua Majestade e de seu conselho, senhor donatário da vila de Ovelha do Marão, alcaide-mor da cidade de Bragança, comendador de Santa Maria de Vimioza da Ordem de Cristo e governador do castelo da Barra de Viana. Suas habilidades militares lhe ga- rantiram a nomeação para a capitania de São Paulo, de acordo com as diretrizes do governo pombalino, de garantir a defesa da complicada fronteira sul da colônia com os castelhanos, a “recuperação” econômica e de introduzir novos e modernos elementos de governo e “gerenciamento” da administração pública e econômica. Em ofício ao Rei de 1 de dezembro de 1767, D. Luís Antônio se queixa da desordem e decadência que encontra na capitania que irá governar: das tropas não encontra mais do que ordenanças que, embora tives- sem seus capitães-mores estavam “faltas de disciplina e de obediência pela dispersão em que vivem os Po- vos, e pelo dos costumes”. As povoações são todas pequenas e sem nenhum modo de ganhar a vida, “os cam- pos incultos, tudo coberto de mata brava, a lavoura por mau método, pois só se planta em mato virgem”, pela repugnância que têm os lavradores de se sujeitarem ao trabalho de “cultivarem os campos como nesse Rei- no. Apenas colhe cada um para o seu sustento próprio muito pouco sobra para se vender ao público”. Nin- guém aproveita os recursos do país, diz o governador, achando-se o povo “reduzido à mais lastimosa pobre- za”. Não encontra o governador a população assentada em vilas e cidades como gostaria, afirmando que a:
  • 3. Revista MAS Amilcar Torrão Filho O Sumo Bem Contra a Ruína da Sociedade: o Morgado de Mateus, a Fundação do Recolhimento da Luz e a Mística Feminina em São Paulo. dispersãoquesecostumahabitarnãopossibilitaadevidacivilidadenemanecessáriaDoutrinaEspiritual,pois procedequeesquecidososhomensdasobrigaçõescomquenasceram,seguemadesordemnaturaldosseuscos- tumes,unsadormecendo-senosvícios,outroscometendodelitos,dequetodososdiasseouviamastristesnotícias6 . Ao marquês de Pombal, então conde de Oeiras, descreve de modo não menos desolador o estado das coisas na capitania. D. Luís observou ao ministro que a cada dia se ia “formalizando mais nos inconvenien- tes que se seguem ao serviço de Deus e o de S. Majestade, e ao bem comum deste Estado por causa do mau método da lavoura7 ”. Não usam os paulistas as terras “como nesse Reino”, ou seja, de maneira intensiva e comercial, preferindo-se ainda uma agricultura itinerante e extensiva. Falta a adequação da colônia às necessi- dades do Reino: no raciocínio do governador isto se dá pela ausência da civilidade necessária aos povos para poderem adotar as normas “ilustradas” de produção e de povoamento, comuns às nações polidas da Europa, bem como da religião, a necessária aliada da monarquia na condução dos seus súditos. É o primeiro inconve- niente que encontra D. Luís Antônio, a falta de religião, “e é certo que aonde se falta a Deus, que é o criador de tudo, o Sumo bem, e a fonte de toda a felicidade, não pode haver cousa boa8 ”. Um segundo inconveniente, muito ligado ao primeiro, é a “falta de Sociedade, pois sendo esta a principal das obrigações civis, se acha totalmente arruinada e caminha a passos largos para o seu precipício, levando atrás de si a ruína de todo o Estado”. A falta de religião e a técnica de plantio considerada primitiva se unem para o morgado de Mateus na desintegração da sociedade. Esta técnica de plantio contribui para a ruína do Estado “porque consistindo ela na união com que os Homens se ajudam uns aos outros, nada é tanto contra esta união, como o referido método de lavoura que se pratica”, feita de maneira itinerante, em sítios volantes, com os homens afastados do convívio e sem o controle do Estado ou da Igreja. Finalmente uma terceira causa que é a falta de Justiça, porque vivendo os homens fora de povoado, metidos pelos Matos sem ouvirem mais do que a fa- mília, faltos de instrução, e de doutrina, e até dos primeiros princípios da nossa Fé, que hão de ser senão piores que feras, porque estas pela falta de aptidão, e de discurso podem fazer um dano se- melhante; mas os homens dotados de talento, abandonados ������������������������������������������à�����������������������������������������lei da natureza, e criados entre as bre- nhas como feras, são capazes de outros maiores danos; e quando o não fazem se não pode esperar de- les utilidade alguma, nem para o Reino do Céu, nem para o de S. Majestade que Deus Guarde...9 No plano da educação D. Luís Antônio seguiu sua vocação militarista, introduzindo as Aulas de Geome- tria. Desde a extinção dos jesuítas a educação pública da capitania, e de toda a colônia, estava desestruturada, ten- do sido aquela ordem a responsável pela instrução da colônia desde sua ocupação.Ao chegar a São Paulo constata a pequena quantidade de pessoas hábeis na geometria, muitas apenas com alguns princípios desta, o que causava “tão grande detrimento no Real Serviço, que a cada passo se está experimentando a Sua falta; esta necessidade, e as ocasiões, que no tempo presente se multiplicam para ocorrer a defensa, e segurança destes Estados”, fazendo com que peça licença ao Rei para criar uma cadeira de geometria no convento de São Francisco, rogando ao provincial dos capuchos que concedesse ao mestre da cadeira os mesmos privilégios dos mestres de Filosofia e Teologia do convento10 . Os estudos são abertos em agosto de 1771, conforme o edital de convocação de 25 de janeiro, que pro- metia que os que se aplicassem a esta “utilíssima arte” seriam premiados com honras e mercês por Sua Majestade11 . 6 AHU, São Paulo, cx. 5, doc. 18 [D. 333]. 7 Documentos Interessantes, v. 23, p. 1. 8 Ibid., v. 23, p. 1. 9 Ibid., p. 2. 10 Documentos Interessantes, v. 92, p. 140. Carta ao Rmo. Prval. dos Capuchos., data ileg., 1770. 11 Ibid., v. 65, p. 344.
  • 4. Revista MAS Amilcar Torrão Filho O Sumo Bem Contra a Ruína da Sociedade: o Morgado de Mateus, a Fundação do Recolhimento da Luz e a Mística Feminina em São Paulo. Os apelos às vantagens desta “utilíssima arte” não parecem ter sensibilizado os moradores da cidade, pois em 17 de setembro de 1771 ainda não havia nenhum aluno matriculado; por meio de um bando, o governador determi- na que “irremessivelmente [sic] se abra a dita Aula e que nela entrem todos os militares em quem se descobrir agilidade para se aplicar a esta Arte”. Para os estudantes e para as pessoas “conhecidamente curiosas” concedia o “privilégio” de que não seriam alistadas como soldados pagos contra a sua vontade; já aos desobedientes se lhes sentaria praça, por se considerar “como vadio, inútil à República e desprezador do serviço de Sua Majestade12 ”. O estado de penúria da educação na capitania é tributado, como sempre, à ação nefasta dos jesuítas. Por isso não tarda o governador a introduzir nos estudos de seus governados as renovações realizadas na Universidade de Coimbra, informando ao guardião do Convento de São Francisco, em 30 de março de 1772, que nas aulas de es- tudos que iriam se abrir, para a instrução da mocidade da capitania, se deveriam seguir os ditames do Compêndio Histórico do Estado da Universidade de Coimbra, com as novas diretrizes do ensino, ao que o mesmo guardião se apressa em responder que as novas aulas procederão de acordo com este “nunca assaz Louvado método13 ”. Também da educação feminina tratará o governador; as mulheres recebiam a sua educação frequente- mente nos recolhimentos e conventos. Segundo Bluteau, o recolhimento é, para as mulheres, “o pregoeiro da sua honestidade”; o recolhimento religioso é, segundo o seu Vocabulário, aquela casa com Igreja na qual vivem mulheres de diferentes estados, em clausura e em observância à sua Regente. Como estava claro em Bluteau, para a mulher, ser honrada era “gozar de bom nome e estar isenta de qualquer fama14 ”. O objetivo de muitos destes recolhimentos era controlar os perigos que rondavam solteiras ou viúvas, bem como proteger as mulheres dos perigos do mundo. Podiam constituir uma residência temporária ou para que se dedicassem ao serviço de Deus15 . A Coroa procurou evitar, por vezes proibir, a abertura de conventos femininos na colônia dada a escassez de mu- lheres brancas aptas ao matrimônio, embora a devoção de algumas mulheres e a necessidade de disciplinar umas tantas outras, adúlteras, mulheres de má vida, órfãs, viúvas, decaídas, bastardas, solteiras sem dote, fez com que em muitas cidades brasileiras houvesse este tipo de clausura. Algranti lembra que não era exatamente o medo de despovoamento que estava em jogo na proibição de conventos, “mas reafirmar o papel da mulher na sociedade colonial, que desde o início havia sido o de ser moldado para o casamento16 ”. Sobretudo no período pombalino, com o crescente controle do Estado sobre as instituições religiosas, tornava-se ainda mais difícil a abertura de conventos, o que atrai a atenção do historiador para o interesse do morgado de Mateus em fundar o recolhimento para mulheres devotas de Nossa Senhora dos Prazeres do Campo da Luz. Sobretudo se lembrarmos da descon- fiança com a qual eram vistas as mulheres místicas e as atitudes beatas de muitas delas, algumas vezes confun- didas com heresia ou superstição, já que seu sexo era sabidamente “mais vulnerável às trapaças do demônio17 ”. 12 Ibid., v. 33, p. 35. 13 Ibid., v. 64, pp. 9-10. 14 ARAÚJO, Maria Marta Lobo de, Os recolhimentos femininos de Braga na época moderna. In: ABREU, Laurinda de (ed.). Asistencia y Caridad como Estrategias de Intervención Social: Iglesia, Estado y Comunidad (s. XV-XX). Bilbao: Universidad del País Vasco/Euskal Herriko Unibersitatea, 2007, p. 293. 15 Id., Ibid., pp. 294-295. 16 ALGRANTI, Leila Mezan, Honradas e devotas: mulheres da colônia. Condição feminina nos conventos e recolhimentos do Sudeste do Brasil, 1750-1822. Rio de Janeiro: José Olympio; Brasília: Edunb, 1993, p. 67. 17 BORGES, Célia Maia, Santa Teresa e a espiritualidade mística: a circulação de um ideário religioso no Mundo Atlântico. In: O Espaço Atlântico de Antigo Regime: Poderes e Sociedade.  Centro de Estudos de Além-Mar (CHAM), Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 2005, p. 5. Disponível em http://cvc.instituto-camoes.pt/eaar/coloquio/comunicacoes/celia_maia_borges.pdf. Consultado em novembro de 2010.
  • 5. Revista MAS Amilcar Torrão Filho O Sumo Bem Contra a Ruína da Sociedade: o Morgado de Mateus, a Fundação do Recolhimento da Luz e a Mística Feminina em São Paulo. Entretanto, como recorda Araújo, e demonstra a trajetória de irmã Helena, uma das fundadoras do recolhimento da Luz, muitas vezes estes locais permitiam às mulheres a “conquista de um espaço próprio, longe dos poderes masculinos (do pai ou do marido) e sem vínculo religioso”, dando a elas o direito de viverem sós ou em co- munidade18 . Algranti ressalta ainda a importância dos recolhimentos paulistanos para as jovens bem nascidas, recolhidas por falta de pretendentes, de dote ou pela devoção das jovens ou de suas famílias: “Em São Pau- lo, zona de colonização mais antiga, onde se destacava a chamada ‘nobreza da terra’, encontraremos as des- cendentes de famosos ramos da linhagem paulistana tanto na Luz, como no Recolhimento de Santa Teresa19 ”. A igreja de Nossa Senhora da Luz já existia quando da fundação do Recolhimento e tinha sido fun- dada por Domingos Luiz, o Carvoeiro, natural de Carvoeira, Torres Vedras, Portugal, e por sua mulher Ana Camacho, em 1579, inicialmente no bairro chamado Piranga, ou Ireripiranga, nas terras do casal. Em 1603 a pequena igreja teria sido transferida para o Guaré, ou Guarepe, data aceito por muitos autores, mas contes- tada por Taunay e Arroyo. Para este último autor, 1603 seria a data de doação do patrimônio, não de cons- trução da igreja ou mudança do Ipiranga para o Guaré20 . A doação do Carvoeiro impôs a condição de que seus descendentes fossem os responsáveis por cuidarem da ermida a partir de então. No século XVIII é seu descendente Felipe Cardoso quem a administra, tendo-a transferido em 1729, à administração perpé- tua dos beneditinos, doando-lhes o patrimônio territorial que a circundava. Os beneditinos desistem da igre- ja por ser muito onerosa, e no período do morgado de Mateus ela já se encontrava em ruínas, sendo restau- rada pelo governador para que ali fosse realizada a festa de sua padroeira, Nossa Senhora dos Prazeres21 . São Paulo, apesar de ser uma zona periférica e de menor população já possuía seu recolhimento desde pelo menos inícios do Setecentos, o de Santa Teresa22 , fundado sem autorização régia, esperando-se que fosse concedida posteriormente. Em 14 de novembro de 1773, uma recolhida de Santa Teresa, madre Helena Maria do Espírito Santo, ou do Sacramento, que entrara ali como serva por ser muito pobre, tornando-se depois da doação do dote por seu diretor espiritual uma recolhida, escreve ao governador solicitando seu auxílio na criação de um novo recolhimento para mulheres na cidade com o título de Nossa Senhora do Carmo e Divina Providência. Seu objetivo, diz ao governador, era cumprir a vontade de Deus “para sua maior honra e glória para aumentar o seu Reino e de sua Majestade Fidelíssima”, uma vez que os religiosos eram “também seus fieis vassalos, que sem soldo defendem sua coroa com suas orações contra os inimigos visíveis e invisíveis23 ”. Um discurso ao mesmo tempo piedoso e político, bem ao gosto de D. Luís Antônio, para quem a religião era uma aliada inesti- mável do bom governo ilustrado, que deveria elevar o nome de Deus e do Rei ao mesmo tempo. O governador aceita ajudá-la, solicitando, no entanto, que a padroeira fosse Nossa Senhora dos Prazeres, “para que se per- petuasse a sua festa como sempre lhe fiz no Sítio da Luz, e como sempre se faz na minha Casa de Mateus24 ”. 18 ARAÚJO, Maria Marta Lobo de, Os recolhimentos femininos de Braga..., op. cit., p. 299. 19 ALGRANTI, Leila Mezan, Honradas e Devotas..., op. cit., p. 138. 20 ARROYO, Leonardo. Igrejas de São Paulo. Introdução ao estudo dos templos mais característicos de São Paulo nas suas relações com a crônica da cidade. Rio de Janeiro: José Olympio, 1954, pp. 24-25. 21 TOLEDO, Benedito Lima de, Frei Galvão..., op.cit., p. 16. 22 ALGRANTI, Leila Mezan, Honradas e Devotas..., op. cit., pp. 69 e 85. Diz a autora que a primeira menção oficial ao recolhi- mento de Santa Teresa é de um parecer do Conselho Ultramarino de 1718 em resposta a um ofício da câmara de 1715. 23 Carta de 14 de novembro de 1773. Revista do Arquivo Municipal de São Paulo, I(X), mar., 1935, pp. 139-140. Cf. ALGRANTI, Leila Mezan, Honradas e Devotas..., op. cit., pp. 97-98. 24 Ibid., Carta de 25 de dezembro de 1773, p. 141.
  • 6. Revista MAS Amilcar Torrão Filho O Sumo Bem Contra a Ruína da Sociedade: o Morgado de Mateus, a Fundação do Recolhimento da Luz e a Mística Feminina em São Paulo. Sempre que podia D. LuísAntônio deixava marcas pessoais em atos de sua administração, destacando a virgem de sua devoção e padroeira de sua casa, fosse num recolhimento ou num presídio-fortaleza no sertão, o de Nossa Se- nhora dos Prazeres do Iguatemi. Ele pede a irmã Helena, ainda, que em suas devoções acrescentasse três petições que havia muito tempo trazia no “tribunal Divino”: a salvação de sua alma, de sua família e dos sucessores de sua casa; um “grande e especial acerto” de suas disposições, para bem servir a Deus, ao Rei e a seu povo; e a conserva- ção, duração e felicidade da casa de Mateus25 . A devoção do governador esperava a consagração de seu trabalho, no que considerava a restauração da capitania de São Paulo para o engrandecimento da monarquia e de sua famí- lia e descendência, a sua salvação política, bem como a salvação espiritual de sua alma e de seus descendentes. Na origem deste recolhimento estão as visões proféticas de irmã Helena, nascida em Apiaí em 1740: ela comunica ao seu confessor, Frei Galvão, diversas revelações de Nosso Senhor, que lhe ordenava que fundasse em São Paulo um outro recolhimento além do já existente de Santa Teresa. O Senhor voltou em seus sonhos rodeado de ovelhas, umas nos braços, outras pelos ombros e outras tentando subir pelo seu corpo e disse-lhe: Eis aqui estas minhas ovelhas, que procuram um aprisco para se recolherem e não o encontram, pois vós, podendo, não quereis subministrar-lhes um, fundando um Convento, em cumprimento de minha vontade26 . Pela pronta resposta do morgado de Mateus, o governador parecia já estar interessado nessa fundação muito antes da petição. Por isso, Arroyo aventa a possibilidade de que a idéia de fundação do recolhimento tivesse partido do próprio governador, conhecido por sua “extrema vaidade27 ”, ou mesmo de Frei Galvão, responsável pela direção espiritual de irmã Helena e de suas imagens proféticas reveladas em seus sonhos. Na carta enviada ao morgado de Mateus, irmã Helena afirma que desejava fundar um novo recolhimento, não por descontenta- mento “da santa vida que escolhi e vivo”, diz ela, mas “para cumprir a vontade de Deus28 ”. O fato de ter deixa- do em segredo a fundação até o momento de sua saída de Santa Teresa, e de ter sido admitida ali inicialmente como serva, por sua pobreza, indicam que sua situação neste recolhimento poderia não ser das mais confortá- veis, constituindo a Luz uma alternativa para mulheres de menos recursos, como era o caso de sua fundadora. Ao mesmo tempo fica claro o caráter político e civilizador que o morgado de Mateus vê na fundação deste recolhimento, aumentando os espaços nos quais a religião funcionaria como uma esfera educadora e socializa- dora da população local, e como forma ainda de deixar uma marca pessoal de sua administração na capitania. Em 2 de fevereiro de 1774, madre Helena, tornada regente do novo recolhimento, e sua sobrinha Ana da Conceição, saíam de Santa Teresa para a Luz com outras sete noviças, depois de terem mantido silêncio sobre a fundação do novo recolhimento. No mês de setembro deste ano, no dia 8, as recolhidas recebem do Bispo de São Paulo, D. Manuel da Ressurreição, o hábito branco da Imaculada Conceição, ficando constituída assim a nova comunidade sob a regência de sua fundadora29 . Embora adversário do governador, D. Manuel foi o primeiro Bis- po a se identificar com o ideário do Iluminismo português, sendo grande colaborador do marquês de Pombal30 . 25 Id., Ibid. 26 Apud ARROYO, Leonardo. Igrejas de São Paulo, op. cit., p. 34. 27 Id., Ibid., p. 35. 28 Carta de 14 de novembro de 1773. Revista do Arquivo Municipal de São Paulo, op.cit., p. 139. 29 SILVEIRA, Carlos da, O Convento da Luz (três interessantes documentos inéditos). Ibid., p. 138. 30 WERNET, Augustin, Vida religiosa em São Paulo: do Colégio dos Jesuítas à diversificação de cultos e crenças (1554-1954). In: PORTA, Paula (org.). História da cidade de São Paulo, v. 1: a cidade colonial. São Paulo: Paz e Terra, 2004, p. 209.
  • 7. Revista MAS Amilcar Torrão Filho O Sumo Bem Contra a Ruína da Sociedade: o Morgado de Mateus, a Fundação do Recolhimento da Luz e a Mística Feminina em São Paulo. Em 7 de novembro de 1774 o cônego da Sé, Manuel José Vaz, escreve ao governador pedindo licença real para principiar a obra, sem a qual não podia iniciá-la, aproveitando para elogiar a iniciativa, já que a nobreza da capi- tania não tinha “cômodos decentes para suas filhas31 ”.Apesar da necessidade de licença régia, este como os outros recolhimentos da colônia eram fundados antes das autorizações do Rei, que eram enviadas quando estes locais já eram um fato consumado. A câmara, por exemplo, não teve que esperar ordem régia, pois em 12 de novembro deste ano fazia termo de aprovação e licença do recolhimento da Luz no local no qual já havia capela em honra de Nossa Senhora dos Prazeres, reformada pelo próprio governador, “abrindo portas e fazendo de novo todos os ma- deiramentos”, e onde já se realizava a sua festa. A câmara ressalta que para além da utilidade à devoção das reco- lhidas constituiria um passeio à população, servindo “de ornato de recreação e ocasião de devoção às pessoas que ali concorrem todos os dias especialmente aos sábados”. Ressalta ainda que, entrando sem dote as recolhidas não servem de ônus “nem de perturbação às famílias nem a este povo”, servindo também para que os moradores das redondezas, então afastadas do centro, pudessem ouvir missa32 . Como afirma Toledo, Frei Galvão acreditava que a Luz se tornaria parte importante da cidade, fazendo com que se alterasse “a disposição original do templo volta- do para o Campo da Luz”; seu frontispício original era voltado para a cidade; posteriormente o seu arquiteto edifi- cou outro, voltado para o caminho do Guaré33 , percebendo e antecipando talvez a transformação da área adjacente num lugar de recreio que viria a ser importante para São Paulo, com a posterior construção do Jardim Botânico, atual Parque da Luz, cujas terras foram cedidas pela câmara em 1799, e onde se realizaria uma importante feira34 . Mas outra utilidade deste recolhimento, que não escapou ao governador, seria dar um destino às ter- ras na Luz que haviam sido doadas anteriormente ao padre Gabriel Malagrida, jesuíta místico e famoso ad- versário de Pombal executado pela Inquisição após o terremoto de 1755, por “culpas de fingimento e hipo- crisia heregiarca [sic]”, nas quais desejava construir um convento de ursulinas. Estas terras foram tornadas de utilidade pública em 1770, quando a câmara nega petição dos mordomos e devotos de são Manuel para construírem ali um altar ao santo. Como essas terras foram consideradas parte do espólio dos expulsos je- suítas por Gomes Freire de Andrade, conde de Bobadela e governador do Rio, elas foram seqüestradas como as suas demais propriedades, tornando-se públicas35 . O convento ideado pelo padre Malagrida se- ria construído, mas para servir à memória da administração ilustrada do morgado de Mateus e à honra de sua casa. Oficialmente, à honra da Coroa que condenara o blasfemo Malagrida à fogueira da Inquisição. Vemos na história de madre Helena a confirmação da trajetória de muitas outras mulheres beatas que esco- lhem a vida religiosa e de recolhimento, negando o papel destinado ao seu sexo, sobretudo na colônia americana. A irmã carmelita descalça Jacinta de São José, fundadora do recolhimento de Santa Teresa do Rio de Janeiro, em 1742, também recebeu a direção espiritual de seu confessor e biógrafo, Frei Manuel de Jesus, entre 1744 e 1745, além do vigário da Candelária, Inácio Manuel da Costa Mascarenhas, seu diretor espiritual entre 1747 e 1748. 31 Biblioteca Nacional, Carta do vigário capitular e cônego da Sé de São Paulo Manuel José Vaz ao governador da Capitania de São Paulo..., I-30, 26, 22, nº 22. Arquivo de Mateus, doc. 27. 32 Actas da Camara da Villa de S. Paulo, v. 16, pp. 347-350. 33 TOLEDO, Benedito Lima de, Frei Galvão..., op.cit., pp. 50-52. 34 SEGAWA, Hugo, Ao amor do público: jardins do Brasil. São Paulo: Studio Nobel, Fapesp, 1996, p. 132. 35 Cartas de Datas de Terras, v. 5, pp. 66-68.
  • 8. Revista MAS Amilcar Torrão Filho O Sumo Bem Contra a Ruína da Sociedade: o Morgado de Mateus, a Fundação do Recolhimento da Luz e a Mística Feminina em São Paulo. Assim como madre Helena, irmã Jacinta tinha visões proféticas, nas quais estabelecia diálogos com Deus e com Santa Teresa, o que lhe valeu uma denúncia à Inquisição e a inimizade do Bispo do Rio, D. Antônio do Desterro, que a acusava de ser uma falsa santa36 . Igualmente ao que sucede com o recolhimento da Luz, o de Santa Teresa do Rio é fundado pela ação voluntariosa de uma beata, que chega a desobedecer ao Bispo e ir a Lisboa em busca de autorização régia, do apoio de seus confessores e sem autorização prévia. O Bispo acaba por permitir às reclusas viverem sob a regra das carmelitas, comprometendo-se a obter as licenças do Rei e do Papa. Também no caso de irmã Jacinta houve a proteção de um governador, Gomes Freire deAndrade, após a sua denúncia à Inquisição que, segundo Frei Manuel de Jesus, venerava-a como a uma santa37 . Para Algranti, as vidas destas beatas são assimila- das à hagiografia, sobretudo de outras mulheres devotas, religiosas e santas em três momentos singulares: sua in- fância, a fundação do convento e sua morte38 . As visões e sonhos proféticos, experimentadas desde a infância, dão argumentos de autoridade que reforçam a desobediência aos religiosos, sobretudo aos Bispos, desconfiados de sua “santidade”39 . Outra santa mística e perseguida,Teresa de Jesus, serve de inspiração a essas mulheres devotas, cons- truindoumaidentidadereligiosaquedásustentaçãoasuaspretensõeseàssuastrajetóriasdevidamísticaereligiosa. Irmã Helena chega pobre, como serva, ao recolhimento de Santa Teresa, revelando a seu primeiro con- fessor, padre Manuel José Vaz, ser importunada frequentemente pelo demônio. Mais tarde faria a mesma revela- ção a Frei Galvão, a quem confiou suas visões, que a acompanhavam desde a infância, dedicando-se a orações, jejuns e penitências contínuas40 . O caráter místico da fundação da Luz está marcado ainda na forma como irmã Helena e as outras recolhidas saem de Santa Teresa, em 2 de fevereiro de 1774: elas partem embarcadas em duas cadeiras, acompanhadas do capitão-general, do governador do bispado, do ouvidor, de Frei Galvão, em meio a uma enorme tempestade que molhou a todos, exceto a sua fundadora41 . Se madre Jacinta morre sem ter podido tomar o hábito carmelita, morrendo em sacrifício em nome de sua causa, irmã Helena não pôde fundar seu reco- lhimento sob esta mesma ordem carmelita, que já existia na cidade, cedendo a honra de lhe definir a invocação ao governador42 . Além disso, apesar de cumprir a ordem divina, e de formar o que Maia Fina chama de “Trin- dade espiritual que havia de criar o Convento da Luz”, juntamente com Frei Galvão e o morgado de Mateus, Deus não foi generoso com ela, segundo este autor, tendo-a levado para junto de si em 23 de fevereiro de 177543 . Tanto madre Jacinta quanto irmã Helena recebem a proteção de um governador que, no caso do morgado de 36 ALGRANTI, Leila Mezan, Mémoire et hagiographie: la (re)construction de la vie d’une religieuse dans le Brésil colonial. Clio. Histoire, femmes et sociétés. Toulouse: Presses Universitaires du Mirail, 19, 2004, p. 3. Disponível em http://clio.revues.org/index657.html. Consultado em dezembro de 2010. 37 Id., Ibid., p. 4. 38 Id., Ibid. 39 Id., Ibid., p. 8. 40 Id., Honradas e Devotas, op.cit., p. 97. 41 Apud ARROYO, Leonardo, Igrejas de São Paulo..., op. cit., p. 36. 42 ALGRANTI, Leila Mezan, Honradas e Devotas..., op. cit., p. 98. Cf. BORGES, Célia Maia, op. cit., p. 9. 43 FINA, Wilson Maia. O Convento da Luz. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de S. Paulo, São Paulo, 65, 1968, p. 410.
  • 9. Revista MAS Amilcar Torrão Filho O Sumo Bem Contra a Ruína da Sociedade: o Morgado de Mateus, a Fundação do Recolhimento da Luz e a Mística Feminina em São Paulo. Mateus, entendia a religião como uma operação construtora de civilidade e bom governo, podendo civilizar as terras incultas e pouco “polidas” da América, sem a qual os homens não tinham nenhuma utilidade ao Estado ou à sociedade, sendo piores do que feras. Embora em colônias os recolhimentos fossem vistos com desconfiança, D. Luís Antônio vê na devoção de irmã Helena a possibilidade de uma instância pedagógica e civilizadora, que tinha ainda a vantagem de apagar um pouco mais a memória dos jesuítas na cidade. Isso sem contar a marca de sua administração e de sua casa no nome de Nossa Senhora dos Prazeres, perpetuando seu nome na capitania por ele restaurada e ressuscitada, além de contribuir para a sua salvação, uma vez que era homem de devoção sincera, deixando a marca de sua fé no convento da Luz, junto às vidas místicas de irmã Helena e de Frei Galvão. FONTES E BIBLIOGRAFIA Fontes Manuscritas: Arquivo Histórico Ultramarino (Lisboa). Projeto Resgate. (Avulsos, 1644-1830). 333. Ofício do governador e capitão-general da capitania de São Paulo Morgado de Mateus, D. Luís Antônio de Souza Botelho Mourão ao Rei (D. José I), dando conta do estado em que achou a capitania, descrevendo e dando sugestões (...). 1767, Dezembro, 01. São Paulo. AHU, São Paulo, cx. 5, doc. 18 [D. 333]. Biblioteca Nacional (Rio de Janeiro). Arquivo de Mateus. Doc. 26. Oficio do capitão José Gonçalves Coelho, como procurador do governador Luís Antônio de Souza Bo- telho Mourão, à Câmara da cidade de São Paulo, requerendo certidão do termo de aprovação e licença de fundação do Recolhimento de nº Sra. dos Prazeres, no campo da Luz. S.d. Acompanha o documento reque- rido. São Paulo, 18 de maio. 1775. I-30, 26, 22 nº 1. Doc. 27. Carta do Vigário Capitular e Cônego da Sé de São Paulo, Manuel José Vaz, ao governador da Capitania de São Paulo Luís Antônio de Souza Botelho Mourão, pedindo licnça. expressa de S.M. para começar as obras de construção de um recolhimento de mulheres devotas naquela cidade. São Paulo, 7 de novembro. 1774. I-30, 26 nº 2. Fontes Impressas: Actas da Camara Municipal de S. Paulo. São Paulo: Archivo Municipal de S. Paulo, 1919. V. 16 (1771-1776). BLUTEAU, Raphael. Vocabulario portuguez e latino. Coimbra: Collegio das Artes da Companhia de Jesu, 1712. Ed. em CDROM da UERJ. Cartas de Datas de Terras. São Paulo: Dep. de Cultura, 1937. V. V (1755-1800).
  • 10. Revista MAS Amilcar Torrão Filho O Sumo Bem Contra a Ruína da Sociedade: o Morgado de Mateus, a Fundação do Recolhimento da Luz e a Mística Feminina em São Paulo. O convento da Luz. Três interessantes documentos inéditos. Revista do Arquivo Municipal de São Paulo. São Paulo, I(X): 137-142, mar., 1935. Documentos Interessantes para a História e Costumes de São Paulo. São Paulo: Dep. do Arquivo do Estado de S. Paulo. V. 11. Divisas de S. Paulo e Minas Geraes, 1896. V. 23. Correspondencia do Capitão-General D. Luiz Antonio de Souza de Souza Botelho Mourão (1766-1768), 1896. V. 33. Bandos, ordens e portarias de D. Luiz Antonio de Souza (1771-1775), 1901. V. 64. Officios do Capitão-General D. Luiz Antonio de Souza de Souza Botelho Mourão aos diversos funcciona- rios da Capitania (1772-1775), 1939. V. 65. Officios do Capitão-General D. Luiz Antonio de Souza de Souza Botelho Mourão aos diversos funcciona- rios da Capitania (1765-1771), 1940. V. 67. Officios do Capitão-General D. Luiz Antonio de Souza de Souza Botelho Mourão (Morgado de Mateus) aos diversos funccionarios da Capitania (1766-1767), 1943. V. 92. Oficios do Capitão-General D. Luiz aos diversos funcionarios da Capitania (1768-1772), 1978. Bibliografia: ALGRANTI, Leila Mezan. Honradas e devotas: mulheres da colônia. Condição feminina nos conventos e reco- lhimentos do Sudeste do Brasil, 1750-1822. Rio de Janeiro: José Olympio; Brasília: Edunb, 1993. ________. Mémoire et hagiographie: la (re)construction de la vie d’une religieuse dans le Brésil colonial. Clio. Histoire, femmes et sociétés. Toulouse: Presses Universitaires du Mirail, 19, 2004, p. 3. Disponível em http://clio.revues.org/index657.html. Consultado em dezembro de 2010. ARAÚJO, Maria Marta Lobo de. Os recolhimentos femininos de Braga na época moderna. In: ABREU, Laurinda de (ed.). Asistencia y Caridad como Estrategias de Intervención Social: Iglesia, Estado y Comunidad (s. XV-XX). Bilbao: Universidad del País Vasco/Euskal Herriko Unibersitatea, 2007, pp. 293-313. ARROYO, Leonardo. Igrejas de São Paulo. Introdução ao estudo dos templos mais característicos de São Paulo nas suas relações com a crônica da cidade. Rio de Janeiro: José Olympio, 1954. BELLOTTO, Heloísa Liberalli. Autoridade e conflito no Brasil: o governo do Morgado de Mateus em São Paulo: 1765-1775. São Paulo: Conselho Estadual de Artes e Ciências Humanas, 1979. BORGES, Célia Maia, Santa Teresa e a espiritualidade mística: a circulação de um ideário religioso no Mundo Atlântico. In: O Espaço Atlântico de Antigo Regime: Poderes e Sociedade.  Centro de Estudos de Além- -Mar (CHAM), Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 2005. Disponível em http://cvc.instituto-camoes.pt/ eaar/coloquio/comunicacoes/celia_maia_borges.pdf. Consultado em novembro de 2010.
  • 11. Revista MAS Amilcar Torrão Filho O Sumo Bem Contra a Ruína da Sociedade: o Morgado de Mateus, a Fundação do Recolhimento da Luz e a Mística Feminina em São Paulo. DERNTL, Maria Fernanda. Método e Arte: criação urbana e organização territorial na capitania de São Paulo, 1765-1811. Tese (Doutorado em História e Fundamentos da Arquitetura e do Urbanismo). São Paulo: FAU/ USP, 2010. FINA, Wilson Maia. O Convento da Luz. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de S. Paulo, São Paulo, 65: 406-413, 1968. HOORNAERT, Eduardo et. al. História da Igreja no Brasil. Ensaio de interpretação a partir do povo. 3. ed. São Paulo: Paulinas; Petrópolis: Vozes, 1983. JORGE, Clóvis de Athayde. Luz: notícias e reflexões. São Paulo: Departamento do Patrimônio Histórico, 1988. MIRANDA, Lilian Lisboa. Governança e edilidade em São Paulo (1765-1775). Tese (Doutorado em História). São Paulo: Universidade de São Paulo, 2003. ROMEIRO, Adriana. Paulistas e emboabas no coração das Minas. Idéias, práticas e imaginário político no século XVIII. Belo Horizonte: UFMG, 2008. SEGAWA, Hugo. Ao amor do público: jardins do Brasil. São Paulo: Studio Nobel, Fapesp, 1996. TOLEDO, Benedito Lima de. Frei Galvão: um arquiteto paulista. In: TIRAPELI, Percival (org.). Arte sacra colo- nial: barroco memória viva. 2. ed. São Paulo: Unesp, Imprensa Oficial, 2005, pp. 34-41. ________. Frei Galvão: arquiteto. Cotia, SP: Ateliê, 2007. TORRÃO FILHO, Amilcar. Paradigma do caos ou cidade da conversão? São Paulo na administração do Morgado de Mateus. São Paulo: Annablume/Fapesp, 2007. ________., DERNTL, Maria Fernanda. Cidade e civilidade: um governo ilustrado na Capitania de São Paulo In: GAZZANEO, Luiz Manoel (org.). Da Baixa Pombalina a Brasília. Iluminismo e Contemporaneidade em Países e Espaços de Língua Portuguesa. Cidades e Espacialidade. Rio de Janeiro: UFRJ/FAU/PROARQ, 2010, pp. 257-275. VILHENA, Maria Angela, PASSOS, João Décio (orgs.). A Igreja de São Paulo. Presença católica na história da cidade. São Paulo: Paulinas, 2005. WERNET, Augustin. Vida religiosa em São Paulo: do Colégio dos Jesuítas à diversificação de cultos e crenças (1554-1954). In: PORTA, Paula (org.). História da cidade de São Paulo, v. 1: a cidade colonial. São Paulo: Paz e Terra, 2004, pp. 191-243.