1. rapariga do interior de Santiago
Observava os forasteiros sem timidez.
Por vezes acenava…
Eram gestos sinceros mas que escondiam a sua vontade
vestindo-a com a insegurança dos Homens.
Sem confessar, imaginava como seria se um dia se fosse embora com algum.
Frames soltos de um filme a que nunca assistira mas
que cinematografou, seguindo um roteiro que um estranho lhe deu a sonhar.
E se lhe desse um beijo para saber ao que sabem os brancos…?
2. Fechou-se a porta e já não eram eles.
Apagou-se a luz e ela sabe que ele vai partir.
Vai às escuras para que ela não veja o seu rosto sem desejo.
Depois ela despiu-se e desceu ao salão do harém, onde o seu aroma agressivo
rasgou os reposteiros.
Ninguém a conhece. Ninguém sabe o nome dela.
Mas todos a sentem, só ela já não sente nada.
Só a frescura das paredes a consola.
3. Por vezes, quando acordo de manhã,
sinto que me passou um combóio por cima.
Um combóio sem ninguém lá dentro, apenas o peso insuportável das carruagens e,
cada uma delas tem um letreiro; só não consigo ler o que está escrito.
Sem sair do leito, que eu tenho muito frio, entrei na primeira carruagem
e foi como se a vida começasse ali.
Senti com prazer o arrepio que me foi das unhas ao coração
julgo até que me chegou aos pulmões porque respirar tornou-se libidinoso.
A monotonia tinha ficado tão longe!
Depois, no apeadeiro seguinte, entrou a realidade e pôs-me na rua.