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SOCIEDADE PARANAENSE DE ENSINO E INFORMÁTICA
FACULDADES SPEI
IBH – INSTITUTO BRASILEIRO DE HIPNOSE APLICADA
PAULO SANTUCCI DIAS MARQUES
A HIPNOTERAPIA COGNITIVA APLICADA NOS
TRANSTORNOS DE ANSIEDADE
Rio de Janeiro
2014
2
PAULO SANTUCCI DIAS MARQUES
A HIPNOTERAPIA COGNITVA APLICADA NOS TRANSTORNOS
DE ANSIEDADE
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado Sociedade
Paranaense de Ensino e
Informática – Faculdades SPEI e
IBH Instituto Brasileiro de Hipnose
Aplicada como requisito parcial
para obtenção do título de
Especialista em Hipnose Clínica,
Organizacional, Hospitalar, sob
orientação dos professores: Prof.
Dr. Gil Gomes, Profa. Dra.
Clystine Abram e Profa. Dra.
Denise Bloise.
Rio de Janeiro
2014
3
PAULO SANTUCCI DIAS MARQUES
A HIPNOTERAPIA COGNITVA APLICADA NOS TRANSTORNOS
DE ANSIEDADE
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado a Sociedade
Paranaense de Ensino e
Informática – Faculdades SPEI e
IBH Instituto Brasileiro de Hipnose
Aplicada como requisito parcial
para obtenção do título de
Especialista em Hipnose Clínica,
Organizacional, Hospitalar, sob
orientação dos professores: Prof.
Dr. Gil Gomes, Profa. Dra.
Clystine Abram e Profa. Dra.
Denise Bloise
Banca Examinadora:
Aprovada em: ____________________________________________________
4
RESUMO
O presente trabalho busca refletir sobre a hipnose e os benefícios
que sua prática pode proporcionar à vida de uma pessoa; sobretudo a
modalidade de hipnose chamada de Hipnoterapia, que reúne os preceitos e
métodos da Terapia Cognitivo Comportamental aos estudos mais avançados
sobre o cérebro e a cognição. Os Transtornos de Ansiedade foram escolhidos
devido ao alto índice de pessoas que apresentam estas comorbidades em
nossa sociedade, assim como de experiências que pude auferir dos pacientes
que sofriam com essas comorbidades e de que tratei em consultório. Outros
temas abordados, extremamente pertinentes aos já referidos, são a experiência
mental proporcionada pela hipnose, a relação mente-corpo que têm os
pacientes ansiosos, as evidências empíricas que a prática da hipnose sobre a
ação da mente no corpo, as soluções para os conflitos psicológicos oferecidas
pela hipnose assim como a capacidade que esta modalidade terapêutica tem
de tornar o indivíduo mais integrado emocionalmente e mentalmente.
Palavras-Chave: Hipnose, Terapia Cognitivo Comportamental, Transtornos de
Ansiedade.
5
ABSTRACT
This study aims to clarify what hypnosis is and what are the benefits
that your practice can provide to a person's life; especially the type of hypnosis
called hypnotherapy, which brings together the concepts and methods of
Cognitive Behavioral Therapy for advanced studies on the brain and cognition.
Anxiety Disorders were chosen due to the high rate of people who have these
comorbidities in our society, as well as experiences that could derive from
patients who suffer with these comorbidities than I treated at the therapy clinic.
Other extremely relevant themes to those already mentioned, are mental
experience afforded by hypnosis, the mind-body conception that have the
anxious patients, as the empirical evidence that the practice of hypnosis has
over the action of the mind on the body, as the solutions to psychological
conflicts offered by hypnosis and the ability of this therapeutic modality has to
become an patient more integrated emotionally and mentally.
Keys-words: Hypnosis, Cognitive Hypnotherapy, Cognitive Behavioral
Therapy.
6
SUMÁRIO
1-INTRODUÇÃO pg.07
2- BREVE HISTÓRIA DA HPNOSE: DE GASSNER A CHARCOT pg. 08
3- TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL: PRECEITOS
BÁSICOS pg. 09
4- A HIPNOTERAPIA COGNITIVA E O ESTADO HIPNÓTICO pg. 16
4.1 O que é a Hipnoterapia Cognitiva? pg. 16
4.2 O estado hipnótico pg. 17
4.3 A experiência mental proporcionada pela hipnose? pg. 22
5- A RELAÇÃO MENTE-CORPO E A HIPNOSE pg.25
6- OS TRANSTORNOS DE ANSIEDADE pg.27
7- A HIPNOTERAPIA COGNITIVA APLICADA NOS TRANSTORNOS
DE ANSIEDADE pg.31
7.1 Panorama dos pacientes ansiosos pg. 31
7.2 A solução terapêutica pg. 35
CONCLUSÃO pg.41
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS pg. 42
7
1- INTRODUÇÃO
O presente trabalho busca discutir a Hipnoterapia e a forma que
pode ser utilizada no tratamento dos transtornos de ansiedade. O texto foi
organizado a partir da discussão dos teóricos que elaboraram seus preceitos
básicos. Dessa forma, a cada capítulo são apresentados os principais
conceitos que envolvem a aplicação da terapia.
Para tal, primeiramente foi necessário discorrer sobre a história da
hipnose, partindo do ponto em que seu uso começou a ser aplicado de forma
científica e empírica ainda no século XVIII. Uma vez que a hipnoterapia é
calcada nos princípios da Terapia Cognitivo Comportamental, uma explicação
pormenorizada desta modalidade terapêutica se fez necessária.
A hipnoterapia e o estado hipnótico são abordados no capítulo
seguinte. Em seguida a abordagem envolve a descrição dos Transtornos de
Ansiedade de acordo com a definição dada pelo DSM-IV_TR, como premissa
para o tema principal do trabalho que é a aplicação da hipnoterapia nos
transtornos de ansiedade. Os recursos possibilitados pela prática da hipnose,
assim como as técnicas direcionadas para o tratamento dos transtornos de
ansiedade, em sua relação contígua ao método da terapia cognitiva
comportamental, se tornam o assunto principal a ser debatido ao fim do
presente trabalho.
8
2- BREVE HISTÓRIA DA HIPNOSE
A prática do hipnotismo é muito antiga, sendo comum em diversas
culturas, embora mesclada de superstições e mistérios em alguns momentos
da história, esta prática fora utilizada em muito por xamãs, feiticeiros, padres,
até vigorar na medicina clássica como método de cura de doentes nervosos ou
histéricos, sofrendo, deste preciso momento em diante, um processo de
aprimoramento em que célebres personagens dedicaram suas vidas para a
testagem empírica deste método, num processo que ainda perdura
(WEISSSMAN, 1958).
Segundo relatos dos historiadores a hipnose já era praticada na
antiga Grécia, na velha civilização babilônica, na Roma antiga, e também no
Egito, nos chamados “Templos dos Sonhos”, em que pacientes recebiam
sugestões terapêuticas em estado de sono profundo. Existem achados
históricos, como papiros que datam mais de 3 mil anos, em que pode-se ler
instruções minuciosas e sofisticadas para levar o paciente ao transe hipnótico,
que não deixam muito a desejar daquelas encontradas nos livros dos dias
atuais. Com seu uso empregado para fins diversos, a hipnose era utilizada
como forma de entrar em transe, como por exemplo para predizer o futuro
através da clarividência- suposta utilização empregada pelas sacerdotisas de
Ísis. Também existem relatos do uso da hipnose para provocar anestesia e
aliviar a dor de determinados mártires submetidos a tortura, sendo que este
tipo de uso anestésico da hipnose ainda fulgura na prática realizada pelos
hipnólogos contemporâneos (WEISSMAN, 1958).
O estudo da hipnose foi corrente e comum durante a Idade Média,
sendo objeto de estudo de filósofos e líderes religiosos, como Avicena no
século X, e Paracelso no século XVI. Entretanto, um grande homem deste
campo foi o padre Gassner, que viveu na Alemanha do Sul, no século XVIII.
Abaixo, um breve resumo cronológico da história da hipnose, dos principais
hipnólogos e das respectivas diferenças qualitativas, no que concerne ao
método e ao embasamento teórico empregado.
9
GASSNER
Gassner realizava sessões públicas em que empregava a hipnose, e
se valia, para tal, de recursos teatrais, tanto em suas vestes, como na sua
gesticulação. Em suas sessões, conseguia fazer com que seus pacientes
obedecessem completamente às suas instruções, e chegava ao ponto de fazê-
los correr pelo palco e falar em latim. Em uma de suas demonstrações, que fez
com o auxílio de um médico, conseguiu fazer com que uma paciente tivesse os
batimentos cardíacos reduzidos, e, ao seu comando, conseguisse elevá-los
para 120 pulsações por minuto. Em seguida, sugestionou a paciente que suas
pulsações iriam parar completamente, seus músculos iriam relaxar e que ela
morreria temporariamente. O médico auxiliar, então, verificou que as pulsações
haviam parado e que também não havia sinal de respiração, de modo que a
paciente apresentava as condições de uma pessoa morta. Gassner, então,
ordenou que a paciente saísse do transe e ela de imediato recuperou suas
condições normais (WEISSMAN, 1958).
MESMER
Franz Mesmer, nascido em 1743, na Alemanha, foi também um
importante personagem nesta pré-história da hipnose e da psiquiatria moderna.
Diferentemente do Padre Gassner, não atribuía às enfermidades causas
religiosas, mas tão somente a influência astral. O Magnetismo Animal, de
Mesmer, afirmava como sendo a causa das patologias nervosas, uma
frequência irregular dos fluidos astrais, que assim então perturbavam o
organismo. Era necessário que os pacientes sofressem crises, caracterizadas
por convulsões e condicionadas pela hipnose, para que assim então Mesmer
pudesse canalizar esses fluidos através de uma intervenção magnética
(WEISSMAN, 1958).
Na mesma época, o padre Maxiliano Hell, professor da Universidade
de Viena e também astrólogo, começou a utilizar imãs em seus pacientes, e
Mesmer se apropriou desta técnica, integrando-a em seu método. Os
pacientes eram submetidos a transe hipnótico enquanto as técnicas com os
10
ímãs eram aplicadas. Mesmer foi muito importante por imbuir à prática da
hipnose um rigor científico, tendo conseguido curar centenas de pacientes.
Contudo seu método se mostrou falho em alguns aspectos, e não funcionou
com os membros da Academia Francesa, que se colocaram na posição de
pacientes e alegaram não terem sentido quaisquer efeitos do banho magnético.
Diante de tal fato, Mesmer fora desacreditado e acusado de charlatanismo, e
acabou por se retirar da profissão. Todavia, seus esforços foram importantes
na trajetória da hipnose como técnica terapêutica de caráter científico, e justiça
seja feita, ainda são muitos os mistérios que cercam a mente e o cérebro
humanos, sendo que Mesmer fez o que pode, dispondo dos parcos recursos
tecnológicos de sua época (WEISSMAN, 1958).
Mesmer viria a ter outros seguidores da cura magnética, como o
médico Dr. John Ellioston, figura eminente da história médica britânica,
responsável por introduzir o estetoscópio na Inglaterra, assim como métodos
de examinar o pulmão e o coração; e James Esdaile, médico escocês, que
realizou cirurgias sem anestesia, fazendo uso somente da hipnose.
Schopenhauer alegou ser o mesmerismo “a mais fecunda de todas as
descobertas sob o ponto de vista filosófico, embora, de momento, ofereça mais
enigmas do que soluções” (WEISSMAN, 1958).
ABADE FARIA
Logo após o falecimento de Mesmer, surgiu em paris um padre
português chamado José Custódio Farias, que teria sido a inspiração para o
personagem Abade Faria, de “O Conde de Monte Cristo”. Foi responsável por
modificar o método da hipnose, lançando a doutrina da sugestão. Foi incisivo
na importância da relação entre sujet e hipnotizador; utilizava a hipnose
acordada, e atribuía como fator do sucesso terapêutico o envolvimento do sujet
com a técnica, e a forma como este se deixava aprofundar na sua mente,
descartando, assim, aspectos como a questão anímica no processo da cura, de
modo que se ateve única e exclusivamente ao aspecto psicológico dos efeitos
da hipnose (WEISSMAN, 1958).
11
BRAID
Em 1841, o médico James Braid, foi o responsável por afastar o
magnetismo animal do estudo científico, utilizando o termo hipnotismo para
esta prática. A palavra hipnotismo deriva do vocábulo grego hypnos, que
significa sono. Contudo, o sono constatado na hipnose, é diferente do sono
normal ou fisiológico, e devido às suas características era chamado por Braid
de “sono nervoso” (nervous sleep). Braid se valeu, no início de sua carreira de
métodos que causassem cansaço visual, entretanto, os abandonou quando se
tornou convicto de que o fator preponderante para o transe era a sugestão, de
modo que a utilizava para assim produzir fenômenos como a anestesia, a
amnésia, a catalepsia e mesmo as alucinações sensoriais (WEISSMAN, 1958).
CHARCOT
Jean Martin Charcot, neurologista renomado, conduziu seus estudos
sobre a hipnose em sua escola intitulada “grand hipnotisme”, em Paris,
concomitantemente aos esforços desprendidos por seus contemporâneos
Liébault e Bernheim, que representavam a escola de Nancy. Charcot formulou
a teoria dos três estados hipnóticos: a letargia, a catalepsia e o sonambulismo.
O primeiro estágio era produzido fechando-se os olhos do sujet e tinha como
características a surdez e a mudez; no segundo estágio, com os olhos abertos,
era definido como uma gradação entre a rigidez e a flexibilidade dos membros,
que permaneciam na posição em que os sujets os largassem. O terceiro
estágio, chamado de sonambulismo, era produzido friccionando–se
energicamente a parte superior da cabeça do indivíduo. Para Charcot, e em
contradição aos seus colegas da escola da Nancy, somente os histéricos eram
hipnotizáveis. Todavia, do ponto de vista de seus hipnotizadores
contemporâneos o hipnotismo por ele praticado era rudimentar (WEISSMAN,
1958).
12
O HIPNOTISMO NO BRASIL
Em meados dos anos 50, a hipnose científica surgiu no Brasil, e teve
como seus percussores nomes como Karl Weissman, Prof. Ramon Molinero e
Dra. Galina Solovey.
No Brasil temos registro da utilização da Hipnose em medicina
desde 1832 segundo biografia presente na obra de Leopold Gamard. A
Sociedade de Propaganda e Jury Magnético do Rio de Janeiro foi reconhecida
pelo Imperador D Pedro II em 1862, que demonstrou interesse na experiência e
aplicação por médico competente.
Seguindo uma tendência mundial o hipnotismo no Brasil ressurge a
partir de 1950. e teve como seus percussores nomes como Karl Weissman,
Prof. Ramon Molinero e Dra. Galina Solovey. Na mesma época, o Dr. Paulo
Paixão, juntamente com ‘Irmão Vitrício’, conduziu cursos e conferências sobre
a hipnose. A principio desperta interesse do público em programas de TV,
entrevistas e imprensa. O primeiro curso de hipnotismo a suas técnicas
modernas foi ministrado a uma turma de médicos e dentistas, em outubro de
1955, a convite de Associação Brasileira de Odontologia, no Rio de
Janeiro. Em 1957 seria fundada a Sociedade de Hipnose Médica no Rio de
Janeiro. Em 1956 foi fundada a sociedade Paulista de hipnotismo, e em Porto
Alegre, no mesmo ano, a sociedade de hipnologia do Rio Grande do Sul. Em
seguida, novas associações surgiram na Bahia, em Santos e em Belo
Horizonte.
No ano de1961, o presidente Jânio Quadros proibiu a prática da
hipnose àqueles que não fossem médicos (PAIXÃO, 1961).Em 1997 foi
reconhecido como ato médico pelo Conselho Federal de Medicina, sob a
denominação de Hipniatria, o procedimento que utiliza a Hipnose como meio
predominante terapêutico.
13
3- TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL: PRESSUPOSTOS
BÁSICOS
A Terapia Cognitiva Comportamental tem como princípio que os
indivíduos constroem significados sobre as pessoas, os acontecimentos e o
meio em que estão inseridos, e que este sistema de crenças permanece ativo
nas mais diversas experiências vividas, de modo que a forma como uma
pessoa reage depende em muito da maneira como a pessoa analisa esta
situação em função de suas aprendizagens anteriormente feitas. Destarte,
crenças ou esquemas construídos durante o desenvolvimento do indivíduo
atuam em nível inconsciente, podendo causar reações agradáveis ou
perturbadoras quando eliciados por estímulos diversos. A terapia cognitiva tem
seus alicerces em correntes filosóficas e religiões antigas, como estoicismo
grego, o taoísmo e o budismo, que atinavam sobre a força das ideias sobre as
emoções (SILBERFARB, 2011). Esses filósofos afirmavam “que os homens
não eram perturbados pelas coisas, mas sim pela visão que tinham destas, que
as ideias não só podiam controlar os sentimentos mais intensos de uma
pessoa, como também eram capazes de modificá-los.” (SILBERFARB, 2011,
pg. 20).
Mais recentemente, a ênfase da experiência subjetiva consciente
advinda do movimento fenomenológico, as experiências feitas pelo movimento
comportamentalista de Skinner, e a teoria do processamento da informação,
teriam sido responsáveis pelo enfoque cognitivo despendido pelos teóricos que
formularam esta modalidade de terapia. Segundo Adler (1955), experiências
reprimidas como traumas infantis, não são tão preponderantes em uma
psicopatologia como a percepção e os significados que os indivíduos
relacionam aos eventos.
De acordo com Lima (1990), em meados da década de 50, Aaron
Beck conduziu uma intensa pesquisa sobre as neuroses, especialmente sobre
a depressão, em que, contrapôs às abordagens vigentes, utilizadas em clínica,
novos dados científicos, que evidenciavam ser o conteúdo cognitivo do
paciente a grande causa da patologia, e que esses pacientes não sofriam de
14
“hostilidade retrofletida” ou tinham desejos masoquistas de machucar a si
próprios. Haveria também sintomas comuns à um grande grupo de paciente
tais quais a autopunição, a exacerbação de problemas externos, uma visão
negativa de si mesmo, desamparo e expectativa negativa sobre eventos
futuros, tendo como base os comportamentos passados. Este trabalho,
realizado com a Universidade da Pensilvânia, nos EUA, deu origem ao livro
Depressão: causas e tratamento (LIMA, 1972).
A terapia cognitiva tem como fundamento que as emoções e
comportamentos de um indivíduo em sua vida diária são influenciados por sua
percepção de determinada situação. O modo como pessoa interpreta uma
situação está estritamente ligada às aprendizagens anteriormente feitas. Os
teóricos que formularam a terapia cognitiva postulam a hipótese de que existe
um nível de pensamento mais profundo que opera simultaneamente ao nível
mais superficial de pensamento, e que é neste nível de pensamento mais
profundo que ocorrem os chamados pensamentos automáticos ou
disfuncionais, aos quais as pessoas costumam responder peremptoriamente, e
que causam grande mudança emocional. Contudo, devido ao caráter emotivo
destas situações, é muito comum o fato de uma pessoa esquecer o que a fez
mudar subitamente, e assim acabar por não descobrir o que foi pensado num
exato momento de perturbação emocional (BECK, 1997).
Partindo do princípio que a cognição afeta o comportamento, a
terapia cognitiva começa na exploração e identificação das crenças
desenvolvidas pelo paciente. O que se vislumbra é conhecer o processamento
da informação feito por um paciente, e assim, pouco a pouco, ajudá-lo a mudar
certas estruturas cognitivas e representações distorcidas de sua realidade.
É dado ao paciente a chance de enfrentar seus sistemas de crenças
pessoais em relação às suas consequências e funcionalidade, de traçar uma
argumentação dialética no sentido de levar o paciente à refletir sobre maneiras
melhores de encarar os fatos de sua vida, e também de testar possíveis
estratégias de enfretamento para os problemas identificados.
A dificuldade de adaptação de um indivíduo à um determinado
ambiente e/ou contexto, está intrinsicamente ligada ao significado que o
15
indivíduo atribuiu a isto. Os significados não precedem a realidade, de modo
que são construídos pelos próprios indivíduos, e atuam como estruturas
cognitivas que são ativadas por estímulos externos ou internos, influenciando
intensamente na forma como este indivíduo se comportará em determinada
situação ambiental (BECK, 1997).
Todavia, os significados podem ser alterados, e o terapeuta age
como uma lente de aumento, ajudando o paciente a enxergar minuciosamente
a sua própria vida, e refletir acerca da especificidade do conteúdo cognitivo
desses significados. Deste modo, uma realidade antes vista como
desagradável ou aflitiva, pode se tornar agradável e promissora (SILBERFARB,
2011).
É também percebido, que em cada tipo síndrome existe um sistema
de significados coequivalente, sendo constantemente reforçado através de
comportamentos condicionados. Os significados mal adaptativos, encontrados
em determinada psicopatologia, se acham organizados na chamada Tríade
Cognitiva, e correspondem aos significados construídos em relação a si
mesmo, ao mundo, e ao futuro (expectativas) (SILBERFARB, 2011).
Esses significados são organizados em esquemas, que são como
estruturas cognitivas que se desenvolvem desde cedo, e que são ativados nas
mais diversas experiências pelas quais um indivíduo atravessa. Como dito por
Beck (1997):
Um esquema é uma estrutura cognitiva que filtra, codifica e avalia os
estímulos aos quais o organismo é submetido... Com base na matriz
de esquemas, o indivíduo consegue orientar-se em relação ao tempo
e espaço e categorizar e interpretar experiências de maneira
significativa. (BECK, 1997, pg. 200).
16
4- A HIPNOTERAPIA COGNITIVA E O ESTADO HIPNÓTICO
4.1 O que é a Hipnoterapia Cognitiva?
A Hipnoterapia Cognitiva é uma modalidade de hipnose clínica que
tem como base os fundamentos da Psicologia Cognitivo Comportamental. Ela
funciona como uma ferramenta, e não é um método que possa ser aplicado de
forma isolada, sem o viés terapêutico.
Assemelha-se a hipnose clássica apenas no uso das técnicas de
indução ao transe, pois seu fundamento psicológico é calcado nos princípios da
Terapia Cognitivo Comportamental. Através das técnicas da hipnose, pode-se
levar um paciente à um estado emocional mais ameno, fazê-lo retroceder à
uma memória remota ou reprimida, ou provocar no paciente sensações
agradáveis através do uso de imagens mentais e da sugestão, sendo que esta
é uma característica do efeito ideossensitivo da hipnose (SILBERFARB, 2011).
A hipnose ganhou considerável importância no séc. XX, e recebeu
diversos estudos, inclusive na área da neurofisiologia. Já foram identificados,
através do uso do eletroencefalograma (EEG), mais de vinte estados de
consciências; contudo, são três os principais níveis de consciência que podem
ser encontrados no transe hipnótico: vigília, sono lento e sono rápido.
A vigília caracteriza-se pelo estado desperto, e o indivíduo pode-se
encontrar em alerta ou relaxado. O sono lento ou sincronizado tem efeito de
repouso, o indivíduo nesse estado não costuma se recordar dos sonhos. O
sono rápido ou dessincronizado não tem efeito repousante, e caracteriza-se
pela alta atividade psíquica e nele os sonhos são recordados, sendo também
chamado de sono REM.
17
4.2 O Estado Hipnótico
Mesmo com todo o avanço da tecnologia, o EEG ainda é limitado
para distinguir outros níveis de consciência, devido ao fato de serem captados
somente os neurônios das camadas I e II do córtex, que se difundem na
camada dendrítica. Curiosamente, ainda não é identificável alteração da
atividade cerebral dos estados de vigília e sono relaxado em relação à
atividade cerebral apresentada nas situações rotineiras da vida de um
indivíduo. Entretanto, devido às características apresentadas durante estes
estados, tais quais as regressões de memórias, a sugestionabilidade e
alucinabilidade, as regressões e analgesias espontâneas, é possível diferenciar
esses estados da consciência ordinária. Estes fenômenos indicam apenas
uma diferença no que concerne à atividade límbico-hipotalâmica (PAVLOV-
1961). Embora o EGG ainda seja limitado, é justamente pelas características
desses fenômenos que pode-se considerar o estado hipnótico como um quarto
estado de consciência, como o fez Chertok (1982).
Para se alcançar um estado hipnótico, é necessário que haja
concentração sobre um único estímulo, de forma que este se torne
preponderante aos demais estímulos que estejam atingindo os sentidos do
paciente. Para tal, o hipnotista conduz a sessão utilizando uma voz suave e
persistente, ou também outros estímulos sensoriais impessoais, podendo ser
auditivos ou visuais, desde que sejam de baixa intensidade, e monótonos. É
necessário que o sujeito esteja concentrado, de tal modo que os estímulos
hipnogênicos se tornem isolados na consciência do indivíduo, em detrimento
dos demais. A esta capacidade denomina-se atenção seletiva, e é gerada pela
formação reticular ascendente (FRA) (SILBERFARB, 2011).
O sistema límbico está associado ao estado hipnótico, e é
evidenciado que em fenômenos tais quais a rememoração, a revivificação de
experiências, as amnésias espontâneas que acontecem logo após o término do
transe, a aprendizagem acelerada, a estimulação do sistema imunológico e as
vivências alucinatórias, há grande ativação da formação hipocampal do sistema
límbico (SILBERFARB, 2011).
18
Para muitos, o efeito da hipnose é pura sugestão, e esse argumento
é muito utilizado para rebaixar a hipnose e desmerecer o seu potencial.
Entretanto, é necessário refletir sobre o que é sugestão. Segundo Warren: “a
sugestão é a indução ou tentativa de indução de uma ideia, crença, decisão ou
ato realizado por outro por meios estímulos verbais, ou outros, à base de uma
argumentação exclusivista.” (SILBERFARB, 2011, pg. 56).
Se olharmos bem para a nossa sociedade, veremos que a sugestão
age como uma força motriz no meio social, sendo em muito empregada por
publicitários, políticos, e por todos os órgãos que intencionam influenciar as
pessoas. Pavlov (1961) reconheceu que as palavras também podem ser
estímulos condicionados, até mesmo mais eficazes do que os estímulos
sensoriais condicionados.
Durante uma sessão hipnótica, a atenção sobre os estímulos que
acontecem dentro do corpo aumentam, de modo que uma pessoa percebe
melhor a sua respiração, os seus batimentos cardíacos e a sua musculatura, e
também na mente, na medida em que o paciente consegue transformar o
comando do hipnotista em sua realidade mental. Destarte, a sugestão é um
estímulo ou um conjunto de estímulos que desencadeiam outros estímulos,
mentais ou fisiológicos:
As sugestões poderão ser da seguinte ordem: ideomotoras,
sensoriais, gustativas, táteis, auditivas, térmicas, sinestésicas),
cognitivas (modificação da percepção e memória), sonora verbal, não
verbais, visuais, imagéticas ou combinadas entre elas.
(SILBERFARB, 2011, pg. 58)
A sugestão é na verdade uma autossugestão, pois é necessário um
grau de confiança naquilo que está sendo sugerido para que a hipnose ocorra.
É como se o paciente afirmasse para si aquilo que está ouvindo de seu
hipnoterapeuta. Para se obter o êxito de uma sessão é necessário o
estabelecimento de uma sintonia entre hipnotizador e paciente, assim como
também entram em questão as características deste paciente, como por
exemplo a sua capacidade de imaginar, abstrair e se concentrar.
19
O grande êxito da hipnoterapia está na capacidade imediata de
causar bem estar no paciente, prescindindo do uso de fármacos, ou de
prolongadas sessões para se produzir algum efeito benéfico. As sugestões
provocam alterações fisiológicas, cognitivas e comportamentais (SILBERFARB,
2011).
As sessões acarretam em mudanças internas nos indivíduos na
medida em que estes ganham controle sobre suas emoções, aumentam a sua
percepção corporal e sua capacidade mental de abstração, de modo que
podem, mesmo quando sozinhos -e desta forma a hipnoterapia se assemelha à
uma forma de aprendizado- alterar um estado emocional de angústia ou
aflição, para um estado agradável, de alegria e felicidade, causando sensações
de prazer, relaxamento muscular profundo, e alteração fisiológica significativa.
Pode-se dizer que a hipnoterapia tem como objetivo aumentar o poder do Ego
sobre o aspecto irracional da consciência, que tem maior atividade no
subcórtex (SILBERFARB, 2011).
Durante o transe acontece uma canalização da atividade psíquica
para aquilo que está sendo sugestionado. Os estímulos do ambiente perdem
força de ação, e o indivíduo tem uma experiência nessa realidade mental,
condicionada pela autosugestão. Muitos pacientes relataram experimentar uma
sensação de profundidade, e a isto se deve a alteração neurobiológica causada
pelo transe, que consiste na diminuição da noradrenalina no cérebro. O sujeito
em transe sente-se como num estado de sono, ou mesmo como se estivessem
vendo um filme, estando totalmente absorvido pela realidade proposta:
O transe ou estado hipnótico é um processo interno de transição pelo
qual a atividade eletroquímica do cérebro é reorganizada
dinamicamente, permitindo que ela se desloque suavemente entre
seus estados coletivos. Ela efetua isso, desestabilizando os estados
existentes e permitindo a reorganização espontânea de novos
estados. A informação disponível em cada estado ou fase do cérebro
será diferente. (HUMPHREYS,2000 apud SILBERFARB, 2011, pg.
66)
Benomy Silberfarb ilustra bem este processo de transição, comparando-o às
fases da água:
20
Na física, a água pode ser sólida, líquida, gasosa. Imagine que você,
ao lado de um poço, pega seis pedras e atira no poço. O impacto das
pedras na água resulta num padrão de seis círculos concêntricos
interferindo uns com os outros. E se esse padrão representasse uma
certa memória? Se a água estivesse no ponto de congelamento e
você atirasse o seixo no mesmo lugar, você esperaria que
aparecesse o mesmo padrão de círculos? A resposta é não. E se o
estado da água fosse gasoso? A água poderia ser capaz de produzir
o mesmo padrão a partir do mesmo input? De novo a resposta é não.
(SILBERFARB, 2011, pg. 90).
O estado hipnótico possui quatro etapas: a hipnoidal, o transe ligeiro,
transe médio e transe profundo ou sonambúlico. O primeiro estado caracteriza-
se tão somente pela letargia mental parcial, relaxamento muscular profundo,
característica de cansaço físico, aparente sonolência, tremor nas pálpebras, e
leves contrações no rosto e mãos. No estado do transe ligeiro, o paciente
experimenta uma sensação de como todo seu corpo estivesse muito pesado e
também de alheamento parcial; apresenta catalepsia ocular dos membros e
rigidez cataléptica, contudo, permanece consciente do que acontece à sua
volta. A respiração é mais profunda, o paciente tem dificuldades de falar, e
encontra-se num estado que pode-se caracterizar como uma gradação entre a
aceitação parcial do que está sendo sugestionado à aceitação completa,
quando já não há mais resistência (SILBERFARB, 2011).
No terceiro estágio, que é o de transe médio, o sujeito apresenta
alguma consciência do que acontece à sua volta, reconhece que está em
transe, mas se encontra profundamente ligado ao hipnotizador, de modo que é
neste estado que se estabelece o rapport entre paciente e hipnoterapeuta.
Como características podem ser citadas a catalepsia completa dos membros,
a possibilidade de alucinações ideomotoras, e até mesmo efeitos analgésicos
em relação à percepção da dor. No quarto estado, de transe profundo, ocorrem
contrações intensas do globo ocular, e há uma sensação de leveza ou
flutuação. O sujeito aceita totalmente as sugestões, que ocorrem em nível
profundo, sendo possível, inclusive, a permanência no estado de transe mesmo
com os olhos abertos. É também possível a anestesia pós-hipnótica, em que o
21
terapeuta indica a região a ser anestesiada, e o dia em que anestesia surtirá
efeito (SILBERFARB, 2011).
O hipnotista pode assumir controle de sugestões para efeitos
orgânicos, como mudança de pulsação, pressão arterial, processos
metabólicos. A hiperminésia (acesso fácil às memórias pregressas), a
regressão da idade, as alucinações visuais e auditivas, negativas e
positivas e sugestões pós-hipnóticas estão entre outros tantos
atributos do transe profundo ou sonambúlico (ERICKSON, 1980, In:
SILBERFARB, 2011, pg. 68).
Ademais, o uso da hipnose para provocar analgesia e anestesia é
comum, tendo sido testado e corroborado empiricamente, na medicina e
odontologia. Para muitos analgesia e anestesia são termos equivalentes, o que
não é verdade. A anestesia caracteriza-se pela não sensação da dor, e a
analgesia consiste numa diminuição da dor, podendo ainda haver a percepção
da mesma (WEISSMAN, 1958).
Outros fenômenos correntes do estado hipnótico são a catalepsia e
a amnésia. A catalepsia caracteriza-se pela sensação de peso ou imobilidade
que o sujeito sente em seu corpo. É muito comum, como método de se
alcançar o transe, provocar a fadiga ocular através de um estímulo, e a
catalepsia das pálpebras através da sugestão, de modo que muitos pacientes
podem ficar incapazes de abrir as pálpebras, e de recuperarem esta
capacidade após o comando do hipnoterapeuta. Durante o transe, também
pode ocorrer a amnésia, de tal forma que o sujeito não se lembre da
experiência hipnótica, ou fique sem lembrar o próprio nome temporariamente,
como acontece em muitos shows de hipnotismo. Muitos clínicos se valem do
potencial amnésico da hipnose para fazer com que os pacientes esqueçam,
propositalmente, de hábitos ruins ou sintomas incômodos, como por exemplo,
roer as unhas. O uso da hipnose como método de combater os sintomas é
controverso, e há muita discussão entre psiquiatras, psicanalistas e
hipnoterapeutas. Contudo, existem casos de sucesso tratados por Charles
Baudoin e citados em seu livro Suggestion et autosugestion (WEISSMAN,
1958).
4.3 A experiência mental proporcionada pela hipnose
22
Durante a indução ao transe é comum pedir ao sujeito que se
visualize dentro de um cenário que seja de seu agrado, ou conforme seja
aquele o objetivo proposto pelo hipnotizador. É provado cientificamente, que a
ativação do córtex visual é a mesma quando se percebe imagens mentais
durante o transe, ou quando são verdadeiramente percebidas pelos olhos. A
isto deve-se ao potencial da faculdade da imaginação, como descrita por B.
Silberfarb (2011):
“Ela é uma forma de elaboração do pensamento que ordena e
coordena em múltiplas combinações os elementos já existentes no
depositário cognitivo pessoal, evocados quando necessário pela
memória, para dar formatação a coisas novas e às concepções
originais, de uma forma cada vez mais perfeita, culminando, às
vezes, com criações geniais. A imaginação pode reproduzir
representações já vivenciadas e submetê-las a grandes variações
imagéticas de cenários, conteúdos emocionais, etc. (SILBERFARB,
2011:, pg. 74).
Muitas vezes durante uma experiência hipnótica, é possível
confundir uma memória que tenha sido realmente vivenciada de algo que foi
simplesmente imaginado, e induzido. Alguns autores erram ao diferenciar a
imaginação de uma memória evocada, ao afirmaram, erroneamente, que um
dado proveniente da memória tenderia ser reproduzido fidedignamente.
Todavia, existe uma propensão inata das pessoas à fantasia, o que torna muito
difícil uma diferenciação entre ambas.
Weinberg E Gould (2001) conceituam a visualização ou
mentalização como sendo a criação ou a recriação mental de uma experiência.
Ela é a recriação da experiência sensorial (ver, sentir e ouvir), porém ocorrida
apenas na mente. A visualização pode também criar imagens de situações que
ainda não foram vividas. Apesar de a imaginação basear-se intensamente na
memória, é possível construir imagens baseando-se em diversas partes da
memória. Os autores afirmam ainda que a mentalização, mesmo quando é
chamada de visualização, deve conter o máximo possível de sentidos
23
(sinestésico, tátil, auditivo, olfativos, por exemplo).(SILBERFARB, 2011, pg.
74).
A visualização praticada durante uma sessão de hipnose
proporciona uma experiência, que, para a memória, é tão verossímil quanto
aquela realmente feita, na realidade. Assim, muitas vezes o indivíduo se lembra
de uma experiência mental ocorrida em determinada sessão como se fosse tão
real àquelas tantas outras que ele vive cotidianamente, devido justamente ao
modo de como esta experiência é armazenada nas redes de memória.
Ligget e Hamanda (1993) realizaram estudos com ginastas, em que
submetiam atletas ao transe hipnótico para realizar simulações das atividades
feitas em campos de treinamento e, surpreendentemente, as experiências com
a hipnose foram tão produtivas que acarretaram numa diminuição significativa
do tempo usual despendido nas atividades, assim como numa melhora
significativa do desempenho das mesmas.
Outro atributo impressionante do estado hipnótico é a facilidade com
que as memórias podem ser evocadas, e a isto denomina-se hiperminésia. Em
experimentos realizados durante o curso de formação de hipnoterapeutas do
Instituto Brasileiro de Hipnose Aplicada, era possível constar como imagens e
outros aspectos mnemônicos (aromas, sons) reapareciam em estado hipnótico,
provando que nada é descartado pelo nosso cérebro (WEISSMAN, 2011).
Como exemplo deste fato, nos experimentos dos quais era pedido
que se criasse um cenário mental, como por exemplo uma sala ou um quarto,
era possível “ver” determinado abajur de cor vermelha, que mobiliava a casa de
um parente, há mais de vinte anos. A maneira como a memória é ativada
durante estes estados é extraordinária, e assim imagens diversas que foram
percebidas anteriormente, sejam de objetos ou pessoas, prédios, casas,
paisagens, reaparecem espontaneamente nesta nova percepção
proporcionada pela hipnose. Este é um exemplo que denota o aspecto
inextricável dos dados armazenados em nossas redes de memória (KANDEL,
2009).
24
A distorção do tempo é também muito comum durante os transes, de
modo que os pacientes que são hipnotizados durante uma hora, ao retornarem
à vigília, afirmam terem permanecido em estado hipnótico durante somente 10
minutos, ou algo aproximado.
Outro fenômeno hipnótico é a hiperestesia, em que é possível
experimentar sensações táteis através da sugestão. Como exemplo de
experimentos realizado entres colega de classe do já referido curso de hipnose,
era pedido que se entrelaçasse os dedos e então o hipnotizador sugestionava
que havia cola sendo derramada em cima dos dedos, de modo que após o
término da sugestão, o hipnotizado sentia imensa dificuldade em abrir os
dedos, assim como a sensação de que os dedos realmente estivessem colados
O que foi evidenciado, nestas práticas, é que de fato as mãos se
encontravam rígidas e que era difícil separá-las, assim como todos sentiram
esta sensação específica, de ter os dedos grudados. Haja vista, tal movimento
muscular é complicado de se realizar normalmente, mas a partir do momento
em que o paciente se encontre sob o efeito da sugestão, pode-se perceber a
facilidade com que uma ideia ou sugestão se transforma numa sensação ou
em um movimento muscular extremamente difícil de ser executado.
25
5- A RELAÇÃO MENTE-CORPO E A HIPNOSE
A partir das experiências relatadas, é possível crer que a prática da
hipnose oferece provas empíricas de um predomínio da mente sobre o corpo,
ou, de como afirmava Wundt (1892), da existência de uma assimetria entre o
lado mental e o lado físico, em que a perspectiva física é mais limitada em
relação à mental. Wundt atribuiu a isto o conceito de Paralelismo Psicofísico:
Do ponto de vista do tratamento empírico da vida mental, o princípio
do paralelismo psicofísico contém apenas o pressuposto de que todo
evento mental tem um processo físico correspondente, enquanto que
o inverso disso não é de modo algum exigido, uma vez que inúmeros
processos fisiológicos não têm relação alguma não só com os
próprios fenômenos da consciência, mas também com seus
processos auxiliares, que ocorrem no sistema nervoso central.
(WUNDT, 1889, pg. 584-585).
De fato, as experiências corroboram esta afirmação. A partir de
inúmeros casos catalogados na história da hipnose e observados na clínica,
pode-se comprovar o efeito físico causado por uma atividade mental, ou da
predominância de uma atividade mental condicionada pela sugestão, em
detrimento mesmo ao da atividade autonômica do sistema nervoso.
Assim, em determinados casos pode-se evidenciar a capacidade
que possui a mente, seja para anular os estímulos provenientes do organismo
(como no uso anestésico, analgésico ou na indução ao transe profundo), seja
também para criar efeitos no organismo através de uma simulação mental –
como no uso da hipnose para relaxamento ou para causar sensações.
Wundt (1892) afirma que grande parte dos eventos mentais, como
exemplo o pensamento, acontecem dentro de uma base sensorial, e causam
excitações fisiológicas correspondentes:
Não há um processo mental sem processos físicos simultaneamente
correspondentes, pelo menos enquanto houver nele quaisquer
conteúdos de sensação. A validade geral do paralelismo psicofísico é
26
realmente uma consequência necessária do fato de que toda nossa
vida mental tem um fundamento sensorial, e de que, portanto, não
podemos pensar nenhum conceito, por mais abstrato que seja, e
nenhuma ideia, por mais distante que esteja do mundo sensível, sem
empregar, para isso uma representação sensorial qualquer (WUNDT,
1892, pg. 485).
O pensamento é capaz de produzir os mais diversos efeitos
sensíveis no corpo, o que denota justamente o fato desta atividade mental
também ser encontrada findada numa base física sensorial. A sugestão é
capaz de provocar uma sensação de calor ou frio, de estar flutuando em um
rio, de ver as mais diversas cores, experimentar aromas, de sentir a
imobilidade dos membros, sensações de peso ou leveza, entre outras.
A relação entre o pensamento e a sensação (o efeito ideosensitivo)
foi muito explorada durante a prática da hipnose, e o seu uso para provocar
relaxamento profundo, diminuição da ansiedade, ou emoções agradáveis é
comum na hipnoterapia.
Entretanto, não são se pode limitar toda a atividade mental à
determinados processos fisiológicos correspondentes, sobretudo no que
concerne às dimensões valorativa e normativa da vida mental. O que Wundt
afirma é que existe uma correspondência entre o mental e o físico, mas que
não é possível reduzir uma dimensão à outra.
Para a prática da hipnose, o conceito de paralelismo psicofísico
serve para ilustrar alguns aspectos da relação mente e corpo, que podem ser
auferidos e verificados através de experimentos.
A capacidade que um estímulo verbal como a sugestão tem de
produzir os mais diversos efeitos físicos e mentais é justamente um atributo
que a prática da hipnose possui, e que esta prática, quando utilizada
adequadamente, é capaz de proporcionar ao paciente uma ampliação de seu
autoconhecimento assim como um domínio maior sobre a mente, o corpo e as
emoções.
27
6- Os TRANSTORNOS DE ANSIEDADE
Os transtornos de ansiedade estão entre os mais comuns de todos
os transtornos psiquiátricos, e costumam prejudicar severamente a vida de um
indivíduo. Esses transtornos causam morbidade desordenada, uso de serviços
de saúde e comprometimento de desempenho incomum. Segundo o Estudo
Americano de Co-morbidade (National Comobirdity Study) uma a cada quatro
pessoas possuem algum tipo de transtorno de ansiedade (SADDOCK, 2010).
Entretanto, os tratamentos em voga das abordagens cognitivo-
comportamentais e psicodinâmicas, contiguamente à ação farmacológica, têm-
se demonstrado extremamente eficazes. O tempo de tratamento costuma ser
relativamente curto (SADDOCK, 2010).
A ansiedade se caracteriza como um sinal de alerta para um perigo
iminente, e tem como função biológica capacitar a pessoa para tomar medidas
e lutar contra essa ameaça. Entretanto, no caso da ansiedade, esse perigo
iminente é de origem interna mas também incerto, desconhecido e conflituoso,
ao contrário do medo, que costuma estar ligado à uma causa conhecida e
externa. Como exemplo, uma pessoa que vê diante de si um carro em alto
velocidade e sente medo, é bem diferente daquela pessoa que sente
desconforto em virtude de lidar com uma pessoa desconhecida (SADDOCK,
2010).
Aproximadamente um século atrás, Freud criou o termo neurose de
ansiedade, que seria causada pela libido contida. Haveria assim um aumento
fisiológico da tensão sexual, que implicaria num aumento correspondente na
libido e na representação mental desse evento fisiológico. A solução para
diminuir estas tensões seria a relação sexual. Como exemplos de neuroses
causadas pelo bloqueio da libido, Freud citava a neurastenia, a hipocondria e
as neuroses de ansiedade (SADDOCK, 2010).
A ansiedade é normalmente sentida por todos, sendo considerada
uma manifestação normal do organismo. Também tem função adaptativa na
medida em que adverte o organismo de uma ameaça externa ou interna.
28
Contudo, o fator incisivo para se considerar um transtorno é o grau de
ansiedade sentido, e os comportamentos subsequentes. Como exemplo de
sintomas autonômicos da ansiedade estão a cefaleia, transpiração,
palpitações, aperto no peito, leve mal-estar epigástrico, e inquietação motora
(SADDOCK, 2010).
O indivíduo que sofre de ansiedade tem uma experiência que se
caracteriza por dois componentes diversos: a percepção das sensações
fisiológicas e a percepção do fato de estar nervoso. Afora os sintomas motores
e viscerais a ansiedade afeta o pensamento, a percepção e o aprendizado.
Outra característica do estado de ansiedade, a incapacidade que o indivíduo
sente em ampliar o foco de atenção, e assim expandir o universo de
fenômenos que o afeta, de modo que estímulos diversos, como por exemplo
estímulos considerados agradáveis, poderiam estar sendo percebidos;
consequentemente este indivíduo não se encontraria tão vulnerável àquilo que
o ameaça (SADDOCK, 2010).
Obviamente, uma experiência de ansiedade não é sentida e
interpretada igualmente por todos. Essa questão depende em muito de como
se encontra o ego da pessoa, das defesas psicológicas empregadas para lidar
com a tensão, da capacidade de abstração de estímulos externos ou internos,
entre outros.
O desequilíbrio pode ser externo, quando um indivíduo entra em
conflito com as exigências de sua vida social e o seu ego, interno quando há
conflito do ego com os impulsos do organismo, e também há casos em que
ambos os tipos de desequilíbrio estão presentes, como por exemplo a situação
de um empregado que é obrigado a aceitar as imposições de seu chefe e que,
para tal, necessita controlar seus impulsos durante o tempo em que exerce as
suas atividades. O autor descreve na atualidade três linhas de teorias
psicológicas se destacam no tratamento de pacientes que sofrem com algum
dos transtornos de ansiedade: a teoria psicanalítica, a comportamental e a
existencial (SADDOCK, 2010).
No entendimento da teoria psicanalítica, a ansiedade é causada não
somente pelo acúmulo fisiológico da libido -Freud reiterou sua opinião sobre
29
este ponto durante a sua carreira-, mas pela presença do perigo no
inconsciente. O indivíduo ansioso sofre, assim, um conflito entre seus desejos
sexuais e seus desejos agressivos, e a ação de seu superego recriminando-o e
a sua posição perante a sua vida cotidiana (SADDOCK, 2010).
A ansiedade acarreta em repressão e não o seu contrário, fato que
entra em acordo com os estudos da neurobiologia sobre a amígdala e o seu
papel no sistema nervoso. É provado que a amígdala responde à emoção de
ansiedade sem que haja algum resquício na memória consciente, corroborando
as afirmações da Freud sobre o sistema de memória inconsciente envolvido
nas respostas de ansiedade. Na perspectiva psicanalista, a finalidade da
terapia não é eliminar a resposta de ansiedade, mas sim aumentar a tolerância
do indivíduo perante, e utilizá-la como uma direção na busca do conflito
inconsciente (SADDOCK, 2010).
Para os comportamentalistas, a ansiedade se resume à uma
resposta condicionada a estímulos específicos de uma situação ambiental, e
que, através de um condicionamento operante, teriam se generalizado para
estímulos diversos, dito neutros. Nos últimos anos, os teóricos da psicologia
comportamentalista engendraram os estudos da psicologia cognitiva para criar
novos métodos terapêuticos. Quando não há ansiedade fóbica, é possível
reconhecer determinados padrões de pensamento como agentes eliciadores de
ansiedade. Os teóricos desta teoria concebem que o tratamento deve tanto
combater o aspecto cognitivo, de onde provém os estímulos internos que
exasperam a situação (crenças, pensamentos disfuncionais), como também é
necessário se expor aos estímulos ambientais eliciadores de medo e
ansiedade, gradualmente, até que esta situação perca sua significância.
Durante este processo, o paciente é instruído a lidar com as suas emoções,
utilizando técnicas de autocontrole e relaxamento, e pode também ser assistido
pelo terapeuta na parte inicial da exposição de estímulos. Estudos comprovam
que esta modalidade de terapia tem se mostrado a mais eficaz no tratamento
desses transtornos (SADDOCK, 2010).
Na concepção das teorias existenciais, não existe um estímulo
específico para causar a ansiedade, mas sim um sentimento de vazio profundo
30
que toma o paciente, deixando-o vulnerável às emoções consideradas como
negativas. Segundo estudos da psiquiatria moderna, as reações do sistema
nervoso autônomo são comuns nos transtornos de ansiedade, embora não
sejam exclusivas destes tipos de transtornos, apenas. Os sintomas podem ser
cardiovasculares, musculares, gastrintestinais e respiratórios. Segundo a teoria
de Walter Cannon, ao longo do desenvolvimento desses transtornos, a
ansiedade subjetiva aumenta, e está associada ao medo das reações
periféricas. Assim, mesmo na ausência de estímulos eliciadores, o medo e
ansiedade estão presentes, e podem estar mais associados às sensações do
corpo do que às situações ambientais perturbadoras. Atualmente, sabe-se que
são três os principais neurotransmissores associados à ansiedade:
norepinefrina, serotonina, e ácido Y-aminobutírico (GABA).
De acordo com o DSM-IV-TR são 12 os transtornos de ansiedade: 1)
Transtorno de pânico com agorafobia, 2-) Transtorno de pânico sem
agorafobia. 3-) Agorafobia sem histórico de transtorno de pânico, 4-) Fobia
específica, 5-) Fobia social, 6-) Transtorno obsessivo-compulsivo, 7-)
Transtorno do estresse pós-traumático, 8-) Transtorno do estressa agudo, 9-)
Transtorno de Ansiedade Generalizada, 10-) Transtorno de Ansiedade devido
uma condição médica geral, 11-) Transtorno de Ansiedade Induzido por uma
Substância, 12-) Transtorno de Ansiedade Sem Outra Especificação.
31
7- A HIPNOTERAPIA APLICADA AOS TRANSTORNOS DE ANSIEDADE
7.1 Panorama dos pacientes ansiosos
Uma característica comum dos pacientes que sofrem com algum tipo
de transtorno de ansiedade é perda da noção de causa e efeito ou ação e
reação, de modo que em determinados momentos vivem tranquilamente, e em
outros, são acometidos por alguma forte emoção que causa muito sofrimento e
da qual desejam imperiosamente se afastar. Com o prolongar desta situação, o
processo de avaliação mental voluntário é enfraquecido, e as reações tendem
a ocorrer de modo mais automático (SPINELLI 2011).
A ansiedade pode ser caracterizada como o efeito de uma reação
neuroendocrinológica em decorrência de uma situação objetiva ou subjetiva de
perigo, em que há uma descarga na corrente sanguínea dos hormônios de
adrenalina e noraadrenalina através das secreções das suprarrenais.
Diferentemente do medo, que costuma estar relacionado como uma causa
externa identificável, o objeto temido nos transtornos de ansiedade não é
sempre evidente (SADDOCK, 2010).
Esta emoção em específico age como um agente intrusivo, um corpo
estranho do qual é necessário se afastar- de acordo com o parecer dos
pacientes, e na maioria das vezes este sofrimento é visto com distanciamento,
como se fosse apenas o corpo que estivesse sofrendo, e não houvesse alguma
razão para tal. Na medida em que as reações de ansiedade aumentam, o
indivíduo passa a apresentar uma estrutura psicológica propensa aos
sentimentos angustiosos e neuróticos, de modo que os estímulos eliciadores
das perturbações emocionais se generalizam, e assim os estímulos neutros
passam a ocasionar as mesmas reações que os estímulos primários de um
transtorno (SPINELLI, 2010).
Os comportamentos mais comuns são o de fuga ou evitação, que
justamente pelo fato de não poderem se dar concretamente, devido a
impossibilidade de serem realizados literalmente, passam então a ocorrer
através de ações mentais e de pequenas ações físicas muito comuns nos
casos de TOC. Com o prolongar destes estratagemas, o indivíduo passa a agir
32
de forma condicionada, e se afasta, mais e mais da causa primordial. Ademais,
a tendência a fugir da ansiedade também pode se tornar medo.
Em meio a este turbilhão de eventos, o corpo é bombardeado de
adrenalinas e neurohormônios, e a saúde começa a apresentar sinais de
fraqueza; há baixa das defesas imunológicas, perda da motivação, cansaço
físico e mental, e alienação parcial do mundo interno e externo.
O cérebro possui três tipos de memória associadas às estruturas
cerebrais e são elas: a memória declarativa, procedimental e emocional. É
provado que nos transtornos de ansiedade a memória emocional é a mais
afetada, embora também possa haver prejuízos nos outros dois tipos de
memória. Esta memória tem grande ativação na amígdala, sobretudo no que
concerne à recordação do medo. Este fator é incisivo no que diz respeito à
capacidade de uma avaliação de maior escrutínio dos estímulos que possam
eliciar emoções de medo e ansiedade (SIMURRO, 2010) .
Com o prolongar de um transtorno, muitas crenças errôneas
começam a ser formadas, especialmente sobre o que está acontecendo no
mundo interior, que reações são estas e o que elas podem causar, se isto é
sinal de loucura ou se é normal ser acometido por emoções tão intensas.
Devido aos tipos de crenças que permeiam a sociedade e que são perpetuadas
através de condicionamentos socioculturais, é muito comum o fato de um
indivíduo entender as perturbações que o afetam como sendo algo de sua
“cabeça”, de tal maneira que assim que ‘isto’ passar ele voltará a sua
normalidade, bastando para tal, se esquecer deste fato ou usar remédios que
aliviem o sofrimento, e que o permitam, assim, voltar ao ‘estado anterior’,
àquela condição considerada como sendo de normalidade. É muito comum
esta visão segregada, em que corpo está separado da mente, ou que cérebro e
coração representam entidades distintas ou opostas (SPINELLI, 2010).
Outrossim, a velha dicotomia entre a razão e emoção, leva o
indivíduo ansioso a relegar ao corpo –pois em sua concepção é apenas o
corpo que sofre- o papel desempenhado por uma máquina orgânica, sem
sentimentos, que deve responder de forma operacional e se ater às funções
que lhe forma delegadas, na mesma medida e intensidade que sua vida usual
33
requere. Com o prolongar dos ataques de ansiedade, um grande desconhecido
paira sobre o indivíduo, que aumenta gradativamente, na medida em que este
busca se afastar do conflito sem conhecer a causa; o conflito emocional
usualmente é representado de forma fria, distante e falsamente objetiva, como
se fosse algo egodistônico, separado de si e sem relação com a sua estrutura
psicológica até então (BARLOW, 2009).
Além disto, o meio social em que está inserido continua exigindo que
este indivíduo produza na mesma intensidade ou mais, e esta obrigação, que é
responsável por seu sustento, é também um agente coercitivo, que gera muitas
angústias. O ambiente social em que está inserido se manifesta ora de forma
concreta provendo estímulos que poderão causar ansiedade -a demanda de
seu trabalho, as expectativas das quais precisa corresponder, o exercício de
suas tarefas, como também se fará presente em suas redes de memória, de
modo que as emoções de medo, ansiedade ou angústia poderão se manifestar
nos mais diversos momentos e locais (SAUAIA, 2010).
Uma vez que a causa do sofrimento ainda não tenha sido
descoberta, a maneira impulsiva de agir e de reagir se tornará mais intensa. Há
também o aumento da reação subjetiva, que se caracteriza pelo medo de sentir
as reações periféricas que ocorrem no corpo (BARLOW, 2009).
Um fator crucial nesta etapa que se situa entre o início de um
transtorno ao seu desenvolvimento pleno é a homeostase do organismo entre
os momentos de sofrimento e o prazer, aqui citado em seu significado extenso,
não se restringindo somente ao prazer da vida amorosa mas também
abrangendo o prazer de ler um livro, ver um filme, ouvir uma música, enfim, do
prazer proporcionado nos mais diversos momentos de diversão e alegria
(ANDRADE, 2010).
Há de se considerar igualmente a ação de vários neuro-hormônios
como as dopaminas, serotoninas e noradrenalinas, que são estimulados
durante determinada rotina de atividades; fato este que será crucial para definir
o grau de intensidade que um transtorno poderá afetar a vida de um indivíduo,
assim como a capacidade de seu organismo de suportá-lo. É comprovado que
34
uma situação de stress é capaz de ativar o sistema nervoso somático, o
nervoso autônomo, o neuroendocrinológico e imunológico (SIMURRO, 2010).
O cérebro humano é dotado da capacidade de avaliar
subjetivamente mesmo àquilo que acontece de forma irracional, como por
exemplo, as reações emocionais primárias. Esta característica possibilita ao
ser humano não ceder compulsoriamente aos seus instintos. Em decorrência
desta capacidade, percebe-se nos pacientes ansiosos, muitas crenças sobre o
corpo e o efeito decorrente das emoções, sendo também comum alguns destes
pacientes apresentarem a hipocondria como sintoma. Segundo Damásio,
existe a emoção e a sensação da emoção em relação ao objeto que a
despertou, assim como há também a relação entre objeto e o estado emocional
do corpo (DAMASIO, 2007).
Um dos grandes desafios da neurociência atualmente é desvelar
sobre as ligações entre corpo e mente, soma e psique. Através dos estudos
das estruturas neurobiológicas, tem-se como fato irretorquível que o
funcionamento do corpo é indissociável do estado emocional, assim, como por
sua vez, que as emoções não se dissociam de um estado do corpo
(SIMURRO, 2010). William James salientou bem este fato no dizer abaixo:
É-me muito difícil, se não mesmo impossível, pensar que espécie de
emoção restaria se não se verificasse a sensação de aceleração do
ritmo cardíaco, de respiração suspensa, de tremura dos lábios e de
pernas enfraquecidas, de pele arrepiada, e de aperto no estômago.
Poderá alguém imaginar o estado de raiva e não ver o peito em
ebulição, o rosto congestionado, as narinas dilatadas, os dentes
cerrados e o impulso para a ação vigorosa, mas, ao contrário,
músculos flácidos, respiração calma e um rosto plácido? (DAMASIO,
2007, pg. 56).
Carl Jung define o corpo como sendo uma “entidade vital captada
pelos sentidos”. Em contrapartida, o paciente que sofre com um transtorno de
ansiedade, sente-se desagregado e desconexo, perdido em meios às
sensações corporais desagradáveis, emoções intensas e interpretações sobre
essas emoções; tem pensamentos conflituosos, que geram as mais diversas
35
emoções que, subsequentemente, também são gerados e estimulados por
estes próprios estados corpóreos (SPINELLI, 2010).
Conforme o indivíduo permaneça nesta situação, torna-se mais
passivo sobre a atividade irracional e instintiva de sua consciência, seu
organismo sofre com o desencadear das emoções nocivas, que liberam toxinas
e neuro-hormônios na corrente sanguínea, a baixa imunológica o deixa
propenso à doenças, e o cansaço instaura-se. Com a baixa da atividade mental
consciente, a avaliação voluntária dos estímulos é comprometida; todavia a
atividade do sistema límbico não diminui, as reações automáticas ou
inconscientes aumentam de força, e tudo vai sendo armazenado nas redes de
memória (ANDRADE, 2010).
Os chamados pensamentos automáticos pululam na consciência,
gerando sentimentos neuróticos. Analogamente, os pensamentos são como as
palavras do teste de associação de palavras com uso de um galvômetro,
realizado por Jung. Como comprovado por estes testes, as palavras causam
alterações fisiológicas imediatas, assim como os pensamentos disfuncionais ou
ilógicos (BECK, 1997).
Esses tipos de pensamento, caracterizados por provocar o chamado
afeto negativo, na medida em que são correspondidos e reforçados, aumentam
sua força na consciência conforme estas situações com as quais
correspondam continuem ocorrendo, gerando assim crenças mais profundas,
que se destinarão ao mundo externo e interno deste indivíduo, e também as
suas expectativas sobre a vida.
7.2 A solução Terapêutica
Uma etapa preliminar é estimular a atividade cognitiva benéfica, e
combater crenças irracionais que se tornaram preponderante justamente por
terem sido associadas à emoções intensas de medo e ansiedade. Instrui-se o
indivíduo a não responder automaticamente à essas emoções, ensinando-o
técnicas de respiração e relaxamento para atenuar o sofrimento causado e
diminuir a ação da atividade autonômica do sistema nervoso; ele também é
aconselhado a tentar identificar os pensamentos tidos durante esse momento
36
de perturbação emocional, assim como também relatar numa espécie de diário
o que estava fazendo neste momento, o local e o que acontecia à sua volta. O
intuito desta técnica é listar as possíveis fontes de estímulos tanto provenientes
da situação ambiental -da percepção, como também daqueles oriundos da
cognição (BARLOW, 2009).
Conforme sejam identificados os pensamentos disfuncionais, o
terapeuta trava diálogos com o paciente a fim de refletir sobre o que estas
crenças representam e no quanto afetam sua vida, e inclusive dá oportunidade
ao paciente de realizar uma argumentação dialética consigo próprio, fazendo-o
entrever os lados opostos de uma crença ou asserção, ajudando-o a examinar
minuciosamente certos significados que estabeleceu.
É possível extrair a partir de técnicas como a do ABC (antecedents,
behavior e consequences) fatos com os quais determinados pensamentos
ilógicos estão associados, e, a partir de então, tenta buscar a partir da análise
do desenvolvimento do indivíduo, as aprendizagens que foram feitas
anteriormente e as razões que expliquem o porquê de determinados
comportamentos e representações mentais.
Também é possível, através das técnicas de hipnose, buscar na
memória experiências passadas que tenham causado abalo emocional, e
ajudar os pacientes revivenciar os fatos, trazendo à tona um conteúdo mental
que possa ser trabalhado na clínica. O terapeuta o instrui a representar
determinada situação, descrevendo as características mais marcantes da
mesma, assim como também o ajuda a expressar que sentiu.
O tratamento dos transtornos de ansiedade possui duas diretrizes ou
metas que podem ser trabalhadas concomitantemente. A primeira está em
buscar entender as razões e motivos que estejam causando esta perturbação
emocional, e para tal, são utilizadas as técnicas advindas da Terapia Cognitiva
Comportamental. A segunda se caracteriza por lidar diretamente com os
sintomas (SILBERFARB, 2010).
Durante a primeira etapa, um grande entrave é a resistência do
paciente para relatar seus pensamentos, de tal forma, que é necessário o
37
terapeuta esclarecer que a terapia é também uma forma de aprendizado que
se estabelece numa relação mútua, e que é necessário esforço e vontade para
superar um conflito. É pedido ao paciente que mude a sua postura em relação
ao transtorno – e a si mesmo-, e que aja de forma mais ativa em frente aos
acontecimentos de sua vida. As técnicas de exame do pensamento e das
emoções incutirão num maior conhecimento sobre sua a consciência, e a
medida que este comportamento de reflexão seja reforçado, o paciente agirá
de forma menos automática e mais racional.
Mediante as técnicas de indução ao transe, é possível alterar a
frequência das ondas cerebrais e levar o paciente à um estado de paz e
relaxamento, sem necessitar do auxílio de fármacos. Desta forma, pode-se
fazer o paciente compreender que é possível viver de outra maneira, que o
seu corpo e sua mente não são locais temidos, e que é possível sentir
tranquilidade e prazer com maior frequência em sua vida diária.
Durante a sessão, o hipnoterapeuta pode utilizar de imagens e
frases motivadoras, que serão gravadas na memória, e consequentemente
atuarão na consciência. Quando identificados os primeiros conflitos, este uso é
direcionado justamente para pelejar ideias conflituosas e crenças associadas
às emoções de medo e ansiedade. Através da hipnose, é possível estimular
uma reestruturação cognitiva, valendo-se de imagens e sugestões verbais.
Segundo Epstein (1989), a imagem mental é ‘a mente pensando
através de imagens’. As imagens sempre foram utilizadas durante a história
para expressar valores e ideias para os quais a linguagem é limitada; seja na
artes, na espiritualidade e em outros segmentos da cultura, assim como no
início da psicologia científica, sendo que o seu uso voltou a ser relevante e
corrente na segunda metade do século XX em virtude das pesquisas realizadas
pela neurociência cognitiva. Para Telles (2007):
“(...) as imagens mentais são uma forma de como fotografamos
nossas sensações, nossas emoções, e quem faz a busca dos
referenciais são nossos pensamentos. As imagens são fotografadas
com nossas lentes, nossos filtros, nossa forma de interpretar os
eventos. Um sentimento para um sujeito tem uma imagem específica
e para outro tem outra imagem representativa. As características do
38
que fotografamos dependem do que a gente compila nas nossas
experiências de vida que funcionam como forma de darmos um
colorido pessoal a cada evento, a cada cenário (TELLES, 2007, pg.
88).
Ainda em 1898, Pierre Janet, descobriu que experiências
traumáticas geravam memórias que ao serem evocadas surgiam na qualidade
de imagens. Freud e Breuer também direcionaram seus estudos para
compreender o que significavam às imagens que apareciam em sonhos, e os
conflitos que poderiam estar sendo representados nelas. Carl Jung também
enxergou nas imagens oníricas uma forma de mensagem advinda da mente
inconsciente (SILBERFARB, 2010).
De acordo com Epstein, Janet criou uma técnica chamada de
substituição imaginária, que visava fazer com que os pacientes pudessem
reexperienciar situações perturbadoras, e substituir imagens perturbadoras por
imagens agradáveis e mais adaptativas. Em sua concepção, o processo
imagético envolve todos os sentidos, e não somente a visão. Quando se altera
uma imagem, altera-se também a sensação e emoção que estavam
conectadas com esta imagem (SILBERFARB, 2010).
As imagens são representações internas atribuídas à experiência do
indivíduo com determinada situação. Atualmente alguns terapeutas fazem uso
das imagens para tentar modificar esquemas mal adaptativos, ou para dar
outra significação à um determinado acontecimento perturbador (SLBERFARB,
2010).
A partir dos dados auferidos com diversos pacientes que sofrem de
algum tipo de transtorno ansiedade, certas imagens relatadas possuem uma
característica e um significado comum à cada tipo específico de transtorno: no
transtorno de fobia social a imagem mental é de estar sendo olhado por outra
pessoa, no transtorno do stress pós-traumático, o conteúdo da imagem traz
uma revivência do trauma, no transtorno do pânico a imagem de estar sofrendo
um infarto, no de fobia específica, a do objeto ansiogênico temido.
Pode-se utilizar imagens como formas de integrar pensamentos
lineares (racional) e sistêmicos (subjetivo), uma vez que o pensamento por
39
imagem tem com característica não ser racional, lógico ou verbal. Alguns
terapeutas se valem de técnicas de exposição às imagens para esmaecer o
nível do medo atribuído ao objeto ansiogênico, como utilizado nos transtornos
do Estresse Pós-Traumático (TEPT) e Obsessivo Compulsivo (TOC); este uso
também é válido para se criar novas associações entre o objeto temido e à
crença subjacente, através de técnicas da hipnoterapia cognitiva
(SILBERFARB, 2010).
Para se aprofundar nos relatos trazidos pelo paciente pode–se
aplicar a hipnoterapia, para fazer um paciente revivenciar determinada
situação ansiogênica, a fim de descrever todos os componentes desta
situação: como era o ambiente em que estava, o que sentiu, quais foram as
sensações causadas em seu corpo, que pensamentos, ideias ou imagens lhe
ocorreram (SILBERFARB, 2010).
Quando se consegue fazer com que o paciente retorne mentalmente
à um evento traumático, recriando a situação tal como era, é possível induzir
uma imagem mental benéfica que traga uma nova significação sobre o evento.
A hipótese subjacente à esta técnica, é que, contiguamente à construção
mental trazida à tona, se encontra o afeto, e que as sessões de hipnose podem
criar na memória uma nova associação entre o afeto e esta nova construção
mental (SILBERFARB, 2010).
Da mesma maneira, a partir do momento em que se tenham
identificados os primeiros conflitos, é possível utilizar a hipnose para simular
estratégias de enfrentamento. No prosseguir das técnicas de reestruturação
cognitiva, o terapeuta deve instruir o paciente a suportar o sentimento pungente
para assim não realizar o comportamento com o qual este sentimento estava
condicionado, que são em sua grande maioria comportamentos de fuga e
evitação (BARLOW, 2009).
Como por exemplo, no caso do Transtorno Obsessivo Compulsivo,
uma vez que já se tenha discutido e elucidado sobre a irracionalidade de
determinadas crenças, o paciente é instruído a se abster de realizar
determinado comportamento ou ritual, de recobrar seu equilíbrio emocional, e
alterar o foco de sua consciência para temas e pensamentos mais agradáveis.
40
Este enfrentamento à situação ou ao objeto ansiogênico pode ser feito de
maneira gradual, sendo possível averiguar a diminuição do grau de intensidade
de uma emoção e dos comportamentos compulsivos subsequentes, até o
transtorno se extinguir completamente (CORDIOLI 2008).
No transtorno de ansiedade social, uma vez que o terapeuta tenha
explorado as representações mentais atribuídas ás situações ansiogênicas, e
argumentado com o paciente sobre determinadas crenças irracionais e
pensamentos ilógicos, ele deve prosseguir a com a Exposição e Prevenção de
Rituais (EPR), e instruir o paciente a enfrentar às situações ansiogênicas, se
valendo para tal, de instruções terapêuticas como por exemplo refutar
pensamentos disfuncionais, e de utilizar, quando necessário, técnicas de
autocontrole e relaxamento (BARLOW, 2009).
Haja vista, no momento em que o paciente lida com uma situação
anteriormente temida, ele constituí uma nova experiência, que poderá
proporcioná-lo prazer e felicidade, e assim será armazenada em sua memória,
trazendo também uma nova significação acerca da sua realidade
(SILBERFARB, 2010).
Muitos psicólogos criticam esta modalidade de terapia
argumentando que os sintomas podem desaparecer durante um tempo,
havendo, posteriormente, o retorno. Entretanto, a remissão de sintomas não é
algo totalmente provado, e existem estudos feitos com centenas de pacientes
que realizaram a terapia cognitivo comportamental, e, mediante um pedido do
terapeuta, retornaram à clínica anualmente durante três anos, e alegaram que
os conflitos relatados desapareceram por completo, e de que também as
técnicas aprendidas durante a terapia se mostraram muito produtivas e fortuitas
em suas vidas diárias.
41
CONCLUSÃO
Ao longo dos estudos teóricos sobre a hipnose e a experiência
proporcionada pelo Curso de Pós-Graduação, pude constatar aspectos
relevantes que a modalidade de hipnose intitulada hipnoterapia pode oferecer
ao campo da psicologia, e em especial, ao campo da psicologia clínica.
A hipnoterapia é uma ferramenta muito útil ao terapeuta, pois seu
uso possibilita não somente o relaxamento, mas também torna possível uma
investigação acerca do funcionamento mental do paciente. Por exemplo, pode-
se ajudar o paciente acessar a sua memória, no que concerne um evento
traumático afim de extrair desta situação dados valiosos que possam ser
trabalhados na clínica. Também é possível simular estratégias de
enfrentamento à determinada situação ansiogênica, com o intuito de ajudar o
paciente a enfrentá-la; ou mesmo para ajudá-lo a alterar a sua representação
de uma situação ou de um objeto temido.
A hipnoterapia é realizada de forma contígua à terapia cognitivo
comportamental, de tal forma que as sessões de hipnose complementam o
trabalho cognitivo realizado em clínica; o enfoque deste trabalho se caracteriza
por ajudar o paciente a alterar determinada representação distorcida da
realidade que ele desenvolveu, a partir de suas diversas experiências, que vão
da infância á idade adulta. Para tal, são usadas técnicas que visam combater
crenças irracionais, pensamentos disfuncionais ou ideias ilógicas. Na medida
em que o paciente altere uma concepção errônea do mundo, a sua adaptação
à vida torna-se mais fácil. Destarte, medos, fobias, e representações
distorcidas, somem com o tempo, permitindo, assim, que o paciente crie novos
comportamentos, mais saudáveis e de maior valor adaptativo.
42
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, Carlos Laganá de. A psiquiatria e a psicossomática:
psicoterapia dos transtornos ansiosos no Hospital Geral. In SPINELLI,
Maria Rosa (org) . Introdução à Psicossomática. São Paulo: Atheneu, 2010.
ARAÚJO, Saulo de Freitas. Paralelismo Psicofísico e o Problema Mente-
Cérebro na Perspectiva de Wilhem Wundt. In LOPES, Ederaldo José (org).
Temas em Ciências Cognitivas & Representação Mental. 1ª Edição. Porto
Alegre: Sinopsys Editora, 2012.
BARLOW, David H. Manual Clínico dos Transtornos Psicológicos. 4ª
Edição. São Paulo: Artmed. 2009.
BENOMY, Silberfarb. Hipnoterapia Cognitiva. 1ª Edição. São Paulo: Novos
temas, 2011.
BECK, Judith S. Terapia Cognitiva. 2ª Edição. São Paulo: Artmed. 1997
CORDIOLI, Aristides, Vencendo o Transtorno Obsessivo-Compulsivo. 2ª
Edição. Curitiba: Artmed. 2008.
DAMÁSIO, Antônio R. O Erro de Descartes. 2ª edição. São Paulo:
Companhia das Letras, 2007.
JUNG, Carl G. A Natureza da Psique. Petrópolis: Editora Vozes, 2000.
PAIXÃO, Paulo. Noções de Letargia. 2ªEdição. Rio de Janeiro: 1960
SADOCK, Benjamin J e SADOCK, Virgínia A. Compêndio de Psiquiatria –
Ciência do Comportamento e Psiquiatria Clínica. 9ª Edição. São Paulo:
Artmed Editora, 2010.
SAUAIA, Neusa Maria Lopes. A totalidade corpo-mente na visão de Jung. In
SPINELLI, Maria Rosa (org) . Introdução à Psicossomática. São Paulo:
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SIMURRO, Sâmia A. B.. Benefícios dos conhecimentos da neurociência
para a psicossomática. In SPINELLI, Maria Rosa (org) . Introdução à
Psicossomática. São Paulo: Atheneu, 2010.
SPINELLI, Maria Rosa e NEDER, Mathilde. A interação mente e corpo: o
início de uma doença. In SPINELLI, Maria Rosa (org) . Introdução à
Psicossomática. São Paulo: Atheneu, 2010.
KINDEL, Albert. Em busca da memória. 1ª Edição. São Paulo: Companhia
das Letras, 2010.
WEISSMAN, Karl. O Hipnotismo. 9ª Edição. Rio de janeiro: Prado, 1958.
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  • 1. SOCIEDADE PARANAENSE DE ENSINO E INFORMÁTICA FACULDADES SPEI IBH – INSTITUTO BRASILEIRO DE HIPNOSE APLICADA PAULO SANTUCCI DIAS MARQUES A HIPNOTERAPIA COGNITIVA APLICADA NOS TRANSTORNOS DE ANSIEDADE Rio de Janeiro 2014
  • 2. 2 PAULO SANTUCCI DIAS MARQUES A HIPNOTERAPIA COGNITVA APLICADA NOS TRANSTORNOS DE ANSIEDADE Trabalho de Conclusão de Curso apresentado Sociedade Paranaense de Ensino e Informática – Faculdades SPEI e IBH Instituto Brasileiro de Hipnose Aplicada como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Hipnose Clínica, Organizacional, Hospitalar, sob orientação dos professores: Prof. Dr. Gil Gomes, Profa. Dra. Clystine Abram e Profa. Dra. Denise Bloise. Rio de Janeiro 2014
  • 3. 3 PAULO SANTUCCI DIAS MARQUES A HIPNOTERAPIA COGNITVA APLICADA NOS TRANSTORNOS DE ANSIEDADE Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a Sociedade Paranaense de Ensino e Informática – Faculdades SPEI e IBH Instituto Brasileiro de Hipnose Aplicada como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Hipnose Clínica, Organizacional, Hospitalar, sob orientação dos professores: Prof. Dr. Gil Gomes, Profa. Dra. Clystine Abram e Profa. Dra. Denise Bloise Banca Examinadora: Aprovada em: ____________________________________________________
  • 4. 4 RESUMO O presente trabalho busca refletir sobre a hipnose e os benefícios que sua prática pode proporcionar à vida de uma pessoa; sobretudo a modalidade de hipnose chamada de Hipnoterapia, que reúne os preceitos e métodos da Terapia Cognitivo Comportamental aos estudos mais avançados sobre o cérebro e a cognição. Os Transtornos de Ansiedade foram escolhidos devido ao alto índice de pessoas que apresentam estas comorbidades em nossa sociedade, assim como de experiências que pude auferir dos pacientes que sofriam com essas comorbidades e de que tratei em consultório. Outros temas abordados, extremamente pertinentes aos já referidos, são a experiência mental proporcionada pela hipnose, a relação mente-corpo que têm os pacientes ansiosos, as evidências empíricas que a prática da hipnose sobre a ação da mente no corpo, as soluções para os conflitos psicológicos oferecidas pela hipnose assim como a capacidade que esta modalidade terapêutica tem de tornar o indivíduo mais integrado emocionalmente e mentalmente. Palavras-Chave: Hipnose, Terapia Cognitivo Comportamental, Transtornos de Ansiedade.
  • 5. 5 ABSTRACT This study aims to clarify what hypnosis is and what are the benefits that your practice can provide to a person's life; especially the type of hypnosis called hypnotherapy, which brings together the concepts and methods of Cognitive Behavioral Therapy for advanced studies on the brain and cognition. Anxiety Disorders were chosen due to the high rate of people who have these comorbidities in our society, as well as experiences that could derive from patients who suffer with these comorbidities than I treated at the therapy clinic. Other extremely relevant themes to those already mentioned, are mental experience afforded by hypnosis, the mind-body conception that have the anxious patients, as the empirical evidence that the practice of hypnosis has over the action of the mind on the body, as the solutions to psychological conflicts offered by hypnosis and the ability of this therapeutic modality has to become an patient more integrated emotionally and mentally. Keys-words: Hypnosis, Cognitive Hypnotherapy, Cognitive Behavioral Therapy.
  • 6. 6 SUMÁRIO 1-INTRODUÇÃO pg.07 2- BREVE HISTÓRIA DA HPNOSE: DE GASSNER A CHARCOT pg. 08 3- TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL: PRECEITOS BÁSICOS pg. 09 4- A HIPNOTERAPIA COGNITIVA E O ESTADO HIPNÓTICO pg. 16 4.1 O que é a Hipnoterapia Cognitiva? pg. 16 4.2 O estado hipnótico pg. 17 4.3 A experiência mental proporcionada pela hipnose? pg. 22 5- A RELAÇÃO MENTE-CORPO E A HIPNOSE pg.25 6- OS TRANSTORNOS DE ANSIEDADE pg.27 7- A HIPNOTERAPIA COGNITIVA APLICADA NOS TRANSTORNOS DE ANSIEDADE pg.31 7.1 Panorama dos pacientes ansiosos pg. 31 7.2 A solução terapêutica pg. 35 CONCLUSÃO pg.41 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS pg. 42
  • 7. 7 1- INTRODUÇÃO O presente trabalho busca discutir a Hipnoterapia e a forma que pode ser utilizada no tratamento dos transtornos de ansiedade. O texto foi organizado a partir da discussão dos teóricos que elaboraram seus preceitos básicos. Dessa forma, a cada capítulo são apresentados os principais conceitos que envolvem a aplicação da terapia. Para tal, primeiramente foi necessário discorrer sobre a história da hipnose, partindo do ponto em que seu uso começou a ser aplicado de forma científica e empírica ainda no século XVIII. Uma vez que a hipnoterapia é calcada nos princípios da Terapia Cognitivo Comportamental, uma explicação pormenorizada desta modalidade terapêutica se fez necessária. A hipnoterapia e o estado hipnótico são abordados no capítulo seguinte. Em seguida a abordagem envolve a descrição dos Transtornos de Ansiedade de acordo com a definição dada pelo DSM-IV_TR, como premissa para o tema principal do trabalho que é a aplicação da hipnoterapia nos transtornos de ansiedade. Os recursos possibilitados pela prática da hipnose, assim como as técnicas direcionadas para o tratamento dos transtornos de ansiedade, em sua relação contígua ao método da terapia cognitiva comportamental, se tornam o assunto principal a ser debatido ao fim do presente trabalho.
  • 8. 8 2- BREVE HISTÓRIA DA HIPNOSE A prática do hipnotismo é muito antiga, sendo comum em diversas culturas, embora mesclada de superstições e mistérios em alguns momentos da história, esta prática fora utilizada em muito por xamãs, feiticeiros, padres, até vigorar na medicina clássica como método de cura de doentes nervosos ou histéricos, sofrendo, deste preciso momento em diante, um processo de aprimoramento em que célebres personagens dedicaram suas vidas para a testagem empírica deste método, num processo que ainda perdura (WEISSSMAN, 1958). Segundo relatos dos historiadores a hipnose já era praticada na antiga Grécia, na velha civilização babilônica, na Roma antiga, e também no Egito, nos chamados “Templos dos Sonhos”, em que pacientes recebiam sugestões terapêuticas em estado de sono profundo. Existem achados históricos, como papiros que datam mais de 3 mil anos, em que pode-se ler instruções minuciosas e sofisticadas para levar o paciente ao transe hipnótico, que não deixam muito a desejar daquelas encontradas nos livros dos dias atuais. Com seu uso empregado para fins diversos, a hipnose era utilizada como forma de entrar em transe, como por exemplo para predizer o futuro através da clarividência- suposta utilização empregada pelas sacerdotisas de Ísis. Também existem relatos do uso da hipnose para provocar anestesia e aliviar a dor de determinados mártires submetidos a tortura, sendo que este tipo de uso anestésico da hipnose ainda fulgura na prática realizada pelos hipnólogos contemporâneos (WEISSMAN, 1958). O estudo da hipnose foi corrente e comum durante a Idade Média, sendo objeto de estudo de filósofos e líderes religiosos, como Avicena no século X, e Paracelso no século XVI. Entretanto, um grande homem deste campo foi o padre Gassner, que viveu na Alemanha do Sul, no século XVIII. Abaixo, um breve resumo cronológico da história da hipnose, dos principais hipnólogos e das respectivas diferenças qualitativas, no que concerne ao método e ao embasamento teórico empregado.
  • 9. 9 GASSNER Gassner realizava sessões públicas em que empregava a hipnose, e se valia, para tal, de recursos teatrais, tanto em suas vestes, como na sua gesticulação. Em suas sessões, conseguia fazer com que seus pacientes obedecessem completamente às suas instruções, e chegava ao ponto de fazê- los correr pelo palco e falar em latim. Em uma de suas demonstrações, que fez com o auxílio de um médico, conseguiu fazer com que uma paciente tivesse os batimentos cardíacos reduzidos, e, ao seu comando, conseguisse elevá-los para 120 pulsações por minuto. Em seguida, sugestionou a paciente que suas pulsações iriam parar completamente, seus músculos iriam relaxar e que ela morreria temporariamente. O médico auxiliar, então, verificou que as pulsações haviam parado e que também não havia sinal de respiração, de modo que a paciente apresentava as condições de uma pessoa morta. Gassner, então, ordenou que a paciente saísse do transe e ela de imediato recuperou suas condições normais (WEISSMAN, 1958). MESMER Franz Mesmer, nascido em 1743, na Alemanha, foi também um importante personagem nesta pré-história da hipnose e da psiquiatria moderna. Diferentemente do Padre Gassner, não atribuía às enfermidades causas religiosas, mas tão somente a influência astral. O Magnetismo Animal, de Mesmer, afirmava como sendo a causa das patologias nervosas, uma frequência irregular dos fluidos astrais, que assim então perturbavam o organismo. Era necessário que os pacientes sofressem crises, caracterizadas por convulsões e condicionadas pela hipnose, para que assim então Mesmer pudesse canalizar esses fluidos através de uma intervenção magnética (WEISSMAN, 1958). Na mesma época, o padre Maxiliano Hell, professor da Universidade de Viena e também astrólogo, começou a utilizar imãs em seus pacientes, e Mesmer se apropriou desta técnica, integrando-a em seu método. Os pacientes eram submetidos a transe hipnótico enquanto as técnicas com os
  • 10. 10 ímãs eram aplicadas. Mesmer foi muito importante por imbuir à prática da hipnose um rigor científico, tendo conseguido curar centenas de pacientes. Contudo seu método se mostrou falho em alguns aspectos, e não funcionou com os membros da Academia Francesa, que se colocaram na posição de pacientes e alegaram não terem sentido quaisquer efeitos do banho magnético. Diante de tal fato, Mesmer fora desacreditado e acusado de charlatanismo, e acabou por se retirar da profissão. Todavia, seus esforços foram importantes na trajetória da hipnose como técnica terapêutica de caráter científico, e justiça seja feita, ainda são muitos os mistérios que cercam a mente e o cérebro humanos, sendo que Mesmer fez o que pode, dispondo dos parcos recursos tecnológicos de sua época (WEISSMAN, 1958). Mesmer viria a ter outros seguidores da cura magnética, como o médico Dr. John Ellioston, figura eminente da história médica britânica, responsável por introduzir o estetoscópio na Inglaterra, assim como métodos de examinar o pulmão e o coração; e James Esdaile, médico escocês, que realizou cirurgias sem anestesia, fazendo uso somente da hipnose. Schopenhauer alegou ser o mesmerismo “a mais fecunda de todas as descobertas sob o ponto de vista filosófico, embora, de momento, ofereça mais enigmas do que soluções” (WEISSMAN, 1958). ABADE FARIA Logo após o falecimento de Mesmer, surgiu em paris um padre português chamado José Custódio Farias, que teria sido a inspiração para o personagem Abade Faria, de “O Conde de Monte Cristo”. Foi responsável por modificar o método da hipnose, lançando a doutrina da sugestão. Foi incisivo na importância da relação entre sujet e hipnotizador; utilizava a hipnose acordada, e atribuía como fator do sucesso terapêutico o envolvimento do sujet com a técnica, e a forma como este se deixava aprofundar na sua mente, descartando, assim, aspectos como a questão anímica no processo da cura, de modo que se ateve única e exclusivamente ao aspecto psicológico dos efeitos da hipnose (WEISSMAN, 1958).
  • 11. 11 BRAID Em 1841, o médico James Braid, foi o responsável por afastar o magnetismo animal do estudo científico, utilizando o termo hipnotismo para esta prática. A palavra hipnotismo deriva do vocábulo grego hypnos, que significa sono. Contudo, o sono constatado na hipnose, é diferente do sono normal ou fisiológico, e devido às suas características era chamado por Braid de “sono nervoso” (nervous sleep). Braid se valeu, no início de sua carreira de métodos que causassem cansaço visual, entretanto, os abandonou quando se tornou convicto de que o fator preponderante para o transe era a sugestão, de modo que a utilizava para assim produzir fenômenos como a anestesia, a amnésia, a catalepsia e mesmo as alucinações sensoriais (WEISSMAN, 1958). CHARCOT Jean Martin Charcot, neurologista renomado, conduziu seus estudos sobre a hipnose em sua escola intitulada “grand hipnotisme”, em Paris, concomitantemente aos esforços desprendidos por seus contemporâneos Liébault e Bernheim, que representavam a escola de Nancy. Charcot formulou a teoria dos três estados hipnóticos: a letargia, a catalepsia e o sonambulismo. O primeiro estágio era produzido fechando-se os olhos do sujet e tinha como características a surdez e a mudez; no segundo estágio, com os olhos abertos, era definido como uma gradação entre a rigidez e a flexibilidade dos membros, que permaneciam na posição em que os sujets os largassem. O terceiro estágio, chamado de sonambulismo, era produzido friccionando–se energicamente a parte superior da cabeça do indivíduo. Para Charcot, e em contradição aos seus colegas da escola da Nancy, somente os histéricos eram hipnotizáveis. Todavia, do ponto de vista de seus hipnotizadores contemporâneos o hipnotismo por ele praticado era rudimentar (WEISSMAN, 1958).
  • 12. 12 O HIPNOTISMO NO BRASIL Em meados dos anos 50, a hipnose científica surgiu no Brasil, e teve como seus percussores nomes como Karl Weissman, Prof. Ramon Molinero e Dra. Galina Solovey. No Brasil temos registro da utilização da Hipnose em medicina desde 1832 segundo biografia presente na obra de Leopold Gamard. A Sociedade de Propaganda e Jury Magnético do Rio de Janeiro foi reconhecida pelo Imperador D Pedro II em 1862, que demonstrou interesse na experiência e aplicação por médico competente. Seguindo uma tendência mundial o hipnotismo no Brasil ressurge a partir de 1950. e teve como seus percussores nomes como Karl Weissman, Prof. Ramon Molinero e Dra. Galina Solovey. Na mesma época, o Dr. Paulo Paixão, juntamente com ‘Irmão Vitrício’, conduziu cursos e conferências sobre a hipnose. A principio desperta interesse do público em programas de TV, entrevistas e imprensa. O primeiro curso de hipnotismo a suas técnicas modernas foi ministrado a uma turma de médicos e dentistas, em outubro de 1955, a convite de Associação Brasileira de Odontologia, no Rio de Janeiro. Em 1957 seria fundada a Sociedade de Hipnose Médica no Rio de Janeiro. Em 1956 foi fundada a sociedade Paulista de hipnotismo, e em Porto Alegre, no mesmo ano, a sociedade de hipnologia do Rio Grande do Sul. Em seguida, novas associações surgiram na Bahia, em Santos e em Belo Horizonte. No ano de1961, o presidente Jânio Quadros proibiu a prática da hipnose àqueles que não fossem médicos (PAIXÃO, 1961).Em 1997 foi reconhecido como ato médico pelo Conselho Federal de Medicina, sob a denominação de Hipniatria, o procedimento que utiliza a Hipnose como meio predominante terapêutico.
  • 13. 13 3- TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL: PRESSUPOSTOS BÁSICOS A Terapia Cognitiva Comportamental tem como princípio que os indivíduos constroem significados sobre as pessoas, os acontecimentos e o meio em que estão inseridos, e que este sistema de crenças permanece ativo nas mais diversas experiências vividas, de modo que a forma como uma pessoa reage depende em muito da maneira como a pessoa analisa esta situação em função de suas aprendizagens anteriormente feitas. Destarte, crenças ou esquemas construídos durante o desenvolvimento do indivíduo atuam em nível inconsciente, podendo causar reações agradáveis ou perturbadoras quando eliciados por estímulos diversos. A terapia cognitiva tem seus alicerces em correntes filosóficas e religiões antigas, como estoicismo grego, o taoísmo e o budismo, que atinavam sobre a força das ideias sobre as emoções (SILBERFARB, 2011). Esses filósofos afirmavam “que os homens não eram perturbados pelas coisas, mas sim pela visão que tinham destas, que as ideias não só podiam controlar os sentimentos mais intensos de uma pessoa, como também eram capazes de modificá-los.” (SILBERFARB, 2011, pg. 20). Mais recentemente, a ênfase da experiência subjetiva consciente advinda do movimento fenomenológico, as experiências feitas pelo movimento comportamentalista de Skinner, e a teoria do processamento da informação, teriam sido responsáveis pelo enfoque cognitivo despendido pelos teóricos que formularam esta modalidade de terapia. Segundo Adler (1955), experiências reprimidas como traumas infantis, não são tão preponderantes em uma psicopatologia como a percepção e os significados que os indivíduos relacionam aos eventos. De acordo com Lima (1990), em meados da década de 50, Aaron Beck conduziu uma intensa pesquisa sobre as neuroses, especialmente sobre a depressão, em que, contrapôs às abordagens vigentes, utilizadas em clínica, novos dados científicos, que evidenciavam ser o conteúdo cognitivo do paciente a grande causa da patologia, e que esses pacientes não sofriam de
  • 14. 14 “hostilidade retrofletida” ou tinham desejos masoquistas de machucar a si próprios. Haveria também sintomas comuns à um grande grupo de paciente tais quais a autopunição, a exacerbação de problemas externos, uma visão negativa de si mesmo, desamparo e expectativa negativa sobre eventos futuros, tendo como base os comportamentos passados. Este trabalho, realizado com a Universidade da Pensilvânia, nos EUA, deu origem ao livro Depressão: causas e tratamento (LIMA, 1972). A terapia cognitiva tem como fundamento que as emoções e comportamentos de um indivíduo em sua vida diária são influenciados por sua percepção de determinada situação. O modo como pessoa interpreta uma situação está estritamente ligada às aprendizagens anteriormente feitas. Os teóricos que formularam a terapia cognitiva postulam a hipótese de que existe um nível de pensamento mais profundo que opera simultaneamente ao nível mais superficial de pensamento, e que é neste nível de pensamento mais profundo que ocorrem os chamados pensamentos automáticos ou disfuncionais, aos quais as pessoas costumam responder peremptoriamente, e que causam grande mudança emocional. Contudo, devido ao caráter emotivo destas situações, é muito comum o fato de uma pessoa esquecer o que a fez mudar subitamente, e assim acabar por não descobrir o que foi pensado num exato momento de perturbação emocional (BECK, 1997). Partindo do princípio que a cognição afeta o comportamento, a terapia cognitiva começa na exploração e identificação das crenças desenvolvidas pelo paciente. O que se vislumbra é conhecer o processamento da informação feito por um paciente, e assim, pouco a pouco, ajudá-lo a mudar certas estruturas cognitivas e representações distorcidas de sua realidade. É dado ao paciente a chance de enfrentar seus sistemas de crenças pessoais em relação às suas consequências e funcionalidade, de traçar uma argumentação dialética no sentido de levar o paciente à refletir sobre maneiras melhores de encarar os fatos de sua vida, e também de testar possíveis estratégias de enfretamento para os problemas identificados. A dificuldade de adaptação de um indivíduo à um determinado ambiente e/ou contexto, está intrinsicamente ligada ao significado que o
  • 15. 15 indivíduo atribuiu a isto. Os significados não precedem a realidade, de modo que são construídos pelos próprios indivíduos, e atuam como estruturas cognitivas que são ativadas por estímulos externos ou internos, influenciando intensamente na forma como este indivíduo se comportará em determinada situação ambiental (BECK, 1997). Todavia, os significados podem ser alterados, e o terapeuta age como uma lente de aumento, ajudando o paciente a enxergar minuciosamente a sua própria vida, e refletir acerca da especificidade do conteúdo cognitivo desses significados. Deste modo, uma realidade antes vista como desagradável ou aflitiva, pode se tornar agradável e promissora (SILBERFARB, 2011). É também percebido, que em cada tipo síndrome existe um sistema de significados coequivalente, sendo constantemente reforçado através de comportamentos condicionados. Os significados mal adaptativos, encontrados em determinada psicopatologia, se acham organizados na chamada Tríade Cognitiva, e correspondem aos significados construídos em relação a si mesmo, ao mundo, e ao futuro (expectativas) (SILBERFARB, 2011). Esses significados são organizados em esquemas, que são como estruturas cognitivas que se desenvolvem desde cedo, e que são ativados nas mais diversas experiências pelas quais um indivíduo atravessa. Como dito por Beck (1997): Um esquema é uma estrutura cognitiva que filtra, codifica e avalia os estímulos aos quais o organismo é submetido... Com base na matriz de esquemas, o indivíduo consegue orientar-se em relação ao tempo e espaço e categorizar e interpretar experiências de maneira significativa. (BECK, 1997, pg. 200).
  • 16. 16 4- A HIPNOTERAPIA COGNITIVA E O ESTADO HIPNÓTICO 4.1 O que é a Hipnoterapia Cognitiva? A Hipnoterapia Cognitiva é uma modalidade de hipnose clínica que tem como base os fundamentos da Psicologia Cognitivo Comportamental. Ela funciona como uma ferramenta, e não é um método que possa ser aplicado de forma isolada, sem o viés terapêutico. Assemelha-se a hipnose clássica apenas no uso das técnicas de indução ao transe, pois seu fundamento psicológico é calcado nos princípios da Terapia Cognitivo Comportamental. Através das técnicas da hipnose, pode-se levar um paciente à um estado emocional mais ameno, fazê-lo retroceder à uma memória remota ou reprimida, ou provocar no paciente sensações agradáveis através do uso de imagens mentais e da sugestão, sendo que esta é uma característica do efeito ideossensitivo da hipnose (SILBERFARB, 2011). A hipnose ganhou considerável importância no séc. XX, e recebeu diversos estudos, inclusive na área da neurofisiologia. Já foram identificados, através do uso do eletroencefalograma (EEG), mais de vinte estados de consciências; contudo, são três os principais níveis de consciência que podem ser encontrados no transe hipnótico: vigília, sono lento e sono rápido. A vigília caracteriza-se pelo estado desperto, e o indivíduo pode-se encontrar em alerta ou relaxado. O sono lento ou sincronizado tem efeito de repouso, o indivíduo nesse estado não costuma se recordar dos sonhos. O sono rápido ou dessincronizado não tem efeito repousante, e caracteriza-se pela alta atividade psíquica e nele os sonhos são recordados, sendo também chamado de sono REM.
  • 17. 17 4.2 O Estado Hipnótico Mesmo com todo o avanço da tecnologia, o EEG ainda é limitado para distinguir outros níveis de consciência, devido ao fato de serem captados somente os neurônios das camadas I e II do córtex, que se difundem na camada dendrítica. Curiosamente, ainda não é identificável alteração da atividade cerebral dos estados de vigília e sono relaxado em relação à atividade cerebral apresentada nas situações rotineiras da vida de um indivíduo. Entretanto, devido às características apresentadas durante estes estados, tais quais as regressões de memórias, a sugestionabilidade e alucinabilidade, as regressões e analgesias espontâneas, é possível diferenciar esses estados da consciência ordinária. Estes fenômenos indicam apenas uma diferença no que concerne à atividade límbico-hipotalâmica (PAVLOV- 1961). Embora o EGG ainda seja limitado, é justamente pelas características desses fenômenos que pode-se considerar o estado hipnótico como um quarto estado de consciência, como o fez Chertok (1982). Para se alcançar um estado hipnótico, é necessário que haja concentração sobre um único estímulo, de forma que este se torne preponderante aos demais estímulos que estejam atingindo os sentidos do paciente. Para tal, o hipnotista conduz a sessão utilizando uma voz suave e persistente, ou também outros estímulos sensoriais impessoais, podendo ser auditivos ou visuais, desde que sejam de baixa intensidade, e monótonos. É necessário que o sujeito esteja concentrado, de tal modo que os estímulos hipnogênicos se tornem isolados na consciência do indivíduo, em detrimento dos demais. A esta capacidade denomina-se atenção seletiva, e é gerada pela formação reticular ascendente (FRA) (SILBERFARB, 2011). O sistema límbico está associado ao estado hipnótico, e é evidenciado que em fenômenos tais quais a rememoração, a revivificação de experiências, as amnésias espontâneas que acontecem logo após o término do transe, a aprendizagem acelerada, a estimulação do sistema imunológico e as vivências alucinatórias, há grande ativação da formação hipocampal do sistema límbico (SILBERFARB, 2011).
  • 18. 18 Para muitos, o efeito da hipnose é pura sugestão, e esse argumento é muito utilizado para rebaixar a hipnose e desmerecer o seu potencial. Entretanto, é necessário refletir sobre o que é sugestão. Segundo Warren: “a sugestão é a indução ou tentativa de indução de uma ideia, crença, decisão ou ato realizado por outro por meios estímulos verbais, ou outros, à base de uma argumentação exclusivista.” (SILBERFARB, 2011, pg. 56). Se olharmos bem para a nossa sociedade, veremos que a sugestão age como uma força motriz no meio social, sendo em muito empregada por publicitários, políticos, e por todos os órgãos que intencionam influenciar as pessoas. Pavlov (1961) reconheceu que as palavras também podem ser estímulos condicionados, até mesmo mais eficazes do que os estímulos sensoriais condicionados. Durante uma sessão hipnótica, a atenção sobre os estímulos que acontecem dentro do corpo aumentam, de modo que uma pessoa percebe melhor a sua respiração, os seus batimentos cardíacos e a sua musculatura, e também na mente, na medida em que o paciente consegue transformar o comando do hipnotista em sua realidade mental. Destarte, a sugestão é um estímulo ou um conjunto de estímulos que desencadeiam outros estímulos, mentais ou fisiológicos: As sugestões poderão ser da seguinte ordem: ideomotoras, sensoriais, gustativas, táteis, auditivas, térmicas, sinestésicas), cognitivas (modificação da percepção e memória), sonora verbal, não verbais, visuais, imagéticas ou combinadas entre elas. (SILBERFARB, 2011, pg. 58) A sugestão é na verdade uma autossugestão, pois é necessário um grau de confiança naquilo que está sendo sugerido para que a hipnose ocorra. É como se o paciente afirmasse para si aquilo que está ouvindo de seu hipnoterapeuta. Para se obter o êxito de uma sessão é necessário o estabelecimento de uma sintonia entre hipnotizador e paciente, assim como também entram em questão as características deste paciente, como por exemplo a sua capacidade de imaginar, abstrair e se concentrar.
  • 19. 19 O grande êxito da hipnoterapia está na capacidade imediata de causar bem estar no paciente, prescindindo do uso de fármacos, ou de prolongadas sessões para se produzir algum efeito benéfico. As sugestões provocam alterações fisiológicas, cognitivas e comportamentais (SILBERFARB, 2011). As sessões acarretam em mudanças internas nos indivíduos na medida em que estes ganham controle sobre suas emoções, aumentam a sua percepção corporal e sua capacidade mental de abstração, de modo que podem, mesmo quando sozinhos -e desta forma a hipnoterapia se assemelha à uma forma de aprendizado- alterar um estado emocional de angústia ou aflição, para um estado agradável, de alegria e felicidade, causando sensações de prazer, relaxamento muscular profundo, e alteração fisiológica significativa. Pode-se dizer que a hipnoterapia tem como objetivo aumentar o poder do Ego sobre o aspecto irracional da consciência, que tem maior atividade no subcórtex (SILBERFARB, 2011). Durante o transe acontece uma canalização da atividade psíquica para aquilo que está sendo sugestionado. Os estímulos do ambiente perdem força de ação, e o indivíduo tem uma experiência nessa realidade mental, condicionada pela autosugestão. Muitos pacientes relataram experimentar uma sensação de profundidade, e a isto se deve a alteração neurobiológica causada pelo transe, que consiste na diminuição da noradrenalina no cérebro. O sujeito em transe sente-se como num estado de sono, ou mesmo como se estivessem vendo um filme, estando totalmente absorvido pela realidade proposta: O transe ou estado hipnótico é um processo interno de transição pelo qual a atividade eletroquímica do cérebro é reorganizada dinamicamente, permitindo que ela se desloque suavemente entre seus estados coletivos. Ela efetua isso, desestabilizando os estados existentes e permitindo a reorganização espontânea de novos estados. A informação disponível em cada estado ou fase do cérebro será diferente. (HUMPHREYS,2000 apud SILBERFARB, 2011, pg. 66) Benomy Silberfarb ilustra bem este processo de transição, comparando-o às fases da água:
  • 20. 20 Na física, a água pode ser sólida, líquida, gasosa. Imagine que você, ao lado de um poço, pega seis pedras e atira no poço. O impacto das pedras na água resulta num padrão de seis círculos concêntricos interferindo uns com os outros. E se esse padrão representasse uma certa memória? Se a água estivesse no ponto de congelamento e você atirasse o seixo no mesmo lugar, você esperaria que aparecesse o mesmo padrão de círculos? A resposta é não. E se o estado da água fosse gasoso? A água poderia ser capaz de produzir o mesmo padrão a partir do mesmo input? De novo a resposta é não. (SILBERFARB, 2011, pg. 90). O estado hipnótico possui quatro etapas: a hipnoidal, o transe ligeiro, transe médio e transe profundo ou sonambúlico. O primeiro estado caracteriza- se tão somente pela letargia mental parcial, relaxamento muscular profundo, característica de cansaço físico, aparente sonolência, tremor nas pálpebras, e leves contrações no rosto e mãos. No estado do transe ligeiro, o paciente experimenta uma sensação de como todo seu corpo estivesse muito pesado e também de alheamento parcial; apresenta catalepsia ocular dos membros e rigidez cataléptica, contudo, permanece consciente do que acontece à sua volta. A respiração é mais profunda, o paciente tem dificuldades de falar, e encontra-se num estado que pode-se caracterizar como uma gradação entre a aceitação parcial do que está sendo sugestionado à aceitação completa, quando já não há mais resistência (SILBERFARB, 2011). No terceiro estágio, que é o de transe médio, o sujeito apresenta alguma consciência do que acontece à sua volta, reconhece que está em transe, mas se encontra profundamente ligado ao hipnotizador, de modo que é neste estado que se estabelece o rapport entre paciente e hipnoterapeuta. Como características podem ser citadas a catalepsia completa dos membros, a possibilidade de alucinações ideomotoras, e até mesmo efeitos analgésicos em relação à percepção da dor. No quarto estado, de transe profundo, ocorrem contrações intensas do globo ocular, e há uma sensação de leveza ou flutuação. O sujeito aceita totalmente as sugestões, que ocorrem em nível profundo, sendo possível, inclusive, a permanência no estado de transe mesmo com os olhos abertos. É também possível a anestesia pós-hipnótica, em que o
  • 21. 21 terapeuta indica a região a ser anestesiada, e o dia em que anestesia surtirá efeito (SILBERFARB, 2011). O hipnotista pode assumir controle de sugestões para efeitos orgânicos, como mudança de pulsação, pressão arterial, processos metabólicos. A hiperminésia (acesso fácil às memórias pregressas), a regressão da idade, as alucinações visuais e auditivas, negativas e positivas e sugestões pós-hipnóticas estão entre outros tantos atributos do transe profundo ou sonambúlico (ERICKSON, 1980, In: SILBERFARB, 2011, pg. 68). Ademais, o uso da hipnose para provocar analgesia e anestesia é comum, tendo sido testado e corroborado empiricamente, na medicina e odontologia. Para muitos analgesia e anestesia são termos equivalentes, o que não é verdade. A anestesia caracteriza-se pela não sensação da dor, e a analgesia consiste numa diminuição da dor, podendo ainda haver a percepção da mesma (WEISSMAN, 1958). Outros fenômenos correntes do estado hipnótico são a catalepsia e a amnésia. A catalepsia caracteriza-se pela sensação de peso ou imobilidade que o sujeito sente em seu corpo. É muito comum, como método de se alcançar o transe, provocar a fadiga ocular através de um estímulo, e a catalepsia das pálpebras através da sugestão, de modo que muitos pacientes podem ficar incapazes de abrir as pálpebras, e de recuperarem esta capacidade após o comando do hipnoterapeuta. Durante o transe, também pode ocorrer a amnésia, de tal forma que o sujeito não se lembre da experiência hipnótica, ou fique sem lembrar o próprio nome temporariamente, como acontece em muitos shows de hipnotismo. Muitos clínicos se valem do potencial amnésico da hipnose para fazer com que os pacientes esqueçam, propositalmente, de hábitos ruins ou sintomas incômodos, como por exemplo, roer as unhas. O uso da hipnose como método de combater os sintomas é controverso, e há muita discussão entre psiquiatras, psicanalistas e hipnoterapeutas. Contudo, existem casos de sucesso tratados por Charles Baudoin e citados em seu livro Suggestion et autosugestion (WEISSMAN, 1958). 4.3 A experiência mental proporcionada pela hipnose
  • 22. 22 Durante a indução ao transe é comum pedir ao sujeito que se visualize dentro de um cenário que seja de seu agrado, ou conforme seja aquele o objetivo proposto pelo hipnotizador. É provado cientificamente, que a ativação do córtex visual é a mesma quando se percebe imagens mentais durante o transe, ou quando são verdadeiramente percebidas pelos olhos. A isto deve-se ao potencial da faculdade da imaginação, como descrita por B. Silberfarb (2011): “Ela é uma forma de elaboração do pensamento que ordena e coordena em múltiplas combinações os elementos já existentes no depositário cognitivo pessoal, evocados quando necessário pela memória, para dar formatação a coisas novas e às concepções originais, de uma forma cada vez mais perfeita, culminando, às vezes, com criações geniais. A imaginação pode reproduzir representações já vivenciadas e submetê-las a grandes variações imagéticas de cenários, conteúdos emocionais, etc. (SILBERFARB, 2011:, pg. 74). Muitas vezes durante uma experiência hipnótica, é possível confundir uma memória que tenha sido realmente vivenciada de algo que foi simplesmente imaginado, e induzido. Alguns autores erram ao diferenciar a imaginação de uma memória evocada, ao afirmaram, erroneamente, que um dado proveniente da memória tenderia ser reproduzido fidedignamente. Todavia, existe uma propensão inata das pessoas à fantasia, o que torna muito difícil uma diferenciação entre ambas. Weinberg E Gould (2001) conceituam a visualização ou mentalização como sendo a criação ou a recriação mental de uma experiência. Ela é a recriação da experiência sensorial (ver, sentir e ouvir), porém ocorrida apenas na mente. A visualização pode também criar imagens de situações que ainda não foram vividas. Apesar de a imaginação basear-se intensamente na memória, é possível construir imagens baseando-se em diversas partes da memória. Os autores afirmam ainda que a mentalização, mesmo quando é chamada de visualização, deve conter o máximo possível de sentidos
  • 23. 23 (sinestésico, tátil, auditivo, olfativos, por exemplo).(SILBERFARB, 2011, pg. 74). A visualização praticada durante uma sessão de hipnose proporciona uma experiência, que, para a memória, é tão verossímil quanto aquela realmente feita, na realidade. Assim, muitas vezes o indivíduo se lembra de uma experiência mental ocorrida em determinada sessão como se fosse tão real àquelas tantas outras que ele vive cotidianamente, devido justamente ao modo de como esta experiência é armazenada nas redes de memória. Ligget e Hamanda (1993) realizaram estudos com ginastas, em que submetiam atletas ao transe hipnótico para realizar simulações das atividades feitas em campos de treinamento e, surpreendentemente, as experiências com a hipnose foram tão produtivas que acarretaram numa diminuição significativa do tempo usual despendido nas atividades, assim como numa melhora significativa do desempenho das mesmas. Outro atributo impressionante do estado hipnótico é a facilidade com que as memórias podem ser evocadas, e a isto denomina-se hiperminésia. Em experimentos realizados durante o curso de formação de hipnoterapeutas do Instituto Brasileiro de Hipnose Aplicada, era possível constar como imagens e outros aspectos mnemônicos (aromas, sons) reapareciam em estado hipnótico, provando que nada é descartado pelo nosso cérebro (WEISSMAN, 2011). Como exemplo deste fato, nos experimentos dos quais era pedido que se criasse um cenário mental, como por exemplo uma sala ou um quarto, era possível “ver” determinado abajur de cor vermelha, que mobiliava a casa de um parente, há mais de vinte anos. A maneira como a memória é ativada durante estes estados é extraordinária, e assim imagens diversas que foram percebidas anteriormente, sejam de objetos ou pessoas, prédios, casas, paisagens, reaparecem espontaneamente nesta nova percepção proporcionada pela hipnose. Este é um exemplo que denota o aspecto inextricável dos dados armazenados em nossas redes de memória (KANDEL, 2009).
  • 24. 24 A distorção do tempo é também muito comum durante os transes, de modo que os pacientes que são hipnotizados durante uma hora, ao retornarem à vigília, afirmam terem permanecido em estado hipnótico durante somente 10 minutos, ou algo aproximado. Outro fenômeno hipnótico é a hiperestesia, em que é possível experimentar sensações táteis através da sugestão. Como exemplo de experimentos realizado entres colega de classe do já referido curso de hipnose, era pedido que se entrelaçasse os dedos e então o hipnotizador sugestionava que havia cola sendo derramada em cima dos dedos, de modo que após o término da sugestão, o hipnotizado sentia imensa dificuldade em abrir os dedos, assim como a sensação de que os dedos realmente estivessem colados O que foi evidenciado, nestas práticas, é que de fato as mãos se encontravam rígidas e que era difícil separá-las, assim como todos sentiram esta sensação específica, de ter os dedos grudados. Haja vista, tal movimento muscular é complicado de se realizar normalmente, mas a partir do momento em que o paciente se encontre sob o efeito da sugestão, pode-se perceber a facilidade com que uma ideia ou sugestão se transforma numa sensação ou em um movimento muscular extremamente difícil de ser executado.
  • 25. 25 5- A RELAÇÃO MENTE-CORPO E A HIPNOSE A partir das experiências relatadas, é possível crer que a prática da hipnose oferece provas empíricas de um predomínio da mente sobre o corpo, ou, de como afirmava Wundt (1892), da existência de uma assimetria entre o lado mental e o lado físico, em que a perspectiva física é mais limitada em relação à mental. Wundt atribuiu a isto o conceito de Paralelismo Psicofísico: Do ponto de vista do tratamento empírico da vida mental, o princípio do paralelismo psicofísico contém apenas o pressuposto de que todo evento mental tem um processo físico correspondente, enquanto que o inverso disso não é de modo algum exigido, uma vez que inúmeros processos fisiológicos não têm relação alguma não só com os próprios fenômenos da consciência, mas também com seus processos auxiliares, que ocorrem no sistema nervoso central. (WUNDT, 1889, pg. 584-585). De fato, as experiências corroboram esta afirmação. A partir de inúmeros casos catalogados na história da hipnose e observados na clínica, pode-se comprovar o efeito físico causado por uma atividade mental, ou da predominância de uma atividade mental condicionada pela sugestão, em detrimento mesmo ao da atividade autonômica do sistema nervoso. Assim, em determinados casos pode-se evidenciar a capacidade que possui a mente, seja para anular os estímulos provenientes do organismo (como no uso anestésico, analgésico ou na indução ao transe profundo), seja também para criar efeitos no organismo através de uma simulação mental – como no uso da hipnose para relaxamento ou para causar sensações. Wundt (1892) afirma que grande parte dos eventos mentais, como exemplo o pensamento, acontecem dentro de uma base sensorial, e causam excitações fisiológicas correspondentes: Não há um processo mental sem processos físicos simultaneamente correspondentes, pelo menos enquanto houver nele quaisquer conteúdos de sensação. A validade geral do paralelismo psicofísico é
  • 26. 26 realmente uma consequência necessária do fato de que toda nossa vida mental tem um fundamento sensorial, e de que, portanto, não podemos pensar nenhum conceito, por mais abstrato que seja, e nenhuma ideia, por mais distante que esteja do mundo sensível, sem empregar, para isso uma representação sensorial qualquer (WUNDT, 1892, pg. 485). O pensamento é capaz de produzir os mais diversos efeitos sensíveis no corpo, o que denota justamente o fato desta atividade mental também ser encontrada findada numa base física sensorial. A sugestão é capaz de provocar uma sensação de calor ou frio, de estar flutuando em um rio, de ver as mais diversas cores, experimentar aromas, de sentir a imobilidade dos membros, sensações de peso ou leveza, entre outras. A relação entre o pensamento e a sensação (o efeito ideosensitivo) foi muito explorada durante a prática da hipnose, e o seu uso para provocar relaxamento profundo, diminuição da ansiedade, ou emoções agradáveis é comum na hipnoterapia. Entretanto, não são se pode limitar toda a atividade mental à determinados processos fisiológicos correspondentes, sobretudo no que concerne às dimensões valorativa e normativa da vida mental. O que Wundt afirma é que existe uma correspondência entre o mental e o físico, mas que não é possível reduzir uma dimensão à outra. Para a prática da hipnose, o conceito de paralelismo psicofísico serve para ilustrar alguns aspectos da relação mente e corpo, que podem ser auferidos e verificados através de experimentos. A capacidade que um estímulo verbal como a sugestão tem de produzir os mais diversos efeitos físicos e mentais é justamente um atributo que a prática da hipnose possui, e que esta prática, quando utilizada adequadamente, é capaz de proporcionar ao paciente uma ampliação de seu autoconhecimento assim como um domínio maior sobre a mente, o corpo e as emoções.
  • 27. 27 6- Os TRANSTORNOS DE ANSIEDADE Os transtornos de ansiedade estão entre os mais comuns de todos os transtornos psiquiátricos, e costumam prejudicar severamente a vida de um indivíduo. Esses transtornos causam morbidade desordenada, uso de serviços de saúde e comprometimento de desempenho incomum. Segundo o Estudo Americano de Co-morbidade (National Comobirdity Study) uma a cada quatro pessoas possuem algum tipo de transtorno de ansiedade (SADDOCK, 2010). Entretanto, os tratamentos em voga das abordagens cognitivo- comportamentais e psicodinâmicas, contiguamente à ação farmacológica, têm- se demonstrado extremamente eficazes. O tempo de tratamento costuma ser relativamente curto (SADDOCK, 2010). A ansiedade se caracteriza como um sinal de alerta para um perigo iminente, e tem como função biológica capacitar a pessoa para tomar medidas e lutar contra essa ameaça. Entretanto, no caso da ansiedade, esse perigo iminente é de origem interna mas também incerto, desconhecido e conflituoso, ao contrário do medo, que costuma estar ligado à uma causa conhecida e externa. Como exemplo, uma pessoa que vê diante de si um carro em alto velocidade e sente medo, é bem diferente daquela pessoa que sente desconforto em virtude de lidar com uma pessoa desconhecida (SADDOCK, 2010). Aproximadamente um século atrás, Freud criou o termo neurose de ansiedade, que seria causada pela libido contida. Haveria assim um aumento fisiológico da tensão sexual, que implicaria num aumento correspondente na libido e na representação mental desse evento fisiológico. A solução para diminuir estas tensões seria a relação sexual. Como exemplos de neuroses causadas pelo bloqueio da libido, Freud citava a neurastenia, a hipocondria e as neuroses de ansiedade (SADDOCK, 2010). A ansiedade é normalmente sentida por todos, sendo considerada uma manifestação normal do organismo. Também tem função adaptativa na medida em que adverte o organismo de uma ameaça externa ou interna.
  • 28. 28 Contudo, o fator incisivo para se considerar um transtorno é o grau de ansiedade sentido, e os comportamentos subsequentes. Como exemplo de sintomas autonômicos da ansiedade estão a cefaleia, transpiração, palpitações, aperto no peito, leve mal-estar epigástrico, e inquietação motora (SADDOCK, 2010). O indivíduo que sofre de ansiedade tem uma experiência que se caracteriza por dois componentes diversos: a percepção das sensações fisiológicas e a percepção do fato de estar nervoso. Afora os sintomas motores e viscerais a ansiedade afeta o pensamento, a percepção e o aprendizado. Outra característica do estado de ansiedade, a incapacidade que o indivíduo sente em ampliar o foco de atenção, e assim expandir o universo de fenômenos que o afeta, de modo que estímulos diversos, como por exemplo estímulos considerados agradáveis, poderiam estar sendo percebidos; consequentemente este indivíduo não se encontraria tão vulnerável àquilo que o ameaça (SADDOCK, 2010). Obviamente, uma experiência de ansiedade não é sentida e interpretada igualmente por todos. Essa questão depende em muito de como se encontra o ego da pessoa, das defesas psicológicas empregadas para lidar com a tensão, da capacidade de abstração de estímulos externos ou internos, entre outros. O desequilíbrio pode ser externo, quando um indivíduo entra em conflito com as exigências de sua vida social e o seu ego, interno quando há conflito do ego com os impulsos do organismo, e também há casos em que ambos os tipos de desequilíbrio estão presentes, como por exemplo a situação de um empregado que é obrigado a aceitar as imposições de seu chefe e que, para tal, necessita controlar seus impulsos durante o tempo em que exerce as suas atividades. O autor descreve na atualidade três linhas de teorias psicológicas se destacam no tratamento de pacientes que sofrem com algum dos transtornos de ansiedade: a teoria psicanalítica, a comportamental e a existencial (SADDOCK, 2010). No entendimento da teoria psicanalítica, a ansiedade é causada não somente pelo acúmulo fisiológico da libido -Freud reiterou sua opinião sobre
  • 29. 29 este ponto durante a sua carreira-, mas pela presença do perigo no inconsciente. O indivíduo ansioso sofre, assim, um conflito entre seus desejos sexuais e seus desejos agressivos, e a ação de seu superego recriminando-o e a sua posição perante a sua vida cotidiana (SADDOCK, 2010). A ansiedade acarreta em repressão e não o seu contrário, fato que entra em acordo com os estudos da neurobiologia sobre a amígdala e o seu papel no sistema nervoso. É provado que a amígdala responde à emoção de ansiedade sem que haja algum resquício na memória consciente, corroborando as afirmações da Freud sobre o sistema de memória inconsciente envolvido nas respostas de ansiedade. Na perspectiva psicanalista, a finalidade da terapia não é eliminar a resposta de ansiedade, mas sim aumentar a tolerância do indivíduo perante, e utilizá-la como uma direção na busca do conflito inconsciente (SADDOCK, 2010). Para os comportamentalistas, a ansiedade se resume à uma resposta condicionada a estímulos específicos de uma situação ambiental, e que, através de um condicionamento operante, teriam se generalizado para estímulos diversos, dito neutros. Nos últimos anos, os teóricos da psicologia comportamentalista engendraram os estudos da psicologia cognitiva para criar novos métodos terapêuticos. Quando não há ansiedade fóbica, é possível reconhecer determinados padrões de pensamento como agentes eliciadores de ansiedade. Os teóricos desta teoria concebem que o tratamento deve tanto combater o aspecto cognitivo, de onde provém os estímulos internos que exasperam a situação (crenças, pensamentos disfuncionais), como também é necessário se expor aos estímulos ambientais eliciadores de medo e ansiedade, gradualmente, até que esta situação perca sua significância. Durante este processo, o paciente é instruído a lidar com as suas emoções, utilizando técnicas de autocontrole e relaxamento, e pode também ser assistido pelo terapeuta na parte inicial da exposição de estímulos. Estudos comprovam que esta modalidade de terapia tem se mostrado a mais eficaz no tratamento desses transtornos (SADDOCK, 2010). Na concepção das teorias existenciais, não existe um estímulo específico para causar a ansiedade, mas sim um sentimento de vazio profundo
  • 30. 30 que toma o paciente, deixando-o vulnerável às emoções consideradas como negativas. Segundo estudos da psiquiatria moderna, as reações do sistema nervoso autônomo são comuns nos transtornos de ansiedade, embora não sejam exclusivas destes tipos de transtornos, apenas. Os sintomas podem ser cardiovasculares, musculares, gastrintestinais e respiratórios. Segundo a teoria de Walter Cannon, ao longo do desenvolvimento desses transtornos, a ansiedade subjetiva aumenta, e está associada ao medo das reações periféricas. Assim, mesmo na ausência de estímulos eliciadores, o medo e ansiedade estão presentes, e podem estar mais associados às sensações do corpo do que às situações ambientais perturbadoras. Atualmente, sabe-se que são três os principais neurotransmissores associados à ansiedade: norepinefrina, serotonina, e ácido Y-aminobutírico (GABA). De acordo com o DSM-IV-TR são 12 os transtornos de ansiedade: 1) Transtorno de pânico com agorafobia, 2-) Transtorno de pânico sem agorafobia. 3-) Agorafobia sem histórico de transtorno de pânico, 4-) Fobia específica, 5-) Fobia social, 6-) Transtorno obsessivo-compulsivo, 7-) Transtorno do estresse pós-traumático, 8-) Transtorno do estressa agudo, 9-) Transtorno de Ansiedade Generalizada, 10-) Transtorno de Ansiedade devido uma condição médica geral, 11-) Transtorno de Ansiedade Induzido por uma Substância, 12-) Transtorno de Ansiedade Sem Outra Especificação.
  • 31. 31 7- A HIPNOTERAPIA APLICADA AOS TRANSTORNOS DE ANSIEDADE 7.1 Panorama dos pacientes ansiosos Uma característica comum dos pacientes que sofrem com algum tipo de transtorno de ansiedade é perda da noção de causa e efeito ou ação e reação, de modo que em determinados momentos vivem tranquilamente, e em outros, são acometidos por alguma forte emoção que causa muito sofrimento e da qual desejam imperiosamente se afastar. Com o prolongar desta situação, o processo de avaliação mental voluntário é enfraquecido, e as reações tendem a ocorrer de modo mais automático (SPINELLI 2011). A ansiedade pode ser caracterizada como o efeito de uma reação neuroendocrinológica em decorrência de uma situação objetiva ou subjetiva de perigo, em que há uma descarga na corrente sanguínea dos hormônios de adrenalina e noraadrenalina através das secreções das suprarrenais. Diferentemente do medo, que costuma estar relacionado como uma causa externa identificável, o objeto temido nos transtornos de ansiedade não é sempre evidente (SADDOCK, 2010). Esta emoção em específico age como um agente intrusivo, um corpo estranho do qual é necessário se afastar- de acordo com o parecer dos pacientes, e na maioria das vezes este sofrimento é visto com distanciamento, como se fosse apenas o corpo que estivesse sofrendo, e não houvesse alguma razão para tal. Na medida em que as reações de ansiedade aumentam, o indivíduo passa a apresentar uma estrutura psicológica propensa aos sentimentos angustiosos e neuróticos, de modo que os estímulos eliciadores das perturbações emocionais se generalizam, e assim os estímulos neutros passam a ocasionar as mesmas reações que os estímulos primários de um transtorno (SPINELLI, 2010). Os comportamentos mais comuns são o de fuga ou evitação, que justamente pelo fato de não poderem se dar concretamente, devido a impossibilidade de serem realizados literalmente, passam então a ocorrer através de ações mentais e de pequenas ações físicas muito comuns nos casos de TOC. Com o prolongar destes estratagemas, o indivíduo passa a agir
  • 32. 32 de forma condicionada, e se afasta, mais e mais da causa primordial. Ademais, a tendência a fugir da ansiedade também pode se tornar medo. Em meio a este turbilhão de eventos, o corpo é bombardeado de adrenalinas e neurohormônios, e a saúde começa a apresentar sinais de fraqueza; há baixa das defesas imunológicas, perda da motivação, cansaço físico e mental, e alienação parcial do mundo interno e externo. O cérebro possui três tipos de memória associadas às estruturas cerebrais e são elas: a memória declarativa, procedimental e emocional. É provado que nos transtornos de ansiedade a memória emocional é a mais afetada, embora também possa haver prejuízos nos outros dois tipos de memória. Esta memória tem grande ativação na amígdala, sobretudo no que concerne à recordação do medo. Este fator é incisivo no que diz respeito à capacidade de uma avaliação de maior escrutínio dos estímulos que possam eliciar emoções de medo e ansiedade (SIMURRO, 2010) . Com o prolongar de um transtorno, muitas crenças errôneas começam a ser formadas, especialmente sobre o que está acontecendo no mundo interior, que reações são estas e o que elas podem causar, se isto é sinal de loucura ou se é normal ser acometido por emoções tão intensas. Devido aos tipos de crenças que permeiam a sociedade e que são perpetuadas através de condicionamentos socioculturais, é muito comum o fato de um indivíduo entender as perturbações que o afetam como sendo algo de sua “cabeça”, de tal maneira que assim que ‘isto’ passar ele voltará a sua normalidade, bastando para tal, se esquecer deste fato ou usar remédios que aliviem o sofrimento, e que o permitam, assim, voltar ao ‘estado anterior’, àquela condição considerada como sendo de normalidade. É muito comum esta visão segregada, em que corpo está separado da mente, ou que cérebro e coração representam entidades distintas ou opostas (SPINELLI, 2010). Outrossim, a velha dicotomia entre a razão e emoção, leva o indivíduo ansioso a relegar ao corpo –pois em sua concepção é apenas o corpo que sofre- o papel desempenhado por uma máquina orgânica, sem sentimentos, que deve responder de forma operacional e se ater às funções que lhe forma delegadas, na mesma medida e intensidade que sua vida usual
  • 33. 33 requere. Com o prolongar dos ataques de ansiedade, um grande desconhecido paira sobre o indivíduo, que aumenta gradativamente, na medida em que este busca se afastar do conflito sem conhecer a causa; o conflito emocional usualmente é representado de forma fria, distante e falsamente objetiva, como se fosse algo egodistônico, separado de si e sem relação com a sua estrutura psicológica até então (BARLOW, 2009). Além disto, o meio social em que está inserido continua exigindo que este indivíduo produza na mesma intensidade ou mais, e esta obrigação, que é responsável por seu sustento, é também um agente coercitivo, que gera muitas angústias. O ambiente social em que está inserido se manifesta ora de forma concreta provendo estímulos que poderão causar ansiedade -a demanda de seu trabalho, as expectativas das quais precisa corresponder, o exercício de suas tarefas, como também se fará presente em suas redes de memória, de modo que as emoções de medo, ansiedade ou angústia poderão se manifestar nos mais diversos momentos e locais (SAUAIA, 2010). Uma vez que a causa do sofrimento ainda não tenha sido descoberta, a maneira impulsiva de agir e de reagir se tornará mais intensa. Há também o aumento da reação subjetiva, que se caracteriza pelo medo de sentir as reações periféricas que ocorrem no corpo (BARLOW, 2009). Um fator crucial nesta etapa que se situa entre o início de um transtorno ao seu desenvolvimento pleno é a homeostase do organismo entre os momentos de sofrimento e o prazer, aqui citado em seu significado extenso, não se restringindo somente ao prazer da vida amorosa mas também abrangendo o prazer de ler um livro, ver um filme, ouvir uma música, enfim, do prazer proporcionado nos mais diversos momentos de diversão e alegria (ANDRADE, 2010). Há de se considerar igualmente a ação de vários neuro-hormônios como as dopaminas, serotoninas e noradrenalinas, que são estimulados durante determinada rotina de atividades; fato este que será crucial para definir o grau de intensidade que um transtorno poderá afetar a vida de um indivíduo, assim como a capacidade de seu organismo de suportá-lo. É comprovado que
  • 34. 34 uma situação de stress é capaz de ativar o sistema nervoso somático, o nervoso autônomo, o neuroendocrinológico e imunológico (SIMURRO, 2010). O cérebro humano é dotado da capacidade de avaliar subjetivamente mesmo àquilo que acontece de forma irracional, como por exemplo, as reações emocionais primárias. Esta característica possibilita ao ser humano não ceder compulsoriamente aos seus instintos. Em decorrência desta capacidade, percebe-se nos pacientes ansiosos, muitas crenças sobre o corpo e o efeito decorrente das emoções, sendo também comum alguns destes pacientes apresentarem a hipocondria como sintoma. Segundo Damásio, existe a emoção e a sensação da emoção em relação ao objeto que a despertou, assim como há também a relação entre objeto e o estado emocional do corpo (DAMASIO, 2007). Um dos grandes desafios da neurociência atualmente é desvelar sobre as ligações entre corpo e mente, soma e psique. Através dos estudos das estruturas neurobiológicas, tem-se como fato irretorquível que o funcionamento do corpo é indissociável do estado emocional, assim, como por sua vez, que as emoções não se dissociam de um estado do corpo (SIMURRO, 2010). William James salientou bem este fato no dizer abaixo: É-me muito difícil, se não mesmo impossível, pensar que espécie de emoção restaria se não se verificasse a sensação de aceleração do ritmo cardíaco, de respiração suspensa, de tremura dos lábios e de pernas enfraquecidas, de pele arrepiada, e de aperto no estômago. Poderá alguém imaginar o estado de raiva e não ver o peito em ebulição, o rosto congestionado, as narinas dilatadas, os dentes cerrados e o impulso para a ação vigorosa, mas, ao contrário, músculos flácidos, respiração calma e um rosto plácido? (DAMASIO, 2007, pg. 56). Carl Jung define o corpo como sendo uma “entidade vital captada pelos sentidos”. Em contrapartida, o paciente que sofre com um transtorno de ansiedade, sente-se desagregado e desconexo, perdido em meios às sensações corporais desagradáveis, emoções intensas e interpretações sobre essas emoções; tem pensamentos conflituosos, que geram as mais diversas
  • 35. 35 emoções que, subsequentemente, também são gerados e estimulados por estes próprios estados corpóreos (SPINELLI, 2010). Conforme o indivíduo permaneça nesta situação, torna-se mais passivo sobre a atividade irracional e instintiva de sua consciência, seu organismo sofre com o desencadear das emoções nocivas, que liberam toxinas e neuro-hormônios na corrente sanguínea, a baixa imunológica o deixa propenso à doenças, e o cansaço instaura-se. Com a baixa da atividade mental consciente, a avaliação voluntária dos estímulos é comprometida; todavia a atividade do sistema límbico não diminui, as reações automáticas ou inconscientes aumentam de força, e tudo vai sendo armazenado nas redes de memória (ANDRADE, 2010). Os chamados pensamentos automáticos pululam na consciência, gerando sentimentos neuróticos. Analogamente, os pensamentos são como as palavras do teste de associação de palavras com uso de um galvômetro, realizado por Jung. Como comprovado por estes testes, as palavras causam alterações fisiológicas imediatas, assim como os pensamentos disfuncionais ou ilógicos (BECK, 1997). Esses tipos de pensamento, caracterizados por provocar o chamado afeto negativo, na medida em que são correspondidos e reforçados, aumentam sua força na consciência conforme estas situações com as quais correspondam continuem ocorrendo, gerando assim crenças mais profundas, que se destinarão ao mundo externo e interno deste indivíduo, e também as suas expectativas sobre a vida. 7.2 A solução Terapêutica Uma etapa preliminar é estimular a atividade cognitiva benéfica, e combater crenças irracionais que se tornaram preponderante justamente por terem sido associadas à emoções intensas de medo e ansiedade. Instrui-se o indivíduo a não responder automaticamente à essas emoções, ensinando-o técnicas de respiração e relaxamento para atenuar o sofrimento causado e diminuir a ação da atividade autonômica do sistema nervoso; ele também é aconselhado a tentar identificar os pensamentos tidos durante esse momento
  • 36. 36 de perturbação emocional, assim como também relatar numa espécie de diário o que estava fazendo neste momento, o local e o que acontecia à sua volta. O intuito desta técnica é listar as possíveis fontes de estímulos tanto provenientes da situação ambiental -da percepção, como também daqueles oriundos da cognição (BARLOW, 2009). Conforme sejam identificados os pensamentos disfuncionais, o terapeuta trava diálogos com o paciente a fim de refletir sobre o que estas crenças representam e no quanto afetam sua vida, e inclusive dá oportunidade ao paciente de realizar uma argumentação dialética consigo próprio, fazendo-o entrever os lados opostos de uma crença ou asserção, ajudando-o a examinar minuciosamente certos significados que estabeleceu. É possível extrair a partir de técnicas como a do ABC (antecedents, behavior e consequences) fatos com os quais determinados pensamentos ilógicos estão associados, e, a partir de então, tenta buscar a partir da análise do desenvolvimento do indivíduo, as aprendizagens que foram feitas anteriormente e as razões que expliquem o porquê de determinados comportamentos e representações mentais. Também é possível, através das técnicas de hipnose, buscar na memória experiências passadas que tenham causado abalo emocional, e ajudar os pacientes revivenciar os fatos, trazendo à tona um conteúdo mental que possa ser trabalhado na clínica. O terapeuta o instrui a representar determinada situação, descrevendo as características mais marcantes da mesma, assim como também o ajuda a expressar que sentiu. O tratamento dos transtornos de ansiedade possui duas diretrizes ou metas que podem ser trabalhadas concomitantemente. A primeira está em buscar entender as razões e motivos que estejam causando esta perturbação emocional, e para tal, são utilizadas as técnicas advindas da Terapia Cognitiva Comportamental. A segunda se caracteriza por lidar diretamente com os sintomas (SILBERFARB, 2010). Durante a primeira etapa, um grande entrave é a resistência do paciente para relatar seus pensamentos, de tal forma, que é necessário o
  • 37. 37 terapeuta esclarecer que a terapia é também uma forma de aprendizado que se estabelece numa relação mútua, e que é necessário esforço e vontade para superar um conflito. É pedido ao paciente que mude a sua postura em relação ao transtorno – e a si mesmo-, e que aja de forma mais ativa em frente aos acontecimentos de sua vida. As técnicas de exame do pensamento e das emoções incutirão num maior conhecimento sobre sua a consciência, e a medida que este comportamento de reflexão seja reforçado, o paciente agirá de forma menos automática e mais racional. Mediante as técnicas de indução ao transe, é possível alterar a frequência das ondas cerebrais e levar o paciente à um estado de paz e relaxamento, sem necessitar do auxílio de fármacos. Desta forma, pode-se fazer o paciente compreender que é possível viver de outra maneira, que o seu corpo e sua mente não são locais temidos, e que é possível sentir tranquilidade e prazer com maior frequência em sua vida diária. Durante a sessão, o hipnoterapeuta pode utilizar de imagens e frases motivadoras, que serão gravadas na memória, e consequentemente atuarão na consciência. Quando identificados os primeiros conflitos, este uso é direcionado justamente para pelejar ideias conflituosas e crenças associadas às emoções de medo e ansiedade. Através da hipnose, é possível estimular uma reestruturação cognitiva, valendo-se de imagens e sugestões verbais. Segundo Epstein (1989), a imagem mental é ‘a mente pensando através de imagens’. As imagens sempre foram utilizadas durante a história para expressar valores e ideias para os quais a linguagem é limitada; seja na artes, na espiritualidade e em outros segmentos da cultura, assim como no início da psicologia científica, sendo que o seu uso voltou a ser relevante e corrente na segunda metade do século XX em virtude das pesquisas realizadas pela neurociência cognitiva. Para Telles (2007): “(...) as imagens mentais são uma forma de como fotografamos nossas sensações, nossas emoções, e quem faz a busca dos referenciais são nossos pensamentos. As imagens são fotografadas com nossas lentes, nossos filtros, nossa forma de interpretar os eventos. Um sentimento para um sujeito tem uma imagem específica e para outro tem outra imagem representativa. As características do
  • 38. 38 que fotografamos dependem do que a gente compila nas nossas experiências de vida que funcionam como forma de darmos um colorido pessoal a cada evento, a cada cenário (TELLES, 2007, pg. 88). Ainda em 1898, Pierre Janet, descobriu que experiências traumáticas geravam memórias que ao serem evocadas surgiam na qualidade de imagens. Freud e Breuer também direcionaram seus estudos para compreender o que significavam às imagens que apareciam em sonhos, e os conflitos que poderiam estar sendo representados nelas. Carl Jung também enxergou nas imagens oníricas uma forma de mensagem advinda da mente inconsciente (SILBERFARB, 2010). De acordo com Epstein, Janet criou uma técnica chamada de substituição imaginária, que visava fazer com que os pacientes pudessem reexperienciar situações perturbadoras, e substituir imagens perturbadoras por imagens agradáveis e mais adaptativas. Em sua concepção, o processo imagético envolve todos os sentidos, e não somente a visão. Quando se altera uma imagem, altera-se também a sensação e emoção que estavam conectadas com esta imagem (SILBERFARB, 2010). As imagens são representações internas atribuídas à experiência do indivíduo com determinada situação. Atualmente alguns terapeutas fazem uso das imagens para tentar modificar esquemas mal adaptativos, ou para dar outra significação à um determinado acontecimento perturbador (SLBERFARB, 2010). A partir dos dados auferidos com diversos pacientes que sofrem de algum tipo de transtorno ansiedade, certas imagens relatadas possuem uma característica e um significado comum à cada tipo específico de transtorno: no transtorno de fobia social a imagem mental é de estar sendo olhado por outra pessoa, no transtorno do stress pós-traumático, o conteúdo da imagem traz uma revivência do trauma, no transtorno do pânico a imagem de estar sofrendo um infarto, no de fobia específica, a do objeto ansiogênico temido. Pode-se utilizar imagens como formas de integrar pensamentos lineares (racional) e sistêmicos (subjetivo), uma vez que o pensamento por
  • 39. 39 imagem tem com característica não ser racional, lógico ou verbal. Alguns terapeutas se valem de técnicas de exposição às imagens para esmaecer o nível do medo atribuído ao objeto ansiogênico, como utilizado nos transtornos do Estresse Pós-Traumático (TEPT) e Obsessivo Compulsivo (TOC); este uso também é válido para se criar novas associações entre o objeto temido e à crença subjacente, através de técnicas da hipnoterapia cognitiva (SILBERFARB, 2010). Para se aprofundar nos relatos trazidos pelo paciente pode–se aplicar a hipnoterapia, para fazer um paciente revivenciar determinada situação ansiogênica, a fim de descrever todos os componentes desta situação: como era o ambiente em que estava, o que sentiu, quais foram as sensações causadas em seu corpo, que pensamentos, ideias ou imagens lhe ocorreram (SILBERFARB, 2010). Quando se consegue fazer com que o paciente retorne mentalmente à um evento traumático, recriando a situação tal como era, é possível induzir uma imagem mental benéfica que traga uma nova significação sobre o evento. A hipótese subjacente à esta técnica, é que, contiguamente à construção mental trazida à tona, se encontra o afeto, e que as sessões de hipnose podem criar na memória uma nova associação entre o afeto e esta nova construção mental (SILBERFARB, 2010). Da mesma maneira, a partir do momento em que se tenham identificados os primeiros conflitos, é possível utilizar a hipnose para simular estratégias de enfrentamento. No prosseguir das técnicas de reestruturação cognitiva, o terapeuta deve instruir o paciente a suportar o sentimento pungente para assim não realizar o comportamento com o qual este sentimento estava condicionado, que são em sua grande maioria comportamentos de fuga e evitação (BARLOW, 2009). Como por exemplo, no caso do Transtorno Obsessivo Compulsivo, uma vez que já se tenha discutido e elucidado sobre a irracionalidade de determinadas crenças, o paciente é instruído a se abster de realizar determinado comportamento ou ritual, de recobrar seu equilíbrio emocional, e alterar o foco de sua consciência para temas e pensamentos mais agradáveis.
  • 40. 40 Este enfrentamento à situação ou ao objeto ansiogênico pode ser feito de maneira gradual, sendo possível averiguar a diminuição do grau de intensidade de uma emoção e dos comportamentos compulsivos subsequentes, até o transtorno se extinguir completamente (CORDIOLI 2008). No transtorno de ansiedade social, uma vez que o terapeuta tenha explorado as representações mentais atribuídas ás situações ansiogênicas, e argumentado com o paciente sobre determinadas crenças irracionais e pensamentos ilógicos, ele deve prosseguir a com a Exposição e Prevenção de Rituais (EPR), e instruir o paciente a enfrentar às situações ansiogênicas, se valendo para tal, de instruções terapêuticas como por exemplo refutar pensamentos disfuncionais, e de utilizar, quando necessário, técnicas de autocontrole e relaxamento (BARLOW, 2009). Haja vista, no momento em que o paciente lida com uma situação anteriormente temida, ele constituí uma nova experiência, que poderá proporcioná-lo prazer e felicidade, e assim será armazenada em sua memória, trazendo também uma nova significação acerca da sua realidade (SILBERFARB, 2010). Muitos psicólogos criticam esta modalidade de terapia argumentando que os sintomas podem desaparecer durante um tempo, havendo, posteriormente, o retorno. Entretanto, a remissão de sintomas não é algo totalmente provado, e existem estudos feitos com centenas de pacientes que realizaram a terapia cognitivo comportamental, e, mediante um pedido do terapeuta, retornaram à clínica anualmente durante três anos, e alegaram que os conflitos relatados desapareceram por completo, e de que também as técnicas aprendidas durante a terapia se mostraram muito produtivas e fortuitas em suas vidas diárias.
  • 41. 41 CONCLUSÃO Ao longo dos estudos teóricos sobre a hipnose e a experiência proporcionada pelo Curso de Pós-Graduação, pude constatar aspectos relevantes que a modalidade de hipnose intitulada hipnoterapia pode oferecer ao campo da psicologia, e em especial, ao campo da psicologia clínica. A hipnoterapia é uma ferramenta muito útil ao terapeuta, pois seu uso possibilita não somente o relaxamento, mas também torna possível uma investigação acerca do funcionamento mental do paciente. Por exemplo, pode- se ajudar o paciente acessar a sua memória, no que concerne um evento traumático afim de extrair desta situação dados valiosos que possam ser trabalhados na clínica. Também é possível simular estratégias de enfrentamento à determinada situação ansiogênica, com o intuito de ajudar o paciente a enfrentá-la; ou mesmo para ajudá-lo a alterar a sua representação de uma situação ou de um objeto temido. A hipnoterapia é realizada de forma contígua à terapia cognitivo comportamental, de tal forma que as sessões de hipnose complementam o trabalho cognitivo realizado em clínica; o enfoque deste trabalho se caracteriza por ajudar o paciente a alterar determinada representação distorcida da realidade que ele desenvolveu, a partir de suas diversas experiências, que vão da infância á idade adulta. Para tal, são usadas técnicas que visam combater crenças irracionais, pensamentos disfuncionais ou ideias ilógicas. Na medida em que o paciente altere uma concepção errônea do mundo, a sua adaptação à vida torna-se mais fácil. Destarte, medos, fobias, e representações distorcidas, somem com o tempo, permitindo, assim, que o paciente crie novos comportamentos, mais saudáveis e de maior valor adaptativo.
  • 42. 42 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, Carlos Laganá de. A psiquiatria e a psicossomática: psicoterapia dos transtornos ansiosos no Hospital Geral. In SPINELLI, Maria Rosa (org) . Introdução à Psicossomática. São Paulo: Atheneu, 2010. ARAÚJO, Saulo de Freitas. Paralelismo Psicofísico e o Problema Mente- Cérebro na Perspectiva de Wilhem Wundt. In LOPES, Ederaldo José (org). Temas em Ciências Cognitivas & Representação Mental. 1ª Edição. Porto Alegre: Sinopsys Editora, 2012. BARLOW, David H. Manual Clínico dos Transtornos Psicológicos. 4ª Edição. São Paulo: Artmed. 2009. BENOMY, Silberfarb. Hipnoterapia Cognitiva. 1ª Edição. São Paulo: Novos temas, 2011. BECK, Judith S. Terapia Cognitiva. 2ª Edição. São Paulo: Artmed. 1997 CORDIOLI, Aristides, Vencendo o Transtorno Obsessivo-Compulsivo. 2ª Edição. Curitiba: Artmed. 2008. DAMÁSIO, Antônio R. O Erro de Descartes. 2ª edição. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. JUNG, Carl G. A Natureza da Psique. Petrópolis: Editora Vozes, 2000. PAIXÃO, Paulo. Noções de Letargia. 2ªEdição. Rio de Janeiro: 1960 SADOCK, Benjamin J e SADOCK, Virgínia A. Compêndio de Psiquiatria – Ciência do Comportamento e Psiquiatria Clínica. 9ª Edição. São Paulo: Artmed Editora, 2010. SAUAIA, Neusa Maria Lopes. A totalidade corpo-mente na visão de Jung. In SPINELLI, Maria Rosa (org) . Introdução à Psicossomática. São Paulo: Atheneu, 2010. SIMURRO, Sâmia A. B.. Benefícios dos conhecimentos da neurociência para a psicossomática. In SPINELLI, Maria Rosa (org) . Introdução à Psicossomática. São Paulo: Atheneu, 2010. SPINELLI, Maria Rosa e NEDER, Mathilde. A interação mente e corpo: o início de uma doença. In SPINELLI, Maria Rosa (org) . Introdução à Psicossomática. São Paulo: Atheneu, 2010. KINDEL, Albert. Em busca da memória. 1ª Edição. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. WEISSMAN, Karl. O Hipnotismo. 9ª Edição. Rio de janeiro: Prado, 1958.
  • 43. 43 -