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ALGUNS PASSOS NA TRANSPOSIÇÃO DA ESTREITA PONTE
         ENTRE HERANÇA CULTURAL E DESENVOLVIMENTO




                                                                          * Carolina Spinola1


Resumo


O turismo cultural tem se mostrado como o
instrumento mais adequado de conexão entre a
herança cultural e o desenvolvimento.
Transitando entre duas searas opostas,a
preservação e a comercialização do patrimônio de
uma sociedade, os planejadores da atividade se
viram forçados a desenvolver algumas estratégias
mediadoras que sejam capazes de alcançar a
conjugação desse binômio. O presente artigo faz
algumas considerações sobre as principais
dificuldades e possibilidades inerentes ao
processo e tece comentários sobre a realidade
brasileira e baiana.


Introdução


O aproveitamento do patrimônio cultural de uma comunidade, quer seja ele material ou
humano, como uma estratégia para a obtenção de maiores níveis de desenvolvimento
econômico e social constitui-se em um tema instigante e razoavelmente recente, cujo
estudo foi bastante estimulado nas duas últimas décadas do século passado, no rastro de
acontecimentos como a “Conferência Mundial sobre Cultura”, conhecida como
Mundiacult, promovida pela Unesco, no México, em 1982. No relatório desse encontro




1
  Doutora em Geografia pela Universidade de Barcelona e Professora das disciplinas Planejamento Turístico
e Marketing Turístico na Universidade Salvador, Faculdades Jorge Amado e Faculdades Castro Alves.
consolidou-se de maneira clara, algo que já vinha se manifestando mais timidamente em
eventos anteriores2: o componente cultural do desenvolvimento.


                            A cultura constitui –se em uma dimensão fundamental do processo de
                            desenvolvimento e contribui para o fortalecimento da independência, da
                            soberania e da identidade das nações, o crescimento tem sido planejado,
                            em muitas ocasiões, em termos quantitativos, sem levar em consideração
                            a necessária dimensão qualitativa, ou seja, a satisfação dos desejos
                            espirituais e culturais do homem. O desenvolvimento autêntico busca o
                            bem estar e a satisfação constante de todos e cada um. (Tradução
                            Própria)3. (UNESCO, 1982 apud PARAJÒN, 2001, p.2)

O produto final do Mundiacult, como destaca Parajón (2001) foi o entendimento de que
para se planejar um modelo de desenvolvimento viável torna-se necessário entender as
dimensões históricas e culturais           do mundo econômico. E isso não significa, apenas,
“aceitar” a grande importância que a “indústria” cultural está assumindo no mundo. A
questão é “defender a tese de que a riqueza do futuro será, mais e mais, a criatividade,
herança e diversidade cultural das sociedades”. 4” (PARAJÓN, 2001, p.3)


Dando continuidade a esse esforço, a Unesco instalou, em 1987, seu Decênio Mundial de
Desenvolvimento Cultural, concluído em 1997 sob a forma de um relatório intitulado
“Nossa Diversidade Criadora” que, nas palavras do próprio presidente da comissão
encarregada de redigi-lo, Javiér Perez de Cuellar, foi inspirado no célebre “Relatório
Brundtland”. Seus autores sentiram que havia chegado a hora de fazer pelo binômio
“cultura e desenvolvimento” o que havia sido conseguido em relação ao meio ambiente e
aprofundaram as discussões iniciadas no México, que, por sua vez, foram reforçadas na
Mesa Redonda Mundial de Ministros da Cultura, nos anos 1999 e 2000.




2
  Tais como a Conferência de Veneza (1978) que propunha a participação ativa da comunidade no fato
cultural como forma de alcançar o desenvolvimento endógeno.
3
   Culture constitutes a fundamental dimension of the development process and contributes to the
strengthening of independence and sovereignty and to the identity of nations, growth has been planed on
many occasions in quantitative terms, without taking into account its necessary qualitative dimension, this is
to say, the satisfaction of the spiritual and cultural hopes of men. The authentic development seeks the well-
being and constant satisfaction of each and everyone
4
  “ to take a stand on the thesis that the futures wealth will be, more and more: the creativity of societies,
cultural diversity and heritage" (Tradução Própria)
Nos textos e documentos mais recentes, a Unesco vai mais além em suas reflexões e lança
o que consideraremos o ponto de partida desse artigo, a compreensão da herança cultural
não como um fóssil que deva ser preservado mas como uma raiz que deve frutificar, se
reinventar e proporcionar muitos frutos para a sociedade, inclusive sob a forma da geração
e distribuição de riqueza material.


                             a herança cultural não pode ser vista, de agora em diante, apenas como
                             um valor herdado, que deve ser preservado e protegido, como parte da
                             identidade de uma certa sociedade. A Herança como raíz não está
                             dissociada do tronco vivo ou dos galhos de uma sociedade e, longe de ser
                             um legado mumificado, deve ter o objetivo de se constituir em uma raiz
                             autêntica e se expandir como uma riqueza plena, estar em um constante
                             processo de recriação. Nesse caso, o lema deveria ser: “nunca contra as
                             raízes mas, sempre e sempre, além delas5. (PARAJÓN, 2001, p.6)



É justamente nessa interface entre a herança cultural e as possibilidades de
desenvolvimento contidas em sua essência que se situa o turismo. Fundamentada na relação
homem/espaço/patrimônio, a vertente do turismo cultural vem ganhando espaço
progressivo nas estatísticas, já representando a principal fonte de ingressos de países como
a França e a Espanha e sendo utilizado, inclusive, em função das suas características
peculiares, como antídoto para o turismo de massa em destinos consagrados como Veneza.
(AZEVEDO, 2002 )


Turismo cultural: a ponte entre a herança e o desenvolvimento


A razoável popularidade alcançada por essa modalidade de turismo junto aos planejadores
da atividade se deve ao seguinte conjunto de características: a) trata-se de um tipo de
turismo brando que, diferentemente daquele realizado no litoral, não atrai fluxos massivos;
b) costuma motivar a viagem de um público com maior nível de instrução e renda; c) pode

5
  cultural heritage cannot be seen, as from now, only as an inherited value, that should be preserved and
protected, as part of a the identity of a certain society. Heritage as roots is not unlinked from the living trunk,
or from the branches of a society, and far from being a mummified legacy, in order to continue being an
authentic root and to expand as a full wealth, it should necessary be in a constant recreation process. In this
case, the motto should be: “Never against the roots, nor without the roots, but always, always, as from and
beyond the roots . (Tradução Própria)
ser realizado em qualquer época do ano ou lugar e d) contribui para a auto-estima das
populações autóctones pois, além de possibilitar inúmeras formas de inserção econômica,
através do desenvolvimento de atividades relacionadas com o artesanato, gastronomia e
folclore, estimula a preservação do seu fato gerador principal: os valores criados pelo
homem (cultura, tradição e história)


Isto posto, e considerando a indiscutível vocação para a atividade apresentada pelo Brasil,
cabe a seguinte pergunta: Porque temos tanta dificuldade em transformar nosso patrimônio
cultural em bens turísticos?


Alguns autores como Azevedo (2002) organizaram um conjunto de razões que podem
tentar explicar essa questão:


   1. “ os bens e serviços culturais têm uma variedade grande de usos, que não os
       estritamente vinculados com o turismo [...]” (p.135) Inclui-se aí, por exemplo, as
       fortificações e demais monumentos arquitetônicos sob o uso das forças armadas ou
       que abrigam instâncias do poder público.
   2. “tais bens, sobretudo os especificamente patrimoniais, têm como proprietários e
       administradores pessoas e/ou organismos que nem sempre demonstram interesse (e
       as vezes até se opõem ) em manter atividades turísticas ligadas a esse patrimônio”
       (p.135)   Some-se a isso, o caso de monumentos tombados que necessitam de
       manutenção/recuperação e, no entanto, pela falta de recursos e/ou de visão dos
       órgãos competentes, ou ainda pelos inumeráveis procedimentos de ordem
       burocrática requeridos, permanecem em total estado de abandono, sem que
       nenhuma outra instância da sociedade possa intervir.
   3. “via de regra, o relacionamento entre atores e segmentos envolvidos nas três áreas
       (cultura, patrimônio, turismo) tem sido conflitante [...] No cotidiano, cultura e
       patrimônio aparecem mais ou menos conjugados, como matéria de estudo, enquanto
       turismo vem associado a mercado e lucro. Mesmo as linguagens diárias se
       distanciam. Enquanto cultura ressalta o valor intrínseco de patrimônio e identidade,
       turismo fala de destinação e atrativos” (p.136) A ponte de interlocução entre os dois
públicos envolvidos, os representantes da área cultural e o “trade” turístico é muito
              estreita e frágil, ameaçada por preconceitos mútuos e, muitas vezes, pela falta de
              disposição, de ambas as partes, em procurar uma solução mediada para esse
              processo de dupla face, que tanto pode levar á proteção e salvaguarda como á
              destruição. Em outras palavras, “ o turismo cultural deve ser visto pelos órgãos de
              preservação como um meio para arrecadar recursos para a manutenção de lugares e
              manifestações, bem como instrumento de informação para o público visitante”
              (GOODEY, 2005, p.135)
         4. “dificuldade de conciliação entre megaeventos que se espalham sob a forma de
              grandes festivais [...] e a sustentação da autenticidade que vem sendo requerida cada
              vez mais como efetivo elemento diferencial no caso de projetos turísticos” (p.136)
              Novamente o ponto central da questão é a busca pelo equilibrio, pelo bom senso.
              Nesse caso, se insere a discussão sobre a validade dos produtos turísticos hiperreais,
              que reproduzem experiências com base em fatos históricos, locais representativos,
              modos de vida, etc.. Trata-se de um recurso muito utilizado e que será avaliado mais
              a frente.


     Aos aspectos identificados por Azevedo (2002) devem ser adicionados os seguintes,
     igualmente críticos, principalmente no que tange à realidade nacional:


         5. falta de formação específica de recursos humanos para trabalhar com turismo
              cultural.   Diferentemente do que acontece com o ecoturismo, por exemplo, à
              exceção de poucos bons guias de turismo e/ou atrativo, inexistem cursos
              preparatórios para profissionais de interpretação do patrimônio cultural, fato que é
              facilmente perceptível em equipamentos como museus.
                                                                                     6
         6. o surgimento do novo turista, entendido por POON (1993) como um sujeito
              viajante mais experiente e informado, municiado por todas as novas mídias
              tecnológicas que lhe proporcionam a possibilidade de conhecer o mundo sem sair


6
    Para maiores informações ver POON, Auliana. Tourism, Technology and Competitive Strategies. London:
    CAB International, 1993.
do lugar, exige, cada vez mais competência, por parte dos destinos, nos esforços de
       atração e completa satisfação desse público. É a ascenção da chamada “indústria da
       experiência” em contraposição ao entendimento convencional de produto turístico,
       como afirma Goodey (2005, p.135):


                         se quisermos, como muitos, que o mercado para o turismo cultural se
                        expanda teremos que fazer muito mais do que simplesmente abrir casas
                        históricas e novas atrações, na expectativa de que os visitantes chegarão e
                        apreciarão sua experiência. Resumindo, temos que prover os métodos do
                        olhar, vivenciar e apreciar, reafirmando não apenas o sítio e os objetos,
                        mas as oportunidades dos visitantes aprenderem novas formas de se
                        relacionar com o lugar




Algumas estratégias para ajudar na travessia


Para fazer frente aos obstáculos que se interpõem entre a potencialidade e o bem turístico
formatado, convenientemente exposto no mercado do turismo cultural, o planejador pode
recorrer a uma série de estratégias que têm sido cada vez mais utilizadas para atender ao
nível de expectativas do novo turista. Dentre elas, podemos destacar:


Valorização do patrimônio humano. Ainda há uma forte predominância, na oferta dos bens
turísticos culturais, do aspecto material do patrimônio, notadamente, sob a forma da
visitação guiada a monumentos, sítios históricos e museus. No entanto, a própria
configuração desses produtos não pode prescindir do enriquecimento proporcionado pela
adição de elementos relacionados ao modo de vida e tradições de uma determinada
comunidade. Os acontecimentos históricos, lendas, usos tradicionais do espaço, cantigas e
manifestações associadas aos atrativos devem ser incorporados à informação que é
comunicada ao visitante. Talvez por se tratar de uma realidade mais difícil de ser percebida,
mais trabalhosa, essa instância da herança cultural é freqüentemente desconsiderada, a
despeito de existirem técnicas de pesquisa específicas e apropriadas para tal fim, mediante a
utilização dos recursos da história oral.
Interpretação do Patrimônio – Retomando as palavras de Goodey, a simples
disponibilização dos atrativos para a visitação não é mais suficiente para satisfazer o novo
turista. É necessário que se recorra a uma série de técnicas distintas que sejam capazes de
tocá-lo, de tornar aquele momento único, inesquecível. É esse o objetivo perseguido pela
interpretação do patrimônio, como assinalam Murta e Albano (2005, p.9):


                        A tradição da interpretação do patrimônio natural e cultural sinaliza
                        justamente o valor único de um determinado ambiente, buscando
                        estabelecer uma comunicação com o visitante, ampliando o seu
                        conhecimento. Em outras palavras, visa estimular suas várias formas de
                        olhar e aprender o que lhe é estranho. Como a experiência turística é
                        fortemente visual, o olhar do visitante procura encontrar a singularidade
                        do lugar, seus símbolos e significados mais marcantes. Os ambientes,
                        sobretudo as cidades, devem ser vistos como um enigma a ser desvendado
                        pela exploração, como um texto a ser interpretado pelo explorador.


Mercadologicamente, falando e, nos despindo, aqui, de qualquer temor semântico, a
interpretação do patrimônio cultural se constitui em uma ação em prol do desenvolvimento
local sustentável pois, agrega valor ao produto e possibilita a sua diversificação e o alcance
de maior quantidade de nichos de mercado.


Como exemplo, podemos citar o caso do Centro Histórico de Salvador. Trata-se de um
patrimônio da humanidade muito conhecido, cartão postal da cidade, visita obrigatória de
qualquer turista. No entanto, esse importante sitio histórico é trabalhado de maneira muito
similar por todas as operadoras de receptivo, que se restringem a acompanhar os grupos em
tours guiados pela área, que incluem a entrada nas principais igrejas, Casa de Jorge Amado
e lojas de artesanato. Todavia, mediante um trabalho de interpretação, o Pelourinho poderia
ser visitado inúmeras vezes pelo mesmo turista, que em cada uma delas seria convidado a
participar de uma experiência diferente e enriquecedora, ora como admirador das
construções representativas dos estilos      barroco e neoclássico; ou como um curioso,
percorrendo as ladeiras por onde transitavam Dona Flor, Vadinho, Antônio Balduíno,
Pedro Arcanjo e Quincas Berro D´água, dentre outros personagens célebres de Jorge
Amado. Podemos citar, ainda, as possibilidades apresentadas para o turismo étnico e
histórico, para ficar apenas com algumas das opções mais óbvias, sem esquecer de incluir
entre os públicos visados, o próprio morador da cidade, muitas vezes desconhecedor do seu
passado.


Dentre os inúmeros meios e técnicas existentes para valorizar o patrimônio aos olhos do
usuário, podem ser utilizadas ferramentas como as interpretações ao vivo, textos e
publicações, placas painéis e letreiros, modelos e maquetes, reconstruções do passado, som,
luz e imagem. (MURTA;ALBANO, 2005, p.10)


Roteiros e atrações âncora os roteiros possibilitam a descentralização do fluxo de visitantes
de um centro turístico em direção ao entorno situado em seu raio de abrangência que,
segundo Boullón (1990) estende-se a uma distância de até 2 horas/deslocamento. Como
decorrência desse fato obtém-se a dinamização da economia de muitas pequenas
localidades que gravitam ao redor de um destino principal mas que, sozinhas, não teriam
condições de captar e reter esse fluxo.


Todavia, muitas vezes, para que esses roteiros sejam viáveis, torna-se necessária a criação
de atrações âncora, a exemplo de centros culturais, museus, parques temáticos, sítios
históricos, encenações e eventos, etc.


O roteiro de Dom Quixote, na região espanhola de Castilla - La Mancha, é um bom modelo
dessa estratégia. Partindo de Madri, há várias estradas sinalizando uma rota que leva o
viajante a atravessar as paisagens que inspiraram Cervantes a escrever sua obra. Nesse
percurso sucedem-se atrações relacionadas com o romance, como os moinhos de vento de
Campos de Criptana (construídos em alusão à batalha de Dom Quixote com os gigantes
imaginários), a casa de Dulcinéia, na cidade de El Toboso, o local de encontro com Sancho
Pança, sua cidade natal, etc... Esse roteiro, auto-guiado, possibilitou que a região de Castilla
– La Mancha passasse a constar dos mapas turísticos da Espanha, tendo em vista não ter
nenhum outro tipo de atratividade. Inúmeros pueblos são cortados por essa rota e, a maioria
deles, encontrou alguma forma de se beneficiar dessa nova atividade, através da oferta de
uma ampla gama de bens e serviços demandados pelos fãs de Cervantes.
Todavia, é importante reforçar, que a formatação desses produtos deve ser cuidadosa e
precedida de uma pesquisa aprofundada sobre os temas que serão desenvolvidos, sob a
pena de se criar reproduções superficiais, sem nenhum comprometimento com o patrimônio
dos lugares.      Deve-se, preferencialmente, recorrer a um processo participativo de
construção em que as comunidades locais exerçam um papel determinante na concepção e
operação desses roteiros. Muitas vezes, o maior obstáculo à criação de um bom roteiro é
justamente a pressa na comercialização e na obtenção de retorno financeiro por parte de
alguns representantes do trade. Quando se trabalha com a cultura é importante que se
perceba que o timing deve ser diferente, bem mais lento do que exige a dinâmica do
mercado.


Capacitação de Recursos Humanos – por fim, outro aspecto fundamental e já comentado
como uma importante barreira ao aproveitamento sócio-econômico do patrimônio cultural é
a falta de mão-de-obra especializada para lidar com as especificidades desse tipo de
atividade. Profissionais que entendam a complexidade inerente ao papel de fazer essa ponte
entre a preservação estrita e a exploração eminentemente comercial da herança de um povo.
Todo o processo de formatação, comercialização e comunicação do turismo cultural deve
ser cercado de cuidados para que o real objetivo do desenvolvimento seja alcançado.


Modernização dos equipamentos de turismo cultural - quem pensa em museu como algo
morto, monótono e imóvel, certamente precisa rever seus conceitos. Vivemos no mundo
dos museus virtuais, exploratórios e dos ecomuseus7 em que o papel de guardiães dos
tesouros do passado é substituído pelo de espaços interativos e animados.


A modernização das técnicas de comunicação entre os objetos e/ou fatos expostos e os
visitantes é a tendência da museologia. Todavia, antes, é fundamental que esses espaços
existam em condições mínimas de utilização. A situação da maioria dos museus brasileiros
é precária, notadamente daqueles que dependem unicamente dos recursos públicos. Por
outro lado, é igualmente mandatório que os parcos recursos disponíveis sejam direcionados

7
  Um Ecomuseu ou museu comunitário é definido como um via dinâmica, ou seja, uma forma através da qual
a comunidade mantém, interpreta e gere o seu património, sob a filosofia do desenvolvimento sustentável.
para a comunicação dos valores intrínsecos dos lugares, fato muitas vezes ignorado pelas
instâncias resopnsáveis, capazes de aplicar somas vultosas na construção de elefantes
brancos como é o caso do Museu Rodin de Salvador.


Enquanto isso faltam museus de história ,de etnografia, da cultura popular, sobre vultos
importantes do passado, ...... O que dizer do arquivo público de Cachoeira, no Recôncavo
Baiano, terceiro mais importante do Brasil, entregue às traças e à umidade de um prédio
em ruínas.    Pode-se medir o potencial de desenvolvimento de uma sociedade pela
importância que ela confere à sua herança e á preservação de seus valores.


Considerações Finais


O grande desafio do turismo cultural nos tempos atuais não é mais provar o seu poder de
promover novas alternativas de desenvolvimento para localidades que possuam uma
herança cultural relevante. Mas o de encontrar as formas mais adequadas de fazê-lo, em um
mundo extremamente competitivo para os destinos, em que os turistas dispõem             do
privilégio da informação e maior poder de barganha, mediante a intervenção das grandes
operadoras do setor, e que muitas culturas locais encontram-se em um estado de imensa
fragilidade, notadamente pela dificuldade que enfrentam para manter os processos de
transmissão dos seus valores e tradições entre as gerações.


Não é um desafio fácil, ainda mais no cenário brasileiro, em que investimentos em cultura e
equipamentos culturais não estão na ordem do dia. Como ser bem sucedido nessa tarefa em
um País em que palavras como produto, atrativo e comercialização são consideradas
ofensivas e incompatíveis com as políticas públicas e o bem comum; que grandes
expoentes do patrimônio material perecem em ruínas, sem manutenção, e manifestações
populares, outrora representativas, caem no esquecimento.


O Brasil já perdeu muito tempo       e muitas oportunidades. È hora de se esquecer os
fundamentalismos e agir de maneira mais pragmática nessa área. Somos um país pobre,
com grande herança cultural a mostrar para o mundo e para o nosso próprio povo.
Necessitamos de alternativas de desenvolvimento e devemos vencer a travessia que nos
separa desse objetivo, de maneira equilibrada, respeitosa, planejada e competitiva
aproveitando o melhor que a globalização pode nos oferecer em termos de comunicação
com o mercado e tecnologia sem, no entanto, perder a nossa identidade.


Nesse sentido, as políticas públicas para o turismo cultural devem ser construídas através de
um processo participativo que facilite a determinação do que se entende pela “essência” dos
lugares, segundo uma visão multilateral e multidisciplinar. A participação da sociedade
legitima a escolha dos elementos que irão apresentá-la e representá-la para o mundo,
evitando as “decisões de governo” que nem sempre são as mais acertadas.


Finalmente, devemos ter em mente, como destacado no já citado relatório da Unesco, que a
nossa raiz cultural não se refere apenas ao que herdamos do passado; que, a cada instante,
uma sociedade saudável, com sua própria personalidade e consciente de sua identidade,
status e papel universal, expande as suas raízes e dá origem a uma nova herança. Então,
nossa responsabilidade maior, quando pensamos em dessacralizar o patrimônio cultural e
transformá-lo em algo alcançável pelas pessoas comuns, no sentido do seu entendimento e
a serviço da sociedade, quando transformado em uma alternativa de desenvolvimento, é
garantir a manutenção da vitalidade e coerência das raízes do passado e aceitar que se
desenvolvam novas raízes para o futuro.


                                   REFERÊNCIAS


AZEVEDO, Júlia. Cultura, Patrimônio e Turismo. In: IRVING, Marta & AZEVEDO, Júlia.
Turismo: o desafio da sustentabilidade São Paulo:Futura, 2002, pp.133-147.

BOULLÓN, Roberto C. Planificación del espacio turístico. México: Trillas, 1990, 245p.

GOODEY, Brian. Turismo Cultural: novos viajantes, novas descobertas. In: MURTA, Stela
M.; ALBANO, Celina (org) , Interpretar o Patrimônio: um exercício do olhar. Belo
Horizonte: Editora UFMG, 2005, pp.131-138.
MURTA, Stela Maris. Turismo Histórico-Cultural: parques temáticos, roteiros e atrações
âncora. In: MURTA, Stela M.; ALBANO, Celina (org) , Interpretar o Patrimônio: um
exercício do olhar. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005, pp.139-168

MURTA, Stela Maris; ALBANO. Interpretação, Preservação e Turismo: uma introdução.
In: MURTA, Stela M.; ALBANO, Celina (org) , Interpretar o Patrimônio: um exercício
do olhar. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005, pp.9-12


PARAJÓN, Francisco J.L. A new contract between culture and society . In: Second
International Congress Culture and Development, 2001, Havana. The future is no longer
what it used to be. Disponível em http://www.unesco.org/documents.htm. Acesso em: 15
mar. 2006.

POON, Auliana. Tourism, Technology and Competitive Strategies. London: CAB
International, 1993, 367 p.

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ALGUNS PASSOS NA TRANSPOSIÇÃO DA ESTREITA PONTE ENTRE HERANÇA CULTURAL E DESENVOLVIMENTO

  • 1. ALGUNS PASSOS NA TRANSPOSIÇÃO DA ESTREITA PONTE ENTRE HERANÇA CULTURAL E DESENVOLVIMENTO * Carolina Spinola1 Resumo O turismo cultural tem se mostrado como o instrumento mais adequado de conexão entre a herança cultural e o desenvolvimento. Transitando entre duas searas opostas,a preservação e a comercialização do patrimônio de uma sociedade, os planejadores da atividade se viram forçados a desenvolver algumas estratégias mediadoras que sejam capazes de alcançar a conjugação desse binômio. O presente artigo faz algumas considerações sobre as principais dificuldades e possibilidades inerentes ao processo e tece comentários sobre a realidade brasileira e baiana. Introdução O aproveitamento do patrimônio cultural de uma comunidade, quer seja ele material ou humano, como uma estratégia para a obtenção de maiores níveis de desenvolvimento econômico e social constitui-se em um tema instigante e razoavelmente recente, cujo estudo foi bastante estimulado nas duas últimas décadas do século passado, no rastro de acontecimentos como a “Conferência Mundial sobre Cultura”, conhecida como Mundiacult, promovida pela Unesco, no México, em 1982. No relatório desse encontro 1 Doutora em Geografia pela Universidade de Barcelona e Professora das disciplinas Planejamento Turístico e Marketing Turístico na Universidade Salvador, Faculdades Jorge Amado e Faculdades Castro Alves.
  • 2. consolidou-se de maneira clara, algo que já vinha se manifestando mais timidamente em eventos anteriores2: o componente cultural do desenvolvimento. A cultura constitui –se em uma dimensão fundamental do processo de desenvolvimento e contribui para o fortalecimento da independência, da soberania e da identidade das nações, o crescimento tem sido planejado, em muitas ocasiões, em termos quantitativos, sem levar em consideração a necessária dimensão qualitativa, ou seja, a satisfação dos desejos espirituais e culturais do homem. O desenvolvimento autêntico busca o bem estar e a satisfação constante de todos e cada um. (Tradução Própria)3. (UNESCO, 1982 apud PARAJÒN, 2001, p.2) O produto final do Mundiacult, como destaca Parajón (2001) foi o entendimento de que para se planejar um modelo de desenvolvimento viável torna-se necessário entender as dimensões históricas e culturais do mundo econômico. E isso não significa, apenas, “aceitar” a grande importância que a “indústria” cultural está assumindo no mundo. A questão é “defender a tese de que a riqueza do futuro será, mais e mais, a criatividade, herança e diversidade cultural das sociedades”. 4” (PARAJÓN, 2001, p.3) Dando continuidade a esse esforço, a Unesco instalou, em 1987, seu Decênio Mundial de Desenvolvimento Cultural, concluído em 1997 sob a forma de um relatório intitulado “Nossa Diversidade Criadora” que, nas palavras do próprio presidente da comissão encarregada de redigi-lo, Javiér Perez de Cuellar, foi inspirado no célebre “Relatório Brundtland”. Seus autores sentiram que havia chegado a hora de fazer pelo binômio “cultura e desenvolvimento” o que havia sido conseguido em relação ao meio ambiente e aprofundaram as discussões iniciadas no México, que, por sua vez, foram reforçadas na Mesa Redonda Mundial de Ministros da Cultura, nos anos 1999 e 2000. 2 Tais como a Conferência de Veneza (1978) que propunha a participação ativa da comunidade no fato cultural como forma de alcançar o desenvolvimento endógeno. 3 Culture constitutes a fundamental dimension of the development process and contributes to the strengthening of independence and sovereignty and to the identity of nations, growth has been planed on many occasions in quantitative terms, without taking into account its necessary qualitative dimension, this is to say, the satisfaction of the spiritual and cultural hopes of men. The authentic development seeks the well- being and constant satisfaction of each and everyone 4 “ to take a stand on the thesis that the futures wealth will be, more and more: the creativity of societies, cultural diversity and heritage" (Tradução Própria)
  • 3. Nos textos e documentos mais recentes, a Unesco vai mais além em suas reflexões e lança o que consideraremos o ponto de partida desse artigo, a compreensão da herança cultural não como um fóssil que deva ser preservado mas como uma raiz que deve frutificar, se reinventar e proporcionar muitos frutos para a sociedade, inclusive sob a forma da geração e distribuição de riqueza material. a herança cultural não pode ser vista, de agora em diante, apenas como um valor herdado, que deve ser preservado e protegido, como parte da identidade de uma certa sociedade. A Herança como raíz não está dissociada do tronco vivo ou dos galhos de uma sociedade e, longe de ser um legado mumificado, deve ter o objetivo de se constituir em uma raiz autêntica e se expandir como uma riqueza plena, estar em um constante processo de recriação. Nesse caso, o lema deveria ser: “nunca contra as raízes mas, sempre e sempre, além delas5. (PARAJÓN, 2001, p.6) É justamente nessa interface entre a herança cultural e as possibilidades de desenvolvimento contidas em sua essência que se situa o turismo. Fundamentada na relação homem/espaço/patrimônio, a vertente do turismo cultural vem ganhando espaço progressivo nas estatísticas, já representando a principal fonte de ingressos de países como a França e a Espanha e sendo utilizado, inclusive, em função das suas características peculiares, como antídoto para o turismo de massa em destinos consagrados como Veneza. (AZEVEDO, 2002 ) Turismo cultural: a ponte entre a herança e o desenvolvimento A razoável popularidade alcançada por essa modalidade de turismo junto aos planejadores da atividade se deve ao seguinte conjunto de características: a) trata-se de um tipo de turismo brando que, diferentemente daquele realizado no litoral, não atrai fluxos massivos; b) costuma motivar a viagem de um público com maior nível de instrução e renda; c) pode 5 cultural heritage cannot be seen, as from now, only as an inherited value, that should be preserved and protected, as part of a the identity of a certain society. Heritage as roots is not unlinked from the living trunk, or from the branches of a society, and far from being a mummified legacy, in order to continue being an authentic root and to expand as a full wealth, it should necessary be in a constant recreation process. In this case, the motto should be: “Never against the roots, nor without the roots, but always, always, as from and beyond the roots . (Tradução Própria)
  • 4. ser realizado em qualquer época do ano ou lugar e d) contribui para a auto-estima das populações autóctones pois, além de possibilitar inúmeras formas de inserção econômica, através do desenvolvimento de atividades relacionadas com o artesanato, gastronomia e folclore, estimula a preservação do seu fato gerador principal: os valores criados pelo homem (cultura, tradição e história) Isto posto, e considerando a indiscutível vocação para a atividade apresentada pelo Brasil, cabe a seguinte pergunta: Porque temos tanta dificuldade em transformar nosso patrimônio cultural em bens turísticos? Alguns autores como Azevedo (2002) organizaram um conjunto de razões que podem tentar explicar essa questão: 1. “ os bens e serviços culturais têm uma variedade grande de usos, que não os estritamente vinculados com o turismo [...]” (p.135) Inclui-se aí, por exemplo, as fortificações e demais monumentos arquitetônicos sob o uso das forças armadas ou que abrigam instâncias do poder público. 2. “tais bens, sobretudo os especificamente patrimoniais, têm como proprietários e administradores pessoas e/ou organismos que nem sempre demonstram interesse (e as vezes até se opõem ) em manter atividades turísticas ligadas a esse patrimônio” (p.135) Some-se a isso, o caso de monumentos tombados que necessitam de manutenção/recuperação e, no entanto, pela falta de recursos e/ou de visão dos órgãos competentes, ou ainda pelos inumeráveis procedimentos de ordem burocrática requeridos, permanecem em total estado de abandono, sem que nenhuma outra instância da sociedade possa intervir. 3. “via de regra, o relacionamento entre atores e segmentos envolvidos nas três áreas (cultura, patrimônio, turismo) tem sido conflitante [...] No cotidiano, cultura e patrimônio aparecem mais ou menos conjugados, como matéria de estudo, enquanto turismo vem associado a mercado e lucro. Mesmo as linguagens diárias se distanciam. Enquanto cultura ressalta o valor intrínseco de patrimônio e identidade, turismo fala de destinação e atrativos” (p.136) A ponte de interlocução entre os dois
  • 5. públicos envolvidos, os representantes da área cultural e o “trade” turístico é muito estreita e frágil, ameaçada por preconceitos mútuos e, muitas vezes, pela falta de disposição, de ambas as partes, em procurar uma solução mediada para esse processo de dupla face, que tanto pode levar á proteção e salvaguarda como á destruição. Em outras palavras, “ o turismo cultural deve ser visto pelos órgãos de preservação como um meio para arrecadar recursos para a manutenção de lugares e manifestações, bem como instrumento de informação para o público visitante” (GOODEY, 2005, p.135) 4. “dificuldade de conciliação entre megaeventos que se espalham sob a forma de grandes festivais [...] e a sustentação da autenticidade que vem sendo requerida cada vez mais como efetivo elemento diferencial no caso de projetos turísticos” (p.136) Novamente o ponto central da questão é a busca pelo equilibrio, pelo bom senso. Nesse caso, se insere a discussão sobre a validade dos produtos turísticos hiperreais, que reproduzem experiências com base em fatos históricos, locais representativos, modos de vida, etc.. Trata-se de um recurso muito utilizado e que será avaliado mais a frente. Aos aspectos identificados por Azevedo (2002) devem ser adicionados os seguintes, igualmente críticos, principalmente no que tange à realidade nacional: 5. falta de formação específica de recursos humanos para trabalhar com turismo cultural. Diferentemente do que acontece com o ecoturismo, por exemplo, à exceção de poucos bons guias de turismo e/ou atrativo, inexistem cursos preparatórios para profissionais de interpretação do patrimônio cultural, fato que é facilmente perceptível em equipamentos como museus. 6 6. o surgimento do novo turista, entendido por POON (1993) como um sujeito viajante mais experiente e informado, municiado por todas as novas mídias tecnológicas que lhe proporcionam a possibilidade de conhecer o mundo sem sair 6 Para maiores informações ver POON, Auliana. Tourism, Technology and Competitive Strategies. London: CAB International, 1993.
  • 6. do lugar, exige, cada vez mais competência, por parte dos destinos, nos esforços de atração e completa satisfação desse público. É a ascenção da chamada “indústria da experiência” em contraposição ao entendimento convencional de produto turístico, como afirma Goodey (2005, p.135): se quisermos, como muitos, que o mercado para o turismo cultural se expanda teremos que fazer muito mais do que simplesmente abrir casas históricas e novas atrações, na expectativa de que os visitantes chegarão e apreciarão sua experiência. Resumindo, temos que prover os métodos do olhar, vivenciar e apreciar, reafirmando não apenas o sítio e os objetos, mas as oportunidades dos visitantes aprenderem novas formas de se relacionar com o lugar Algumas estratégias para ajudar na travessia Para fazer frente aos obstáculos que se interpõem entre a potencialidade e o bem turístico formatado, convenientemente exposto no mercado do turismo cultural, o planejador pode recorrer a uma série de estratégias que têm sido cada vez mais utilizadas para atender ao nível de expectativas do novo turista. Dentre elas, podemos destacar: Valorização do patrimônio humano. Ainda há uma forte predominância, na oferta dos bens turísticos culturais, do aspecto material do patrimônio, notadamente, sob a forma da visitação guiada a monumentos, sítios históricos e museus. No entanto, a própria configuração desses produtos não pode prescindir do enriquecimento proporcionado pela adição de elementos relacionados ao modo de vida e tradições de uma determinada comunidade. Os acontecimentos históricos, lendas, usos tradicionais do espaço, cantigas e manifestações associadas aos atrativos devem ser incorporados à informação que é comunicada ao visitante. Talvez por se tratar de uma realidade mais difícil de ser percebida, mais trabalhosa, essa instância da herança cultural é freqüentemente desconsiderada, a despeito de existirem técnicas de pesquisa específicas e apropriadas para tal fim, mediante a utilização dos recursos da história oral.
  • 7. Interpretação do Patrimônio – Retomando as palavras de Goodey, a simples disponibilização dos atrativos para a visitação não é mais suficiente para satisfazer o novo turista. É necessário que se recorra a uma série de técnicas distintas que sejam capazes de tocá-lo, de tornar aquele momento único, inesquecível. É esse o objetivo perseguido pela interpretação do patrimônio, como assinalam Murta e Albano (2005, p.9): A tradição da interpretação do patrimônio natural e cultural sinaliza justamente o valor único de um determinado ambiente, buscando estabelecer uma comunicação com o visitante, ampliando o seu conhecimento. Em outras palavras, visa estimular suas várias formas de olhar e aprender o que lhe é estranho. Como a experiência turística é fortemente visual, o olhar do visitante procura encontrar a singularidade do lugar, seus símbolos e significados mais marcantes. Os ambientes, sobretudo as cidades, devem ser vistos como um enigma a ser desvendado pela exploração, como um texto a ser interpretado pelo explorador. Mercadologicamente, falando e, nos despindo, aqui, de qualquer temor semântico, a interpretação do patrimônio cultural se constitui em uma ação em prol do desenvolvimento local sustentável pois, agrega valor ao produto e possibilita a sua diversificação e o alcance de maior quantidade de nichos de mercado. Como exemplo, podemos citar o caso do Centro Histórico de Salvador. Trata-se de um patrimônio da humanidade muito conhecido, cartão postal da cidade, visita obrigatória de qualquer turista. No entanto, esse importante sitio histórico é trabalhado de maneira muito similar por todas as operadoras de receptivo, que se restringem a acompanhar os grupos em tours guiados pela área, que incluem a entrada nas principais igrejas, Casa de Jorge Amado e lojas de artesanato. Todavia, mediante um trabalho de interpretação, o Pelourinho poderia ser visitado inúmeras vezes pelo mesmo turista, que em cada uma delas seria convidado a participar de uma experiência diferente e enriquecedora, ora como admirador das construções representativas dos estilos barroco e neoclássico; ou como um curioso, percorrendo as ladeiras por onde transitavam Dona Flor, Vadinho, Antônio Balduíno, Pedro Arcanjo e Quincas Berro D´água, dentre outros personagens célebres de Jorge Amado. Podemos citar, ainda, as possibilidades apresentadas para o turismo étnico e histórico, para ficar apenas com algumas das opções mais óbvias, sem esquecer de incluir
  • 8. entre os públicos visados, o próprio morador da cidade, muitas vezes desconhecedor do seu passado. Dentre os inúmeros meios e técnicas existentes para valorizar o patrimônio aos olhos do usuário, podem ser utilizadas ferramentas como as interpretações ao vivo, textos e publicações, placas painéis e letreiros, modelos e maquetes, reconstruções do passado, som, luz e imagem. (MURTA;ALBANO, 2005, p.10) Roteiros e atrações âncora os roteiros possibilitam a descentralização do fluxo de visitantes de um centro turístico em direção ao entorno situado em seu raio de abrangência que, segundo Boullón (1990) estende-se a uma distância de até 2 horas/deslocamento. Como decorrência desse fato obtém-se a dinamização da economia de muitas pequenas localidades que gravitam ao redor de um destino principal mas que, sozinhas, não teriam condições de captar e reter esse fluxo. Todavia, muitas vezes, para que esses roteiros sejam viáveis, torna-se necessária a criação de atrações âncora, a exemplo de centros culturais, museus, parques temáticos, sítios históricos, encenações e eventos, etc. O roteiro de Dom Quixote, na região espanhola de Castilla - La Mancha, é um bom modelo dessa estratégia. Partindo de Madri, há várias estradas sinalizando uma rota que leva o viajante a atravessar as paisagens que inspiraram Cervantes a escrever sua obra. Nesse percurso sucedem-se atrações relacionadas com o romance, como os moinhos de vento de Campos de Criptana (construídos em alusão à batalha de Dom Quixote com os gigantes imaginários), a casa de Dulcinéia, na cidade de El Toboso, o local de encontro com Sancho Pança, sua cidade natal, etc... Esse roteiro, auto-guiado, possibilitou que a região de Castilla – La Mancha passasse a constar dos mapas turísticos da Espanha, tendo em vista não ter nenhum outro tipo de atratividade. Inúmeros pueblos são cortados por essa rota e, a maioria deles, encontrou alguma forma de se beneficiar dessa nova atividade, através da oferta de uma ampla gama de bens e serviços demandados pelos fãs de Cervantes.
  • 9. Todavia, é importante reforçar, que a formatação desses produtos deve ser cuidadosa e precedida de uma pesquisa aprofundada sobre os temas que serão desenvolvidos, sob a pena de se criar reproduções superficiais, sem nenhum comprometimento com o patrimônio dos lugares. Deve-se, preferencialmente, recorrer a um processo participativo de construção em que as comunidades locais exerçam um papel determinante na concepção e operação desses roteiros. Muitas vezes, o maior obstáculo à criação de um bom roteiro é justamente a pressa na comercialização e na obtenção de retorno financeiro por parte de alguns representantes do trade. Quando se trabalha com a cultura é importante que se perceba que o timing deve ser diferente, bem mais lento do que exige a dinâmica do mercado. Capacitação de Recursos Humanos – por fim, outro aspecto fundamental e já comentado como uma importante barreira ao aproveitamento sócio-econômico do patrimônio cultural é a falta de mão-de-obra especializada para lidar com as especificidades desse tipo de atividade. Profissionais que entendam a complexidade inerente ao papel de fazer essa ponte entre a preservação estrita e a exploração eminentemente comercial da herança de um povo. Todo o processo de formatação, comercialização e comunicação do turismo cultural deve ser cercado de cuidados para que o real objetivo do desenvolvimento seja alcançado. Modernização dos equipamentos de turismo cultural - quem pensa em museu como algo morto, monótono e imóvel, certamente precisa rever seus conceitos. Vivemos no mundo dos museus virtuais, exploratórios e dos ecomuseus7 em que o papel de guardiães dos tesouros do passado é substituído pelo de espaços interativos e animados. A modernização das técnicas de comunicação entre os objetos e/ou fatos expostos e os visitantes é a tendência da museologia. Todavia, antes, é fundamental que esses espaços existam em condições mínimas de utilização. A situação da maioria dos museus brasileiros é precária, notadamente daqueles que dependem unicamente dos recursos públicos. Por outro lado, é igualmente mandatório que os parcos recursos disponíveis sejam direcionados 7 Um Ecomuseu ou museu comunitário é definido como um via dinâmica, ou seja, uma forma através da qual a comunidade mantém, interpreta e gere o seu património, sob a filosofia do desenvolvimento sustentável.
  • 10. para a comunicação dos valores intrínsecos dos lugares, fato muitas vezes ignorado pelas instâncias resopnsáveis, capazes de aplicar somas vultosas na construção de elefantes brancos como é o caso do Museu Rodin de Salvador. Enquanto isso faltam museus de história ,de etnografia, da cultura popular, sobre vultos importantes do passado, ...... O que dizer do arquivo público de Cachoeira, no Recôncavo Baiano, terceiro mais importante do Brasil, entregue às traças e à umidade de um prédio em ruínas. Pode-se medir o potencial de desenvolvimento de uma sociedade pela importância que ela confere à sua herança e á preservação de seus valores. Considerações Finais O grande desafio do turismo cultural nos tempos atuais não é mais provar o seu poder de promover novas alternativas de desenvolvimento para localidades que possuam uma herança cultural relevante. Mas o de encontrar as formas mais adequadas de fazê-lo, em um mundo extremamente competitivo para os destinos, em que os turistas dispõem do privilégio da informação e maior poder de barganha, mediante a intervenção das grandes operadoras do setor, e que muitas culturas locais encontram-se em um estado de imensa fragilidade, notadamente pela dificuldade que enfrentam para manter os processos de transmissão dos seus valores e tradições entre as gerações. Não é um desafio fácil, ainda mais no cenário brasileiro, em que investimentos em cultura e equipamentos culturais não estão na ordem do dia. Como ser bem sucedido nessa tarefa em um País em que palavras como produto, atrativo e comercialização são consideradas ofensivas e incompatíveis com as políticas públicas e o bem comum; que grandes expoentes do patrimônio material perecem em ruínas, sem manutenção, e manifestações populares, outrora representativas, caem no esquecimento. O Brasil já perdeu muito tempo e muitas oportunidades. È hora de se esquecer os fundamentalismos e agir de maneira mais pragmática nessa área. Somos um país pobre, com grande herança cultural a mostrar para o mundo e para o nosso próprio povo.
  • 11. Necessitamos de alternativas de desenvolvimento e devemos vencer a travessia que nos separa desse objetivo, de maneira equilibrada, respeitosa, planejada e competitiva aproveitando o melhor que a globalização pode nos oferecer em termos de comunicação com o mercado e tecnologia sem, no entanto, perder a nossa identidade. Nesse sentido, as políticas públicas para o turismo cultural devem ser construídas através de um processo participativo que facilite a determinação do que se entende pela “essência” dos lugares, segundo uma visão multilateral e multidisciplinar. A participação da sociedade legitima a escolha dos elementos que irão apresentá-la e representá-la para o mundo, evitando as “decisões de governo” que nem sempre são as mais acertadas. Finalmente, devemos ter em mente, como destacado no já citado relatório da Unesco, que a nossa raiz cultural não se refere apenas ao que herdamos do passado; que, a cada instante, uma sociedade saudável, com sua própria personalidade e consciente de sua identidade, status e papel universal, expande as suas raízes e dá origem a uma nova herança. Então, nossa responsabilidade maior, quando pensamos em dessacralizar o patrimônio cultural e transformá-lo em algo alcançável pelas pessoas comuns, no sentido do seu entendimento e a serviço da sociedade, quando transformado em uma alternativa de desenvolvimento, é garantir a manutenção da vitalidade e coerência das raízes do passado e aceitar que se desenvolvam novas raízes para o futuro. REFERÊNCIAS AZEVEDO, Júlia. Cultura, Patrimônio e Turismo. In: IRVING, Marta & AZEVEDO, Júlia. Turismo: o desafio da sustentabilidade São Paulo:Futura, 2002, pp.133-147. BOULLÓN, Roberto C. Planificación del espacio turístico. México: Trillas, 1990, 245p. GOODEY, Brian. Turismo Cultural: novos viajantes, novas descobertas. In: MURTA, Stela M.; ALBANO, Celina (org) , Interpretar o Patrimônio: um exercício do olhar. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005, pp.131-138.
  • 12. MURTA, Stela Maris. Turismo Histórico-Cultural: parques temáticos, roteiros e atrações âncora. In: MURTA, Stela M.; ALBANO, Celina (org) , Interpretar o Patrimônio: um exercício do olhar. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005, pp.139-168 MURTA, Stela Maris; ALBANO. Interpretação, Preservação e Turismo: uma introdução. In: MURTA, Stela M.; ALBANO, Celina (org) , Interpretar o Patrimônio: um exercício do olhar. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005, pp.9-12 PARAJÓN, Francisco J.L. A new contract between culture and society . In: Second International Congress Culture and Development, 2001, Havana. The future is no longer what it used to be. Disponível em http://www.unesco.org/documents.htm. Acesso em: 15 mar. 2006. POON, Auliana. Tourism, Technology and Competitive Strategies. London: CAB International, 1993, 367 p.