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4 engenharia sanitária e ambiental Vol. 7 - Nº 1 - jan/mar 2002 e Nº 2 - abr/jun 2002
AAAAATUALIDADESTUALIDADESTUALIDADESTUALIDADESTUALIDADES TTTTTÉCNICASÉCNICASÉCNICASÉCNICASÉCNICAS
CARMEN MARIA BARROS DE CASTRO
Engenheira química, Mestre em Saneamento Ambiental, Professora Adjunta do Depto. de Obras Hidráulicas do IPH/UFRGS
e-mail: barcas@iph.ufrgs.br
Um dos principais debates científi-
cos internacionais da última década diz
respeito à presença no meio ambiente de
um grupo específico de compostos quí-
micos caracterizados pela capacidade de
simular ou alterar a atividade hormonal
do organismo humano e de animais. A
estes compostos denominados generica-
mente de perturbadores endócrinos ou
agentes hormonalmente ativos (HAAs),
atribui-seacapacidadedeperturbarosis-
tema endócrino simulando a ação de
hormônios naturais, inibindo-os ou alte-
rando as funções regulares normais dos
sistemas imunológico, nervoso e
endócrino. Possivelmente, o desenvolvi-
mento de algumas doenças como câncer
de mama e de próstata, desenvolvimento
sexual anormal, redução de fertilidade
masculina, alteração de glândulas
tireóides, supressão de imunidade e efei-
tosneurocomportamentaistambémpos-
sa ser induzido por tais compostos. Adi-
cionalmente aos efeitos danosos sobre a
saúde humana, eles podem perturbar
também funções endócrinas de espécies
da vida aquática e de animais silvestres,
provocando, desde o desenvolvimento
anormaldafunçãotireóideempássarose
peixes, até a diminuição da fertilidade e
alteraçõessexuaiseimunológicasemcrus-
táceos,peixes,pássaros,répteisemamífe-
ros.Osperturbadoresendócrinospodem
ser produtos naturais como os
fitoestrogenos produzidos pela própria
planta e bastante comuns em produtos
deorigemanimalevegetaloucompostos
químicos sintéticos, na sua grande maio-
ria organoclorados empregados nos mais
variados usos industriais, comerciais e
domésticos produzidos intencionalmen-
te, como no caso de solventes clorados e
inseticidas desenvolvidos para atuar sele-
tivamente sobre o sistema endócrino de
insetos específicos, ou serem formados
como subprodutos durante o processo
industrial. O DDT, os PCBs, o bisfenol
A (BPA); os alquilfenóis - polietoxilatos
(APE); as p-dioxina (TCDD) e o
dibenzeno-furano(TCDF)sãoexemplos
de compostos sintéticos considerados
como perturbadores endócrinos.
A exposição a estes agentes pode
ocorrer a partir de uma variedade de fon-
tes de forma voluntária ou não. Assim,
homenseanimaisestãoexpostosaalguns
fitoestrogenos através de sua dieta diária,
incluindo o consumo de água potável,
ouatravésdocontatocomoaresolocon-
taminados. Também estão expostos a
muitos perturbadores sintéticos ao utili-
zar produtos comerciais, como produtos
de limpeza, pesticidas e aditivos alimen-
tares,ouaomanipulá-loscompropósitos
benéficos específicos ou terapêuticos,
comopílulasanticoncepcionais,cosméti-
cos e pesticidas.
Alguns destes compostos já não são
mais amplamente comercializados, en-
quanto outros têm sua produção proibi-
da ou limitada. O DDT, por exemplo,
inseticida persistente e estável teve seu
uso definitivamente proibido nos EUA
em 1992, no entanto, em vários países
em desenvolvimento continua a ser pro-
duzido e utilizado devido à sua alta efici-
ência e produção relativamente barata.
OmesmoocorrecomosPCBs,quemes-
mocomsuaproduçãooficialmenteproi-
bida nos EUA desde 1977, têm seu uso
difundido por todo o mundo. Conheci-
dos comercialmente pelos nomes de
Aroclor,Kaneclor,PhenocloreClophen,
são fabricados principalmente nos EUA
e Europa. Devido à sua baixa reatividade
química e estabilidade térmica e alta re-
sistênciaelétrica,sãoamplamenteempre-
gados em diferentes ramos industriais
como aditivos de tintas, plásticos, borra-
chas,adesivos,tintasdeimpressãoeinse-
ticidas. São utilizados também em gran-
des quantidades como fluidos em trans-
feridores de calor e em fluidos hidráuli-
cos.Das209possíveismoléculasdePCBs
que são referenciadas como congêneres,
pelo menos 113 estão presentes no meio
ambiente.AliberaçãodePCBsnoambi-
ente está relacionada a acidentes indus-
triais, disposição imprópria e dissipação
ambientalemlocaisespecíficos,comopor
exemplo em sedimentos. As principais
fontes de entrada e dispersão de PCBs
no meio ambiente incluem os resíduos
gasosos de incineradores, os resíduos de
indústrias que manipulam óleos, cêras e
CCCCCOORDENADOROORDENADOROORDENADOROORDENADOROORDENADOR DESTDESTDESTDESTDESTAAAAA SSSSSEÇÃOEÇÃOEÇÃOEÇÃOEÇÃO: P: P: P: P: PROFROFROFROFROFº Mº Mº Mº Mº MARCOSARCOSARCOSARCOSARCOS VONVONVONVONVON SSSSSPERLINGPERLINGPERLINGPERLINGPERLING
A seção Atualidades Técnicas objetiva ser um fórum de comunicações rápidas e em formato livre sobre novidades,
tendências e tópicos recentes no setor de saneamento e meio ambiente, no Brasil e no mundo. A seção só cumprirá bem
o seu papel se receber contribuições de autores de todo o país, imprimindo uma maior diversidade à mesma. Favor
encaminhar as contribuições na forma de texto com aproximadamente 1 a 2 páginas, preferencialmente por e-mail ou em
disquete (arquivo Word) para o endereço abaixo ou para a ABES-Nacional. Leitores que desejarem se comunicar com
os autores das contribuições poderão fazê-lo diretamente com os autores ou através do endereço:
Prof. Marcos von Sperling - Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental - UFMG
Av. Contorno 842 -7o
and.; 30110-060 - Belo Horizonte-MG -Tel: (31) 3238-1935; Fax: (31) 3238-1879; e-mail: marcos@desa.ufmg.br
PERTURBADORES ENDÓCRINOS AMBIENTAIS:
UMA QUESTÃO A SER DISCUTIDA
Vol. 7 - Nº 1 - jan/mar 2002 e Nº 2 - abr/jun 2002 engenharia sanitária e ambiental 5
AAAAATUALIDADESTUALIDADESTUALIDADESTUALIDADESTUALIDADESTTTTTÉCNICASÉCNICASÉCNICASÉCNICASÉCNICAS
tintas, a drenagem de aterros sanitários
que contenham papéis, plásticos ou resi-
nas,drenagemdeáguasdeirrigaçãoonde
se utilizou pesticidas contendo PCBs,
reciclagem de papéis, contaminação di-
retaatravésdomanuseioindevidoouva-
zamento de fluidos de condensadores e
transformadores, fluidos hidráulicos ou
óleos e concentração em materiais bioló-
gicos. Estima-se que, enquanto 31% do
total de PCBs manufaturados estejam
presentes no ambiente global, somente
4% da produção mundial acumulada
podeseravaliadacomodegradadaouin-
cinerada.
As dioxinas cloradas e os
dibenzofuranos são singulares entre os
HAAsconsiderados,poisnãosãopropo-
sitadamente sintetizadas por um proces-
so industrial específico. Elas são produ-
tos primários dos processos de combus-
tão de matéria vegetal ou são geradas
como subprodutos da indústria de pol-
pa e papel e de outros processos industri-
ais que utilizam cloro. Segundo dados
divulgados em 1999 pela National
Academy Press, nos EUA são liberados
anualmente 400 kg de dioxinas, sendo
que os incineradores contribuem com
cerca de 350 kg deste total; o incêndio
de florestas e a queima de madeira
residencial contribuem com a liberação
de mais 20 kg cada um e a queima de
resíduos agrícolas libera 10 kg por ano.
Em particular, nas zonas envolvidas com
o tratamento de madeira, as concentra-
ções de dibenzo-p-dioxina e
dibenzofuranos(microcontaminantesdo
pentaclorofenol -PCF- utilizado como
conservante de madeira) em águas sub-
terrâneas e superficais podem ser bastan-
tealtas.Umoutroexemplodecomposto
químico sintético de potencial atividade
sobre o sistema endócrino é o Bisfenol A
(BPA), plástico constituinte de resinas
utilizadas em embalagens de alimentos e
bebidas e de resinas policarbonatadas
empregadas em fornos de microondas,
em embalagens retornáveis de água e lei-
te, em gavetas de refrigeradores e em ou-
trasaplicaçõesparaestocagemdealimen-
tos,incluindomamadeiras.ObisfenolA
é utilizado na composição de compostos
selantes dentários, podendo também ser
liberado durante o processo de esteriliza-
çãodasembalagensplásticas.OBPAestá
entre os 50 produtos químicos sintéticos
mais produzidos nos EUA.
Osalquilfenóispolietoxilatos(APE)
e o etinil estradiol de uso farmacêutico
são as duas fontes mais comuns de subs-
tâncias estrogênicas sintéticas. A presen-
çadelesnomeioambienteéresultanteda
biodegradação de surfactantes e deter-
gentes durante o tratamento de esgotos,
eassimaexposiçãodeorganismosaquáti-
cos em rios que recebem efluentes do-
mésticos é a principal área de preocupa-
ção.
Os efeitos adversos de um
perturbador endócrino vão depender das
doses, da carga genética, da forma e da
duração da exposição a períodos críticos
da vida. Esses efeitos podem ser reversí-
veis ou não e se manifestar de forma agu-
da ou latente. Segundo o Conselho
Interamericano de Investigações sobre o
Câncer(CIIC)namaioriadosestudosre-
alizados com DDT não foram verifica-
dos efeitos genotóxicos nos sistemas ce-
lulares de roedores ou de seres humanos
ou mutagenicidade em fungos ou bacté-
rias; entretanto, foram registradas altera-
ções da função reprodutora em várias es-
pécies. No Brasil, a médica sanitarista
Agnes Soares da Silva, analisando o leite
materno de 40 mulheres residentes em
Samaritá na Baixada Santista, onde estão
localizados lixões de resíduos tóxicos de
uma fábrica da Rhodia, detectou a pre-
sençadeDDTemtodasasamostrasana-
lisadas. (Folha de São Paulo, 1999)
O evento melhor documentado re-
lacionado a perturbações ambientais
putativasfoioocorridocomosjacarésdo
Lago Apopka na Flórida. Em 1980, um
derramamentoquímicocontaminoueste
lago com uma mistura de clicofol, DDT
e DDE, originários de uma indústria de
pesticidas produtora de clorobenzilatos
genéricos. Através de investigações e es-
tudos detalhados foi demonstrado de
umaformamuitoclaraqueestederrama-
mento era o responsável por uma varie-
dade de anomalias de desenvolvimento
queculminaramcomadesmasculinização
dos jacarés-macho e com uma super
feminilização das fêmeas. Após o aciden-
te, os ovos e os animais jovens passaram a
apresentar níveis hormonais alterados,
com uma proporção de estrogeno com-
parativamente maior àquela dos animais
normais.OsefeitosdasPCBssobreasaú-
de humana resultam quase que exclusi-
vamente por exposição crônica, uma vez
que a toxidez aguda desses compostos é
relativamentebaixa.Encontradasemgor-
dura humana e animal, pássaros, leite,
plantas, peixes, casca de ovos,
zooplâncton e em fitoplâncton, têm sido
denominadas, desde a sua detecção no
meio ambiente, em 1966, como
“contaminante universal”. Nos EUA são
encontradas em praticamente todos os
seusrioselagos.NoBrasil,embora ainda
não tenham sido efetuados levantamen-
tos de PCBs, é muito possível que alguns
reservatórios, associados à produção de
energia elétrica, devam apresentar con-
centraçõesconsideráveis,devidoamanu-
seio impróprio de líquidos de transfor-
madores. O efeito crônico de ingestão de
PCBs em homens é uma prova contun-
dente do perigo da presença desses com-
postos organoclorados no meio ambien-
te. O caso mais importante de contami-
nação humana por PCBs é o da ilha de
Kyoshu, no Japão, ocorrido em 1968. A
doença de “yusho” (do óleo) ou de
“kanemi yusho” (óleo da kanemi), assim
chamada por ter sido causada pelo óleo
dearrozproduzidopelaKanemiRiceOil
afetou 15000 pessoas, das quais 1080
oficialmente relacionadas. A doença foi
desencadeada pela presença no óleo de
arrozdopesticidacomercialmenteconhe-
cido como Kaneclor 400, manufaturado
no Japão e adicionado ao óleo lubrifican-
te utilizado em uma unidade de aqueci-
mentoqueapresentavavazamentos.Efei-
tos crônicos de PCBs já foram também
relatados em galinhas, pássaros e focas.
Estudos feitos em 1969 em pelicanos da
Ilha de Anacapa, na Califórnia demons-
traram que, de 300 pares de ovos con-
centrados em ninhos naturais, nenhum
veioàluz,porqueascascaseramextrema-
mente finas em virtude de sua pequena
reserva de cálcio, cujo nível é controlado
pelo hormônio estrogênio, que na pre-
sença de DDT, Dieldrin e PCBs tem sua
solubilidade aumentada, sendo rapida-
mente eliminado pelo corpo dos pássa-
ros.Tais evidências indicam que os siste-
mas endócrinos de certos peixes e ani-
maissãoalteradosporcompostosquecon-
taminam seus habitats. No entanto, até o
presente momento, não está claro se os
efeitos adversos observados estão confi-
nados a áreas isoladas ou se são represen-
tativos de condições mais gerais. Com
poucas exceções, uma relação ocasional
entre a exposição a um agente ambiental
específicoeosefeitosadversossobreasaú-
dehumanaoperandoviaummecanismo
de alteração ou perturbação do sistema
endócrino ainda não pôde ser realmente
estabelecida. Entretanto, as evidências
apontadas por dados causa-efeito e expli-
cações alternativas para os efeitos obser-
vados não podem ser completamente re-
jeitadas, mesmo que ainda persistam dú-
vidas sobre quais compostos e em que
doses podem ser considerados genuina-
mente como HAAs ou se agem de forma
aditiva, sinérgica ou antagônica.

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Adi- cionalmente aos efeitos danosos sobre a saúde humana, eles podem perturbar também funções endócrinas de espécies da vida aquática e de animais silvestres, provocando, desde o desenvolvimento anormaldafunçãotireóideempássarose peixes, até a diminuição da fertilidade e alteraçõessexuaiseimunológicasemcrus- táceos,peixes,pássaros,répteisemamífe- ros.Osperturbadoresendócrinospodem ser produtos naturais como os fitoestrogenos produzidos pela própria planta e bastante comuns em produtos deorigemanimalevegetaloucompostos químicos sintéticos, na sua grande maio- ria organoclorados empregados nos mais variados usos industriais, comerciais e domésticos produzidos intencionalmen- te, como no caso de solventes clorados e inseticidas desenvolvidos para atuar sele- tivamente sobre o sistema endócrino de insetos específicos, ou serem formados como subprodutos durante o processo industrial. O DDT, os PCBs, o bisfenol A (BPA); os alquilfenóis - polietoxilatos (APE); as p-dioxina (TCDD) e o dibenzeno-furano(TCDF)sãoexemplos de compostos sintéticos considerados como perturbadores endócrinos. A exposição a estes agentes pode ocorrer a partir de uma variedade de fon- tes de forma voluntária ou não. Assim, homenseanimaisestãoexpostosaalguns fitoestrogenos através de sua dieta diária, incluindo o consumo de água potável, ouatravésdocontatocomoaresolocon- taminados. Também estão expostos a muitos perturbadores sintéticos ao utili- zar produtos comerciais, como produtos de limpeza, pesticidas e aditivos alimen- tares,ouaomanipulá-loscompropósitos benéficos específicos ou terapêuticos, comopílulasanticoncepcionais,cosméti- cos e pesticidas. Alguns destes compostos já não são mais amplamente comercializados, en- quanto outros têm sua produção proibi- da ou limitada. O DDT, por exemplo, inseticida persistente e estável teve seu uso definitivamente proibido nos EUA em 1992, no entanto, em vários países em desenvolvimento continua a ser pro- duzido e utilizado devido à sua alta efici- ência e produção relativamente barata. OmesmoocorrecomosPCBs,quemes- mocomsuaproduçãooficialmenteproi- bida nos EUA desde 1977, têm seu uso difundido por todo o mundo. Conheci- dos comercialmente pelos nomes de Aroclor,Kaneclor,PhenocloreClophen, são fabricados principalmente nos EUA e Europa. Devido à sua baixa reatividade química e estabilidade térmica e alta re- sistênciaelétrica,sãoamplamenteempre- gados em diferentes ramos industriais como aditivos de tintas, plásticos, borra- chas,adesivos,tintasdeimpressãoeinse- ticidas. São utilizados também em gran- des quantidades como fluidos em trans- feridores de calor e em fluidos hidráuli- cos.Das209possíveismoléculasdePCBs que são referenciadas como congêneres, pelo menos 113 estão presentes no meio ambiente.AliberaçãodePCBsnoambi- ente está relacionada a acidentes indus- triais, disposição imprópria e dissipação ambientalemlocaisespecíficos,comopor exemplo em sedimentos. As principais fontes de entrada e dispersão de PCBs no meio ambiente incluem os resíduos gasosos de incineradores, os resíduos de indústrias que manipulam óleos, cêras e CCCCCOORDENADOROORDENADOROORDENADOROORDENADOROORDENADOR DESTDESTDESTDESTDESTAAAAA SSSSSEÇÃOEÇÃOEÇÃOEÇÃOEÇÃO: P: P: P: P: PROFROFROFROFROFº Mº Mº Mº Mº MARCOSARCOSARCOSARCOSARCOS VONVONVONVONVON SSSSSPERLINGPERLINGPERLINGPERLINGPERLING A seção Atualidades Técnicas objetiva ser um fórum de comunicações rápidas e em formato livre sobre novidades, tendências e tópicos recentes no setor de saneamento e meio ambiente, no Brasil e no mundo. A seção só cumprirá bem o seu papel se receber contribuições de autores de todo o país, imprimindo uma maior diversidade à mesma. Favor encaminhar as contribuições na forma de texto com aproximadamente 1 a 2 páginas, preferencialmente por e-mail ou em disquete (arquivo Word) para o endereço abaixo ou para a ABES-Nacional. Leitores que desejarem se comunicar com os autores das contribuições poderão fazê-lo diretamente com os autores ou através do endereço: Prof. Marcos von Sperling - Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental - UFMG Av. Contorno 842 -7o and.; 30110-060 - Belo Horizonte-MG -Tel: (31) 3238-1935; Fax: (31) 3238-1879; e-mail: marcos@desa.ufmg.br PERTURBADORES ENDÓCRINOS AMBIENTAIS: UMA QUESTÃO A SER DISCUTIDA
  • 2. Vol. 7 - Nº 1 - jan/mar 2002 e Nº 2 - abr/jun 2002 engenharia sanitária e ambiental 5 AAAAATUALIDADESTUALIDADESTUALIDADESTUALIDADESTUALIDADESTTTTTÉCNICASÉCNICASÉCNICASÉCNICASÉCNICAS tintas, a drenagem de aterros sanitários que contenham papéis, plásticos ou resi- nas,drenagemdeáguasdeirrigaçãoonde se utilizou pesticidas contendo PCBs, reciclagem de papéis, contaminação di- retaatravésdomanuseioindevidoouva- zamento de fluidos de condensadores e transformadores, fluidos hidráulicos ou óleos e concentração em materiais bioló- gicos. Estima-se que, enquanto 31% do total de PCBs manufaturados estejam presentes no ambiente global, somente 4% da produção mundial acumulada podeseravaliadacomodegradadaouin- cinerada. As dioxinas cloradas e os dibenzofuranos são singulares entre os HAAsconsiderados,poisnãosãopropo- sitadamente sintetizadas por um proces- so industrial específico. Elas são produ- tos primários dos processos de combus- tão de matéria vegetal ou são geradas como subprodutos da indústria de pol- pa e papel e de outros processos industri- ais que utilizam cloro. Segundo dados divulgados em 1999 pela National Academy Press, nos EUA são liberados anualmente 400 kg de dioxinas, sendo que os incineradores contribuem com cerca de 350 kg deste total; o incêndio de florestas e a queima de madeira residencial contribuem com a liberação de mais 20 kg cada um e a queima de resíduos agrícolas libera 10 kg por ano. Em particular, nas zonas envolvidas com o tratamento de madeira, as concentra- ções de dibenzo-p-dioxina e dibenzofuranos(microcontaminantesdo pentaclorofenol -PCF- utilizado como conservante de madeira) em águas sub- terrâneas e superficais podem ser bastan- tealtas.Umoutroexemplodecomposto químico sintético de potencial atividade sobre o sistema endócrino é o Bisfenol A (BPA), plástico constituinte de resinas utilizadas em embalagens de alimentos e bebidas e de resinas policarbonatadas empregadas em fornos de microondas, em embalagens retornáveis de água e lei- te, em gavetas de refrigeradores e em ou- trasaplicaçõesparaestocagemdealimen- tos,incluindomamadeiras.ObisfenolA é utilizado na composição de compostos selantes dentários, podendo também ser liberado durante o processo de esteriliza- çãodasembalagensplásticas.OBPAestá entre os 50 produtos químicos sintéticos mais produzidos nos EUA. Osalquilfenóispolietoxilatos(APE) e o etinil estradiol de uso farmacêutico são as duas fontes mais comuns de subs- tâncias estrogênicas sintéticas. A presen- çadelesnomeioambienteéresultanteda biodegradação de surfactantes e deter- gentes durante o tratamento de esgotos, eassimaexposiçãodeorganismosaquáti- cos em rios que recebem efluentes do- mésticos é a principal área de preocupa- ção. Os efeitos adversos de um perturbador endócrino vão depender das doses, da carga genética, da forma e da duração da exposição a períodos críticos da vida. Esses efeitos podem ser reversí- veis ou não e se manifestar de forma agu- da ou latente. Segundo o Conselho Interamericano de Investigações sobre o Câncer(CIIC)namaioriadosestudosre- alizados com DDT não foram verifica- dos efeitos genotóxicos nos sistemas ce- lulares de roedores ou de seres humanos ou mutagenicidade em fungos ou bacté- rias; entretanto, foram registradas altera- ções da função reprodutora em várias es- pécies. No Brasil, a médica sanitarista Agnes Soares da Silva, analisando o leite materno de 40 mulheres residentes em Samaritá na Baixada Santista, onde estão localizados lixões de resíduos tóxicos de uma fábrica da Rhodia, detectou a pre- sençadeDDTemtodasasamostrasana- lisadas. (Folha de São Paulo, 1999) O evento melhor documentado re- lacionado a perturbações ambientais putativasfoioocorridocomosjacarésdo Lago Apopka na Flórida. Em 1980, um derramamentoquímicocontaminoueste lago com uma mistura de clicofol, DDT e DDE, originários de uma indústria de pesticidas produtora de clorobenzilatos genéricos. Através de investigações e es- tudos detalhados foi demonstrado de umaformamuitoclaraqueestederrama- mento era o responsável por uma varie- dade de anomalias de desenvolvimento queculminaramcomadesmasculinização dos jacarés-macho e com uma super feminilização das fêmeas. Após o aciden- te, os ovos e os animais jovens passaram a apresentar níveis hormonais alterados, com uma proporção de estrogeno com- parativamente maior àquela dos animais normais.OsefeitosdasPCBssobreasaú- de humana resultam quase que exclusi- vamente por exposição crônica, uma vez que a toxidez aguda desses compostos é relativamentebaixa.Encontradasemgor- dura humana e animal, pássaros, leite, plantas, peixes, casca de ovos, zooplâncton e em fitoplâncton, têm sido denominadas, desde a sua detecção no meio ambiente, em 1966, como “contaminante universal”. Nos EUA são encontradas em praticamente todos os seusrioselagos.NoBrasil,embora ainda não tenham sido efetuados levantamen- tos de PCBs, é muito possível que alguns reservatórios, associados à produção de energia elétrica, devam apresentar con- centraçõesconsideráveis,devidoamanu- seio impróprio de líquidos de transfor- madores. O efeito crônico de ingestão de PCBs em homens é uma prova contun- dente do perigo da presença desses com- postos organoclorados no meio ambien- te. O caso mais importante de contami- nação humana por PCBs é o da ilha de Kyoshu, no Japão, ocorrido em 1968. A doença de “yusho” (do óleo) ou de “kanemi yusho” (óleo da kanemi), assim chamada por ter sido causada pelo óleo dearrozproduzidopelaKanemiRiceOil afetou 15000 pessoas, das quais 1080 oficialmente relacionadas. A doença foi desencadeada pela presença no óleo de arrozdopesticidacomercialmenteconhe- cido como Kaneclor 400, manufaturado no Japão e adicionado ao óleo lubrifican- te utilizado em uma unidade de aqueci- mentoqueapresentavavazamentos.Efei- tos crônicos de PCBs já foram também relatados em galinhas, pássaros e focas. Estudos feitos em 1969 em pelicanos da Ilha de Anacapa, na Califórnia demons- traram que, de 300 pares de ovos con- centrados em ninhos naturais, nenhum veioàluz,porqueascascaseramextrema- mente finas em virtude de sua pequena reserva de cálcio, cujo nível é controlado pelo hormônio estrogênio, que na pre- sença de DDT, Dieldrin e PCBs tem sua solubilidade aumentada, sendo rapida- mente eliminado pelo corpo dos pássa- ros.Tais evidências indicam que os siste- mas endócrinos de certos peixes e ani- maissãoalteradosporcompostosquecon- taminam seus habitats. No entanto, até o presente momento, não está claro se os efeitos adversos observados estão confi- nados a áreas isoladas ou se são represen- tativos de condições mais gerais. Com poucas exceções, uma relação ocasional entre a exposição a um agente ambiental específicoeosefeitosadversossobreasaú- dehumanaoperandoviaummecanismo de alteração ou perturbação do sistema endócrino ainda não pôde ser realmente estabelecida. Entretanto, as evidências apontadas por dados causa-efeito e expli- cações alternativas para os efeitos obser- vados não podem ser completamente re- jeitadas, mesmo que ainda persistam dú- vidas sobre quais compostos e em que doses podem ser considerados genuina- mente como HAAs ou se agem de forma aditiva, sinérgica ou antagônica.