1. OPINIÃO A lotaria dos penalties
Luís Cabral
Professor da Universidade de Nova Iorque
Num fim-de-semana em que os portugueses ten- Calculo que a maioria das pessoas escolheriam
tam curar a ferida emocional da eliminação do a segunda afirmação. Mas porquê então a diver-
Euro 2012, pode parecer mau gosto falar sobre gência de opiniões (pouco jeito nos livres, pouca
desempates por penalties; mas esta é uma opor- sorte nos penalties)?
tunidade única de ter a atenção do Se existe um elemento de “lotaria”
leitor, pelo que não posso deixar de no desempate por penalties, ele dá-
Segundo um
aproveitar. se no momento em que é escolhida
A opinião comum, repetida inúmeras estudo de a primeira equipa a marcar. Segun-
vezes cada dois anos, é que o desem- Palacios-Huerta do um estudo de Palacios-Huerta e
PÁG. pate por penalties é uma “lotaria”, e Apesteguia, Apesteguia, a equipa que inicia a sé-
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no sentido que quem ganha é quem a equipa que rie de penalties acaba vencendo com
tem sorte, não necessariamente probabilidade 60%, isto é, com uma
inicia a série de
quem joga melhor. Discordo: marcar probabilidade muito superior a 50%.
penalties – e defender penalties – é penalties acaba Até agora a equipa que marcou pri-
em boa parte uma combinação de es- vencendo com meiro ganhou em ambos os casos (Itá-
tratégia (o que é que eu penso que probabilidade lia contra Inglaterra, Espanha contra
ele pensa que eu penso que ele vai 60% Portugal). Resumindo muitas páginas
fazer...) e perícia. de investigação e debate, estamos
Com o devido respeito pelo Bruno Al- perante um efeito psicológico: nor-
ves, falhar um penalty não é falta de sorte: é malmente, a equipa que marca primeiro lidera o
falta de jeito. Consideremos os livres marcados marcador, pondo pressão nos jogadores da outra
pelo Cristiano Ronaldo no jogo de quarta-feira, equipa que tentam igualar o marcador. Esta é,
nenhum dos quais resultou em golo. O que é mais então, a interpretação do falhanço do Bruno Al-
correcto: dizer que o Ronaldo teve pouca sorte ves: a pressão de estar atrás no marcador.
ou dizer que, no capítulo dos livres, esta não foi Neste sentido – e somente neste sentido – pode-
uma das melhores noites do capitão português? mos dizer que Portugal perdeu a “lotaria”.
INE
Défice agrava-se após quebra na receita fiscal
A quebra na receita fiscal agravou défice orçamental concedidos. Tudo isto deriva do facto de a composição
para 7,9% no primeiro trimestre do ano - um valor que do crescimento económico ser diferente do que tinha
fica acima da meta de 4,5% prevista para o final do sido estimado: estamos a ter uma evolução muito mais
ano e acima dos 7,5% verificados em igual período de favorável da componente externa (exportações) e uma
2011. evolução mais desfavorável da procura interna”, ex-
De acordo com os dados divulgados hoje pelo Instituto plicou.
Nacional de Estatística (INE), o valor nominal do défice Os dados do INE mostram ainda que analisando o ano
das administrações públicas em contabilidade nacional terminado no final do primeiro trimestre também se
- o que conta para Bruxelas - atingiu os 3.217 milhões registou um agravamento do défice. “A necessidade de
de euros, valor que compara com os 3.097 milhões de financiamento das Administrações Públicas agravou-se
euros registados no final do primeiro trimestre do ano 0,1 [pontos percentuais], passando de 4,2% em 2011
passado. para 4,3% no ano acabado no primeiro trimestre de
A meta traçada para este ano, da qual o Governo diz 2012”.
que não abdica é de 4,5%. Miguel Frasquilho, do PSD, Esta evolução, segundo o instituto, “reflectiu em larga
diz que ainda é possível chegar lá, embora agora seja medida a diminuição das receitas de impostos sobre a
“bastante mais difícil atingir a meta orçamental para produção” com uma quebra de 1,7% no ano acabado no
2012”. primeiro trimestre de 2012, “e o aumento das presta-
“O que está a falhar é ao nível da receita cobrança ções sociais” com um crescimento de 1,2% no mesmo
fiscal, das contribuições sociais e dos apoios sociais período.
r/com renascença comunicação multimédia, 2012