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A hiperexposição e o histórico olhar legitimador na construção do sujeito
Sheila Mara Ramos de Aguiar
Resumo:
O artigo pretende, com breve narrativa histórica, discorrer sobre como a exposição nas mídias
digitais interfere na construção do sujeito. Com base em pesquisa bibliográfica e aulas
expositivas, demonstrar como o sujeito constitui sua subjetividade, observando as
metamorfoses, passando pela era do renascimento, do modernismo, do pré-modernismo ao
hipermodernismo. Como o testemunho o olhar legitimador interfere, historicamente, nos
comportamentos do sujeito contemporâneo, onde tudo é hiper; com o uso dos dispositivos de
redes de comunicação, onde o individualismo impera e o hedonismo ganha destaque, e a
influência da hiperexposição na personalização do sujeito hipermoderno.
Palavras-chave: Hiperexposição, mídias digitais, sujeito, subjetividade, individualismo,
hedonismo.
The article intends, with brief historical narrative, to discuss how the exposure in digital media
interferes in the construction of the subject. Based on bibliographic research and lectures, show
how the subject constitutes his subjectivity, observing the metamorphoses, passing through the
age of rebirth, modernism, premodernism to hypermodernism. As the testimony, the
legitimating view interferes, historically, in the behaviors of the contemporary subject, where
everything is hyper, with the use of devices of communication networks, where individualism
reigns and hedonism gains prominence, and the influence of hyperexposure on personalization
of the subject Hypermodern.
Key words: Hyperexposure, digital media, subject, subjectivity, individualism, hedonism.
Breve Narrativa Histórica
Desde o princípio, o sujeito se constitui, se personaliza, se reformula de acordo com os
movimentos culturais, econômico e político.
Os séculos XII e XIII foram o ponto alto da era medieval, época em que se tinha a religião
como o centro, em que “haveria uma ordem absoluta, representada por Deus e seus legítimos
representantes na terra: a Bíblia e a Igreja”, e como bem Karhawi1
parafraseou (DE SANTI,
2009), “o homem ainda não era sujeito”.
A Era do Renascimento, de acordo com Bonini (2009), ocorreu entre os séculos XIV e XVI,
considerada o início da era moderna, difundiu-se por toda a Europa, conhecida como a era de
valorização do homem - o antropocentrismo (o homem como centro do mundo). A queda do
feudalismo, a chegada do capitalismo e o surgimento da classe burguesa, se transforma num
movimento que rejeita seguir apenas a Deus e o poder da igreja, já que tudo girava em torno
dos preceitos bíblicos - o teocentrismo, onde, os mandamentos de Deus se sobrepunham aos
desejos humanos - e ao poder do Estado, que regia com exclusividade as questões do coletivo,
contrapondo-se aos pensamentos medievais. Porém, não foi, ainda a época de ruptura total com
os dogmas da igreja, e como aponta De Santi, “a fé em Deus, não foi abalada, mas agora Ele é
entendido como um criador que paira sobre sua obra, que passa a ter vida própria, liberdade”
(DE SANTI, 2009:23).
Ainda no século XVII, surge o Iluminismo, conforme Bonini (2009) tinha suas crenças pautadas
no poder da razão, do progresso, da liberdade de pensamento, na emancipação política e com a
revolução científica. Rousseau, filósofo de destaque da época defendia que o homem nasce
livre, portanto, tem a liberdade como condição necessária para mudança da sociedade. De Santi
(200) descreve o século XVII dessa forma:
[...] no século XVII, o eu passou a ser tomado como centro do mundo: a própria
essência do homem foi identificada à sua racionalidade e consciência. O eu pôde
acreditar-se como sendo a totalidade da experiência humana. Não era admissível a
referência a algo que habitasse fora do eu [...]” (DE SANTI, 2009: 83)
Em busca de sua auto-emancipação, o sujeito segue em busca da construção de sua
subjetividade, em busca do em-si e para-si, livre do julgo divino. Agora, com a Revolução
Francesa, que influenciou com suas ideias de liberalismo e democracia – Igualdade, Liberdade
e Fraternidade – a era do Romantismo, dando início a idade Contemporânea; e com a Revolução
Industrial, que ocorreram ao final do século XVIII2
.
1
KARHWI, Issaaf. Espetacularização do Eu e #selfies: um ensaio sobre visibilidade midiática – Disponível
em >http://anais-comunicon2015.espm.br/GTs/GT6/18_GT06_KARHAWI.pdf> Acesso em 05/06/2017
2
>http://www.soliteratura.com.br/romantismo/> Acesso em 06/06/2017
Modernidade e Pós Modernidade
[...] O modernismo não é só a rebelião contra si próprio, é simultaneamente revolta
contra todas as normas e valores da sociedade burguesa: a <<revolução cultural>>
começa aqui, neste fim do século XIX... os inovadores artísticos far-se-ão porta-vozes
nisso se inspirando no romantismo, de valores assentes na exaltação do eu, na
autenticidade e no prazer (LIPOVETSKY, 2004: 49)
Durante o século XX, a evolução tecnológica avança, inclusive com o “surgimento de novas
tecnologias no campo da informática aplicadas à comunicação, as quais possibilitaram a
conexão instantânea com qualquer parte do mundo, marca registrada da era Globalização”
(RAMOS, 2007: 17)
Embora os pensamentos de Bauman (2001) façam oposição ao que foi construído ao longo da
história, ao que ele chamou de Modernidade Sólida, ele está em consonância com a maioria
sobre os efeitos da Globalização, a qual exerceu a mais forte influência sobre as transformações
da sociedade, modificando as relações humanas. Para o sociólogo, com os avanços
tecnológicos, no século XX, os conceitos deixam de ser sólidos, e a modernidade tem um traço
permanente - “o derretimento sólido” - ou seja, fluidez das relações no mundo contemporâneo,
ao que ele chamou de Modernidade Líquida. Logo, na era da modernidade, para Bauman (2001)
“tendemos a redefinir o significado de vida, o propósito de vida, a felicidade na vida para o que está acontecendo
com a própria pessoa às questões de identidade... você tem que criar sua própria identidade, você não a herda.
A transformação trazida pela Globalização vem definindo o modo de vida e o comportamento
social, com a “Rápida expansão do consumo e da comunicação de massa; enfraquecimento das
normas autoritárias e disciplinares; surto de individualização; consagração do hedonismo e do
psicologismo” (LIPOVETSKY, 2004, p. 52).
Contexto esse que é vasto campo para o cultivo do individualismo e o hedonismo, isto é, o culto
ao eu, em que o sujeito exerce livremente sua diferença, sua autossuficiência, na qual,
Lipovetsky tem como eixo central em sua obra, A Era do Vazio, a personalização do sujeito,
na tentativa de entender a dinâmica do individualismo que surgiu na modernidade, assim ele
diz que a [...]
[...]Revolução individualista através da qual, pela primeira vez na história, o ser
individual, igual a qualquer outro, é percebido e se percebe como fim último, se
concebe isoladamente e conquista o direito à livre disposição de si próprio, que
constitui o fermento do modernismo (LIPOVETSKY, 2004, p.56)
Para Lipovetsky a emancipação do sujeito na era moderna foi mais teórica do que real, já que
o poder do estado crescia na mesma proporção que o da busca pelo individualismo, e que “a
pós-modernidade representa o momento histórico preciso em que todos os freios institucionais
que se opunham à emancipação individual se esboroam e desaparecem, dando lugar à
manifestação dos desejos subjetivos, da realização individual, do amor próprio”
(LIPOVETSKY, 2004, p. 23)
Nesse momento de supervalorização do individualismo, o mundo moderno, no qual a ciência
foi fundamental, vai se transformando em mundo pós-moderno, onde a tecnologia, que se
consolidou no século XXI, é superior. No mundo pós-moderno descrito como fluído e
dinâmico, pelos autores estudados, o sujeito pós-moderno vai se formulando, agora num mundo
mais tecnológico, e conta com os diferentes tipos de tecnologia e ambientes iterativos: as
comunicações eletrônicas, a mobilidade, a flexibilidade, a fluidez.
Hipermodernidade
O movimento antropocêntrico do sujeito que ocorreu na era da modernidade, a supervalorização
do individualismo da pós-modernidade, vista por Lipovetsky como um estágio de transição que
leva à hipermodernidade - termo criado por Lipovetsky para descrever a intensificação dos
movimentos modernistas e pós-modernistas – que passa do Narcisismo ao hipernarcisismo. Os
tempos hipermodernos de Lipovetsky:
Vários sinais fazem pensar que entramos na era do Hiper, a qual se caracteriza pelo
hiperconsumo, essa terceira fase da modernidade; pela hipermodernidade, que se
segue à pós-modernidade; e pelo hipernarcisismo (LIPOVETSKY, 2004, p. 25)
Nesse contexto do hipermoderno, a tecnologia serve de motor do meio que leva o sujeito na
construção de sua subjetividade na sociedade. A tecnologia mudou a noção de tempo e espaço,
e para isso, o sujeito irá usar da imaginação e da criatividade para criar uma nova identidade, e
a matéria prima é o contexto das interações nas várias mídias sociais.
Diante do quadro é pertinente dizer que a visibilidade, vigilância e espetáculo exerce importante
fundamento na modulação da subjetividade (Bruno, 2013, p.14), em que o cerne é o “poder
normatizante do olhar” (Karhwi, 2015) - alusão à obra de Foucault sobre regimes disciplinares.
A Vigilância potencializada com o uso das tecnologias disponíveis, intervêm e produz
condutas, comportamentos “e implica a inspeção regular, sistemática e focalizada de
indivíduos, populações, informações ou processos comportamentais, corporais, psíquicos,
sociais, entre outros. ” (BRUNO, 2013, p.18)
O indivíduo passa do olhar legitimador de Deus, do Rei, do Estado, o PANÓPTICO
Olhar de poucos para muitos; Palácio de Buckingham
http://turismo.culturamix.com/cultural/palacio-de-buckingham-2
Para o olhar legitimador da sociedade, o SINÓPTICO
Olhar de muitos para poucos: Robôs do BBB – Big Brother Brasil
http://www.techtudo.com.br/tudo-sobre/papel-de-parede-robos-do-bbb.html
O foco das sociedades disciplinares foi invertido nessa nova era, “voltando-o não mais para os
que exercem o poder, mas para aqueles sobre quem o poder é exercido. Para o indivíduo
comum, mediano e, ainda mais, para o desviante e o anormal”.3
De acordo com Bruno (2013), o monitoramento interfere significativamente nas ações dos
sujeitos, dentro de “uma complexa rede de saberes sobre o cotidiano dos indivíduos, seus
hábitos, comportamentos, preferências, relações sociais”. (BRUNO, 2013: 22).
Em sua obra, Bruno (2013), volta seus estudos à da modernidade para descrever a forma como
as narrativas do eu vão se formulando, contudo, sabe-se que o poder ver e ser visto interfere
historicamente na constituição do sujeito, desde o princípio, no tempo e no espaço, “sabe-se
que o olhar é indissociável da história da formação da subjetividade” (BRUNO, 2013: 56).
Sendo assim, é possível dizer que a visibilidade gera uma nova forma do sujeito olhar para si e
construir sua subjetividade.
A forma de vigilância contemporânea, a tecnologia disciplinar, se legitima na retórica das
funções estratégicas dos circuitos de[...]
[...]Segurança e controle; os circuitos de visibilidade midiática; os circuitos de
eficácia informacional... Conferindo à vigilância um caráter multifacetado, com
registros de legitimação superpostos e com uma significação social e subjetiva plural,
que reúne segurança, cuidado, temor, suspeição, prazer, entretenimento,
pertencimento, conforto, performatividade, entre outros”. (BRUNO, 2013, p.21)
De acordo com a autora, esses circuitos, no regime de visibilidade moderna, têm “implicações
fundamentais para a subjetividade: a disciplina e o espetáculo” que reverbera de diferentes
maneiras sobre a subjetividade, “tanto nos circuitos de controle e segurança quanto nos circuitos
de prazer e entretenimento” (BRUNO, 2013, p.53), “a felicidade tecnologicamente assistida...
parecer feliz para depois torna-se feliz”.4
A subjetividade exteriorizada sobrepõem-se a subjetividade interiorizada, ao que Bruno (2013)
chamou de “reconfiguração topológica da subjetividade”, pois, na modernidade, o eu era
voltado à introspecção e à hermenêutica.
3
BRUNO, Fernanda. Ob, cit., p. 58
4
BRUNO, Fernanda. Ob, cit., p. 54
A subjetividade não se dissocia da visibilidade, e os dispositivos de rede de comunicação
modernos como os reality shows, as redes sociais, blogs, são utilizados como “narrativas de si”,
e instala a exteriorização da subjetividade, ao que Lacan (2001) chamou de “extimidade”, ou
seja, “desejo de o indivíduo comunicar ou expor o seu mundo interior ao outro”. (BRUNO,
2013, p. 68). E como já citado aqui, o indivíduo “ conquista o direito à livre disposição de si
próprio, que constitui o fermento do modernismo” (LIPOVETSKY, 2004, p.56)
Essa breve descrição dos movimentos históricos, a partir do Renascimento à era atual,
a hipermodernidade, mostra que a revolução da sociedade, de cada época, transformou e
transforma a cultura e a natureza dos indivíduos, numa “crescente produção de seres híbridos”.
Bruno (2013, p. 82); ou, como vimos, seres fluídos e independentes.
Nessa eterna constituição da subjetividade, alguns valores podem mover o sujeito, de acordo
com aquilo que Shirky (2011) idealiza em uma cultura de participação5
movem o sujeito:
Valores pessoal ( Compartilhamento pessoal), Valor comum ( Compartilhamento + colaboração
e interação), Valor público ( Software livre), Valor Cívico ( Mudança Social) – dessa forma
Siqueira (2014)6
, diz que, “não se trata mais de uma sociedade em que os indivíduos sabem o
seu destino desde o nascimento, agora estamos imersos em um espaço social onde
~teoricamente~ escolhemos nosso futuro, optamos pelo nosso destino, somos responsáveis pelo
nosso fracasso... onde “Ninguém é, e sim está”.
Referências
BONINI, Luci. Renascimento, Iluminismo, Romantismo e Liberalismo – Disponível em
>https://pt.slideshare.net/lucibonini/renascimento-iluminismo-romantismo-e-liberalismo-
2201534> Acesso em 05/07/2017
5
Aulas 3, Expositiva - KARHWI, Issaaf - Disponível em > https://anhembi.blackboard.com/bbcswebdav/pid-
5140381-dt-content-rid-20282570_1/courses/201712.00193.01/Aula%203%20-
%20Sujeito%20e%20m%C3%ADdias%20sociais%20digitais%202017.pdf >
6
SIQUEIRA, Vinícius. Artigo Publicado em Obvious – A crítica de Zygmunt Bauman à pós-modernidade –
Disponível em > http://obviousmag.org/archives/2014/01/a_critica_de_zygmunt_bauman_a_pos-
modernidade.html#ixzz4jSa8OC8p> Acesso em 08/06/2017
BRUNO, Fernanda. Máquinas de ver, modos de ser: vigilância, tecnologia e subjetividade.
Porto Alegre: Sulina, 2013
DE SANTI, Pedro Luiz Ribeiro. A Construção do Eu na modernidade. Da Renascença ao
século XIX. 6. Ed. Ribeirão Preto: Holos Editora, 2009.
KARHWI, Issaaf. Espetacularização do Eu e #selfies: um ensaio sobre visibilidade
midiática – Disponível em >http://anais-
comunicon2015.espm.br/GTs/GT6/18_GT06_KARHAWI.pdf> Acesso em 05/06/2017
LIPOVETSKY, Gilles. OS Tempos Hipermodernos. São Paulo: Editora Bacarolla, 2004.
LIPOVETSKY, Gilles. A Era do Vazio: ensaios sobre o individualismo contemporâneo.
Barueri, SP: Manole 2005.
MENEZES, Maria Célia. Construção do Eu na Modernidade e na visão religiosa. Revista
Aulas, 2007 – Disponível em > http://www.unicamp.br/~aulas/Conjunto%20II/4_12.pdf >
Acesso em 06/06/2017
RAMOS, Jonas Machado Paradigma penal contemporâneo: O Paradigma Penal
Contemporâneo: o estado penal como estado de exceção permanente. – Porto Alegre, 2007.
– Disponível em > http://www.dominiopublico.gov.br/download/teste/arqs/cp122767.pdf>
Acesso em 06/06/2017
SANTANA, Ana Lúcia. Renascimento – Disponível em
>http://www.infoescola.com/movimentos-culturais/renascimento/> Acesso em 02/07/2017
SIQUEIRA, Vinícius. A Crítica de Zygmunt Bauman à pós-modernidade – Disponível em
>http://obviousmag.org/archives/2014/01/a_critica_de_zygmunt_bauman_a_pos-
modernidade.html> Acesso em 08/06/2017
ZYGMUNT, Bauman. Modernidade Líquida – Rio de Janeiro: Jorge Zahar. Ed 2001.

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História Contemporânea - Larissa Costard - PUC-Rio
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A hiperexposição e o histórico olhar legitimador na construção do sujeito

  • 1. A hiperexposição e o histórico olhar legitimador na construção do sujeito Sheila Mara Ramos de Aguiar Resumo: O artigo pretende, com breve narrativa histórica, discorrer sobre como a exposição nas mídias digitais interfere na construção do sujeito. Com base em pesquisa bibliográfica e aulas expositivas, demonstrar como o sujeito constitui sua subjetividade, observando as metamorfoses, passando pela era do renascimento, do modernismo, do pré-modernismo ao hipermodernismo. Como o testemunho o olhar legitimador interfere, historicamente, nos comportamentos do sujeito contemporâneo, onde tudo é hiper; com o uso dos dispositivos de redes de comunicação, onde o individualismo impera e o hedonismo ganha destaque, e a influência da hiperexposição na personalização do sujeito hipermoderno. Palavras-chave: Hiperexposição, mídias digitais, sujeito, subjetividade, individualismo, hedonismo. The article intends, with brief historical narrative, to discuss how the exposure in digital media interferes in the construction of the subject. Based on bibliographic research and lectures, show how the subject constitutes his subjectivity, observing the metamorphoses, passing through the age of rebirth, modernism, premodernism to hypermodernism. As the testimony, the legitimating view interferes, historically, in the behaviors of the contemporary subject, where everything is hyper, with the use of devices of communication networks, where individualism reigns and hedonism gains prominence, and the influence of hyperexposure on personalization of the subject Hypermodern. Key words: Hyperexposure, digital media, subject, subjectivity, individualism, hedonism. Breve Narrativa Histórica Desde o princípio, o sujeito se constitui, se personaliza, se reformula de acordo com os movimentos culturais, econômico e político.
  • 2. Os séculos XII e XIII foram o ponto alto da era medieval, época em que se tinha a religião como o centro, em que “haveria uma ordem absoluta, representada por Deus e seus legítimos representantes na terra: a Bíblia e a Igreja”, e como bem Karhawi1 parafraseou (DE SANTI, 2009), “o homem ainda não era sujeito”. A Era do Renascimento, de acordo com Bonini (2009), ocorreu entre os séculos XIV e XVI, considerada o início da era moderna, difundiu-se por toda a Europa, conhecida como a era de valorização do homem - o antropocentrismo (o homem como centro do mundo). A queda do feudalismo, a chegada do capitalismo e o surgimento da classe burguesa, se transforma num movimento que rejeita seguir apenas a Deus e o poder da igreja, já que tudo girava em torno dos preceitos bíblicos - o teocentrismo, onde, os mandamentos de Deus se sobrepunham aos desejos humanos - e ao poder do Estado, que regia com exclusividade as questões do coletivo, contrapondo-se aos pensamentos medievais. Porém, não foi, ainda a época de ruptura total com os dogmas da igreja, e como aponta De Santi, “a fé em Deus, não foi abalada, mas agora Ele é entendido como um criador que paira sobre sua obra, que passa a ter vida própria, liberdade” (DE SANTI, 2009:23). Ainda no século XVII, surge o Iluminismo, conforme Bonini (2009) tinha suas crenças pautadas no poder da razão, do progresso, da liberdade de pensamento, na emancipação política e com a revolução científica. Rousseau, filósofo de destaque da época defendia que o homem nasce livre, portanto, tem a liberdade como condição necessária para mudança da sociedade. De Santi (200) descreve o século XVII dessa forma: [...] no século XVII, o eu passou a ser tomado como centro do mundo: a própria essência do homem foi identificada à sua racionalidade e consciência. O eu pôde acreditar-se como sendo a totalidade da experiência humana. Não era admissível a referência a algo que habitasse fora do eu [...]” (DE SANTI, 2009: 83) Em busca de sua auto-emancipação, o sujeito segue em busca da construção de sua subjetividade, em busca do em-si e para-si, livre do julgo divino. Agora, com a Revolução Francesa, que influenciou com suas ideias de liberalismo e democracia – Igualdade, Liberdade e Fraternidade – a era do Romantismo, dando início a idade Contemporânea; e com a Revolução Industrial, que ocorreram ao final do século XVIII2 . 1 KARHWI, Issaaf. Espetacularização do Eu e #selfies: um ensaio sobre visibilidade midiática – Disponível em >http://anais-comunicon2015.espm.br/GTs/GT6/18_GT06_KARHAWI.pdf> Acesso em 05/06/2017 2 >http://www.soliteratura.com.br/romantismo/> Acesso em 06/06/2017
  • 3. Modernidade e Pós Modernidade [...] O modernismo não é só a rebelião contra si próprio, é simultaneamente revolta contra todas as normas e valores da sociedade burguesa: a <<revolução cultural>> começa aqui, neste fim do século XIX... os inovadores artísticos far-se-ão porta-vozes nisso se inspirando no romantismo, de valores assentes na exaltação do eu, na autenticidade e no prazer (LIPOVETSKY, 2004: 49) Durante o século XX, a evolução tecnológica avança, inclusive com o “surgimento de novas tecnologias no campo da informática aplicadas à comunicação, as quais possibilitaram a conexão instantânea com qualquer parte do mundo, marca registrada da era Globalização” (RAMOS, 2007: 17) Embora os pensamentos de Bauman (2001) façam oposição ao que foi construído ao longo da história, ao que ele chamou de Modernidade Sólida, ele está em consonância com a maioria sobre os efeitos da Globalização, a qual exerceu a mais forte influência sobre as transformações da sociedade, modificando as relações humanas. Para o sociólogo, com os avanços tecnológicos, no século XX, os conceitos deixam de ser sólidos, e a modernidade tem um traço permanente - “o derretimento sólido” - ou seja, fluidez das relações no mundo contemporâneo, ao que ele chamou de Modernidade Líquida. Logo, na era da modernidade, para Bauman (2001) “tendemos a redefinir o significado de vida, o propósito de vida, a felicidade na vida para o que está acontecendo com a própria pessoa às questões de identidade... você tem que criar sua própria identidade, você não a herda. A transformação trazida pela Globalização vem definindo o modo de vida e o comportamento social, com a “Rápida expansão do consumo e da comunicação de massa; enfraquecimento das normas autoritárias e disciplinares; surto de individualização; consagração do hedonismo e do psicologismo” (LIPOVETSKY, 2004, p. 52). Contexto esse que é vasto campo para o cultivo do individualismo e o hedonismo, isto é, o culto ao eu, em que o sujeito exerce livremente sua diferença, sua autossuficiência, na qual, Lipovetsky tem como eixo central em sua obra, A Era do Vazio, a personalização do sujeito, na tentativa de entender a dinâmica do individualismo que surgiu na modernidade, assim ele diz que a [...] [...]Revolução individualista através da qual, pela primeira vez na história, o ser individual, igual a qualquer outro, é percebido e se percebe como fim último, se concebe isoladamente e conquista o direito à livre disposição de si próprio, que constitui o fermento do modernismo (LIPOVETSKY, 2004, p.56)
  • 4. Para Lipovetsky a emancipação do sujeito na era moderna foi mais teórica do que real, já que o poder do estado crescia na mesma proporção que o da busca pelo individualismo, e que “a pós-modernidade representa o momento histórico preciso em que todos os freios institucionais que se opunham à emancipação individual se esboroam e desaparecem, dando lugar à manifestação dos desejos subjetivos, da realização individual, do amor próprio” (LIPOVETSKY, 2004, p. 23) Nesse momento de supervalorização do individualismo, o mundo moderno, no qual a ciência foi fundamental, vai se transformando em mundo pós-moderno, onde a tecnologia, que se consolidou no século XXI, é superior. No mundo pós-moderno descrito como fluído e dinâmico, pelos autores estudados, o sujeito pós-moderno vai se formulando, agora num mundo mais tecnológico, e conta com os diferentes tipos de tecnologia e ambientes iterativos: as comunicações eletrônicas, a mobilidade, a flexibilidade, a fluidez. Hipermodernidade O movimento antropocêntrico do sujeito que ocorreu na era da modernidade, a supervalorização do individualismo da pós-modernidade, vista por Lipovetsky como um estágio de transição que leva à hipermodernidade - termo criado por Lipovetsky para descrever a intensificação dos movimentos modernistas e pós-modernistas – que passa do Narcisismo ao hipernarcisismo. Os tempos hipermodernos de Lipovetsky: Vários sinais fazem pensar que entramos na era do Hiper, a qual se caracteriza pelo hiperconsumo, essa terceira fase da modernidade; pela hipermodernidade, que se segue à pós-modernidade; e pelo hipernarcisismo (LIPOVETSKY, 2004, p. 25) Nesse contexto do hipermoderno, a tecnologia serve de motor do meio que leva o sujeito na construção de sua subjetividade na sociedade. A tecnologia mudou a noção de tempo e espaço, e para isso, o sujeito irá usar da imaginação e da criatividade para criar uma nova identidade, e a matéria prima é o contexto das interações nas várias mídias sociais. Diante do quadro é pertinente dizer que a visibilidade, vigilância e espetáculo exerce importante fundamento na modulação da subjetividade (Bruno, 2013, p.14), em que o cerne é o “poder normatizante do olhar” (Karhwi, 2015) - alusão à obra de Foucault sobre regimes disciplinares.
  • 5. A Vigilância potencializada com o uso das tecnologias disponíveis, intervêm e produz condutas, comportamentos “e implica a inspeção regular, sistemática e focalizada de indivíduos, populações, informações ou processos comportamentais, corporais, psíquicos, sociais, entre outros. ” (BRUNO, 2013, p.18) O indivíduo passa do olhar legitimador de Deus, do Rei, do Estado, o PANÓPTICO Olhar de poucos para muitos; Palácio de Buckingham http://turismo.culturamix.com/cultural/palacio-de-buckingham-2 Para o olhar legitimador da sociedade, o SINÓPTICO Olhar de muitos para poucos: Robôs do BBB – Big Brother Brasil http://www.techtudo.com.br/tudo-sobre/papel-de-parede-robos-do-bbb.html
  • 6. O foco das sociedades disciplinares foi invertido nessa nova era, “voltando-o não mais para os que exercem o poder, mas para aqueles sobre quem o poder é exercido. Para o indivíduo comum, mediano e, ainda mais, para o desviante e o anormal”.3 De acordo com Bruno (2013), o monitoramento interfere significativamente nas ações dos sujeitos, dentro de “uma complexa rede de saberes sobre o cotidiano dos indivíduos, seus hábitos, comportamentos, preferências, relações sociais”. (BRUNO, 2013: 22). Em sua obra, Bruno (2013), volta seus estudos à da modernidade para descrever a forma como as narrativas do eu vão se formulando, contudo, sabe-se que o poder ver e ser visto interfere historicamente na constituição do sujeito, desde o princípio, no tempo e no espaço, “sabe-se que o olhar é indissociável da história da formação da subjetividade” (BRUNO, 2013: 56). Sendo assim, é possível dizer que a visibilidade gera uma nova forma do sujeito olhar para si e construir sua subjetividade. A forma de vigilância contemporânea, a tecnologia disciplinar, se legitima na retórica das funções estratégicas dos circuitos de[...] [...]Segurança e controle; os circuitos de visibilidade midiática; os circuitos de eficácia informacional... Conferindo à vigilância um caráter multifacetado, com registros de legitimação superpostos e com uma significação social e subjetiva plural, que reúne segurança, cuidado, temor, suspeição, prazer, entretenimento, pertencimento, conforto, performatividade, entre outros”. (BRUNO, 2013, p.21) De acordo com a autora, esses circuitos, no regime de visibilidade moderna, têm “implicações fundamentais para a subjetividade: a disciplina e o espetáculo” que reverbera de diferentes maneiras sobre a subjetividade, “tanto nos circuitos de controle e segurança quanto nos circuitos de prazer e entretenimento” (BRUNO, 2013, p.53), “a felicidade tecnologicamente assistida... parecer feliz para depois torna-se feliz”.4 A subjetividade exteriorizada sobrepõem-se a subjetividade interiorizada, ao que Bruno (2013) chamou de “reconfiguração topológica da subjetividade”, pois, na modernidade, o eu era voltado à introspecção e à hermenêutica. 3 BRUNO, Fernanda. Ob, cit., p. 58 4 BRUNO, Fernanda. Ob, cit., p. 54
  • 7. A subjetividade não se dissocia da visibilidade, e os dispositivos de rede de comunicação modernos como os reality shows, as redes sociais, blogs, são utilizados como “narrativas de si”, e instala a exteriorização da subjetividade, ao que Lacan (2001) chamou de “extimidade”, ou seja, “desejo de o indivíduo comunicar ou expor o seu mundo interior ao outro”. (BRUNO, 2013, p. 68). E como já citado aqui, o indivíduo “ conquista o direito à livre disposição de si próprio, que constitui o fermento do modernismo” (LIPOVETSKY, 2004, p.56) Essa breve descrição dos movimentos históricos, a partir do Renascimento à era atual, a hipermodernidade, mostra que a revolução da sociedade, de cada época, transformou e transforma a cultura e a natureza dos indivíduos, numa “crescente produção de seres híbridos”. Bruno (2013, p. 82); ou, como vimos, seres fluídos e independentes. Nessa eterna constituição da subjetividade, alguns valores podem mover o sujeito, de acordo com aquilo que Shirky (2011) idealiza em uma cultura de participação5 movem o sujeito: Valores pessoal ( Compartilhamento pessoal), Valor comum ( Compartilhamento + colaboração e interação), Valor público ( Software livre), Valor Cívico ( Mudança Social) – dessa forma Siqueira (2014)6 , diz que, “não se trata mais de uma sociedade em que os indivíduos sabem o seu destino desde o nascimento, agora estamos imersos em um espaço social onde ~teoricamente~ escolhemos nosso futuro, optamos pelo nosso destino, somos responsáveis pelo nosso fracasso... onde “Ninguém é, e sim está”. Referências BONINI, Luci. Renascimento, Iluminismo, Romantismo e Liberalismo – Disponível em >https://pt.slideshare.net/lucibonini/renascimento-iluminismo-romantismo-e-liberalismo- 2201534> Acesso em 05/07/2017 5 Aulas 3, Expositiva - KARHWI, Issaaf - Disponível em > https://anhembi.blackboard.com/bbcswebdav/pid- 5140381-dt-content-rid-20282570_1/courses/201712.00193.01/Aula%203%20- %20Sujeito%20e%20m%C3%ADdias%20sociais%20digitais%202017.pdf > 6 SIQUEIRA, Vinícius. Artigo Publicado em Obvious – A crítica de Zygmunt Bauman à pós-modernidade – Disponível em > http://obviousmag.org/archives/2014/01/a_critica_de_zygmunt_bauman_a_pos- modernidade.html#ixzz4jSa8OC8p> Acesso em 08/06/2017
  • 8. BRUNO, Fernanda. Máquinas de ver, modos de ser: vigilância, tecnologia e subjetividade. Porto Alegre: Sulina, 2013 DE SANTI, Pedro Luiz Ribeiro. A Construção do Eu na modernidade. Da Renascença ao século XIX. 6. Ed. Ribeirão Preto: Holos Editora, 2009. KARHWI, Issaaf. Espetacularização do Eu e #selfies: um ensaio sobre visibilidade midiática – Disponível em >http://anais- comunicon2015.espm.br/GTs/GT6/18_GT06_KARHAWI.pdf> Acesso em 05/06/2017 LIPOVETSKY, Gilles. OS Tempos Hipermodernos. São Paulo: Editora Bacarolla, 2004. LIPOVETSKY, Gilles. A Era do Vazio: ensaios sobre o individualismo contemporâneo. Barueri, SP: Manole 2005. MENEZES, Maria Célia. Construção do Eu na Modernidade e na visão religiosa. Revista Aulas, 2007 – Disponível em > http://www.unicamp.br/~aulas/Conjunto%20II/4_12.pdf > Acesso em 06/06/2017 RAMOS, Jonas Machado Paradigma penal contemporâneo: O Paradigma Penal Contemporâneo: o estado penal como estado de exceção permanente. – Porto Alegre, 2007. – Disponível em > http://www.dominiopublico.gov.br/download/teste/arqs/cp122767.pdf> Acesso em 06/06/2017 SANTANA, Ana Lúcia. Renascimento – Disponível em >http://www.infoescola.com/movimentos-culturais/renascimento/> Acesso em 02/07/2017 SIQUEIRA, Vinícius. A Crítica de Zygmunt Bauman à pós-modernidade – Disponível em >http://obviousmag.org/archives/2014/01/a_critica_de_zygmunt_bauman_a_pos- modernidade.html> Acesso em 08/06/2017 ZYGMUNT, Bauman. Modernidade Líquida – Rio de Janeiro: Jorge Zahar. Ed 2001.